Operação de migração para o novo data center da Celepar - IDA … · 2014-04-22 ·...
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PDE: Formação Continuada para Professores da Escola Pública Estadual –
Desafios e Conquistas
Autora: Ida Blank Sabadin1
Orientadora: Beatriz Helena Dal Molin2
Resumo
Urge que a escola e o educador acompanhem o processo da evolução do mundo, do salto tecnológico, rumo a uma sociedade aprendente e preconizem uma práxis mais criativa, atraente, coerente com o momento. Permitam-se um fazer pedagógico de sedução, enredado e conduzido pelo digital, estabelecendo teias entre tudo e todos, Portanto, o espaço escolar é chão fecundante para edificar e açambarcar conhecimentos, para inserir-se nas esferas públicas ou privadas e os recursos tecnológicos disponíveis, podem ser o cadinho de fomento dos educandos e educadores para o uso cada vez mais intenso e criterioso da tela, da internet, que hoje já é considerada um instrumento de primeira necessidade, e das atividades digitais de ensino-aprendizagem. A partir desta premissa, este artigo objetiva tecer considerações sobre a formação continuada dos professores, na perspectiva da natureza do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, estado do Paraná, da coparticipação da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Unioeste como mediadora do processo de formação - que dialoga com os professores da educação básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, proporcionando subsídios teórico-metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e que resultem em redimensionamento da práxis educativa, e de nossa atuação na qualidade de professora PDE, bem como, na perspectiva de pesquisadora que observa as turmas anteriores e posteriores à nossa formação PDE.
1 Especialista em Interdisciplinaridade, Graduada em Letras-Inglês. Docente de Língua Portuguesa no Colégio Estadual de Dois Vizinhos – EFMP. Dois Vizinhos - PR. E-mail: [email protected] 2 DAL MOLIN, Helena Beatriz - Pós-Doutora do Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento/ Área de Mídia e Conhecimento/ Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Membro do grupo de pesquisa PCEADIS/Cnpq/UFSC, do grupo Confluências da Ficção, História e Memória na Literatura, Linguagem, Cultura e Ensino, PECLA. Pesquisas em Educação, Cultura. Linguagem e Arte / Unioeste, Núcleo de Complexidade e Cognição (Antigo Núcleo de Ecoergonomia) UFSC. Professora no Colegiado de Letras e no Programa de Pós-Graduação mestrado e doutorado em Letras_Linguagem e Sociedade da UNIOESTE-Paraná. Coordenadora do Projeto Estudo, concepção e produção de recursos educacionais impressos e digitais - Unioeste e instituições parceiras. Cascavel – PR, E-mail: [email protected]
Palavras-chave: PDE; formação continuada; mídias tecnológicas.
Abstract
It is urgent the school and the teacher accompanying the process of evolution of the world, the technological leap, towards a learning society and endeavor a practice most creative, compelling, consistent with the time. Allow yourself to a pedagogical seduction, entangled and driven by digital, establishing webs between everyone and everything, therefore, the school is fertile ground to build and hoard knowledge, to insert themselves in public and private spheres and the technological resources available may be the crucible for the promotion of students and educators to use more and more intense and careful of the screen, the internet, which now is considered an instrument of necessities, and the digital activities of teaching and learning. From this premise, this paper aims to comment on the continuing education of teachers, with the nature of the Educational Development Program - PDE, Parana state, the co-participation of the State University of West Paraná / Unioeste mediates the formation process - in dialogue with the teachers of basic education through theoretical and practical oriented activities, providing theoretical and methodological subsidies for the development of educational systematized, and that result in educational practice resizing, and our performance as a teacher PDE, and, from the perspective of a researcher who observes classes before and after training to our PDE.
Keywords: PDE; Continuing education; Technological media.
1 Introdução
Quinta-feira, 02 de fevereiro de 2012. Ministério da Educação distribuirá tablets. De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, os equipamentos serão doados às escolas. O objetivo do projeto Educação Digital – Política para computadores interativos e tablets, anunciado pelo ministro Mercadante nesta quinta-feira, 2, é oferecer instrumentos e formação aos professores e gestores das escolas públicas para o uso intensivo das tecnologias de informação e comunicação (TICs) no processo de ensino e aprendizagem. Para o ministro, o mundo evolui em direção a uma sociedade do conhecimento e a escola tem que acompanhar esse processo. “É evidente que a tecnologia não é um objetivo em si, nada substitui a relação professor-aluno.” A tecnologia, afirmou, vai ser tão mais eficiente quanto maiores forem os cuidados pedagógicos e quanto maior for o envolvimento dos professores no processo. “Estamos definindo que, na
educação, a inclusão digital começa pelo professor.” (LORENZONI, Portal do MEC/2012).
O amanhã chegou e, dada a celeridade tecnológica em breve será ontem.
Temos à mão um mundo tecnológico. Há culto à tecnologia em toda parte,
distribuído na sedução de produtos, nas promessas da imortalidade pela ciência, no
desejo pela última inovação. O medo e o fascínio. A tecnologia é parte do homem, é
uma espécie de sua potencialização estendida em bits e bytes, mas essa
potencialização precisa e deve ser usada criticamente.
“O mundo evolui em direção a uma sociedade do conhecimento e a escola
tem que acompanhar esse processo”, segundo declaração ministerial, logo
computadores interativos acoplados a lousas eletrônicas, tela multitoque... “O uso
intensivo das Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC no processo de
ensino e aprendizagem.”
A realidade do hoje: professor Século XX. Ou melhor, professor com
formação no Século XX.
Temos nas escolas, entusiastas e detratores com a era da informática, da
abundância de conteúdo. O dissabor da falta de informação passou a ser um
problema de filtro. Nem todos se beneficiam desse ambiente ou sabem como dele
fazer uso adequado. Para alguns, a solução é o afastamento. Para o MEC, o
professor deve dominar o equipamento e o seu uso, antes desse chegar ao aluno.
“A inclusão digital tem que começar pelo professor. Se ele não avançar, dificilmente
a pedagogia vai avançar”. Esta declaração do ministro da educação reforça-se nas
palavras:
Ninguém sabe nadar verdadeiramente antes de ter atravessado sozinho um rio largo e impetuoso ou um estreito, um braço de mar agitado. Existe apenas um espaço numa piscina, que é território para aí se mergulhar em conjunto. Partamos, mergulhemos. Depois de ter deixado a margem, permanece-se algum tempo muito mais perto de um do que de outro, mesmo de frente, pelo menos o suficiente para que o corpo se entregue a esse cálculo e diga silenciosamente que pode sempre regressar. (SERRES, 1993, p.13)
Respirar, mergulhar, avançar, afastar, chegar, regressar?
Não! Sim.
Sim! Não.
Perplexidade. Indagações que se sucedem.
Fernando Pessoa, escritor português, nascido em Lisboa, considerado um
dos maiores poetas da língua portuguesa e da literatura universal, com seus
heterônimos - em Alberto Caeiro, buscava o objetivismo absoluto, eliminando todos
os vestígios da subjetividade. Era o poeta que busca "as sensações das coisas tais
como são". Já Ricardo Reis, era a vertente clássica ou neoclássica da criação de
Pessoa. Sua linguagem é contida, disciplinada, e Álvaro de Campos, era o lado
"moderno" de Fernando Pessoa, caracterizado por uma vontade de conquista, por
um amor à civilização e ao progresso. Campos era um engenheiro inativo,
inadaptado, com consciência crítica, vem nos insuflar dizendo “que se viver não é
preciso. Navegar é preciso”. Ao navegar, metamorfosear-se, transmutar-se, avançar,
abrir novos horizontes, construir novos caminhos, outras metodologias, estabelecer
diferenças no fazer pedagógico das escolas, cujos professores já encorpam o elenco
de preparados pelo PDE.
É inadiável o afastamento do educador da tradição secular, de fazeres
ultrapassados, para um mergulho significativo nas formas de produzir
conhecimentos ao invés de apenas repetir conhecimentos já produzidos.
Com este artigo, relatamos vivências ocorridas e ao mesmo tempo
queremos incentivá-lo para que mergulhe no oceano do virtual e preconize uma
práxis mais criativa, atraente, coerente com o momento. Permita-se um fazer
pedagógico de sedução, enredado, conduzido pelo digital, estabelecendo teias entre
tudo e todos. Revele-se. Mesmo porque, não existe aprendizado sem abertura e
sem entrega. Uma nova aprendizagem impulsiona uma nova braçada. “Aprender
provoca errância”, (SERRES, 1993, p.16), imersões ininterruptas, inquietude,
insatisfação.
O saber não é mais uma pirâmide estática, ele incha, e viaja numa vasta rede móvel de laboratórios, de centros de pesquisa, de bibliotecas, de bancos, de homens, de procedimentos técnicos, de mídias, de dispositivos de gravação e de medida, rede que se estende continuamente ao mesmo movimento entre humanos e não-humanos associando moléculas e grupos sociais, elétrons e instituições. (LÉVY, 1997, p. 35)
O espaço escolar é chão fecundante para edificar e açambarcar
conhecimentos, para inserir-se nas esferas públicas ou privadas. A escola dispõe, e
disporá cada dia mais, dos recursos tecnológicos. Desse modo, ela é o cadinho de
fomento de uma práxis criativa que respeite, no contexto universal, as singularidades
de cada educando, em movimentos de solidariedade planetária.
Desafio posto: formação docente com o uso das tecnologias.
Impulsionar o educador a assumir o posto de comandante da nau Sala-de-
Aula em sua incursão pelo ciberespaço, ainda hostil e inexplorado, favorecendo a
apropriação dos saberes, dos dispositivos tecnológicos que o auxiliarão e darão
consistência à sua práxis.
Ao chegarmos a um porto, percebemos todos que, estes foram os bons
ventos que insuflaram o aprender e o ensinar.
2 Escritura
ALQUIMIA Nas mãos inspiradas
nascem antigas palavras com novo matiz.
Helena Kolody
Da escrita nas cavernas para a escrita na “nuvem”.
A revista Veja, 1º de fevereiro de 2012, entre as páginas 64 e 71, traz uma
reportagem de Monica Weinberg, intitulada O mundo de um novo ângulo, sobre o
matemático americano Salman Khan que, com aulas na rede, site
www.khanacademy.org ou http://www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/,
começa a revolucionar a velha e enfadonha rotina escolar. Pretendendo
principalmente, “tornar a experiência escolar mais prazerosa e eficaz, duas coisas
que ela não é”. Segundo Veja, seu nome circula entre especialistas em educação.
Evidentemente não estamos diante de uma solução mágica para que a escola de hoje estacionada no modelo de dois séculos atrás, se torne um lugar mais dinâmico e afinado com as verdadeiras demandas do século XXI.
Não existe tecnologia que resolva esse abismo sozinha, por mais engenhosa que seja, sem um professor bem preparado para tirar proveito dela em prol do ensino. [...] O site de Sal aponta um caminho para revirar a chatice e inovar. (VEJA 2012, p.68)
Não pretendemos discorrer sobre o método, mas comprovar o que é
possível fazermos ou acessarmos, se nos colocarmos abertos a aprendizagens.
E qual é o papel do professor? Sustentamos um diálogo com o professor
sobre um aprendizado cooperativo com a tecnologia, como uma possibilidade de
práxis, da construção de um espaço cada dia mais amplo para a aprendizagem, o
domínio e o uso de tecnologias digitais que permitem acesso ao ciberespaço, que
transmutem e enriqueçam seu fazer pedagógico cotidiano, de modo que este
corresponda ao clamor da geração nativo digital.
[...] a tecnologia traz ao redor de si uma ramificação infinita de pequenas raízes, de rizomas, finas linhas brancas, esboçando por um instante um mapa qualquer, com detalhes delicados, e depois correndo para desenhar mais à frente outras paisagens de sentidos. (LÉVY, 2001, p. 26)
Ao educador cabe seguir as várias linhas, percorrê-las, refletir, fazer
escolhas, que o levem a aprender e a ensinar de outro modo, pois “o ambiente
pedagógico tem de ser lugar de fascinação e inventividade”. (ASSMANN, 1998, p.
29).
Apresentamos no contexto desse artigo, reflexões com o objetivo de
percebermos a tecnologia digital como mediadora do processo de ensino-
aprendizagem.
Conhecedores da imperiosa necessidade, os educadores sabem que um
dos seus papéis é ajudar e orientar os educandos a interpretar e selecionar as
informações e as fontes disponíveis. Constrangidos e angustiados pela ausência
desse conhecimento e domínio na área, alguns se pronunciaram:
Encontro-me ainda como semi-analfabeta e comentar sobre meus conhecimentos é um pouco complicado porque não domino ainda a linguagem tecnológica e sofro. Sinto-me pequena diante dos alunos quando estes comentam ou realizam... (Professor 01).
Sempre acreditei que o uso de tecnologias seria um diferencial metodológico importante. Fiquei feliz pela possibilidade de aprendizado, pois, confesso que tenho dificuldades em explorar esse recurso, que é capaz de renovar a minha prática. (Professor 02) Eu quero! Mas não sei. Como ensinar? E se ... (Professor 03) Não sei digitar com todos os dedos, vou passar vergonha... (Professor 4) Não tenho nem e-mail, vou fazer o quê com tanta tecnologia? (Professor 5)
A resistência de muitos em aprimorarem-se, apropriar-se das novas
tecnologias na vida pessoal e profissional, tem a ver com a insegurança gerada de
um falso temor de estarem sendo substituído, superados no plano cognitivo pelos
recursos e ferramentas da informática, e ainda, pelos escrúpulos de terem que
admitir que não são somente eles, que hoje, detém o conhecimento.
Para Serres (apud DAL MOLIN, 1996, p.51):
É óbvio que nada se pode contrapor a isto. Mas a encarnação do saber no corpo docente data de épocas em que apenas uma pessoa rara era portadora do saber: ancião experiente, padre, mestre, [...]; dizia-se habitualmente deles que, quando morressem, desaparecia uma biblioteca inteira. Este remorso significava, pelo contrário, creio, que, a partir da invenção de novos suportes: escrita, imprensa, livros e livrarias, nunca mais morreu o corpo vivo e presente receptáculo ou tabernáculo do saber. Este é o meu corpo: o livro que escrevo é mais a carne da minha carne do que a minha própria carne. E, também, como o de um anjo, este corpo sutil pode, virtualmente, partir, voar, falar em lugares onde não está o corpo presente. O ensino à distância nasce com a escrita, para se desenvolver através da imprensa.
Nesse sentido, o simples treinamento para o manuseio de aparelhos e de
softwares, por mais importantes que sejam, não resolvem o problema. Por isso, é
fundamental mostrar que a função do educador versado não só não está ameaçada,
mas aumenta em relevância. Seu novo papel não será apenas o da transmissão de
saberes aparentemente prontos, mas de mentor, de excitador, de acompanhar e
gerenciar a nova dinâmica de aprendência.
Nossas ações estão fortalecidas na teoria da aprendizagem significativa de
Ausubel, citada por Antônio C.C. Ronca no texto as Teorias de Ensino: a
contribuição de David Ausubel. As estratégias de ensino devem ser orientadas no
sentido de permitir que, em nosso caso, o educador/aluno, tenha um aprendizado
significativo, propondo um ensino ancorado aos conhecimentos prévios, onde as
novas informações irão encontrar um modo de se articular àquilo que o indivíduo já
conhece. (RONCA, 1994, p. 91-95), que ainda, segundo Lévy:
O ciberespaço, interconexão dos computadores do planeta, tende a tornar-se a maior infra-estrutura da produção, da gestão, da transação econômica. Em breve, constituirá o principal equipamento coletivo internacional da memória, do pensamento e da comunicação. Em suma, daqui a algumas décadas, o ciberespaço, suas comunidades virtuais, suas reservas de imagens, suas simulações interativas, sua irreprimível profusão de textos e sinais serão o mediador essencial da inteligência coletiva da humanidade. Com esse novo suporte de informação e comunicação, estão emergindo gêneros de conhecimentos inéditos, critérios de avaliação inéditos para orientar o saber, os novos atores na produção e no processamento dos conhecimentos. Toda e qualquer política de educação deverá levá-lo em consideração. (LÉVY, 1993).
Para que os indivíduos tenham acesso ao conjunto de bens e serviços
disponíveis na sociedade, a educação é um dos requisitos fundamentais. Ela é um
direito de todo homem, como condição necessária para usufruir de outros direitos
constituídos na sociedade democrática. Ela passou por transformações progressivas
possibilitando a transferência da cultura ao longo da história, modificando profissões,
trazendo novas tecnologias e transformando afazeres. Porém, pouco ou nada se
modificou em seus postulados básicos de trabalhar, transmitir e produzir
conhecimento. Séculos de trabalho realizado, tornaram a escola uma sólida
organização que precisa cumprir cada dia com maior eficácia, seu papel de ensinar
e aprender com as transformações sociais, deixando de lado o uso contínuo de
envelhecidos métodos, nada mais que desencantadores, que têm como as suas
únicas ferramentas de transmissão: professor, giz e saliva.
A tradição pedagógica insiste ainda hoje em limitar o pedagógico à sala de aula, à relação professor-aluno, educador-educando, ao diálogo singular ou plural entre duas ou várias pessoas. Não seria esta uma forma de cercear, de limitar a ação pedagógica? (GADOTTI, 2001, p. 9)
Pensar o ensino da Língua e da Literatura “implica pensar também as
contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro complexo da
contemporaneidade” (Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná – Língua
Portuguesa (DCE), 2008, p.48). As novas tecnologias da informação criaram novos
espaços de conhecimento e novas formas de comunicação. Agora, além da escola,
também a empresa, o espaço domiciliar, o espaço social, o ciberespaço, tornaram-
se educativos. O espaço virtual rompeu com a idéia de tempo e lugar próprios para a
aprendizagem. Alguns o adoram, outros o temem por muitas razões. Cabe, pois, à
escola, enriquecer também este espaço, pondo-se como uma produtora e
propagadora do conhecimento, utilizando as vias que a internet oferece e que, aos
poucos se apropria, para educar e mostrar à comunidade sua criatividade e suas
edificações.
Como manter as práticas pedagógicas em fase com processos de transação de conhecimento em via de rápida transformação e, no futuro, densamente divulgados na sociedade? Não se trata aqui de utilizar a qualquer custo as tecnologias, mas sim de acompanhar consciente e deliberadamente uma mudança de civilização que está questionando profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educativos tradicionais e, notadamente, os papéis de professor e aluno. (LÉVY, 1993)
Reconhecemos que o crescimento do ciberespaço é resultado da dinâmica
de “jovens ávidos para experimentar, coletivamente, formas de comunicação
diferentes daquelas que as mídias clássicas nos propõem”; e de que “estamos
vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós
explorarmos as potencialidades mais positivas deste espaço” em todos os planos.
(LÉVY, 1999, p. 11). A presença, cada vez mais acentuada e vigorosa, das novas
tecnologias da informação e da comunicação, reclama a atenção dos profissionais
de todas as esferas a este aspecto tão importante na sociedade, que comanda a
transmutação das próprias esferas coletivas.
Está na hora de fazermos, sem ingenuidades políticas, um esforço para reencantar deveras a educação, porque nisso está em jogo a auto-valorização pessoal do professorado, a auto-estima de cada pessoa envolvida, além do fato de que a privação da educação representa, sem dúvida, na sociedade do conhecimento na qual já entramos, uma verdadeira causa mortis. (ASSMANN, 1996, p. 19).
Se isso não ocorrer, as consequências negativas para a escola, para o
professor e para a educação são enormes. É essencial ter “competências mínimas e
flexíveis”, que habilitem o aprendente a tomar iniciativas, comunicar-se, ser criativo,
capaz de articular o conhecimento característico da sociedade atual com a prática,
ser independente, aprendiz autônomo e a distância, algumas vezes.
Dispomos de equipamentos e ideias para navegar em qualquer oceano
informativo com serenidade e capacidade de escolhas. Sabendo que não é tempo
de calmaria, bem ao contrário, que os ventos sopram, tomemos a bússola, mapas e
reforcemos os mastros que sustentem as velas, para que permitam aproveitar o
sopro dos bons e maus ventos. Faz-se necessário (re)elaborar continuamente novos
planos de viagem que, deverão ser capazes de conduzir melhor nossa navegação.
Nesse viés o ato de educar exige uma resposta e a “resposta que o homem
dá a um desafio, não muda só a realidade com a qual se confronta: muda o próprio
homem, cada vez um pouco mais, e sempre de modo diferente. [...] pela ação e na
ação”. (FREIRE, 2001, p. 37).
Levantemos âncora, hasteemos velas, controlemos o leme e singremos por
esse mar de espaço, sem lugar/tempo, ainda que, parcialmente ignoto, mas capaz
de expandir a nossa capacidade de apreensão e releitura do mundo pelas vias do
ciberespaço. Agindo assim, cresceremos – na diversidade, tornando-nos ímpares no
respeito ao outro.
As teorias do conhecimento centradas na aprendizagem enfocam que só
aprendemos, apreendemos quando nos envolvemos, quando o que estamos
aprendendo tem sentido para as nossas vidas. Só conhecemos realmente o que
construímos. Somos educadores analógicos trabalhando com educandos digitais.
Por esse motivo, o projeto centrou-se no aspecto de envolver o professor na era da
informática, das multimídias, da Internet, enredá-lo num “processo amplo que
envolva uma concepção de intimidade entre os aprendentes, a tecnologia, a
linguagem [...]” (DAL MOLIN, 2003, p. 54).
3 Instrução
Nas últimas décadas, têm-se fomentado inúmeras investigações sobre o
processo e procedimentos que contribuam para uma formação consolidada dos
educadores, ao exercício docente em suas especificidades. A complexidade da
práxis educativa e, particularmente, aquela preocupada com a formação dos
preceptores é revelada pela dimensão dessas reflexões.
A aplicação da tecnologia alterou de modo relevante os relacionamentos dos
homens, tanto na esfera pública como na privada. Para compreendermos qual
formação é necessária ao educador nesse novo contexto, citamos o conceito de
rizoma.
Diferentemente das árvores ou de suas raízes, o rizoma interliga um ponto qualquer com outro ponto qualquer. [...] O rizoma não se deixa reconduzir nem ao uno nem ao múltiplo. [...] Ele não é feito unidades, mas de dimensões, ou antes, de direções movediças. Ele não tem começo nem fim, mas sempre um meio pelo qual ele cresce e transborda. Ele constitui multiplicidades lineares a n dimensões, sem sujeito nem objeto, exibíveis num plano de consistência e do qual o Uno é sempre subtraído (n-1). Uma tal multiplicidade não varia suas dimensões sem mudar de natureza nela mesma e se metamorfosear. Oposto a uma estrutura, que se define por um conjunto de pontos e posições, por correlações binárias entre estes pontos e relações biunívocas entre tantas posições, o rizoma é feito somente de linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação, como dimensões, mas também linha de fuga ou de desterritorialização como dimensão máxima segundo a qual, ao segui-la, a multiplicidade se metamorfoseia, mudando a natureza. (DELEUZE e GUATTARI, 1995, p.32
Nesta concepção, constatamos que é imperioso ampliarmos nosso
conhecimento teórico- epistemológico a de que o conhecimento se dá num ponto
fixo. Refletir e atuar de modo rizomático, é estar buscando, contínua e
transversalmente, as redes de conexões entre os diferentes pontos e linhas.
Apreender que o processo que envolve o ensino é permeado por todo um contexto,
que acompanha os avanços da ciência e da tecnologia, como pontos básicos para o
desenvolvimento da consciência e do pensamento.
Nesse contexto de grandes transformações culturais, sociais, políticas,
econômicas e tecnológicas, constata-se que não basta saber ler e escrever, ser
alfabetizado, mas engajar-se em práticas sociais respondendo aos apelos da
sociedade. O formador deve ser um eterno aprendente, que indague e busque
aprimorar suas habilidades e competências na “construção de conhecimentos, bem
como o desenvolvimento da aprendência como um processo que instrumentalize e
facilite a vida pessoal e comunitária”. (DAL MOLIN, 2003 p.6)
A promoção da autonomia do educador se faz necessária na era da
informação, a qual possibilita acesso rápido à leitura e a diferentes leituras com o
auxílio dos hipertextos, do ciberespaço. Queremos alavancar inquietudes. Queremos
uma formação docente, mas com o uso das tecnologias.
Mediante o estabelecido, propomos a inserção e a interconexão do professor
com as novas tecnologias, com a informação, com o conhecimento e com processos
novos de ensino e aprendizagem. Ele precisa descobrir que o fascinante nas novas
tecnologias disponíveis na Web, é que elas ajudam a criar ambientes ricos em
possibilidades de ensino-aprendizagem, nos quais as pessoas interessadas e
motivadas podem ensinar e aprender qualquer coisa, quebrando as barreiras
perpétuas do modo tradicional. Precisa ainda, apropriar-se das ferramentas da
tecnologia digital para desenvolver “um outro fazer pedagógico, que propicie aos
aprendentes a construção de conhecimentos, mediados pela tecnologia da
comunicação”. (DAL MOLIN, 2003, p.35)
4 Às águas
A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça,
a quase totalidade, não sente esta sede. Carlos Drummond
O público alvo desta formação foram educadores das diversas disciplinas e
segmentos da escola pública, formando uma turma de 36 educadores interessados
neste novo letramento.
Para execução do Projeto Navegar: formação continuada para educadores
da escola pública de Dois Vizinhos, no Colégio Estadual de Dois Vizinhos – Ensino
Fundamental, Médio e Profissionalizante, adotamos o processo teoria e prática,
formação tecnológica e metodológica, com aulas demonstrativas e imersivas, para
propiciar aos educadores, conhecimento de ferramentas tecnológicas voltadas para
a produção de dispositivos pedagógicos digitais que auxiliem o processo de
aprendência no cotidiano das salas de aula.
A proposta inicial foi de registro na plataforma Moodle, (Figura 1), criação de
e-mail e de um Blog, (Figura 2) este para ser o repositório das atividades propostas,
como um meio de interação do educador com seus colegas e educandos, e do
educando com o educando, no mundo virtual.
O curso de imersão tecnológica foi desenvolvido com carga horária de 90
horas, distribuídas em atividades virtuais e presenciais, estas últimas aconteceram
no Colégio, na residência dos cursistas e na minha, porque a internet da escola não
suportava tantos acessos ao mesmo tempo, e pela dificuldade de reunir o grande
grupo por causa das constantes mudanças nos horários de aula. Os educadores
receberam uma nota que representou a soma das atividades de imersão, produção
e frequência, como critérios de avaliação.
4.1 Pulsando
“O mundo não é aquilo que eu penso, mas aquilo que eu vivo; estou aberto ao
mundo, comunico-me indubitavelmente com ele, mas não o possuo, ele é inesgotável”
Merleau-Ponty, 1999
Figura 1: Página Inicial Fonte: Curso Ampliando Fronteiras
Figura 2: Blog Professor em Rede Fonte:http://leituraeciberespaco.blogspot.com.br
A divulgação aconteceu no Colégio Estadual de Dois Vizinhos, durante a
semana pedagógica, em fevereiro de 2011, e foi além dos limites do Colégio. Em
dizeres poucos, a sensibilização dos educadores quanto à necessidade de
interagirmos com as tecnologias digitais, que já estão na escola, ocorreu. Partimos
para a seleção e inscrição dos interessados. “Você tem uma conta de e-mail? Não?
Então, senta aqui, vamos abrir uma! Você vai clicando!” (Eu) Assim, simplesmente!
Por e-mail enviamos questões sobre as necessidades e dúvidas dos
inscritos. Com isto em mãos, elaboramos as atividades que seriam ou poderiam ser
desenvolvidas, em conjunto com a orientadora do projeto Professora Dra. Beatriz
Helena Dal Molin (PhD). Organizamos o ambiente e os aparatos tecnológicos para
que estivessem em pleno funcionamento.
4.2 Manobras
Os educadores compareceram na sala de informática do Colégio Estadual
de Dois Vizinhos, ansiosos pelos primeiros cliks. A maioria não tem contato diário
com o computador, portanto, estavam presentes além da ansiedade, a curiosidade,
o receio, a insegurança, o pânico do desafio posto e por eles suportado.
Com a explanação inicial da Profª Dra. Beatriz Helena sobre a importância
da tecnologia, da cibercultura, do ciberespaço, do virtual, do momento atual e o quê
a escola e o educador devem fazer para nele incluir-se, foram sobrepujando a
coragem ao temor, a ansiedade à animação, entenderam que teríamos formação
teórico-metodológica, de inserção e interconexão com as novas tecnologias, com a
informação, com o conhecimento e com processos novos de ensino e
aprendizagem, que construiríamos objetos de aprendizagem, cada qual na sua área
de atuação. Inteiraram-se sobre os direitos autorais na “nuvem”. Atenuou-se o
martírio.
Conhecemos alguns sites gratuitos: BIOE, Corbis, SXC, Gif Mania, Rived, o
Portal do Professor do MEC e outros sites que versam sobre objetos.
É importante frisar a morosidade do processo, pelas dificuldades de
encontrarem os ícones na tela (dificuldade de leitura!?) e o receio de clicar e perder
tudo.
Cadastramo-nos na plataforma moodle da UNIOESTE. Participamos de
chat, fóruns, wikis, sempre com interlocução sobre os textos estudados.
Para estudo teórico disponibilizamos os textos: Educação e Cibercultura de
Piérre Lévy; Ler e Escrever na Cultura Digital e Avaliar na Cibercultura, ambos de
Andrea Cecilia Ramal; Tecnologia: A Rede a Flor da Pele, Tessituras de Linguagem
e Sentidos para o Processo de Aprendência, Do Tear à Tela, Tecnologia e
Formação Docente: rizoma e transversalidade, Tessituras e Linguagem: tecnologia,
todos de Beatriz Helena Dal Molin e Novas Práticas de Leitura e Escrita: Letramento
na Cibercultura de Magda Soares.
Tivemos a orientação da Professora Beatriz sobre a criação de objetos de
ensino-aprendizagem, com o uso das mídias, ferramentas e dispositivos
tecnológicos. Visitamos muitos Blogs para conhecer as diferentes postagens,
sempre observando a estética e a ética. Cada qual criou o seu para que servisse de
depositário interativo das atividades propostas a seus discípulos. Ressalto o Blog da
Biblioteca do Colégio, que serve de elo entre os títulos contidos e os leitores. Eles
podem fazer a reserva do livro pelo Blog. Quem não tem internet em casa, acessa-o
da Sala de Informática da escola. (Figura 3)
Destaco a importância dos blogs para os alunos das Salas de Recursos que
a partir daí, sentiram-se valorizados, motivados a produzirem e terem seus trabalhos
postados na internet. (Figuras 4 e 5).
Figura 3: Blog da Biblioteca do Colégio Fonte: http://bibliotecadocedv.blogspot.com.br
Figura 4: Blog Salas de Recursos do Colégio Estadual de Dois Vizinhos
Fonte: http://saladerecursosiza.blogspot.com.br
Figura 5: Blog Salas de Recursos do Colégio Estadual Monteiro Lobato
Fonte: http://srmonteirolobato.blogspot.com.br
Gradativamente os educadores ficaram menos ansiosos e tímidos,
começaram a expressar oralmente suas angústias, medos e inseguranças. Dúvidas
remanescentes foram sanadas.
Trabalhamos com diferentes programas de edição de imagens e som, baixar
e converter vídeo e som, criação de vídeo com a inclusão do som; elaboração de
formulários utilizando o Google Docs e a Webquest. Querendo uma inserção
planetária, um trabalho coletivo e não individual, incentivamos por demais a troca de
experiência. Os educadores foram trocando, mostrando o haviam feito, criado,
sugerindo ao colega, ensinando, compartilhando.
Pesquisamos sobre os recursos utilizados nas redes sociais: Orkut, o MSN,
e-mails, celulares, Blogs, sites, CDs, DVDs, pendrives, máquinas fotográficas
digitais, filmadoras, mecanismos de busca, e muito, muito treinamento.
Sempre continuando com a construção dos Blogs individuais. Apresentação
do seu aos colegas, falando sobre a importância desta ferramenta para o ensino da
leitura e de outros temas. Participação nos Blogs dos colegas.
Repito aqui, que alguns dos encontros presenciais foram acontecendo em
pequenos grupos ou até mesmo individuais, na medida das necessidades, dúvidas e
conteúdos a serem repassados, pois, como também estou em fase de
aprendizagem, tornou-se mais fácil o auxílio e obtivemos maior rentabilidade. Alguns
na escola, outros em minha casa, outros ainda, na residência deles. Relembro que o
motivo da mudança de estratégia foi o travamento das máquinas quando todos
acessavam a internet ao mesmo tempo na escola, apresentando baixo rendimento e
gerando insatisfações.
Nesses encontros, preparávamos atividades a serem postadas e
apresentadas ao educandos e colegas, utilizando os editores de vídeo, imagens e
textos para uso no processo de aprendência. Na elaboração dos objetos de ensino-
aprendizagem, empregamos vários programas, tais como: o Power Point avançado
e seus recursos (música, voz, gifs, hipertexto), uso de imagens, links, hiperlinks e
deeplinks, hipertextos, Word Pad, Paint, Fhotofunia, Fhotofunny... Aos poucos os
programas Movie Maker e Audacyti, foram sendo apresentados. Acessamos sites
free para captura de imagens, como o <www.corbis.com> e o
<http://br.wwwhatsnew.com>. Aprendemos com o SlideShare a fazermos upload de
documentos e apresentações.
Para encerrarmos nada melhor que uma comemoração, com direito a
descontração, admiração e parabéns. Visitamos os blogs da turma, aprendemos a
postar comentários. Analisamos em conjunto e avaliamos os mesmos.
A avaliação do curso pelos educadores/alunos está na plataforma, no
endereço: http://projetos.unioeste.br/moodle/letras/user/index.php?id=48.
Tomamos as palavras de Pierre Lévy, que com ousadia afirma:
Sim eu sou otimista […] Ser otimista é dar-se conta de que temos a possibilidade de escolher e que, portanto somos responsáveis. É dar-se conta de que não devemos colocar a responsabilidade sobre o que nos é externo, sobre bodes-expiatórios, em pessoas que queremos acusar. Ser otimista é dar-se conta que nós contribuímos para construir o mundo em que vivemos. E o que iremos escolher? O pior? Não! Vamos escolher o melhor. Eis porque sou otimista (LÉVY, 2001).
E, para dar continuidade ao trabalho e incentivo aos novos navegantes,
temos agora a plataforma do Colégio, no endereço www.colegiodvz.com.br/moodle.
Os professores são encorajados e auxiliados a elaborarem e postarem aulas e
atividades para que seus alunos acessem de casa, promovendo a interatividade
entre a escola, a família e o conhecimento, intermediada pelas ferramentas da
internet. (Figura 6)
Figura 6: Plataforma Moodle do Colégio Estadual de Dois Vizinhos
Fonte: http://colegiodvz.com.br/moodle
5 Considerações Finais
“Sei que meu trabalho é uma gota no oceano. Mas sem ele, o oceano seria menos”.
Madre Tereza de Calcutá
O Projeto Navegar: formação continuada para educadores da escola pública
de Dois Vizinhos comprovou que é necessário e urgente que o professor busque
essa formação continuada, busque adquirir competências, desenvolver habilidades
para atender as demandas do século XXI, que exigem um mediador entre o
conhecimento, os recursos de hardware e software e o ser em formação.
Lembramos que ele é um aprendiz. Também necessita de encantamento, de
sedução, de encorajamento, de saber-se capaz, de estar muito próximo, de palavras
que estimulem e valorizem sua perícia nos cliks. Devemos tê-los aos olhos, não
como um filho ou uma criança, mas como alguém que reconhece sua carência, que
tem dificuldades, que é lento, receoso, não é habilidoso, mas deseja alguém aberto
e disponível para ajudá-lo a libertar-se da tradição.
As oportunidades são muitas. A dificuldade é o desassossego que esse
lançar-se promove. É o expor-se ao aluno que hoje sabe mais do que nós, é nativo
digital e nós, nativos analógicos, sobre o uso das ferramentas tecnológicas,
esquecendo-nos de que o conhecimento científico é o que lhe falta. Até quando
vamos evitar o embate?
Sabemos o que queremos e precisamos, mas como aplicá-las com as novas
metodologias, é ainda princípio de aprendizagem.
Percebemos que algumas dificuldades e inseguranças foram, aos poucos,
se tornando CORAGEM e IMPULSOS.
Retomo aqui Michel Serres, ao falar da simplicidade dos gestos de quem se
lançou ao ciberespaço e encontrou um universo, por ele ainda inexplorado.
No meio de circunstâncias improváveis e difíceis, guerra, tempestade, acasos e infortúnios do mar, aportamos uma ilha perdida na imensidade do Pacífico, em que os naturais se entregavam a práticas estranhas, mas onde pudemos aprender que a regra constantemente seguida por todos os nossos semelhantes, dos quatro lados da água, se reduzia a uma excepção, sem dúvida monstruosa, de um universal apenas refletido e descoberto por sorte essa singularidade abandonada. Como se um preconceito tivesse conquistado todo o volume enquanto a prudência humana e razoável se refugiava em retiradas localidades. O oblíquo conquistou o geral. O universal integra-se no singular. (SERRES, 1993, p. 154)
Nossos objetivos iniciais foram atingidos na medida em que, principalmente,
os professores iniciantes, naquele instante, descobridores, conseguiram desenvolver
aplicativos pedagógicos com certa competência, empregabilidade, com proposições
e conhecimentos entrelaçados à sua área. Submetidos à máquina, foram sendo
conquistados, encantados, suplantaram o medo, encorajados pelos “Consegui!” de
uns e de outros.
Esta aprendizagem aos poucos nos deixa livres do espaço da piscina e nos
permite algumas braçadas no oceano cibernético. E somos exemplo para nossos
educandos.
Respingos das primeiras braçadas, dos primeiros movimentos já estão
fazendo onda. Tivemos a grata surpresa de termos alguns blogs criados pelos
alunos a partir do blog do professor da disciplina. Um exemplo que merece destaque
é o blog BIOLOGANDO ONLINE. Para também conhecê-lo pode-se acessar o
endereço eletrônico http://biologandoonline.blogspot.com.br/, e surpreenda-se
(Figura 7).
Figura 7: Blog Biologando Online Fonte:http:/biologandoonline.blogspot.com.br
O Blog PROFESSOR EM REDE, http://leituraeciberespaco.blogspot.com, foi
criado especificamente para todos os educadores que sentirem-se motivados e
sensibilizados com nossa experiência e ficarem curiosos em conhecer os objetos de
ensino-aprendizagem gerados pelos educadores cursistas, bem como, algumas
dicas para iniciantes, numa linguagem de fácil leitura e compreensão.
Quanto ao Grupo de Trabalho em Rede – GTR - serviu como um espaço
virtual de conhecimento sobre o que pensam alguns estudiosos, como Pierre Lévy,
Gilles Deleuze e Félix Guatari, Michel Serres, David Ausubel e porque não, Beatriz
Helena Dal Molin, que há mais de dez anos também anunciou que o rumo seria a
uma sociedade da informação.
O tema despertou muitos educadores, que a partir do GTR, embrenharam-
se nas teias do digital. A internet passou a ser vista como instrumento de ampliação
do conhecimento humano e passaram a utilizá-la como fonte de pesquisas, de
instrução, de interatividade entre professor, alunos e o conhecimento. A técnica
auxiliando a construção do aprender a aprender. É inconcebível negar que o mundo
está na era das telecomunicações.
Lévy (1996, p. 12) recomenda a toda a humanidade que: “antes de temê-la,
condená-la ou lançar-se às cegas a elas, proponho que se faça o esforço de
apreender, de pensar, de compreender em toda a sua amplitude”. Atitude tomada
por uma das cursistas do GTR, conforme seu depoimento:
“Fiz o último GTR com você. Quero dizer que estão dando super certo as dicas que me passou através dos trabalhos em rede. O vídeo O buraco no muro bateu o record de visualizações, porque ele se encaixa em qualquer
disciplina, sem falar que é excelente para se trabalhar culturas diferentes. A noite tenho a EJA (1ª até a 4ª etapa). São 22 alunos que já gostam de aulas diferenciadas através das mídias. Agora eles navegam com menos medo da máquina do que no ano passado”. (MJ)
De leituras e cliks nasce um novo educador. Somos ainda pequenos, mas
nascidos e nosso crescimento consiste num período de experimentações, no qual as
falhas são tão parte do processo quanto os acertos.
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