Oliveira Santos Jd m
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Diversidade de helmintos intestinais em ces domsticos
(Canis familiaris Linnaeus, 1758) e de raposas
(Cerdocyon thous Linnaeus, 1766) no semirido do
Nordeste do Brasil e implicaes para a sade
Joo Daniel de Oliveira Santos
Dissertao apresentada Escola Nacional
de Sade Pblica, como parte das exigncias
do Programa de Ps-graduao em Sade
Pblica, subrea Abordagem Ecolgica das
Doenas Transmissveis, para a obteno do
ttulo de Magister Scientiae
Orientadora
Marcia Chame
ENSP/DENSP FIOCRUZ
Rio de Janeiro, maro de 2013
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Joo Daniel de Oliveira Santos
Diversidade de helmintos intestinais em ces domsticos
(Canis familiaris Linnaeus, 1758) e de raposas
(Cerdocyon thous Linnaeus, 1766) no semirido do
Nordeste do Brasil e implicaes para a sade
Dissertao apresentada Escola Nacional
de Sade Pblica, como parte das exigncias
do Programa de Ps-graduao em Sade
Pblica, subrea Abordagem Ecolgica das
Doenas Transmissveis, para a obteno do
ttulo de Magister Scientiae
APROVADO:
_____________________________ _____________________________
Dr. Adauto Jos Gonalves de Arajo Dr. Jonimar Paiva
ENSP/ FIOCRUZ UFRRJ
_____________________________ _____________________________
Dra. Flavya Mendes de Almeida Dr. Salvatore Siciliano
UFF ENSP/ FIOCRUZ
_______________________________
Dra.Marcia Chame
Orientadora
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DEDICATRIA
Ao meu querido pai, Paulo Sergio da Silva Santos (In Memoriam)
Ao grande amigo ciclista e vizinho, Svio Figueiredo (In Memoriam)
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iv
AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente ao Criador, por todas as maravilhas deste e de outros
mundos e do grande Mistrio da Vida, e a oportunidade de estar materializado neste mundo.
Ao meu querido pai terreno, Paulo Sergio da Silva Santos, por tudo o que eu sou
hoje, por todo seu sacrifcio em prol da famlia, pelo seu grande senso de humor e
sensibilidade. Sentimos muito sua falta, pai! Obrigado por toda a nossa formao, tanto
intelectual quanto como pessoas, e em que nosso reencontro ns possamos dividir as
alegrias da vida e deste amor latente.
minha me Maria Julia de Oliveira Santos, por ser o alicerce desta famlia,
durante as turbulncias imprevisveis da vida, e por seu grande amor para conosco.
Obrigado por aturar os frequentes azedumes do seu velhinho ... Obrigado por poder ser
seu filho, e por toda sua dedicao para conosco durante todos esses anos de nossa histria
de vida. Desculpe-me pelas vezes que a atingi com mgoa, mais saiba que o meu amor por
voc infinito, me!
minhas pequenas grandes irms, Ana Paula de Oliveira Santos e Ana Beatriz de
Oliveira Santos, por todo o seu apoio durante essa fase de grandes mudanas na vida.
Obrigado pela fora de vocs e podem contar comigo!
A toda minha famlia, meus tios Clia e Dlio, meus primos Fred, Taninha e Csar
Augusto, minhas priminhas Malu e Lili, minha madrinha ngela Beatrize a querida Vera
Lcia. Obrigado por fazer parte desta querida e estimada famlia, uma grande teia que
absorve os impactos da vida.
Aos meus queridos e finados avs, Maria Julia de Oliveira e Manuel de Oliveira,
pela grande fora de minhas razes... So elas que sustentam uma grande rvore! Espero
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v
que apreciem este trabalho, e que apesar da sua ausncia aqui na Terra, possam continuar
acompanhando minha vida de outra perspectiva.
minha querida orientadora Marcia Chame, a que devo inteiramente este trabalho
e minha vida acadmica... Obrigado por todo seu apoio, carinho e grandes ensinamentos,
e por ter sempre confiado em minha capacidade e ter aberto as portas de seu laboratrio
para mim. Obrigado pela oportunidade de ter sido seu orientando e por ter aberto as portas
deste sertozo velho, desconhecido pela maioria dos brasileiros... Agradeo mais ainda
por me confiar sua vida, como parceira de montanha e de escaladas! Desculpe-me por ser
um professor to chato e exigente s vezes!
Norma Labarthe, pelo companheirismo e grande humor durante todas as
expedies de campo e viagens em que ns estivemos juntos.
A todos dos Laboratrios de Paleoparasitologia e de Ecologia da Escola Nacional
de Sade Pblica Sergio Arouca (ENSP), especialmente para Adauto Arajo e Luciana
Sianto, alm de todos os pesquisadores, alunos e bolsitas do laboratrio, pela agradvel
convivncia e apoio durante minhas anlises parasitolgicas. Obrigado a Bruna, Juliana
Gomes, Juliana Dutra, Priscilla, Hugo, Ricardo, Vitor, rika, Arthur, Shnia, Isabel,
Thala, Andressa e Leonardo Pannaim.
A todos os colegas de mestrado, Mnica, Amanda, Carla, Lvia, Danielle, e
especialmente Morgana Camacho, Marianna Cavalheiro e Edison Amarante, pela grande
ajuda e apoio durante todo o mestrado e por ter dividido as aflies e agonias, acadmicas
ou no, durante este tempo juntos.
A todos os professores a que tive o privilgio de ter sido aluno em minha vida, tanto
no mestrado acadmico em Sade Pblica, como na graduao e com aluno do colgio
Marista So Jos, por terem feito parte da construo e formao do meu conhecimento e
da pessoa que sou hoje.
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vi
A numerosa equipe do Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e
Ambiente do semirido (INAPAS), especialmente Anne-Marie Pessis, por todo o apoio
na logstica e realizao de todos os trabalhos de campo no serto nordestino.
A toda equipe da Fundao do Museu do Homem Americano (FUMDHAM), que
nos ajudaram tanto nas expedies a campo no Piau, no Parque Nacional da Serra da
Capivara, especialmente Nide Guidon, por ser um grande exemplo e inspirao de luta,
persistncia e sacrifcio, para com seus ideais e objetivos de vida.
Aos companheiros piauienses de campo, principalmente Joo Leite, Francisco
Reinaldo, Rogerinho e Galeguinho, por toda ajudam para as coletas de amostras e logstica
dos trabalhos de campo.
Aos amigos de escaladas e aventuras nas montanhas, Fbio de Oliveira Leal Santos,
Rodrigo de Almeida, Cludio Peixoto Frana, Diego Falkenbach e Lizete Valle por
compartilhar os sonhos e a execuo de grandes aventuras.
Ao grande companheiro de pedaladas, Svio Figueiredo, que me ensinou e
estimulou para novas e divertidas experincias como bike rider ... Obrigado por tudo e
por ser meu amigo, Svio!
Aos meus companheiros caninos Zion, Baba e Raul, por toda alegria e amor
incondicional que os ces tm a nos oferecer.
Ao Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente INAPAS,
INCT/MCTI/CNPq pelo financiamento e oportunidade da realizao dos trabalhos de
campo e laboratoriais.
Ao CNPq pela Bolsa de Mestrado.
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vii
"Aquele que cresceu nas montanhas pode viver durante anos na cidade, desenvolver um
trabalho cientfico e enriquecer sua inteligncia, mas o que no pode fazer permanecer
eternamente l embaixo.
Quando v aparecer o sol entre as nuvens e sente o vento no rosto, sonha como uma
criana com novas aventuras nas montanhas. Comigo acontece exatamente isso.
(Reinhold Messner)
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viii
RESUMO
A sobreposio de habitats e reas de uso entre animais domsticos e silvestres pode favorecer o
fluxo de parasitoses entre espcies de hospedeiros, possibilitando a emergncia de parasitos,
inclusive nos seres humanos. Carnvoros silvestres so especialmente vulnerveis s alteraes no
habitat, o que promove aproximao entre eles e animais domsticos, como raposas na busca de
alimento (Cerdocyon thous Linnaeus, 1766) em comunidades humanas, e ces domsticos (Canis
familiarisLinnaeus, 1758) em reas naturais para a caa. O objetivo deste trabalho foi estudar a
biodiversidade dos helmintos intestinais de raposas e ces domsticos no semirido nordestino do
Brasil para identificar as espcies de helmintos de importncia epidemiolgica para a sade pblica,
a similaridade da ocorrncia de helmintos entre C. thous e C. familiaris, as diferenas nos ndices
de biodiversidade e da composio de helmintos em relao sazonalidade e antropizao nos
locais de coleta e quais as espcies de helmintos indicam esta diferena. Foram utilizados ndices
de Shannon (H), de Simpson (Ds) e equitabilidade (J), alm do ndice de similaridade de Sorensen,
do teste MRPP e dos Valores de Indicao (IVs) no programa PC-ORD. As amostras foram
coletadas oportunsticamente e diretamente do solo, em seis expedies no serto dos estados de
Pernambuco, Piau, Paraba, Rio Grande do Norte e Cear. Estas foram identificadas e analisadas
microscpicamente por meio de sedimentao espontnea (Lutz, 1919), e os ovos de helmintos
foram medidos e fotografados digitalmente. No total, 243 amostras foram analisadas, 132 de ces
e 111 de raposas. Foram encontradas sete morfoespcies de importncia epidemiolgica: Alaria
sp., Ancylostomatidae, Spirometra sp., Toxocara sp., Mesocestoides sp., Strogyloididae e Taenia
sp. A similaridade entre os helmintos nas duas espcies de hospedeiros foi de 50% e entre os de
importncia epidemiolgica foi de 90%, fato de relevante interesse sade pblica. Os ndices de
biodiversidade foram maiores em C. thous em todas as pocas sazonais em relao a C. familiaris,
e maior no perodo das secas (H =2,572 / Ds=0,8827). A composio das espcies de helmintos
em relao antropizao diferiu entre C. thous e C. familiaris em todas as reas analisadas. Para
sazonalidade, as espcies de alto valor de indicao (IVs) foram: Alaria sp. (63,2%) para estao
chuvosa e Ancylostomatidade, para estao chuvosa em ces (66,5%). Para antropizao,
Spirocerca lupi esteve associada (34,3%) a reas de povoados e comunidades rurais e Oxyuridae 3
(30,8%) associada a reas de Unidades de Conservao e de vegetao preservada. Os ndices de
biodiversidade de C. thous, maiores na seca, indicam espcies bem adaptadas ao semirido. O
encontro de ovos de Spirocerca lupi e Taenia sp. em fezes de raposas podem estar sinalizando a
emergncia de novas parasitoses neste hospedeiro, de importante atuao nos ecossitemas e biomas
que habita, como a Caatinga.
Palavras-Chave: helmintos, candeos, semirido, biodiversidade
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ix
ABSTRACT
Overlapping habitats and use areas between domestic and wild animals may favor the flow of
parasites between host species, allowing the emergence of parasites, including humans. Wild
carnivores are particularly vulnerable to changes in habitat, which promotes closer relations
between them and domestic animals, such as crab-eating foxes (Cerdocyon thous Linnaeus,1766)
in search of food in human communities, and domestic dogs (Canis familiaris Linnaeus,1758) in
natural areas for hunting. The aim of this work was to study the biodiversity of intestinal helminthes
of crab-eating foxes and domestic dogs in the semiarid northeast of Brazil to identify helminthes
species of epidemiological importance to public health, the similarity between the occurrence of
helminthes C. thous and C. familiaris, the differences in rates of biodiversity and composition of
helminths in relation to seasonality and human disturbance in the collection sites and which species
of helminths indicate this difference. We used Shannon indices (H '), Simpson (Ds) and evenness
(J), and the similarity index Sorensen, MRPP test and Values Statement (IVs) in the program PC-
ORD . The samples were collected directly from the ground and opportunistically in six
expeditions in the interior of the states of Pernambuco, Piau, Paraba, Rio Grande do Norte and
Cear. These have been identified and examined microscopically by spontaneous sedimentation
method (Lutz, 1919), and helminth eggs were measured and photographed digitally. A total of 243
samples were analyzed, 132 from dogs and 11 from crab-eating foxes. We found seven
morphospecies of epidemiological importance: Alaria sp., Ancylostomatidae, Spirometra sp.,
Toxocara sp., Mesocestoides sp., Strogyloididae and Taenia sp. The similarity of helminthes among
the two host species was 50% and among the helminthes with epidemiological significance was
90%, a fact of considerable interest to public health. The biodiversity indices were higher in C.
thous at all times in relation to seasonal C. familiaris, and higher during drought (H '= 2.572 / Ds
= 0.8827). The composition of helminth species in relation to human disturbance differed between
C. thous and C. familiaris in all areas analyzed. For seasonality, species of high value indication
(IVs) were Alaria sp. (63.2%) for the rainy season and Ancylostomatidade for dogs in the rainy
season (66.5%). To anthropization, Spirocerca lupi was associated (34.3%) areas of villages and
rural communities Oxyuridae and 3 (30.8%) associated to areas of Conservation and preserved
vegetation. The indexes of biodiversity of C. thous, the largest dry indicate species well adapted to
semiarid. The meeting Spirocerca lupi egg and Taenia sp. in feces of crab-eating foxes may be
signaling the emergence of new parasites in this host, an important role in ecosystems and biomes
it inhabits, as the Caatinga.
Keywords: helminthes, canids, semiarid, biodiversity
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x
LISTA DE ACRNIMOS
ACRNIMOS MORFOESPCIES DE HELMINTOS
ACANTO1 Acantocephala 1
ACANTO2 Acantocephala 2
ACANTO3 Acantocephala 3
ACANTO4 Acantocephala 4
ALARIA Alaria sp.
ANCYLO Ancylostomatidae
ASCAR Ascarididae
ASCARIS Ascaris sp.
MESOCEST Mesocestoides sp.
ENTVERM Enterobius vermicularis
NEMATO1 Nematoda 1
NEMATO2 Nematoda 2
NEMATO3 Nematoda 3
NEMATO4 Nematoda 4
ONCICO Oncicola sp
OXYURI1 Oxyuridae 1
OXYURI2 Oxyuridae 2
OXYURI3 Oxyuridae 3
OXYURI4 Oxyuridae 4
OXYURI5 Oxyuridae 5
PHYSAL Physalopteridae
RICTUL Rictulariidae
PLATYNO Platynossomum sp.
PROSTHE Prosthenorchis sp.
SPILUPI Spirocerca lupi
SPIRURI Spirurida
SPIROM Spirometra sp.
STRONGY Strongyloididae
TAENIA Taenia sp.
TOXOCAR Toxocara sp.
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xi
TOXASC Toxascaris leonina
TREMA1 Trematoda 1
TREMA2 Trematoda 2
TRICHOS1 Trichostrongylidae 1
TRICHOS2 Trichostrongylidae 2
TRICHU1 Trichuridae 1
TRICHU2 Trichuridae 2
TRICHU3 Trichuridae 3
TRICHU4 Trichuridae 4
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xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Cronologia da descrio de helmintos em Cerdocyon thous no Brasil, com
medidas de ovos.................................................................................................................35
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xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: ndices de biodiversidade de morfoespcies de ovos de helmintos encontrados
em amostras de fezes de C. thous e C. familiaris dentre parasitos de candeos e de outros
hospedeiros......................................................................................................................114
Tabela 2: Morfoespcies de importncia para a sade pblica suas respectivas frequncias
e doenas
associadas.........................................................................................................................114
Tabela 3: ndices de similaridade de Sorensen (IS) de morfoespcies encontradas em
amostras de fezes de C. thous e C. familiaris..................................................................115
Tabela 4: Morfoespcies de ovos de helmintos encontradas em amostras de fezes de Canis
familiaris, coletadas entre 2010 e 2012, oriundas do semirido do nordeste do Brasil, e suas
respectivas frequncias, prevalncia e abundncia de ovos de acordo com as estaes
sazonais do ano, e considerando o poliparasitismo...........................................................119
Tabela 5: Morfoespcies de ovos de helmintos encontradas em amostras de fezes de
Cerdocyon thous coletadas entre 2010 e 2012, oriundas do semirido do nordeste do Brasil,
e suas respectivas frequncias, prevalncia e abundncia de ovos em relao ao total
analisado e as estaes sazonais do ano, considerando o poliparasitismo................120 e 121
Tabela 6: ndices de biodiversidade e riqueza de espcies encontradas em amostras de fezes
de C. thous e C. familiaris nos diferentes perodos sazonais, entre 2010 e 2012, no
semirido do Nordeste do Brasil......................................................................................122
Tabela 7: Diferenas entre os arranjos de espcies de helmintos e abundancia de registros
dos helmintos encontrados em amostras de Cerdocyon thous em relao a sazonalidade
(MRPP), no semirido do Nordeste do Brasil de 2010 a 2012........................................125
-
.........................................................133 e
xiv
Tabela 8: Diferenas entre os arranjos de espcies de helmintos e abundancia de registros
dos helmintos encontrados em amostras de Canis familiaris em relao a sazonalidade
(MRPP), no semirido do Nordeste do Brasil de 2010 a 2012........................................126
Tabela 9: Valores de indicao (IVs) (%) das morfoespcies de ovos de helmintos
encontradas em C. thous associados aos perodos sazonais...................................127 e 128
Tabela 10: Valores de indicao (%) das morfoespcies de ovos de helmintos encontradas
em C. familiaris associadas aos perodos sazonais..........................................................131
Tabela 11: Diferenas entre os arranjos de espcies de helmintos e abundancia de registros
dos helmintos encontrados em amostras de Canis familiaris e de Cerdocyon thous em
relao aos nveis l de antropizao (MRPP), no semirido do Nordeste do Brasil de 2010
a 2012........................................................... 134
Tabela 12: Valores de indicao (%) das morfoespcies de ovos de helmintos encontradas
em amostras de fezes de C. familiaris associadas aos distintos graus de antropizao da
rea de estudo no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a 2012...............................135
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xv
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Cerdocyon thous, PARNA da Serra da Capivara, sudeste do Piau (Crdito: Joo
Daniel de O. Santos)...........................................................................................................28
Figura 2: Ces domsticos (C. familiaris) em povoado ao redor do PARNA da Serra das
Confuses, no sudeste do Piau (Crdito: Joo Daniel de O.
Santos)................................................................................................................................44
Figura 3: O vaqueiro, figura marcante do serto nordestino sempre acompanhado por seu
fiel ajudante. A representao pela esttua ( esquerda) ilustra a vida real ( direita), e
demonstram a importncia da relao entre ces e homens no nordeste brasileiro (Crdito:
Marcia Chame)...................................................................................................................45
Figura 4: Extrativismo vegetal para matriz energtica, um dos maiores impactos sobre a
biodiversidade da Caatinga. Olaria nas proximidades de carnaba dos Dantas, no Rio
Grande do Norte (Crdito: Joo Daniel de O. Santos).........................................................48
Figura 5: Diferentes paisagens do bioma Caatinga na rea estudo do semirido do nordeste
do Brasil (a partir do alto esquerda, em sentido horrio): (A) rea de adensamento
humano na cidade de Crato, Chapada do Araripe, Cear. (B) rea ruiniforme da frente de
cuesta no PARNA da Serra da Capivara, Piau. (C) rea de chapada na poca das chuvas,
PARNA da Serra da Capivara, Piau. (D) rea impactada pelas obras de transposio do
rio So Francisco, Pernambuco. (D) Regio de brejo de altitude, no Brejo da Madre de
Deus, Pernambuco. (E) Regio rida e rochosa do lajedo do Pai Mateus, Cabaeiras,
Paraba. (F) rea do Projeto de Integrao do rio So Francisco (PISF), na estao seca,
em So Jos de Piranhas, Paraba. (G) Aude de Gargalheiras, na regio do serid, no Rio
Grande do Norte. Foto Central: Regio rural do estado de Pernambuco (Crdito: Joo
Daniel de O. Santos)...........................................................................................................54
Figura 6: Mapa da regio de abrangncia do estudo de diversidade de helmintos em
candeos silvestre e domstico no semirido nordestino do Brasil....................................55
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xvi
Figura 7: Rotas percorridas nos trabalhos de campo de 2011 e 2012 no serto
nordestino...........................................................................................................................56
Figura 8: Coleta de amostra de fezes de raposa (C. thous) na regio do lajedo do Pai Mateus,
Cabaeiras, estado da Paraba. (Crdito: Edison Amarante)..............................................59
Figura 9: Imagem por scanner digital de amostras de fezes de Canis familiaris (Crdito:
Joo Daniel de O. Santos)...................................................................................................61
Figura 10: Imagem por scanner digital de amostras de fezes de Cerdocyon thous, mostrando
seu apsecto morfolgico. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..........................................61
Figura 11: Ovo de Oncicola sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................75
Figura 12: Ovo de Prosthenorchis sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)......................76
Figura 13: Ovo de Acanthocephala 1 (Crdito: Joo Daniel de O.
Santos)................................................................................................................................77
Figura 14: Ovo de Acanthocephala 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)........................77
Figura 15: Ovo de Acanthocephala 3 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)........................78
Figura 16: Ovo de Acanthocephala 4 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)........................79
Figura 17: Ovo de Alaria sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)....................................80
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xvii
Figura 18: Ovo de Platynossomum sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)....................81
Figura 19: Ovo de Trematoda 1 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................82
Figura 20: Ovo de Trematoda 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................82
Figura 21: Ovo de Spirometra sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............................83
Figura 22: Ovo de Taenia sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...................................84
Figura 23: Ovo de Mesocestoides sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)......................85
Figura 24: Ovo de Ancylostomatidae (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)......................86
Figura 25: Ovo de Toxocara sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..............................87
Figura 26: Ovo de Toxascaris leonina (Crdito: Joo Daniel de O. Santos).....................88
Figura 27: Ovo de Ascaris sp. (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..................................89
Figura 28: Ovo de Ascarididae (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)................................89
Figura 29: Ovo de Oxyuridae 1 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................90
Figura 30: Ovo de Oxyuridae 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................91
-
xviii
Figura 31: Ovo de Oxyuridae 3 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................92
Figura 32: Ovo de Oxyuridae 4 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................93
Figura 33: Ovo de Oxyuridae 5 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................94
Figura 34: Ovo de Enterobius vermicularis (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............95
Figura 35: Ovo de Physalopteridae (Crdito: Joo Daniel de O. Santos).........................96
Figura 36: Ovo de Rictulariidae (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)...............................97
Figura 37: Ovo de Spirurida (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)....................................98
Figura 38: Ovo de Spirocerca lupi (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..........................99
Figura 39: Ovo de Strongyloididae (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)........................100
Figura 40: Ovo de Trichostrongylidae 1 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)................101
Figura 41: Ovo de Trichostrongylidae 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)................102
Figura 42: Ovo de Trichuridae 1 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............................103
Figura 43: Ovo de Trichuridae 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............................104
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xix
Figura 44: Ovo de Trichuridae 3 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............................105
Figura 45: Ovo de Trichuridae 4 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)............................106
Figura 46: Ovo de Nematoda 1 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..............................107
Figura 47: Ovo de Nematoda 2 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..............................108
Figura 48: Ovo de Nematoda 3 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..............................109
Figura 49: Ovo de Nematoda 4 (Crdito: Joo Daniel de O. Santos)..............................110
Figura 50: Curva de acumulao de espcies de helmintos encontrados em fezes de C. thous
no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a 2012.........................................................112
Figura 51: Curva de acumulao de espcies de helmintos encontrados em fezes de C.
familiaris no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a 2012.......................................112
Figura 52: Valor de Indicao mdios (%) de helmintos em relao sazonalidade,
considerando o conjunto de espcies e a abundncia de amostras de fezes positivas de
Cerdocyon thous no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a
2012..................................................................................................................................129
Figura 53: Valor de Indicao mdios (%) da espcie em relao sazonalidade,
considerando o conjunto de helmintos e a abundncia de amostras de fezes positivas de
Canis familiaris no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a
2012..................................................................................................................................132
-
xx
Figura 54: Valores de Indicao mdios (%) de helmintos em relao antropizao da
paisagemnos locais de coleta das fezes de Canis familiaris, considerando o conjunto de
espcies e a abundncia de amostras de fezes positivas, no semirido do nordeste do Brasil,
de 2010 a 2012..................................................................................................................137
Figura 55: Valores de Indicao mdios (%) da espcie em relao antropizao da
paisagem nos locais de coleta das fezes de Cerdocyon thous, considerando o conjunto de
helmintos e a abundncia de amostras de fezes positivas, no semirido do nordeste do
Brasil, de 2010 a 2012.....................................................................................................138
Figra 56: Valores de Indicao mdios (%) comparativos de helmintos em relao
antropizao da paisagem dos locais de coleta das fezes de Canis familiaris e Cerdocyon
thous, considerando o conjunto de espcies e a abundncia de amostras de fezes positivas,
no semirido do nordeste do Brasil, de 2010 a 2012.......................................................139
-
xxi
SUMRIO
1. Introduo .............................................................................................................................. 23
2. Objetivos .................................................................................................................................... 26
2.1 Objetivo Geral: ................................................................................................................ 26
2.2 Objetivos Especficos: ...................................................................................................... 27
3. Reviso da Literatura ................................................................................................................. 27
3.1 A espcie Cerdocyon thous ....................................................................................... 27
3.2 Helmintos parasitos de Cerdocyon thous no Brasil .......................................................... 29
3.3 Interaes entre ces domsticos e humanos ................................................................... 43
3.4. Helmintos parasitos de Canis familiaris no Brasil .......................................................... 45
3.5. Bioma Caatinga ............................................................................................................... 47
4. Metodologia ............................................................................................................................... 52
4.1. rea de estudo ................................................................................................................. 52
4.2. Coleta das amostras ......................................................................................................... 57
4.3. Identificao das amostras de fezes ................................................................................. 60
4.4. Suficincia amostral ........................................................................................................ 60
4.5. Anlise coproparasitolgica ............................................................................................ 60
4.6. Anlise dos resultados ..................................................................................................... 63
5. Resultados .................................................................................................................................. 73
5.1. Nmero de amostras analisadas e prevalncia de amostras positivas ............................. 73
5.2. Riqueza de morfoespcies de ovos de helmintos ............................................................ 73
5.3. Descrio das morfoespcies de ovos helmintos............................................................. 74
5.4. Riqueza e Prevalncia de morfoespcies de ovos de helmintos encontradas em amostras
de fezes de candeos ............................................................................................................. 110
5.5. Avaliao das curvas de acumulao de espcies e suficincia amostral ..................... 110
5.6. Diversidade de helmintos em Cerdocyon thous e Canis familiaris .............................. 112
5.7. Morfoespcies de importncia epidemiolgica para a sade pblica............................ 113
5.8. Similaridade da fauna de helmintos entre C. thous e C. familiaris ............................... 114
5.9. Prevalncia e diversidade de helmintos nos diferentes perodos sazonais em Cerdocyon
thous e Canis familiaris........................................................................................................ 114
5.10. Relao da composio da fauna de helmintos parasitos de Cerdocyon thous e Canis
familiaris com a sazonalidade .............................................................................................. 123
5.11. Valores de indicao (IVs) sobre a sazonalidade ........................................................ 125
5.12. Diferenas na composio dos helmintos parasitos de Cerdocyon thous e Canis
familiaris em relao aos nveis de antropizao da paisagem ............................................ 131
-
xxii
5.13. Valor de indicao (IVs) de espcies de helmintos de Cerdocyon thous e Canis
familiaris em relao aos nveis de antropizao da paisagem ............................................ 133
6. Discusso .................................................................................................................................. 139
6.1. Riqueza das morfoespcies de helmintos em C. thous e C. familiaris .......................... 139
6.2. Curvas de acumulao de morfoespcies e esforo amostral ........................................ 147
6.3. Biodiversidade de helmintos em Cerdocyon thous e Canis familiaris ......................... 148
6.4. Morfoespcies de helmintos de importncia para a sade pblica ................................ 148
6.5. Similaridade da fauna de helmintos entre Cerdocyon thous e Canis familiaris ............ 151
6.6. Prevalncia das morfoespcies de ovos de helmintos encontradas em amostras de fezes
de candeos nos diferentes perodos sazonais ....................................................................... 152
6.7. Comparao entre os ndices de biodiversidade nos perodos sazonais em Cerdocyon
thous e Canis familiaris........................................................................................................ 154
6.8. Relao da composio da fauna de helmintos parasitos de Cerdocyon thous e Canis
familiaris com a sazonalidade .............................................................................................. 155
6.9. Valores de indicao da sazonalidade (IVs) .................................................................. 156
6.10. Relao da composio dos helmintos parasitos de Cerdocyon thous e Canis familiaris
com os nveis de antropizao .............................................................................................. 157
6.11. Valores de indicao (IVs) dos nveis de antropizao ............................................... 158
7. Concluses ....................................................................................................................... 161
8. Recomendaes ao sertanejo nordestino .......................................................................... 164
9. Referncias Bibliogrficas: .............................................................................................. 165
Anexos
ANEXO 1 Sinopse ilustrada dos ovos de helmintos encontrados em amostras de fezes de
Canis familiaris e Cerdocyon thous no semirido do nordeste brasileiro, entre 2010 e
2012..................................................................................................................................182
ANEXO 2- Autorizao para atividades com finalidade cientfica (MMA ICMBio
SISBIO)............................................................................................................................202
-
23
1. Introduo
A busca e o encontro de formas imaturas de parasitos nas fezes um mtodo de
investigao simples, de baixo custo e adequado ao estudo de espcies nativas,
especialmente para aquelas que se encontram ameaadas de extino ou so crpticas.
Agrega-se a ele o inventrio de hbitos alimentares e suas variaes sazonais que podem
ser comparadas entre populaes de reas e tempos distintos1.
O resultado obtido desses estudos adiciona informaes importantes para a sade
pblica e para a conservao da biodiversidade, uma vez que por meio de anlises de
similaridade da fauna parasitolgica entre grupos de hospedeiros possvel evidenciar
possveis fluxos de parasitoses entre animais silvestres, domsticos e humanos que
coabitam uma mesma rea, situao cada vez mais comum em todo o mundo. A partir
dos resultados destas anlises possvel tambm observar as consequncias das
parasitoses na sade e economia das populaes humanas e na emergncia e reemergncia
de patgenos2,3 .
Entretanto, os parasitos so parte integrante dos ecossitemas e da cadeia trfica,
afetando a sua estabilidade, a fora de interao e fluxo de energia2 e em condies
naturais atuam com importncia dentro de sua comunidade biolgica, como reguladores
da populao de seus hospedeiros, alterando diretamente as taxas de nascimento e morte
de sua populao. Exercem ainda influncia na modulao gentica das espcies de
hospedeiros e no comportamento dos indivduos infectados, razo pela qual alteraes da
comunidade parasitria em um ecossitema pode exercer efeito cascata sobre os outros
membros da comunidade3,4 .
Helmintos intestinais podem ser usados como indicadores da sade dos
ecossistemas5,6,7, pois acompanham seus hospedeiros ao longo do tempo e da histria e
-
24
refletem as condies ambientais que possibilitaram ou no a relao de
parasitismo8,9,10,11. Desta forma, inventrios da fauna helmintolgica que levem em
considerao variveis biticas e abiticas, incluindo as de origem antrpica, podem
possibilitar a optimizao de programas de vigilncia epidemiolgica e ambiental12,13 .
Zoonoses so doenas que circulam entre os animais, e dentro deste grupo esto
os seres humanos, que compartilham diversas espcies de parasitos com outras espcies
de hospedeiros. As zoonoses emergentes so reconhecidamente uma ameaa tanto
biodiversidade quanto sade humana, podendo representar o incio de um processo de
extino quando reduz drasticamente o nmero de indivduos de uma espcie14 .
Os ces (Canis familiaris Linnaeus, 1758) foram os primeiros animais a serem
domesticados, reconhecidamente a partir da aproximao dos lobos (Canis lpus
Linnaeus, 1758) aos assentamentos humanos, durante a pr-histria15. A aproximao e
o maior contato entre seres humanos e candeos promoveram benefcios para as ambas as
partes, como o maior sucesso nas atividades de caa, pastoreio e proteo, fato que ainda
pode ser observado na regio semirida do nordeste do Brasil16.
Entretanto no s o contato entre seres humanos e ces, mas o crescimento da
proximidade desta relao, permite a transmisso de parasitos entre ces domsticos,
humanos, e nos ambientes de fronteira com ecossistemas naturais, com carnvoros
silvestres17,18.
As espcies de pequenos carnvoros, como os candeos sul-americanos, tm grande
importncia nos ecossistemas naturais, principalmente pela regulao de populaes de
consumidores primrios, em grande parte de roedores19. O hbito alimentar onvoro de
alguns candeos silvestres permite que os indivduos se aproximem de habitaes humanas
em busca de alimentos quer seja em depsitos abertos de resduos, nas roas ou a caa de
animais de criao. Esta situao torna-se cada vez mais comum no semirido, fruto das
-
25
presses da perda de habitat e da fragmentao das reas originais de ocorrncia destas
espcies, potencializando a oportunidade ecolgica para a transmisso de parasitos e o
aparecimento de agravos sade a eles associados.
A Caatinga apresenta condies ecossistmicas nicas. o nico bioma
exclusivamente brasileiro, cobrindo uma rea de aproximadamente 800.000 km do
Nordeste do pas. Apresenta uma heterogeneidade mpar, com mais de uma centena de
fitofisionomias diferentes e sua biodiversidade maior do que qualquer outro lugar no
mundo em semelhantes condies de clima e solo20,21. Apesar disto, sua importncia
permaneceu por muitos anos e ainda subestimada. O processo de colonizao e do uso
indevido do solo resultou na degradao ambiental intensa e nos piores indicadores de
qualidade de vida no Brasil20,21. A existncia de impactos como perda de territrios
naturais, queimadas, extrativismo vegetal e mineral, a caa e a insero de animais
domsticos em reas de proteo refletem o atual estado de vulnerabilidade dos
carnvoros nativos neste bioma.
A nica espcie de candeo silvestre de ocorrncia registrada para a Caatinga
Cerdocyon thous22, uma vez que Lycalopex vetulus Lund 1842 descrita apenas para os
ectonos com biomas adjacentes, como o Cerrado23,24. Entretanto, estas duas espcies
foram notificadas para o Parque Nacional Serra da Capivara25, no sudeste do Piau, rea
que est integralmente na Caatinga, porm h falta de registros para a confirmao dessa
ocorrncia. Nesta regio, observa-se a mesma sobreposio de reas de uso com as do
co domstico, seja em busca de frutas ou outros alimentos nas roas e peridomiclio ou
pela circulao de ces nas reas naturais, acompanhando caadores e extrativistas.
Na literatura no so abundantes os estudos sobre helmintos intestinais de ces
domsticos no Nordeste, especialmente na Caatinga26,27, e da mesma forma para candeos
-
26
silvestres13,22,28. H apenas alguns registros pontuais, principalmente em reas
urbanizadas no caso dos ces.
Este estudo busca o aprofundamento do conhecimento da ocorrncia dos
helmintos intestinais de candeos silvestres e domsticos na regio do semirido
brasileiro, nos estados de Pernambuco, Cear, Paraba, Rio Grande do Norte e Piau, a
correlao entre distribuio espacial e a similaridade da fauna helmintolgica entre estes
dois grupos de hospedeiros, e as implicaes desta relao para as comunidades humanas
e suas possibilidades de agravos sade.
Este estudo compe um dos objetivos do Projeto Paleoparasitologia: Evoluo,
Ecologia e Emergncia das Infeces Parasitrias no Semirido do Nordeste Brasileiro,
coordenado pela Dra. Marcia Chame (DENSP/ENSP) e integrante do Instituto de Cincia
e Tecnologia (INCT) / Instituto Nacional de Arqueologia, Paleontologia e Ambiente do
Semi-rido brasileiro (INAPAS) /MCT, coordenado pela Dra. Anne Marie Pessis, em
andamento desde julho de 2009.
2. Objetivos
2.1 Objetivo Geral:
Aprofundar o conhecimento sobre a fauna de helmintos parasitos de candeos
na regio do semirido brasileiro.
-
27
2.2 Objetivos Especficos:
Consolidar as ocorrncias e distribuies geogrficas de helmintos
intestinais de ces domsticos e raposas disponveis na literatura para o
semirido.
Comparar os resultados encontrados com aqueles descritos na literatura.
Verificar a ocorrncia de espcies zoonticas e suas implicaes para a
sade e economia humana.
Verificar se h similaridade da fauna de helmintos encontrada em candeos
silvestres e domsticos, indicando possveis fluxos de parasitoses entre
estes dois grupos.
Verificar a ocorrncia das espcies/morfoespcies de helmintos em
relao sazonalidade e diferentes caractersticas da paisagem.
3. Reviso da Literatura
3.1 A espcie Cerdocyon thous
Cerdocyon thous um candeo silvestre da Amrica do Sul, de pequeno porte,
com peso dos indivduos variando entre 3,6 a 7,9 kg, de hbitos crepusculares ou
noturnos29,30. Tem pelagem acinzentada com extremidades de patas, cauda, orelhas e
focinho mais escuros, embora a colorao varie de tonalidade nas suas reas de
distribuio geogrfica29,30 (Figura 1). Vivem solitrios ou em pares. Um casal ocupa em
mdia 45 a 100 hectares, e apesar de andarem juntos, cada indivduo responsvel pela
-
28
captura de seu alimento29,30. Na Caatinga, a poca de acasalamento ocorre em setembro,
final da seca, quando se observa grupos de em mdia 4 indivduos juntos. Os filhotes
nascem em dezembro, j nas chuvas.
Figura 1. Cerdocyon thous, PARNA da Serra da Capivara, no
sudeste do Piau. (Foto: Joo Daniel Santos)
Esta espcie encontrada comumente desde regies costeiras e de montanhas no
norte da Colmbia e Venezuela at o sul da provncia de Entre Ros, na Argentina, e desde
a cadeia montanhosa dos Andes, a 2000 metros de altitude, at a floresta atlntica a leste
do Brasil e costa oeste da Colmbia29. No Brasil tem ampla distribuio, excetuando-se
reas da bacia amaznica30, onde popularmente conhecido como lobete, lobinho,
raposa, guaraxaim ou cachorro-do-mato, dependendo da regio de encontro. Na lngua
inglesa, conhecido como crab-eating fox e na lngua espanhola como zorro.
Dados sobre o DNA mitocondrial e a diversidade gentica entre populaes de C.
thous mostram que h uma forte partio filogeogrfica entre a populao da regio
nordeste do Brasil e de outras reas de distribuio, com a completa separao entre as
populaes de floresta atlntica do norte e do sul, cuja separao ocorreu entre 400 000 e
600 000 anos atrs31 .
-
29
Possui dieta onvora e bastante variada, caracterizada pela predao generalista e
oportunista de pequenos vertebrados (roedores, rpteis, anfbios e aves), e forrageio de
frutas, folhas, sementes, invertebrados, e inclusive restos de alimento humano disposto
no peridomiclio32,33,34,35 .
Amplamente distribuda e com poucas restries a ambientes degradados esta
espcie simptrica a outros candeos silvestres e domsticos, e perodos de atividade
diferenciais e uso distinto de territrios podem representar mecanismos para a reduo da
competio interespecfica entre espcies silvestres, 36,37.
Por seus hbitos oportunistas e sinantrpicos, indivduos de C. thous circulam e
atravessam rodovias, tornando-os vulnerveis a atropelamentos e no por acaso, a
espcie silvestre com maior nmero de registro de mortes deste tipo, ao lado de outras
espcies que tambm possuem hbitos semelhantes, como o gamb Didelphis albiventris
38. Alm disto, outra ameaa s raposas seria a possibilidade de infeco por patgenos
normalmente associados aos ces domsticos29 .
Apesar dos impactos sofridos, a espcie no est classificada em estado de
ameaa, e ainda ocupa a maioria dos habitats com populaes estveis, no necessitando
de proteo no presente momento29 .
3.2 Helmintos parasitos de Cerdocyon thous no Brasil
Ao todo, foram recuperadas 32 publicaes acerca dos helmintos encontrados em
Cerdocyon thous no Brasil, desde 1915 at 2012.
Os achados da ocorrncia de helmintos e de suas formas embrionrias resultaram
em cerca de 60 taxa distintos, em 16 localidades no Brasil. Destes, foram identificadas
-
30
36 espcies de helmintos, alm de 21 gneros, nove famlias, uma ordem, uma classe e
um filo, uma vez que nem sempre os autores chegaram ao diagnstico da espcie.
Os primeiros trabalhos sobre helmintos de Cerdocyon thous no Brasil foram
realizados na Fundao Oswaldo Cruz, pelo Dr. Lauro Travassos, do Instituto Oswaldo
Cruz. No primeiro, ele descreve Uncinaria carinii como uma nova espcie de nematdeo
parasito de C. thous 39 .
Em 1924, Dr. Luiz Viana40, ao catalogar as espcies brasileiras de trematdeos,
reporta a ocorrncia de Alaria alata Goeze, 1782 em candeos do gnero Cerdocyon.
Em 1927, Travassos41 descreve o nematdeo Angiocaulus railliet (Travassos,
1927) Grisi, 1971 em C. thous.
Travassos descreve em 1942 o novo gnero Pseudathesmia spp., de trematdeos
da famlia Dicrocoeliidae, com a espcie Pseudathesmia paradoxa, como parasita do
fgado de C. thous na zona da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, em Mato Grosso do
Sul42 .
Em 1943, durante a stima excurso cientfica do Instituto Oswaldo Cruz, e
novamente na Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, Travassos e Freitas reportam que
durante a necropsia de sete animais analisados, quatro estavam parasitados por
trematdeos dicroceldeos, quatro por nematdeos filardeos, trs por tricurdeos, trs por
ancilostomdeos, dois por fisalopterdeos, um pelo gnero Haemostrongylus spp., um por
Acanthocephala e todos por cestdeos43.
Em meados da dcada de 60, trabalhos reportam a ocorrncia da espcie de
cestdeo Mesocestoides michaelseni Loemberg, 1896 como parasitos de Cerdocyon
thous44,45.
Em Petrolina, cidade do estado de Pernambuco, Padilha e Duarte46 (1980) relatam
o primeiro encontro no Brasil da espcie Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957,
-
31
em raposas necropsiadas e sugerem que alguns casos de larva migrans cutnea poderiam
estar relacionados a esta espcie de parasito, pelo fato do hbito de alguns camponeses
domesticarem animais silvestres.
Em sua dissertao de mestrado, comparando fezes e coprlitos de animais no-
humanos no Parque Nacional da Serra da Capivara, sudeste do estado do Piau, Chame47
(1988) encontrou ovos de tricurdeos em fezes de C. thous oriundas do Parque Nacional
da Serra da Capivara, estado do Piau. Estes ovos mediam de 56,61 m de comprimento
por 23,32 a 26,64 m de largura, contando com oprculos, compatveis a morfologia e
morfometria de Trichuris azarae, espcie parasita de cotias (Caviidae), e portanto,
indicada como possvel parasito acidental pela ingesto da presa.
Em 1997, Vicente e colaboradores48 compilam os dados sobre as espcies de
nematdeos parasitos no Brasil, com a citao somente dos trabalhos de Travassos de
1915 e 1927, e de Travassos & Freitas, 1943, acerca dos nematdeos de C. thous.
Durante busca para cadastramento de novas espcies de nematdeos parasitos de
mamferos, Noronha e colaboradores49 (2002) revendo a Coleo Helmintolgica do
Instituto Oswaldo Cruz (CHIOC), reportaram a infeco de C. thous pela espcie
Toxocara canis, no estado do Rio de Janeiro, e por Dirofilaria sp., em Salobra, estado de
Mato Grosso do Sul.
Santos e colaboradores50 (2003) descrevem a ocorrncia da espcie Ancylostoma
buckleyi infectando Cerdocyon thous, na cidade de Itatinga, estado de So Paulo. Os
autores atribuem a esse, o primeiro encontro deste parasito em C. thous, uma vez que
Padilha & Duarte (1980) no descreveram qual espcie de raposas foram estudadas. Os
ovos mediram 107,9 (105-136) mm de comprimento por 83,3 (76-95) m de largura.
Ruas e colaboradores51 (2003) analisaram sete indivduos de C. thous, capturados
e necropsiados no municpio de Pedro Osrio, estado do Rio Grande do Sul, e reportam
-
32
a infeco por Capillaria hepatica Bancroft, 1893, com ovos medindo entre 54-64 m de
comprimento e entre 29-33 m de largura.
Noronha e colaboradores52 (2004) reportam a existncia da espcie Ancylostoma
caninum (Ercolani, 1859) Hall, 1913 encontrada no estmago de C. thous, em amostras
depositadas na Coleo Helmintolgica do Instituo Oswaldo Cruz (CHIOC).
Santos e colaboradores53 (2004) descrevem a primeira ocorrncia do cestdeo
Diphyllobothrium mansoni Cobbold, 1882 parasitando a espcie C. thous no Brasil. O
parasito foi encontrado no intestino delgado de um espcime da cidade de Itatinga, estado
de so Paulo.
Horta-Duarte54 (2004) relata a ocorrncia de Strongyloides sp. Grassi, 1980;
Ancylostoma sp. Dubine, 1843; Capillaria sp. Zender, 1800; Rictularia sp. Froelich,
1802; Angiostrongylus vasorum Railliet, 1866; Athesmia foxi Loss, 1899 e Platynosomum
sp. Loss, 1907, em animais atropelados na zona da mata, estado de Minas Gerais.
Curi55 (2005) ao analisar amostras de fezes de Cerdocyon thous provenientes do
Parque Nacional da Serra do Cip, encontrou ovos dos parasitos Platynosomum sp., com
medidas de 40,6 m de comprimento por 25 m de largura, Spirometra sp., com medidas
de 60,9 m de comprimento por 35,35 m de largura, e de Toxocara sp., sem medida dos
tamanho dos ovos.
Ruas56 (2005), em sua tese de doutorado, com o objetivo de estudar a fauna
parasitria de C. thous, capturou e submeteu eutansia 18 indivduos desta espcie, dos
municpios de Pedro Osrio e Pelotas, estado do Rio Grande do Sul. Todas as amostras
estavam infectadas e 14 espcies de helmintos foram encontradas: os nematdeos
Molineus felineus Cameron, 1923; Ancylostoma caninum (Ercolani, 1859) Hall, 1913;
Capillaria hepatica (Bancroft, 1863) Travassos, 1915; Capillaria sp. Zeder, 1800,
Trichuris sp. Roederer, 1761; Strongyloides sp. Grassi, 1879; alm de Physalopteridae
-
33
Leiper, 1908. Os cestdeos encontrados foram Spirometra spp. Mueller, 1937;
Diphyllobothriidae Luhe, 1910, e Cyclophyllidae Van Beneden in Braun, 1900. Os
trematdeos encontrados foram Athesmia heterolecithodes e Alaria alata. Encontrou dois
tipos de acantocfalos, a espcie Centrorhynchus sp. e outro tipo de uma espcie no
identificada. Os mais prevalentes, em ordem decrescente foram: Diphyllobothriidae
(77,78%), Spirometra spp. (61,11%), Alaria alata (50,0%), Physalopteridae (27,78%),
Ancylostoma caninum (22,22%), Strongyloides sp. (16,67), Trichuris sp. (11,11%),
Cyclophillidae (11,11%), Athesmia heterolecithodes (5,56%), Centrorhynchus sp. (5,
56%), Acanthocephala (5,56%), Capillaria hepatica (5,56%), Capillaria sp. (5,56%) e
Molineus felineus (5,56%).
Horta-duarte e colaboradores57 (2007), trabalhando na zona da mata do estado de
Minas Gerais, ao analisarem carcaas de animais atropelados, encontraram as seguintes
espcies de helmintos e suas prevalncias: Angiostrongylus vasorum (Bailliet, 1866)
Kamensky, 1905 (50,0%) no corao e pulmes do animal; Platynosomum illiciens
(Braun, 1901) Kossack, 1910 (16,7%) no fgado; Ancylostoma buckleyi Le Roux &
Biocca, 1957 (33,4%) no intestino delgado e no estmago; Pterygodermatites affinis
(Jagerskiold, 1904) Quentin, 1969 (66,7%) no estmago e intestino; Athesmia
heterolecithodes (Braun, 1899) Looss, 1899 (33,4%) no fgado. Os autores reportam o
primeiro achado em C. thous das espcies A. heterolecithodes, P. affinis e P. illiciens.
Em Botucatu, estado de So Paulo, Griese58 (2007), ao examinar carcaas de
animais atropelados em rodovias, relata que quase todos os animais estavam infectados
(88,9%), e reporta a prevalncia dos seguintes helmintos parasitos de C. thous:
Angiostrongylus vasorum (22,2%) Ancylostoma braziliense (33,3%), Ancylostoma
buckleyi (55,6%), Rictularia sp. (44,4%), Athesmia heterolecithodes (22,2%),
Diphyllobothrium sp. (11,1%), Oncicola canis (11,1%). A autora, em sua reviso, cita um
-
34
trabalho59 que no pode ser encontrado por este estudo. Nele, o autor cita o encontro dos
helmintos Ancylostoma caninum, Gnathostoma sp., Dilepididae e Oncicola canis em
Cerdocyon thous da rodovia ES 060, no estado do Esprito Santo.
No Parque Nacional da Serra da Capivara, estado do Piau, Brando13 (2007)
examinou amostras de fezes de animais domsticos e silvestres, incluindo C. thous, e
constatou que essa espcie de hospedeiro foi a que apresentou a maior diversidade de
helmintos. Em seu trabalho, identificou e registrou o tamanho dos ovos dos seguintes
helmintos: duas morfoespcies de ancilostomatdeos, denominadas Ancylostomatidae 2
(55-62,5 x 32,5-45m / M= 56,5 x 38,5 m) e Ancylostomatidae 7(49,4-70,2 x 33,8-41,6
m / M=59,33 x 38,76 m); duas morfoespcies de ascariddeos, denominados
Ascarididae 3 (52-65 x 26-39 m / M=60,74 x 35,93 m) e Ascarididade 4 ( 44,2-75,4 x
40-62,5 m / M= 65,3 x 50,89 m); Physaloptera sp. (39-46,8 x 20,8-31,2 m / M=42,9
x 24,7 m); um trematdeo (91-106,6 x 31,2-57,2 m / M= 106,6 x 54,6 m) e duas
morfoespcies no identificadas, denominadas NI1 (28,6-41,6 x 10,4-21,6 m / M= 34,16
x 18,76 m) e NI3 (46,8-75,4 x 39-57,2 m / m= 60,4 x 47,13 m). Entretanto, a curva
de acumulao de espcies de helmintos nas amostras de fezes de C. thous, no se
estabilizou, indicando a necessidade de um maior volume amostral para se conhecer a
diversidade de helmintos parasitos de C. thous no PARNA Serra da Capivara.
Vieira e colaboradores60 (2008), utilizando-se de dados publicados e no
publicados pela CHIOC, elaboraram uma compilao dos helmintos parasitos de
carnvoros silvestres do Brasil. Constataram que C. thous foi o hospedeiro com a fauna
parasitria mais diversa, reportando as seguintes espcies: Aelurostrongylus sp., Alaria
alata, Ancylostoma buckleyi, Ancylostoma caninum, Angiostrongylus railliet,
Angiostrongylus sp., Angiostrongylus vasorum, Calodium hepaticum, Dipjyllobothrium
mansoni, Diphyllobothrium mansonoides, Diphyllobothrium sp., Dirofilaria repens,
-
35
Dirofilaria sp., Mesocestoides michaelseni, Oncicola sp., Pearsonema feliscati,
Pearsonema linsi, Physaloptera praeputialis, Physaloptera sp., Pseudathesmia
paradoxa, Strongyloides sp., Toxocara canis, Trichuris vulpis, e Uncinaria carinii.
Oliveira-Santos61 (2008), ao examinar 15 amostras de fezes de C. thous
provenientes do Parque Nacional da Serra da Capivara, estado do Piau, encontrou nove
morfoespcies de ovos de helmintos em 33,3 % das amostras analisadas. Apenas as
amostras das reas limtrofes do PARNA Serra da Capivara estavam infectadas, reas de
intensa sobreposio de uso entre homens, ces e raposas. As morfoespcies encontradas
foram do Filo Acanthocephala (54 x 40 m), Classe Trematoda (42-60 x 30-40 m
/M=49,33 x 31 m), Trichuridae (56-60 x 30-36 m /M=59,14 x 31,28 m),
Trichostrongylidae (40 x 18 m), Physalopteridae (50-54 x 30 m /M= 51,33 x 30 m),
Ascarididae tipo 1 (30-36 x 20 m /M=31,33 x 20 m), Ascarididae tipo 2 (46 x 28
m), Spirurida (40-60 x 20-30 m /M= 44.26x 22.53), e uma morfoespcie de nematdeo
no identificada (26-30 x 14-16 m /M=26,8 x 14,06 m).
Santos62 (2008), trabalhando com parasitos de candeos domsticos e silvestres da
Serra do Cip, Minas Gerais, registrou o encontro de ovos de 10 espcies de helmintos,
com suas respectivas mdias dos tamanhos, em cinco amostras de fezes de C. thous:
Ancylostomidae (M=54,43 x 33,44 m) (60%), Trichuridae (M= 64,18 x 28,58
m)(20%), Spirocerca lupi (M= 25,50 x 8,5 m)(20%), Physaloptera sp. (36,43 x 27,85
m) (40%), Acanthocephala (M= 72,50 x 48,20 m) (40%), Dipylidium caninum (20%),
Diphyllobothriidae (M= 62,17 x 35,21 m) (60%), e Hymenolepidae (M=98,80 x 70,20
m) (20%).
Ribeiro e colaboradores63 (2009) reportam a primeira infeco registrada por
Dioctophyme renale Goeze, 1782 para o hospedeiro C. thous, em um espcime adulto
necropsiado, no Estado do Rio de Janeiro.
-
36
Lima22 (2009), trabalhando em necropsias de 58 animais atropelados na regio de
Patos, Estado do Paraba, relata o encontro de 16 espcies de helmintos em C. thous, com
a descrio de uma nova espcie, Pterygodermatites pluripectinata n.sp.. Em ordem
decrescente de prevalncia, o autor encontrou as espcies Pterygodermatites
pluripectinata n.sp. (93,1%), Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957 (84,48%),
Pterygodermatites affinis Jagersklold, 1904 (43,1%), Molineinae gen. Sp. (25,86%),
Spirometra mansonoides Mueller, 1935 (15,51%), Physaloptera tendernata Molin, 1860
(12,06%), Physaloptera praeputialis Linstow, 1889(10,34%), Alaria alata (goeze, 1782)
Krause, 1914 (6,89%), Prostenorchis sp. Travassos, 1915 (6,89%), Toxocara canis
(Werner, 1782) Stiles, 1905 (5,17%), Molineus sp. (3,44%), Fibricola sp. Dubois, 1932
(1,72%), Molineus elegans (Travassos, 1921) Travassos & Darriba, 1929 (1,72%),
Physaloptera digitata Scheneider, 1866 (1,72%), Strongyloides stercoralis (Bavay, 1876)
Stiles & Hassal, 1902 (1,72%) e Trichuris vulpis (Froelich, 1789) Smith, 1908(1,72%).
O autor registra o tamanho de alguns ovos: Fibricola sp. de ovos ovoides medindo 27 x
18 m, Spirometra mansonoides de ovos com extremidade afilada medindo 46 x 23 m,
Physaloptera praeputialis de ovos elipsoides com casca delgada e medindo 27 x 23 m
in utero, Physaloptera tendernata de ovos elipsoides de casca fina de tamanho 27 x 16
m, Molineus sp. de ovos elipsoides medindo 42 x 16 m, Molineinae Gen. sp. possui
ovos medindo 60 x 25 m, Pterygodermatites affinis de ovos larvados de tamanho 24,9
x 17 m in tero, e Pterygodermatites pluripectinata n.sp. de ovos larvados de tamanho
38,9 x 28,5 in utero.
Curi e colaboradores64 (2010), trabalhando com 12 animais capturados no
PARNA da Serra do Cip, Minas Gerais, analisaram 10 amostras fecais de C. thous,
encontrando ovos de helmintos das famlias Ancylostomatidae (20%), Hymenolepidae
(10%), da Classe Trematoda (10%), do filo Acanthocephala (10%), e dos gneros
-
37
Toxocara sp. (10%), Platynosomum sp. (20%), e Spirometra sp. (30%). Dois animais
foram necropsiadosnos quais foram encontrados Rictularia sp., progltides e ovos de
Hymenolpeididae, Ancylostoma sp., e Spirocerca sp..
Em 2011, Pinto e colaboradores65 atualizaram a lista de helmintos parasitos de
Cerdocyon thous sem novas citaes adicionais aos estudos aqui anteriormente descritos.
Vieira e colaboradores66 (2012) descrevem espciemes adultos do cestdeo
Dipylidium caninum como parasitos de Cerdocyon thous, mortos no municpio de Juiz de
Fora, Minas Gerais, o que representa o primeiro registro confirmado desta espcie em
carnvoros silvestre no Brasil, e discutem sobre a possibilidade do encontro ser
consequncia da expanso antropognica nos ambientes naturais deste hospedeiro.
Os trabalhos citados foram sumarizados em relao ao autor e data do trabalho, os
helmintos encontrados, as localidade de estudo e a medidas do tamanhos dos ovos das
diferentes espcies, quando estiveram presentes (Quadro 1).
-
38
Quadro 1: Cronologia da descrio de helmintos em Cerdocyon thous no Brasil, e as medidas do tamanho dos ovos, quando existentes.
Autor, data Helmintos Localidade Medidas dos Ovos (m)
Comprimento Largura
Travassos, 1915 (para Canis azarae) Uncinaria carinii
Viana, 1924 (para Cerdocyon) Alaria alata Goeze, 1782
Travassos, 1927 Angiocaulus railliet (Travassos, 1927) Grisi, 1971
Travassos, 1942 Pseudathesmia paradoxa Travassos, 1942 Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil, Mato Grosso do Sul
Travassos e Freitas, 1943
Trematdeos dicroceldeos
Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil, Mato Grosso do Sul
Nematdeos filardeos
Tricurdeos
Ancilostomdeos
Fisalopterdeos
Haemostrongylus sp.
Acanthocephala
Cestdeos
Travassos, 1965 Mesocestoides michaelseni Loemberg, 1896 (Cestoda)
Padilha e Duarte, 1980
(para raposas) Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957 (Nematoda) Petrolina, Pernambuco
Chame, 1988 Trichuris sp. (Nematoda)
Parque Nacional Serra da
Capivara, Piau 56,61 (com oprculos) 23,32 - 26,64
Noronha et al., 2002 Toxocara canis (Nematoda) Estado do Rio de Janeiro
Dirofilaria sp. (Nematoda) Salobra, Mato Grosso do Sul
Santos et. al., 2003 Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957 (Nematoda) Itatinga, SP 107,9 (105-136) 83,3 (76-95)
Ruas et al. 2003 Capillaria hepatica Bancroft, 1893 (Nematoda)
Municpio de Pedro Osrio,
Rio Grande do Sul 54-64 29-33
Noronha et al., 2004 Ancylostoma caninum (Ercolani, 1859) Hall, 1913 (Nematoda)
Amostras da Coleo
Helmintolgica do Instituo
Oswaldo Cruz (CHIOC)
Santos et al., 2004 Diphyllobothrium mansoni Cobbold, 1882 (Nematoda) Itatinga, So Paulo
-
39
Horta-Duarte, 2004
Strongyloides sp. Grassi, 1980 (Nematoda)
Zona da mata, Minas Gerais
Capillaria sp. Zender, 1800 (Nematoda)
Rictularia sp. Froelich, 1802
Angiostrongylus vasorum Railliet, 1866 (Nematoda)
Athesmia foxi Loss, 1899
Curi, 2005
Platynosomum sp. (Nematoda)
Parque Nacional da Serra do Cip,
Minas Gerais
40,6 25
Spirometra sp (Nematoda) 60,9 35,35
Toxocara sp. (Nematoda)
Ruas, 2005
Molineus felineus Cameron, 1923 (Nematoda)
Pedro Osrio e Pelotas
Rio Grande do Sul
Ancylostoma caninum (Ercolani, 1859) Hall, 1913 (Nematoda)
Capillaria hepatica (Bancroft, 1863) Travassos, 1915 (Nematoda)
Capillaria sp. Zeder, 1800 (Nematoda)
Trichuris sp. Roederer, 1761 (Nematoda)
Strongyloides sp. Grassi, 1879 (Nematoda)
Physalopteridae Leiper, 1908 (Nematoda)
Spirometra spp. Mueller, 1937 (Cestoda)
Diphyllobothriidae Luhe, 1910 (Cestoda)
Cyclophyllidae Van Beneden in Braun, 1900
Athesmia heterolecithodes (Trematoda)
Centrorhynchus sp (Trematoda)
Acanthocephala
Horta-Duarte, 2007
Angiostrongylus vasorum (Bailliet, 1866) Kamensky, 1905
Zona da Mata, Minas Gerais
Platynosomum illiciens (Braun, 1901) Kossack, 1910
Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957
Pterygodermatites affinis (Jagerskiold, 1904) Quentin, 1969
Athesmia heterolecithodes (Braun, 1899) Looss, 1899
-
40
Griese, 2007
Angiostrongylus vasorum
Botucatu, So Paulo
Ancylostoma braziliense
Ancylostoma buckleyi
Rictularia sp
Athesmia heterolecithodes
Diphyllobothrium sp
Oncicola canis
Rodrigues et al., 2006
(apud Griese, 2007)
Ancylostoma caninum
Rodovia ES 060, Esprito Santo
Gnathostoma sp
Dilepididae
Oncicola canis
Brando (2007)
Ancylostomatidae (morfoespcie 2)
Parque Nacional Serra da
Capivara, Piau
55-62,5 (M= 56,5) 32,5-45 (M=38,5)
Ancylostomatidae (morfoespcie 7) 49,4-70,2 (M=59,33) 33,8-41,6 (M=38,76)
Ascarididae (morfoespcie 3) 52-65 (M=60,74) 26-39 (M= 35,93)
Ascarididae (morfoespcie 4) 44,2-75,4 (M= 65,3) 40-62,5 (M= 50,89)
Physaloptera sp 39-46,8 (M=42,9) 20,8-31,2 (M=24,7)
Trematdeo sp. 91-106,6 (M= 106,6) 31,2-57,2(M= 54,6)
Vieira et al., 2008 (Reviso)
Aelurostrongylus sp.
Amostras da Coleo
Helmintolgica do Instituo
Oswaldo Cruz (CHIOC)
Alaria alata
Ancylostoma buckleyi
Ancylostoma caninum
Angiostrongylus railliet
Angiostrongylus sp.
Angiostrongylus vasorum
Calodium hepaticum
Diphyllobothrium mansoni
Diphyllobothrium mansonoides
-
41
Diphyllobothrium sp
Dirofilaria repens
Dirofilaria sp
Mesocestoides michaelseni
Oncicola sp
Pearsonema feliscati
Pearsonema linsi
Physaloptera praeputialis
Physaloptera sp.
Pseudathesmia paradoxa
Strongyloides sp
Toxocara canis
Trichuris vulpis
Uncinaria carinii
Oliveira-Santos, 2008)
Acanthocephala
Parque Nacional Serra da
Capivara, Piau
54 40
Trematoda 42-60 (M=49,33) 30-40 m (M= 31)
Trichuridae 56-60 (M=59,14) 30-36 m (M= 31,28)
Trichostrongylidae 40 18
Physalopteridae 50-54 (M= 51,33) 30
Ascarididae tipo 1 30-36(M=31,33) 20
Ascarididae tipo 2 46 28
Spirurida 40-60 (M= 44.26) 20-30 (M= 22.53)
nematdeo no identificado 26-30 (M=26,8) 14-16 (M=14,06)
Santos, 2008
Ancylostomidae
Serra do Cip, Minas Gerais
M=54,43 M=33,44
Trichuridae M= 64,18 M= 28,58
Spirocerca lupi M= 25,50 M= 8,5
Physaloptera sp. M=36,43 M=27,85
-
42
Acanthocephala M= 72,50 M= 48,20
Dipylidium caninum
Diphyllobothriidae M= 62,17 M=35,21
Hymenolepidae M=98,80 M= 70,20
Ribeiro et al., 2009 Dioctophyme renale Goeze, 1782 Estado do Rio de Janeiro
Lima, 2009
Pterygodermatites pluripectinata n.sp.
Patos, Paraba
38,9 in utero 28,5 in utero
Ancylostoma buckleyi Le Roux & Biocca, 1957
Pterygodermatites affinis Jagersklold, 1904 24,9 in tero 17 in tero
Molineinae gen. Sp. 60 25
Spirometra mansonoides Mueller, 1935 46 23
Physaloptera tendernata Molin, 1860 27 16
Physaloptera praeputialis Linstow, 1889 27 in utero 23 in utero
Alaria alata (goeze, 1782) Krause, 1914
Prostenorchis sp. Travassos, 1915
Toxocara canis (Werner, 1782) Stiles, 1905
Molineus sp. 42 16
Molineus elegans (Travassos, 1921) Travassos & Darriba, 1929
Fibricola sp. Dubois, 1932 27 18
Physaloptera digitata Scheneider, 1866
Strongyloides stercoralis (Bavay, 1876) Stiles & Hassal, 1902
Trichuris vulpis (Froelich, 1789) Smith, 1908
Curi et al., 2010
Ancylostomatidae
Serra do Cip, Minas Gerais
Hymenolepidae
Acanthocephala
Toxocara sp.
Platynosomum sp
Spirometra sp
Vieira et al. 2012 Dipylidium caninum Juiz de Fora, Minas Gerais
-
43
3.3 Interaes entre ces domsticos e humanos
Esta relao muito antiga, com estudos recentes sugerindo que o processo de
domesticao de candeos selvagens pode ter acontecido mais cedo do que se imaginava
at recentemente, h cerca de 33.000 anos15,67. Entretanto, as tentativas da domesticao
de candeos selvagens, como o lobo, podem ter ocorrido diversas vezes ao longo do
tempo, com a possibilidade de seu fracasso em algumas ocasies15.
Se esse processo ocorreu de maneira nica ou mltipla ao longo do tempo, muitas
vezes divididas entre evidncias genticas e arqueolgicas, ainda no consenso68,69,70,71.
Dois gargalos relacionados perda da variabilidade gentica nas populaes de ces
foram provocados por esse processo: o primeiro logo quando se iniciou e o segundo, com
a seleo de raas especficas, com o aumento da frequncia de mutaes deletrias em
decorrncia da eroso gentica nas populaes domesticadas e das doenas a elas
associadas70,72.
Os ces participam de atividades cinegticas desde o incio do processo de
domesticao e formao de sua espcie, j que a cooperao entre seres humanos e ces
durante a caada possibilitava uma maior probabilidade de sucesso, consequentemente
beneficiando ambas as espcies.
-
44
Figura 2. Ces domsticos (Canis familiaris) em
povoado ao redor do PARNA da Serra das
Confuses, no sudeste do Piau. (Foto: Joo Daniel
Santos)
Na regio semirida do nordeste brasileiro essa relao no diferente e os ces
so tradicionalmente utilizados pelos caadores, principalmente na caada de mamferos,
em sua maioria espcies ameaadas de extino16, alm da utilizao como animal de
companhia, de guarda, e de pastoreio (Figura 3). Na maioria das vezes, os ces so criados
soltos, possuem domicilio, porm com acesso livre circulao. Entretanto, tambm
puderam ser observados ces presos em moradias em que o proprietrio esteve ausente.
A alimentao destes ces em grande parte de restos de alimentos de consumo humano,
e raras vezes estes animais so alimentados com rao prpria para ces. A gua
disponvel para consumo dos animais de reservatrios abertos. O servio veterinrio se
encontra ausente, e a sade dos animais de estimao na maioria das vezes
negligenciada.
-
45
Figura 3. O vaqueiro, figura marcante do serto nordestino sempre acompanhado por seu
fiel ajudante. A representao da esttua ( esquerda) ilustra a vida real ( direita) e
demonstra a importncia da relao entre ces e homens na Caatinga Pesqueira, PE. (foto: Marcia Chame)
3.4. Helmintos parasitos de Canis familiaris no Brasil
A literatura parasitolgica veterinria farta e sistematizada em livros textos. Um
recorte na busca de novos relatos a partir de 1995, em diversas regies, aponta uma grande
riqueza de espcies de helmintos no co domstico no Brasil.
Farias e colaboradores73 (1995) encontram ovos dos helmintos Ancylostoma spp.,
Toxocara sp., Dipylidium sp., Trichuris sp. e Toxascaris sp. em amostras de fezes de
ces domsticos em Araatuba, estado de So Paulo, no perodo entre 1992 e 1994.
Em 1997, Vicente e colaboradores48, em reviso, citam os seguintes nematdeos
para C. familiaris no Brasil: Aelurostrongylus abstrusus (Railliet, 1989) Cameron, 1927;
Ancylostoma braziliense Faria, 1910; Ancylostoma caninum (Ercolani, 1859);
Angiocaulus raillieti (Travassos, 1927) Grisi, 1971; Angiostrongylus vasorum (Railliet,
-
46
1866) Kamenski, 1905; Capillaria heptica (Bancroft, 1893) Travassos, 1915; Capillaria
sp. Almeida, Langenneger & Marangoni, 1962; Cercoptyfilaria bainae Gouvea &
Vicente, 1984; Dipetalonema grassi (No, 1907); Dipetalonema reconditum (Grassi,
1880) Yorke & Maplestone, 1906; Dipetalonema sp. Costa, Lima & Matos, 1980;
Dirofilaria immitis (Leidy, 1856) Railliet & Henry, 1911; Dirofilaria repens Railliet &
Henry, 1911; Dioctophyma renale (Goeze, 1782) Meygret, 1802; Gongylonema
pulchrum Molin, 1857; Lagochilascaris minor Leiper, 1909; Necator americanus (Stiles,
1902) Stiles, 1903; Physaloptera praeputialis Linstow, 1889; Spirocerca lupi Rudolphi,
1809; Spirocerca sp. Freire & Di Primio, 1948; Strongyloides stercoralis (Bavay, 1876)
Stiles, 1902; Toxascaris leonina (Linstow, 1879), Toxocara canis (Werner, 1782) Stiles,
1905; Toxocara sp. Cardoso & Carneiro, 1966; Trichuris serrata (Linstow, 1879),
Trichuris vulpis (Froelich, 1789) Smith, 1908; Trichuris sp. Cardoso & Carneiro, 1966.
Kommers e colaboradores74 (1999), tambm em reviso sobre os arquivos do setor
de patologia veterinria da Universidade Federal de Santa Maria (RS), relatam a
ocorrncia de Dioctophyma renale em ces necropsiados no perodo entre 1978 a 1996.
Outros autores relatam a ocorrncia deste helminto em outras localidades da regio sul
do Brasil75 e em outras regies76.
Labruna e colaboradores77 (2006) relatam o encontro de helmintos pertencentes a
cinco gneros em amostras de fezes de ces provenientes do municpio de Monte Negro,
estado de Rondnia: Ancylostoma spp., Toxocara spp., Spirocerca spp., e Physaloptera
spp., com a maior prevalncia de ovos de ancilostomdeos.
Tparo e colaboradores17 (2006) relatam a ocorrncia dos helmintos Ancylostoma
spp., Toxocara canis, Trichuris vulpis, Dipylidium caninum Linnaeus, 1758; e Taenia
spp. em amostras de fezes de ces domsticos em Araatuba, So Paulo.
-
47
Da Fonseca e colaboradores78 (2008) relatam a ocorrncia do nematdeo
Spirocerca lupi em um foco localizado em Guapimirim, estado do Rio de Janeiro,
detectados pelas tcnicas de anlise coproparasitolgica de Willis e de Hoffman, alm da
constatao da espcie em necropsia realizada em um co que veio a bito.
Ahid e colaboradores26 (2009) relatam a ocorrncia de Ancylostoma sp., Toxocara
canis e Dipylidium caninum em ces domsticos da regio urbana de Mossor, Rio
Grande do Norte.
Klimpel e colaboradores27 (2010) reportam os helmintos Ancylostoma caninum,
Toxocara canis, Trichuris vulpis e Dipylidium caninum em ces domsticos errantes
submetidos eutansia na rea urbana de Fortaleza, Cear. Entretanto, as anlises
coproparasitolgicas realizadas paralelamente neste trabalho apontaram ovos e larvas de
A. caninum.
3.5. Bioma Caatinga
A Caatinga o nico bioma exclusivo do territrio brasileiro, e apesar de
compreender cerca de 10 % do territrio nacional, as Unidades de Conservao (UCs)
nele existentes cobrem apenas cerca de 2 % de sua rea79. O cenrio regional apresenta
os piores ndices de qualidade de vida do pas e a explorao predatria e insustentvel
de seus recursos naturais padro e repercute sobre as atividades econmicas80. A perda
da diversidade biolgica significativa no s sobre a fauna e a flora, mas tambm sobre
os processos ecolgicos chaves para a manuteno do bioma. Registra-se a expanso de
reas altamente degradadas e da desertificao. Atividades como agricultura,
extrativismo vegetal, minerao, extrativismo do solo, pecuria extensiva, caa
-
48
predatria, queimadas para limpeza de solo e obras federais de grandes impactos,
constituem a maior ameaa para a conservao deste diverso bioma80, 81 (Figura 4).
Figura 4. Extrativismo vegetal para matriz energtica, um dos maiores impactos
sobre a biodiversidade da Caatinga. Olaria nas proximidades de Carnaba dos
Dantas, no Rio Grande do Norte. (Foto: Joo Daniel Santos)
A Caatinga compreende 800.000 km e domina as paisagens dos estados do Cear,
Rio Grande do Norte, a maior parte dos estados de Pernambuco e Paraba, sudeste do
Piau, oeste de Alagoas e Sergipe, regio norte e central do estado da Bahia, estendendo-
se at o norte de Minas Gerais, na regio do vale do rio Jequitinhonha. A ilha de Fernando
de Noronha est includa como pertencente a este bioma.
O nome Caatinga origina-se da lngua tupi-guarani e significa floresta branca,
dado o aspecto esbranquiado da vegetao no perodo de seca, quando as folhas de
grande parte da vegetao caem, permanecendo o brilho e o branco dos troncos das
rvores, com efeito redutor na evapotranspirao destas plantas caduciflias20 .
-
49
Embora conhecida como Caatinga, formada por vrias caatingas, j que
representa um mosaico de fisionomias vegetais distintas, como por exemplo, as florestas
tropicais amaznicas e atlnticas vestigiais do processo de regresso vegetal, resultado da
transio climtica de um clima mais mido para um clima semirido e que
permaneceram nos canyons que recortam suas chapadas; a vegetao arbustiva xerfita
dos afloramentos rochosos e da chapada; a caatinga de porte arbreo nos vales, alm de
partes de vegetao de cerrado nos tabuleiros, como na Chapada do Araripe; as florestas
midas pereneflias ou semidecduas, como as dos brejos de altitude de Pernambuco, e
as florestas secas ao redor dos inselbergs e nas bordas das serras20.
Algumas das espcies lenhosas mais comuns na caatinga so imburana-de-cheiro
(Amburana cearensis), faveleira (Cnidoscolus phyllacanthus), catingueira (Caesalpina
pyramidalis), juremas (Mimosa sp.). Espcie tpica e de folhas perenes o juazeiro
(Ziziphus joazeiro)78. A composio florstica apresenta elevado grau de endemismo para
espcies vegetais, em grande parte dominada por cactceas, como o mandacaru (Cereus
jamacaru), muitas vezes associadas a afloramentos rochosos e reas de borda de chapadas
altas, a coroa-de-frade (Melocactus zehntneti), o xique-xique (Pilosocereus gounellei), e
o rabo-de-raposa (Arrojada sp.), e por bromeliceas como Aechmea leucolepis, Billbergia
euphemiae, Dyckia elongata 81.
A maior parte das reas de Caatinga do nordeste brasileiro se encontra em
depresses interplanlticas, existindo excees como a chapada baixa do Raso da
Catarina (BA), o planalto da Borborema (PE) e a chapada do Apodi (RN), com a presena
da vegetao de Caatinga tanto nas depresses como nos planaltos20.
O clima no semirido apresenta algumas caractersticas de ambiente extremo,
com alta radiao solar, pouca nebulosidade, temperatura mdia anual alta, baixas taxas
de umidade relativa, evapotranspirao potencial elevada, e precipitaes irregulares e de
-
50
baixo ndice pluviomtrico, variando entre 240 e 900 mm, em um curto perodo do ano.
Esta natureza semirida em parte resultado da predominncia das massas de ar estveis
empurradas para sudeste pelos ventos alsios. A maior parte das massas de ar Atlntico-
Equatoriais carregadas de vapor dgua, quando empurradas para a costa nordestina pelos
ventos alsios, umedecida e precipitam-se sobre a Serra do Mar, perdendo a maior parte
de sua umidade no ambiente de floresta Atlntica. Apenas quando passam por reas mais
altas do interior, com reas midas, que estas massas de ar se umedecem e ocorre a
precipitao, como nos brejos de altitude20.
A variao sazonal de chuvas muito forte, com a concentrao de 50 a 70 % da
precipitao em trs meses consecutivos, dezembro, janeiro e fevereiro. A extenso
temporal do perodo de seca varivel em toda regio, de dois a trs meses nos brejos
midos, de seis a nove meses na maior parte da regio, chegando de 10 a 11 meses em
regies mais ridas, como o Raso da Catarina, com o aumento gradativo do perodo seco
da periferia para o centro do serto20.
Uma caracterstica marcante da Caatinga a alta temperatura mdia anual, entorno
de 26 a 28 C, e em reas a partir de 250 metros de altitude entre 20 e 22 C. As
temperaturas mdias superiores raramente ultrapassam os 40 C, estando restritas as
regies mais secas. As temperaturas mais baixas registradas foram de 4 C, sem registro
de geada20. Os solos so pedregosos e rasos, com a rocha-me escassamente decomposta
a pequenas profundidades, com a existncia de muitos afloramentos extensivos de rocha
macia, localmente conhecidos como lajedos, regies que atuam ecologicamente como
meios desrticos e onde apenas plantas suculentas podem ser encontradas. A argila
predominante a montmorilonita, formada pela ausncia de lixiviamento de sais por meio
das chuvas, e responsvel por tipos particulares de solos, como grumossolos vertissolos,
que so considerados os solos climatogncos desta rea. Os tipos de solos mais comuns
-
51
so os marrons sem clcio, entretanto entissolos e latossolos, derivados de rocha-me sob
ao do clima, tambm so abundantes21.
A hidrografia da regio formada por rios temporrios, intermitentes e sazonais,
com drenagem exorrica, com maior volume de gua no perodo chuvoso, dada a cheia
do lenol fretico, ocorrendo a inverso hidrolgica logo que as chuvas cessam, o que faz
tais rios desaparecerem21.
Esto regitradas 143 espcies de mamferos para a Caatinga24, entre eles os
marsupiais catita (Monodelphis domestica Wagner, 1842), sarigu ou saru (Didelphis
albiventris Lund, 1840), cuca (Micoureus demerarae Thomas, 1905); membros da
ordem Cingulata como os tatus, tatu-de-rabo-mole. (Cabassous sp.), tatu-galinha
(Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758), tatu-peba (Euphractus sexcinctus Linnaeus,
1758), mulita (Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758), tatu-bola (Tolypeutes tricinctus
Linnaeus, 1758), e Pilosa da familia Myrmecophagidae como o lapicho (Tamandua
tetradactyla Linnaeus, 1758), tamandua (Cyclopes didactylus Linnaeus, 1758), e
tamandu-bandeira (Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758); 64 espcies da ordem
Chiroptera (morcegos); os primatas popularmente conhecidos como bugios (Alouatta
ululata Elliot, 1912 e Alouatta caraya Humbold, 1815), macaco-prego (Sapajus
libidinosus Spix, 1823), sau (Callicebus barbarabrownae Hershkovitz, 1990), soinho
(Callithrix jaccus Linnaeus, 1758 e Callithrix penicillata Geoffroy, 1815); 24 espcies de
roedores como o endmico moc (Kerodon rupestris Wied, 1820), o pre (Galea spixii
Wagler, 1831), o punar ou rabudo (Trichomys apereoides Lund, 1839) e espcies de
cutia, como Dasyprocta prymnolopha Wagler, 1831 e outras; da ordem Artyodcatyla o
veado-mateiro (Mazama americana Erxleben, 1777), o veado-catingueiro (Mazama
gouazoubira Fischer, 1814), o caititu (Pecari tajacu Linnaeus, 1758) e a queixada
(Tayassu pecari Link, 1795); o lagomorfo tapiti (Sylvilagus brasiliensis Linnaeus, 1758).
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Dentre os carnvoros est a raposa (Cerdocyon thous Linnaeus, 1766); os feldeos
jaguarundi (Herpailurus yaguarondi Lacpde, 1809), jaguatirica (Leopardus pardalis
Linnaeus, 1758), gato-do-mato (Leopardus tigrinus Schreber, 1795), gato-maracaj
(Leopardus wiedii Schinz, 1821), sussuarana (Puma concolor Linnaeus, 1771) e ona
pintada (Panthera onca Linnaeus, 1758); os mefitdeos cangamb (Conepatus
semistiratus Boddaert, 1784), os fures Galictis vitatta Schreber, 1776, Galictis cuja
Molina, 1782, o papa-mel (Eira barbara Linnaeus, 1758), e os procyondeos jupar
(Potos flavos Schreber, 1774), quati (Nasua nasua Linnaeus, 1766) e mo-pelada
(Procyon cancrivorus Curvier, 1798).
Apesar de sua importncia, a Caatinga e o conhecimento acerca de sua
biodiversidade tem atrado poucos investimentos de cincia e conservao, existindo
menor nmero de pesquisadores seniores e publicaes cientficas de nvel internacional,
se comparada a outros biomas brasileiros, refletindo relativa negligncia no esforo para
maior conhecimento de sua biodiversidade82.
4. Metodologia
4.1. rea de estudo
Este trabalho compreende as Caatingas dos estados de Pernambuco, Paraba, Rio
Grande do Norte, Cear e Piau (Figuras 5, 6 e 7), em suas mais diversas paisagens, desde
Unidades de Conservao, fazendas estruturadas, reas de uso extensivo de animais de
criao, roas, passando por pequenos povoados, limitando-se a reas periurbanas e
excluindo reas centrais urbanizadas e por diversas fitofisionomias, desde as florestas
semidecduas do interior dos canyons do Parque Nacional Serra da Capivara e Serra das
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Confuses e bordas de serras destas Unidades de Conservao e ainda, das bordas das
Chapadas do Araripe e Catimbau; Caatingas arbreas, Caatinga arbreo-arbustivas,
Caatinga baixas, Carrasco, Cariri, Caatinga dos Afloramentos rochosos e Brejos de
Altitude78 (Prado, 2005) e por dentre e sobre serras, serrotes, chapadas, plancies,
canyons, depresses e lajedos (Figuras 5 e 6).
Para cobrir tal rea foram realizadas seis expedies a campo ao serto do
Nordeste do Brasil, no perodo entre fevereiro de 2010 a junho de 2012.
A primeira expedio foi realizada em fevereiro de 2010 no perodo de chuvas, na
regio do Parque Nacional da Serra da Capivara e no corredor ecolgico entre este e o
Parque Nacional da Serra das Confuses, e seus municpios vizinhos, no estado do Piau.
A segunda foi realizada em julho de 2010, na seca, no estado de Pernambuco, desde
Recife at Salgueiro, nos Eixos Norte e Leste do Projeto de Integrao do So Francisco.
A terceira, realizada em abril de 2011, no perodo de chuvas, no Parque Nacional Serra
das Confuses Piau, e em seus municpios perifricos. A quarta expedio foi realizada
em agosto de 2011, na seca, em reas do interior dos estados de Pernambuco, Paraba,
Rio Grande do Nort