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Luta na Rússia Os russos resistem em Stalingrado Batalha de Stalingrado A Luta em Stalingrado Contra-ofensiva russa Em fins do mês de julho de 1942, as forças da Wehrmacht convergiram sobre as margens do Don, depois de tentar, sem êxito, aniquilar os exércitos russos entrincheirados a oeste desse rio. Em rápida retirada, os russos conseguiram evadir-se às sucessivas manobras de cerco, obrigando os alemães a desgastar suas unidades mecanizadas numa acelerada perseguição. O alongamento das linhas de abastecimento e o enorme consumo de combustível provocado pelas contínuas e rápidas marchas reduziram brutalmente a potência de choque do Exército alemão e retardou o ritmo de sua penetração. Hitler, no entanto, estava convencido de que a massa das forças russas já havia sido destruída e que agora apenas restava perseguir os últimos remanescentes do exército adversário. A 23 de julho, dia em que os alemães se apoderaram da cidade de Rostov, na desembocadura do Don, emitiu sua Diretiva 45, na qual determinava que os grupos de exércitos A e B empreendessem sem a menor perda de tempo o avanço em direções divergentes até Stalingrado e o Cáucaso. Esta decisão traria trágicas conseqüências para a Wehrmacht. Tanto o General Halder, Chefe do Estado-Maior do Exército, como os comandantes dos diversos grupamentos que participavam da campanha, estavam de acordo que a realização simultânea das operações contra Stalingrado e o Cáucaso culminaria num seguro fracasso. As forças do Grupo de Exércitos B, encarregadas de conquistar Stalingrado e atingir o Volga, não possuíam poder suficiente para alcançar esse objetivo, pois o grosso das unidades blindadas (1 o e 4 o Exércitos Panzer), havia sido requisitado para a operação contra o Cáucaso. Além disso, os meios de abastecimento eram totalmente insuficientes para garantir a marcha conjunta dos grupos de exércitos até dois objetivos - Stalingrado e Baku - separados, em linha reta, por uma distância de 1.050 km! De acordo com a opinião do Alto-Comando, a única possibilidade de êxito era lançar o grosso das unidades Panzer o mais cedo possível até Stalingrado e, depois de ocupar essa cidade, consolidar a frente sobre o Volga e o Don, e organizar devidamente as linhas de comunicação e os serviços de abastecimentos, para preparar então o posterior avanço para o Cáucaso. Essa opinião, contudo, foi rechaçada por Hitler. Este, aferrou-se, com obstinação, ao seu ponto de vista, sem prestar nenhuma atenção às advertências de seus generais. Assim julgou Halder a atitude de Hitler: - Estas resoluções de um comandante-chefe não tem nada em comum com os

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Luta na Rússia Os russos resistem em Stalingrado

Batalha de StalingradoA Luta em StalingradoContra-ofensiva russa  Em fins do mês de julho de 1942, as forças da Wehrmacht convergiram sobre as margens do Don, depois de tentar, sem êxito, aniquilar os exércitos russos entrincheirados a oeste desse rio. Em rápida retirada, os russos conseguiram evadir-se às sucessivas manobras de cerco, obrigando os alemães a desgastar suas unidades mecanizadas numa acelerada perseguição. O alongamento das linhas de abastecimento e o enorme consumo de combustível provocado pelas contínuas e rápidas marchas reduziram brutalmente a potência de choque do Exército alemão e retardou o ritmo de sua penetração. Hitler, no entanto, estava convencido de que a massa das forças russas já havia sido destruída e que agora apenas restava perseguir os últimos remanescentes do exército adversário. A 23 de julho, dia em que os alemães se apoderaram da cidade de Rostov, na desembocadura do Don, emitiu sua Diretiva 45, na qual determinava que os grupos de exércitos A e B empreendessem sem a menor perda de tempo o avanço em direções divergentes até Stalingrado e o Cáucaso. Esta decisão traria trágicas conseqüências para a Wehrmacht. Tanto o General Halder, Chefe do Estado-Maior do Exército, como os comandantes dos diversos grupamentos que participavam da campanha, estavam de acordo que a realização simultânea das operações contra Stalingrado e o Cáucaso culminaria num seguro fracasso. As forças do Grupo de Exércitos B, encarregadas de conquistar Stalingrado e atingir o Volga, não possuíam poder suficiente para alcançar esse objetivo, pois o grosso das unidades blindadas (1o e 4o Exércitos Panzer), havia sido requisitado para a operação contra o Cáucaso. Além disso, os meios de abastecimento eram totalmente insuficientes para garantir a marcha conjunta dos grupos de exércitos até dois objetivos - Stalingrado e Baku - separados, em linha reta, por uma distância de 1.050 km! De acordo com a opinião do Alto-Comando, a única possibilidade de êxito era lançar o grosso das unidades Panzer o mais cedo possível até Stalingrado e, depois de ocupar essa cidade, consolidar a frente sobre o Volga e o Don, e organizar devidamente as linhas de comunicação e os serviços de abastecimentos, para preparar então o posterior avanço para o Cáucaso. Essa opinião, contudo, foi rechaçada por Hitler. Este, aferrou-se, com obstinação, ao seu ponto de vista, sem prestar nenhuma atenção às advertências de seus generais. Assim julgou Halder a atitude de Hitler: - Estas resoluções de um comandante-chefe não tem nada em comum com os princípios estratégicos e operacionais reconhecidos através das gerações. São erupções de natureza violenta, que não seguem senão a inspiração do momento, que não reconhece limites ao possível, e que esculpe em lei irreversível as fantasias de seus desejos...  Avanço para Stalingrado O 6o Exército, do General Paulus, travado pela escassez de combustível e munições, avançou lentamente até o Don, precedido por duas fracas pontas de lança integradas por unidades mecanizadas. Por ordem de Hitler, as principais reservas de gasolina haviam sido requisitadas pelos 1o e 4o Exércitos Panzer, encarregados de fazer a arrancada até o Cáucaso. Além disso, outro fato de graves conseqüências veio paralisar a marcha das forças de Paulus. A 23 de julho, o QG, baseando-se nas ordens de Hitler, deslocou a totalidade dos caminhões pesados de transporte para o sul, colocando-o a serviço do Grupo de Exércitos A. O 6 o Exército perdeu, assim, durante cerca de 15 dias, grande parte de sua mobilidade e capacidade ofensiva, o que permitiu aos russos concentrar aceleradamente novas forças em frente às pontes vitais de Kalatsch, sobre o Don. Os russos, uma vez mais, demonstraram a sua capacidade para enfrentar uma situação desesperadora. Decididos a ganhar tempo a qualquer custo, com o fim de consolidar as defesas de Stalingrado, empenharam

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as forças do 64o Exército, comandado pelo General Chuikov, e do 62o, orientado pelo Tenente-General Lopatin, numa encarniçada resistência a oeste do Don. Essa medida trouxe decisivos resultados. O 6o

Exército alemão ficou parado junto ao Don, e foi obrigado a sustentar ferozes combates para garantir sua posição. A inesperada freada da ofensiva forçou Hitler a dotar uma resolução extrema. Por intermédio do General Jodl fez anunciar a Halder que o destino do Cáucaso se decidiria em Stalingrado, e ordenou que o 4 o Exército Panzer abandonasse a caminhada para o sul e apoiasse a ação das forças de Paulus contra Stalingrado. O Grupo de Exércitos A ficou assim radicalmente debilitado, fato que determinaria o malogro de sua penetração rumo às jazidas petrolíferas do Cáucaso. Todos esses acontecimentos punham em evidência que a Wehrmacht carecia de forças suficientes para cumprir o desatinado projeto de Hitler, de conquistar, simultaneamente, a bacia do Don e o Cáucaso. Profundamente alarmado, o Alto-Comando percebeu então os claros indícios de uma catastrófica crise no desenvolvimento das operações. Luta no Don No dia 3 de agosto, o 6o Exército conseguira superar com grande dificuldade a ameaçadora situação nas margens do Don. Pelo sul, as unidades blindadas do 4o Exército Panzer haviam ultrapassado para leste, em direção à Stalingrado, aliviando a pressão que os russos exerciam sobre as unidades de Paulus. Von Paulus resolveu aniquilar definitivamente as tropas russas que ainda permaneciam a oeste do Don, como medida preventiva antes de cruzar o rio e avançar para Stalingrado. O ataque foi previsto para o dia 8, por causa das dificuldades em reagrupar as unidades e reabastecê-las de combustível. Hitler, contudo, insistia em que se realizasse a operação o quanto antes. Más notícias chegavam da frente do 4o Exército Panzer. Combatendo encarniçadamente, as forças russas do General Chuikov haviam conseguido deter os Panzer no rio Aksai causando-lhes graves perdas. A obstinada resistência dos russos adquiriu extrema violência. Com uma coragem próxima do fanatismo, os soldados russos se arrojavam sob os tanques amarrando em seus corpos em cinturão de granadas. Dessa forma conseguiram paralisar o avanço. A manobra envolvente planejada pelos alemães (a ser realizada em pinça, pelo norte e pelo sul, pelo 6o Exército e pelo 4o Exército Panzer respectivamente) fracassou completamente. As forças de Paulus conseguiram, contudo, aniquilar, entre 7 e 11 de agosto, o grosso das forças russas sediadas a oeste do Don. Ao término da sangrenta batalha, caíram em suas mãos 57.000 prisioneiros. Depois dessa vitória, Paulus viu-se obrigado a entregar uma divisão blindada e uma de infantaria ao 4o Exército Panzer, para facilitar a continuação do seu avanço. A escassez das forças era irremediável! As unidades Panzer, comandadas pelo General Hoth, conseguiram finalmente abrir caminho a 19 de agosto e, sustentando contínuos e violentos combates, se aproximaram de Stalingrado pelo sul. Na madrugada do dia 21, as tropas de assalto de Paulus cruzaram o Don em centenas de botes de borracha e estabeleceram cabeças-de-ponte na margem oposta. Rapidamente foram feitas pontes de pontões, pela quais as unidades mecanizadas puderam cruzar o rio. Avanço para o Volga Chegava agora o momento do ataque decisivo. Às 4h15 da madrugada de 23 de agosto, um grupamento blindado, integrado pela 16a Divisão Panzer, duas divisões de infantaria motorizada e um regimento de artilharia antiaérea, comandados pelo General von Wietersheim, colocou-se em marcha para Stalingrado. Apenas 70 km os separavam dos subúrbios da cidade! Deslocando-se velozmente através da estepe, os 400 tanques, veículos blindados e caminhões, avançaram até o Volga, sem encontrar praticamente nenhuma oposição. Simultaneamente, a Luftwaffe lançou-se ao ataque contra Stalingrado. Uma massa de 600 aviões bombardeou inesperadamente a cidade, causando uma destruição terrível. Mais de 40.000 civis pereceram nesse devastador ataque. Às 6 horas da tarde, as unidades avançadas do 79o Regimento dos Panzergrenadier alcançaram as margens do Volga no limite norte de Stalingrado. Poucas horas depois, o General Wietersheim enviava a sonhada mensagem ao QG do Fuhrer: “Alcançado o Volga às 18h35... A resistência inimiga é inicialmente débil... Esperam-se fortes ataques do norte... Apoio importante foi dado pelo 8o Corpo Aéreo...”

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 Hitler, imediatamente, enviou sua resposta: - A 16a Divisão Panzer deve manter sua posição aconteça o que acontecer! A batalha Em Stalingrado, nesse mesmo momento, uivavam as sereias das fábricas, onde os operários ainda trabalhavam, montando os últimos tanques. Como um só homem, a população respondeu ao chamado das autoridades militares. Milhares de operários e civis se apresentaram como voluntários e receberam fuzis e granadas para enfrentar o ataque alemão. Assim começa a batalha. As tropas dos 62 o e 64o Exércitos russos recuaram rapidamente para Stalingrado, cuja defesa foi entregue ao comando supremo do General Jeremenko. Nesse meio tempo, os alemães esforçavam-se para impedir que as forças russas se entrincheirassem na cidade. Rapidamente foram emitidas ordens ao 4o Exército Panzer para que avançasse pelo norte e procurasse cercar as tropas russas, em conjunto com o 6o Exército. Após sustentar duras lutas, os tanques alemães conseguiram abrir passagem e estabeleceram contato, a 2 de setembro, com as forças de Paulus, a poucos quilômetros a leste de Stalingrado. O grosso das unidades russas conseguiu, no entanto, escapar da armadilha e buscou refúgio na cidade tão bem defendida. O Alto-Comando compreendeu que era necessário iniciar, quanto antes, o ataque a Stalingrado, para impedir que os russos consolidassem suas defesas. Apoiados pelos Stukas, os Panzer investiram do sul, e a 10 de setembro, conseguiram alcançar as margens do Volga. A cidade ficou, portanto, cercada! Apenas através do Volga se podia manter a comunicação com as forças russas e o rio se encontrava já sob o alcance das baterias alemães. No interior de Stalingrado, permaneceram unicamente as forças do 62o Exército soviético, que, a 12 de setembro foram colocadas sob o comando do General Chuikov. O nome desse chefe ficará para sempre associado à indomável resistência russa em Stalingrado. Com férrea determinação, conduziu durante intermináveis meses o desenrolar das operações, do seu posto de comando situado na primeira linha de fogo. A grande ofensiva alemã iniciou-se no dia 13. Seu objetivo principal era a conquista da colina Mamai, situada no centro de Stalingrado. Ao norte desse ponto se situavam os bairros industriais onde estavam as fábricas Outubro Vermelho e Barricadas, e uma outra fábrica de tratores, futuro palco de terríveis combates. As tropas de assalto alemães, apoiadas por centenas de tanques, conseguiram após sangrenta luta, ocupar a colina e prosseguiram logo ao seu avanço rumo à Estação Central. Ao cair da noite, as unidades avançadas alemães se encontravam já a menos de 700 metros do posto de comando de Chuikov. Este, para frear a investida, lançou na luta sua última reserva de carros blindado, integrada por 19 tanques e conseguiu deter o avanço. Na noite de 14 para 15 de setembro, cruzaram o Volga os 10.000 soldados da divisão comandada pelo General Rodimtsev. Sem tardar, foram lançados ao ataque. Durante dois dias, combateu-se com fúria selvagem na colina Mamai e na Estação Central, e ambos os pontos trocaram de mãos repetidas vezes. A colina continuaria sendo palco de ininterruptos combates até a finalização da batalha de Stalingrado, em janeiro de 1943. Com o correr dos dias, a luta alcançou indescritível violência. Alemães e russos sofreram a perda de milhares de homens. Entre 21 e 22 de setembro, as tropas alemães, abrindo passagem com morteiros, granadas e lança-chamas, ocuparam grande parte dos bairros comerciais, ao sul da cidade, e cortaram em dois o 62o

Exército de Chuikov, apoderando-se do ancoradouro central, no Volga. Os russos, contudo, continuaram recebendo reforços através do rio e se mantiveram firmes... No dia 24 os alemães haviam já conquistado a quase totalidade do centro de Stalingrado e procuraram agrupar suas forças no setor norte. Entre 27 de setembro e 8 de outubro, as forças de Paulus aniquilaram as tropas russas que defendiam a colina de Orlovka. Ante a grave ameaça, Chuikov solicitou urgentes reforços. Imediatamente lhe foram enviadas novas divisões, entre as quais contavam-se as unidades da guarda vermelha dos Generais Guriev e Zholudev e as tropas siberianas do Coronel Gurtiev. Estes soldados defenderam com heroísmo a zona fabril, entrincheirando-se entre as maquinarias destroçadas e os escombros. Após repetidas investidas os alemães efetuaram uma pausa em seu ataque. Afinal, a 14 de outubro, atacaram novamente, movimentando, numa frente de menos de 5 km, três divisões de infantaria e duas Panzer. Os Stukas apoiaram o avanço, arrojando um verdadeiro dilúvio de bombas sobre as posições russas. Durante

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apenas essa jornada, os aviões alemães realizaram cerca de 3.000 ataques! Às 11h30 da manhã, os tanques alemães conseguiram irromper em direção à fábrica de tratores e à fábrica Barricadas, conseguindo cercar duas divisões russas. Os soviéticos, contudo, continuaram resistindo furiosamente. Ao cair da noite e depois de sofrer enormes perdas, os alemães se apoderaram da fábrica de tratores (somente nessa fábrica tiveram 3.000 mortos). As forças russas no bairro industrial ficaram então separadas em duas reduzidas cabeças-de-ponte. Em seguida, Paulus lançou suas forças para o sul, com a intenção de conquistar os redutos soviéticos nas fábricas Barricadas e Outubro Vermelho. Internando-se através dos prédios destruídos entre as duas fábricas, algumas unidades conseguiram situar-se a menos de 400 metros da margem do Volga. A 27 de outubro, Chuikov recebeu novos reforços, integrados por jovens recrutas da divisão do General Sokolov. Muitos deles, imediatamente, sucumbiram sob o fogo incessante da artilharia e das metralhadoras alemães. Depois de três dias de encarniçados combates, no decorrer dos quais conseguiram apoderar-se do setor noroeste da fábrica Outubro Vermelho, os alemães detiveram seus ataques. As forças de Paulus estavam já completamente esgotadas. A última tentativa A 16 de novembro de 1942, caíram as primeiras neves sobre as ruínas de Stalingrado e a temperatura baixou bruscamente. Deslocando-se com fúria pelas imensas e desertas estepes, os gelados ventos do Leste se abateram, em violentas rajadas, sobre a cidade devastada. Nela, entre montanhas de escombros e ferros retorcidos, meio milhão de soldados alemães e soviéticos prosseguiram, acossados pelo frio glacial, sua luta brutal e sangrenta. Combatendo encarniçadamente, prédio por prédio, casa por casa, os alemães conseguiram, ao fim de três meses de incessante combate, apoderar-se de quase toda a cidade. No entanto, as tropas do 62 o Exército soviético continuavam oferecendo heróica e desesperada resistência ao longo de uma estreita faixa de terreno nas margens do Volga. Entrincheirados nas casas destruídas, entre as maquinarias despedaçadas das fábricas, nos sótãos e porões, os soldados russos rechaçaram um após outro, os furiosos ataques das tropas do 6o

Exército alemão. Haviam recebido ordens para lutar até o fim e as cumpriam com fanática bravura. Durante a primeira quinzena de novembro, o General Paulus, comandante do 6o Exército, lançou na luta os melhores batalhões de sapadores da Wehrmacht, integrados por especialistas em batalhas de ruas. - Eu não quero outra Verdum! - havia afirmado Hitler em um recente discurso pronunciado em Munique. - O tempo não tem nenhuma importância. Tomarei a cidade utilizando grupos selecionados de tropas de assalto! Abrindo passagem à custa de lança-chamas, metralhadoras-de-mão, granadas e cargas de dinamite, os sapadores, depois de manter tenazes combates e sofrer terríveis perdas, conseguiram, a 14 de novembro, dividir a cidade em duas, e alcançar as margens do Volga. O triunfo parecia já estar assegurado, e as rádios alemães se apressaram a difundir a notícia da iminente vitória. “Em Stalingrado, com exceção de dois bairros e uma reduzida cabeça-de-ponte, toda a cidade se encontra em mãos alemães”. No entanto, nesse mesmo momento, em torno de Stalingrado, e sobre os flancos do 6 o

Exército, um milhão de soldados e milhares de tanques soviéticos aguardavam, prontos para o ataque, a ordem que havia de dar início à nova fase da batalha que iria decidir a sorte da Segunda Guerra Mundial. O aniquilamento do 3o Exército romeno Às 4 horas da madrugada de 19 de novembro, 800 canhões russos abriram fogo, inesperadamente, sobre as posições do 3o Exército romeno, cujas forças cobriam, ao norte de Stalingrado e sobre as margens do rio Don o flanco esquerdo do 6o Exército alemão. O bombardeio demolidor cessou às 8 horas da manhã. Erguendo-se, nas estreitas trincheiras cavadas no gelo, os cansados soldados romenos, viram surgir dentre a bruma as massas escuras dos tanques T-34, rugindo ameaçadoramente. Atrás deles avançavam lançando gritos de vitória, milhares de infantes soviéticos vestidos com uniformes brancos de inverno. O pânico se alastrou entre as fileiras romenas. Careciam de suficiente artilharia e armas antitanques, e suas metralhadoras e fuzis eram impotentes contra as grossas couraças dos carros blindados russos. Em desordenada fuga abandonaram suas trincheiras e correram para o sul, deixando o campo livre aos soviéticos.

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Apenas quatro divisões, comandadas pelo General Lascar, resistiram encarniçadamente, e foram exterminadas até o último homem. A frente estava rompida e já nada podia conter o avanço irresistível dos russos. Às 9 horas da manhã, a única reserva móvel que guardava a retaguarda do 3o Exército romeno, o 48o Corpo blindado, comandado pelo General Heim, se pôs em marcha para o norte, a fim de enfrentar os russos. Essa força contava apenas com 60 tanques, mais da metade dos quais antiquados veículos de fabricação tcheca e francesa, tripulados por inexperientes romenos. Duas horas depois, Heim deparou com todo um corpo blindado soviético. Em que pese a desigualdade das forças, os tanques alemães e romenos travaram uma encarniçada luta com os enormes de velozes T-34, em meio aos torvelinhos de neve. Ao cair da noite, Heim recebeu uma ordem direta de Hitler. Dizia o seguinte: “O 48 o Corpo blindado deve avançar para o norte e atacar o inimigo, sem se importar com o que aconteça nos seus flancos e na sua retaguarda”. - Avançar para o norte! - Heim não pôde crer no que lia. Nesse instante, suas forças, reduzidas a um punhado de tanques, combatiam desesperadamente, submergidas numa verdadeira onda de blindados russos. Sem pronunciar palavra, o esgotado general subiu ao seu veículo e partiu a toda velocidade para unir-se às suas tropas. No dia seguinte, depois de lutar a noite inteira, os restos do 48 o Corpo blindado conseguiram romper o cerco dos tanques soviéticos e, seguidos por uma multidão de aterrorizados fugitivos do 3 o Exército romeno, empreenderam a retirada para o sul, sustentando ainda contínuas e sangrentas escaramuças com os velozes T-34 soviético Já não restava nenhuma força organizada no flanco esquerdo do 6o Exército alemão. O cerco se fecha No dia 20 de novembro, às 8h30, o General Jeremenko, comandante das forças soviéticas que combatiam em frente a Stalingrado, deu a ordem de ataque a seus 51o, 58o e 64o Exércitos. Durante três meses, os soldados de Jeremenko haviam combatido na defensiva, suportando heroicamente as furiosas investidas dos alemães. Chegara o almejado instante da desforra. Depois de violento bombardeio de mais de duas horas de duração, os tanques russos, seguidos por forças de infantaria e cavalaria, lançaram-se contra as posições do 4 o

Exército Panzer, comandado pelo General Hoth, e do 4o Exército romeno, cujas tropas cobriam, ao sul de Stalingrado e diante do Volga, o flanco direito do 6o Exército alemão. Ao cair da tarde, todo o setor defendido pelos romenos foi arrasado sob o embate demolidor dos tanques russos. Uma enorme brecha de mais de 60 km de largura ficava aberta nas linhas alemães, ao sul de Stalingrado. Por ali se precipitaram em direção ao oeste, as forças de Jeremenko. Seu objetivo: estabelecer contato, nas margens do Don e nas costas de Stalingrado, com os exércitos comandados por Rokossovski, que acabavam de aniquilar o 3o Exército romeno e avançavam do norte, com o fim de fechar o gigantesco bolsão, dentro do qual ficaria encurralado o 6o Exército alemão. O General Paulus vislumbrou imediatamente a ameaça mortal que pendia sobre suas forças. Às 11 horas da manhã de 21 de novembro, seu QG situado na cidade de Golubinskaia, à beira do Don, foi atacado por tanques russos provenientes do norte. Tomados de surpresa, os alemães fugiram desordenadamente e deixaram abandonados grandes quantidades de veículos e materiais do Estado-Maior. Paulus conseguiu salvar-se num pequeno avião Fiseler-Storch, e se dirigiu a um novo posto de comando instalado mais ao sul, em Niini-chirskaia, onde o aguardava a ordem de Hitler que haveria se decidir a sorte do 6o Exército alemão. - O General Paulus deverá trasladar-se imediatamente a Stalingrado e estabelecer ali, com as unidades do 6o

Exército que se encontra entre o Volga e o Don, uma posição defensiva, que daqui em diante será designada como Fortaleza Stalingrado. Nessa mesma manhã, 10 tanques russos, disfarçados com insígnias alemães, apoderaram-se, num golpe de audácia, da ponte de Kalatsch, sobre o Don. O 6o Exército perdia assim, sua principal via de comunicação com a retaguarda. Travando rudes combates, as tropas de Rokossovski prosseguiram avançando para o sul, e na tarde de 22 de novembro estabeleceram contato com os tanques de Jeremenko. O cerco estava fechado. Dentro do gigantesco bolsão de quase 1.000 km², 20 divisões alemães e 2 romenas, com um total aproximado de 220.000 soldados, prepararam-se para cumprir a ordem de Hitler, de defender

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encarniçadamente a Fortaleza de Stalingrado. Os esgotados combatentes do 6o Exército cofiavam cegamente em que o Fuhrer os livraria da armadilha. Como se preparou a ofensiva O êxito da gigantesca manobra de cerco realizada pelos exércitos soviéticos, que se lançaram sobre ambos os flancos do 6o Exército alemão, foi fruto de um extraordinário esforço do comando russo, no campo de planejamento e organização. O plano de ataque havia sido elaborado, de forma coletiva, pelo próprio Stalin, Zhukov e Vassilevski. Estes, já no mês de agosto de 1942, quando os exércitos alemães avançavam vitoriosos sobre a grande cidadela do Don, delinearam o plano de ação a seguir três meses depois, e que culminaria com a arrasadora derrota do exército alemão. Foi Zhukov quem se incumbiu do trabalho de organização, embora, posteriormente, as versões oficiais tenham tratado de diminuir a sua intervenção, quando seu nome caiu em desgraça, nos anos seguintes. Em sucessivas reuniões com os chefes dos exércitos da frente de Stalingrado, Rokossovski, Jeremenko e Vatutin, foram sendo traçados os detalhes do plano operacional. A fim de concretizar os detalhes finais da ação, Zhukov visitou pessoalmente o QG de Vatutin a 5 de novembro e o de Jeremenko, no dia 10. Enquanto isso, continuavam os acelerados preparativos para a grande ofensiva. Esses preparativos eram executados no maior segredo. Durante as semanas que antecederam o início do ataque, o envio de correspondência para os oficiais e soldados dos exércitos que participariam da operação, foi totalmente interrompido. Durante a noite levou-se a cabo a concentração de tropas e pertences, sobre as margens do Don, ao norte das posições alemães. A concentração de forças no sul, apresentou dificuldades muito maiores, pois as linhas de estrada de ferro que corriam a leste do Volga haviam sido muito danificadas pelos bombardeios alemães. Além disso, nesse setor, ao contrário do norte, não existiam bosques, nem qualquer outro acidente natural que contribuísse para o ocultamento das forças. Apesar disso, conseguiu-se realizar com sucesso a concentração dos efetivos. Os serviços de exploração alemães conseguiram detectar, em parte, os movimentos das forças russas. No entanto, no QG de Hitler, não se deu importância aos sucessivos avisos enviados da frente. O General Paulus, por meio de seus oficiais de ligação, fez chegar até o Alto-Comando as alarmantes notícias. Porém, nenhuma atenção lhes dada. Enviou-se a Paulus a seguinte resposta: “As zonas assinaladas pelo 6 o

Exército, foram exploradas pela 4a Frota Aérea e comprovou-se que o inimigo não está concentrado em número assustador. O quadro que o inimigo apresenta é normal. Os movimentos observados pelo Comando do 6o Exército são os normais, de abastecimento”. Essas apreciações otimistas e totalmente afastadas da realidade, variaram alguns dias depois. Com efeito, os grupos de exploração da 4a Frota Aérea constataram, em meados de novembro, e poucos dias antes de começar a grande ofensiva russa, a veracidade dos informes do 6o Exército. Era, no entanto, muito tarde. Hitler, além disso, continuava convencido de que os russos haviam chegado já ao limite de sua capacidade de resistência e que, no iminente ataque, consumiriam suas últimas reservas de homens e material. Enviou a Paulus, em vista disso, uma mensagem que, segundo demonstraram os acontecimentos posteriores, atestava seu total alheamento da realidade. Seu texto dizia: “Os russos já não contam com reservas dignas desse nome e não estão, portanto, em condições de lançar uma ofensiva de grande envergadura...” 

Anexo Diretiva 45Principais parágrafos da ordem emitida por Hitler para a Wehrmacht, na qual determinou o ataque simultâneo a Stalingrado e ao Cáucaso:“23 de julho de 1942.Em uma campanha de pouco menos de 3 semanas atingimos a essência dos longínquos objetivos fixados por mim à ala sul da frente Leste. Somente algumas forças relativamente fracas do exército de Timoshenko conseguiram fugir ao envolvimento e alcançar a margem sul do Don. Devemos contar com o envio de reforços russos da zona do Cáucaso, assim como a reunião de outra formação inimiga na zona em redor de Stalingrado, cidade que o inimigo, provavelmente, defenderá tenazmente.Depois de aniquilar o grupamento inimigo ao sul do Don, a tarefa mais importante do Grupo de Exércitos A é apoderar-se de toda a costa sul do mar Negro. Com este fim, a ala ocidental deve avançar através do Kuban, da zona petrolífera do Maikop e dos desfiladeiros do Cáucaso ocidental, até a estrada costeira do mar Negro. A ala oriental, com um grupamento de forças a formar essencialmente por unidades rápidas, com a organização de uma proteção de flanco para o Leste, deve chegar à região petrolífera nas vizinhanças de Grozny e, depois de uma investida ao longo do mar Cáspio, apoderar-se da zona ao redor de Baku.

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Ao Grupo de Exércitos B cabe a tarefa, juntamente com a organização da defesa do Don, de destruir, numa investida contra Stalingrado, o grupamento que ali se está organizando, ocupar a cidade e a ponte terrestre entre o Don e o Volga, assim como interceptar o rio. Em seguida, devem empregar-se unidades rápidas ao longo do Volga, com a missão de arremeter até Astrakan; nesse ponto, interceptar igualmente o braço principal do Volga. Adolf Hitler”.  A segunda frente10 de agosto de 1942. Cairo. Embaixada da Grã-Bretanha. Excepcionais medidas de segurança cercam o edifício da representação inglesa. Numerosos soldados armados vigiam os arredores. Negras bocas de metralhadoras assomam pelas janelas. Quais as razões dessas extraordinárias precauções? Apenas uma. A presença de um homem. Um homem chave no desenrolar dos acontecimentos. Nada menos que Sir Winston Churchill.Nas primeiras horas da noite de 10 de agosto de 1942, no amplo salão de jantar da embaixada, Churchill janta em companhia de um reduzido grupo de colaboradores. A conversação, cautelosa, medida, gira em torno da próxima entrevista que o líder inglês deverá manter. Todo o cuidado é pouco. Nem uma palavra demasiada se diz esta noite. Nenhum ouvinte indiscreto poderá repetir o que for discutido. Na mente de Churchill tomam forma os argumentos que deverá usar no seu encontro. Pensa, medita, pesa suas futuras palavras. Sabe que seu próximo interlocutor é um homem prático, hábil, frio e capaz. Sabe que uma só palavra pode comprometê-lo irremediavelmente. Não é à toa que seu entrevistado é, há muitos anos, o senhor de todas as Rússias. A entrevista com Stalin, com efeito, está marcada para dois dias depois. É 12 de agosto de 1942, quando Churchill chega a Moscou. Cai a tarde, quando, no carro pessoal de Molotov, o líder inglês é conduzido a sua residência temporária, a Vila do Estado n° 7, a poucos quilômetros de Moscou.Às 19 horas do mesmo dia, em companhia de Molotov, Churchill se dirige ao Kremlin. Ali o aguarda Stalin. No interior do gabinete do dirigente vermelho, a entrevista adquire os requintes de uma reunião de homens de negócios. Em redor de uma mesa toma assento Stalin, Churchill, Voroshilov e Averell Harriman. Em torno deles, um silencioso grupo, integrado por três intérpretes, se coloca em seus lugares, fixados de antemão. O tema que surge imediatamente, e quase sem preâmbulos, é a segunda frente. O governo russo parece obcecado pela sua situação. Suas palavras, são ardentes, sem pausa, sem descanso; Stalin pede, solicita, exige a segunda frente contra a Alemanha. Churchill sereno, falando em voz baixa, responde a Stalin, expondo seus argumentos: “O momento ainda não chegou”. “Nossas tropas não estão em condições”.O diálogo se torna vivo, intenso. “Não temos elementos preparados”. “Nós, os russos, estamos suportando todo o peso da guerra”. “Precisamos de milhares de barcos”. “Os exércitos russos estão se esvaindo...”. “As tropas anglo-americanas precisam receber um treinamento especial”. “Milhões de soldados russo lutam sem trégua”. “Não é fácil invadir a Europa...”Stalin, falando rapidamente, diz: - Na França não há uma só divisão alemã que preste... Churchill, em seguida, rebate este argumento: - Na França existem 25 divisões alemães e nove delas são de primeira classe... Stalin diz: - O povo francês se levantará contra os invasores alemães... Churchill o interrompe: - Por que Hitler não invadiu a Inglaterra em 1940, quando tínhamos apenas 20.000 homens preparados, 200 canhões e 50 tanques? Stalin não se dá por vencido: - Não é o mesmo caso... Todo o povo inglês teria resistido...Quatro horas depois, a reunião termina. Em silêncio, os homens abandonam a sala. O final, dramático, não agrada Stalin. Não haverá segunda frente em 1942.  Chuikov12 de setembro de 1942. Stalingrado. A poucos metros da superfície, em um refúgio parcamente iluminado, dois homens se inclinam sobre uma mesa tosca. Diante deles está aberto um mapa. Marcas de lápis vermelho se misturam e confundem-se. Outras azuis, se aproximam das primeiras. O mapa, ensebado, pertence à cidade que um dos homens tem a responsabilidade de manter em mãos russas: Stalingrado.Os dois militares consultam-se com o olhar. Depois, um deles, que ostenta insígnias de tenente-general, traça uma nova linha vermelha. Dirige-se em seguida ao seu companheiro: - Distribua seus elementos, e reconquiste, a qualquer custo, a colina Mamai... Basil Chuikov, defensor de Stalingrado, acaba de dar mais um passo na sua tentativa de reter em suas mãos a importante cidade.O Tenente-General Basil Chuikov foi um fruto típico da revolução que inverteu as estruturas de seu país, nos primeiros anos do século. Operário até 1918, incorporou-se ao Exército Vermelho um ano depois, com a idade de 19 anos. Sem transição, sem experiência, tendo o seu entusiasmo como único capital, com essa mesma idade assume o comando de um regimento e participa em muitas ações bélicas. Até 1926, enviado da Rússia à China, participa ativamente como assessor de Chiang Kai-shek. Voltando à Rússia em 1927, continua sua carreira ascendente nas fileiras do Exército e alcança, com a idade de 37 anos, o posto de comandante de brigada. Em 1942, aos 42 anos de idade, Chuikov acha-se em Stalingrado, à frente de um exército do qual depende, sem dúvida, o destino da guerra.De costas para o Volga, o exército de Chuikov não pode retroceder. Não há opção possível para o tenente-general. Se há escolha, ela se resume a duas dramáticas alternativas: resistir ou perecer. Para Chuikov, Stalingrado assumiu um valor pessoal, próprio, e lutará por ela até o último alento. Apesar das ordens de Moscou, ou dos imperativos momentâneos do combate, Chuikov tem uma idéia fixa, obsessiva: manter Stalingrado em suas mãos. Expressou isso claramente nesse mesmo dia, 12 de setembro, às 10h da manhã, quando Nikita Kruschev, membro do Conselho de Guerra, lhe entregou o comando com estas palavras: - Os alemães decidiram tomar Stalingrado a qualquer custo. Nós não podemos, nem devemos entregar Stalingrado aos fascistas. Não podemos retirar-nos, e, além disso, não teríamos para onde... Chuikov,

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sem vacilar, foi curto, mas inflexível: - Não podemos entregar Stalingrado ao inimigo. É muito querida, a todos, a todo o povo russo... Serão tomadas todas as medidas para evitar a queda de Stalingrado... Juro que não abandonarei a cidade... Defenderemos Stalingrado... ou morreremos.No dia 2 de fevereiro de 1943, às 16h, os últimos sobreviventes do exército alemão se entregam à unidades russas. 99.000 soldados alemães prisioneiros e 147.000 mortos são cifras que mostram, com suficiente eloqüência, o ânimo da resistência russa.Chuikov cumprira a sua palavra: Stalingrado estava livre.  “Stalingrado é nossa”No início de novembro de 1942, ao alemães conheciam detalhadamente os movimentos dos exércitos russos a leste do Volga e do Don. Sabiam, além disso, em que consistia o terrível inverno russo. Porém, um otimismo, sem bases aparentemente sólidas, dominava o Alto-Comando alemão. Tudo se faria... Defesas adequadas... Reforços em quantidade suficiente...No dia 8 de novembro de 1942, por ocasião do aniversário do golpe de 1923, Hitler, na histórica cervejaria de Munique, anunciou que Stalingrado estava tomada. - Essa era a cidade que eu queria tomar. Agora, já a temos em nosso poder! Apenas alguns bairros da cidade ainda resistem. Alguém perguntará: Por que não acabar de uma vez? Respondo: Porque não quero fazer de Stalingrado uma segunda Verdun; porque prefiro empregar apenas unidades menores. O tempo não tem importância. Não passa de um barco pelo Volga! Talvez os homens que integravam o Estado-Maior não fossem, intimamente, tão otimistas, porém a influência do Fuhrer os convenceu, ou pareceu convencê-los.Até fins de novembro, Hitler comunicava-se com Paulus, incitando-o a exterminar definitivamente os grupos soviéticos que resistiam...  A batalha vista por ChuikovTranscrevemos algumas passagens das memórias do General Chuikov, nas quais relata os pormenores da terrível luta travada por suas tropas em defesa de Stalingrado.“13 de setembro de 1942Novos contra-ataques realizados ao amanhecer tiveram, em princípio, êxito, mas, ao despontar o dia, os aviões alemães, em grupos de 50 e 60 aparelhos, bombardearam sem interrupção as nossas forças. Assim, o contra-ataque fracassou. Ao meio-dia o inimigo lançou na luta numerosos tanques e infantaria motorizada. O golpe principal foi dirigido contra a Estação Central. Foi um ataque de uma violência excepcional. Apesar das numerosas perdas, os alemães conseguiram avançar. Colunas inteiras de tanques e infantaria motorizada irromperam no centro da cidade. Os nazistas aparentemente convencidos de que a sorte de Stalingrado estava selada, aceleraram o seu avanço para o Volga... Nossos soldados - atiradores, caçadores de tanques e artilheiros, emboscados nas casas, sótãos e redutos - puderam observar os nazistas embriagados descer dos caminhões e porem-se a saltar e bailar nas ruas, ao ritmo da música de suas harmônicas”.“18 de setembro de 1942Já não tínhamos força para contra-atacar. A 13a Divisão do General Rodimtsev estava completamente esgotada. Empenhou-se na luta desde o momento em que cruzou o Volga e teve que suportar o peso dos golpes mais violentos dos alemães... Teve que abandonar vários edifícios no centro de Stalingrado, porém isso não pode ser descrito como uma manobra de retirada. Ninguém mais podia pensar em retirada. Os guardas de Rodimtsev mantiveram-se firmes até o último extremo, e somente os homens gravemente feridos se afastaram, arrastando-se, do campo de luta. Com base nas informações dos feridos, deduzia-se que os nazistas, depois de conquistar a estação, continuaram sofrendo grandes baixas. Nossos soldados, quando ficavam isolados do grosso de suas divisões, se entrincheiravam em diferentes edifícios, em redor da estação, os debaixo dos vagões da estrada de ferro - geralmente em grupos de dois ou três homens - e continuavam dali, fustigando, dia e noite, os alemães“28 de setembro de 1942Apoiados por tanques, batalhões inteiros se lançavam ao ataque e isso permitia concentrar o fogo de nossa artilharia sobre eles... Solicitei então ajuda ao General Khrukin, comandante de nossa força aérea, que empenhou na luta todos os aparelhos que possuía. Foi durante esse grande ataque aéreo russo, que as tropas dos Generais Batyuk e Gorishnyi, assaltaram novamente a colina Mamai. Realizaram um apreciável avanço, mesmo fracassando na conquista do topo da colina, que continuou sendo terra de ninguém e permaneceu sob o fogo da artilharia de ambos os lados. Nesse dia os alemães perderam apenas em mortos 1.500 homens, além de 50 tanques. Apenas na colina Mamai jaziam 500 cadáveres alemães”.  Do diário de Richtofen23 de agosto de 1942De surpresa foi ordenada a mobilização de todas as forças da Quarta Frota Aérea do 8 o Corpo de Aviação, para serem lançadas na grande ofensiva. Conseguiram paralisar completamente o inimigo e ajudar os tanques da Wietersheim, que avançaram uns 60 km quase sem luta. Às 4 da tarde foi alcançado o Volga...25 de agosto de 1942Visitamos a 76a Divisão de infantaria, onde se encontrava o General Paulus. É bastante crítica a situação, pois não se pode contar com forças de reserva. A infantaria ficou retida à esquerda e à direita, e não podemos acudir em ajuda dos

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tanques. Esta ajuda não será possível senão dentro de três dias. O General Paulus ficou muito nervoso ao inteirar-se deste fato. A partir das 13h continuaram os intensos ataques contra a cidade de Stalingrado, provocando grandes incêndios e arrasando diversos quarteirões.27 de agosto de 1942O General Paulus está de mau humor. Sem novidades na frente. Paulus e Hoth não pensam em atacar antes de 29 de agosto.31 de agosto de 1942Continua o avanço pela região de Stalingrado...2 de setembro de 1942O 6o Exército e o 4o Exército blindado reuniram-se finalmente esta noite a 10 km a oeste de Stalingrado...10 de setembro de 1942Continuam as lentas lutas por Stalingrado.13 de setembro de 1942Estive pessoalmente, às 7h30, no campo de aviação dos caças, a 13 km de Stalingrado, em companhia do General Fiebig. Poucos êxitos em Stalingrado...16 de setembro de 1942Voltei a visitar o campo de aviação dos caças perto de Stalingrado. Avança muito lentamente a operação de limpeza da cidade, já que nossos homens estão esgotados, e nosso Alto-Comando, em pensamento, já está em Astrakan. O 8o Corpo de Aviação dá demonstração de pouca energia e não procede com todo o ímpeto necessário contra os objetivos. Dei ordens muito severas. No norte, voltam os russos a concentrar forças para o ataque. Essas forças serão bombardeadas amanhã.26 de setembro de 1942Nenhum avanço em Stalingrado. O 6o Exército não consegue dar um só passo para adiante, sobretudo porque os russos pressionam continuamente do norte, concentrando novas forças, divisões de infantaria... Combate-se nas ruínas da cidade, casa por casa.28 de setembro de 1942Hoje realizou-se um notável progresso em Stalingrado. Conquistamos a altura de 107,5 ao norte. Os russos empregam muita artilharia. Sobre Stalingrado não se viu um só avião russo.5 de outubro de 1942Em Stalingrado, Paulus decidiu, ao contrário do que se podia prever, renunciar a todos os ataques enquanto não receba tropas de reserva e haja agrupado novamente seu exército. Isto vai durar 5 dias.19 de outubro de 1942A situação em Stalingrado é muito pouco clara. Ao que parece, certas divisões transmitiram informes demasiado favoráveis. Ninguém sabe a quem atribuir... Todos se contradizem...9 de novembro de 1942Começou um intenso frio. A frente do combate do Don, gelada.14 de novembro de 1942Continuam o mau tempo e as nevadas. Tranqüilidade em Stalingrado. Nossos bombardeiros atacam com êxito as linhas de estradas de ferro, a leste de Stalingrado, para impedir a concentração de forças inimigas19 de novembro de 1942Os russos passaram ao ataque, hoje, no Don partindo da cabeça-de-ponte de Kremenskaia, contra a ala esquerda do 6 o

Exército. Conseguiram romper a frente Chir. As notícias são muito contraditórias. Porém, o certo é que os carros de combate russos lutam nas costas do 11o Exército e do 3o Exército romeno. Nossas forças preparam o contra-ataque. Cessaram os assaltos contra Stalingrado e as forças estão ocupadas em tapar as brechas. Os russos souberam aproveitar magistralmente o mau tempo.  Paulus assinala o perigoTranscrevemos um fragmento de um memorando de Paulus sobre a atuação em Stalingrado:“Já antes de começar o avanço para a grande bacia do Don, houve viva controvérsia entre o 6 o Exército e o Alto-Comando do Exército, com respeito, em primeiro lugar, ao flanco norte, cada vez maior e pouco protegido e, em segundo lugar, à reduzida capacidade combativa no sentido do ataque, quando se destinavam unidades para a proteção dos flancos.“A chegada dos aliados (romenos, húngaros, etc.) ao Don, representou única e exclusivamente um ligeiro alívio. Nem pelo número, nem pelo valor combativo, pessoal e material, constituíam uma grande ajuda esses reforços. Claro indício desse fato foi certo episódio ocorrido durante a construção da frente defensiva italiana junto do Don: em fins de agosto, um fraco avanço russo através do Don, na região de Serafimovitch, ocasionou o recuo de uma divisão italiana 20 km para o sul. Durante minha visita ao QG do Fuhrer, em Winniza (Ucrânia), a 12 de outubro de 1942, chamei a atenção sobre: a: os pontos fracos da frente (Stalingrado); b: os perigos que pairavam sobre os flancos e a necessidade de intercalar unidades alemães às aliadas e mantê-las de reserva por trás da primeira linha da frente.“Em fins de setembro foi enviado o oficial de ligação do Estado-Maior, incorporado ao 6o Exército, comandante Menzel, ao Alto-Comando para interceder a favor de: a: aumento de potencial bélico; b: proteção dos flancos”.  Informes da frente

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Transcrevemos parte de um telegrama enviado por um jornalista americano que visitou a zona de combate de Stalingrado, pouco depois de iniciada a grande ofensiva. Seu texto diz:“Ao longo de todas as vias férreas que correm para a frente de luta, há um contínuo e tremendo deslocamento de armamentos - Katyushas, canhões, tanques, munições - e soldados. O tráfego se desenvolve dia e noite e o mesmo ocorre nas rodovias, com a mesma intensidade. É particularmente intenso durante a noite. Não se vê praticamente equipamento britânico ou americano, com exceção, ocasionalmente de um jipe ou de um tanque; aproximadamente 99% do material é de fabricação russa. Uma proporção regularmente elevada de víveres é, no entanto, americana, especialmente o toucinho, o açúcar e o presunto. No momento em que cheguei a Serafimovich, os russos se empenhavam, não apenas em consolidar um primeiro cerco em torno de Stalingrado, mas também em estender um segundo “anel”, e via-se claramente pelos mapas que os alemães de Stalingrado já estavam completamente encurralados, e não poderiam escapar. Percebi, entre os soldados e oficiais, um sentimento de confiança em si mesmos que, antes, não havia jamais notado no Exército Vermelho. Na batalha de Moscou não existia nada de semelhante. Muito atrás das linhas de combate havia agora milhares de romenos que perambulavam pelas estepes, maldizendo os alemães e procurando desesperadamente, os centros de socorro dos russos, ansiosos por ser formalmente capturados como prisioneiros de guerra. Alguns chegavam a entregar-se à caridade dos camponeses da região. Estes os tratavam caritativamente, ainda que fosse apenas pelos simples fato de que não eram alemães. Os russos achavam que não eram mais que “pobres camponeses como nós”. Com exceção de alguns grupos da Guarda de Ferro, que, esporadicamente, ofereceram dura resistência, os soldados romenos estavam fartos da guerra; os prisioneiros que vi, todos, mais ou menos expressavam a mesma coisa: “Esta é uma guerra de Hitler e nós não temos nada que fazer aqui no Don”. Quanto mais me aproximava de Stalingrado, mais numerosos eram os prisioneiros alemães. A estepe oferecia um espetáculo fantástico; estava coberta de cavalos mortos, enquanto que outros cavalos, agonizantes, mantinham-se de pé, sobre as patas congeladas; era algo patético. Mais de 10.000 cavalos morreram durante a investida dos russos”.