Olhar da ciência sobre o yoga
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CASA DE YOGA SHANTI OM
CURSO LIVRE DE FORMAÇÃO PARA INSTRUTORES DE YOGA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Profa. Maria Laura Garcia Packer
OLHAR DA CIÊNCIA SOBRE O YOGA
ALESSANDRA BERTINATTO
- JOINVILLE -JUNHO 2011
SUMÁRIO
I INTRODUÇÃO.................................................................................................................................4
1.2 OBJETIVO.................................................................................................................................6
1.3 JUSTIFICATIVA........................................................................................................................6
II REVISÃO DE LITERATURA.........................................................................................................8
2.1 YOGA – SAÚDE X DOENÇA..................................................................................................8
III MÉTODO........................................................................................................................................9
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA.....................................................................................9
3.2 AMOSTRA.................................................................................................................................9
3.3 COLETA DE DADOS................................................................................................................9
3.4 ESTATÍSTICA............................................................................................................................9
IV RESULTADOS..............................................................................................................................10
4.1 CRONOLOGIA DA PUBLICAÇÃO DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA . . .10
4.2 LÍNGUA DAS PUBLICAÇÕES DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA...........11
4.3 SUB-TEMAS REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA...............12
4.4 MODALIDADES REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA.........13
4.5 COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS DE YOGA PUBLICADAS...........................................14
V CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................17
VI REFERÊNCIAS............................................................................................................................18
“Não acrediteis em coisa alguma
pelo fato de vos mostrarem o testemunho escrito
de algum sábio antigo;
Não acrediteis em coisa alguma
com base na autoridade de mestres e sacerdotes;
Aquilo, porém, que se enquadrar na vossa razão,
e depois de minucioso estudo
for consumado pela vossa experiência,
conduzindo ao vossa próprio bem
e ao de todas as outras coisas vivas;
A isso aceitai como verdade;
E daí, pautai vossa conduta!”
(BUDA)
I INTRODUÇÃO
O Yoga constitui-se de um complexo sistema que integra os fatores físico, moral e espiritual
do ser humano1. Teve sua origem na Índia há cerca de 2.000 anos2 e sua raiz etnográfica provém do
Sânscrito, língua oficial indiana, e significa união, ligar, manter unido (ELIADE, 1996)3. O Yoga
baseia-se em 8 princípios que conferem os Yoga Sutras de Patanjalí2. Também conhecidos como os
oito passos do Yoga, esses princípios incluem disciplina (yamas), auto-controle (niyamas), prática
corporal (asana), controle da respiração (pranayama), introspecção dos sentidos (pratyahara),
concentração (dharana), meditação (dhyana) e conexão espiritual (samadhi)2.
Há milhares de anos, os Yoguis (dedicados cientistas do mundo interior e da psicologia
profunda) intuitivamente chegaram a diversas conclusões sobre a condição humana. Foram ainda
mais além e desenvolveram técnicas práticas para se obter o equilíbrio harmônico sobre si mesmo5.
Dessa forma, com a prática de Yoga, a integração do Ser Humano é promovida a partir do equilíbrio
entre seus aspectos físicos, espirituais, psicológicos e sociais4.
Por se tratar de uma filosofia profunda e complexa, repleta de técnicas que beneficiam a
vida do ser humano, principalmente a partir de 1900, deu-se início a curiosidade em testar essas
técnicas cientificamente a fim de comprovar sua eficácia, sua aplicação e indicação. Isso se deu a
partir da relação crescente que ocorreu entre os orientais e ocidentais.
Segundo Krieger (2001)6 o “sopro inicial” do Yoga no Ocidente ocorreu em 1893, com a
chegada de um mestre indiano aos Estados Unidos, o Swami Vivekananda. A partir daí, começa a
existir um fluxo de mão dupla entre mestres que chegam da Índia, trazendo suas técnicas e
ensinamentos e no sentido inverso, os ocidentais iniciando uma peregrinação ao Oriente em busca
dos conhecimentos e ensinamentos espirituais. Outro precursor do Yoga no ocidente foi Swami
Sivananda que estudou medicina e percebeu que esta apenas curava na superfície, e já que muitos
problemas vinham do psiquismo humano, era importante divulgar uma visão abrangente do ser
humano.
As primeiras investigações científicas foram realizadas pelo Swami Kuvalayananda a partir
de 1920. A tentativa de dar bases científicas ao Yoga tornaram-se públicas em 1924, quando lançou
o Yoga Mimamsa Journal, no Instituto Kaivalyadhama, onde muitas descobertas foram feitas sobre
os efeitos terapêuticos do Yoga sobre certas doenças7. Kuvalayananda desenvolveu uma abordagem
do Yoga apropriada à mente do homem do século XX, mais racional. Esta abordagem científica foi
um dos fatores que permitiu o aumento de adeptos do Yoga no ocidente.
Em 1933, Mircea Eliade apresenta a primeira tese acadêmica sobre Yoga no Ocidente, na
Universidade de Bucareste, publicada em 1936 em francês3. Outras tentativas posteriores foram
feitas por organizações e isoladamente, tanto na India quanto no exterior, mas só em 1961 foi
escrito o primeiro livro abrangente sobre o assunto*, publicado pelo governo da India, através de seu
Ministério da Saúde.
No Brasil, Caio Miranda, oficial militar, começa a ensinar Yoga nos anos 1940, no Rio de
Janeiro e publica o primeiro livro sobre o assunto, Libertação pelo Yoga, em 1960. O olhar
científico sobre o Yoga foi introduzido pela Profa. Mestra Ignêz Novaes Romeu, que fundou em São
Paulo o Instituto de Yoga Lonavla (1975). Finalmente, o Yoga atinge a “maioridade”, sendo
reconhecido por várias instituições de diferentes campos do conhecimento, entre elas o Ministério
da Saúde Brasileiro que o identifica, em 2003, como uma Prática Complementar de Saúde.
Nos últimos 10 anos, um número crescente de estudos têm demonstrado que a prática de
Yoga pode promover efeitos favoráveis para o Ser Humano. São encontrados efeitos físicos, como
flexibilidade, força e resistência muscular, controle de variáveis fisiológicas, como dor, pressão
arterial, respiração, frequência cardíaca e melhora do condicionamento físico; controle de variáveis
psicológicas como ansiedade, depressão, estresse, fadiga e estados de humor, além de efeitos
sociais, como mudança no estilo de vida8,9,10,11.
* Yogaterapia: princípios básicos e métodos. Swami Kuvalayananda e S. L. Vinekar
1.2 OBJETIVO
1.2.1 Objetivo geral
Este estudo objetivou revisar a literatura científica sobre estudos realizados sobre o tema
Yoga.
1.2.2 Objetivos específicos
− Analisar a quantidade de artigos científicos publicados sobre o Yoga.
− Analisar a cronologia da publicação de artigos científicos sobre o Yoga.
− Analisar os países que publicaram artigos científicos sobre o Yoga.
− Analisar os sub-temas estudados nos artigos científicos sobre o Yoga.
− Analisar as modalidades de Yoga estudadas nos artigos científicos sobre o Yoga.
− Descrever algumas das comprovações científicas sobre Yoga.
1.3 JUSTIFICATIVA
Este é um trabalho de conclusão de curso de Yoga, de um curso muito aprofundado na
filosofia e prática de Yoga. A escolha do tema se deu pelo fato de que, pessoalmente, a autora,
durante o processo do curso, se questionou sobre pesquisar o Yoga cientificamente. Durante a
preparação para o mestrado, percebi que, em minha vida naquele momento, mais importante era
praticar! Auto-esforço e determinação, contentamento e não-violência. Escolhas...
Hoje fazendo esse estudo, mais ou menos para fechar essa coisa da pesquisa, resolvi fazer
em formato acadêmico, bem científico, para poder mostrar o modelo padrão do método científico
atual, tanto para meus companheiros da Sangha, quanto para os próximos alunos. Como é o tal do
método científico? Então este é um artigo científico sobre os artigos científicos sobre Yoga, que
tenta mostrar o quanto já se estudou sobre Yoga, no mundo acadêmico. A ideia é também provocar o
questionamento sobre a Ciência. Se ela dará conta de mensurar os efeitos de uma prática milenar e
sagrada, em curtos períodos de tempo (1 sessão, 3 meses...) e sobre aspectos que vão desde o nível
físico ao espiritual do ser humano.
Já se pode encontrar preocupações de médicos e profissionais da saúde sobre a utilização
excessiva de medicamentos, de medidas invasivas de cura e outras intervenções convencionais. Um
grande número de modalidades não-farmacológicas demonstram efeitos mais favoráveis na
manutenção da saúde12. Brown e Gerbarg (2005)13 afirmam que intervenções corpo-mente são
benéficas tanto para desordens físicas quanto mentais. Esse autor propõe que existem bastantes
evidências de que os benefícios de um programa que combine posturas, respiração e
meditação/relaxamento, pode caracterizar-se por um método de baixo risco e baixo custo para
complementar o tratamento do estresse, ansiedade, estresse pós-traumático, depressão, doença
relacionada ao estresse, entre outros.
Dentre elas o Yoga, que mais que uma terapia é uma filosofia de vida. Uma prática profunda
e sagrada. A partir da vivência dessa filosofia, os praticantes obtém um ganho significativo de
saúde, sob seus diversos aspectos. Este estudo justifica-se também por ser um meio para demonstrar
aos instrutores de Yoga, profissionais da saúde e médicos, os resultados obtidos de um pequeno
número de sessões de Yoga sobre a Saúde de diversas pessoas.
II REVISÃO DE LITERATURA
2.1 YOGA – SAÚDE X DOENÇA
Segundo Raymond e Brown (2000)14, atualmente tem sido difícil compreender o processo
saúde/doença pois os sintomas sentidos pelos pacientes desafiam o modelo de doença da medicina
convencional que não apresenta uma abordagem terapêutica efetiva. De acordo com Masi, White e
Pilcher (2002)15 as causas associadas à doença podem ser melhor compreendidas apenas quando a
avaliação do indivíduo parte do ponto de vista biopsicossocial, ou seja, a compreensão das causas
das doenças deve considerar características únicas individuais (bioquímicas, biomecânicas e
psicossociais), além do estado emocional e do ambiente ou contexto sociocultural ao qual o
indivíduo está inserido.
Estas limitações da medicina convencional têm levado os pacientes a optarem por terapias
alternativas e complementares16 que consistem em um grupo de práticas terapêuticas que se diferem
da medicina convencional17. Segundo os pesquisadores, essas práticas se baseiam em diversas
filosofias e formas de intervenção que focam sobre a saúde do indivíduo ao invés da doença, visto
que o modelo tradicional da medicina que enfatiza o cuidado com a doença passa a ser substituído
pelo novo paradigma da responsabilidade pessoal para manutenção da saúde.
Segundo Gaertner (2002)18, historicamente esta visão integrada do funcionamento humano é
encontrada em várias expressões milenares das tradições orientais. Na Índia, entre as várias escolas
voltadas ao desenvolvimento humano e também à saúde destacam-se o Yoga e a Medicina
Ayurvédica, sendo seu foco a concepção de que o funcionamento humano se dá a partir de uma
integração psico-somato-energético-espiritual.
Saúde, no Yoga, significa ausência de fatores que perturbem a mente e não apenas ausência
de doença7. Segundo esse autor, o Yoga dá maior ênfase à saúde mental, onde qualquer sinal de
doença manifestado no corpo é resultado de um desequilíbrio mental ou atitude não saudável. Nesse
contexto, é possível que a prática de Yoga possa ser um recurso auxiliar importante para a
manutenção da saúde, uma vez que constitui-se de um sistema filosófico que promove ao praticante
um domínio harmônico sobre si mesmo, através da consciência corporal16.
III MÉTODO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
Essa pesquisa se caracteriza como uma Revisão de Literatura, ou seja, uma pesquisa de todo,
ou boa parte, do material publicado sobre Yoga no mundo, na atualidade.
3.2 AMOSTRA
A amostra do estudo foi constituída de artigos publicados em bases de dados científicos de
saúde, que continham o termo Yoga no título e/ou resumo e que foram publicados desde os
primórdios até a atualidade (2011).
3.3 COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados a partir de duas bases de dados científicos de saúde, sendo elas
Science Direct e PubMed.
O total de artigos foi diferenciado por ano de publicação, país proveniente do estudo, sub-
temas (doença sistêmica, alterações ortopédicas, distúrbios emocionais, alterações
cardiorrespiratórias, população e outros) e por modalidade de Yoga.
Foram excluídos artigos idênticos publicados nas duas bases de dados, bem como os artigos
cujos títulos e resumos não tivessem relação com o objetivo do estudo.
3.4 ESTATÍSTICA
A partir do montante final de artigos, foi realizada estatística descritiva onde foram
distribuídas as frequências e médias dos dados objetivados neste estudo. Para isso foi utilizado um
programa estatístico.
IV RESULTADOS
Ao todo foram encontrados 7263 artigos. Foram excluídos 1591 por não haver a palavra
Yoga no título ou no resumo dos artigos, ou por se apresentarem em ambas as bases de dados.
Os resultados encontrados de acordo com os objetivos específicos do estudo estão descritos
a seguir.
4.1 CRONOLOGIA DA PUBLICAÇÃO DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA
Sobre essa questão, pode ser observado que os primeiros estudos foram realizados ainda no
início do século XX. É interessante observar o crescente número de publicações ao longo das
décadas, observando-se um salto, principalmente na década de 70 e novamente a partir do ano 2000
(Gráfico 1).
Gráfico 1 - Cronologia da publicação de artigos científicos sobre o Yoga
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 20000
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
3 7 7 19 6 23 64325
542781
3895
4.2 LÍNGUA DAS PUBLICAÇÕES DOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA
Com relação a língua de origem do artigo, podemos observar na tabela 1, que os artigos
escritos na língua inglesa foram os mais encontrados (90%), seguidos da língua alemã (3%) e
francesa (1,6%). Outras línguas também foram catalogadas, entre elas o português (n=4) e o
sânscrito (n=1).
A relação com a língua inglesa se dá uma vez que a Europa, principalmente a Inglaterra,
apresenta grande interesse em desvendar os mistérios indianos. Além disso, sendo o inglês uma
língua considerada universal, prefere-se publicar nesse meio para que haja maior abrangência do
conhecimento obtido. Inclusive, alguns periódicos, mesmo brasileiros, exigem a tradução do artigo
para a língua inglesa para que seja aprovado para publicação.
Tabela 1 - Língua das publicações dos artigos científicos sobre o Yoga
Língua Frequência
Inglês 5123
Alemão 171
Francês 93
Russo 50
Espanhol 35
Italiano 32
Japão 21
Turco 8
Chinês 4
Outros 135
Total 5672
4.3 SUB-TEMAS REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA
Foram encontrados diversos subtemas de Yoga. Os mais prevalentes são relacionados a
alguma condição física ou emocional alterada, ou seja, estudaram o Yoga a partir de seu enfoque
terapêutico (Tabela 2).
Tabela 2 – Subtemas referentes aos artigos científicos sobre o Yoga
Grande subtema Subtemas Frequência
- Doenças Câncer 470
Hipertensão 303
Asma 224
Diabetes 196
Epilepsia 89
AIDS 57
Desordens alimentares 46
Intestino 24
Fibromialgia 21
Doenças neurológicas 17
Estômago 17
Rim 14
- Problemas ortopédicos Dor 613
Lombalgia 146
Ortopedia 39
Osteoporose 24
- Distúrbios emocionais Estresse 812
Ansiedade 513
Depressão 459
Saúde mental 342
-População Mulheres 2434
Idosos 1743
Crianças 381
Gestantes 160
- Distúrbios cardiorrespiratórios Pulmão 1306
Coração 549
- Outros subtemas Meditação 1176
Filosofia 623
Sono 262
4.4 MODALIDADES REFERENTES AOS ARTIGOS CIENTÍFICOS SOBRE O YOGA
Pode ser observado que 4585 artigos foram escritos sem identificar a modalidade da prática
de Yoga utilizada no experimento, ou seja, que utilizaram técnicas do Yoga para estudar seus
devidos resultados.
Apesar disso, no gráfico 2 podemos observar que, dentre os estudos que classificaram a
modalidade no experimento, o Hatha Yoga foi a de maior interesse (n=514) pelos pesquisadores,
seguida pelo Iyengar Yoga (n=166) e Kundalini Yoga (n=141).
Gráfico 2 - Modalidades de Yoga estudadas nos artigos científicos sobre o Yoga
Kripalu Ashtanga Sudarshan Raja Kundalini Iyengar Hatha0
100
200
300
400
500
600
21 4677
122 141 166
514
4.5 COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS DE YOGA PUBLICADAS
A seguir estão descritos alguns resultados interessantes de estudos sobre a prática de Yoga.
São temas diversos, como efeitos da respiração, atuação na dor, nos distúrbios emocionais, etc.
Sobre sua prevalência, em 1998, um estudo realizado com mais de 2 mil pessoas pela
Harvard Medical School, nos Estados Unidos, foi encontrado que 7,5% dos entrevistados haviam
praticado Yoga, pelo menos uma vez na vida (valor estimado: 15 milhões de pessoas), sendo que, no
momento da entrevista, 3,8% praticavam Yoga nos últimos 12 meses (7,4 milhões de pessoas)1.
Além disso, neste mesmo estudo foi encontrado que 63,7% utilizavam o Yoga em busca de bem-
estar e 47,9% para condições de saúde especificas como dores na coluna (21,0%), ansiedade
(8,2%), artrite (6,8%), depressão (6,6%) e fadiga (4,0%). Pode-se observar ainda, que dentre os
praticantes, 68,2% eram mulheres. Em 2002, esse estudo foi realizado com uma amostra maior de
participantes (>30 mil pessoas) e os seguintes dados foram encontrados: 10 milhões de praticantes,
com idade média de 40 anos, onde 76% eram mulheres e 61% relataram praticar Yoga para
manutenção da saúde, principalmente relacionando a dores musculoesqueléticas e à saúde mental 19.
Quanto à respiração, foi realizado um estudo brasileiro em 2006, pelos autores Godoy,
Bringhenti, Severa, et al. (2006)20, que comparou o efeito de provas espirométricas e pressão
inspiratória máxima entre a prática de Hatha Yoga e de ginástica aeróbia. Participaram da pesquisa
31 indivíduos (Yoga n= 16; ginástica n= 15), que realizaram duas sessões semanais de
aproximadamente 60 minutos, durante três meses, de Yoga ou ginástica aeróbia. Os resultados
encontrados quanto à prática de Yoga foram os seguintes: aumento de 20% na pressão inspiratória
máxima e ganho de função mais expressivo em relação ao grupo de ginástica. O estudo mostrou,
ainda, maior predominância do sexo feminino nas práticas de Yoga, indicando a preferência pela
modalidade.
Em outro estudo, realizado por Willians, Petronis, Smith, et al. (2005)21, 44 pessoas com
média de idade de 48 anos e portadoras de lombalgia crônica participaram de 16 semanas de Yoga.
Houve resultados significativos na capacidade funcional, sendo significativamente maior nos
praticantes de Yoga (70%), diminuição de 64% da intensidade da dor e 88% dos participantes
diminuiu ou parou de tomar medicamentos para controle da dor.
Ainda quanto à dor, o hormônio GABA (ácido gama-aminobutírico), responsável pela
inibição da dor no sistema nervoso central, Strenguita, Jensen, Perlmutter, et al. (2007)22, realizaram
um estudo de comparação entre os níveis desse hormônio antes e depois de uma prática de Yoga. O
estudo foi realizado com 11 praticantes de Yoga que realizaram uma sessão de 60 minutos de Yoga.
O resultado do antes e depois demonstrou aumento de 27% nos níveis de GABA, evidenciando que
em praticantes de Yoga, apenas uma sessão de Yoga pode promover o aumento desse hormônio.
Esse estudo sugere que a prática de Yoga é útil para doenças relacionada à diminuição desse
hormônio.
A prática avançada de Yoga pode levar à inibição da atividade cerebral em áreas
relacionadas à dor, havendo estudos que relatam que praticantes de Yoga, quando em estado
meditativo, alegam não sentir dor23. Neste estudo um mestre de Yoga de 65 anos de idade, com 38
anos de prática, recebeu estímulos nocivos provenientes de um lazer durante estado meditativo e
não meditativo. Suas variações cerebrais foram controladas por meio de magnetoencefalograma e
ressonância magnética funcional, os quais que não demonstraram resposta esperada de dor. Ao ser
questionado sobre a intensidade da dor sentida em ambas as condições, não-meditativa e meditativa,
seus escores em uma escala de 0 (nenhuma dor) a 10 (dor extrema), foram 8 e 0 respectivamente.
Em outro estudo, realizado com pacientes com Fibromialgia constatou-se analgesia
significativa através da Yoga após três meses de prática, bem como imediatamente após cada sessão,
o que demonstra que o Yoga pode ser um recurso importante para reduzir a intensidade da dor nesta
síndrome dolorosa crônica24.
Quanto ao efeito da prática de Yoga sobre os fatores emocionais, Woolery, Myers, Sternlieb,
et al. em 200425 realizaram um estudo onde 28 sujeitos com idade entre 18 e 29 anos e níveis
moderados de depressão, que participaram de duas aulas semanais de Yoga, com duração de 60
minutos, durante cinco semanas. As variáveis estudadas foram depressão, ansiedade, estados de
humor e níveis de cortisol matinal. Os resultados da prática de Yoga foram: diminuição significativa
dos sintomas de depressão e ansiedade, diminuição significativa de raiva/hostilidade, tensão,
confusão mental, fadiga e distúrbios do humor em geral. Apresentou também aumento significativo
dos níveis de cortisol matinal no final do programa. A maioria dos participantes de um estudo de
Brown e Gerbarg13 (2005), reportaram uma redução significativa do estresse logo após cada prática
de Yoga.
Em um estudo realizado por Cowen e Adams (2005)26, onde 26 pessoas que não haviam
praticado Yoga nos últimos seis meses participaram de seis semanas de Yoga realizadas duas vezes
por semana e com a duração de 75 minutos. Foram avaliados antes e depois das 12 sessões quanto a
fatores físicos como peso, altura, pressão arterial ao repouso, flexibilidade do tronco, força e
resistência muscular e quanto a fatores psicológicos como ansiedade, percepção de saúde, dor,
saúde mental, fatores sociais, capacidade funcional, bem estar e, qualitativamente, quanto à
percepção das aulas. Foram encontrados benefícios na pressão diastólica, força e resistência
muscular, flexibilidade, percepção de estresse e percepção de saúde. Os participantes referiram
ainda percepções quanto a não competitividade da prática, encorajamento quanto a buscar o limite
individual na prática, não excedendo-se, quanto ao desafio proposto pelas posturas e sentimento de
relaxamento após as aulas.
Avaliando a qualidade de vida, um estudo randomizado foi realizado pelos autores Smith,
Hancock, Blake-Mortimer, et al. (2007)27, comparando a prática de Hatha Yoga com exercícios de
relaxamento, quanto à redução do estresse, ansiedade, pressão arterial e melhoria da qualidade de
vida. Participaram dessa pesquisa, 117 sujeitos, sendo 83% mulheres, com média de idade de 44
anos que receberam 16 semanas de intervenção. Ambas as práticas favoreceram os participantes
quanto à redução do estresse e da ansiedade e promoveram aumento na percepção da saúde mental e
física. Dentre os praticantes de Yoga, 70% apresentaram melhora no sono e 20% referiram que a
prática de Yoga os fez realizar mudanças no estilo de vida. Houve também aumento da flexibilidade
em 32% no grupo de Hatha Yoga.
Sendo a qualidade do sono um fator fundamental para a qualidade de vida das pessoas,
Manjunath e Telles (2005)11, realizaram um estudo com 69 idosos, que foram divididos em três
grupos equivalentes em número e idade, para a prática de Yoga (posturas, respiração, relaxamento e
filosofia), de medicina ayurvédica (ervas e dieta) e um grupo controle. Foram avaliados quanto à
qualidade e quantidade do sono após 6 dias de Yoga ou Ayurveda e após três e seis meses da
intervenção inicial. A sessão de Yoga teve duração de 60 minutos por dia. Foram encontrados os
seguintes resultados em relação à prática de Yoga: diminuição do tempo de pegar no sono, aumento
no número de horas dormidas e quanto à sensação de descanso ao acordar. Não foram encontradas
diferenças significativas nos outros grupos em nenhuma das variáveis.
V CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com relação aos objetivos traçados por essa revisão de literatura, foi possível concluir que a
literatura científica sobre o tema Yoga é vasta, engloba diversos países, diversos sub-temas e
modalidades, demonstrando sua eficácia para um estilo de vida saudável (físico, mental, emocional,
energético e espiritual).
Vale lembrar que estudar o Yoga apenas por um período curto de tempo não é possível para
captar todo o conhecimento de uma prática pessoal constante irá proporcionar. Mas é também
interessante como, em apenas 1 sessão, tantas coisas podem ser mensuradas como benéficas.
Espera-se que o conhecimento sobre esse tema continue sendo explorado na teoria e na prática, em
prol da evolução da humanidade.
Devemos considerar que, neste estudo, apenas duas bases de dados foram pesquisadas,
havendo diversos outros recursos para captação desses dados, o que evidencia que na realidade, o
número de estudos científicos extrapola o encontrado neste artigo.
Que cada vez mais o Yoga seja colocado em prática! Que continue a ser ensinado aos seres
humanos, a fim de que, a partir da integralidade individual possa haver harmonia, paz e amor em
todo o planeta Terra e em todo Universo.
Om shanti. Namaste.
VI REFERÊNCIAS
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4ENGEBRETSON, J. Culture and complementary therapies. Complementary Therapies in Nursing & Midwifery, v. 8, p. 177-184, 2002.
5ARORA, H. L. A Ciência moderna à luz do Yoga milenar. Nova Era, 1999.
6KRIEGER, N. et al. Theories for social epidemiology in the 21 century: an ecosocial perspective. International Journal of Epidemiology, v. 30, p. 668, 2001.
7GHAROTE, M.L. Yoga Aplicada – da teoria à prática. Ed Phorte, 2ed, 2002.
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9RAUB, J. A. Psychophysiologic effects of Hatha on musculoskeletal and cardiopulmonary function: a literature review. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v.8, p. 797-812, 2002.
10KIMBERLY, A. W.; PETRONIS, J.; SMITH, D.; GOODRICH, D.; et al.: Effect of Iyengar therapy for chronic low back pain. Pain, v.115, p. 107-117, 2005.
11MANJUNATH, N. K., TELLES, S. Influence of & Ayurveda on self-rated sleep in a geriatric population. Indian Journal of Medical Research, v. 121, p. 683-690, 2005.
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13BROWN, R. P.; GERBARG, P. Sudarshan Kriya breathing in the treatment of stress, anxiety and depression: part II - clinical applications and guidelines. Journal of Alternative and Complementary Medicine, v.11, n. 4, p. 711-717, 2005.
14RAYMOND, M. C.; BROWN, J. B. Experience of fibromyalgia - Qualitative study. Canadian Family Physician, v.46, p. 1100-1106, 2000.
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18GAERTNER, G. Psicologia somática aplicada ao esporte de alto rendimento. (2002) Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC.
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