Olimpíadas escolares (2)

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Olimpíadas Escolares RESUMO Mesmo entre aqueles professores que não optaram por dirigir suas carreiras para a atuação no "esporte de alto nível", não é incomum o envolvimento e a participação em Jogos Esportivos de diferentes naturezas (muitas vezes chamados erroneamente de "olimpíadas"). De uma forma ou de outra, os professores da área acabam tendo que se envolver com tais atividades, seja arbitrando, conduzindo "equipes" ou até mesmo organizando-as, tanto no condomínio e na rua (meios não escolares) quanto na escola, nosso foco principal nesse estudo. Este trabalho surge exatamente da nossa prática e de nossa experiência de participação, nessas diferentes formas de jogos. Quase sempre estimulados e reforçados pelos nossos professores, normalmente de Educação Física. A inconformidade de sempre quem ganha é campeão nos conduziu à busca de novos caminhos, à procura de novas possibilidades embasadas em novos referenciais teóricos claros. Inquietava-nos a possibilidade de redimensionar tais Jogos, sempre tão marcantes dentro da estrutura escolar. Diz-se que o primeiro rio a ser conquistado é aquele que passa perto de casa. E assim nossa primeira experiência, nossa primeira tentativa de construir uma nova prática, se dará com as próprias "Olimpíadas Internas" do Centro Educacional Lato Sensu. O bem da verdade não está sozinho, temos o apoio e a compreensão da direção da escola, assim como professores, alunos e alguns colegas do Curso de Graduação em Educação Física do Centro Universitário Nilton Lins. Tal projeto somente se efetivou com a somatória das disciplinas Estágio Supervisionado I e II, que, somente aí conseguimos realizar uma primeira experiência de estágio nas escolas. Tal experiência, acima de tudo, nos mostrou que a "viagem" não era assim lá tão absurda, mas obviamente faltavam retoques, estudos e, quem sabe, em outros

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Olimpíadas Escolares

RESUMOMesmo entre aqueles professores que não optaram por dirigir suas carreiras para a atuação no "esporte de alto nível", não é incomum o envolvimento e a participação em Jogos Esportivos de diferentes naturezas (muitas vezes chamados erroneamente de "olimpíadas"). De uma forma ou de outra, os professores da área acabam tendo que se envolver com tais atividades, seja arbitrando, conduzindo "equipes" ou até mesmo organizando-as, tanto no condomínio e na rua (meios não escolares) quanto na escola, nosso foco principal nesse estudo.

Este trabalho surge exatamente da nossa prática e de nossa experiência de participação, nessas diferentes formas de jogos. Quase sempre estimulados e reforçados pelos nossos professores, normalmente de Educação Física.

A inconformidade de sempre quem ganha é campeão nos conduziu à busca de novos caminhos, à procura de novas possibilidades embasadas em novos referenciais teóricos claros. Inquietava-nos a possibilidade de redimensionar tais Jogos, sempre tão marcantes dentro da estrutura escolar.

Diz-se que o primeiro rio a ser conquistado é aquele que passa perto de casa. E assim nossa primeira experiência, nossa primeira tentativa de construir uma nova prática, se dará com as próprias "Olimpíadas Internas" do Centro Educacional Lato Sensu. O bem da verdade não está sozinho, temos o apoio e a compreensão da direção da escola, assim como professores, alunos e alguns colegas do Curso de Graduação em Educação Física do Centro Universitário Nilton Lins.

Tal projeto somente se efetivou com a somatória das disciplinas Estágio Supervisionado I e II, que, somente aí conseguimos realizar uma primeira experiência de estágio nas escolas. Tal experiência, acima de tudo, nos mostrou que a "viagem" não era assim lá tão absurda, mas obviamente faltavam retoques, estudos e, quem sabe, em outros contextos os resultados seriam melhores. E a oportunidade não tardou a surgir.

Assim, neste trabalho pretendemos apresentar sinteticamente uma proposta de Jogos Esportivos, desenvolvida em uma escola de classe média, que possui desde a Educação Infantil até a terceira série do Ensino Médio, que se encontra referenciada em um arcabouço teórico claro. Esperamos dar uma singela contribuição para a ainda incipiente discussão do assunto de nossa área.

Felizmente, já encontramos um número de trabalhos acerca de Jogos Esportivos Escolares bem mais significativos do que há anos atrás. Esperamos que nosso trabalho se incorpore nesses esforços de modificação. Longe de apresentar um modelo a ser seguido na íntegra, pretendemos apresentar uma proposta específica, que deve ser adaptada e criticada segundo as necessidades e possibilidades de cada escola, região, público-alvo, etc.

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JUSTIFICATIVA

Cabe-nos esclarecer inicialmente que nossa meta é discutir a importância desses Jogos no contexto escolar e, pragmaticamente, a partir da observação de sua constante existência como conteúdo, propor que sua realização se dê a partir de uma concepção teórica diferenciada. Assim, acreditamos que os jogos possam ser mais um dos elementos utilizados pelo professor de Educação Física, a partir da consideração precípua de que:

"Necessário se faz (...) a elaboração de normas que correspondam ao novo objeto da Educação Física escolar a expressão corporal como linguagem e como saber..." (Coletivo de Autores, 1992, p.42)

Elucidamos, então, que utilizaremos para embasar nossa proposta primordialmente os estudos do grupo de autores que se enquadram no movimento teórico da Educação Física Crítico-Superadora. Tal movimento teórico tem suas raízes em meados da década de 80, a partir do surgimento da necessidade de dar nova ordem aos rumos da Educação Física escolar e da cultura corporal em geral. A partir de fundamentos da crítica marxista, um grupo de estudiosos propôs a reavaliação dos papéis que a Educação Física vinha representando no cenário nacional, buscando propostas que reorientassem seus compromissos básicos até então. O movimento de redemocratização e rediscussão das instituições nacionais, que se deu com o fim do governo ditatorial militar golpista e a aproximação com a pedagogia e as ciências humanas, desta vez segundo uma ótica crítico dialética, foram fortes influências para o surgimento da Educação Física Crítico-Superadora.

Assim, ao apresentarmos nossa proposta de Jogos Escolares, embora também utilizemos elementos do estudo de Silvino Santin (1987), primordialmente esperamos estar enquadrando-a nas dimensões encaminhadas no interior de tal referencial teórico, a partir da consideração de três parâmetros sugeridos por Valter Bracht (1992): a educação do movimento, em consonância com as proposições da pedagogia crítica social dos conteúdos; a educação pelo movimento, a fim de aproveitar todas as possibilidades tão ressaltadas por estudiosos nas áreas de aprendizagem motora e psicomotricidade; e a educação para o movimento, preparando o indivíduo para pleno aproveitamento de seus momentos de lazer, embora concordemos com o Nélson Carvalho Marcellino (1987), quando sugere que tais momentos podem ser também aproveitados por atividades ociosas fundamentais como o pensar, o admirar, o refletir.

Nossa proposta de Jogos Escolares, a partir da compreensão da necessidade de reorientar o processo ensino-aprendizagem de forma a permitir ao aluno a percepção da natureza histórica dos conteúdos, objetivando a sua compreensão da produção humana como inesgotável e passível de mudanças, a fim de despertar-lhe o entendimento de suas possibilidades de intervenção nos rumos da sua vida, individual e social; pretende

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fundamentalmente se enquadrar na perspectiva da cultura corporal, em contraposição à proposta normalmente desenvolvida em consonância com o paradigma da aptidão física.

No paradigma da aptidão física, o conceito de esporte é o de alto rendimento. O esporte passa a suplantar todas as outras manifestações da cultura corporal, sendo considerado como fim em si e reprodutor de grandes competições. Seus fundamentos são passados de forma uniforme e direcionados à obtenção de resultados.

Nesse paradigma, os Jogos Escolares são momentos de singular importância. É o momento onde o professor-técnico percebe se seu trabalho obteve resultados com a vitória de seus alunos sobre os outros. Constitui-se o objetivo anual, para em função dos quais usam as aulas para treinamento. Constitui-se em verdadeiras batalhasEm contrapartida, o paradigma da cultura corporal,"... busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, mímica, e outros, que podem ser identificadas como forma de representação simbólica da realidade vivida pelo homem, historicamente criadas e culturalmente desenvolvidas" (Coletivo de Autores, op.cit., p.38)

Embora dentro dessa perspectiva o esporte permaneça importante, tal importância é dividida com outras manifestações, além do que seu ensino é diretamente ligado às necessidades de intervenção e compreensão social. Os aspectos técnicos não são abandonados, mas já não mais ocupam o centro do processo. Aliás, o processo e as intenções deste se equiparam em importância ao produto, agora não mais avaliado exclusivamente segundo rendimentos matemáticos. Com isso, o paradigma da cultura corporal mostra grande ligação com o processo de emancipação, à medida que, a partir da reflexão e do ressaltar da historicidade, possibilita:

"... a solidariedade substituindo individualismo, cooperação substituindo disputa, distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de expressão dos movimentos a emancipação negando a dominação e submissão do homem pelo homem" (ibid., p.40)

Um projeto de Jogos Escolares em consonância com tal paradigma é o que tentaremos apresentar. No decorrer de tal apresentação que será feita de forma fragmentada unicamente por motivos didáticos, apresentar-se-ão com maior profundidade as preocupações que nos levaram a tal estudo.

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OBJETIVO

Contemporaneamente, desde a década de 80, vem se discutindo a respeito da necessidade de serem formuladas alternativas paradigmáticas para a práxis pedagógica da Educação Física.

O presente ensaio não buscou em hipótese alguma preceder a constituição de um novo referencial teórico para os rumos da Educação Física. Visamos apenas contribuir com o contexto da produção teórica da Educação Física que tem como pressuposto básico a construção de um novo projeto político-pedagógico.

Nesse viés de análise, preocupamo-nos especificamente em tentar colaborar com o preenchimento de uma certa lacuna que nos parece existir nesta perspectiva da produção do conhecimento na Educação Física: como trabalhar pragmaticamente com paradigma da cultura corporal?

Buscamos, ao longo deste projeto, o seguinte objetivo: propiciar aos alunos do Centro Educacional Lato Sensu, através das Olimpíadas Escolares: socialização, harmonia e integridade física, social, emocional e cognitiva, através da prática de jogos desportivos.

Instaurar na escola, de forma marcante, uma Educação Física sob o prisma da cultura corporal, redimensionando os valores e/ou conceitos em relação a práxis desta disciplina no interior escolar, que via de regra são fundamentados pelo paradigma da aptidão física.

Firmar a Educação Física Escolar em uma perspectiva transdisciplinar, que lhe possibilite ver a sociedade em constantes mutações, onde o conhecimento é dinamicamente superado a cada momento, sendo preciso reformular nossos conceitos e/ou ações afim de que não percamos de vista os nossos objetivos: a valorização dos jogos escolares, mas não na competição de resultados, e sim na participação e união de todos os alunos.

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PROBLEMATIZAÇÃO

Este estudo pretende incentivar a prática desportiva na referida escola, através de jogos, brincadeiras e atividades lúdicas, em que haja a participação de todos os alunos devidamente matriculados, desde a primeira série do Ensino Fundamental, até o Terceiro ano do Ensino Médio, visando a integração, socialização, respeito e o aprimoramento de valores, que os mesmos poderão utilizá-los por toda a sua vida.

Com o objetivo de iniciá-los na interdisciplinaridade educacional perante a sociedade, visando o seu melhor viver e o seu bem estar físico, social, emocional e cognitivo, procuramos através das Olimpíadas Escolares, mudar o direcionamento e o significado único e exclusivo do jogo competitivo e de resultados, para um resultado que, o que menos importa é a vitória e sim a participação, o companheirismo e a integração de alunos de séries e faixas etárias diferentes.

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REFERÊNCIAL TEÓRICO

Embora tal preocupação possa parecer de menor importância já que, concordamos tal mudança não significa a garantia de mudanças efetivas, acreditamos que, na denominação Olimpíadas e/ou Jogos Olímpicos,

“... estas palavras, como qualquer outra linguagem, possuem funções próprias e semânticas estabelecidas, mas também tem um emprego e uma semântica dirigida. Elas constituem um conteúdo e uma intencionalidade bem determinada. Elas nos situam dentro de um contexto antropológico, social e educacional. 

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BORDIER, Pierre. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.

BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

MARCELINO, Nelson Carvalho. Lazer e educação. Campinas: Papirus, 1987.

PEREIRA Medeiros Flávio. Dialética da cultura física. São Paulo: Icone, 1988.

SANTIN, Silvino. Educação Física no terceiro grau: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: Unijuí, 1987.