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É bem certo que um amigo traz outro amigo e assim o número dos que abraçaram esta missão continua a aumentar. Come- çámos com umas dezenas em 2006, aquando da celebração da geminação. Sabíamos que o objectivo de sermos mais de mil era algo ambicioso, mas também estávamos conscientes de a causa a que nos dedicámos é nobre e não poderia passar indiferente a muita gente. “Catito, catito” (a pouco e pouco), como se diz no Gungo, vamos caminhando. Estamos quase nos 600. Recordamos que os "Mil & Tal Amigos" são pessoas amigas do "Grupo Missionário Ondjoyetu" que têm por objectivo apoiar a presença da equipa missionária da diocese de Leiria-Fátima que se encontra na Missão do Gungo, diocese do Sumbe, Angola. Quem pertencer aos "Mil & Tal Amigos" contribui para este projecto com pelo menos um euro por mês. Em contrapartida, é mantido a par do desenrolar desta missão pelos meios que o grupo tem ao seu alcance, nomeadamente o jornal "Ondjoyetu". Para obter mais informações e se inscrever pode contactar-nos por algum dos meios indicados na “Ficha Técnica”. A todos os que são "Mil & Tal Amigos" dizemos "Twapandula" que quer dizer Obrigado. NDJOYETU “A Nossa Casa” Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria-Fátima Ondjoyetu | Abril de 2009 | Ano V | N º 16 | Gratuito Wapinduka — A Páscoa no Gungo A vivência da Páscoa no Gungo começou com uma Via-sacra de 14 horas de viagem por uma picada enlameada em que os riscos não ficaram nos céus mas bem marcados na lama do chão (…) Das trevas da noite e das dificuldades da picada na lama passámos a um passeio calmo pelas belas paisagens do Gungo aos solavancos. Muitos chegaram silenciosos, mas quase todos saíram a cantar: “Wé wé wé, Yesu Wapinduka” - Jesus Ressuscitou (Leia na página 3) Mil & Tal Amigos

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É bem certo que um amigo traz outro amigo e assim o número dos que abraçaram esta missão continua a aumentar. Come-çámos com umas dezenas em 2006, aquando da celebração da geminação. Sabíamos que o objectivo de sermos mais de mil era algo ambicioso, mas também estávamos conscientes de a causa a que nos dedicámos é nobre e não poderia passar indiferente a muita gente. “Catito, catito” (a pouco e pouco), como se diz no Gungo, vamos caminhando. Estamos quase nos 600.

Recordamos que os "Mil & Tal Amigos" são pessoas amigas do "Grupo Missionário Ondjoyetu" que têm por objectivo apoiar a presença da equipa missionária da diocese de Leiria-Fátima que se encontra na Missão do Gungo, diocese do Sumbe, Angola.

Quem pertencer aos "Mil & Tal Amigos" contribui para este projecto com pelo menos um euro por mês. Em contrapartida, é mantido a par do desenrolar desta missão pelos meios que o grupo tem ao seu alcance, nomeadamente o jornal "Ondjoyetu".

Para obter mais informações e se inscrever pode contactar-nos por algum dos meios indicados na “Ficha Técnica”. A todos os que são "Mil & Tal Amigos" dizemos "Twapandula" que quer dizer Obrigado.

NDJOYETU “A Nossa Casa”

Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria-Fátima

Ondjoyetu | Abri l de 2009 | Ano V | N º 16 | Gratuito

Wapinduka — A Páscoa no Gungo

A vivência da Páscoa no Gungo começou com uma Via-sacra de 14 horas de viagem por uma picada enlameada em que os riscos não ficaram nos céus mas bem marcados na lama do chão (…) Das trevas da noite e das dificuldades da picada na lama passámos a um passeio calmo pelas belas paisagens do Gungo aos solavancos. Muitos chegaram silenciosos, mas quase todos saíram a cantar: “Wé wé wé, Yesu Wapinduka” - Jesus Ressuscitou (Leia na página 3)

Mil & Tal Amigos

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ONDJOYETU Jornal do Grupo Miss ionário da Diocese de Leir ia-Fát ima

Adobes - Rasto no Céu Os aviões quando cruzam os céus dei-

xam seus riscos e, por eles, podemos ver donde vêm e para onde vão ou pelo menos saber que passaram por ali. No avançar dos trabalhos da missão e

do nosso dia-a-dia vão ficando riscos daquilo que fazemos e das pessoas que o fazem. No final de Fevereiro e princípio de

Março fomos visitar as comunidades do Chimbango, uma área pertencente ao Gungo mas que ainda nunca tinha sido visitada por estar um pouco desli-gada. Foi a oportunidade de conhecer mais um pedaço de Gungo mas, acima de tudo, foi um momento para estar com o povo que ainda não conhecía-mos e de quem, de repente, nos torná-mos família; foi caminhar com os gru-pos que estão ávidos para avançar com a vida cristã; foi ir mais longe; foi levar a ajuda das nossas cantinas; foi contri-buir através da fé, para a união de povos que estavam separados… Após esta visita missionária aprovei-

támos uns dias para mudar de ares e ir beber a riqueza de outras experiências m i s s i o n á r i a s . Fomos até ao Huambo por 5 dias. Contactámos com paróquias e mis-sões, descansámos um pouco do ritmo que temos habitual-mente e aproveitá-mos para conhecer os sítios por onde o nosso tio Armando andou há mais de 30 anos. Foi possível encontrar alguns amigos de juventude do tio Armando. Foram cenas dignas de um ponto de encontro em que, amigos separados, puderam dar um abraço bem real que anulou os anos de separação. Chegados do Huambo e renovados

pelas várias experiências, o ritmo vol-tou ao “normal”. A visita do Santo Padre estava à porta e era preciso pre-parar a transmissão. Felizmente tive-mos quem nos emprestou (e posterior-mente ofereceu) uma antena parabóli-ca para podermos captar o sinal de televisão. Com o projector de multimé-dia ligado (bem hajam também os que contribuíram para ele) tínhamos uma autêntica sala de cinema montada na

capela do Uquende. De 18 a 20 de Mar-ço os olhos, na hora das transmissões, estavam voltados para o lençol branco onde tudo foi projectado. Crianças, jovens e velhos, sentados nos paus, em adobes ou mesmo no chão, amontoa-dos à frente… acompanharam e senti-ram que: o Papa veio estar connosco! Terminada a visita do Santo Padre,

continuámos no mesmo bairro para trabalhar com os vários grupos de pre-paração para os sacramentos, desta-cando-se a avaliação dos catecúmenos que fizeram o seu compromisso comu-nitário. A vivência da Páscoa no Gungo come-

çou com uma Via-sacra de 14 horas de viagem por uma picada enlameada em que os riscos ficaram marcados na lama. No tocante a projectos concretos, des-

taca-se a colheita do primeiro milho da lavra da missão, resultado do trabalho dos bois; o projecto de instalação de uma futura moagem que foi apresenta-do em Portugal à espera de financia-

mento; o nosso camião que tarda em aparecer… Os alfaia-tes continuam de agulha na mão e é de sublinhar que têm feito esforços para melhorar a qualidade da produção com resultados franca-mente positivos. Na Equipa Missioná-ria temos connosco

um casal, Tiago e Antónia que, desde o dia 02 de Abril estão a dar o seu contri-buto para a Missão. O nosso tio Armando terminou os seus fugazes 6 meses de missão. Muito fez no Sumbe, Gungo e por onde passámos. Em mui-tos ficou a vontade de o voltar a ver, aprender e trabalhar com ele pois ficou cá muito para ele fazer e ensinar… Após uma maratona de papéis, docu-

mentos e preparativos, (muito nos valeu a ajuda da mana Lina enquanto estávamos no Gungo) foi possível enviar para terras lusitanas o tio Vitori-no João Guluve. Fiquem bem e não tenham medo de

deixar rasto no mundo e na vida uns dos outros.

Ficha Técnica Ondjoyetu: Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria Fátima. Contactos: Cartório Paroquial, 2415 - 200 Regueira de Pontes; Tel.: 926 031 382; E-mail:[email protected] Blog: www.ondjoyetu.blogspot.com Tiragem: 2.000 exemplares Distribuição: Gratuita Textos: Equipa Missionária; Antónia e Tiago Gomes; Marta Gomes; Catequistas do Gungo; Maria Inês Pereira.

As saudades de pessoas que intimamen-te se amam iniciam no anúncio da despe-dida.

N e s t a hora em que nos despedi-mos de v ó s d e p o i s d e s t e t e m p o v i v i d o connosco, c o r r e m lágrimas de sauda-des nos corações.

Os catequistas, a comunidade cristã bem como o povo dos bairros e centros por onde passastes têm-vos no coração e nunca esquecerão de vós pelo esforço feito em deixarem tudo do vosso País e virdes ao nosso encontro transmitir-nos o calor de fé que recebestes.

Cumpristes assim com aquilo que se passou com a Maria de Magdala que não escondeu a alegria de ter se encontrado com o ressuscitado, bem como dos discí-pulos de Emaús que depois de reconhecer Jesus ao partir do pão, partiram ao encontro dos irmãos reunidos em Jerusa-lém, depois de terem visto o senhor que ressuscitou verdadeiramente.

Mana Lina, o sacrifício que fizestes de ir ao encontro das comunidades fazendo dezenas de quilómetros caminhando a pé jamais será esquecido por este povo. Gos-taríamos que ficasses mais tempo! Que não é possível porque Deus (quer) te cha-ma a (ir) servir os que não O conhecem.

Mana Marta, oxalá que os dois meses de Missão à comunidade do Gungo seja de explorar o terreno e o seu regresso a Por-tugal, que seja de ir arrumar as malas para continuação da sua Missão nessa comunidade que tanto vos espera.

O nosso muito obrigada por tudo quan-to fizestes por nós.

Feito aos 21 de Setembro de 2008

Os catequistas

Estimadas e Inesquecíveis

Lina e Marta

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O solene tríduo pascal foi passado na Chitunda, uma aldeia bem no interior do Gungo. O caminho para lá foi difícil. Demorou 14 horas desde a partida no Sumbe às 12.00h até às 02.00h do dia seguinte. Os últimos 12Km demoraram nove horas e meia, pois foram feitos num momento em que a picada estava molhada e, claro, escorregadia. Parte desta picada foi agora rea-berta pois já há vários anos que não passavam lá veícu-los de quatro rodas. Valeu-nos a grande ajuda do povo e os apetrechos do nosso carro para chegarmos. Aquele troço parecia as várias estações da via Sacra com muitas paragens. Feliz-mente não fa l taram “Cireneus” nem “Verónicas” para suavizar esta caminha-da. À chegada parecia que tínhamos voltado ao Domin-go de Ramos com o acolhi-mento dos resistentes que tinham ficado a pé para nos acolher.

Tivemos uma afluência de cerca de 600 pessoas e mui-tos fizeram dezenas de quilómetros para poder estar e celebrar, junto da equipa missionária, a Páscoa. Foi interessante, comovente e ao mesmo tempo um gran-de testemunho ver o grande grupo do Chimbango a chegar. Era uma coluna de cerca de 50 pessoas: novos e velhos todos a cantar pela planície da Chitunda. O desejo de celebrar a Páscoa deu-lhes a coragem de atravessar em duas etapas

os cerca de 30 km de distância. Logo na quinta-feira foi possível iniciar

reflexão com o grupo dos catequistas. E com as crianças experimentou-se a últi-ma ceia e o lava-pés. À noite, na celebra-ção, no Lava-pés, apresentaram-se um membro de cada centro e um membro da Equipa Missionária. Foi um momen-to sereno mas significativo ficando a

pergunta: “Compreendestes o que vos fiz”?

A tarde de sexta-feira foi reservada para a vivência da Via-sacra ambulante organizada pelos jovens. Revelaram-se talentos mas, acima de tudo, viu-se nos jovens que prepararam representações para cada estação a vontade de encarnar cada momento e o transmitir aos outros.

Na Vigília Pascal houve um momento

especialmente marcante. No cântico do glória, os batuques iniciaram o seu rufar. Foi sem dúvida o romper do silêncio dos quarenta dias da Quaresma porque uma razão grande o exigia. Era preciso acor-dar quem estivesse a dormir e dar a todos a consciência de que um tempo novo iniciou. No Aleluia a pele dos batu-ques estava quente e, no fim da celebra-

ção, manteve o seu calor pois houve um bom grupo que, depois da vigília, continuou a cantar e dançar ao som de cânticos e do batuque. Bem, resumindo: fomos por uma nova picada e à ida tive-mos muitas dificuldades. No regresso as coisas foram mais fáceis o que antes tinha demo-rado 9 horas e meia demorou apenas 1.45h. Viva o Sol! Das trevas da noite e das dificulda-des da picada na lama passá-mos a um passeio calmo pelas belas paisagens do Gungo, aos solavancos. Muitos chegaram silenciosos, mas quase todos saíram a cantar: “Wé wé wé, Yesu Wapinduka” (Wé, wé, wé, Jesus Ressuscitou)! serão

efeitos da Páscoa? Esperamos que a celebração da Pás-

coa tenha deixado marcas na vida de cada cristão que a quis viver a sério. Nós por cá vamos tentando gritar com a vida que estamos num tempo novo.

Os batuques não se vão calar.

A Equipa Missionária

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3 ONDJOYETU

Wapinduka - A Páscoa no Gungo

Estamos de Partida Partir significa caminhar em direcção a

algum lugar ao encontro de algo ou alguém.

Mas partir, significa também quebrar. Mas quebrar o quê? Quebrar as correntes do egoísmo, do

comodismo e do materialismo. “Ide e Anunciai a Boa Nova a todos os

povos”, disse o Mestre. Ao tomarmos esta decisão, quisemos

fazer despertar o nosso coração adorme-cido pela rotina do dia a dia e por tudo o que nos prende à nossa volta, para irmos ao encontro do outro, daquele que sofre a dor, a injustiça e o esquecimento, a amargura de quem nada tem.

Queremos levar o Cristo Ressuscitado como sinal de Esperança aos pobres e oprimidos.

Foi este o objectivo que nos fez lançar

nesta aventura sem fronteiras para o desconhecido e transformar a nossa vida por vezes fútil e vazia de sentido, em algo que consideramos belo e sublime.

Alguém clama por justiça, por Amor, por uma mão amiga.

Aqui estamos Senhor, aqui vamos res-pondendo ao teu apelo.

É Teu o nosso tempo, é Tua a nossa vida.

Aceita Senhor o pouco que temos para Te dar e transforma este pouco numa fonte de bênçãos para quem mais neces-sitar.

Ensina-nos a servir os nossos irmãos do mesmo modo que Tu serviste os Teus apóstolos na última ceia.

Nesta recta final da nossa vida, que nós saibamos usá-la para espalhar o Teu Reino de Paz Amor.

Tiago e Antónia Gomes Texto escrito por este casal uns dias

antes da partida em missão teve lugar a 1 de Abril e se prolonga por três meses

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Deste lado da linha da missão, todo o grupo missionário tem esta-do envolvido em diversas activida-des.

Uma delas está relacionada com o envio de um contentor para Angola. Após o apelo realizado à Diocese a solicitar alguns bens essenciais, foi-nos chegando diverso material para que a missão possa continuar. E a equipa tem estado empenhada a seleccionar, separar e encaixotar todo o material, para que em breve possa chegar a terras de Angola.

No próximo mês, o grupo missio-nário marcará presença durante a Feira de Maio, na cidade de Leiria. Vamos estar numa das barracas, onde será possível divulgar o nosso projecto e vender alguns materiais, para que seja possível avançar na missão.

No passado dia 16 de Abril, che-gou a terras lusitanas o nosso Tio Vitorino João Guluve, vice-presidente do Conselho da Missão. Foi com muita alegria que o recebe-mos no aeroporto, que o acolhemos aqui no grupo e em nossas casas. Vão ser 2 meses de missão, teste-munho e partilha de uma vida de quem costuma estar do outro lado da missão, de quem recebe algum do nosso trabalho. E para já tudo tem sido uma grande novidade para ele, mas aos poucos vai-se inteiran-do da nossa realidade e de todo o trabalho nesta linha da retaguarda.

Entretanto, a Maria Angélica e a Maria Inês estão em preparação para partir, respectivamente, em Junho e Agosto próximos.

E vamos continuando esta missão com muita coragem, fé e alegria. E é por isso que continuamos a cantar “Alegriááá, o dia de hoje, Ale-griáááá”.

A linha da Retaguarda

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E a Linha da Retaguarda

Continua a Trabalhar!

4 ONDJOYETU

Um Sonho, Uma Viagem, Um Sorriso!

Como qualquer outra criança, um dia sonhei. Sonhei com um projecto, sonhei com uma viagem, sonhei… Não é algo estranho para mim, mas este sonho tinha algo mais. Algo me fazia acreditar que era, de verdade, algo real. Algum tempo depois, foi apresentada na minha cate-quese um projecto missionário por umas irmãs. Fiquei fascinada! Pela primeira vez sentia que realmente Deus me chamava de uma forma tão explícita! Aquilo que tinha sonhado estava diante dos meus olhos. No final da apresentação falei com uma das irmãs para conhecer melhor o projecto e a possibilidade de fazer missão. Como sempre, os papéis burocráticos atrasaram-se e eu para poder acompa-nhar as irmãs teria de faltar às aulas, algo que com aquela idade não seria possível. O sonho ficou adiado, mas a semente não morreu. Fiz voluntariado em diversas áreas, mas sentia que o desejo era de ir mais longe, de cumprir a promessa que no 8º ano, eu e 4 catequizandos, fizemos a uma das catequistas. Com 18 anos parti-ríamos, todos juntos, em missão, para um país necessitado. O blá blá dos jovens, que a maior parte das vezes desvanece e esvoaça com a primeira corrente de ar. A minha promessa manteve-se e, desta vez, não resisti! O nome do grupo missionário já tinha entrado pela minha “cabeça a dentro” algumas vezes, pois dei catequese com a “Mãezinha” (Sónia Cruz), no seu ano de partida para missão, e conhecia a Mana Inês. Decidi falar com esta, depois com o P. Vítor e após algumas conversas fui apresentada ao grupo e preparei-me para partir em missão!! Não partia com 18, mas com os 19 anos acabados de fazer. O meu coração sorria de alegria! Final-mente iria fazer parte de um projecto mis-sionário, tal como sonhava.

Tudo no antes foi animador, um pouco mágico até, mas o poisar naquelas terras, o ver com os meus olhos aquilo que já me tinha sido descrito por várias pessoas, tornava o significado da palavra magia em algo ainda mais profundo, mais belo. Não sei se foi por ter ouvido várias vezes falar do Sumbe e do Gungo, de ter visto tantas reportagens destas terras, ou sim-plesmente a serenidade que há dentro de mim, que, para mim, a adaptação não existiu. Senti-me como se estivesse em casa. Sim, numa casa de uma cidade menos cuidada que a minha, mas eu sabia para onde ia! A adaptação à casa também não custou, acho que já conhecia aqueles cantos. Agora a adaptação ao ritmo do dia-a-dia e à família custou. Mas com algum tempo e com algumas conversas tudo se resolveu. Subir ao Gungo um dia

depois de chegar e ter aquela recepção tão típica, fez o meu coração sentir o maior dos sorrisos! Deus estava comigo, com aquele povo e todos estávamos com Ele! Voltámos à cidade para preparar a próxi-ma subida, tratar de tudo e o tempo voou. Estava na hora de encher de novo o cava-linho branco de coisas e subir. Subi com visitas provenientes de Benguela, também missionários por estas terras angolanas. Nova recepção, novo entusiasmo! Foi tempo de partilha, de aprendizagem, de ensino, de convívio, de oração. Muito aconteceu, naqueles momentos que pas-saram a voar. No entanto, desci com o sentimento de que tinha dado um pouco de mim, tinha dado aquilo que fui sentido que a missão me ia pedindo. Mais uns dias na cidade e era hora da visita do Sr. Bispo à nossa missão. Uma viagem muito esperada e ansiada pelo povo. No primei-ro dia o povo vibrou, mas depois, a triste notícia chegou. Mesmo sem o nosso que-rido padre presente, decidimos avançar. Esforçámo-nos ao máximo para que tudo corresse dentro do programado, e de for-ma a que o povo e o Sr. Bispo não sentis-sem a diferença, aproveitando ao máximo esta oportunidade de convívio e partilha. Uma vez mais descia à cidade e era tempo de fazer as malas, mas desta vez com des-tino a terras lusitanas. O meu pouco tem-po em missão terminava, com a esperança de ter ajudado de alguma forma este povo a crescer, desejando ter deixado uma migalhinha do pequeno pão que Deus me atribuiu neste mundo. Voltei com o desejo de regresso, com a ânsia de espalhar a palavra da Missão e de Deus, e de tentar fazer deste mundo um mundo melhor, espalhando as minhas pequenas migalhas por onde quer que passe!

Mana Martinha

A Marta Gomes esteve em missão de 6 de Agosto a 25 de Setembro de 2008.