OK12 - Os Elliots - Um Sonho Real (Maureen Child)

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Um Sonho Real (Desejo 65) Maureen Child Os Elliot XII Na cama com o chefe... Tudo mudou depois da noite em que Rachel Adler, assistente executiva de Shane Elliot, realizou sua maior fantasia: ter uma noite de paixão com o chefe. A realidade superou o melhor dos seus sonhos, mas ela sabia que não poderia continuar trabalhando com Shane depois de tudo o que havia acontecido. Envolvido na disputa pelo controle do imp ério editorial de sua família, Shane certamente não aceitaria um pedido de demissão. Ela era o seu braço direito. Ele precisava dela. E agora, depois da noite incrível que passaram juntos, ela também passou a ser parte de seu coração. Será que o bem-sucedido editor-chefe da revista The Buzz está disposto a levar sua relação com Rachel para além da sala de reuniões? De Patrick Elliot — Presidente da Editora Elliot Shane, Mal posso acreditar que já se passou um ano desde que estipulei esta competição para nomear o meu sucessor. Nossa família achava — e ainda acha — que era loucura instigar os irmãos uns contra os outros nesta disputa, mas ei-nos agora, na reta final, em que só pode haver um vencedor. Já recebi os relatórios finais com as margens de lucro obtidas por todas as revistas. Portanto, tenho também o nome do novo presidente da Editora Elliot em minhas mãos. Se você tiver coragem e quiser saber que nome é esse, venha ao meu escritório esta noite, às 19h, e eu o revelarei a você. Patrick 1

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Um Sonho Real (Desejo 65)Maureen Child

Os Elliot XII

Na cama com o chefe...Tudo mudou depois da noite em que Rachel Adler, assistente executiva de Shane Elliot, realizou sua maior fantasia: ter uma noite de paixão com o chefe. A realidade superou o melhor dos seus sonhos, mas ela sabia que não poderia continuar trabalhando com Shane depois de tudo o que havia acontecido. Envolvido na disputa pelo controle do império editorial de sua família, Shane certamente não aceitaria um pedido de demissão. Ela era o seu braço direito. Ele precisava dela. E agora, depois da noite incrível que passaram juntos, ela também passou a ser parte de seu coração. Será que o bem-sucedido editor-chefe da revista The Buzz está disposto a levar sua relação com Rachel para além da sala de reuniões?

De Patrick Elliot — Presidente da Editora Elliot

Shane,Mal posso acreditar que já se passou um ano desde que estipulei esta competição para nomear o meu

sucessor. Nossa família achava — e ainda acha — que era loucura instigar os irmãos uns contra os outros nesta disputa, mas ei-nos agora, na reta final, em que só pode haver um vencedor.

Já recebi os relatórios finais com as margens de lucro obtidas por todas as revistas. Portanto, tenho também o nome do novo presidente da Editora Elliot em minhas mãos.

Se você tiver coragem e quiser saber que nome é esse, venha ao meu escritório esta noite, às 19h, e eu o revelarei a você.

Patrick

CAPÍTULO I— Reservei uma mesa para você e Tawny Mason para as 20h — disse Rachel Adler, elevando o tom de

voz para se sobrepor ao som da esteira.— No Une Nuit? — perguntou Shane Elliot, estendendo a mão para pegar sua garrafa d'água.— Onde mais? — resmungou Rachel, balançando levemente a cabeça. Por que é que ele ainda se

dava ao trabalho de perguntar? Ela já tomava conta dos detalhes de sua vida havia anos!— Ótimo!

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Shane tomou um bom gole d'água e o olhar de Rachel se fixou nos movimentos de seu pomo de Adão. Droga, até o pescoço daquele homem era sexy! Ele enxugou o rosto com a toalha pendurada no pescoço e estendeu a garrafa vazia para Rachel.

— Por favor, ligue para Stash e peça para ele providenciar umas flores para...— Tawny — respondeu Rachel, secamente.Meu Deus, ele não conseguia lembrar nem do nome da mulher com quem ia se encontrar! Que tipo de

mãe dava um nome desses à própria filha, afinal? Certamente alguém com a esperança de vê-la se transformar numa grande estrela, ou talvez alguém com poderes sobrenaturais, capaz de prever que a filha viria a se tornar uma verdadeira perua depois de crescida.

— Isso mesmo — disse Shane, com um meneio de cabeça. — Ela disse que a mãe lhe deu esse nome por causa da cor alaranjada dos seus olhos.

Rachel revirou seus próprios olhos verdes. Shane lhe lançou um sorriso que fez seu coração acelerar.Como é que ele conseguia fazer aquilo com ela? Tudo havia transcorrido tranquilamente nos três

primeiros anos em que trabalhara para ele. Eles tinham estabelecido uma boa relação profissional, e Shane gostava de seu senso de humor. Mas, então, ela estragou tudo... se apaixonando por ele. Havia passado o ano inteiro sofrendo em silêncio, desejando, sonhando dia e noite, sabendo que ele jamais deixaria de enxergá-la como a boa e velha Rachel.

Idiota.— O que você acha? — perguntou ele, alheio a seus devaneios. — Rosas?— O quê? — disse ela, tentando se concentrar. — Rosas são muito comuns.— Sério?— Vai por mim.— Eu sempre vou — disse ele, lançando mais um daqueles sorrisos. Ela não ia conseguir agüentar aquilo por muito mais tempo. Não podia continuar trabalhando com ele,

morrendo um pouco a cada dia por não poder tê-lo para si. Não podia continuar marcando os encontros dele com outras mulheres e imaginando-o na cama com cada uma delas. Não podia continuar desperdiçando sua vida, esperando que ele, como que por encanto, passasse a enxergá-la como mulher.

Com um suspiro, Rachel vasculhou sua agenda à procura das anotações que mantinha sobre as mulheres de Shane.

— Tawny prefere margaridas.— É claro, uma moça tão simples.— Simplória, você quer dizer — resmungou ela, baixinho.— O que foi que você disse?— Nada não... — respondeu, estendendo-lhe a segunda garrafa que trouxera para a academia

particular dos executivos da editora, no quinto andar.— O que eu faria sem você, Rachel?Ela era o seu braço direito na The Buzz, uma das publicações do império editorial da família Elliot. A

revista era semanal, e cobria todos os lançamentos do cinema, entrevistava os diretores promissores e divulgava as fofocas sobre os atores e as atrizes em alta no momento. Como editor-chefe da revista, Shane procurava se manter a par de tudo o que dizia respeito ao seu funcionamento, mas nem sempre fora assim. Antigamente, ele parecia evitar o escritório o máximo possível, mas Rachel o havia convencido, aos poucos, a se envolver cada vez mais com o trabalho.

Naquela época, ele estava ressentido por ter sido tragado pelo mundo dos negócios da família. Mas Rachel havia percebido o quanto ele era capaz, não só na coordenação das reuniões diárias das revistas, como também no trato com as pessoas e o modo como enfrentava os desastres. Assim, acabou por convencê-lo de que ele era a pessoa certa para tocar o negócio.

Ele realmente havia se superado nos últimos sete meses, desde que Patrick, seu pai, estabelecera a competição entre os filhos.

O velho patriarca determinara que a melhor maneira de nomear o novo presidente da Editora Elliot seria pôr todos à prova e checar quem estava disposto a dar duro para conquistar o lugar. O editor-chefe da revista que obtivesse o maior lucro proporcional ao final do ano viraria o "Chefão".

A The Buzz estava na frente. Patrick estava para anunciar o vencedor a qualquer momento.Ele era um homem muito ardiloso. Havia encontrado uma maneira de fazer seus filhos admitirem o

quanto desejavam crescer dentro da editora. Ao instigá-los uns contra os outros, ele pudera observá-los de longe e acompanhar seu processo de descoberta de si mesmos.

— Você ligou para Fin como eu lhe pedi? — perguntou Shane, respirando com dificuldade ao acelerar o ritmo da esteira.

Rachel voltou uma página em sua agenda e leu em voz alta.— "Diga a Shane que ele precisa sair um pouco da cidade e respirar algum ar puro. Se ele vier ao

Colorado, eu lhe ensinarei a montar num cavalo".— Isso tudo depois de apenas um mês no rancho? — Rachel não pôde deixar de rir junto com ele.

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A irmã gêmea de Shane fora uma mulher triste! Durante muitos anos, e era muito bom saber que ela havia, enfim, reencontrado a felicidade. Fin se reconciliara com Jessie, a filha que fora obrigada a dar para adoção havia muitos anos. Agora, estava casada com um homem que era louco por ela, e sua gravidez recém-descoberta fora a chave de ouro.

— Eu sinto muita falta dela.Shane apertou os olhos pensativamente e olhou firme para a frente, pela janela.— Eu sei — disse Rachel — mas ela provavelmente virá para a festa de Natal.Ele desligou a esteira e enxugou o rosto outra vez.— Droga, já estamos em dezembro e eu nem comecei a fazer as minhas compras. — Ele pegou a

segunda garrafa d'água e bebeu tudo. — Eu não tenho tempo para me preocupar com isso agora. Vou tomar uma ducha e encontrá-la no escritório daqui a meia hora. Quero dar uma olhada na prova da revista antes que ela seja encaminhada para o setor de produção.

— Está bem — respondeu Rachel, se contorcendo ao pensar no artigo ao qual ele deveria estar se referindo.

Como se estivesse lendo a sua mente, ele a chamou de volta e perguntou:— Tess já entregou a coluna?— Sim. Ela é uma pessoa muito confiável.— Exatamente como você, Rachel — respondeu Shane com uma piscadela.Ela viu Shane desaparecer para dentro do vestiário e suspirou para si mesma:— Você não faz idéia...Algumas horas depois, Shane estava às voltas com Jonathon Taylor, ouvindo-o discorrer sobre os seus

planos para a edição especial comemorativa do Dia da Independência. Ainda faltava muito até lá, mas, quando se trata de revistas semanais, é preciso trabalhar com muita antecedência.

Sandy Hall, a editora-supervisora, estava praticamente espumando pela boca, preocupada com os gastos extras para a tal edição.

— Acho que nós deveríamos investir um bom dinheiro para contratar as celebridades mais im-portantes e usá-las como chamariz. As outras virão a reboque — prosseguiu Jonathon. — Ninguém vai querer ficar de fora.

Sandy se levantou antes que Shane pudesse responder. — Não podemos nos arriscar com uma despesa deste vulto.— Quem não arrisca não petisca — respondeu Jon, olhando para Shane como se soubesse que ele iria

apoiá-lo.— Ele está certo, Sandy. Vamos chamar as pessoas certas para esta edição.Os anunciantes vão

acabar nos apoiando e nós vamos vender muita mais cópias. — O orçamento já está muito apertado, Shane — lembrou Sandy, criticando a risada jovial de Jon. — Bobagem — disse Shane, levantando-se e enfiando as mãos nos bolsos. — Você sabe tão bem

quanto eu que as margens de lucro estão muito amplas. Estamos dando uma surra nas outras revistas da editora, e não vai ser aparando arestas que nós vamos nos manter nessa posição.

Jon bateu com a mão no peito e baixou a cabeça, numa reverência.— Brilhante, meu rei, brilhante!Shane riu com o exagero, mas gostava da paparicação.— Você só está dizendo isso porque venceu — pontuou Sandy.— Antes que a sangria recomeçe — interrompeu Shane — algum de vocês conseguiu fazer contato

com a Tess?Jon e Sandy se entreolharam e deram de ombros, para então olhar novamente para Shane.— Não — disse Sandy, primeiro, relutando em admitir que havia fracassado. — Já falei com todas as

pessoas que conheço e ninguém tem idéia da verdadeira identidade dessa mulher.— O mesmo comigo — concordou Jon, desapontado. — Pelo jeito, nossa pequena Tess preserva a

identidade secreta com unhas e dentes.Aquilo era a última coisa que Shane queria ouvir. "Tess conta tudo" era a coluna mais popular de sua

revista. Eles haviam conquistado milhares de novas leitoras graças ao talento daquela mulher anônima, que era, ao mesmo tempo, engraçada e perspicaz.

Sete meses já haviam se passado desde que a The Buzz tinha publicado a sua coluna pela primeira vez. A resposta fora imediata. Choveram telefonemas, e-mails e cartas de pessoas de todo o país querendo saber mais sobre Tess, mas ela não deixava rastros. Enviava seus artigos mensalmente por fax, sempre de um ponto diferente da cidade. Seus cheques eram enviados para uma caixa postal e então encaminhados para uma outra ainda até chegar a ela.

A revista estava indo muito bem, mas Shane sabia que poderia melhorar seus ganhos se conseguisse convencê-la a escrever uma coluna semanal. Tess, porém, não havia respondido a nenhuma de suas cartas, e todas as outras tentativas de entrar em contato com ela também haviam fracassado.

— Não importa — disse ele com um suspiro. — Continuem procurando.

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Sentou-se então novamente à mesa, dispensou a ambos com um gesto e se pôs a ler a mais recente coluna da misteriosa Tess.

Shane costumava ler todos os números da revista antes que eles fossem enviados para a equipe de produção e depois para a gráfica. A leitura daquela coluna em particular, porém, ia para além da mera obrigação. Ele se recostou na poltrona de couro preto e, virando-se de frente para a janela suja de neve, sorriu ao começar a ler.

Tess dizia que o segredo para sobreviver ao seu chefe era nunca deixá-lo saber que você o compre-endia. Era preciso preservar as ilusões do pobre coitado.

Meu chefe se acha um homem misterioso. Pois sim! Ele tem tanto mistério quanto um prato de canja de galinha, isso sim. O homem, tal como todos os outros do seu gênero, é absolutamente previsível.

Na semana passada, eu organizei dois "primeiros encontros" para ele. O mesmo restaurante, o mesmo prato, o mesmo vinho. A única coisa que mudou foi o nome das mulheres. Misterioso? Nem um pouco.

Eu cuido das mulheres dele assim como cuido de suas reuniões de trabalho. Tornei-me uma malabarista tão hábil que poderia ganhar o dobro se resolvesse trabalhar num circo.

Shane deu uma gargalhada. Sentiu uma certa pena de Tess. Trabalhar para um homem daqueles não devia ser nada fácil.

Quando se trata de negócios, ele sabe se manter firme, mesmo quando tudo à sua volta está ruindo. Acho que é por isso que eu ainda permaneço ao lado dele depois de todo esse tempo. Eu gosto de ser o seu braço direito, ainda que muitas vezes me sinta invisível.

Shane balançou a cabeça. Como é que uma mulher como Tess poderia passar despercebida por alguém?

Acho que este clima e o fim de ano são os culpados por eu estar pensando tanto assim na minha vida. Vocês só vão ler esta coluna em março, mas eu já a estou escrevendo em pleno dezembro. A neve está caindo lá fora, transformando Manhattan num verdadeiro cartão-postal. As vitrines das lojas estão decoradas de guirlandas e há luzes piscando por toda parte.

O ano está acabando e um outro novinho em folha está prestes a começar, exigindo que eu me defina. Será que realmente quero continuar trabalhando para um homem que me trata como um cão bem treinado, lançando-me uma recompensa de vez em quando para que eu continue correndo?

Shane franziu as sobrancelhas, sem compreender a súbita mudança de tom de Tess. Ela costumava ser bastante engraçada e leve, fazendo piadas sobre o chefe, fazendo menções ao que parecia ser o sentimento comum a centenas de assistentes do país em relação ao trabalho. Ele se empertigou na cadeira ao ler a linha seguinte, sem conter uma careta.

O que será que ele faria se eu pedisse demissão?Demissão?!Ela não podia fazer isso. Sua coluna era muito popular!A verdade é que meu chefe provavelmente sequer notaria a minha ausência até ocorrer algum

problema mais grave com a lavanderia, ou ele ter que fazer sozinho a reserva para um jantar com a mais recente loura de olhos arregalados de sua lista. Por que é que eu continuo aqui, afinal?

Acho que todas nós sabemos a resposta.Eu deixei que ele se tornasse importante demais para mim.Passo mais tempo em função da vida dele do que da minha própria vida.Shane não estava gostando nada do rumo daquilo.O que é que vocês acham? Eu deveria desistir de tudo e parar de me torturar? Será que devo

finalmente reconhecer que ele nunca vai erguer os olhos e me enxergar? Ver quem eu realmente sou? Será que devo aceitar que tudo o que sempre serei para ele será uma excelente assistente?

Ele resmungou e terminou de ler a coluna com uma careta.A resposta é NÃO. Chegou a hora de largar este trabalho e procurar uma coisa nova para fazer

enquanto ainda é possível. Agradeço a todas vocês, secretárias e assistentes de todas as partes do país, que me escreveram nestes últimos meses, contando-me suas histórias, mas creio que isso seja um adeus.

Adeus?Quando vocês estiverem lendo esta coluna, eu provavelmente já terei ido embora. Vou sentir muita

falta de vocês, desta coluna e de meu chefe também.Desejo-lhes toda a sorte do mundo com os seus chefes.

CAPÍTULO IIRachel entrou no escritório, atendendo ao chamado de Shane, com o bloco de anotações a postos.— O que houve?— Você leu a coluna da Tess de março?— Sim — disse ela, muito lentamente, fingindo uma calma e um desinteresse que, na verdade, não

tinha.— Então já sabe que ela está pensando em pedir demissão.

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Rachel respirou fundo e se virou de costas por um momento, tentando disfarçar o nervosismo. Decidir deixar o trabalho não havia sido uma decisão fácil, mas ela sabia que estava certa.

Ela fechou a porta em silêncio e caminhou devagar pelo tapete vermelho até a mesa de Shane.— E qual é o problema?Shane jogou os papéis sobre a mesa e se levantou.— O problema é que Tess é muito popular entre as nossas leitoras. Ela não pode simplesmente pedir

demissão. Nós precisamos da coluna dela.Rachel ficou se perguntando se ele ficaria tão preocupado assim quando fosse a vez de ela própria ir

embora. E, ainda assim, será que isso a faria mudar de idéia? Não. Rachel sabia que tinha que deixar a Editora Elliot. Tinha que se abrir para o mundo e encontrar outro lugar para trabalhar, outra pessoa de quem gostar e que, de preferência, também gostasse dela.

Ela sentou-se na poltrona em frente à mesa de Shane e respirou fundo outra vez, tentando controlar o tom de voz.

— Eu não acredito que isso seja um impulso. Ela deve ter pensado muito antes de tomar essa decisão. As pessoas não deixam um bom emprego desses de uma hora para outra.

Shane olhou para ela inquisidoramente.— Rachel, você por acaso sabe de alguma coisa que eu não sei?— Por que está me perguntando isso? — disse Rachel, ajeitando uma mecha de seu cabelo louro, cor

de mel, atrás da orelha. — Eu não acredito que você possa detê-la, Shane, ainda mais sem saber quem ela realmente é.

— Eu vou botar um profissional atrás dela. Nós temos que descobrir quem ela é.Rachel apertou o bloco contra o peito.— Você já colocou um monte de gente atrás dela nos últimos meses.— Eu sei — resmungou ele, voltando-se para a janela. — Não consigo entender como essa mulher

ainda não foi descoberta. Era de se esperar que o chefe dela se reconhecesse nesses artigos, você não acha?

— Claro. Você certamente se reconheceria, não é?— Como não? — disse Shane, mais para si mesmo do que para ela.— É realmente surpreendente — respondeu Rachel, seca, sabendo muito bem que Shane havia lido

todos os seus artigos sem jamais desconfiar de coisa alguma.Rachel reconheceu o brilho nos olhos verdes dele. Shane Elliot simplesmente não sabia perder. Desta

vez, porém, ele ia ter de aprender a lidar com isso.— Você está me escondendo alguma coisa? Ela se deteve por um segundo e então balançou a cabeça veementemente.— Como poderia? Ela sempre envia os artigos de um lugar diferente. Nunca se sabe de onde virá o

próximo.Shane continuou olhando para ela por mais algum tempo. Ainda bem que ele não podia ler a sua

mente. Se pudesse, ela não teria de pedir demissão, pois ele já saberia que ela o amava e poderia se manifestar com clareza a respeito.

Ele voltou para a mesa, guardou o artigo de Tess num envelope junto com o restante do material e o estendeu a Rachel.

— Encaminhe isso para a equipe de produção, por favor.— Claro — concordou Rachel, feliz por se sentir novamente em território seguro. — Mais alguma

coisa?— Encontre essa mulher misteriosa, Rachel. Se é um emprego novo o que ela quer, nós podemos lhe

providenciar um.Rachel saiu do escritório e se apoiou na porta depois de fechá-la. Shane estava querendo empregar

Tess? Aquilo era, no mínimo, irônico.Ela seguiu até o setor de produção, cumprimentando a todos que encontrava no caminho. Rachel

sabia que sentiria muita falta de tudo aquilo. Todo aquele ambiente lhe era muito familiar. Até demais.Os cubículos separados por divisórias de vidro e metal de cada lado do corredor estavam fervilhando,

com os funcionários da The Buzz em plena atividade para o fechamento da revista. Os telefones tocavam, alguém estava rindo ao fundo e o cheiro de café quentinho se espalhava pelo

ambiente aquecido pelo sistema central.Rachel sorriu para Stacy, a recepcionista. As paredes do andar eram brancas, repletas de ampliações

das principais capas da The Buzz emolduradas. O efeito era impressionante. A idéia era fazer o lugar parecer moderno, atual, fresco, excitante.Cada um dos andares da editora tinha as suas próprias cores e era decorado de acordo com a revista

que o ocupava. Na opinião de Rachel, é claro, o andar da The Buzz era o mais bonito de todos.Rachel arriscou um olhar para dentro da sala de reuniões. A porta do laboratório fotográfico estava

fechada. Ela não pôde conter um sorriso. Ferria era conhecido na equipe por ter muito ciúme de seu espaço de trabalho. Até Shane tinha dificuldade de entrar ali.

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Ao chegar ao setor de produção, Rachel entregou o material a Christina, a secretária do chefe da seção, que não levava desaforo para casa. Seu cabelo era branco como a neve e cortado em camadas curtas que evidenciavam os olhos azuis brilhantes.

A mulher colocou os óculos de armação prateada sobre o nariz e sorriu.— Eu estava pensando em ir almoçar na Luci Deli. Você me acompanha?— Eu adoraria — disse Rachel, dando-se conta de que Christina era apenas uma das muitas pessoas

de quem ela sentiria saudade depois que deixasse a editora. — Eu a encontro no elevador ao meio-dia, está bem?

— Ótimo.Ao voltar para sua mesa, Rachel teve a sensação de já estar se despedindo de tudo e de todos.Ela adorava o trabalho. Adorava trabalhar para Shane e se sentir fazendo parte de algo especial. Havia

sempre alguma coisa inusitada acontecendo na redação de uma revista semanal. Um ar de excitação e de urgência que ela jamais encontraria em nenhum outro lugar.

Mas Rachel sabia que tinha que partir. Não podia continuar trabalhando com Shane na The Buzz todos os dias, amando-o do jeito que o

amava. Seria uma tortura ter de marcar os seus encontros com outras mulheres e vê-lo olhar para todas elas com mais interesse do que ele jamais havia tido por ela.

Querendo ou não, já estava mais do que na hora de deixar a Editora Elliot. Ela e seu alter ego, Tess, desapareceriam silenciosamente da vida de Shane para sempre, e não havia nada que ele pudesse fazer para demovê-la daquela decisão.

Já eram sete da noite. A maioria dos funcionários da editora já tinha ido embora. Shane caminhou pelo escritório, ouvindo o som de seus próprios passos sobre o tapete. Havia apenas algumas poucas luzes acesas lançando sombras esparsas aqui e ali.

Durante o dia, aquele lugar era pura atividade. Pessoas rindo, conversando, o barulho das teclas dos computadores, os telefones que não paravam de tocar... Mas à noite parecia uma casa sem suas crianças.

Suspirando, Shane apertou o botão do elevador e esperou, impaciente. Se não tivesse atendido àquele maldito telefonema, já estaria a caminho de casa para se preparar para o encontro com... Ele franziu as sobrancelhas. Como era mesmo o nome dela?!

Ele balançou a cabeça e tentou afastar a pergunta da mente para se concentrar em outra, bem mais importante: o que Patrick Elliot queria àquela hora, depois do expediente?

Seu pai era um homem duro. Sempre fora assim. Mais empenhado em construir um império do que uma família, ele havia se tornado um verdadeiro estranho para os filhos ao longo dos anos. Maeve, a mãe, era o verdadeiro laço que unia a família. Ela era, na verdade, a única razão pela qual ele e os irmãos ainda falavam com o pai.

O elevador se abriu e Shane entrou, com o mesmo entusiasmo de alguém que vai sofrer uma au-ditoria. Ele apertou o botão do andar de seu pai e deixou a mente vagar pelas lembranças da infância.

A imagem de Patrick não passava então de uma vaga lembrança em sua vida, até um certo ano em que tudo mudara.

Ele e sua irmã gêmea, Finola, eram os caçulas da família. Como eram nove anos mais novos do que Daniel, o irmão imediatamente mais velho, Shane e Finola haviam se tornado ainda mais próximos do que a maioria dos gêmeos. Depois de crescidos, eles haviam se tornado grandes amigos. Lutavam pelas causas um do outro, comemoravam juntos as respectivas vitórias e se compadeciam e solidarizavam nos momentos de dor e sofrimento.

Essa talvez fosse a razão por ele nunca ter conseguido se aproximar de seu pai. Patrick estava tentando corrigir os erros do passado como pai, e estava pouco a pouco conseguindo se entender com cada um dos filhos. Shane, porém, nunca havia sido capaz de perdoá-lo pelo que ele havia feito a Fin na adolescência.

Ele se apoiou na parede do elevador e fechou os olhos, lembrando de como tudo tinha se passado. Podia ver Fin com seus 15 anos, linda, confiante e com olhos brilhantes, cheios de expectativa. Até cometer um erro que Patrick Elliot não fora capaz de tolerar.

Fin engravidara do filho de uma outra família abastada, que também não desejava ver seus filhos casados devido a uma gravidez não planejada.

Embora sua mãe tivesse chorado e tomado partido de Fin — algo de que nenhum dos filhos sabia até bem pouco tempo —, Patrick decidira preservar o "bom nome da família" e enviar Fin para um convento no Canadá. Ninguém conseguira demovê-lo da idéia. O velho nunca voltava atrás numa decisão quando acreditava que estava certo — e ele sempre acreditava nisso.

Fin fora obrigada a entregar a filha para adoção logo após o parto. A dor e a tristeza de sua irmã marcaram Shane a ponto de nunca mais ser capaz de perdoar o pai.

O vigésimo terceiro andar tinha uma decoração clássica, imponente. Os tapetes eram macios, as paredes, pintadas de um bege suave com rodapés e umbrais cor de creme, e os móveis, antigos e ele -gantes. Até o ar era diferente. Parecia mais... rarefeito, na opinião de Shane.

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Aquilo era o que mais interessava a Patrick — as aparências, a impressão que a família Elliot causava. Fora por esse motivo que Fin demorara tanto tempo para reencontrar a filha.

Pelo menos aquele caso terminara bem. Agora que Jessie estava finalmente onde sempre deveria ter estado — entre eles —, Patrick finalmente havia aceitado e recebido a moça na família, e a tristeza que Shane tinha visto durante tanto tempo no rosto de Fin enfim havia se dissipado.

Saber que sua irmã estava feliz facilitara um pouco o seu relacionamento com o pai. Balançando a cabeça, Shane começou a se perguntar de onde estavam vindo todas aquelas reflexões. Ele estava perdendo tempo. Ainda tinha que ir para casa para trocar de roupa e se encontrar com... Como era mesmo o nome dela?

Resmungando, ele deu uma batida na porta do escritório de Patrick e esperou.— Entre.Shane abriu a porta e olhou diretamente para o pai, sentado atrás de uma mesa projetada para um

verdadeiro rei. Aos 77 anos, Patrick Elliot parecia pelo menos 10 anos mais jovem. Ainda tinha muito cabelo, mas estava quase todo grisalho. Alto e com uma postura desafiadora, ele continuava dando a impressão de ser capaz de enfrentar o mundo se necessário. Shane se sentou numa poltrona de couro e notou que ela era um pouco mais baixa do que a mesa de Patrick, deixando quem quer que se sentasse ali em situação de desvantagem. Aquele era o seu pai. Nunca perdia um truque sequer.

— O que é que eu posso fazer por você, papai? Patrick se recostou em sua cadeira e tamborilou os dedos sobre a mesa.— Você está com pressa?— Não muita.É claro que ele estava com pressa, mas sabia muito bem que seu pai era suficientemente do contra

para querer prendê-lo lá caso o admitisse. Shane cruzou as pernas, apoiou o cotovelo no joelho e bateu de modo ritmado no sapato.

O velho respondeu com um meneio de cabeça.— Tudo bem. Eu estou com pressa. Sua mãe comprou ingressos para uma peça.Shane sorriu.— Um musical? Patrick deu de ombros.— Provavelmente.Shane baixou o rosto para esconder um sorriso mais largo. Sua mãe adorava teatro, mas seu pai

odiava, o que, no entanto não o havia impedido de assistir a Cats ao menos 12 vezes para fazer a vontade da esposa. Ele era realmente louco por ela.

— Só Deus sabe o que sua mãe vai me fazer passar essa noite. Eu não pretendo me estender muito. Ela deve chegar em vinte minutos.

— Certo. De volta aos negócios então. Diga. Patrick olhou fixamente para Shane com um amplo sorriso no rosto.— Eu recebi os últimos relatórios. Já obtive todas as margens de lucro das revistas.— E...? — perguntou Shane, com o coração acelerado, cheio de expectativa. Se alguém tivesse lhe

dito há um ano que ele se importaria tanto assim com a possibilidade de se tornar o novo presidente da Editora Elliot, ele teria se matado de tanto rir.

Agora, porém, desejava aquela posição mais do que gostaria de admitir.— Parabéns — congratulou Patrick. Shane respirou aliviado.— Sério? — Ele sorriu e se levantou. — Obrigado. Patrick também se ergueu, estendendo a mão. Shane a tomou na sua e a apertou.— Você fez um bom trabalho, filho.Shane ficou orgulhoso. Apesar de tudo o que havia acontecido, a aprovação do pai ainda era muito

importante para ele.— Fico feliz que tenha gostado — disse ele, afastando aqueles pensamentos de sua mente. Pre-

sidente. Aquilo significava todo um mundo de responsabilidades que ele teria feito qualquer coisa para evitar um ano antes. Era estranho como a vida de um homem podia mudar.

Ele mal podia esperar para contar a novidade para Rachel.— Eu vou fazer o anúncio oficial na nossa festa de Ano Novo, mas queria que você soubesse desde já.

Você mereceu, Shane.— Mereci mesmo — falou Shane, ainda muito excitado com a novidade — mas eu não teria con-

seguido sem a ajuda da minha equipe. Os funcionários da The Buzz deram o sangue nestes últimos anos, especialmente Rachel, minha assistente.

Patrick assentiu.— Fico feliz por você ter aprendido que nenhum homem conquista nada sozinho.Shane olhou desconfiado para o pai.— Eu sei disso. Só me surpreende que o senhor também saiba.

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Patrick suspirou e balançou a cabeça.— Um homem aprende muitas coisas depois de chegar a uma certa idade. Coisas que talvez devesse

ter aprendido muito antes.— Bem — disse Shane, sentindo-se repentinamente desconfortável — antes tarde do que nunca.—Acho que sim. Vou tirar as minhas coisas daqui no dia primeiro para você poder se mudar para cá.— É estranho me imaginar trabalhando aqui.— É muito estranho para mim também, filho. Eu estou tão acostumado a vir aqui todos os dias... —

admitiu ele, olhando em torno. — Acho muito difícil imaginar como vai ser não trabalhar mais.— Eu não consigo me lembrar da última vez em que você tirou férias.O remorso ficou estampado nos olhos de Patrick.— Eu admito que cometi erros — disse ele, voltando-se para o filho.Shane ficou tenso. Não estava disposto a fazer o jogo da verdade com o pai. As coisas que viriam à

tona acabariam obscurecendo o brilho de sua vitória. Patrick havia feito um esforço sincero no último ano para conhecer melhor os próprios filhos, porém a verdade é que um bom ano, por melhor que fosse, não podia apagar toda uma vida de percalços, para dizer o mínimo.

— Papai...— Eu sei, você não quer falar sobre esse assunto.Ele enfiou as mãos nos bolsos e disse: — Mas eu não posso deixar de pensar nisso. Eu sei que foquei toda a minha atenção no trabalho

durante todos esses anos, mas tudo o que eu quis foi deixar um legado para você e seus irmãos.— E você conseguiu.— É verdade, mas deixei muita coisa realmente importante de lado. Eu permiti que as coisas fugissem

ao meu controle. A culpa é toda minha.— Não é preciso falar de culpa — respondeu Shane em voz baixa. — Não mais.— Como eu gostaria de poder acreditar nisso — Sussurrou ele, repentinamente aparentando a sua

verdadeira idade. — Mas é justamente sobre os meus erros que eu quero falar com você. Eu não quero que você corra o risco de cometê-los também movido pela sensação de poder e de desafio. — Shane deu de ombros. — Eu conheço você — continuou Patrick. — Vi o seu desempenho durante a competição. Mas lembre-se: vencer não significa nada se a vitória for a sua única companheira.

CAPÍTULO IIIRachel abriu a porta da geladeira pela terceira vez em meia hora e olhou para o seu arquiinimigo ali,

em meio a uma pilha de refeições congeladas, zombando dela silenciosamente. A culpa era toda sua. Ela nunca deveria ter comprado aquilo, porém acabou cedendo, num momento de fraqueza, na volta do trabalho.

Para falar a verdade, estava tendo muitos momentos de fraqueza nos últimos tempos, toda vez que pensava em largar o emprego e romper ligações com Shane Elliot.

— Essa é a coisa certa a fazer — resmungou ela para si mesma, segurando a porta da geladeira enquanto a neblina gelada acariciava a sua face. Apertou-a com mais força. Sabia que teria que pedir demissão. Só estava adiando o inevitável porque não queria deixar a Editora Elliot até Shane vencer a competição.

— Bem, esta desculpa já não cola mais. Você ajudou tanto a The Buzz que ele só pode vencer. — Ela tremeu e enfiou a mão na geladeira, pegando um pequeno pote coberto de cristais de gelo. — Está bem, eu me rendo. Nós dois sabíamos que isso ia acabar acontecendo, caso contrário eu nem sequer o teria comprado.

Ao ouvir a batida na porta da frente, ela se retraiu instantaneamente. Fechou a geladeira. Passou as mãos pelo cabelo louro ondulado e se livrou do elástico com que o havia prendido. Alisou auto-maticamente a saia cinza que ainda estava usando desde que chegara do trabalho. Parou a caminho da porta para olhar para o relógio de parede. Oito horas.

Que ótimo! Shane deveria estar tomando a primeira taça de champanhe com Tawny, a "mulher maravilhosa". Que

bom ter se lembrado disso agora! Definitivamente, estava mais do que na hora de largar o emprego! Passou pelo sofá a caminho da porta e ajeitou uma grande almofada azul. Deu uma última olhada no

apartamento, aprovando sua aparência. O apartamento só tinha um quarto, mas era mais do que suficiente para ela. Além do mais, o bairro era familiar e havia um restaurante numa esquina e uma mercearia na outra.

Já morava naquele apartamento aconchegante havia cinco anos. Natalie Cole cantava no CD, e do andar de baixo vinha o cheiro da lasanha de seu vizinho. Com alguma sorte, ganharia as sobras na manhã seguinte.

Sorrindo para si mesma, Rachel olhou pelo olho mágico. E tomou um susto ao perceber quem era.Shane! Aqui?!Ele bateu de novo.

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Rachel olhou mais uma vez e o viu sorrindo para a lente.— Vamos, Rachel, abra logo.Ela deu uma olhada rápida no visual, desejando repentinamente estar vestindo uma roupa mais

esvoaçante.— Como é que você sabe que eu estou aqui? — perguntou ela. — Eu poderia estar num encontro.Numa outra encarnação, talvez.— Você está falando comigo — disse ele ainda sorrindo. — Vai me deixar entrar ou não?Shane nunca havia ido ao seu apartamento nesses quatro anos em que ela trabalhava para ele. 0 que

o estaria trazendo aqui agora? Será que ele percebera que ela estava pensando em pedir demissão? Será que ele estava lá para tentar demovê-la de sua decisão?

— Isso não é justo — resmungou ela, enquanto soltava a correntinha da porta e a destrancava até finalmente abri-la.

Shane não esperou por um convite para entrar e foi logo atravessando a sala. Trazia um buque de lilases em uma das mãos — as flores favoritas de Rachel — e na outra, uma garrafa de champanhe.

Com o coração aos saltos, Rachel fechou a porta e se apoiou nela.— O que é que você está fazendo aqui, Shane?— Belo apartamento — disse ele, olhando em volta.— Obrigada.— Eu tive que ir até o RH para conseguir o seu endereço. O estômago dela se contraiu ainda mais.— E por que foi que você fez isso?— Para lhe trazer isso — respondeu Shane, estendendo-lhe as flores.O perfume invadiu as narinas de Rachel, mas ela permaneceu tensa, sabendo que havia mais alguma

coisa que ela não captara.— Por que foi que você decidiu me trazer flores? — perguntou ela, congratulando-se imensamente por

ter conseguido manter um tom de voz razoável. — Você não deveria estar no Une Nuit, dando um buquê de margaridas para Tawny?

— Tawny! — repetiu ele, batendo na testa. — É esse o nome dela! Por que será que eu nunca consigo me lembrar?

— Boa pergunta — disse Rachel. — Talvez porque haja Tawnys e Barbies demais na sua vida.Ele olhou para ela, dado de ombros e sorrindo. Depois seguiu em direção à cozinha.— Não se preocupe com ela. Eu liguei para Stash e pedi que ele desse a...— Tawny — completou Rachel, enquanto o seguia.— Isso. Pedi que ele lhe servisse o que ela quisesse por minha conta e lhe transmitisse os meus

sinceros pedidos de desculpas.— Quer dizer então que você furou com ela.— Eu não tive outro jeito — disse ele com a garrafa de champanhe na mão. — Taças.Ainda apertando as flores numa das mãos, Rachel apontou com a outra.— Só de vinho, sinto muito.Ele deu de ombros novamente, pegando as taças.Aquilo era duro demais. Ela sabia que nunca mais conseguiria apagar a imagem dele zanzando por

seu apartamento. Droga, provavelmente nunca mais seria capaz de olhar outra vez pelo olho mágico sem ver o rosto sorridente à sua procura.

— Você não deveria estar aqui — esbravejou ela, apertando as lilases que deveriam ter custado uma pequena fortuna. Afinal, aquelas eram flores típicas da primavera e eles estavam em pleno inverno. O fato de que ele havia lembrado de suas flores preferidas quando não era capaz de se lembrar do nome de Tawny também não lhe passou despercebido.

Ele a olhou de cima a baixo.— Por quê? Você tem mesmo um encontro para hoje à noite? Empertigando-se, ela respondeu:— Eu, na verdade, estava planejando passar a noite com dois rapazes.— É mesmo? E quem são eles?Rachel suspirou. Não fazia sentindo mentir já que ela não estava exatamente vestida para um en-

contro.— Chocolate e Baunilha — respondeu, fazendo um meneio em direção à geladeira.Shane sorriu, começando a tirar a rolha do champanhe.— Isso aqui vai ser bem melhor.— Não sei, não — despistou ela, passando por ele para pegar um vaso. — Poucas coisas são melhores

que sorvete.— Isso não chega aos pés da ocasião.— Que vem a ser... — disse ela, ajeitando flores.

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— Nós estamos comemorando. — O champanhe estourou. Ele encheu as taças, sorriu para ela piscou. — Pergunte-me o quê.

Um jorro de excitação tomou conta dela.— O que é que nós estamos comemorando?— Nós conseguimos, Rachel — disse ele, pousando a garrafa e estendendo-lhe uma das taças. Ela a

tomou de suas mãos e brindou com ele. — Nós vencemos a disputa. Eu sou o novo presidente da Editora Elliot.

Fogos de artifício estouraram dentro dela.— Shane, isso é maravilhoso!Rachel estava decidida a ir embora, ainda mais agora que a vitória de Shane era oficial, mas estava

muito feliz por ele. Seu empenho e sua dedicação no último ano estavam sendo justamente recom-pensados, e a felicidade pela conquista só vinha provar mais uma vez o quanto ele havia mudado nos últimos tempos.

— Eu sei — disse ele, segurando-a pelo cotovelo e conduzindo-a para a sala. Shane a guiou até o sofá. — Eu volto já — prometeu, indo pegar a garrafa de champanhe na cozinha. Ele a colocou sobre a mesinha àe centro e, se sentou ao lado de Rachel.

Ela o olhou por sobre a borda da taça, enquanto ele tomava um bom gole da bebida. Teve vontade de estender a mão e ajeitar a mecha de cabelo escuro caída sobre sua testa. Apertou os dedos contra a haste de sua taça para não fazê-lo, sem deixar de olhar para Shane. Ele era realmente lindo.

Olhos verde-musgo brilhantes, um queixo forte, um sorriso branco e amplo e ombros largos. Ele era da matéria de que eram feitos os sonhos. Os dela, pelo menos.

— Sabe, — começou ele — quando meu pai me deu a notícia, eu só consegui pensar que você também deveria estar lá para ouvir aquilo. — Ela tomou outro gole de champanhe, esperando aliviar a repentina secura da garganta. — Você é a verdadeira razão de eu ter vencido, Rachel.

Um brilho de felicidade a invadiu por dentro, mas ela o reprimiu. — Isso não é verdade, Shane. Você trabalhou muito para isso e mereceu vencer.— Talvez, — assentiu ele, passando a ponta de seu indicador pela borda da taça — porém eu jamais

teria conseguido sem você.— Com certeza não — concordou ela, sorrindo.Era bem mais fácil manter a conversa leve e provocante como ela sempre havia feito com ele. Era

bem melhor para o seu equilíbrio mental não fantasiar Shane se jogando aos seus pés, declarando o seu amor e implorando para que ela se casasse com ele.

Pelo amor de Deus!Ela tomou mais um gole de champanhe, e não reclamou quando Shane pegou a garrafa e encheu sua

taça e a dele.— Nós vamos nos mudar para o escritório do meu pai no primeiro dia do ano.Você vai se mudar, disse ela para si mesma, desejando ardentemente poder ficar com ele, embora

soubesse que isso era impossível. Como ela queria continuar fazendo parte de sua vida...— Imagino que você vá querer mudar a decoração — alfinetou ironicamente.— Pode ter certeza disso. — Seu sorriso era simplesmente devastador. Ainda mais por ele parecer

não ter noção do seu poder. — Eu não gosto nem um pouco daquela mobília antiga.— Eu sei disso — respondeu ela, quando a música ritmada deu lugar a uma mais suave e lenta.— Nós vamos ter um belo aumento — revelou Shane, recostando-se no sofá.— Uh-uh. — Um aumento seria ótimo.— E você vai ganhar um bônus — disse ele — se conseguir localizar a nossa colunista misteriosa e

convencê-la a escrever para a The Buzz.— Shane...— Eu sei, eu sei — interrompeu ele. — Nós não conseguimos encontrá-la até agora, mas ela tem de

estar em algum lugar, Rachel.— É verdade, mas, ao que parece, ela não quer ser encontrada.— Eu estive pensando... — falou ele, enchendo de novo as taças. Rachel olhou para as bolhas do

champanhe e disse a si mesma para parar de beber tão depressa. A mente já estava um pouco confusa e a visão um tanto enevoada. Devia ter tomado aquele sorvete, disse Rachel a si mesma. Depois, balançou a cabeça e se obrigou a prestar atenção no que Shane estava dizendo. — Tess disse que estava deixando o emprego. E se nós oferecêssemos um novo a ela?

— Mas ela já trabalha para nós — argumentou Rachel, perguntando-se por que sua língua de repente parecia tão enrolada. — Ela escreve uma coluna para a The Buzz.

— Sim, mas se nós a incorporarmos à nossa equipe, ela vai poder escrever sobre o que quiser. Dar conselhos, fazer fofocas, sei lá. — Ele se ergueu como se não conseguisse mais permanecer sentado com tantas idéias fervilhando na cabeça. —As leitoras a adoram, Rachel. Ela é engraçada e inteligente e isso transparece em seus artigos.

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Rachel quase agradeceu o elogio, mas se conteve a tempo. Franziu as sobrancelhas, olhando para a taça, e se curvou cuidadosamente para pousá-la sobre a mesinha. Uma leve embriaguez era boa. Um pileque, não.

— Por que isso é tão importante para você, Shane?Ele se virou para olhá-la. Deu um bom gole no champanhe e balançou a cabeça.— Eu não sei ao certo. Só sei que ela é boa e que eu não quero deixá-la escapar por entre os dedos.— Acho que você não tem muita escolha.Shane sorriu para ela, fazendo com que algo quente corresse por seu corpo, deixando um rastro de

fogo por onde passava, parecendo queimar a pele.— É aí que você se engana. Você é minha arma secreta, Rachel.— Eu?— Você tem mais contatos na cidade do que o próprio prefeito. Você certamente tem meios de

descobrir quem é essa Tess e onde nós poderemos encontrá-la.— Eu não creio nisso.Shane pousou sua taça ao lado da dela e a colocou de pé. Ela vacilou um pouco, mas ele a segurou.— Rachel, você não pode me deixar agora. Deixar? Como ele sabia disso? Ela olhou para ele por um minuto ou dois, perdendo-se no fundo

daqueles lindos olhos verdes.— Sabia — sussurrou ela — que você tem umas manchinhas douradas nos olhos?O sorriso dele desapareceu. Suas mãos se tornaram repentinamente mais gentis enquanto os pole-

gares acariciavam a sua blusa.— Tenho mesmo?— Sim — falou ela, inclinando-se ainda mais sobre ele, jogando a cabeça para trás para manter os

olhos nos dele. — Eu nunca reparei nisso antes, mas...— Seus olhos também são verdes — disse ele, tão baixinho que ela mal pôde ouvi-lo sob a pulsação

da música lenta. — Verde-claro, como a grama no verão.O pulso dela acelerou. Seu coração disparou, a bater loucamente, e um desejo crescente começou a

se espalhar pelo corpo. Rachel estava adorando cada minuto daquilo. As mãos dele deslizaram pelas suas costas e se detiveram na altura de sua cintura. Ela sentiu o calor do toque atravessar o tecido da roupa.

— Rachel... — sussurrou ele, movendo novamente as mãos pelas suas costas em longas e lascivas carícias que atiçaram as labaredas dentro dela. Ele respirou fundo e olhou para ela como se nunca a tivesse visto antes. Como se ela fosse a mulher mais linda da face da Terra. Ele então soltou a respiração até aquele momento presa e disse:

— É melhor eu...Ele ia embora. Ele, na verdade, já a estava soltando, dando um passo para trás, colocando uma

pequena distância segura entre eles. Rachel, de repente, teve certeza de que não poderia deixar aquele momento passar. Não poderia deixar que ele saísse assim de sua vida sem ter a oportunidade de, ao me-nos uma vez, lhe mostrar o que sentia por ele.

— ...me beijar — disse ela, erguendo-se na ponta dos pés e passando os braços em torno do seu pescoço, jogando a cabeça para o lado.

Shane a olhou sem se mexer. Rachel pôde sentir a tensão em suas mãos, e teve certeza de que o tempo havia parado naquele exato momento.

Ela, então, colou seus lábios aos dele, arriscando tudo naquele beijo com que sonhara durante todo o ano.

CAPÍTULO IVPor uma fração de segundo, Shane ficou surpreso demais para reagir, porém conseguiu se refazer ra-

pidamente.Os lábios de Rachel eram quentes e macios, e estavam impregnados de champanhe. Ele a segurou

com mais força, devorando sua boca.Pensamentos aleatórios cintilaram em sua cabeça como pirilampos numa noite quente de verão.

Rachel.Ele estava beijando Rachel. E a sensação era boa. Certo.A boca de Rachel se abriu ainda mais ao terno ataque de Shane. A língua dele invadiu-lhe os lábios,

provocante, ansiosa pelo calor que emanava dela, reivindicando algo que ele não sabia o que era, mas desejava ardentemente, e que estava ali, ao alcance. Algo que jamais havia pensado encontrar.

Fin já o vinha provocando havia muito tempo, dizendo que a mulher certa para ele estava bem debaixo de seu nariz, mas ele nunca pensara realmente na possibilidade de sua irmã ter razão. Ela já dissera que Rachel Adler poderia ser bem mais do que uma assistente maravilhosa, mas ele não lhe dera ouvidos. Não acreditara realmente que ele e Rachel pudessem... estabelecer uma conexão... tão completa, tão surpreendente.

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As mãos de Rachel subiram pelas costas de Shane. Ele se arrependeu amargamente por não ter tirado o paletó ao chegar, de modo a poder sentir as mãos delicadas diretamente sobre a pele.

Aquela idéia o atingiu como o impacto de um meteoro.Uma bola de fogo se instalou em seu peito e estendeu seus tentáculos para todos os cantos do corpo.

O calor irradiava dele e incendiava suas entranhas. Shane afastou os lábios e deslizou-os pelo pescoço delgado.

— Você é tão doce!— Shane...O sussurro de Rachel, sua voz rouca de desejo, carregaram-no como um furacão. Ela cruzou as mãos

por trás da nuca dele, arranhando a pele com as unhas. A reação de Shane foi tão intensa que ele quase perdeu o fôlego.

Ele nunca havia sentido um desejo tão aterrador antes, uma necessidade que o consumisse dessa forma.

Deslizou as mãos por baixo da blusa de seda de Rachel. Correu-lhe as palmas pelas costas. A pele era muito mais macia que a seda, muito mais encantadora, muito mais lisa.

Ela arfou e jogou a cabeça para o lado, convidando-o em silêncio para se aventurar mais pro-fundamente. Foi o que ele fez. Acariciando-a, ele mordiscou-lhe o pescoço até sentir o desejo dela pulsar por todos os poros.

— Rachel... — murmurou ele contra a sua pele — eu não sei bem o que está acontecendo, mas eu a quero.

— Que bom! — disse ela, suspirando mais uma vez e deixando o corpo pesar sobre o dele. — Isso é ótimo, Shane, porque eu também o quero. Agora parece bom pra você?

Ele sorriu e ergueu a cabeça para olhá-la nos olhos, que brilhavam de paixão.— Eu acho que agora mesmo seria ótimo. — Shane olhou ao redor da sala como se esperasse que

uma cama se materializasse à sua frente num passe de mágica. Os dois poderiam se virar no sofá mesmo, no chão, ou de pé, apoiados na parede, mas tinha que ser logo.

Ele estava louco para se aninhar dentro dela e ser envolvido pelo seu calor. Precisava ver os olhos dela perderem o foco e sua respiração falhar. Precisava vê-la sendo sacudida pelos espasmos do mais alto prazer.

— Quarto — disse ela, apontando o caminho. — Por ali.— Certo. — Ele não perdeu tempo. Não podia. Pegou-a no colo e atravessou a sala com passadas

largas para abrir a porta do quarto.Havia uma cama de casal coberta com uma colcha florida. As cortinas abertas deixavam a luz da rua

iluminar o ambiente. Eles estavam no terceiro andar. Ninguém poderia vê-los, e por isso Shane não as fechou. Ele queria vê-la. Queria olhar para ela.

Ele a colocou de pé.— Você não vai mudar de idéia, vai? — perguntou ela.— De jeito nenhum — sussurrou ele, estendendo a mão em direção ao primeiro botão de sua camisa.

Em poucos segundos ele abriu todos eles, fazendo a peça cair ao chão.— Isso é muito bom — disse ela, engolindo em seco. — Muito bom mesmo.Shane fez um meneio de cabeça.— E você, está certa de que quer continuar? Nós ainda podemos parar se você quiser.— Você está brincando? — retrucou ela, passando os braços em torno dele. Ela o olhou no fundo dos

olhos e disse: — Ninguém vai sair desse quarto antes de nós acabarmos completamente um com o outro.Ele sorriu para ela. Aquela era a Rachel que ele conhecia e admirava. Confiante em si mesma. Segura.— Quanto a mim, já faz muito tempo que eu aprendi a obedecer a minha assistente.Ele a beijou de novo e abriu o fecho do sutiã. A renda frágil se soltou. Ela se contorceu em seus

braços, libertando-se da peça enquanto tirava o paletó dele.Shane sentia a mesma urgência pulsando dentro dele e a ajudou. Em poucos minutos, ambos estavam

nus sobre o colchão. A cama antiga rangeu sob o peso dos dois, mas eles não pareceram se incomodar. Shane olhou para ela, iluminada pela luz que entrava pela janela. Ela possuía seios fartos, uma cintura estreita e quadris arredondados. Era cheia de curvas nos lugares certos. Ele passou as mãos por todas elas, deixando um rastro de fogo, até ela se contorcer debaixo dele, arfando furiosamente. A necessidade dele aumentava cada vez mais ao ver a excitação dela. Shane podia sentir cada uma das batidas do coração de Rachel como se fossem as suas próprias. Ela reagia com intensidade às suas investidas. Tremia quando ele a tocava, suspirava quando ele a acariciava. Ela ergueu a mão para arranhar-lhe o tórax.

— Isso. Assim. Oh, meu Deus, isso é tão bom, Shane!Ela afastou as pernas, abrindo caminho para os dedos exigentes de Shane.O coração dele acelerou e a respiração ficou ainda mais difícil. Sua mão deslizou desde a costela de

Rachel até alcançar a junção de suas coxas. Ela teve um sobressalto e tentou fechar as pernas.— O que foi, Rachel?

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— Eu estou excitada demais, Shane. Estou quase lá e não quero que isso termine assim tão rápido. Eu quero que isso dure muito, muito tempo.

— Nada vai acabar agora — assegurou-lhe Shane. — Nós temos a noite toda pela frente. Deixe-me conduzi-la.

Rachel se agarrou aos ombros dele ao sentir os dedos que mergulhavam ainda mais fundo. Estava quente, úmida, pronta para recebê-lo. Shane a observou, deleitado de prazer ao ver a reação dela às carícias.

Ela arfou e enrijeceu em seus braços, ao primeiro contato mais íntimo. — Shane! — O clímax a atingiu com força, em ondas de intenso prazer que lhe sacudiram todo o

corpo. Ela jogou a cabeça pra trás e mordeu o lábio inferior, sem soltar os ombros dele.Mais excitado do que jamais estivera, Shane ficou admirando aquela mulher que tremia de excitação

em seus braços. Com a boca seca e o coração batendo loucamente, ele baixou a cabeça e tomou os lábios de Rachel com fúria. Ele queria sentir aquilo novamente, queria sentir o corpo dela explodir para ele, por causa dele. Queria ouvi-la gritar seu nome mais uma vez.

Shane a puxou para mais perto de si, explorando primeiro com um, depois com dois dedos dentro dela, enquanto o polegar acariciava sensualmente o clitóris.

Rachel quase não conseguia mais respirar. Seu cérebro parecia estar derretendo. Mal se refizera do primeiro orgasmo e Shane já a conduzia ao segundo, e agora que ela sabia o quanto era bom, não via a hora de reviver todas aquelas incríveis sensações. Seu corpo era pura eletricidade. Seu sangue fervia. Suas pernas estavam fracas e energizadas ao mesmo tempo.

Ela se contorceu, aconchegando-se mais a Shane, adorando sentir a pele dele contra a sua. Sua mente entrou em curto quando um novo orgasmo tomou conta de seu corpo. Não conseguia mais pensar, não conseguia enxergar, mas não se importava. Tudo o que importava naquele momento era que Shane não parasse de tocá-la.

Ela se abriu para ele, adorando senti-lo dentro de si.Shane a beijou de novo, longamente. A língua dele se enroscou na dela, numa dança erótica que

intensificou ainda mais o desejo e a necessidade que ela sentia.Rachel sentiu a respiração de Shane contra seu rosto e enganchou a perna esquerda no quadril dele,

gemendo quando seus dedos a penetraram mais fundo.— Eu preciso estar dentro de você — sussurrou ele, afastando-se dos lábios sedentos para enterrar o

rosto na delicada curva entre o pescoço e o ombro. Ele a arranhou com a barba quando lambeu sua pele, avançando em direção à garganta, descendo até a clavícula.

— Hummm, dentro de mim. Isso parece maravilhoso.— Proteção — resmungou ele apressadamente, mordendo o seu pescoço.— Proteção... Certo...Ela não tinha um único preservativo em casa, mas não podia deixá-lo ir embora de jeito nenhum. Não

podia perder a oportunidade de senti-lo dentro de si. Ela simplesmente tinha que tê-lo. Esforçando-se para respirar, pensar e falar ao mesmo tempo, Rachel encontrou enfim as palavras que estava procurando.

— Eu tomo pílula. Se você...— Estou limpo como um monge — assegurou-lhe ele.— Eu também. Que bom!— Que bom mesmo... — sussurrou ele, movendo-se sobre ela, ajustando-se sobre os seus quadris. — A

melhor notícia que eu já recebi.— Eu também.Aquelas foram as últimas palavras que eles trocaram. O que estava por vir era importante demais

para se falar, ou até mesmo pensar.Shane a possuiu e a respiração dela acelerou ainda mais. Rachel arqueou todo o corpo para encontrar

o dele, abrindo-se para recebê-lo mais profunda e intensamente. Ele era grande, rígido, maravilhoso.Ele balançou os quadris contra os dela, preenchendo-a, inundando-a de sensações. Tomou então suas

mãos, mantendo-as uma de cada lado do seu corpo. Ela tentou se mexer, mas não conseguiu; porém, não se importou nem um pouco. Tudo o que queria era sentir aquele imenso prazer tomar conta dela outra vez.

Shane permaneceu com os olhos fixos nos dela enquanto se afastava e avançava novamente, cada vez mais forte e mais fundo. Rachel gemeu alto. Aquilo era tudo o que sempre quisera, tudo com o que sempre sonhara. Melhor ainda do que tudo o que havia ousado imaginar.

Nada do que vivera até então poderia tê-la preparado para a intensidade daquela experiência. A música, vinda da sala, os embalava.

A colcha embaixo da sua pele era fresca e macia. Ele continuou segurando suas mãos com força, prendendo-a na cama. Rachel erguia e baixava seus quadris no ritmo que ele havia imprimido aos movimentos. Quando as centelhas se fizeram sentir por todo o corpo, ela acelerou com ele em direção ao clímax.

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— Shane! — chamou ela em voz alta. Precisava dizê-lo. Precisava ouvir sua própria voz gritar o nome dele. Precisava convencer a si mesma

de que ele realmente estava lá e que aquilo não era mais um de seus sonhos solitários.— Se entregue para mim — disse ele, com a voz rouca. — Se entregue ao prazer mais uma vez... para

mim. E depois outra, e outra...Agarrando-se a ele, Rachel alçou vôo com uma força descomunal, sentindo seu corpo explodir em

fogos de artifício de todas as cores. Mal ouviu quando ele gritou seu nome também e a seguiu no turbilhão de sensações.

Um caleidoscópio de cores ainda girava por trás dos olhos fechados de Rachel quando ela sentiu Shane rolar para a ponta da cama.

— O que foi?Ela abriu os olhos e olhou para ele. Aquele simples olhar bastou para que seu corpo se acendesse

novamente, pronto para recomeçar.— Você está indo embora?Shane sorriu de um jeito que lhe tirou todas as forças.— Eu só vou até a sala para pegar o champanhe.— Ah, boa idéia!— Parece que eu estou cheio de boas idéias esta noite, não é?Ela o observou sair do quarto e não pôde reclamar do que via. Até seu bumbum era bonito! Rachel

fechou novamente os olhos e se espreguiçou sobre a colcha que sua avó fizera havia mais de 50 anos. Aquele pensamento a incomodou. Ela rolou da cama e puxou a colcha para se deitar sobre os lençóis

limpinhos cheirando a lavanda.Cada partícula de seu corpo estava exausta e feliz, exatamente na mesma proporção.A consciência disso, porém, fez com que seu cérebro começasse a funcionar, inquirindo-a sobre o que

ela faria a seguir. Como pudera dormir com o chefe? E como conseguiria olhar para ele outra vez no escritório sem pensar naquele corpo maravilhoso? Pare com isso! Ela não queria pensar agora. Não essa noite.

Sabia muito bem que haveria tempo de sobra mais tarde para pensar e se torturar com o assunto. No momento, só queria desfrutar de tudo o que estava acontecendo.

Uma sensação gelada nos seios de Rachel fez com que ela abrisse os olhos, assustada.Rachel olhou para cima, diretamente nos olhos de Shane, com o rosto enterrado em seu peito. — O que é que você está... Ele verteu um pouco mais de champanhe sobre os seios dela e então pousou a garrafa sobre o criado-

mudo ao lado da cama. Deitando-se novamente, ele disse:— Eu estava com sede... Ele baixou então a cabeça para tomar primeiro um, depois o outro dos bicos de seus seios em sua

boca. Sua língua descreveu pequenos círculos em torno dos bicos rígidos e sensíveis. Rachel gemeu alto quando ele os sugou, agarrando-se com firmeza ao peito dele enquanto seu mundo

girava.Shane a mordiscou e então a lambeu de novo. Era como se cada sucção a atingisse diretamente no

coração.Seu corpo ficou em chamas novamente e, quando ele ergueu a cabeça, ela teve vontade de chorar.

Ela arfou e soltou o ar com força.— Eu continuo com sede — disse Shane, pegando a garrafa. Ele verteu o champanhe cuidadosamente sobre os seios e as costelas, deixando uma pocinha se

formar na concavidade do abdômen.Rachel tremeu, mas não por causa da temperatura da bebida. Na verdade, estava surpresa de o

champanhe não ter evaporado ao contato com sua pele.— Shane...— Agora um gole para você — prosseguiu ele, erguendo a cabeça dela para levar o gargalo a seus

lábios.Ela deu um bom gole, aliviando a secura da boca antes de beijá-lo. Os lábios de Shane recendiam a

paixão, e Rachel queria mais.— Está pronta? — perguntou ele, soltando-a e colocando a garrafa de volta na mesa.— Acho que sim — respondeu ela, estendendo as mãos na direção dele.Ele, porém, balançou a cabeça, pegou as suas mãos e disse:— Então encontre alguma coisa em que se segurar.Depois baixou novamente a cabeça até os magníficos seios. Rachel seguiu o conselho, agarrando-se à

cabeceira da cama como um náufrago à sua tábua de salvação. Ele sugou os bicos de seus seios e seguiu descendo, provando o champanhe em seu corpo por onde passava, pelas costelas, o abdômen, até abaixo do ventre.

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Ela arfava, gemendo o nome dele, segurando-se ainda com mais força. Sua pele estava em brasa. Rachel podia sentir cada terminação nervosa do corpo vibrar, torcendo para que aquilo nunca mais acabasse.

Ele mudou de posição, ajoelhando-se entre suas pernas. Rachel sorriu, ávida por senti-lo outra vez dentro de si, porém ele guardava outra surpresa para ela. Agarrando-lhe as nádegas, ele ergueu seus quadris e sorriu para ela. Rachel sentiu seu ventre se contorcer.

— Shane...— Segure-se firme, Rachel... — sussurrou ele profundamente. — A corrida vai ficar agitada!

CAPÍTULO VEle a cobriu com a boca e Rachel gemeu descontroladamente. O nome dele deslizou de sua garganta

num sussurro de deslumbramento. Ela ficou olhando-o, a tomá-la, sem conseguir desviar os olhos. Concentrou-se profundamente na

sensação das mãos dele em seu corpo, na sensação exuberante de sua boca nos beijos e carícias mais íntimos, na tranqüilidade da sua respiração.

Lá fora, um vento gelado soprava e atirava neve sobre as janelas, mas, dentro do quarto, o calor era tanto que Rachel chegava a se surpreender por não ver fumaça subindo da cama.

Os lábios e a língua de Shane brincavam em sua pele, incendiando-lhe o sangue, fundindo seu cérebro. Rachel não conseguia mais pensar. Não conseguia se lembrar de pensar.

Tudo se transformara num ciclone de sensações. Seus nervos se tensionaram até quase romper e, quando a tensão em seu corpo atingiu o limite máximo, ela ansiou loucamente por alívio e satisfação, desejando senti-lo dentro de si. Já.

— Shane — conseguiu dizer, apesar do aperto em sua garganta. — Eu quero, eu preciso de você dentro de mim. Por favor...

Ele a sentou e se posicionou.— Eu também — sussurrou ele, passando os braços em torno de sua cintura, deitando-se na cama e

puxando-a para cima dele.Rachel montou sobre ele, olhando-o nos olhos, sentindo-se mergulhar num mar de verde com

manchas douradas.Ela desceu sobre ele e Shane soltou um gemido. Iluminada pela luz que entrava pela janela, ela pa-

recia uma deusa. Seus cabelos louros cor de mel, soltos, caídos sobre os seus ombros, seus seios fartos, e um sorriso malicioso dançando em seus lábios cheios de desejo... Ela o estava levando à loucura!

Algo para além do desejo fez seu coração acelerar, mas foi obscurecido por numa nova onda de luxúria que o tomou quando ela se moveu sobre ele novamente. Girando os quadris, ela o envolveu fundo dentro de si e suspirou de satisfação ao estabelecer um ritmo lento em conexão com ele.

Ele estendeu as mãos e tomou os seios dela em concha, brincando com os polegares sobre os bicos. O som suave do suspiro de prazer feminino o incendiou por dentro. Ele baixou as mãos e a agarrou pelos quadris, acelerando o ritmo dos movimentos.

Erguendo o corpo para possuí-la ainda mais profundamente, ele sentiu nela os primeiros tremores do clímax. Viu seus olhos embaçarem, viu sua cabeça cair para trás e a ouviu gritar seu nome. Shane quase enlouqueceu, entrando em erupção e se entregando, puxando-a para si enquanto caía em um doce esquecimento.

Rachel despertou algumas horas depois. Abriu os olhos e se flagrou olhando diretamente para o chão. Estava na ponta da cama. Shane não só havia ocupado todo o espaço como também roubado as cobertas.

Seria um sinal?Deslizando para fora da cama, ela correu até o armário e vestiu um robe. Amarrou a faixa na cintura e

olhou para Shane esparramado sobre o colchão. Dividida entre o deleite de ter sido bem amada e a preocupação com como voltaria a olhá-lo nos olhos, Rachel mordiscou o lábio inferior. As possibilidades e conseqüências tomaram sua mente de assalto.

Nenhuma delas muito agradável.Ela não era nenhuma idiota.Sabia muito bem que as horas que eles haviam passado juntos em sua cama não iam significar para

Shane o mesmo que haviam significado para ela.Algo mágico havia acontecido entre eles, no entanto, Shane não estava apaixonado por ela, disso

tinha plena certeza.O que ela não sabia era por que ele tinha... Chega!Rachel tentou desligar o cérebro, recusando-se a enveredar por aquele caminho tortuoso. Era tarde

demais para voltar atrás e evitar que aquela noite acontecesse, ainda que assim o quisesse. No entanto, para ser honesta, ela não quereria.

Dando as costas para Shane, ela se esgueirou para fora do quarto e caminhou na escuridão. Parou na sala apenas o suficiente para desligar o aparelho de som e seguiu para a cozinha.

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Ela se moveu pelo ambiente familiar sem precisar acender a luz. Pôs água na cafeteira, ligou o aparelho, colocou algumas colheres de café bem forte no filtro e ficou se deleitando com o aroma reconfortante e familiar.

Ao olhar pela janela, Rachel ficou quase que hipnotizada ao ver a neve lá fora. Seu corpo ainda estava dormente de satisfação e ainda assim... Ela não podia nem mesmo desfrutar das lembranças daquilo que ela e Shane haviam vivido. Sabia muito bem que, com a luz do dia, tudo entre eles mudaria. Para sempre.

O que ela não sabia era o que fazer a esse respeito.Esfregando os braços para afastar um arrepio, ela voltou para o quarto, abriu a porta silenciosamente

e ficou de pé, no umbral. Ele ainda estava dormindo, e ela se permitiu observá-lo mais longamente.Rachel se deu conta de que ter dormido com ele só havia intensificado ainda mais os seus senti-

mentos.Como poderia olhar outra vez para ele, agora que sabia como era estar em seus braços, e fingir que

não era ali que queria estar de novo? Como poderia encará-lo no trabalho sem se lembrar do seu beijo, do seu corpo enroscado ao dela?

— Você está me olhando — disse ele, em meio às sombras, assustando-a.— Eu não sabia que você estava acordado. Shane se ergueu na cama, apoiando-se sobre os cotovelos. A coberta escorregou, deixando entrever o

peito nu até a altura dos quadris. Rachel não podia ver os olhos na escuridão, mas sentiu a intensidade do seu olhar sobre ela como se ele a tivesse tocado com as próprias mãos. Estava mesmo encrencada.

— Eu senti o cheiro de café. Claro! Ele não havia desenvolvido um sexto sentido que lhe avisava quando ela estava por perto. Eles

não tinham esse tipo de ligação emocional! Rachel engoliu em seco.— Já está pronto, se você quiser um pouco.— Seria ótimo.Que beleza, pensou Rachel. Um pouquinho mais de educação e aquilo viraria uma verdadeira aula de

etiqueta. Mas não disse nada. De que adiantaria? Fez apenas um meneio de cabeça e saiu do quarto, sabendo que ele a seguiria.

Poucos minutos depois, Shane entrava na cozinha, agora completamente iluminada, vestido dos pés à cabeça, segurando seu paletó por sobre o ombro com o indicador. Ele pousou o paletó sobre a cadeira e pegou a xícara que ela lhe estendeu.

— Obrigado.— De nada.Tão dignos e corteses, depois de rolarmos nus na cama há apenas poucas horas!— Seu café está muito bom — elogiou ele, depois de um gole.Rachel mexeu na gola do robe, sentindo-se em desvantagem ao se dar conta de que ele estava de

terno e gravata e ela estava nua sob aquela roupa frágil. Para se manter ocupada, pegou a própria xícara e enroscou ambas as mãos em torno dela. Deu um gole e deixou que o calor da bebida a aquecesse um pouco antes de voltar a falar. Tentando manter um tom de voz casual, apesar da tensão que se concentrava no estômago, Rachel falou:

— Quando é que o pessoal da editora vai ficar sabendo da novidade?— Meu pai vai fazer o anúncio oficial na festa de fim de ano — disse ele, olhando para o café.— Mas a fofoca, com certeza, vai correr muito antes disso.— Provavelmente — concordou ele com um meio sorriso no rosto.— Você está louco para os seus irmãos descobrirem.— Claro. E você também deveria. Ela se apoiou no balcão.— Por quê?— Nós somos uma equipe, Rachel.— Nós não somos uma equipe, Shane. Eu trabalho para você.Ele olhou para ela.— Sim, mas...Rachel pousou o café sobre a mesa e enfiou as mãos nos bolsos do robe. Os dedos dos seus pés

descalços se agarraram ao chão.— O que aconteceu entre nós esta noite...— Foi um erro, eu sei — completou Shane, deixando-a boquiaberta.— Isso é que é honestidade.Ele pousou sua xícara, enfiou as mãos nos bolsos e começou a zanzar pela cozinha.— A culpa foi minha — admitiu ele com a voz rouca, tomada por uma emoção que ela não conseguia

identificar. — Isso não deveria ter acontecido. Droga, Rachel, você trabalha para mim...— Isso mesmo — disse ela com firmeza, tentando desesperadamente conter o tremor em sua voz. —

Eu trabalho para você, mas tomo as minhas próprias decisões, Shane. O que aconteceu ontem à noite foi uma escolha tão minha quanto sua.

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Ele bufou. — Está bem. Nós dois decidimos. Mas eu deveria ter me contido.Ela engasgou com uma risada amarga.— Oh, é claro. O homem grande e forte deveria ter encontrado uma maneira de salvar a frágil mulher

de si mesma. É isso?O rosto dele enrijeceu.— Droga, Rachel, não foi isso que eu quis dizer.— Eu não tenho tanta certeza.Para dizer a verdade, ela não tinha certeza de nada no momento. Tudo o que sabia era que o queria

fora de sua casa antes que fizesse uma cena ridícula e começasse a chorar na frente dele.Isso decididamente fecharia o episódio com chave de ouro. Aquela conversa estava sendo ainda mais

difícil do que ela havia imaginado. Ele olhou para o relógio em seu pulso e então para ela.— Talvez fosse melhor não tentarmos falar sobre isso agora.Ela meneou a cabeça rigidamente.— Acho que você tem razão.— É melhor eu ir embora.— Boa idéia.Vá logo! gritou Rachel mentalmente. Antes que as lágrimas comecem a rolar!Se sentia uma perfeita idiota. A culpa era toda sua.Afinal, ela o havia beijado. É claro que ele faria sexo com ela depois disso. Teria sido muito emba-

raçoso dispensá-la. Era muito mais gentil da parte dele dormir com a pobre assistente.Shane vestiu o paletó e ajeitou a gola e a lapela, parecendo preocupado.— Vejo você mais tarde no trabalho?Rachel se forçou a falar, tentado desfazer o nó em sua garganta.— Claro. Talvez eu me atrase um pouco porque...— Não se preocupe — interrompeu ele. — Tire a manhã de folga. Venha trabalhar depois do almoço.Ele não parecia estar mesmo com muita pressa de revê-la!— Está bem. Até mais tarde, então.Shane respondeu num meneio de cabeça e se deteve por um instante como se quisesse dizer mais

alguma coisa. Graças a Deus, porém, ele pensou melhor e foi embora em silêncio. Rachel fechou a porta e se viu sozinha. De novo.

Shane tentou se manter concentrado no trabalho, mas não foi nada fácil. Toda vez que passava pela mesa vazia de Rachel, se lembrava do motivo de ela não estar ali.

Sabia, porém, que, se ela estivesse presente, seria ainda mais difícil passar por lá. Como tinha sido idiota! Onde é que ele estava com a cabeça para fazer uma coisa daquelas?

Ele sabia muito bem. Em meio às incríveis sensações. Na doçura da pressão dos lábios de Rachel contra os seus. No desejo avassalador de tê-la em seus braços. Shane passou a mão pelos cabelos e se obrigou a parar de pensar na noite anterior, de reviver seus momentos com Rachel.

Aquilo, no entanto, se mostrou mais impossível do que parar de respirar.Inquieto, Shane se ergueu e foi olhar pela janela. A neve caía lá fora enquanto as pessoas corriam

pelas calçadas, tentando driblar o frio. Luzes de Natal piscavam por toda parte.Era o fim de um longo ano. Sua família estava mais unida do que jamais estivera, e ele havia con-

quistado a presidência da editora. Sabia que deveria estar comemorando, mas tinha a nítida sensação de que havia perdido alguma coisa importante.

— Crise, crise!Shane se virou e viu Jonathon Taylor à sua porta.— O que foi que houve?— Nada, só o fim do meu projeto para um 4 de julho bombástico — disse Jonathon, agitando as mãos

no ar de maneira dramática, antes de deixar os braços caírem ao longo do corpo.Certo, de volta aos negócios. Aquela era a chance de se concentrar em algo que não fosse Rachel,

Shane cruzou os braços e olhou para o homem que andava agitado de lá para cá.— Conte-me o que aconteceu.— A minha rainha, a estrela da noite, Leticia Baldwin...Shane sentou-se novamente. Letty Baldwin era a nova namoradinha da América. Uma jovem atriz, tão

bonita quanto talentosa.— O que foi? Ela não aceitou participar da edição especial?— Aceitou sim. O problema é que ela vai estar no sétimo mês de gravidez quando chegar a época de

fazer as fotos. Ela não vai poder usar o biquíni azul, vermelho e branco que eu planejei confeccionar para ela. Isso é um desastre, Shane, um verdadeiro desastre. Ela era a minha peça central. A minha estrela, minha...

— Rainha, eu já entendi.

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Jon se jogou em sua cadeira, arrasado. Shane riu.— Que bom que eu ainda consigo diverti-lo.— Desculpe-me, Jon — disse Shane. — É que eu estava precisando dessa sua pequena crise para me

ajudar a desanuviar um pouco.— Pelo menos um de nós está feliz, não é?— Jon — disse Shane, recostando-se na cadeira. — Letty Baldwin ainda vai querer participar do

projeto?— Com certeza. Seu agente a convenceu de que isso seria muito bom para a imagem dela.— Então faça agora.— O quê?— As fotos — disse Shane lenta e pacientemente. Jon pareceu relaxar quase que de imediato.— Nós poderíamos mesmo fazer isso, não é?— Se ela concordar, eu não vejo por que não.— Sandy vai ter um ataque — disse Jonathon, parecendo mesmo estar se divertindo com a idéia. —

Ela já está enlouquecida com as despesas.— Eu resolvo as coisas com ela — assegurou-lhe Shane, pensando que teria de ligar para a sua

gerente e amansá-la um pouco.— Brilhante — respondeu Jon, erguendo-se da cadeira e esfregando as mãos. — É por isso que você

está no comando, majestade.Shane só pôde desejar que todos os seus problemas fossem tão fáceis de resolver quanto aquele.

CAPÍTULO VIRachel levou uma xícara de café para o escritório de Shane e se preparou antes de cruzar o olhar com

o dele. Fizera hora até as três da tarde, quando finalmente havia ido trabalhar. Só para ficar ocupada a ponto de não ter de olhar para ele durante toda a tarde.

Até aquele momento.Todos os dias, ele tomava uma xícara de café às 16h30 enquanto avaliava os relatórios do dia e

checava os compromissos na agenda para o dia seguinte. Era a rotina. Uma rotina com a qual ela já estava mais do que familiarizada.

Rachel havia desenvolvido um gosto especial por aquela última meia hora de trabalho do dia. Aquilo lhe dava a oportunidade de relaxar com o homem que ela amava, coisa que, naquele dia, certamente não aconteceria.

Todo o seu corpo parecia tenso até o limite, e ligado numa corrente elétrica.Shane ergueu os olhos quando ela entrou no escritório e lhe lançou um sorriso casual.— Entre, Rachel.Ela pousou a xícara de café sobre a mesa. A tensão crepitava entre eles, quase se fazendo ouvir.— Como você está?— Eu estou bem, Shane — respondeu ela, mentindo descaradamente. Não daria o braço a torcer de

jeito nenhum. — E você?Ele estendeu a mão até a xícara, mas, em vez de erguê-la, tamborilou os longos dedos sobre a alça. O

olhar de Rachel se fixou naquele movimento fazendo todo o seu corpo despertar instantaneamente. A lembrança da sensação do toque daqueles dedos em sua pele...

Pelo jeito, aquilo ia ser um pouco mais difícil do que ela imaginara.— Eu estou preocupado — disse ele. Ela, enfim, olhou para ele.— Com o quê?— Conosco, Rachel. Com a nossa relação de trabalho.Ela ficou profundamente embaraçada e só pôde torcer para que seu rosto não estivesse vermelho.

Aquilo não era justo. Ela havia sonhado com Shane por mais de um ano, pensando em como seria passar uma noite com ele, e agora seus sonhos tinham se transformado em pesadelo.

Tudo o que tinha agora era o orgulho, e se agarraria a ele com unhas e dentes.— Nada vai mudar na nossa relação profissional, Shane — disse ela, pedindo aos céus que tivesse

soado um pouco mais segura do que realmente se sentia.— É mesmo? — Ele se levantou, puxou as pontas de seu paletó e enfiou as mãos nos bolsos. — Quer

dizer então que tudo está absolutamente normal?— Isso mesmo.— Então por que foi que você não pegou no meu pé nenhuma vez hoje?— Como assim?— Você normalmente teria entrado aqui carregando aquele seu indefectível bloco de anotações —

pontuou ele. — Teria me lido uma lista interminável de reuniões a que eu deveria comparecer e me

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chamado a atenção para aquelas a que eu não poderia faltar de maneira alguma. Em qualquer outro dia, você estaria aqui me dizendo para quem ligar, quando ligar e o que dizer.

Rachel ficou tensa e um pouco irritada também, ao ver que ele a conhecia tão bem. Bem, eles eram uma equipe, afinal de contas. Uma máquina muito bem azeitada. Shane não tinha culpa de ela ter se apaixonado por ele e estragado tudo.

— Sinto muito. Eu não tinha idéia de que era assim tão mandona.Ele tirou uma das mãos do bolso e fez um gesto para ela.— Mentira. É claro que você tinha. — Ele deu a volta na mesa e olhou diretamente para ela, mas se

deteve a alguns passos, antes de chegar perto demais, como se estivesse querendo manter uma distância segura entre eles para poder se conter.

Você está sonhando, menina, disse ela a si mesma. Era mais provável que ele estivesse temendo que ela se lançasse novamente em seus braços.

E o pior era que ele tinha razão de sobra para isso.— Mas é por isso que nós sempre trabalhamos tão bem juntos — falou Shane, enquanto ela tentava

desligar o cérebro e abrir os ouvidos. — Você me mantém focado no trabalho e eu lhe dou alguém com quem implicar.

— Muito interessante! — resmungou ela.— E agora tudo isso acabou.— Talvez seja melhor assim, Shane.— De jeito nenhum — disse ele, num tom grave. — Como é que eu posso trabalhar direito com toda

essa tensão entre nós dois?Muito bem. Ela havia feito de tudo para ser discreta, distante e fingir que aquela noite jamais havia

acontecido. Mas agora que Shane havia aberto a tampa, por que ela deveria se esforçar para guardar todos os demônios novamente na caixa de Pandora?

— Você não é o único que está incomodado com essa situação. Eu lhe peço desculpas se estou sendo um pouco ríspida demais, mas é que não é todo dia que eu tenho que encarar o meu chefe depois de ele ter me visto nua.

Shane se contorceu.— Eu poderia dizer o mesmo.— Ora — disse ela — você há de convir que a minha situação é um pouco mais difícil que a sua.— E por que, posso saber? Ela riu rispidamente.— Shane, isso é um verdadeiro clichê! Um executivo se divertindo com a sua assistente.— Divertindo?— Não se atreva a rir de mim — disparou ela. — Diversão é uma palavra perfeita para designar o que

aconteceu entre nós.— Você está certa — disse ele, aproximando-se um pouco mais. — Mas não me confunda com esses

caras nojentos que costumam se aproveitar de suas secretárias.— Assistente.— Está bem. Assistente.Ele passou a mão pelos cabelos e Rachel se lembrou de como eles eram macios e grossos. Ela engoliu

em seco.— Eu creio — recomeçou ele, apesar da voz que mal saía — que o que aconteceu entre nós jamais

deveria ter acontecido.— Eu sei — respondeu Rachel. — Você deixou isso bem claro esta manhã ao falar de erro.— E não foi isso mesmo?Ela cerrou os punhos. Erro? Sem dúvida alguma, mas ela não estava arrependida de nada, embora

soubesse que deveria.Como poderia se arrepender depois de tê-lo desejado por tanto tempo? Ainda que isso significasse ter

de lidar com todas aquelas terríveis repercussões.Olhando-o nos olhos e tentando ler a expressão contida neles, Rachel disse:— É claro que foi.Ela teve a impressão de ver um quê de decepção em seus olhos. Fosse o que fosse, desapareceu tão

rápido quanto surgiu.Ele fez um meneio de cabeça e respondeu com um sussurro.— Pelo menos nós concordamos em alguma coisa.— Pois é.Um pequeno sorriso curvou os lábios dele e então desapareceu.— A questão é: será que nós poderemos continuar trabalhando juntos? Será que seremos capazes de

esquecer o que aconteceu e manter as coisas como eram antes?— Eu não sei — disse ela, sinceramente, depois de uma longa pausa. — Mas eu gostaria de acreditar

que sim.

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Shane foi tomado por uma sensação de pânico ao olhar para ela. Chamara o que acontecera entre eles de erro, mas não se arrependia de nada. Como poderia? Ele nunca havia sentido nada tão intenso antes. Não tinha conseguido pensar em outra coisa a não ser nela por horas. E agora ela estava ali, na sua frente, e ele estava precisando usar cada milímetro de sua força de vontade para não agarrá-la e beijá-la até que nenhum deles conseguisse mais raciocinar.

Mas isso não resolveria nada. Só deixaria aquela situação ainda mais desconfortável.— Rachel, eu não quero perder o que nós temos; a nossa amizade.— Acho que isso já está perdido, Shane.— Eu não aceito isso.Os olhos verdes dela se encheram de lágrimas e ele teve que conter a respiração, rezando para que

elas não rolassem. Sabia que estaria completamente perdido se ela começasse a chorar. Não havia nada que fizesse um homem fraquejar mais rápido que as lágrimas de uma mulher.

Como se tivesse ouvido os seus pensamentos, ela piscou repetidas vezes e conseguiu se controlar.— Você tem que aceitar, Shane — disse ela, com um lento meneio de cabeça. — Se nós quisermos

salvar a nossa relação profissional, teremos de encarar os fatos. Nós não somos amigos. Não somos amantes. Para falar a verdade, eu já nem tenho mais certeza do que é que nós somos.

Shane estava irritado demais para ir para casa sozinho depois do trabalho, mas não estava com a menor vontade de ligar para um amigo. A última conversa com Rachel passava diversas vezes em sua cabeça, e ele não conseguia se conformar. As coisas haviam mudado entre eles e Shane não tinha a menor idéia do que fazer a esse respeito.

Já fazia muito tempo que não deixava a sua parte de baixo comandar a de cima.Se não tivesse cedido aos próprios desejos na noite anterior, tudo estaria indo às mil maravilhas.

Conquistara a presidência da editora, a The Buzz estava ficando mais forte a cada dia e finalmente havia se encontrado profissionalmente e estava fazendo exatamente aquilo de que gostava.

Ao sair da editora, Shane foi recebido pelo vento frio e rigoroso de inverno. Encolhendo-se dentro do casaco, ele olhou ao redor. As calçadas estavam lotadas como de costume. Táxis a toda velocidade, ônibus cheios, luzes piscando.

Ele amava aquele lugar. O barulho, a pressa, o movimento. Decidiu se deixar contagiar pela multidão e apressar o passo.

Sorrindo para si mesmo, ele percebeu que estava no estado de espírito perfeito para caminhar por Manhattan.

Shane não sabia ao certo para onde estava indo, só tinha certeza de que não queria ir para casa. Ha-via um punhado de garotas para quem ele poderia ligar e que, com certeza, ficariam bem felizes em receber um telefonema seu, mas a simples idéia o deixou mais gelado do que a neve que caía sobre a cidade. Com as mãos enfiadas nos bolsos, ele deixou o seu olhar vagar enquanto seus pensamentos corriam soltos.

Shane avistou o Hanningan's, um local um tanto quanto "estiloso" demais para ser chamado de pub, mas simples demais para ser chamado de clube.

Ele entrou e se sentiu imediatamente acolhido pelo ar quente, o som das gargalhadas e a boa música irlandesa.

Pendurou o casaco num dos ganchos e caminhou em direção ao aglomerado de mesas.O chão de madeira brilhava. Uma chama crepitava na lareira de pedra e, por trás do bar, um espelho

gigantesco refletia os rostos dos fregueses.Shane foi até o balcão e pediu um chope.O barman caprichou no colarinho, como ele gostava. Shane deu um gole e olhou ao redor. Seu olhar

vagou por alguns rostos conhecidos, até encontrar alguém bem mais próximo, lá no fundo.Ele foi até lá e tamborilou sobre a mesa, esperando que seu sobrinho olhasse para ele.Gannon Elliot era filho de Michael, o irmão mais velho de Shane. Era um homem alto, de cabelos

negros, olhos verdes bem agudos e que trazia um largo sorriso estampado no rosto havia cerca de um ano. Ele tinha 33 anos, apenas cinco a menos do que Shane. Os dois haviam crescido como irmãos.

— Eu não esperava encontrá-lo aqui, Gannon. Ele deu de ombros.— Erika queria fazer algumas compras de Natal. O Hanningan's me pareceu bem mais interessante.Shane se recostou na cadeira de couro vermelho.— Eu ainda nem comecei a comprar os meus presentes.— Quer uma sugestão? — disse Gannon, erguendo o seu copo. — Case-se. As mulheres adoram fazer

compras.Shane sorriu. Um ano antes, Gannon ainda estaria no trabalho àquela hora. Ele se parecia mais com

Patrick nesse aspecto do que qualquer um de seus próprios filhos.Até aparecer Erika.

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— E você? Por que é que está aqui, bebendo comigo? Onde está aquela garota deslumbrante. Como é mesmo o nome dela?

Shane fez uma careta, pensando na mulher com quem ele deveria ter jantado na noite anterior. Ele ainda não conseguia se lembrar do maldito nome. Se tivesse se encontrado com ela, como havia planejado, nada do que vivera com Rachel teria acontecido e ele não estaria enrascado como agora.

— Eu também não me lembro. Mas não importa, eu não estava no clima para isso.Gannon teve de rir.— Você não estava no clima para sair com uma mulher daquelas? Está se sentindo bem?— Muito engraçado — respondeu Shane, tomando um gole de sua bebida.— Eu não estava brincando — disse Gannon avaliando-o melhor e olhando-o nos olhos. — Aconteceu

alguma coisa? Você deveria estar feliz da vida com a conquista da presidência da editora.Shane se surpreendeu.— Quem foi que contou a você?— Ora, Shane! Quem é que ainda não sabe disso? Era previsível. Você mereceu. Todo mundo já estava

esperando por isso.Shane ficou orgulhoso, mas isso não ajudou em nada a desfazer o aperto que ele sentia no peito._ Obrigado. Foi um trabalho de equipe. Todos nós trabalhamos muito para chegar lá.— O que nos faz voltar à vaca fria. Você deveria estar mais feliz do que nunca. O que foi que

aconteceu.— É uma longa história...— E eu por acaso pareço ocupado? Shane sorriu.— Está bem. — Ele tomou mais um gole e então continuou. — Mas você vai me dar notícias da sua

mãe antes de eu começar a me lamuriar.A mãe de Gannon, cunhada de Shane, havia lutado contra um câncer de mama durante todo o ano.

Agora, após uma dupla mastectomia e um período difícil de quimioterapia, a família estava esperançosa, confiante em sua vitória contra a doença.

Gannon respirou fundo e sorriu.— Ela está bem. Muito bem, na verdade. — Ele fez um gesto para a garçonete com o copo vazio. —

Papai está com ela o tempo todo. É surpreendente. Parece que eles redescobriram um ao outro. A felicidade deles é visível, mesmo com a ameaça do câncer pairando no ar.

— Eu fico muito feliz em saber disso.— Eu também. E então?Shane não estava se sentindo muito à vontade para tocar naquele assunto com o sobrinho, mas com

quem mais ele poderia se abrir? Gannon e a mulher, Erika, haviam iniciado o relacionamento quando ela ainda trabalhava para ele.

— Eu queria lhe perguntar uma coisa antes. Quando você e Erika começaram a...— A ter um caso?— Isso. Você achou muito difícil continuar trabalhando com ela?Gannon coçou o rosto.— Bem digamos que não foi exatamente simples. Mas nós dois sabíamos o que estávamos fazendo. — Quer dizer que você não achou estranho continuar trabalhando com ela depois de vocês terem feito

sexo?— Se você está querendo saber se eu conseguia evitar imaginá-la nua, a resposta é não. Mas nós

demos um jeito, pelo menos por um tempo.Shane sabia do que ele estava falando. Gannon era um dos homens mais reservados que ele

conhecia. A idéia de ser objeto de fofoca no escritório era terrível para ele. Assim que os boatos haviam começado, ele rompera o relacionamento. Erika pedira demissão logo em seguida. Não fora nada fácil para ele convencê-la a voltar para ajudar na luta pela presidência da editora.

Fora um período muito difícil, mas Gannon acabara reconhecendo o significado dela em sua vida. Eles agora estavam casados, e a menos de uma semana de se tornarem pais pela primeira vez.

— Como ela está?— Ela está ótima. Eu é que pulo cada vez que ela tem qualquer reação diferente. O médico disse que,

se ela não der à luz até a semana que vem, ele vai induzir o parto. Graças a Deus.— Isso é muito bom, muito bom. — Shane respirou fundo. — Olha, eu acho que fiz uma coisa muito

estúpida.— Rachel?— Isso foi um palpite certeiro ou a fofoca já se espalhou por aí?— Ninguém comentou nada. Fin é que sempre me disse que Rachel seria perfeita para você... "se você

deixasse de ser tão idiota e conseguisse finalmente enxergar a mulher que tinha ao seu lado".— Muito obrigado pela parte que me toca, Gannon — respondeu Shane. — É reconfortante se sentir

tão amado pelos seus entes queridos.

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— Nós amamos você, Shane, ainda que você seja um idiota.— Já é um consolo.— Eu imagino que o clima entre vocês não esteja muito fácil depois que... Bem, que as coisas

mudaram.— Não mesmo. Ele suspirou e olhou para o teto. — Meu Deus, eu nem sei mais o que dizer a ela, Gannon. Não paro de pensar na noite passada e... —

Ele se deteve ao perceber que o sobrinho já havia entendido perfeitamente o que ele queria dizer.— Não siga o meu exemplo, Shane. Eu quase perdi a Erika. Com certeza, não sou a melhor pessoa

para lhe dar conselhos.Shane tomou um bom gole de chope e então pousou o copo novamente.— É, mas você amava a Erika, mesmo quando estava agindo como um idiota.— E você não ama a Rachel? Amor?Ele nunca havia pensado nisso seriamente. Estava sempre mais preocupado em se divertir. A verdade,

porém, é que ele sabia que seu envolvimento com Rachel era diferente. Ela não era apenas mais uma na longa lista de mulheres que haviam passado em sua vida.

Mas amor?Shane suspirou e fez um sinal para a garçonete.— Eu não tenho a menor idéia.

CAPÍTULO VIIUm pote de sorvete não substituía nem de longe as delícias de uma noite de sexo com Shane, mas era

tudo de que ela poderia dispor no momento.Encolhida no sofá, com a TV ligada num filme antigo em preto e branco e o volume abaixado, ela se

atracou com o sorvete. Deixou que as colheradas deslizassem pela garganta apesar do nó que sentia.— Sua idiota! — resmungou ela. Se tivesse um mínimo de atitude, estaria na rua fazendo compras de Natal, levando a vida adiante,

tratando de esquecer Shane.Olhou ao redor, suspirando. Ainda não havia nem sinal de decoração de Natal na sala. Justo ela que

adorava aquela época do ano e era louca por enfeites.Ao ouvir o telefone tocar, ela correu para atendê-lo, louca para ouvir outra voz que não a... — Minha querida — falou a sua mãe, num tom de voz que podia ser ouvido a quilometros de

distância. — Que bom que eu a encontrei em casa!— Oi, mãe — disse ela, instantaneamente engolindo outra colherada. Amava a mãe, mas sabia que ela

recomeçaria a mesma ladainha de todos os natais. "Você não vai ficar mais jovem daqui para frente, minha filha." Ela não parava de compará-la à sua irmã mais nova, já casada e à espera de gêmeos.

— Eu acompanhei a Rita na ultra-sonografia esta manhã. Foi maravilhoso, Rachel.Ela revirou os olhos.— Jack me deu um abraço muito forte e me chamou de vovó ali mesmo, no consultório do médico.

Não é lindo?— É sim, mamãe.Jack também, é claro, era o genro ideal.— Eu chorei muito. Você sabe como eu sou emotiva.A colher de Rachel atingiu o fundo do pote. Droga!— Eu sei, mamãe.— Rita está pensando em dar o meu nome a um dos bebês, se forem meninas.Claro. Era disso mesmo que o mundo estava precisando — outra Celeste.— Muito legal, mãe — disse Rachel, prendendo o fone entre o ombro e o pescoço e dando uma olhada

na TV.— E você, querida? Alguma novidade? Rachel ficou paralisada, feliz, por um momento pelo fato de sua mãe estar em Connecticut, caso

contrário, ela certamente saberia o que estava acontecendo com ela.— Nada de novo, mamãe. Tudo igual...— Sei... Eu já lhe disse que Will, o neto de Margie, virá à cidade para o Natal este ano?Oh, meu Deus! Rachel sabia muito bem o que viria logo a seguir.— É mesmo?— É sim. Ele é médico, você sabia?— Que bacana...Rachel levou o pote de sorvete até a cozinha, jogou-o no lixo e começou a procurar por biscoitos, de

preferência de chocolate.

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Depois de encontrar o que procurava, se apoiou no balcão, deu uma mordida e fechou os olhos. Só teria que agüentar mais um pouquinho. As ligações interurbanas estavam muito caras nos últimos tempos.

— De qualquer modo, querida... — Rachel ouviu a mãe murmurar. — Oh, Frank, vá ver TV. Rachel sabe que eu só estou tentando ajudar. Seu pai está mandando um beijo, querida.

Rachel sorriu. Seu pai era o máximo. Sempre tentando recolocar a esposa nos trilhos. — Mande outro para ele. — Ela mandou outro para você. O quê? Está bem, eu vou dizer a ela para trancar bem as portas. Bem,

querida, nós vamos dar uma pequena festa aqui no fim de semana antes do Natal. Nada de especial, só alguns poucos amigos. Pensei em chamar Will também. Não seria ótimo? Eu tenho certeza de que vocês dois vão se dar muito bem.

Rachel suspirou.— Onde é que ele mora?— Em Phoenix, eu acho.Ela morava em Manhattan e trabalhava numa revista. Will era médico e morava em Phoenix.

Realmente, não poderia haver duas pessoas mais parecidas...— Mamãe...— Ah, não, você não vai dar pra trás agora. É Natal, Rachel, época de ficar com a família e com os

amigos. — Está bem, mamãe.— Esta é a minha garota. Você gostaria que eu lhe enviasse a ultra da sua irmã por e-mail?— Claro — concordou ela.— Eu vou fazer isso agora mesmo. Mas antes tenho que ligar para a Rita para saber se ela está bem.— Mas você acabou de vê-la esta manhã!— Grávidas precisam de muita atenção, minha filha.— Tudo bem. Mande um beijo para ela por mim.— Eu farei isso. Boa noite, minha filha. Nós amamos você.Rachel ainda demorou algum tempo para colocar o fone no gancho. Amava a mãe, mas sempre ficava

um pouco deprimida depois daqueles telefonemas. Às vésperas do Natal, sua única expectativa de romance era um encontro arranjado pela própria mãe. Ela voltou para o sofá e aumentou o volume da TV.

E daí se derramasse algumas lágrimas? Ninguém estava vendo mesmo.

Lá estava Shane, na porta do apartamento de Rachel, perguntando-se, pela milésima vez, o que, afinal, estava fazendo ali. Deveria ter ido para casa depois de ter se despedido de Gannon, mas, em vez disso, flagrara-se indo atrás de Rachel.

0 que isso significava?Que ele ainda estava incomodado com a maneira como as coisas haviam ficado no escritório? Que ele

ainda estava se sentindo um chefe nojento por ter feito sexo com a secretária? Ou que ele simplesmente queria vê-la outra vez? Sim, para todas as perguntas acima.

Aquela, porém, não era uma boa idéia, e Shane sabia disso. Mesmo assim, bateu à porta. — Shane? O que é que você está fazendo aqui? Ele olhou diretamente para o olho mágico de onde sabia que ela o estava observando.— Eu queria falar com você, Rachel.— Sobre o quê?Shane não ouviu nenhum barulho de chave. Ela não parecia disposta a lhe abrir a porta.— Eu posso entrar?— Por quê?Ele bufou.— Porque eu não quero ter este tipo de conversa com você aqui, no meio do corredor.— Está bem.Ele foi logo entrando assim que Rachel abriu a porta, sem esperar por convites.— O que você quer aqui, Shane?Ele deu uma olhada rápida na sala e, então, olhou para ela novamente. Seu cabelo louro estava solto,

caído sobre os ombros. Ela estava usando uma camiseta regata branca e uma calça de moletom verde clara um pouco abaixo dos quadris, exibindo sua barriga lisa e rígida. Ela estava descalça, e Shane notou as unhas dos pés pintadas de um vermelho sexy.

Uma onda de desejo começou a se apoderar de seu corpo.Rachel ainda estava de pé, na porta, com a mão na maçaneta. Ela o estava olhando com tanta es-

tranheza que Shane quase se arrependeu de ter ido. Quase.— Está com medo de fechar a porta? Preocupada com o que pode acontecer?Rachel bateu a porta.— De jeito nenhum.

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Dando-lhe as costas, ela caminhou até o sofá. Sentou numa ponta e puxou os joelhos até a altura do peito, focando a atenção na TV e ignorando-o por completo.

Que tipo de pervertido era ele para se divertir com uma situação como aquela?Ele também se sentou no sofá, mas ficou olhando para ela em vez de olhar para a TV.— Eu achei que a gente podia conversar.— Ah! — falou ela, sem tirar os olhos do aparelho. — Já que tudo correu tão bem hoje à tarde, não é?— Justamente pelo contrário.Rachel suspirou e disse:— Shane, não há mais nada a ser dito.— Nós não podemos deixar as coisas simplesmente como estão, Rachel.Ela finalmente desviou o olhar para ele. Os olhos verdes e suaves tiveram um efeito devastador sobre

ele.— Eu sei — concordou ela em voz baixa. — Pensei nisso a noite inteira.Shane ficou tenso. Alguma coisa, lá no fundo, lhe dizia que ele não ia gostar nem um pouco do que

viria a seguir. O que quer que fosse, a julgar pela expressão no rosto de Rachel, não era nada agradável. Mas ele nunca tinha sido covarde e não era agora que ele ia recuar diante de um desafio.

— E o que foi que você concluiu?— Que só existe uma coisa a fazer.— Ah, sim? E qual é? — perguntou ele, mantendo os olhos fixos nos dela e vendo o arrependimento

que eles deixavam transparecer. Ele tentou se preparar para o pior. No entanto, o que Rachel lhe disse o atingiu em cheio do mesmo jeito.

— Eu estou de aviso prévio.

CAPÍTULO VIII — O quê?Rachel ficou mobilizada a ver o quanto ele ficou chocado com o seu pedido de demissão, mas aquilo já

não faria mais nenhuma diferença. Ela pensara muito a respeito da situação nas últimas horas antes de tomar a sua decisão. Estava com o coração partido, mas sabia que não havia nenhuma outra opção. Se continuasse na The Buzz, trabalhando para Shane, nunca seria capaz de levar sua vida adiante. Permaneceria eternamente apaixonada e nenhum homem poderia se comparar a ele. Ela acabaria sozinha, assistindo a filmes antigos de Natal na TV, no escuro da sala, sozinha.

Por mais que fosse doloroso, ela precisava tomar aquela decisão.— O que é que você está dizendo? — perguntou Shane, elevando o tom de voz e erguendo-se

automaticamente. — Você não pode pedir demissão.— Não só posso como já pedi — disse ela, olhando-o diretamente nos olhos, esperando que ele não

enxergasse toda a tristeza contida neles.— Foi essa a solução que você encontrou? Sair correndo? Fugir?— Eu não estou correndo, estou sentada bem aqui.— Olha, se foi uma brincadeira, não teve a menor graça.Sentindo-se acuada, Rachel fez menção de ir até a cozinha, mas Shane a deteve, segurando-a pelo

braço. Ela ficou olhando para a mão dele durante um bom tempo, antes de conseguir erguer o olhar.Shane a soltou, enfiou as mãos nos bolsos e resmungou.— Você não pode me deixar, Rachel. Não pod...— Você nem consegue falar sobre isso — disse ela, balançando a cabeça. — Porque nós fizemos sexo,

Shane, e eu acho que essa é uma bela razão, sim.— Pois eu não — falou ele, passando a mão nos cabelos. — Nós somos uma equipe, trabalhamos

muito bem juntos. Você realmente quer jogar quatro anos maravilhosos fora por causa de uma única noite?

Não. Ela queria bem mais do que uma noite, mas não podia dizer isso a ele, assim como não podia, tampouco, confessar que jamais conseguiria fingir ser indiferente a ele agora que sabia como era estar em seus braços. Como ela poderia continuar agendando os encontros dele com outras mulheres? Como? Com o coração partido?

— Não — disse ela com firmeza. — Você não precisa de mim, Shane. Você venceu e está no topo agora.

— O que significa que eu ainda vou precisar de você. — Não. Você só estava acostumado a me ver por perto, mas vai conseguir sobreviver sem mim.O que Rachel não sabia era se ela ia sobreviver sem ele, mas essa era outra história.— Não faça isso, Rachel.— Eu tenho que fazer.— Eu não vou aceitar o seu pedido de demissão. Ela sorriu. Shane Elliot sempre tivera um ego do tamanho do mundo.— Isso não vai me deter.

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— E o que a deteria então?— Nada.Ele deu mais um passo na direção dela. Ficou tão perto que ela pôde sentir o cheiro de sua colônia.Rachel fechou os olhos. Sabia que, se continuasse olhando para o verde dos olhos dele, estaria perdi-

da. Se avistasse a boca de Shane a apenas alguns centímetros da sua, não seria capaz de resistir à tentação de sentir o seu sabor outra vez.

Ele pousou as mãos sobre os ombros dela e Rachel sentiu o calor daquele toque percorrer todo o seu corpo.

— Eu não vou desistir de fazê-la mudar de idéia. — avisou ele, com uma voz profunda e rouca.— Eu sei disso.Shane a apertou com mais força.— Olhe para mim, Rachel.— Eu acho melhor não — admitiu ela. Ele suspirou.— Eu vim aqui esta noite para... Eu não sei ao certo. Acho que queria me desculpar pela noite

passada.Rachel se contraiu.Ele passou a mão pelos cabelos dela.— Mas, agora que eu estou aqui com você novamente, pedir desculpas é a última coisa que me passa

pela cabeça.— Shane...— Abra os olhos, Rachel.Ela o fez e se sentiu instantaneamente tomada pela emoção que viu estampada nos olhos dele. Sentiu

um frio no estômago enquanto o coração acelerava num galope.— Shane, essa não é uma boa idéia.— Provavelmente não — disse ele, baixando a cabeça. Ela passou a língua pelos lábios. Podia ouvir seu coração batendo, mas sabia que, se permitisse que

ele a beijasse, estaria se metendo em mais confusão. Ficar outra vez com ele só tornaria a inevitável separação ainda mais difícil.

Mesmo assim, ela queria mais do que apenas uma noite, e essa era a sua chance de fazer com que ele a seduzisse. A noite anterior havia sido idéia sua, mas naquele momeno fora Shane quem tomara a iniciativa, mostrando-lhe o quanto a queria.

Se ela não podia ter o amor dele, pelo menos teria seu desejo aquela noite.Shane a beijou e Rachel se apoiou nele, entregando-se à gloriosa sensação de sentir os lábios dele no-

vamente sobre os seus, as mãos novamente deslizando pelas suas costas, avançando por baixo da blusa. Ele tomou as nádegas dela com as mãos em concha e a puxou para mais perto dele.

Tão perto e tão apertado que ela pôde sentir a excitação, firme, poderosa, pressionando seu abdômen. Ondas de desejo a atravessavam como os círculos concêntricos em um lago depois de atirada uma pedra. As sensações foram se avolumando e crescendo dentro dela.

Ela gemeu e roçou os quadris contra o corpo dele. Em resposta, ele a segurou e puxou com mais força. Sua língua provocava a dela numa dança selvagem e frenética.

Rachel cravou os dedos nos ombros dele. Os joelhos fraquejaram e o mundo pareceu sair um pouco do eixo.

Arfando, Shane interrompeu o beijo e a olhou nos olhos, apertando suas nádegas.— Sim? — perguntou ele, com a voz rouca de desejo.— Sim — disse ela, saltando em seu colo e enroscando as pernas em torno de seus quadris.Shane a carregou imediatamente para o quarto.Um cantinho do seu cérebro mal podia acreditar que ela estava fazendo aquilo novamente.

Acrescentar um erro ao anterior decididamente não era a melhor coisa a fazer, mas já que pediria demissão mesmo, que mal haveria em aproveitar o tempo de que ainda dispunha com o homem que amava?

Estendendo a mão por entre seu corpo e o de Shane, ela foi até o zíper da calça e o abriu. Ele arfou como um homem à beira da morte, tentando dar o último suspiro. Os dedos de Rachel se enroscaram em torno de toda a sua firme extensão. Shane enterrou o rosto entre o ombro e o pescoço de Rachel. Dentes e língua brincaram na carne como se sua vida dependesse de voltar a sentir o sabor dela.

Rachel viu estrelas explodirem por trás dos olhos. Cada partícula do corpo se acendeu, inflando-a de desejo. E ela queria mais.

Agora.— Eu não posso mais esperar — murmurou Shane, detendo-se à frente da porta do quarto de Rachel.

Ele a colocou de pé, tirou as roupas dela, jogou-as de lado e então ergueu-a de novo.— Nada de esperas — concordou ela, enroscando as pernas desnudas em torno da cintura de Shane

mais uma vez, pendurando-se nele.

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Ele apoiou as costas de Rachel na parede, e a possuiu com força quando ela se ergueu levemente em seus braços. Rachel gemeu ao senti-lo dentro de si e ajustou o corpo para melhor acomodá-lo, enterrando-o ainda mais fundo.

Apoiando uma de suas mãos na parede e a outra no ombro dele, tentou ajudá-lo, mas Shane não precisava de ajuda. Ele sustentou o peso dela e a levantou com facilidade, erguendo-a e baixando-a repetidas vezes, até ambos ficarem totalmente tomados por uma necessidade incendiária.

Ele se afastou dela diversas vezes, apenas para retornar, cada vez mais fundo e mais forte. A res-piração estava ofegante, os olhos nublados. O coração de Rachel batia tão forte que acabou se trans-formando num som ensurdecedor em seus próprios ouvidos.

Shane não conseguia mais falar, nem raciocinar. Tudo o que ele conseguia fazer era sentir. E o que sentia era ainda mais intenso do que aquilo que experimentara na noite anterior.

Ele havia passado a maior parte do dia tentando se convencer de que a noite com Rachel não havia sido tão incrível afinal. Mas então soube que aquilo não era verdade.

Rachel o conduzia a lugares que ele jamais havia imaginado existir. Fazia-o sentir coisas das quais ele não se julgava capaz até ali. Fazia-o querer cada vez mais.

O corpo dela o envolveu, sua boca se abriu num suspiro e seus olhos se fecharam ao primeiro espasmo de prazer. Ele a observou ser tomada pelo prazer até onde pôde se conter, e só então se per-mitiu segui-la.

Rachel desabou nos braços de Shane, satisfeita e exausta, e ele ficou grato pela parede atrás das costas dela. Não fosse por ela e ambos teriam desmoronado no chão.

— Você está bem? — quis saber ele. Ela riu baixinho.— Eu lhe digo quando voltar a sentir as pernas. Shane sorriu. — Eu ouvi isso.— Shane...Ele deixou a cabeça cair sobre o ombro dela.— Não vamos recomeçar com aquela história de erro, está bem?— Por que não? — perguntou ela em voz baixa. — Parece-me bastante apropriado.Ele ergueu a cabeça e a olhou fundo nos olhos. Como não havia prestado atenção no belo tom de

verde dos olhos dela antes da noite passada? E pensar que não conseguia mais desviar o seu olhar deles...— Eu não vim aqui essa noite para isso.— Eu sei — respondeu ela, mudando levemente de posição.Aquilo foi o suficiente para reacender o desejo de Shane. Ele arfou e a segurou com mais força.— Mas eu não estou arrependido.Ela apoiou o corpo na parede e respirou fundo ao sentir Shane se enrijecer outra vez, dentro dela,

ateando fogo ao seu corpo.— Eu também não — admitiu Rachel.— Fico feliz em ouvir isso — disse ele, afastando-se da parede e entrando no quarto — porque eu acho

que nós ainda não acabamos.— Acho que você tem razão.Shane foi direto para a cama. Inclinou-se um pouco para puxar as cobertas e se jogou sobre o colchão,

ainda vestido e profundamente enterrado dentro dela.Rachel riu e ele pôde perceber uma minúscula covinha em sua bochecha direita que também nunca

havia notado antes.— Você não acha que seria uma boa idéia tirar a roupa primeiro?Ela arfou quando Shane balançou os quadris contra os dela.— Depois — murmurou ele, rolando na cama e se deitando de costas, puxando-a para cima dele, de

modo que pudesse vê-la. — Eu não vou parar agora.— Boa idéia.Sorrindo, ela puxou a camiseta dele e a tirou, jogando-a na escuridão do pequeno quarto. Depois,

olhando fixamente para ele, Rachel cobriu os seios com as mãos dele e roçou os quadris, numa fricção que lhe tirou o fôlego.

Montando nele, ela o levou para lugares até então desconhecidos, mas que ele estava ansioso por visitar. A cama era macia e cheirava a lavanda. A mulher em cima dele era deslumbrante e cheirava a sabonete, shampoo e... mulher.

Como que possuído, ele guiou os quadris de Rachel, acelerando o ritmo alucinadamente. Era a única coisa no mundo que ele conseguia enxergar e sentir. A excitação finalmente explodiu entre eles, sacudindo os seus corpos e os seus corações.

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Duas horas depois, ambos estavam nus e exaustos, estendidos sobre um mar de lençóis brancos, iluminados apenas pela luz das estrelas que atravessava a janela. Rachel olhou para o teto e ficou ouvindo a respiração acelerada de Shane.

Seu próprio coração batia enlouquecido, e seu corpo ainda estava eletrizado quando ela caiu em si e percebeu a enorme bobagem que havia feito. Mas como poderia tê-lo rechaçado se tudo o que quisera desde a noite anterior fora tê-lo de novo nos braços?

Apesar da sensação deliciosa que envolvia seu corpo, o coração doía. Ao ceder ao impulso de ficar com ele, Rachel apenas se expusera ainda mais à dor. Aquilo tinha que acabar.

— Você está pensando — murmurou ele.— E você não? — contra-atacou ela.— Não — respondeu ele, virando o rosto sobre o travesseiro para olhar para ela. Ele passou a mão

sobre a barriga de Rachel, fazendo-a estremecer. — Eu não quero pensar quando estou com você nem que você pense também.

Ela suspirou.— Foi por não pensar que nós entramos nessa outra vez.— Exatamente.Com os olhos fechados, ela desfrutou por mais um momento do toque dele. Oh, como queria que ele a

tomasse novamente, como queria torná-lo ela mesma para si! E foi por querer tanto assim que ela rolou para o lado e se levantou da cama, fugindo do contato com Shane.

Agora que seu sangue não estava mais fervendo, ela podia pensar com mais clareza. Ainda que ad-mitir aquilo, mesmo que apenas para si, a deixasse de coração partido. Sabia que ser apenas desejada jamais seria o suficiente.

Queria amor, queria constituir uma família, e sabia que jamais teria isso com Shane.Ele suspirou, frustrado, e se ergueu sobre um cotovelo.— Rachel...— Shane, isso não pode continuar acontecendo — disse ela, catando suas roupas do chão. Vestiu-se

apressadamente na penumbra e depois recolheu as roupas de Shane e as jogou para ele.— Deve haver alguma razão para nós acabarmos sempre aqui — sugeriu Shane.Impaciente, ela bufou e tirou uma mecha de cabelo da frente do rosto.— É claro que há uma razão. Nós não somos confiáveis.Shane riu de um modo estranho.— Talvez você tenha razão.Um intenso arrepio atingiu as entranhas de Rachel, mas ela lutou para ignorá-lo. Não ia permitir que

ele visse o que aquela simples afirmação havia causado nela.— Foi por isso que eu decidi pedir demissão, Shane.Resmungando, ele se levantou e, enfim, se vestiu.— O que aconteceu entre nós não tem nada a ver com a nossa relação profissional.— É claro que tem. — Ela colocou as mãos nos quadris, ergueu o queixo e prosseguiu. — Você viu o

que aconteceu hoje. Nós mal conseguimos falar um com o outro.— Isso não pareceu ser um impedimento essa noite.— Isso — disse ela, apontando para a cama — não foi exatamente uma conversa.Ele jogou o paletó sobre a cama.— Rachel, você está fazendo tempestade num copo d'água.— E você está fazendo pouco caso de algo muito sério.Shane passou a mão pelos cabelos.— O que você quer que eu diga?Tanta coisa, pensou ela, sem no entanto dizer uma única palavra. Queria que ele fizesse amor com ela novamente, que se apaixonasse por ela, mas como não podia ter

uma coisa, também não queria a outra.Os olhos verdes dele brilharam de aborrecimento e de mais alguma coisa que ela não soube iden-

tificar.Pelo menos agora ela estava convencida de que a decisão de largar o emprego e procurar um novo

em outro lugar havia sido acertada. Tudo de que precisava era ter a coragem de seguir adiante com seu plano.

— Eu quero que você diga que aceita o meu pedido de demissão — sussurrou ela.Ele enfiou o paletó. Ajeitando a lapela, ainda a olhou por um longo tempo. Rachel prendeu a res-

piração e ficou contando os segundos que se passaram.Finalmente, ele respondeu comum meneio de cabeça.— Se é isso o que você realmente quer... Aquilo não era uma questão de vontade, mas sim de necessidade.— É sim, obrigada.

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— Está bem — disse ele, olhando ao redor, parecendo bastante desconfortável. Depois voltou a olhá-la e falou: — Acho melhor eu ir embora. Vejo você no escritório amanhã?

— Eu estarei lá.

Muito tempo já havia se passado desde que Shane fora embora. Rachel ainda estava no computador. Seus dedos corriam pelo teclado, enquanto as lágrimas que inundavam os olhos teimavam em não cair.

Aquela seria a última coluna de Tess.Mais uma vez, ela escreveria sobre os sentimentos que nutria por seu chefe. Mais uma vez, ela

colocaria o coração numa bandeja, disfarçado seus sentimentos sob uma máscara de humor. E, mais uma vez, ela veria Shane ler a coluna e rir da perspicácia de Tess, sem jamais se reconhecer naquelas palavras.

CAPÍTULO IXAlguns dias depois, Rachel se flagrou desejando já ter largado o emprego.Trabalhar com Shane e manter uma atitude distante, estóica, era mais difícil ainda do que ela havia

imaginado. Ele estava sendo educado e cortês, mas completamente inacessível. Rachel deveria estar contente por ele estar aparentemente tão determinado quanto ela a não deixar seus desejos irromperem de novo, a verdade é que ela estava muito irritada.

Será que aquilo não estava sendo nem um pouco difícil para ele?Balançando a cabeça, ela percorreu a lista de RSVP para a festa beneficente anual de Natal dos Elliot.

Rachel se perdeu em meio às marcas de quem já havia ou não confirmado presença. Aquela era a sua última tarefa relacionada à editora.

Se aquela ia ser a última festa organizada por ela para a família Elliot, teria de ser a melhor de todos os tempos.

— Ei! — falou Christina. — Terra chamando Rachel!Ela piscou e ergueu os olhos na direção da amiga.— Desculpe. O que foi?— Minha querida — disse Christina suavemente, inclinando-se para se apoiar na mesa de Rachel — Há

algo que você queira me contar?— Do que é que você está falando? Christina olhou em torno para se assegurar de que não havia ninguém por perto.— Uma nova coluna "Tess conta tudo" acaba de chegar à produção.— Verdade? — perguntou Rachel, tentando parecer surpresa. — Achei que ela já havia escrito a última

coluna.— Parece que ela ainda tinha algo a dizer — disse Christina, apertando os olhos pensativamente.Rachel desviou o olhar e pegou uma pilha de arquivos, passando a se ocupar deles como se sua vida

dependesse daquilo.— E por que é que você está me dizendo tudo isso?— Bela tentativa — respondeu a amiga —, mas eu tenho anos de prática com crianças tentando es-

conder coisas de mim.— Christina...— Você é a Tess!— Shhh!Rachel se levantou e fez um sinal para que a amiga a seguisse até um lugar mais reservado. Assim

que Christina fechou a porta, Rachel confessou:— É verdade.Serviu-se, então, de um pouco de café, e voltou a olhar para a amiga.— Satisfeita agora?— Muito. Eu já suspeitava disso há algum tempo, mas a coluna de hoje acabou com as minhas

dúvidas. — Ela pegou uma xícara de café para si e se sentou ao lado da amiga. — Não acredito que você não tenha me falado nada.

— Eu não podia contar para ninguém.— Nem para mim?— Eu quis lhe dizer que eu era Tess, mas...— Isso não importa. Eu perguntei por que você não me contou que tinha dormido com Shane.— Oh, meu Deus! — exclamou Rachel, caindo estatelada na cadeira.— Eu quero detalhes.— Nada de detalhes, pelo amor de Deus! Eu estou tentando desesperadamente esquecer tudo isso.— Nossa, foi tão ruim assim?Rachel teve de rir ao ver a decepção no rosto da amiga.— Pelo contrário. Foi incrível.— Então por que essa cara?

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— Porque agora tudo mudou.— Isso é bom, não é?— Eu pedi demissão.— Você não fez isso!— Fiz sim — disse Rachel, agarrando a xícara com as duas mãos. — Eu não posso mais trabalhar com

ele. É difícil demais para mim.— Isso é bobagem e você sabe muito bem disso. Pedir demissão não resolve o problema.— Mas pelo menos me mantém longe dele.— Minha querida, você nunca vai conseguir ficar longe dos seus sentimentos. Vai continuar a amá-lo,

mesmo que se mude para o outro lado do mundo.— Isso é realmente reconfortante — resmungou Rachel. — Seja como for, eu já entreguei a minha

carta de demissão e enviei alguns currículos para outras editoras.— E o que é que você acha que Shane vai dizer quando ler esta coluna?Rachel riu de modo amargo.— Ele já leu dezenas delas e nunca foi capaz de se reconhecer em nenhuma. Por que agora seria

diferente?— Porque dessa vez você se entregou, Rachel. Você se referiu ao seu chefe misterioso como "Shane". A xícara caiu da mão de Rachel, respingando café quente sobre as duas.

Shane havia passado toda a manhã atendendo a telefonemas. Ele normalmente teria delegado algu-mas funções a outras pessoas, mas estava fazendo de tudo nos últimos dias para se manter ocupado e não ter tempo de pensar em Rachel. O fato é que não estava adiantando muito.

Ela estava sempre à espreita, num cantinho de sua mente, esperando pelo momento de reaparecer e começar a torturá-lo. Droga! Ele tinha trabalhado quatro longos anos ao lado dela, sem nunca ter se dado conta do quanto Rachel era atraente.

Ele simplesmente contava com a presença dela como certa, como se fosse uma extensão de si mesmo. Ela era tão responsável por aquela vitória quanto ele, e agora estava indo embora.

Como é que ele podia ter sido tão cego?Como é que ele não havia percebido aqueles olhos, aquela boca, aquelas pernas, o senso de humor, o

raciocínio rápido, a lealdade, os seios, o bumbum? E por que é que estava percebendo tudo isso agora?O telefone tocou novamente. Porém, dessa vez, não atendeu. Foi até a janela e ficou apreciando a

vista até a pessoa desistir. Ele sorriu aliviado quando o maldito aparelho silenciou, mas então ouviu uma rápida batida na porta, virando-se a tempo de ver Rachel entrar.

Seu cabelo louro estava puxado para trás, numa bela trança, mas agora que já o havia visto solto, ele só conseguia imaginá-lo caindo sobre seus ombros, emoldurando seu rosto. Só conseguia enxergá-la vestindo uma camiseta branca e um moletom verde-claro em vez daquela roupa formal. É... Estava mesmo encrencado.

— Você está bem? — perguntou ela, franzindo as sobrancelhas.— Sim — disse ele, disfarçando. — O que foi? Uma mulher atravessou o escritório antes que ela pudesse responder.— Por que é que você anda assim tão sumido, posso saber?— Mamãe! — exclamou ele, exibindo um largo sorriso no rosto.Maeve Elliot era uma mulher de compleição pequena, mas sua atitude a fazia parecer bem maior. Ela

havia casado com o pai de Shane aos 19 anos, na Irlanda. Patrick Elliot podia ter muitos defeitos como pai, mas sempre tratara a esposa como se ela fosse o maior tesouro da Terra. E ela realmente o era, ao menos para Shane.

Ele deu a volta na mesa e a envolveu num forte abraço. Depois deu um passo para trás para avaliá-la melhor. Impecável como sempre.

— E então? Eu ainda estou esperando uma resposta.Shane franziu a testa e olhou para Rachel, ainda de pé na porta.— Eu tenho estado muito ocupado, só isso.— Prometo que não vou tomar muito o seu tempo — disse ela, voltando-se para Rachel, convidando-a

a entrar com um gesto. — Eu só passei aqui para lhe contar a novidade.Rachel se aproximou e Shane teve de se controlar ao sentir o seu perfume.— O que foi? — perguntou ele à mãe.— O bebê de Eríka nasceu. É uma linda menina! Eu sou avó!— Isso é maravilhoso! — vibrou Shane, emocionado.— É mesmo! — concordou Rachel. — Como está a nova mamãe? O sorriso de Maeve ficou ainda maior.— Ela está ótima. Gannon é que ficou um pouco baqueado depois de acompanhar o parto. Parece que

não foi muito fácil para ele.— Não me diga que ele desmaiou — disse Shane, já pensando em provocá-lo quando o encontrasse.

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— É claro que não — negou Maeve. — Mas é muito difícil ver alguém que você ama sofrer.O silêncio chegou a ser constrangedor. Sem compreender o que estava acontecendo, Maeve pigarreou

discretamente para recuperar a atenção de ambos.— Eu vou deixar vocês voltarem ao trabalho meu querido. Vou ao escritório do seu pai para forçá-lo a

almoçar comigo.— Acho que vou com vocês — falou Shane. — Assim você pode me contar tudo sobre a mais nova

Elliot.— Isso seria maravilhoso — disse Maeve, erguendo a mão para acariciar o rosto do filho. — Você não

gostaria de vir conosco, Rachel?— Não, obrigada — apressou-se Rachel em dizer. — Eu tenho de ficar aqui para botar algumas coisas

em ordem.— Que pena — disse Maeve, saindo da sala, seguida por Rachel e seu filho.

Meia hora depois, Rachel estava fazendo algo que jamais fizera em quatro anos de trabalho na The Buzz — remexendo a mesa de Shane.

— Onde será que ele meteu a maldita coluna? — resmungou ela, vasculhando as gavetas.0 único lugar onde ela ainda não havia procurado era a gaveta que ele mantinha trancada a chave,

mas ela não podia mexer nela. Shane acabaria descobrindo e a emenda ia sair pior que o soneto. — Como eu pude ser tão estúpida? Shane ia ler a coluna, descobrir quem a havia escrito e despedi-la logo depois. É claro que o fato de

ela já ter pedido demissão facilitava um pouco as coisas, mas nada poderia diminuir o enorme cons-trangimento que sentiria quando ele descobrisse toda a verdade.

— Isso é um desastre — disse ela, lembrando-se de todas as referências nada elogiosas que havia feito a ele ao longo dos últimos artigos.

Ao voltar do almoço, Shane notou que Rachel não estava mais na sua mesa. Ela provavelmente havia ido almoçar. Tanto melhor. Ele não estava mesmo disposto a formalidades, especialmente depois de ter passado as últimas duas horas driblando as perguntas da mãe.

Ele fechou a porta do escritório, grato por estar de volta ao trabalho e ter com o que se ocupar.Destrancou então a gaveta de baixo, pegou a coluna de Tess e se recostou na poltrona para lê-la.

Seus olhos se turvaram ao chegar ao terceiro parágrafo. Com o coração acelerado e o estômago con-gelando, Shane agarrou o papel com mais firmeza e se esforçou para conseguir terminar de ler.

Fazer sexo com o chefe nunca é uma boa idéia, mas, no meu caso, foi uma idiotice completa. Eu passei o último ano inteiro escrevendo sobre como era difícil trabalhar para um homem que não me enxergava para além da minha capacidade de trabalho, mas agora que Shane efetivamente me viu literalmente despida de todo e qualquer artifício, a situação ficou insustentável.

Aqui vai um aviso para todas vocês, assistentes e secretárias de executivos.Quando seu chefe sorrir para vocês e disser "Vamos comemorar"', lembrem-se que depois pode vir a

ressaca. Ou coisa pior.Se o seu chefe, de repente, lhes parecer bom demais, sigam o meu conselho: fujam!— Rachel — murmurou ele, olhando para a folha de papel à frente, ainda sem conseguir acreditar —

Todo esse tempo... era ela!Ele engoliu em seco e tentou se recompor. Ligou então para o departamento de distribuição e arqui-

vos e pediu uma cópia de todos os números da revista em que a coluna de Tess havia sido publicada.— Ah, eu adoro esta coluna — respondeu uma voz feminina do outro lado da linha.— Ótimo — respondeu Shane secamente, pensando em quantas pessoas conhecidas haviam lido o

que Rachel escrevera sobre ele e se divertido à sua custa. E ele ainda tinha querido propor um aumento a Tess!— Quero isso aqui em meia hora.— Sim, senhor.Shane colocou o fone no gancho e decidiu reler a coluna.

CAPÍTULO XRachel voltou do almoço sentindo-se um pouco melhor. Havia caminhado pelas ruas frias da cidade e

feito algumas comprinhas para o Natal.Tinha sido bom perder-se em meio à multidão. Era difícil continuar sentindo pena de si mesma quando

se era lembrada de que não se passava de uma simples pecinha no meio de uma enorme engrenagem.De volta à The Buzz, Rachel estava determinada a passar por sua provação nas próximas duas se-

manas e depois começar vida nova. Sorrindo para as pessoas com quem cruzava no caminho, ela seguiu até a sua mesa e notou que a porta da sala de Shane estava aberta.

Ao olhar para dentro, percebeu que ele havia procurado por ela e que não estava nada contente.— Está tudo bem?

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— Na verdade, não — respondeu ele, convidando-a para entrar com um gesto.Uma apreensão tomou conta de Rachel antes que ela conseguisse se controlar. Oh, meu Deus, ele

havia lido a coluna!Ela tentou pensar rápido, buscando formular uma desculpa, uma explicação, qualquer coisa! Tinha

tomado uma taça de vinho no almoço para tentar relaxar um pouco e se preparar para o que estava à sua espera, mas agora percebia que deveria ter tomado duas.

Parou um momento para guardar a bolsa na gaveta, tentou se recompor e então entrou no escritório de Shane.

— O que foi que aconteceu? — perguntou ela, depois de fechar a porta atrás de si.Um leve sorriso despontou no rosto de Shane. Ele deu a volta, cruzou os braços e se sentou na ponta

da mesa, olhando-a bem no fundo dos olhos.Rachel se sentiu como um coelho sendo observado por uma cobra prestes a dar o bote. Os olhos dele

ardiam e, a julgar pela tensão em seu maxilar, ele devia estar cerrando os dentes. Não faz sentido con-tinuar fingindo que não sei de nada, pensou Rachel.

— Você leu o artigo.— Você nem vai tentar negar?— Não.— Quer dizer então que você é a Tess.Ela alisou a saia e colocou as mãos na cintura, apertando os dedos com força.— Surpresa!— Eu não acredito nisso — disse ele, desgostoso, balançando a cabeça. — Eu nem sei se fico ofendido

ou lisonjeado com o fato de você ter escrito sobre mim durante todos esses meses.— Eu não queria que você descobrisse dessa maneira.— Você não queria que eu descobrisse de maneira alguma — corrigiu ele, caminhando na direção

dela.— É verdade.Ele girou em torno dela. Rachel se virou lentamente, mantendo o olhar fixo nele.— Você se divertiu muito me vendo tentar descobrir a sua verdadeira identidade, mentindo para todo

mundo, inclusive para mim?Rachel respirou fundo e tentou encontrar a coisa certa a dizer, mas nada lhe ocorria.— Eu não estava tentando mentir para você, Shane. — Ah, quer dizer que isto foi apenas um ganho adicional. — Eu não sei por que você está fazendo tanto alarde — disse ela, decidindo se defender. —Você

adorava essa coluna.— Claro — falou ele, detendo-se. — Quando eu achava que ela era escrita sobre algum idiota sem

nome e sem rosto. Só que eu não gostei nada de descobrir que o idiota no caso era eu !Ela ergueu a mão.— Eu nunca o chamei de idiota.— Mas é como se o tivesse feito — disse ele, voltando para a sua mesa e apanhando um punhado de

revistas na mão. — Eu reli todas as colunas publicadas até agora. Na verdade, acho que você fez pior do que isso.

0 nó de tensão que ela estava sentindo até então começou a se desanuviar, dando lugar a um acesso de raiva.

— Isso não é verdade. Tudo o que eu fiz foi relatar como era trabalhar com você.— E falar das mulheres com quem eu saio. Para se defender, Rachel argumentou.— Eu não teria de escrever a esse respeito se você não tivesse me encarregado de comprar

presentinhos e fazer reservas para todas essas peruas. Foi você quem me incumbiu de cuidar da sua vida particular, Shane. Você não tem muita moral para reclamar agora.

— Você é minha assistente. A quem mais eu pediria esse tipo de coisa?Ela quebrou os quadris, cruzou os braços sob os seios, ergueu o queixo e o olhou nos olhos.— Não sei... A você mesmo, talvez? Shane jogou as revistas sobre a mesa.— Se você odiava tanto assim o seu trabalho por que não pediu demissão?— Foi o que eu fiz.— Eu quero dizer antes — explicou, exasperado. — Se é tão ruim assim trabalhar comigo, porque você

ficou aqui até agora?Rachel desfez a pose beligerante e se sentou numa das poltronas.— Eu nunca achei ruim trabalhar com você. Eu gostava muito do trabalho, o problema é que eu...— Você ficou com ciúmes?— Não — disse ela, erguendo-se subitamente. — Isso não tem nada a ver com ciúme. Eu nem sei

exatamente o que é, na verdade. Eu comecei a escrever esses artigos para compensar a minha

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frustração, e eles pareceram falar ao coração de muitas outras assistentes e secretárias que se sentiam da mesma maneira.

— Sim, mas...— Você mesmo disse na semana passada que essa era a coluna mais popular da The Buzz. Quis até

oferecer uma coluna semanal a ela. No caso, a mim. Você queria lhe dar um aumento para incluí-la, a mim, na equipe. — Ela olhou para ele e notou que os músculos de seu maxilar estavam menos tensos que antes e que seus ombros já haviam baixado. — A única coisa que mudou foi que você descobriu quem é a Tess de verdade.

— E isso não é pouca coisa.— Pode ser que seja assim do seu ponto de vista mas você tem de admitir que riu muito das minhas

colunas. Tanto quanto qualquer outro leitor comum.— Aliás isso foi antes... do que aconteceu. — Ele se virou e ficou olhando pela janela. — Você escreveu

sobre as noites que nós passamos juntos.Ela engoliu em seco.— É verdade.— Por quê?Rachel deu de ombros. Tinha consciência de que aquela não era uma resposta, porém não sabia ao

certo o que deveria lhe dizer: — Eu não sei...— Mas eu acho que sei — disse ele, voltando-se para olhá-la de frente. — Eu acho que você queria que

eu descobrisse que você era a Tess.— Você está enganado, Shane — respondeu ela, balançando a cabeça lentamente.Shane caminhou na direção dela e notou que ela deu um passo para trás, como se estivesse querendo

manter uma distância segura entre eles. Aquilo não ia funcionar. Ele tinha tido bastante tempo para pen-sar no assunto. Tempo de reler todas as colunas.

— Você queria que eu soubesse, Rachel. Se não, jamais teria cometido o erro de deixar escapar o meu nome justamente no último artigo.

— Isso foi apenas um erro.— Isso foi um ato falho.— Ora, por favor — disse ela, afastando-se quando ele tentou se aproximar.— Você queria que eu soubesse, porque não quer deixar o seu emprego. Você não quer deixar a The

Buzz. Tudo o que você queria era ter a sua própria coluna. Você quer ficar aqui. Comigo.Rachel riu.— Eu já entreguei o meu pedido de demissão, Shane, e você já o aceitou.— Relutantemente.— Não importa. O fato é que está feito.Ela olhou ao redor, evitando olhá-lo nos olhos.— Não, Rachel, eu não quero que você vá embora. Estou disposto a lhe oferecer a mesma coisa que ia

oferecer ao seu alter ego.Ela, enfim, voltou a olhar para ele.— Você quer que eu continue escrevendo sobre você?— Não — admitiu ele. — Mas você é muito talentosa e engraçada. Seus leitores amam a sua coluna.

Você poderia encontrar outro assunto sobre o qual escrever. A vida em Manhattan, entrevistas com gente famosa, o que você quiser.

Ela pensou longamente e Shane lastimou não poder ler a sua mente.— E então? — perguntou ele, ansioso pela resposta.— Eu admito que é uma oferta tentadora, Shane, mas estou decidida a deixar a The Buzz.Ele lhe ofereceu o dobro do seu salário, porém ela balançou a cabeça.— Não é uma questão de dinheiro, Shane. Você me insulta agindo como se fosse. — Você quer falar sobre insultos? — reagiu ele. — Justamente você, que me transformou na chacota

da cidade por mais de um ano!Ela sorriu tristemente.— Se você não tivesse se comportado como um idiota, eu talvez não tivesse tido tanta munição.— Ah, muito bem.— Ouça, Shane — pediu ela, fazendo um esforço sobre-humano para se conter. — Você conseguiu a

presidência com que tanto sonhou, mas eu não posso continuar por perto, simplesmente não posso.A decepção cresceu no peito dele, junto com a raiva até ele não poder mais se calar.— Por causa do que aconteceu entre nós.— Em parte — disse ela. — Nós não podemos simplesmente retomar a nossa relação profissional. Não

podemos fingir que nós não...Não. Shane não podia fingir ignorar nada do que havia acontecido entre eles. Ela não saía um só mi-

nuto da sua cabeça. Ele a via diante de si cada vez que fechava os olhos. Sentia-a, saboreava-a. Ela o assombrava e ele sabia que isso continuaria assim mesmo que Rachel fosse embora.

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— Então vamos deixar as coisas como estão e continuar amigos, tudo bem?Ele fixou os olhos nos dela, tentando encontrar uma maneira de fazê-la mudar de idéia. Sabia muito

bem que jamais teria vencido aquela competição sem ela.Shane não podia se imaginar comandando todo aquele império sem os conselhos de Rachel, sem o

seu bom senso e o seu bom humor.Droga, ela não podia simplesmente ir embora desse jeito.Mas foi exatamente o que ela fez.

Rachel passou os dias seguintes mergulhada na preparação do grande evento beneficente que a Edi-tora Elliot patrocinava todos os anos. Todos os ricos famosos da cidade, e os nem tão famosos assim, se reuniriam no dia da festa no Waldorf Astoria Hotel e doariam verdadeiras fortunas para manter vários abrigos para crianças funcionando ao longo do ano. Ela já havia providenciado as flores, os empresados e a banda. Passara metade da manhã com especialistas em segurança, contratando os agentes extras de que precisariam para ficar nas portas do hotel. Passando sua lista de tarefas em revista, Rachel detectou apenas um item ainda não resolvido — a contratação do Papai Noel.

A pessoa que o havia representado na festa do ano anterior já tinha sido contratada para outro evento, e ela não podia colocar qualquer pessoa para distribuir os presentes para as crianças. Pôs-se então a procurar uma agência na agenda.

Aquela era a última festa que organizava para a Editora Elliot, e sairia perfeita, nem que ela precisasse dar a vida por isso. Ao ouvir o telefone tocar, Rachel atendeu quase automaticamente.

— Escritório do senhor Shane Elliot.— É a senhorita Adler?— Ela mesma — assentiu, franzindo a testa e recostando-se na cadeira.— Aqui é Dylan Hightower, da revista Cherish.— Oh! — respondeu ela, empertigando-se. Aquela era uma revisa sobre celebridades para a qual ela

havia enviado um currículo.— Eu fiz questão de ligar para lhe dizer pessoalmente porque não posso lhe oferecer uma vaga aqui.Ela piscou, aturdida. Acreditava que era perfeita para o cargo de assistente do editor-chefe de lá.— Eu entendo.— Não, eu acho que não — disse Hightower abruptamente. — E para falar a verdade, eu só estou

ligando para lhe avisar que o mercado editorial é um meio muito fechado. As mentiras não demoram muito para vir à tona.

— Como assim? — quis saber, sentindo um aperto na boca do estômago.— A senhorita deveria se desculpar por me fazer perder meu tempo. Eu chequei as suas referências e

tenho de dizer que fiquei chocado quando Shane Elliot me contou a verdadeira história que se esconde por trás da sua posição atual na revista.

— Ele fez isso? — perguntou ela, sentindo seu sangue ferver. Ela teve de respirar fundo repetidas vezes para manter a calma e se controlar. — O senhor se importaria de me dizer o que foi exatamente que ele lhe contou?

— De maneira alguma. Ele me informou que a senhorita foi possivelmente a pior assistente que ele já teve. Contou-me também que a senhorita não auxilia em nada no fortalecimento da equipe, mas que, ao contrário, gosta de semear a discórdia entre os seus colegas de trabalho. — Ele fez uma pausa para respirar. — Digamos que a sua reputação não é exatamente ilibada.

A visão de Rachel foi ficando turva de raiva. Ela estava tão furiosa que teve de usar todas as forças para não bater o telefone na cara do sujeito.

— Eu compreendo — respondeu ela enfim.— Espero realmente que sim — retrucou ele, e então desligou.Ainda com o fone na mão e indignada, Rachel lançou um olhar para a porta fechada do escritório de

Shane. Respirou fundo, botou o fone no gancho e seguiu pelo corredor. Ela entrou sem bater e avançou em direção ao seu chefe com os olhos injetados.

— Rachel?— Como é que você se atreve? — disse ela, espalmando as duas mãos sobre a sua mesa e se

inclinando em sua direção. — Como é que você ousa denegrir a minha imagem dessa maneira para me impedir de conseguir um novo emprego?

— Espere um pouco.— O senhor Hightower acabou de me ligar para me explicar pessoalmente porque não queria me

contratar!Shane desviou o olhar e passou a mão no rosto.— Oh...— Pois é!Ele olhou para ela, sem conseguir encará-la.— Ouça, Rachel...

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— Eu não consigo acreditar que você fez isso Shane! Meu Deus, como você pôde ser assim tão baixo?Ele se levantou.— Não foi isso. É que...— O que, Shane? O que nesse mundo pode tê-lo motivado a contar mentiras a meu respeito? — Ela

tirou as mãos da mesa, cruzou os braços e ficou batendo o pé sobre o tapete. — Eu alguma vez o deixei na mão nestes quatro anos?

— Não.— Alguma vez fomentei discussões entre meus colegas de equipe?— Não.— Então por quê? — perguntou ela, balançando a cabeça e olhando para ele como se nunca o tivesse

visto antes. A bem da verdade, ela realmente nunca o havia visto tão embaraçado e envergonhado como naquele momento.

Shane respirou fundo e enfiou as mãos nos bolsos.— Eu achei que se adiasse a sua mudança de emprego, você poderia acabar tendo chance de pensar

melhor e decidindo ficar aqui.— Mentindo sobre mim!— Foi uma péssima idéia, mas só percebi isso agora.— Meus parabéns! Você acaba de admitir que nem tudo nesse pequeno universo diz respeito a Shane

Elliot. Outras pessoas também têm vida própria.— Desculpe, Rachel, eu...— Esqueça! — gritou ela, dando alguns passos para trás, sem tirar os olhos ele, como se estivesse

com medo de ser atacada pelas costas novamente. — Eu aprendi a lição e tenho certeza de que vou sair fortalecida dessa.

— Mas que droga...— Você pode me mandar o último contracheque pelo correio, Shane. Eu estou indo embora.— Mas você se comprometeu a ainda trabalhar essas duas últimas semanas. Ela foi até a porta, girou a maçaneta e se voltou para ele: — Se você pode mentir, eu também posso. Adeus, Shane.

CAPÍTULO XIA sala de jantar da Tides, a mansão da família Elliot, era elegante e acolhedora. As paredes cor de

creme eram repletas de originais de grandes pintores, móveis clássicos e tapetes orientais. A mesa estava posta com cristais e porcelana da China, mas, para Shane, aquela era simplesmente a casa onde ele havia crescido. Quase podia ouvir as vozes dos irmãos ecoando pela casa.

A mansão era um verdadeiro palácio, situada à beira de um penhasco em frente ao Oceano Atlântico, em Long Island. O som do mar fazia a casa parecer viva. Naquele momento, porém, ele desejava com ardor estar em qualquer outro lugar que não ali.

— Sua Rachel é mesmo um encanto — elogiou Maeve, tomando um gole de vinho branco. Shane olhou para a mãe, advertindo-a:— Ela não é a minha Rachel, mas é mesmo um encanto de pessoa.— Eu senti uma certa...— Mamãe!Ele deveria ter tentado se livrar daquele jantar, mas isso exigiria alguma explicação da sua parte,

coisa para a qual ele não estava nem um pouco inspirado no momento.Shane estava profundamente arrependido do que tinha feito a Rachel. Ele não havia tido a intenção

de... Droga! Tinha sim. Ele tinha querido estragar tudo. Aquilo fazia dele um perfeito idiota ou apenas um homem desesperado? Fosse como fosse, Shane a havia perdido. Rachel tinha juntado suas coisas e saído do prédio logo depois de deixar a sala. Shane agora era atingido por um sentimento de culpa cada vez que passava pela mesa dela, vazia, o que fazia sua cabeça doer e seu humor desaparecer.

Ele ainda podia ver a expressão em seu rosto. Choque, traição, fúria. Nunca deveria ter cedido à tentação de sabotar seu esforço para obter um novo emprego.

Shane sabia que a culpa era toda sua. Ele havia permitido que Rachel se tornasse importante demais nos últimos anos. Se tornara parte tão integrante de sua vida que ele mal podia se imaginar sem ela. Aquele pensamento o irritou ainda mais.

— Está bem, está bem — falou Maeve, dando mais um gole. — Longe de mim querer interferir na vida dos meus filhos.

Shane ameaçou rir, porém o olhar de sua mãe o deteve.— Bem, se vocês me contassem o que é que os importuna, eu não teria de ficar fuçando desse jeito,

não é?— Ah, quer dizer que a culpa agora é nossa!— Meu querido — disse ela com um sorriso caloroso —, eu estou vendo que há alguma coisa

incomodando. Você não quer me contar o que é?

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Por um momento, ele considerou a possibilidade de se abrir, mas a idéia de como ela reagiria ao saber o que ele havia feito com Rachel o impediu.

— Eu falei com Rachel esta tarde — confessou Maeve, quebrando o silêncio.— É mesmo? Sobre o quê?— O baile beneficente. Ela quis me dizer que continuaria supervisionando todos os preparativos,

apesar de não estar mais trabalhando para você.— Ah! — respondeu Shane.É claro que ela ia fazer isso. Rachel era a pessoa mais responsável que ele conhecia. Levava seus

deveres a sério e nunca abandonava um projeto no meio do caminho.Nem mesmo se tivesse uma boa razão para isso.— Seu idiota — disse ele a si mesmo, esfregado os olhos para tentar dissipar uma dor de cabeça

crescente.— Pelo jeito, você é mesmo — disse a mãe com doçura. — Por que foi que você demitiu aquela moça

adorável?— Eu não a demiti.— Foi ela quem pediu demissão?— Sim.— E por quê?Ele lançou um olhar para Maeve e depois desejou não tê-lo feito. Já tinha 38 anos, era um executivo

bem-sucedido, mas um simples olhar de sua mãe ainda podia intimidá-lo.Shane acabou sendo salvo pelo gongo.— Posso saber do que é que vocês estão falando? — perguntou Patrick, aproximando-se dos dois.— Nada de importante, meu querido — disse Maeve, dando-lhe um tapinha na mão, lançando no

entanto, um olhar para o filho que deixou bem claro que o assunto não havia morrido ali.— Sei...Patrick não ficou muito convencido, mas também não insistiu. Com o olhar fixo em Shane, ele

perguntou:— Você não gostaria de me contar quais são os seus planos para a editora antes do jantar?— Patrick! — exclamou a esposa. — Será que nós não podemos ter uma única refeição sem falar de

negócios?— Pode deixar, mamãe — disse Shane, ávido por falar de qualquer outra coisa que não fosse Rachel.

Se ele despistasse a mãe, talvez conseguisse passar o resto do jantar impune. — Eu gostaria mesmo de ouvir a opinião do papai a respeito de algumas questões.

Maeve pegou sua taça e tomou um gole de vinho, com os olhos fixos nos do filho. Shane fingiu não perceber o olhar e se concentrou na conversa com o pai.

A semana seguinte foi um verdadeiro turbilhão de atividade.Embora já estivesse oficialmente fora da editora Rachel estava mais ocupada do que nunca, co-

ordenando o evento beneficente.Nada passava sem a sua anuência. Ela queria que as pessoas comentassem aquele evento por anos;

queria que tudo fosse absolutamente perfeito. Ela conseguira um pinheiro de três metros que seria totalmente decorado por profissionais especializados. Haveria uma fonte de champanhe, barras de chocolate e hours d'oeuvres suficientes para manter até os convidados mais famintos satisfeitos.

Cada uma das mesinhas teria seu próprio pinheiro em miniatura, com todas as luzinhas e guirlandas a que se tinha direito.

Rachel estava determinada a organizar tudo com uma disciplina militar. Não queria correr o risco de cometer um único deslize sequer.

Ela olhou pela janela e viu o café do outro lado da rua. Nuvens negras se avolumavam sobre a cidade como se estivessem apenas esperando o momento mais apropriado para fazer nevar novamente sobre as ruas já molhadas e escorregadias. As pessoas estavam agasalhadas até a alma, com toucas e cachecóis coloridos.

Dava frio só de olhar. Rachel decidiu então voltar a cuidar dos papéis espalhados sobre a mesa.Seu celular tocou. Ela revirou a bolsa até encontrá-lo.— Alô?— Olá, querida. Como vão as coisas? — perguntou Christina.Rachel recostou-se na cadeira, pegou seu café e deu um gole. Ela só havia falado com a sua amiga

uma única vez desde que havia deixado a editora e estava com muita saudade dela.— Eu estou ótima.— Aham.— É sério. — Ela fez o melhor que pôde para usar um tom convincente, mas Christina não se deixou

enganar.— Acredito muito.

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— Está bem — resmungou Rachel. — Eu estou me matando de trabalhar para evitar pensar em Shane.— Foi o que eu pensei. Se você ainda está tão apaixonada por ele, por que foi que pediu demissão,

afinal?— Eu não tive escolha. Como é que eu ia continuar lá depois...Meu Deus, ela nem podia pensar naquelas noites com Shane! Já era ruim suficiente ter que se deitar

na cama onde havia estado com ele e se lembrar do som de sua respiração, da sensação das mãos dele pelo corpo, do sabor da boca...

Ela tomou um gole de café quente e queimou a língua.— Tudo bem. — disse Christina. — Fazer sexo com o próprio chefe deixa o clima um pouco estranho

no escritório mesmo.— É, mas não é só isso.— Está querendo me dizer que você o ama? Rachel se contorceu.— Amo. Eu sei que isso é ridículo, lamentável e que não faz nenhum sentido. Ele nunca vai olhar para

mim dessa maneira. Nunca vai retribuir os meus sentimentos. Como é que eu podia continuar lá?— Acho que você tem razão — disse Christina, com um suspiro triste. — Mas eu sinto a sua falta por

lá.— Eu também sinto a sua. Sinto falta do meu trabalho também. Eu era boa no que fazia, sabia?— Claro que sabia. — Houve uma longa pausa e então Christina baixou tanto a voz que Rachel mal

conseguiu ouvi-la. — Ajudaria alguma coisa saber que Shane está inconsolável desde que você foi embora?

— Sério? A nova assistente não está dando conta do recado?— Ele ainda não contratou ninguém.— Não pode ser! — exclamou Rachel entre surpresa e um pouco mais animada.Por que será que ele ainda não havia empregado ninguém para substituí-la? Ela já tinha ido embora

havia uma semana, e sabia muito bem que ele era incapaz de manter a agenda em dia sem alguém para ajudá-lo. Ele precisava de alguém muito organizado por perto ou nunca conseguiria seguir em frente. Aquele pensamento trouxe um leve sorriso ao seu rosto.

— É estranho. A sua mesa continua lá, vazia — confidenciou Christina.Rachel sabia que deveria estar cuidando da própria vida e não ficar feliz por saber que Shane ainda

não a havia substituído, mas ninguém é de ferro...— E quem é que está fazendo todo o trabalho?— Aí é que está. Ninguém. Ele anda insuportável. Jonathon até ameaçou pedir demissão ontem.— Não!— Foi. Mas Shane voltou atrás rapidinho. Ele não é burro. Perder você e Jon ao mesmo tempo seria o

fim. Ele tem batido a porta de seu escritório com tanta freqüência que o prédio chega a tremer.Rachel havia ficado lisonjeada por um momento, acreditando que Shane estava sentindo a sua falta...

Mas logo se deu conta de que ele deveria estar irritado por não ter conseguido fazer as coisas a seu modo, e que deveria estar envergonhado pelo que havia feito com ela, além de irritado pelo fato de o trabalho não andar nada bem.

— Ele vai sobreviver — disse Rachel — E eu também, espero.— Eu também. O que você acha de nós jantarmos juntas esta noite?— Eu adoraria — assegurou-lhe Rachel —, mas não posso. Tenho de ir à casa dos meus pais para a

discussão anual sobre "O que há de errado com Rachel"?— Puxa, você não tem mesmo uma trégua!

Uma tempestade estava se avolumando sobre a cidade e Rachel aproveitou a desculpa para deixar a casa de seus pais mais cedo, ainda que não o suficiente, em sua opinião.

Ela ligou o rádio do carro alugado e escolheu um rock suave. O limpador de pára-brisa parecia marcar o tempo da canção. Quase que hipnotizada com a estrada, Rachel começou a falar sozinha para não adormecer.

— Um podólogo! É esse o marido ideal que a minha mãe sonhou para mim? Tudo bem, ele foi educado e nem era tão feio assim, mas era incrivelmente chato! Não falou em outra coisa a não ser de pés a noite inteira. Essa foi a última vez que eu caí nessa, mamãe. Nunca mais vou deixar você arranjar outro encontro para mim!

Seu celular tocou e ela enfiou a mão na bolsa enquanto segurava o volante com a outra. Mantendo o olhar fixo na estrada, ela nem se lembrou de olhar no visor para checar de quem era a ligação.

— Alô?— Rachel?Ela sentiu todo o corpo se arrepiar imediatamente. Meu Deus! Será que a voz dele ia sempre causar

esse efeito nela?— Alô, Shane.

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Ele sorriu ao ouvir a voz dela, ainda que o seu tom não fosse dos mais amigáveis. Shane tinha pensado em Rachel desde que havia deixado a casa de seus pais. Na verdade, ele não havia conseguido tirá-la da cabeça durante toda a semana. Toda vez que passava pela mesa vazia dela era obrigado a se lembrar do quanto havia sido estúpido.

As noites eram ainda piores. Ele olhava para seu próprio apartamento e não via graça nenhuma em toda aquela decoração moderna. Faltava calor àquela casa. No momento, ela lhe parecia tão aconchegante quanto um consultório dentário.

Shane não parava de se lembrar de como tinha sido estar no apartamento verdadeiramente acon-chegante de Rachel. Ele ainda podia vê-la toda encolhida num cantinho do sofá, com seu cabelo louro caindo em ondas sobre os ombros. Ainda podia ouvir sua gargalhada e se lembrar da paixão que vira incendiando seus olhos.

Passava o tempo todo relembrando como a havia carregado em seus braços até o quarto e como ela estava linda sob as luzes pálidas da rua, que entravam pela janela. Não conseguia dormir sem sentir o sabor dela novamente, estendendo a mão até ela, como um homem cego à procura de uma corda que ele sabe que existe, mas não consegue encontrar.

Aquela semana sem Rachel o havia forçado a admitir o quanto ela realmente era importante em sua vida. A pergunta que Gannon lhe fizera havia algumas semanas não parava de ecoar na mente.

"Você ama Rachel?"Ele havia passado tantos anos evitando aquela palavrinha em especial que agora sentia calafrios só

de pensar nela. Mas quanto mais ele sentia a falta de Rachel, mais era obrigado admitir a possibilidade de ter sido finalmente flechado pelo cupido.

Talvez.Como é que um homem podia ter certeza de uma coisa dessas?A única maneira de tirar isso a limpo em que ele conseguia pensar era trazer Rachel de volta para a

The Buzz para poder passar mais tempo ao seu lado outra vez e descobrir. Talvez assim aquilo que estava sentindo começasse a fazer algum sentido para ele.

Shane caminhou por sua sala espaçosa de frente para o Central Park. Esqueceu-se de tudo, exceto da mulher do outro lado da linha.

— Eu liguei em má hora, Rachel?— Para falar a verdade...Ele só havia dito aquilo para ser educado, por isso recomeçou a falar rapidamente. Não podia correr o

risco de deixá-la bater o telefone na sua cara.— Rachel, você tem que voltar para o trabalho.— O quê?— Eu estou falando sério. O lugar está caindo pelas tabelas. Nada mais funciona sem você.O que Shane não disse é que não era apenas o trabalho que o estava preocupando. Ele era o ver-

dadeiro problema. Já não conseguia mais pensar nem fazer nada. Não poder ver mais Rachel todos os dias era como ter perdido uma parte de si mesmo — a parte mais importante.

— Isso não é mais problema meu, Shane. Ele deu um tapa na porta de vidro e tentou manter um tom de voz calmo, sem trair o pânico que

estava começando a se apoderar dele.— Nada funciona direito sem você por perto Rachel. Eu preciso de você.Por algum motivo, algo que o seu pai havia lhe dito alguns dias antes surgiu como um flash na mente.

"Vencer não significa nada se a vitória for a sua única companheira."Seu pai tinha razão. Sem Rachel por perto para compartilhar a vitória, ela não tinha sentido algum.Houve um longo silêncio. Tudo o que Shane pôde ouvir foi o som distante de uma estação de rádio.

Ele esperou o que lhe pareceu uma eternidade pela sua resposta. Resposta que, quando finalmente veio, não foi a que ele estava esperando ouvir.

— Você não precisa de mim, Shane — disse ela, com a voz embargada. — Eu adoraria acreditar nisso, mas sei que você só precisa mesmo é de uma boa assistente, e existem muitas profissionais excelentes no mercado. Encontre uma.

— Espere, Rachel...— Adeus, Shane.

CAPÍTULO XIIEla não ia voltar.Shane esfregou o rosto e bufou. Olhou para o escritório, tentando encontrar a excitação e o velho

sentimento de orgulho que ele costumava lhe dar, mas não sentiu nada.Nada mesmo.Uma semana se passou.O mundo continuou girando.Mas nada mais era como antes.

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Rachel tinha ido embora.O telefone tocou, mas ele decidiu ignorá-lo solenemente. Não estava a fim de conversa com ninguém.

O toque incessante, porém, começou a martelar na sua cabeça, aumentando ainda mais a enxaqueca que já se anunciava.

Ele atendeu com um grunhido.— Nossa! Feliz Natal para você também — disse uma voz feminina conhecida.— Fin! — exclamou ele, jogando-se na cadeira por trás de sua mesa.O Natal já estava quase chegando e ele ainda não havia feito uma única compra sequer. Se Rachel

estivesse lá, ela certamente o teria obrigado a fazer tudo a tempo.Era realmente lamentável. Nem isso ele conseguia resolver sozinho sem ela por perto.— Você vai passar o Natal aqui?— Acho que não. Estou querendo dar início às nossas próprias tradições por aqui, mas com certeza irei

à festa de Ano-Novo.Ele ficou desapontado. Nem sequer tinha se dado conta do quanto estava ansioso para rever a irmã.Balançando a cabeça, ele se forçou a imprimir um sorriso em sua voz e perguntou:— E então, como anda a vida no oeste bravio? Fin riu e Shane pôde vê-la à sua frente. Sua irmã gêmea, sua melhor amiga. Ela era uma espécie de

versão mais jovem de sua mãe. Baixa e magra, cabelos castanhos, olhos verdes e sardas sobre o nariz. Seu sorriso podia iluminar todo um recinto, e ele estava muito grato por ela ter tido muitos motivos para sorrir ultimamente. Apesar de ela ter ido morar num rancho no Colorado, a conexão entre eles continuava muito forte. Fin escolhera a hora exata para ligar para ele.

— Você precisa sair um pouco mais da cidade, Shane — disse ela, ainda rindo. — Eu sei que você não é exatamente um tipo rural, mas tenho certeza de que você se divertiu muito aqui no rancho da última vez.

— É verdade. Eu vou voltar — prometeu ele. — Provavelmente na primavera. E você, como está indo?— Bem — disse ela, um pouco menos entusiasmada. — Eu poderia muito bem passar sem os enjôos

matinais, mas de resto, tudo bem.— Fico feliz em saber disso. É muito bom ouvir a sua voz.— Você está estranho.— Andei tendo umas semanas difíceis — admitiu ele, apoiando a cabeça na cadeira.— Não foi o que eu soube. Você conseguiu, Shane. É o novo presidente da editora. Isso é ma-

ravilhoso!Deveria ser, pensou ele com os seus botões. Mas, nesse exato momento, não significava mais nada

para ele. Como poderia, se a mulher que o ajudara a conquistar a vitória tinha ido embora para sempre?O silêncio dele deve ter alertado Fin de que havia alguma coisa errada.— Quer me contar o que está acontecendo? — perguntou Fin.— Eu nem sei por onde começar.— A maioria das pessoas diz que é pelo começo. O que acha de me dizer o que o está aborrecendo

para depois contar retroativamente?— Aborrecendo? Esta é uma palavra muito leve para o que eu estou sentindo. Ele nem sabia ao certo o que estava

sentindo. Não se lembrava de jamais ter sentindo qualquer coisa parecida. Era algo entre um aperto no peito e um vazio no coração.

— Fale comigo, Shane.— É Rachel, Fin. Ela foi embora. — Como assim, foi embora?— O que você acha?— Ela pediu demissão?— Sim — respondeu ele, sentindo um gosto amargo de derrota ao ter de admitir.— Por quê?Ele esfregou a boca, fechou os olhos e disse:— Porque eu sou um idiota. Fin teve que rir.— Mas ela já sabia disso há muito tempo, Shane. Por que foi que ela só decidiu pedir demissão agora?— Nós... — Ele se deteve e interrompeu a frase. — Isso não é da sua conta, Fin.— A-ha! Já não era sem tempo!— O quê?— Você dormiu com ela!— Como eu disse, isso não é da sua conta.Por que é que justamente sua irmã gêmea, a pessoa que mais deveria ficar ao seu lado numa hora

difícil como esta, estava se divertindo tanto com o seu sofrimento?— Você disse a ela que a amava?

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Ele enrijeceu no ato e pôde ver sua própria expressão horrorizada refletida no vidro da janela.— Quem falou alguma coisa sobre amor?— Oh, Shane, eu adoro você, mas você é mesmo um idiota.— Muito obrigado por ter ligado — disse Shane. — Pelo amor de Deus! Todo mundo naquela editora, exceto você, é claro, já sabe que a Rachel é louca

por você há mais de um ano.— O quê?!Se aquilo era mesmo verdade, por que é que ele não sabia? Por que ninguém havia lhe dito nada? Ou,

por outro lado, por que é que ele não havia percebido nada?— E o que é pior: você sente o mesmo.Ele balançou a cabeça veementemente.— Eu não estou apaixonado por ela.— Ah, não? — provocou a irmã. — Então por que não me diz como é que está se sentindo agora que

ela se foi? — Shane engoliu em seco. — Seja honesto — disse, já com mais suavidade.— Eu estou péssimo, Fin — falou ele, admitindo finalmente aquilo que vinha tentando esconder até de

si mesmo durante todo esse tempo. — Nada mais parece funcionar sem ela por aqui. Eu não consigo trabalhar, não consigo raciocinar, não consigo nem dormir. Droga, Fin, eu não pedi para ser assim!

— Eu sei que não. Você teve foi muita sorte.— Sorte de estar me sentindo tão mal desse jeito?— Não, Shane — disse ela com um suspiro impaciente. — Você tem sorte de ter a chance de viver

uma coisa incrível. Algo que a maioria das pessoas nunca vai encontrar na vida. Não estrague tudo, pelo amor de Deus!

Shane balançou a cabeça, como se estivesse tentando negar as palavras de sua irmã. Mas ele não podia.

— Eu já estraguei tudo, Fin. Ela não quer falar comigo. Não quer me ver nem pintado de ouro.— Então vai depender de você achar uma maneira de fazer as coisas acontecerem.— É muito fácil falar.— Ninguém disse que era fácil, Shane. Nada do que vale a pena é fácil de conquistar. — Ela fez uma

pausa e então acrescentou com a voz mais grave. — Pode acreditar em mim. Eu sei muito bem disso.Shane sabia que ela estava falando por experiência própria. Ela atravessara momentos muito difíceis

até conseguir reencontrar a sua filha. Mas o fato de ela e Travis, seu atual marido, terem se acertado, não significava de modo algum que ele e Rachel iam ter o mesmo destino.

Ou será que significava?Será que Fin estava certa?Será que tudo era realmente bem mais simples do que ele estava imaginando?Será que aquela emoção avassaladora que estava tomando conta dele era realmente amor?— Shane? — chamou Fin, baixinho, fazendo-o focar a atenção novamente no som de sua voz. — Eu

passei tanto tempo vivendo apenas para a editora que acabei me esquecendo de ter uma vida própria. Mas agora eu tenho uma vida maravilhosa com um homem que me ama e reencontrei a minha filha. Estou prestes a ser mãe novamente e vou poder viver tudo aquilo que eu não pude viver na minha primeira gravidez.

— Eu sei, e eu fico muito feliz por você.— Eu desejo esta mesma felicidade para você, Shane — disse ela, interrompendo-o. — Não permita

que Rachel vá embora. Não perca a sua chance de ser feliz ao lado da mulher que você ama.Shane ainda permaneceu pensativo por algum tempo depois de desligar o telefone. As coisas que sua

irmã lhe dissera não paravam de ecoar em sua mente, num verdadeiro looping de palavras. Amor. Rachel. Chance. Felicidade.

O silêncio que reinava no escritório o estimulou a ir embora. Ao caminhar pelos corredores vazios da The Buzz, ouvindo os seus próprios passos ecoarem, ele sentiu todas as vibrações do império que seu pai havia construído, todo o peso da responsabilidade que recairia sobre os seus ombros assim que ele assu-misse a presidência. Shane estava se sentindo estranhamente preenchido... e vazio ao mesmo tempo.

Sabia que pertencia àquele lugar. Porém, a mulher que também pertencia a ele não estava mais lá.Ele compreendeu subitamente que nada daquilo valia mais a pena sem ela. Fin estava certa. Se não

agisse rápido e convencesse Rachel a voltar, acabaria como o pai — um homem solitário e com muitos motivos para arrependimento.

Patrick Elliot amava a esposa apaixonadamente, mas havia se enterrado tão profundamente nos seus negócios que acabara perdendo a chance de desfrutar de belos momentos com seus filhos. Ele havia se tornado um verdadeiro estranho para eles, um fantasma em sua própria casa. Shane não queria o mesmo para si.

Não queria ser um homem cuja única alegria fosse a margem de lucro de sua empresa. Queria ser feliz. Queria amar e ser amado.

Queria Rachel.

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Tudo o que tinha a fazer agora era convencê-la de que ela ainda o queria também.

O Waldorf-Astoria estava de gala para a festa beneficente dos Elliot. As mesas estavam impe-cavelmente decoradas com belos arranjos florais, dispostas sobre o elegante chão de mármore do hotel. Garçonetes muito bem vestidas circulavam pelo recinto, servindo aperitivos e champanhe.

Os lustres de cristal brilhavam com uma luz tênue, iluminando o caminho dos convidados até os elevadores que os levariam ao salão de baile. Lá em cima, havia um DJ ao fundo, tocando uma seleção de canções de Natal mais ritmadas, embalando alguns poucos casais que dançavam na pista.

Num dos cantos do salão, uma árvore azul gigante erguia-se majestosa. Seus galhos curvavam-se sob o peso das luzes e dos ornamentos.

A seus pés havia dezenas de pacotes lindamente embrulhados e decorados, à espera das crianças assistidas pela instituição patrocinada pelos donos da festa.

Rachel sorriu e cumprimentou a todos por quem passava com um meneio de cabeça, enquanto ouvia atenta as informações que lhe eram transmitidas pelo minúsculo fone de ouvido que usava para se comunicar com sua equipe. Manter tudo funcionando direitinho era uma tarefa e tanto! Quase não havia tido tempo de pensar em Shane, ou, mais precisamente, no fato de ele não estar presente na festa.

Ela morrera de saudade dele na última semana. Sentira falta de trabalhar diariamente com ele, de ouvir a voz dele. Sentira falta de provocá-lo e de ouvi-lo rir. Falta de compartilhar com ele as vitórias da The Buzz. E todas as noites, sozinha, ela sentia falta dos braços dele em torno de si. Sentia falta do som de sua respiração no escuro e do calor do toque de suas mãos.

Rachel fechou os olhos e se desequilibrou um pouco ao ser tomada de assalto por todas aquelas lembranças. Seu coração doía ao olhar pelo salão à procura do único homem que desejava encontrar. Mas ele não estava lá. Sentia-se completamente sozinha, mesmo em meio àquele mar de gente.

Duas horas depois, o DJ começou a tocar "Noite feliz" e um grupo de crianças excitadíssimas adentrou o recinto.

— Nós conseguimos um Papai Noel! Ele é muito bom! — disse uma voz em seu ouvido.— Excelente — respondeu ela. Seguiu a multidão que se aglomerava lentamente em torno da árvore de Natal e do trono do Papai

Noel.O homem, então, surgiu por detrás de um painel de cortinas de veludo e parou no meio do palco para

uma boa gargalhada do fundo do coração. Sua voz ecoou pelo recinto e provocou um arrepio em Rachel.Seu coração acelerou imediatamente e a boca secou ao avistar o homem vestido de veludo vermelho

dos pés à cabeça. A touca vermelha, o cabelo, barba e sobrancelhas brancos, os óculos quadrados sobre o nariz... Formavam um belo disfarce, mas Rachel o teria reconhecido em qualquer lugar.

Shane.Ela avançou pela multidão, pedindo licença a todos e se desculpando pela falta de jeito, mas sem se

deter. Com o olhar fixo no Papai Noel, ela seguiu em frente. Quase na metade do caminho, o olhar de Shane cruzou com o dela. Rachel sentiu todo o poder daquele olhar e, pela primeira vez em toda aquela semana, sentiu-se completa e viva novamente.

— Feliz Natal — disse o Papai Noel com o olhar ainda preso ao de Rachel.As crianças gritaram e bateram palmas, e os adultos acabaram entrando no espírito de Natal. Senho-

ras cobertas de diamantes e homens de smoking sorriam e desfrutavam a emoção contagiante do momento.

Rachel parou na frente do Papai Noel e olhou no fundo dos seus belos olhos verdes. Ela não queria valorizar demais a sua presença ali, representando o Papai Noel e fazendo o seu coração acelerar, mas não teve como evitar.

Não havia como não esperar que ela e ele se encontrassem em meio à magia daquela noite.— O Papai Noel tem muito trabalho a fazer no momento, mas depois que eu tiver distribuído todos os

presentes, nós dois vamos ter uma conversinha.— Shane...Ele piscou para ela.— Papai Noel!Uma criança se aproximou e puxou a manga de Rachel.— Depois, Papai Noel — concordou ela. Shane sorriu e se inclinou imediatamente para pegar no colo a menininha que o olhava como se ele

detivesse todas as respostas do universo.Com o dedo na ponta de seu nariz, Shane disse à menina:— Vamos ver o que o Papai Noel trouxe de especial para você.Rachel trabalhou por cerca de uma hora ao lado de Shane. Sua gargalhada calorosa era música para

os seus ouvidos. As crianças estavam completamente enlouquecidas pelos presentes que a Editora Elliot havia comprado especialmente para elas. A magia do Natal havia contagiado a todos. A multidão começou a cantar em coro junto com a música que saía dos alto falantes.

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Do lado de fora, a neve começou a cair novamente, transformando o salão de baile num verdadeiro cartão-postal. Quando o desejo da última criança foi satisfeito, o Papai Noel pegou Rachel pela mão e a levou para trás do palco.

— Você esteve maravilhoso esta noite — disse ela, dando um passo para trás apesar de desejar se aproximar dele mais do que qualquer outra coisa no mundo. — As crianças adoraram você.

Shane tirou a touca, a barba, a peruca e os óculos, cuidadosamente, colocando-os de lado antes de se virar para Rachel.

— Eu nunca me diverti tanto em toda a minha vida — admitiu ele. — E tudo por sua causa.— O quê?— É isso mesmo que você ouviu, Rachel — disse ele, chegando mais perto dela e pousando as mãos

sobre os seus ombros para puxá-la para si. — Eu representei o Papai Noel esta noite porque sabia que você estaria aqui. E porque sabia também que você gostaria disso. E porque eu esperava que você me desse uma chance de lhe dizer aquilo que eu já deveria ter dito há muito tempo.

— Shane...Ela estava sentindo um aperto incrível na garganta. Como se nada mais pudesse passar por ela.— Apenas ouça — disse ele rapidamente. — Por favor. — Sem conseguir dizer mais uma única palavra,

Rachel respondeu apenas com um meneio de cabeça e esticou os joelhos para se manter firme, olhando-o no fundo dos olhos. — Eu sinto a sua falta, Rachel — disse ele, com a voz rouca. — Sinto falta de vê-la todos os dias, de ouvir a sua gargalhada e das suas broncas quando é preciso fazer com que as coisas funcionem.

Ela reagiu. — Eu não lhe dou broncas, só...— Você dá sim — interrompeu ele — e Deus sabe como eu preciso delas. Nada mais funciona sem

você por perto, Rachel. Não há mais luz, não há mais riso, não há mais nada.— Eu também sinto a sua falta, mas...— Não — disse ele, puxando-a ainda mais para perto e jogando a cabeça dela para trás até fazer com

que olhassem diretamente nos olhos um do outro. — Nada de "mas", Rachel. Só a mais pura verdade. Nada vale a pena na minha vida sem você. — Ela engoliu em seco e deixou que as lágrimas que estavam inundando os seus olhos finalmente transbordassem pelo rosto. — Eu te amo, Rachel — disse ele, enterrando os dedos em seus braços como se sua vida dependesse do fato de tê-la consigo. — Acho que sempre a amei. Só nunca havia me dado conta disso até o momento em que a perdi. — Ele baixou a cabeça e a beijou gentil e suavemente para então prosseguir. — Você é tudo para mim, Rachel. Você me faz

— Eu acho que você vai ser uma professora maravilhosa — falou ele, baixando a cabeça para sentir mais uma vez o sabor dos seus lábios. — Eu vou sentir a sua falta no escritório, mas serei o homem mais feliz do mundo por saber que vou reencontrá-la todas as noites em nossa casa.

— Eu amo você, Papai Noel — disse ela, ficando na ponta dos pés para beijá-lo novamente.Ele ergueu as sobrancelhas ainda brancas e, com os olhos brilhando, perguntou:— O que você acha de dar uma volta no meu trenó?

EPÍLOGOAs árvores ao redor da Tides, a mansão dos Elliot, estavam completamente iluminadas e enfeitadas de

guirlandas, assim como a sala de jantar. O burburinho produzido por toda a família Elliot reunida na mansão para a festa de Ano-Novo era ensurdecedor.

Shane caminhou pela multidão, ouvindo pedaços de conversa e sorrindo ao ouvir o irromper de gargalhadas aqui e ali, alegrando o ambiente.

Ele procurou pelo salão até encontrar o olhar de Rachel, voltando a sentir novamente aquela alegria intensa e pura que havia passado a fazer parte de sua vida alguns dias antes. O amor de Rachel o tornava capaz de fazer qualquer coisa, de enfrentar qualquer coisa. Ele mal podia esperar pela vida que teria com ela, amando Rachel e os filhos que já estavam providenciando.

A música parou de repente, e todos os membros da família se voltaram na direção de seu patriarca, de pé, ao lado da lareira.

— Acho que está na hora do discurso — anunciou Patrick Elliot, erguendo uma taça de champanhe na direção da família.

— Patrick, isso não é hora para um daqueles seus discursos intermináveis — disse Maeve. — Nossa família está toda reunida. É hora de celebrarmos.

Shane viu seu pai baixar o braço e envolver os ombros de sua esposa, puxando-a mais para perto de si.

— Você tem razão, Maeve — disse Patrick. — Como sempre, aliás. Mas a idéia era que Shane fizesse o discurso, na qualidade de novo presidente da Editora Elliot.

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Houve uma verdadeira saraivada de aplausos. Shane sorriu orgulhoso. Gannon deu-lhe uma batidinha nas costas e o encorajou a ir até a frente. Erika estava com o seu bebê no colo, segurando-o como se ele fosse feito de vidro e sorrindo para o marido.

Tag estava prendendo Renee, sua noiva, em seus braços, mas ela não parecia estar tentando escapar. Michael estava de pé ao lado da cadeira onde sua mulher, Karen, estava sentada, radiante, com seu cabelo curtinho, desfrutando de toda a diversão.

Shane continuou caminhado, detendo-se apenas para pegar Rachel pela mão e levá-la consigo para a frente. Sorriu para Summer e seu astro de rock, Zeke, às voltas com Scarlet e John, certamente falando sobre o duplo casamento que Maeve já estava planejando.

Do lado de fora, a noite estava fria, iluminada por uma lua cheia que evidenciava os pequenos montes de neve acumulada. Lá dentro, porém, o ambiente era aconchegante e caloroso, e o afeto da família tocou Shane mais do que nunca.

Fin ergueu uma taça na direção de Shane e piscou para ele. Ele sorriu para ela e o marido, Travis, que viera especialmente do Colorado com Bridget e seu marido Mac para esta festa tradicional. Num cantinho do salão, Daniel e Amanda namoravam, ignorando todo o resto do mundo. Jessie e seu marido Cade estavam conversando com Liam e sua noiva, Aubrey, a respeito de seu futuro casamento nos vinhedos de Napa. Cullen e Misty estavam agarradinhos como se fossem os únicos habitantes de uma ilha. Bryan e Lucy estavam se beijando. A família estava toda reunida e feliz. Aquele era realmente um belo começo de ano.

Shane finalmente chegou até a frente. Seus pais deram um passo para o lado para lhe abrir caminho, e ele puxou Rachel consigo. Seu coração inchou dentro do peito quando ela se apoiou nele.

— Eu sou um homem de sorte — disse ele, erguendo a taça em direção aos rostos que o olhavam cheios de expectativa. — Encontrei a mulher que estava destinado a amar e o trabalho que estava destinado a realizar.

— Viva! — gritou Gannon, sendo imediatamente seguido por Erika.— Mas — continuou Shane, olhando para o rosto de cada um de seus entes queridos — eu acho que

este ano todos nós tivemos muita sorte. Logo que essa competição pela presidência começou, eu achei que o meu pai só estava querendo nos lançar uns contra os outros — falou ele, sorrindo para Patríck. — Eu devia saber que havia mais coisa por trás disso.

Seu pai sorriu para ele e beijou Maeve. Renee deu um tapinha em Tag e se soltou, enfim, para ouvir o que Shane estava dizendo.

— Os Elliot ficaram mais unidos este ano — disse Shane, erguendo sua taça ainda mais alto. — Nós redescobrimos os laços familiares que nos unem e estreitamos nossas relações ainda mais. Nós passamos em nossos próprios testes, enfrentamos nossos próprios medos. — Ele fez um meneio de cabeça em direção a Michael e Karen. — E saímos vitoriosos. Nós encontramos o amor e encontramos um ao outro.

Liam assobiou e Fin aplaudiu.— Erros antigos foram corrigidos — prosseguiu Shane, com um meneio para Fin e Jessie — e o futuro

que se delineia à nossa frente é brilhante.— Muito bem! — disse Patrick em voz alta.— Aos Elliot! — brindou Shane. — Juntos, somos invencíveis.A família toda pôs-se a celebrar, e Shane tomou o amor de sua vida em seus braços, selando aquele

momento com um beijo que continha a promessa de um futuro repleto de amor e esperança.

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