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1 Rogate 256 out/07 OPINIÃO OPINIÃO Aparecida: 290 anos de ensinamentos Juarez Destro C erto dia, numa das visitas que freqüentemente faço às famílias, meu companheiro na pastoral da visitação perguntou ao seu Nelson, um pai de família, católico e trabalhador: “E seus filhos, estão bem?”. Nelson tinha perdido a esposa havia quatro meses e ficou com seus três filhos para educar, com idades entre 10 e 20 anos. “Sim, graças a Deus. Estão todos bem. O mais velho foi a Apa- recida, numa excursão com o pessoal da comunidade...”, respondeu animado o seu Nelson. Meu colega, surpreso, muito mais que eu, pois ele conhecia aquela família desde longa data, deixou escapar esta: “Mas ele não é de outra religião?”. Nelson manifestou querer dar uma risadinha e, com sua simplicidade, sabendo que o filho mais velho tinha sido influenciado pelos fa- miliares de sua esposa (e pela própria es- posa) a mudar de religião, passando a fre- qüentar um dos ramos da igreja evangéli- ca, afirmou: “É, mas agora ele parece es- tar mudando!”. E eu não me contive e en- trei na conversa, talvez para amenizar a surpresa de meu colega, afirmando que a devoção à nossa Mãe Aparecida não era ex- clusiva dos católicos. Eles concordaram. De fato, Aparecida simboliza um uni- verso multicultural e multireligioso ou e- cumênico. É como se Aparecida carregas- se no colo todo o povo brasileiro, com sua diversidade regional, social, política, eco- nômica, cultural e religiosa. Na época, a cor de sua pele, num contexto dominado pelos “brancos”, a história de sua apari- ção, ligada ao simbolismo da pescaria que nos recorda a vida e a prática de Jesus, as primeiras intercessões e os primeiros “milagres”, tudo veio somar e contribuir a esta devoção do povo brasileiro. Não é à toa que Nossa Senhora Aparecida tor- nou-se a “Padroeira principal de todo o Brasil”, a nossa protetora, desde 1930, por determinação do papa Pio XI (carta apos- tólica de 16/07/1930). Este ano comemoramos 290 anos da aparição (1917-2007). Quanta história, quantos benefícios, quanto louvor e ação de graças precisamos manifestar neste mês de outubro! Nossa Mãe Aparecida, cuja festa foi fi- xada em 1953 pela CNBB para o dia 12 de outubro, dia do Descobrimento da Améri- ca e mês da aparição, continua a nos ensi- nar o amor incondicional que devemos ter uns pelos outros, alheios às diferenças. Nossa vocação e missão é seguir os pas- sos de Jesus, com o exemplo de Maria de Nazaré, ou Maria de Aparecida, Mãe de Je- sus e nossa Mãe. Devemos renovar a cada dia o nosso “sim” ao chamado do Senhor, para que nos coloquemos a serviço da vida, construindo uma sociedade sem exclusões, quaisquer que possam ser estas: econômi- ca, política, social, de gênero, cultural ou religiosa. Sejamos como Aparecida. Que saiba- mos conviver num contexto multicultural e multireligioso como é o nosso; que pos- samos amar o diferente e nos colocar a serviço da vida, para que em Jesus todos tenhamos dignidade e vida plena!

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1Rogate 256 out/07

O P I N I Ã OOPINIÃO

Aparecida: 290 anosde ensinamentos

Juarez Destro

Certo dia, numa das visitas quefreqüentemente faço às famílias,meu companheiro na pastoral da

visitação perguntou ao seu Nelson, um paide família, católico e trabalhador: “E seusfilhos, estão bem?”. Nelson tinha perdidoa esposa havia quatro meses e ficou comseus três filhos para educar, com idadesentre 10 e 20 anos. “Sim, graças a Deus.Estão todos bem. O mais velho foi a Apa-recida, numa excursão com o pessoal dacomunidade...”, respondeu animado o seuNelson. Meu colega, surpreso, muito maisque eu, pois ele conhecia aquela famíliadesde longa data, deixou escapar esta:“Mas ele não é de outra religião?”. Nelsonmanifestou querer dar uma risadinha e,com sua simplicidade, sabendo que o filhomais velho tinha sido influenciado pelos fa-miliares de sua esposa (e pela própria es-posa) a mudar de religião, passando a fre-qüentar um dos ramos da igreja evangéli-ca, afirmou: “É, mas agora ele parece es-tar mudando!”. E eu não me contive e en-trei na conversa, talvez para amenizar asurpresa de meu colega, afirmando que adevoção à nossa Mãe Aparecida não era ex-clusiva dos católicos. Eles concordaram.

De fato, Aparecida simboliza um uni-verso multicultural e multireligioso ou e-cumênico. É como se Aparecida carregas-se no colo todo o povo brasileiro, com suadiversidade regional, social, política, eco-nômica, cultural e religiosa. Na época, acor de sua pele, num contexto dominadopelos “brancos”, a história de sua apari-ção, ligada ao simbolismo da pescaria que

nos recorda a vida e a prática de Jesus, asprimeiras intercessões e os primeiros“milagres”, tudo veio somar e contribuira esta devoção do povo brasileiro. Não éà toa que Nossa Senhora Aparecida tor-nou-se a “Padroeira principal de todo oBrasil”, a nossa protetora, desde 1930, pordeterminação do papa Pio XI (carta apos-tólica de 16/07/1930).

Este ano comemoramos 290 anos daaparição (1917-2007). Quanta história,quantos benefícios, quanto louvor e açãode graças precisamos manifestar nestemês de outubro!

Nossa Mãe Aparecida, cuja festa foi fi-xada em 1953 pela CNBB para o dia 12 deoutubro, dia do Descobrimento da Améri-ca e mês da aparição, continua a nos ensi-nar o amor incondicional que devemos teruns pelos outros, alheios às diferenças.Nossa vocação e missão é seguir os pas-sos de Jesus, com o exemplo de Maria deNazaré, ou Maria de Aparecida, Mãe de Je-sus e nossa Mãe. Devemos renovar a cadadia o nosso “sim” ao chamado do Senhor,para que nos coloquemos a serviço da vida,construindo uma sociedade sem exclusões,quaisquer que possam ser estas: econômi-ca, política, social, de gênero, cultural oureligiosa.

Sejamos como Aparecida. Que saiba-mos conviver num contexto multiculturale multireligioso como é o nosso; que pos-samos amar o diferente e nos colocar aserviço da vida, para que em Jesus todostenhamos dignidade e vida plena!

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NESTA EDIÇÃO

Entrevista“É preciso saber convivercom as diferenças” 03

EspecialUma Igreja paraAmérica Latina e Caribe 08

AtualidadesJuventude e meio ambiente 12

AtualidadesPreparando a JornadaMundial da Juventude 16

Animação VocacionalA coragem da verdade - 2ª parte 19

Informação 21

Leitor 23

Mística da VocaçãoA vocação de eremita 24

EDITORIAL

Capa: Cartaz do Dia Nacional da Juventude, um dosdestaques desta edição (ver seção “Atualidades”).

Ogrande destaque neste número daRogate é a juventude. Capa e se-ção dupla de “Atualidades” trazem

referência ao tema. E sem contar a “Ani-mação Vocacional”, que desde maio docorrente (edição nº 252) vem trazendo ar-tigos de Amedeo Cencini, num estilo decarta aos jovens.

Em outubro, no último domingo, cele-bramos o Dia Nacional da Juventude(DNJ). Foi a motivação para que a equipedefinisse o destaque do mês. A capa ilustrao tema a ser refletido neste DNJ, emsintonia com a Campanha da Fraternida-de: o meio ambiente. Desde 1985, Ano In-ternacional da Juventude, a Igreja do Bra-sil vem promovendo o evento, organizadopela Pastoral da Juventude.

E é interessante observar que tambéma partir deste contexto a Igreja universalcomeçou a promover, em âmbito mundial,o Dia da Juventude, conhecida como Jor-nada Mundial da Juventude (JMJ). Cele-brada anualmente desde 1986, a cada doisou três anos ganha uma sede num país di-ferente e com um tempo maior de celebra-ção, para que a juventude do mundo intei-ro se mobilize e participe. A mensagem dopapa Bento XVI para a JMJ-2008 comple-ta os destaques da Rogate nesta edição.

A Turma do Triguito

Celebração VocacionalConsciência Negra

ENCARTES

Ano XXVI - nº 256Outubro de 2007

Lançada em maio de 1982, a revista Rogate temregistro de matrícula em São Paulo, 01/10/87,no Livro B de Matrículas do 1º Cartório de Re-gistros de Títulos e Documentos, sob o nº98.906, nos termos dos artigos 8º e 9º da LeiFederal nº 5.250, de 1967. A revista é de pro-priedade dos Rogacionistas do Coração de Je-sus, em colaboração com as revistas: RogateErgo e MondoVoc (ltália), Vocations andPrayer (EUA) e Rogate Ergo (Filipinas).

DIRETOR DE REDAÇÃOJuarez Albino Destro

EDITORJefferson Silveira

COLABORADORESEquipe de Teólogos Rogacionistas (Celebração

Vocacional), Fábio Mattos (Triguito),

Patrício Sciadini e Vito Domenico Curci

CONSELHO EDITORIALIzabel Bitencourt Pereira, Marcos Lourenço

Cardoso, Maria da Cruz da Silva Santos,

Cláudio F. Feres e Therezinha S. Brito Feres

JORNALISTA RESPONSÁVELÂngelo Ademir Mezzari - Mtb 21.175 DRT/SP

IMPRESSÃOGráfica e Editora Linarth Ltda - Curitiba (PR)

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Os artigos assinados não expressam,necessariamente, a opinião da Revista

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ENTREVISTAENTREVISTA

“É preciso saber convivercom as diferenças”

Vera Bombonatto acompanhoude perto a Conferência de

Aparecida e faz sua avaliaçãodo Documento Final,

recentemente publicadoem língua portuguesa

No final de agosto, a Conferência dosBispos do Brasil (CNBB) lançou aversão em língua portuguesa do

Documento Final da 5ª Conferência doEpiscopado da América Latina e do Caribe.O evento foi realizado no Brasil, em Apa-recida (SP), de 13 a 31 de maio de 2007. Arevista Rogate foi conversar sobre o tex-to final com a Irmã Vera Ivanise Bombo-natto, religiosa da Congregação das Filhasde São Paulo, Paulinas. Natural do RioGrande do Sul, município de Soledade,Irmã Vera é doutora em Teologia e desen-volveu várias atividades em sua própriaCongregação. Autora do livro Seguimentode Jesus: uma abordagem segundo acristologia de Jon Sobrino, ela atualmenteé responsável pela área de Teologia da Edi-tora Paulinas. Professora de Cristologia,Vera Bombonatto pertence à Equipe de Re-flexão Teológica da Conferência dos Reli-giosos do Brasil (CRB-Nacional) e da Con-ferência Latino-americana de Religiosos(CLAR), além de ser membro da Socieda-de de Teologia e Ciências da Religião(SOTER).

Rogate: Como observadora externa, queavaliação faz da 5ª Conferência do Episco-pado da América Latina e do Caribe?

Ir. Vera: A Conferência de Aparecidafoi realmente um acontecimento relevan-te não só para o futuro da América Latinae do Caribe, mas de toda a Igreja. Pelo quepude perceber no contato com os partici-pantes e com os teólogos e teólogas donosso grupo que acompanharam a 4ª Con-ferência, em Santo Domingo, particular-mente esta 5ª Conferência marcou umavanço em relação ao clima de liberdade ede respeito pela caminhada latino-ameri-cana e caribenha, e pela busca de uma iden-tidade própria. Em relação às expectativas,se foram superadas ou não, depende dequais eram essas expectativas. Para mim,foi uma experiência muito positiva o fatode ter podido acompanhar de perto este

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ENTREVISTA

evento. O que mais me chamou a atençãofoi a presença dos romeiros, que deramuma marca toda especial a esta conferên-cia. Um fato interessante foi a participa-ção do povo na Tenda dos Mártires, localem que se fazia memória dos nossos már-tires, conservando o seu legado, rezandoe refletindo sobre a Palavra de Deus, quesustenta a nossa marcha rumo à Terra Pro-metida. Vivemos em um mundo plural etambém em uma Igreja plural, em que exis-tem modos diferentes de viver e expres-sar a fé. Entretanto, eu não chamo isso dedivisão, mas sim de riqueza. É preciso sa-ber conviver com as diferenças e não vero diferente como uma ameaça.

Rogate: A senhora acompanhou a con-ferência com o grupo de teólogos e teólogasda Ameríndia...

Ir. Vera: Eu já tinha participado de ou-tro encontro que a Ameríndia organizou,no mês de outubro do ano passado, em pre-paração à 5ª Conferência. O resultado deste

encontro foi a elaboração conjunta do livroSinais de esperança, uma reflexão em tor-no dos temas da Conferência de Apareci-da, publicado no Brasil pela EditoraPaulinas. Por isso, os coordenadores daAmeríndia, que já me conheciam, me con-vidaram para estar em Aparecida. Vivemos,durante este período, uma experiênciamuito rica, não apenas em relação à refle-xão teológica, mas também na convivên-cia serena, na oração e no respeito e ami-zade sincera.

Rogate: Quais trabalhos são desenvol-vidos pela Ameríndia e, em especial, qualfoi o papel da Ameríndia durante a confe-rência?

Ir. Vera: A Ameríndia é uma rede decatólicos das Américas com espíritoecumênico e aberta ao diálogo e à coope-ração inter-religiosa com outras institui-ções. Como prioridade, esta organização sepropõe reafirmar a opção preferencial pe-los pobres e excluídos, inspirada no evan-gelho, atualizando a herança de Medellín,Puebla, Santo Domingo e do Sínodo daAmérica, e agora de Aparecida, para res-ponder aos novos desafios dos tempos pós-modernos. Fazem parte da Ameríndia pes-soas e instituições que, a partir do para-digma da solidariedade, trabalham por “ou-tro mundo possível” em distintas instân-cias e espaços da sociedade civil e dentroda comunidade eclesial. Durante a 5ª Con-ferência, os teólogos e teólogas da Ame-ríndia prestaram um serviço, fraterno egratuito, colaborando na reflexão e na pro-dução de material de apoio para os partici-pantes sobre os temas da conferência.Deixamos nossos compromissos e fomospara Aparecida. Trabalhamos por amor àIgreja, acreditando na força da colaboraçãoe oferecendo nosso tempo e nossas ener-

Ir. Vera Bombonatto, em um encontrode formação, apresentando a temáticada Conferência de Aparecida

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ENTREVISTA

gias pelo bom êxito deste evento tão sig-nificativo para a vida dos nossos povos.

Rogate: É possível identificar no Do-cumento Final pontos que significam avan-ços para a caminhada da Igreja?

Ir. Vera: O avanço mais significativodo Documento de Aparecida decorre dopróprio tema da conferência: “Discípulose missionários de Jesus Cristo para quenele nossos povos tenham vida”. Estetema foi objeto de reflexão em nossas co-munidades desde a fase pre-paratória. Agora, como afirmao grande teólogo José Com-blin, o Documento de Apare-cida propõe uma mudança ra-dical na Igreja: a passagem deuma Igreja voltada à conser-vação do passado para umaIgreja missionária. “Fazercom que toda a Igreja seja mis-sionária é uma tarefa gigan-tesca”, afirma ele. Outro as-pecto também decorrente dotema é a opção pela vida. Po-demos dizer que esta questãofundamental da vida está pre-sente, de forma transversal,em todo o documento. Comoseguidores de Jesus, discípu-los-missionários, somos convocados a fa-zer o que Jesus fez: cuidar da vida ondequer que ela esteja ameaçada. Jesus afir-mou: “Eu vim para que todos tenham vidae a tenham em abundância” (Jo 10,10).

Rogate: Por outro lado, o que você re-gistraria como retrocesso?

Ir. Vera: É preciso ter presente a diver-sidade de visões e tendências dos partici-pantes da 5ª Conferência. Eles espelhavama realidade eclesial latino-americana e

caribenha. Tendo presente esta realidade,não é fácil falar em retrocessos. Penso queo que poderia ter sido melhor trabalhadono Documento de Aparecida é a questãoeclesiológica, pois parece que não há avan-ços em relação ao Concílio Vaticano II. An-tes, nem sempre se leva em conta os ensi-namentos eclesiológicos deste Concílio.

Rogate: Na sua avaliação, que pontosdeveriam ter sido debatidos na conferência,mas foram esquecidos?

Ir. Vera: É evidente quea conferência, no limitadoespaço de tempo em que serealizou, não teve possibili-dade de discutir todos osgrandes problemas da atua-lidade, que incidem profun-damente na vida do povo.Por isso teve que se limitarao essencial, teve que fazeralgumas opções. Para mim,uma realidade que devia tersido mais refletida e estuda-da é a da presença e atuaçãoda mulher na Igreja.

Rogate: A questão vocacio-nal foi suficientemente anali-sada durante a conferência?

Esta reflexão está contida no documento?Ir. Vera: O tema das vocações está pre-

sente no Documento de Aparecida. Sabe-mos que o texto segue o método ver, jul-gar e agir. Na primeira parte, do “ver”, aoolhar a realidade da nossa Igreja constata-se a escassez de vocações para os minis-térios e para a vida consagrada (cf. n. 100c).Na segunda parte, “julgar”, no capítulo 6°,n. 314, referindo-se aos lugares de forma-ção dos discípulos-missionários, afirma-seque a pastoral vocacional ocupa um lugar

O Documentode Aparecidapropõe uma

mudança radi-cal na Igreja:a passagem

de uma Igrejavoltada à con-servação dopassado parauma Igrejamissionária

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particular na formação dos discípulos-mis-sionários. De acordo com o documento, apastoral vocacional começa na família econtinua na comunidade cristã. É fruto deuma sólida pastoral de conjunto. Exortaainda a rezar pelas vocações. Enfim, o Do-cumento de Aparecida considera importan-te a questão das vocações.

Rogate: Acredita que oDocumento de Aparecidaserá tão lembrado quanto o deMedellín e Puebla, ou serácomo o de Santo Domingo,sem tanta expressão?

Ir. Vera: Vivemos hojeimersos na cultura da comu-nicação, que interfere cons-tantemente em nosso modode ser e de viver. A Internet,por exemplo, agilizou sensi-velmente a nossa comunica-ção. Num curto espaço de tempo é possí-vel tornar um texto conhecido mundial-mente, debater um tema, enviar mensa-gens. Por outro lado, tudo passa muito ra-pidamente, um acontecimento se sobrepõeao outro e é logo esquecido. O Documen-to de Aparecida está circulando na Internete se tornando conhecido. Espero e desejoque este documento seja lembrado maisdo que Medellín e Puebla, e se torne nãoum ponto de chegada, mas um ponto departida para a caminhada da Igreja na Amé-rica Latina e no Caribe.

Rogate: Como avalia o momento atualvivido pela Igreja no Brasil e no mundo?

Ir. Vera: A realidade do mundo atual éextremamente complexa. Embora tenha-mos tendências comuns que caracterizama sociedade pós-moderna, cada continen-te, ou melhor, cada nação vive um momen-

to particular de sua história. Na Igreja doBrasil estamos em um momento de reto-mada de nossa identidade latino-america-na e de avanços. Neste tempo, depois deAparecida, somos todos convocados a co-laborar na gestação de uma nova geraçãode cristãos discípulos-missionários e de

uma nova sociedade, ondereine a paz e a justiça e emque se respeite a dignidadehumana.

Rogate: Qual sua opi-nião sobre recentes ações doVaticano, caso da repressãoao teólogo Jon Sobrino; dotexto “A doutrina sobre aIgreja”, publicada pela Co-missão Episcopal Pastoralpara a Doutrina da Fé, afir-mando que a Igreja de Cris-to subsiste na Igreja Católi-

ca; bem como a Carta Apostólica de BentoXVI sobre a missa em latim?

Ir. Vera: Não podemos esquecer queestamos vivendo em uma sociedadeglobalizada e plural, com grandes proble-mas que desafiam a nossa presença eação missionária. Precisamos urgente-mente unir esforços para salvar o Plane-ta Terra, para construir a paz no univer-so, para tecer relações solidárias e fra-ternas. Desejo sinceramente que a Igre-ja não perca o compasso com a históriapara que não aconteça o que ocorreu an-tes do Concílio Vaticano II. Naquela cir-cunstância, o papa João XXIII percebeuque a Igreja precisava rever suas rela-ções com a sociedade e com o progressohumano; era preciso abrir as janelas paradeixar entrar na Igreja um ar primaveril.E com o Concílio Vaticano II aconteceuna Igreja uma nova primavera.

ENTREVISTA

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Decálogo de AparecidaENTREVISTA

ODocumento Final da 5ª Conferência doEpiscopado da América Latina e do Ca-

ribe, realizada de 13 a 31 de maio, naBasílica de Nossa Senhora Aparecida, nãoexpressa toda a riqueza da conferência,mas acredita-se que será muito bem aco-lhido e vivenciado pelas comunidades. E éda repercussão na base que será possívelavaliar a dimensão desta 5ª Conferência nacaminhada da Igreja. Para dar uma peque-na mostra do Documento de Aparecida(DA), o Pe. Agenor Brighenti, Doutor emCiências Teológicas e Religiosas, que atuoucomo perito da CNBB no evento, apresen-ta-nos o “Decálogo de Aparecida”, com fra-ses emblemáticas do documento e desta-cadas no artigo escrito para a revista Con-vergência (n. 404, jul-ago/07, p. 335-353).

1. A vocação ao discipulado missionário éconvocação à comunhão na Igreja (DA 171).2. A Igreja não cresce por proselitismo, maspela atração da força do amor (DA 174).3. A comunhão é missionária e a missão épara a comunhão (DA 177).4. Os leigos e leigas são pessoas de Igrejano coração do mundo e pessoas do mundono coração da Igreja (DA 225).5. Muita gente que passa para outros gru-pos religiosos não está buscando sair daIgreja Católica, mas está buscando since-ramente a Deus (DA 241).6. Aonde se estabelece o diálogo ecumêni-co, diminui o proselitismo (DA 249).7. A opção preferencial pelos pobres estáimplícita na fé cristológica (DA 406).8. A mentalidade machista ignora a novida-de do cristianismo, que reconhece e pro-clama a igual dignidade e responsabilidadeda mulher em relação ao homem (DA 472).9. A Igreja está convocada a ser advogadada justiça e defensora dos pobres (DA 409).10. Além do Continente da Esperança, aAmérica Latina precisa ser Continente doAmor (DA 556).

Rogate: O que achou das mudanças nadireção de organismos importantes da Igre-ja Latino-americana, com D. RaymundoDamasceno Assis, arcebispo de Aparecida(SP), eleito para a presidência do ConselhoEpiscopal Latino-americano (CELAM); D.Geraldo Lyrio Rocha, bispo de Mariana(MG), para a presidência da CNBB; e IrmãMáriam Ambrosio, da Congregação da Di-vina Providência, para a presidência daCRB Nacional?

Ir. Vera: Mudanças na direção dos or-ganismos e das instituições fazem parte dadinâmica da vida e, normalmente, trazemum novo dinamismo saudável para o pro-gresso dos mesmos e para as pessoas. Aco-lho as mudanças na direção do CELAM,da CNBB e da CRB não só com alegria,mas particularmente com esperança decontinuidade do que for positivo e tambémde avanços. Desejo que estes novos presi-dentes possam guiar seus respectivos or-ganismos nos caminhos do evangelho doamor e da paz.

Rogate: Poderia deixar uma mensagemaos nossos leitores, animadores e animado-ras vocacionais de todo o Brasil?

Ir. Vera: Neste tempo, depois da Con-ferência de Aparecida, como Igreja do Bra-sil, estamos iniciando um caminho novo.Desejo que cada leitor desta revista sejaum discípulo-missionário de Jesus. E pos-sa responder ao seu chamado, colocando-se a caminho com ele. Jesus é o Cami-nho, a Verdade e a Vida da humanidade.Ele nos revela o rosto terno e misericor-dioso de Deus Pai e nos dá o Espírito San-to. Seguindo os seus passos, nos torna-mos semelhantes a ele e sentiremos a ale-gria de sermos filhos de Deus e irmãos eirmãs entre nós.

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ESPECIALESPECIAL

Uma Igreja paraAmérica Latina e Caribe

O teólogo chileno Pablo Richard foi um dosassessores do 1° Seminário Latino-americano de Teologia

e fez uma análise objetiva dos dois principais modelosda Igreja Católica vigentes atualmente

Durante o 1° Seminário Latino-ame-ricano de Teologia, realizado na ci-dade de Pindamonhangaba (SP),

entre os dias 18 e 20 de maio, simultanea-mente à 5ª Conferência de Aparecida (verRogate 254, ago/07, p. 09-11), o sacerdo-te, teólogo e biblista chileno Pablo Richardapresentou o tema “Uma Igreja para aAmérica Latina e Caribe”. Promovido peloConselho Nacional do Laicato do Brasil(CNLB), o seminário reuniu cerca de 250pessoas, de 17 países.

Segundo o teólogo, um dos baluartesda Teologia da Libertação, há fundamen-talmente dois modelos de Igreja. Um de-les é definido como tradicional e dominan-te, e o outro como emergente. Para PabloRichard, enquanto o primeiro está numadecadência irreversível, o segundo estábuscando um novo modo de ser.

No trabalho apresentado durante o se-minário, Pablo Richard argumenta que omodelo tradicional está em crise pois temuma estrutura hierárquica rígida, que nãoaceita mudanças. “O papa em Roma. O bis-po em sua diocese. O sacerdote em suaparóquia. Os leigos não existem, menosainda as mulheres”, afirma. O teólogo chi-leno argumenta também que esta estrutu-

ra se fundamenta no medo: “Os bispos têmmedo de Roma (do papa, da Cúria, dosnúncios). Os padres têm medo dos bispos.Os leigos têm medo dos sacerdotes auto-ritários. Todos têm medo de serem puni-dos, marginalizados, ou simplesmentemedo de não serem promovidos”.

Segundo Pablo Richard, a Igreja domi-nante está alienada do mundo, fechando-se em si mesma e sendo incapaz de reco-nhecer seus erros e fazer a autocrítica. Éuma Igreja que tenta sobreviver investin-do em missões para resgatar quem a aban-donou e organiza campanhas vocacionaisem busca de novos sacerdotes. Uma Igre-ja que tenta investir na maior formação dosleigos, mas que apenas repete o mesmodiscurso de sempre.

Pablo Richard explica que a Igreja pro-cura se justificar alegando que a grande re-dução do número de católicos se deve àsseitas. Entretanto a Igreja não reconheceque 80% dos que abandonam a Igreja o fa-zem por não encontrarem respostas nestemodelo tradicional. Ao invés de se trans-formar internamente, a Igreja dominantese defende culpando “os de fora”.

Após a análise da Igreja tradicional edominante, Pablo Richard descreve o mo-

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delo de Igreja emergente, que busca trans-formar esta realidade. Diante da relevân-cia do tema para o serviço de animaçãovocacional, a revista Rogate, com autori-zação do CNLB, apresenta o trecho da pa-lestra de Pablo Richard que aborda esteconceito renovado de Igreja.

Um novo modelo de Igreja

Características geraisÉ um modelo de Igreja inserida na his-

tória, consciente da situação econômica,social e política do mundo atual. Uma Igrejaconsciente do que significa uma economiaglobal de livre mercado e a ideologia doneoliberalismo. Consciente também dasconseqüências deste modelo para a socie-dade e para a Igreja.

Uma Igreja capaz de autocrítica, quebusca uma transformação de suas estru-turas internas, sem medo da reação daIgreja hoje dominante.

Uma Igreja que busca sua nova identi-dade na Teologia da Libertação, na cons-trução de uma ética da vida no plano pes-soal e social, e em uma espiritualidade li-bertadora e em uma nova maneira de in-serir a Igreja no mundo atual. Uma Igreja

que cresce na base, pela construção deComunidades Eclesiais de Base e pela in-serção nos movimentos populares.

O novo modelo de Igreja não busca acontradição com a Igreja dominante, e simbusca crescer ali onde está sua força. Osdois modelos de Igreja não existem sepa-rados um do outro, mas sim coexistem nointerior da grande Igreja atualmente do-minante. Isto implica resistência, para nãoperder a identidade em meio das contradi-ções. Exige sabedoria para não provocarinutilmente o modelo dominante de Igrejae saber ainda mais “caminhar sem fazerruído”. A troca do modelo de Igreja nãosignifica a ruptura da unidade da Igreja.Como foi a prática de São Paulo, devemosdefender simultaneamente a verdade doevangelho e a unidade da Igreja.

Características específicasO mundo, no âmbito internacional, está

fracionado em dois: divisão entre orientee ocidente, e divisão entre o norte e o sul.Onde está a Igreja? Mais no ocidente queno oriente, mais no norte que no sul. Onovo modelo de Igreja busca identificar-se o mais possível com o oriente e com osul. Isto significa uma ruptura com o nor-

Alguns dos participantes do 1º Seminário Latino-americano de Teologia

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te e ocidente e, conseqüentemente, umaruptura profunda com o modelo de Igrejadominante, que é profundamente ociden-tal e originado nos países ricos do norte.O cristianismo chegou à Ásia, África eAmérica Latina e Caribe com a expansãodo colonialismo europeu. Desde 1976, ea cada cinco anos, trinta teólogos de cadacontinente temos nos reunido para pen-sar o cristianismo a partir do sul, especi-almente a partir da Ásia. É assim que temnascido uma Teologia do Ter-ceiro Mundo, vigente até osdias de hoje.

Em cada país do nossocontinente há um abismo en-tre minorias multimilionáriase maiorias empobrecidas emiseráveis. Onde está a Igre-ja? O modelo de Igreja domi-nante está mais acima do queabaixo, pois não acredita quepode sair algo bom da “pobre-za” (assim me disse uma vezum cardeal). O novo modelode Igreja busca se inserir en-tre as maiorias pobres, porémisto exige uma alteração muito radical desuas estruturas, de sua teologia e de todasua ação pastoral.

O novo modelo de Igreja está cada diamais inserido nos movimentos sociais detodo tipo: movimento dos sem terra, mo-vimentos campesinos, de trabalhadores,de moradores de favelas e de sem teto;movimentos de mulheres, jovens, afro-americanos e povos indígenas; movimen-tos de pessoas que têm uma opção sexu-al diferente etc.

A Igreja apóia e acompanha todos es-tes movimentos e aqueles cristãos que,pela fidelidade à sua fé, comprometem-se nestes movimentos. A Igreja e a Teo-

logia nascem da base e tratam de não secomprometerem em políticas partidáriase lutas de poder.

Neste novo modelo de Igreja faz-se umaopção muito clara e decidida pela Teologiada Libertação, que tem se transformado efortalecido nos últimos 15 anos. Agora ateologia nasce muito diversificada a partirdos movimentos sociais, com característi-cas de gênero, geração, cultura, raça emuitas outras identidades. A teologia se

desenvolve mais entre os lei-gos e leigas, mais entre os jo-vens do que os adultos.

O mais importante é queeste novo modelo de Igreja eestes novos modelos de Teo-logia da Libertação têm maispresença e significação fora daIgreja do que dentro dela.Hoje em dia o novo modelo deIgreja e de Teologia da Liber-tação tem, por exemplo, ple-na aceitação no Fórum SocialMundial, nas UniversidadesEstatais, nos movimentos lei-gos, e em todos aqueles es-

paços onde a Igreja tradicional está total-mente ausente e não tem nenhuma signi-ficação. Os milhões de cristãos que estãosaindo de suas Igrejas e que não têm ne-nhuma intenção de retornar a elas man-têm sua identidade cristã identificada coma Teologia da Libertação. Muitos proces-sos políticos nacionais e latino-americanosatuais reconhecem suas raízes nos movi-mentos populares cristãos e na Teologiada Libertação. Por isso, a Igreja hoje do-minante tem tanto medo da Teologia da Li-bertação, pois esta teologia lhes comunicauma espiritualidade, uma ética, uma teo-logia, inclusive com uma “doutrina” quenão é encontrada na Igreja dominante.

A Teologia daLibertaçãomantém aesperança

de que outromundo é pos-sível, de queoutro modelo

de Igreja épossível.

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ESPECIAL

A Igreja tradicional, entretanto, não seconscientizou da perversidade da ideologianeoliberal. A Igreja que foi tão implacávelcom o marxismo, atualmente não é capazde entender o neoliberalismo, que está pro-vocando danos maiores à humanidade e aocosmos (planeta), do que todos os regimesanteriores. Por quê? Porque o marxismo,com todos seus defeitos, representa o pen-samento das classes populares; enquanto oneoliberalismo justifica o modelo econômi-co dominante e refleteo pensamento das clas-ses ricas, por isso a Igre-ja tradicional sente-semenos afetada por estaideologia. Esta situaçãocomeça a se transfor-mar atualmente na Igre-ja na medida em que osistema econômico do-minante já não podeocultar a diferença entrericos e pobres e a des-truição da natureza.

O modelo atual deeconomia de mercadoabsolutiza a eficiência e o lucro no mer-cado, na vida humana e na vida da nature-za. Sua ética está determinada por estesvalores de mercado. É bom, justo e ver-dadeiro o que tem “êxito” no mercado, oque se diz que produz maior lucro. O va-lor de uma tecnologia nova é boa não por-que está a serviço da vida humana, e simpelo ganho de mercado. Esta é uma éticade morte, que contradiz radicalmente aética da vida do cristianismo. A economianão está orientada ao bem comum e à vidade todas as pessoas, mais sim ao máximolucro. Uma empresa busca “lucrar” nomercado baixando os preços. Isto é pos-sível ao se trabalhar com menor número A Redação

possível de empregados e com os salári-os mais baixos possíveis, e também nãolevando em conta a destruição da nature-za. Por isso, a vida se destrói, aumenta onúmero de desempregados e pessoas to-talmente excluídas do sistema. Isto pro-duz uma situação de total iniqüidade, ondea riqueza se concentra em poucas mãos ea maioria cai na miséria total.

A Teologia da Libertação é o novo mo-delo de Igreja que se identifica totalmente

com os excluídos e de-nuncia a ética de mor-te e a situação de ini-qüidade do sistema deeconomia de mercado.Isto é possível se háuma ruptura total coma ética e a racionalidadede morte desta econo-mia de livre mercado,justificada pela ideolo-gia neoliberal. A Teolo-gia da Libertação man-tém a esperança de queoutro mundo é possí-vel, de que outro mode-

lo de Igreja também é possível, e de que épossível construir “uma sociedade onde to-dos e todas sejam incluídos, em harmoniacom a natureza”. Afirma também a espe-rança em um novo sujeito, capaz de trans-formar a história. Se o sujeito opressor diz:“se não há para todos que pelo menos hajapara mim”. O novo sujeito responde: “sehá para todos então haverá para mim”. Ahumanidade enfrenta a alternativa: “soli-dariedade ou suicídio coletivo”. Nós só po-demos ter vida se os outros também tive-rem vida. Eu sou se você é. O novo mode-lo de Igreja e a Teologia da Libertação op-tam pela solidariedade e pela vida.

Cartaz do 1º Seminário Latino-americanode Teologia, promovido pelo Conselho

Nacional do Laicato do Brasil - CNLB

12 Rogate 256 out/07

ATUALIDADES

ATUALIDADESJuventude e meio ambiente

“A ciência olha para as estrelas enquanto sinaldo passado [...]. É a fé no Criador que pode olhá-las como

sendo sinal do futuro” (Luiz Carlos Susin)

Em 28 de outubro festejamos, de for-ma ecumênico-missionária, o DiaNacional da Juventude (DNJ), com

o tema: “Juventude e meio ambiente”, e olema: “É missão de todos nós, Deus cha-ma: eu quero ouvir a tua voz”. Comemo-ra-se de modo jovial, descontraído e com-prometido com a realidade social, à luz dafé em Jesus Cristo. Para tanto esta cele-bração tem como fonte o evangelho. Nes-te ano o eixo temático é pautado na pre-servação ambiental, bem como na cidada-nia. A proposta é para que se constitua umaaliança global a fim de tentar reverter osdanos ocasionados com a agressão aoecossistema. É um dever sagrado insistirna importância da reeducação e da cons-cientização de nossa co-responsabilidadena preservação da Casa Terra: fonte de fru-tos, fauna, flora, microorganismos, atmos-fera, hábitat, hidrosfera e diversidade bio-lógica. É uma necessidade vital banirpoluentes e cessar a extinção da espécie.

No encontro com a juventude em 10 demaio, no estádio do Pacaembu, em SãoPaulo (SP), o papa Bento XVI chamou aatenção para a necessidade da efetiva con-servação da natureza, da qual todos faze-mos parte. A relação homem-natureza éintegrada, pois somos um único organis-mo. Devemos buscar soluções para que

todos vivam em plenitude, reverenciandoo mistério da existência.

23ª ediçãoAo fazer uma abordagem histórico-pa-

norâmica dos DNJs, vale destacar as mui-tas lutas concretizadas nestes 22 anos desua existência. O marco foi 1985, com acelebração do Ano Internacional da Juven-tude. Este evento traçou, como esboço, atrajetória que a partir dali seria seguida nascomemorações em nosso país, com os jo-vens selecionando temáticas peculiares àrealidade brasileira. Surgiram ora temas,ora lemas, ou sínteses desses, que deba-teram as mais diversas questões. Temascomo terra, libertação nas lutas do povo,educação, trabalho, ecologia, AIDS, cultu-ra, cidadania, poder, direitos humanos, es-perança e mudança, dívidas sociais, vida,sonhos. E lemas como “Lancemos as re-des para águas mais profundas”; “A gentequer fazer valer nosso suor... a gente querdo bom e do melhor”; “Juventude vamoslutar!”; “Chegou a hora de o nosso sonhorealizar!”; “Juventude que ousa sonharconstrói um Brasil popular”. Enfim, o gri-to jovial é permeado de esperança e exi-gência de políticas públicas.

Os cartazes dos DNJs também mere-cem um aceno especial, pois são sempre

13Rogate 256 out/07

ATUALIDADES

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bastante criativos e ricos em simbologia,favorecendo a celebração nas bases.

Entre os pontos abordados no DNJ-2007 estão, por exemplo, a regularizaçãodas estações do ano; o fim das hostilida-des e o reconhecimento da dignidade e dovalor cultural dos povos indígenas, comu-nidades quilombolas, ribeirinhos, quebra-deiras de coco babaçu, seringueiros. Mui-tas destas comunidades estão presentes naAmazônia e são verdadeiros arquétipos devida, sem conforto supérfluo e luxo inútil,ricas em etnia, cultura religiosa e susten-tabilidade ambiental.

Mesmo trilhando momentos histórico-políticos marcados por desemprego e vio-lência, a esperança é inerente à juventu-de, que caminha em mutirão e interage cri-ativamente em busca da vida plena. A ce-lebração do DNJ nos faz meditar sobre aatitude humana frente à Criação, e provo-ca reflexões que trazem à tona contradi-ções e desafios. Precisamente hoje somosvocacionados à integridade ecológica comoprotótipo ético.

Em comunhão com a IgrejaPode-se dizer que o DNJ acontece gra-

ças à estruturação da Pastoral da Juventu-de (PJ). O Brasil todo se mobiliza, e este

dia une sonho, planejamento, trabalho, co-memoração, apreciação crítica. O DNJ ca-minha pelo viés metodológico: ver-julgar-agir, muito difundido em nosso continente,aliado a uma vivência fraternal. A PJ e o DNJestão inseridos em uma realidade eclesial,atuam em comunhão com a Igreja, num pla-nejamento global, embora a ação seja local.

Os preparativos são rigorosos. O DNJ éponto de chegada de uma série de encon-tros e atividades sociais da juventude dasparóquias, universidades, comunidadeseclesiais de base, movimentos, organiza-ções não-governamentais e outros. A cele-bração deste ano, por exemplo, começounos grupos organizadores por meio da Se-mana da Cidadania, no mês de abril. Depoisveio a Semana do Estudante, em agosto, e,por fim, os encontros preparatórios maisimediatos, com o subsídio específico.

Os jovens querem converter suas re-flexões em atitudes. Incomodam-se maisfacilmente com a realidade carente de jus-tiça social. As indagações lhes remetem àinquietação, que, por sua vez, os impulsi-ona para a prática libertadora. A juventu-de gosta de utopia seqüenciada de ação,sempre pensando na possibilidade de umoutro mundo que seja justo, com a pobre-za erradicada.

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Não se pode deixar de lado o grau deenvolvimento político da PJ, que une obinômio fé-vida, ou teologia e pastoral. Obem comum é “chavão” em sua práxis,nutrida pela crença em Deus e pelamística transformadora. Essapastoral sente mais de pertotodo tipo de crise. Não épessimista, mas se en-contra inserida na ques-tão social, econômica,ecológica e étnica,sempre marcada poroposição ora evidente,ora imperceptível ousutil. A PJ tem uma vi-são crítica, sem medo.Busca conscientizar amocidade no tocante àsua atuação como protago-nista, para que todos sin-tam-se personagens impor-tantes nessa caminhada demudança paradigmática.

Atenção ao meio ambienteA questão ambiental está presente no

DNJ deste ano. Urge amenizar o impac-to que sofremos. Os jovens não poderi-am ficar fora dessa missão e, por isso,articulam e usam da sã artimanha para obem do bioma e da biodiversidade, embusca da própria sobrevivência da huma-nidade. Faz-se necessário limpar a nos-sa habitação, não permitindo o aumentode substâncias radioativas, tóxicas e ou-tras perigosas.

O subsídio para a reflexão deste ano émuito rico e nos convida abraçar a causaecológica. Isso envolve sociedade, políti-ca, economia, igrejas, enfim, todas instân-cias que querem caminhar na reta estradaque nos leva ao zelo e cuidado pela Cria-

ção. Nosso terreno está fragilizado e ne-cessita de cultivo.

A juventude luta pela qualidade de vidado nosso próximo e das gera-ções vindouras. Os jovens sãodinâmicos, encantam e conta-giam aos que os vêem. Sua

alegria influencia o envol-vimento de quem defen-de a biosfera. A juven-tude quer conquistargrandes avanços nabusca de possíveis so-luções para a problemá-

tica ecológica.A música “Missão de to-

dos nós”, do cantor Zé Vicente,é a escolha certa para o DNJ-2007. A música fala de justiça

e liberdade. Outros, como ZéVicente, proliferam a cultu-ra de paz e de encorajamentonos meios mais populares.

Exemplo disso é a música “Juventude,compromisso”, de Carlos Tolovi: “Não te-nhas medo, não vais sozinho, pois Javé oDeus da vida vai contigo no caminho. Vaisemeando um novo reino, onde todos sãoiguais e a cobiça não tem mais valor”. Ho-mens e mulheres cantantes desse nossolindo continente estão por aí afora a seme-ar. Eles nos ensinam a não fugirmos damissão e a não nos deixarmos vencer. Es-tes artistas nos convocam para fazer oamor florescer, mostrando que a históriaestá em nossas mãos.

O DNJ-2007 quer alertar sobre o pro-cesso de desenvolvimento predador dasgrandes potências ao nosso patrimônioamazônico, maior reserva biológica domundo e maior bioma do Brasil. Isto pro-duz pobreza e sofrimento. Os povos da re-gião são ameaçados em sua dignidade hu-

ATUALIDADES

Imagem do cartaz do DiaNacional da Juventude 2007

Divu

lgaçã

o

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ATUALIDADES

mana e são dizimados. A mata precisa serrevitalizada, amada, para não se transfor-mar em deserto. Com o devido cuidado épossível reverter o atual quadro de des-truição, para que as flores voltem a nas-cer, nos deleitando com seu perfume.

O buraco da camada de ozônio é umaseqüela drástica, que alerta para a neces-sidade de cuidarmos da estratosfera. Osmales que afligem o planeta Terra sãocomo pedidos de socorro. O relatório daOrganização das Nações Unidas (ONU) faza seguinte constatação: “O derretimentodas camadas polares pode fazer o nível domar subir. Tufão, aquecimento global, inun-dação, seca e escassez de água podem setornar intensos”. O DNJ faz um apelo paraque haja uma nova forma de gerir os re-cursos. É importante reciclaros materiais usados nos siste-mas de produção e consumo,e garantir que os resíduos se-jam assimilados pelos siste-mas ecológicos. Deve-se sal-var as áreas marítimas, obioma caatinga e selvas.

Esperançae otimismo

É conveniente compreen-der que o jovem pós-moder-no encontra-se inserido numvasto ambiente de culturamidiática, como explica o te-ólogo jesuíta João Batista Li-banio. Ele esclarece que mui-tas vezes isso facilita o envolvimento ju-venil nos casos vertiginosos da droga eda violência brutal e gratuita. Mas brotatambém a esperança num futuro em con-formidade com o bem. O teólogo ainda diz:“É a esperança que habita e alenta o tra-balho da Pastoral da Juventude”. De fato,

a PJ traz jovem se comunicando com jo-vem, numa oratória adequada e que ins-trui nos valores humanos e para com anatureza.

A proposta de adesão ao Projeto Popu-lar para o Brasil, iniciado em 2006, é res-gatada neste DNJ-2007. O projeto visaedificar um país sustentável e otimista,num relacionamento carinhoso com o pla-neta. Assim fez o II Fórum Social Mundi-al: “Um Outro Mundo é possível”, com suadefinição de que “não é preciso que todosfalem a mesma língua, basta compartilharos mesmos sonhos”.

Todos os brasileiros devem fazer jus aoque o hino nacional afirma: “Nossos bosquestêm mais vida”. O papa Bento XVI aconse-lhou a juventude, presente no estádio do

Pacaembu, a nunca deixar apa-gar a chama da esperança.

Contra a ganância é es-sencial promover a cultura datolerância, buscando tambémproteger a integridade dossistemas ecológicos da terra,herança natural. Basta o ne-cessário, afirmava MahatmaGandhi: “a terra tem o sufi-ciente para as necessidadesde todos os seres humanos,mas não para a ganância de-les”. Deve-se adotar melho-res padrões de produção,consumo e reprodução queprotejam as capacidades re-generativas da terra. O arti-

go 225 da Constituição Federal reza que“temos direito ao meio ambiente ecolo-gicamente equilibrado”. É importante cri-ar alternativas que garantam o futuro doplaneta. A medida é a caridade e a civili-zação do amor.

Dilson Brito da Rocha

Com o devidocuidado é

possível rever-ter o atualquadro dedestruição,para que as

flores voltema nascer, nosdeleitandocom seuperfume

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ATUALIDADES

ATUALIDADESPreparando aJornada Mundial da Juventude

De 15 a 20 de julho de 2008, em Sydney, na Austrália,está marcada a 23ª Jornada Mundial da Juventude.

O papa Bento XVI publicou mensagem um ano antespara que os jovens comecem a preparação

Prezados jovens, recordo sempre comgrande alegria os vários momentostranscorridos juntos em Colônia

(Alemanha), em agosto de 2005. No finaldaquela inesquecível manifestação de fé ede entusiasmo, que permanece impressano meu espírito e no meu coração, mar-quei encontro convosco para a próximareunião, que terá lugar em Sydney, em2008. Será a 23ª Jornada Mundial da Ju-ventude e terá como tema: “Recebereisuma força, a do Espírito Santo, que descerásobre vós; e sereis minhas testemunhas” (At1,8). O fio condutor da preparação espiri-tual para o encontro de Sydney é o Espíri-to Santo e a missão. Se em 2006 medita-mos sobre o Espírito Santo como Espíritode verdade, em 2007 procuramos descobri-lo mais profundamente como Espírito deamor, para nos encaminharmos depoisrumo à Jornada Mundial da Juventude de2008, refletindo acerca do Espírito de for-taleza e testemunho, que nos dá a coragemde viver o evangelho e a audácia para o pro-clamar. Por isso, é fundamental que cadaum de vós, jovens, na comunidade e comos educadores, possa refletir sobre esteprotagonista da história da salvação, que éo Espírito Santo ou Espírito de Jesus, para

alcançar estas finalidades: reconhecer averdadeira identidade do Espírito, em pri-meiro lugar ouvindo a Palavra de Deus naRevelação da Bíblia; tomar uma consciên-cia límpida da sua presença contínua e ati-va na vida da Igreja, em particularredescobrindo que o Espírito Santo se põecomo “alma”, sopro vital da própria vidacristã, graças aos sacramentos da inicia-ção cristã - Batismo, Crisma e Eucaristia;tornar-se capaz de amadurecer numa com-preensão de Jesus cada vez mais profundae alegre e, contemporaneamente, de rea-lizar uma prática eficaz do evangelho noalvorecer do terceiro milênio. [...]

A necessidade e a urgênciada missão

Muitos jovens refletem sobre a sua vidacom apreensão e formulam muitas inter-rogações acerca do seu futuro. Preocupa-dos, eles se perguntam: como inserir-senum mundo marcado por numerosas e gra-ves injustiças e sofrimentos? Como reagirao egoísmo e à violência, que por vezesparecem prevalecer? Como dar pleno sen-tido à vida? Como contribuir para que osfrutos do Espírito - caridade, alegria, paz,paciência, benignidade, bondade, fidelida-

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ATUALIDADES

de, mansidão e temperança - inundem estemundo ferido e frágil, antes de tudo o mun-do dos jovens? Com que condições o Es-pírito vivificador da primeira criação, e so-bretudo da segunda criação ou redenção,pode tornar-se a nova alma da humanida-de? Não esqueçamos que quanto maior odom de Deus - e o do Espírito de Jesus é omáximo - maior é a necessidade que o mun-do tem de o receber e, portanto, maior emais apaixonante é a missão da Igreja emdar testemunho do mesmo. E vós, jovens,com a Jornada Mundial da Juventude, decerto modo testemunhais a vontade departicipar de tal missão.

Caros amigos, a este pro-pósito quero recordar-vosalgumas verdades que ser-vem de referência para me-ditar. Mais uma vez repito-vos que somente Cristo podesatisfazer as aspirações maisíntimas do coração do serhumano; só ele é capaz dehumanizar a humanidade econduzi-la à sua “diviniza-ção”. Com o poder de seu Es-pírito, ele nos infunde a cari-dade divina, que nos torna ca-pazes de amar o próximo e de nos colocar-mos com disponibilidade ao seu serviço.Revelando Cristo crucificado e ressusci-tado, o Espírito Santo ilumina, indica-nosa vida para nos tornar mais semelhantes aele, ou seja, para sermos “expressão e ins-trumento do amor que dele dimana” (En-cíclica Deus caritas est, 33). E quem se dei-xa guiar pelo Espírito, compreende quepôr-se ao serviço do evangelho não é umaopção facultativa, porque sente como éurgente transmitir esta Boa Nova tambémaos outros. Todavia, é necessário voltar arecordá-lo, só podemos ser testemunhas

de Cristo se nos deixarmos guiar pelo Es-pírito Santo, que é “o agente principal daevangelização” (cf. Evangelii nuntiandi,75) e “o protagonista da missão” (cf. Re-demptoris missio, 21).

Diletos jovens, como reiteraram vári-as vezes os meus venerados predecesso-res, Paulo VI e João Paulo II, anunciar oevangelho e dar testemunho da fé é hojemais necessário do que nunca (cf. Redemp-toris missio, 1). Alguns pensam que apre-

sentar o tesouro precioso da fé às pes-soas que não a compartilham signifi-

ca ser intolerante para com elas, masnão é assim, porque propor Cristo

não significa impô-lo (cf.Evangelii nuntiandi, 80).De resto, há dois mil anos

doze Apóstolos deram a vidapara que Cristo fosse conhe-cido e amado. A partir deentão, o evangelho continuaa difundir-se ao longo dos sé-culos, graças a homens e mu-lheres animados pelo seupróprio zelo missionário.Portanto, também hoje sãonecessários discípulos deCristo que não poupem tem-

po nem energias para servir o evangelho.São necessários jovens que deixem arderdentro de si o amor a Deus e respondamgenerosamente ao seu apelo urgente,como fizeram muitos jovens bem-aventu-rados e santos do passado, e inclusive deépocas mais próximas a nós. Em particu-lar, asseguro-vos que o Espírito de Jesushoje vos convida, jovens, a ser portadoresda Boa Nova de Jesus aos vossos coetâne-os. A indubitável dificuldade que os adul-tos têm de se aproximar da juventude demaneira compreensível e convincentepode ser um sinal com que o Espírito ten-

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Logomarca oficial daJornada Mundial da

Juventude 2008

18 Rogate 256 out/07

Bento XVI

ATUALIDADES

ciona impelir-vos, jovens, a assumir estaresponsabilidade. Vós conheceis os ideais,as linguagens e também as feridas, as ex-pectativas e ao mesmo tempo o desejo dajuventude. Abre-se o vasto mundo dos afe-tos, do trabalho, da formação, da expectati-va, do sofrimento... Cada um de vós tenha acoragem de prometer ao Espírito Santo queconduzirá um jovem para Jesus Cristo, domodo como melhor considerar,sabendo “responder com doçu-ra a todo aquele que vos per-guntar a razão da vossa espe-rança” (cf. 1Pd 3,15).

Mas para alcançar esta fi-nalidade, queridos amigos,sede santos, sede missionári-os, porque nunca se pode se-parar a santidade da missão(cf. Redemptoris missio, 90).Não tenhais medo de ser san-tos missionários, como SãoFrancisco Xavier, que percor-reu o Extremo Oriente paraanunciar a Boa Nova até aoextremo das suas forças, oucomo Santa Teresinha do Me-nino Jesus, que foi missionária, contudosem jamais ter deixado o Carmelo: ambossão “Padroeiros das Missões”. Estejamprontos a pôr em jogo a vossa vida, parailuminar o mundo com a verdade de Cris-to; para responder com amor ao ódio e aodesprezo pela vida; e para proclamar emtodos os cantos da terra a esperança deCristo ressuscitado.

Invocar um novo Pentecostessobre o mundo

Prezados jovens, aguardo-vos em gran-de número, em julho de 2008, em Sydney.Será uma ocasião providencial para expe-rimentar plenamente o poder do Espírito

Santo. Vinde em grande número, para sersinal de esperança e sustento precioso paraas comunidades da Igreja na Austrália, queestão se preparando para vos receber. Paraos jovens do país que nos hospedará, seráuma extraordinária oportunidade de anun-ciar a beleza e a alegria do evangelho a umasociedade sob muitos aspectos seculariza-da. Como toda a Oceania, a Austrália tem

necessidade de descobrir no-vamente as suas raízes cris-tãs. Na Exortação pós-sinodalEcclesia in Oceania, João Pau-lo II escrevia: “Com a força doEspírito Santo, a Igreja naOceania está se preparandopara uma nova evangelizaçãode povos que hoje têm fomede Cristo... A nova evangeli-zação é uma prioridade para aIgreja na Oceania” (n. 18).

Convido-vos a dedicartempo à oração e à vossa for-mação espiritual neste últi-mo trecho do caminho quenos conduz à 23ª JornadaMundial da Juventude, a fim

de que em Sydney possais renovar aspromessas do vosso Batismo e da vossaConfirmação. Em conjunto, invocaremoso Espírito Santo, pedindo com confiançaa Deus o dom de um renovado Pentecos-tes para a Igreja e para a humanidade doterceiro milênio.

Maria, unida em oração aos Apóstolosno Cenáculo, vos acompanhe durante es-tes meses e obtenha para todos os jovenscristãos uma renovada efusão do EspíritoSanto, que inflame os seus corações.Recordai: a Igreja tem confiança em vós!

Mensagem completa no site www.vatican.va

Estejamprontos a pôr

em jogoa vossa vida,para iluminaro mundo coma verdade deCristo; para

responder comamor ao ódioe ao desprezo

pela vida...

19Rogate 256 out/07

VOCACIONALANIMAÇÃO VOCACIONAL

A coragem da verdade2ª parte

Na primeira parte deste artigo vimosque a verdadeira amizade tem umafinalidade educativo-formativa, a-

profundando a relação humana, com aten-ção aos seus conteúdos e objetivos. Nestasegunda parte vamos aprender a ler a vida,a se conhecer e a escutar.

Aprender a ler a vida

Jovem, até que ponto você é capaz denarrar-se, de ler a sua vida, a sua história?Aliás, experimentou fazer isso alguma vezou acha que é apenas uma prática de pré-adolescentes? Claro que não estou falan-do do diário, que mais ou menos todos fi-zemos naquela idade, para nos consolar dasolidão repentina, quando nos parecia nãoter mais nenhum amigo, ou para dar umaimportância maior aos nossos dias, paraque sua memória não se perdesse. Não.Ler a vida é uma prática das mais comple-xas e menos realizadas. É necessárioaprender esta arte e, se for oportuno, dei-xar-se ajudar.

Existe muita gente analfabeta, pesso-as “subdesenvolvidas no espírito”, incapa-zes de lerem a si mesmos, de perceberema própria história como uma casa misteri-osa, de olharem profundamente a própriavida para aprenderem aos poucos a desco-brirem dentro de si uma presença discretae fiel, uma história de amor e predileção,um projeto que se torna sempre mais cla-ro e que vale a pena compreender.

Olha, caro jovem peregrino (e um tan-to errante), não se trata simplesmente de

acreditar de olhos fechados em Deus, naIgreja e afins, mas de aprender a ler, nointerior do que há de mais pessoal em você,que é a sua história e a sua vida, a presen-ça de Deus Pai, que quer a qualquer custoa sua felicidade. Porque este Deus não ha-bita nos céus altíssimos, mas vem ao seuencontro como aos dois de Emaús, fala comvocê e vive com você, chama-lhe e abrehorizontes à sua frente. Esta aprendizagemé a gramática fundamental da vida. E é tam-bém o único modo de acreditar: deixandoque a vida conte a si mesma. A sua vidanão é talvez a prova mais evidente e con-vincente da existência de Deus para você?

Aprender a se conhecer

Uma outra freqüente presunção é a doautoconhecimento, de ter idéia clara so-bre as próprias fraquezas e sobre o que sepretende realizar. Acaba-se, por fim, per-cebendo quanto o tamanho de nossas in-consistências interiores nos preenche demedos diante de algumas escolhas a se-rem feitas, ou nos impedem de deixar-nosatrair por aquilo que é belo e verdadeiro.Também os dois de Emaús pensavam sa-ber tudo sobre si mesmos. Mas, ao con-trário, o máximo que souberam dizer é queestavam deprimidos e desiludidos, não desi mesmos, obviamente, mas de Jesus, tor-nando-se assim cômicos, mesmo queinvoluntariamente. Com certeza nada ti-nham compreendido da mensagem de Je-sus, porque nada tinham entendido de seupróprio mundo interior, de seu modo

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ANIMAÇÃO VOCACIONAL

Amedeo Cencini

distorcido de perceber a realidade; nãopodiam intuir a mensagem da cruz mes-mo porque mente e coração eram orienta-dos em outra direção.

Não pense que você seja tão diferentedeles. Também a sua vida é cheia de me-dos, também você tende a se defender dosoutros, de Deus, talvez também da possi-bilidade de ser chamado por ele. E o medoé uma das sensações mais cretinas e semsentido, porque é sempre egocêntrico efruto de uma excessivapreocupação consigo mes-mo. Por isto é também pa-gão. No entanto, até queponto você é conscientedos efeitos do medo sobresi próprio? O que vocêsabe das distorções per-ceptivo-interpretativas cri-adas em você pelos seustemores? Alguma vez jásuspeitou de que o medopossa matar em você umaparte de si mesmo, ou su-focar a possibilidade de se realizar plena-mente? É como se você tivesse medo desi mesmo... E a sua vida acaba tornando-se uma espécie de “aborto vocacional”,algo inacabado e menos humano, umamonstruosidade. Isso também acontecequando você age como moleque, imitan-do outros moleques para não aparentar termedo, quase exorcizando-o em grupo.

Aprender a escutar

Parece indispensável a você e à sua vidarealizar uma mudança radical de disposi-ção interior: a educação à escuta. A escutada própria vida, das vibrações mais secre-tas do seu mundo interior, de quem possaajudá-lo a colher a verdade. Também nisto

Emaús lhe dá uma indicação preciosa. Ape-sar do desfalecimento interior no qual osdois se encontravam, não perderam toda-via a coragem de escutar as palavras docaminheiro singular, e um tanto metido,que com toda razão bate neles chamando-os de “insensatos para entender e lentosde coração...”.

Querido jovem, não fique em busca dapessoa que está sempre de acordo comvocê, que simplesmente o escuta porque

você fala, que entra emempatia com você e o aco-lhe, o promove, o consola, oencoraja... e nada mais. Seprocura a verdade, busque,então, quem tenha a cora-gem de mostrá-la, que nãotenha medo de o colocartambém um pouco em crisee de lhe revelar o seu egoís-mo temoroso. Duvide dequem nunca lhe fala da cruz,ou de quem quando apenasinicia a falar dela escurece o

seu rosto como se falasse de uma desgraçaque deve ser afastada o mais longe possí-vel, porque a cruz é a verdade da vida, averdade do amor, é a passagem obrigatória(“não era necessário que o Cristo suportas-se estes sofrimentos...?”) para sair doegocentrismo e descobrir a liberdade e aalegria do dom de nós mesmos. Procure nãoaquele que tem uma grande bagagem depalavras suas a descarregar-lhe nas costas,mas aquele que tem a arte de iniciá-lo naescuta da Palavra da Vida, aquela que sai daboca do Pai, fazendo-o lentamente desco-brir que aquela Palavra se realizou e estáse realizando também em sua história.Como fez Jesus com Cléofas e seu compa-nheiro. Fazendo arder o coração deles...

Duvide dequem nuncalhe falada cruz

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IN FORMAÇÃOIN FORMAÇÃO

Administração paroquial

Neste livro, de autoriade Luiz Rogério Nogueira,

são apresentados os procedimentosadministrativos e financeiros

para paróquias e capelas

Nas comunidades é comum refletir sobre osmais diversos temas, porém há um certo “te-mor” em abordar questões administrativas e

financeiras. Nos dias atuais, entretanto, o conhecimen-to deste assunto é fundamental para o trabalho nascomunidades, paróquias, capelas e nas pastorais, in-clusive no serviço de animação vocacional, que neces-sita de recursos financeiros e bom planejamento paramelhor cumprir sua missão. Um aliado nesta tarefa éo livro “Administração paroquial; procedimentos ad-ministrativos e financeiros para paróquias e capelas”,do especialista em administração financeira e analistade sistemas, Luiz Rogério Nogueira.

Atuando há mais de 10 anos como consultor deempresas e conferencista, autor de diversos livros emídias (DVD e CD-ROM) na área de administração,Luiz Nogueira aborda em “Administração paroquial”temas como departamento pessoal, justiça do traba-lho, serviço voluntário, relacionamento interpessoal,prestação de contas, seguros e apoio administrativo,além de incluir uma série de modelos de formuláriosutilizados no segmento trabalhista e contábil. De for-ma didática, o autor esclarece dúvidas comuns a quematua na área e alerta sobre alguns perigos.

A vídeo-aula “Orçamento, fluxo de caixa e presta-ção de contas para paróquias e capelas”, em DVD,com apostila de apoio, apresenta dentre seus tópicosa “Igreja como pessoa jurídica” e o “Código de Direi-to Canônico” (dentro da temática administrativa).

Páginas: 208Formato: 16 x 23 cmPreço: R$ 29,50Pedidos:www.vozes.com.brTel.: (24) 2233-9000

Divulgação

Vídeo-aula em DVDTempo: 60 min. - Preço: R$ 50,00

Pedidos:www.administracaoparoquial.adm.br

Tel.: (71) 8155-2527

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IN FORMAÇÃO

Fórum da Igreja no RSDe 20 a 23 de setembro, em Porto Ale-

gre (RS), realizou-se o 1º Fórum da IgrejaCatólica no Rio Grande do Sul. O objetivodo evento foi a busca de mais vida, digni-dade e liberdade para todos, num climaamigo e fraterno, e a reflexão, à luz da Pa-lavra de Deus, sobre a ação evangelizado-ra como serviço ao povo e sua realizaçãoplena em Cristo. O fórum, promovido pe-las 17 dioceses do Estado, foi presidido porDom Dadeus Grings, arcebispo de PortoAlegre. Houve uma diversidade de ações,entre conferências, seminários e grupos deestudo, oficinas, tendas ou estandes, apre-sentações artísticas e culturais, celebra-ções e plenárias. Ao final, foi elaborada uma“carta do Fórum”, construída a partir dasconferências e dos seminários de estudo.

Assembléia da UCBCA União Cristã Brasileira de Comuni-

cação Social (UCBC) realizou sua 43ª As-sembléia Geral Ordinária no dia 23 de se-tembro, em São Paulo (SP). Dentre os as-suntos tratados, destaque para a avaliaçãodo 5º Mutirão Brasileiro de Comunicação,realizado em Belém (PA), de 15 a 20 dejulho, e também para a decisão de se inici-ar o processo de fusão legal da entidadecom a “Signis” (Associação Católica Mun-dial para a Comunicação).

23º Encontro RogateDe 02 a 04 de novembro, no Centro

Rogate do Brasil, em São Paulo (SP), rea-liza-se a 23ª edição do Encontro Rogate,para a formação de animadores e anima-doras vocacionais, cristãos leigos e leigas,pessoas de vida consagrada e ministrosordenados. O encontro, em parceria como Instituto de Pastoral Vocacional (IPV),estará aprofundando - na ótica vocacional

- o documento conclusivo da 5ª Conferên-cia do Episcopado da América Latina e doCaribe, realizada em maio de 2007, em A-parecida (SP), com o tema: "Discípulos emissionários de Jesus Cristo, para que nelenossos povos tenham vida". A assessoriaserá do Pe. Gilson Luiz Maia, religioso Ro-gacionista, secretário executivo do Depar-tamento de Vocações e Ministérios doConselho Episcopal Latino-americano(Devym-Celam) até agosto último, autorde vários artigos e obras na área vocacio-nal. As vagas são limitadas. A taxa de ins-crição é de R$ 40,00. Mais informações:

Tel./Fax: (11) 3931-5365E-mail: [email protected]

Agenda VocacionalO lançamento da Agenda Vocacional

Caminhos 2008 está marcado para o dia 03de novembro de 2007, durante o 23º En-contro Rogate (ver nota acima), na sededo IPV, em São Paulo. O tema geral é “Veme segue-me!”, com reflexões e ilustraçõesfazendo memória dos 25 anos do primeiroAno Vocacional do Brasil (1983). Já em sua8ª edição, a agenda Caminhos traz duas no-vidades para 2008: frase do evangelho decada dia, para facilitar a reflexão; e umapágina de adesivos vocacionais. Continu-am os comentários vocacionais da liturgiadominical, novidade de 2007. Veja anúnciona segunda página desta revista.

Curso de Verão 2008“Juventude: caminhos para outro mun-

do possível” é o tema do Curso de Verãopromovido pelo CESEP (Centro Ecumê-nico de Serviços à Evangelização e Edu-cação Popular), que acontece de 06 a 16 dejaneiro de 2008, em São Paulo (SP). As ins-crições vão até o próximo dia 31 de outu-bro (www.cesep.org.br).

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As mensagens enviadas poderão sereditadas pela equipe, favorecendo ummelhor entendimento de seu conteúdo.

www.rogate.org.brAcesse a Revista Rogatepela Rede Mundial deComputadores, a Internet.

Artigos, informações,chamadas principaise edições anteriores.

Revista Rogate: ontem e hoje, animando as vocações junto com você!

AssinaturaMinha saudação a todos aqueles que

trabalham na edição da revista Rogate.Gostamos muito do conteúdo e das ora-ções vocacionais e, por isso, vamos fazeruma assinatura anual.

Ir. Cecília CalvarianaFortaleza (CE)

InternetSou coordenador da Pastoral Vocacio-

nal da Paróquia Senhor Bom Jesus e estoutentando baixar a revista Rogate do site(www.rogate.org.br), mas tive problemasem duas edições: setembro e dezembro de2006. Estou utilizando o Curso de Anima-ção Vocacional nas reflexões das nossasreuniões mensais e queria passar as 10 li-ções ainda neste ano (estou na quinta).

Rosalbo Francisco LacerdaDiadema (SP)

Nota:Agradecemos o alerta e já solicitamos ao

nosso webdesigner a solução dos problemasindicados.

L E I T O RLEITOR

GincanaEm primeiro lugar queremos agradecer

o material enviado ano passado para nossaGincana Bíblica. Os catequizandos e cate-quistas ficaram muito alegres e incentiva-dos. Sabemos que a Bíblia é o livro por ex-celência para todo trabalho pastoral e, porisso, nos encontros de catequese a Palavraé apresentada de forma especial. Na missasemanal aos domingos, com as crianças, oevangelho é transmitido através de históri-as e teatro. Nossa gincana deste ano acon-teceu no dia 22 de setembro, na Praça daMatriz, e envolveu a catequese dos peque-nos, Primeira Eucaristia, Perseverança eCrisma, e também os adultos, familiares ecomunidade em geral. O nosso abraço eorações de louvor a Deus pelo trabalho deevangelização com as crianças que vocêsfazem através do Triguito. Que esta publi-cação cresça sempre mais.

Marta Maria da Fonseca FigueiraCantagalo (RJ)

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MÍSTICAMÍSTICA DA VOCAÇÃO

A vocação de eremita

Patrício Sciadini

Épensamento comum entre os es-tudiosos da vida religiosa de que avida eremítica precedeu a vida

cenobítica. Que significa isto? Que alguém,tomado de uma inspiração divina de seguirmais de perto a Jesus, deixou tudo e foi-seembora do convívio dos outros. Rumoupara o deserto e a solidão e aí permaneceuem profunda oração, tentando agradar aDeus com todas as suas forças.

A vida eremítica não é fuga da comu-nhão com os outros e quem escolhe esteestilo de vida não pode ser uma pessoadoentia, redobrada sobre si mesma e quenão gosta dos outros. Seria um graveerro pensar assim. O eremita é alguémque ama imensamente a Deus e aos ou-tros e quer ser, numa forma diferente,presença dinâmica e ativa na Igreja. Nãotanto com as palavras e nem com asobras, mas como fermento que é coloca-do na massa e vai fermentando lentamen-te toda a farinha, para que se transformeem pão puro e bom.

O coração do eremita é um coração e-clesial. Ele quer ser missionário e anunci-ar no mundo a primazia de Deus, mundoeste que às vezes faz de Deus um produtosupérfluo ou periférico. O estilo de vidado eremita por si mesmo grita profetica-mente que, em determinado momento,para sermos fiéis ao projeto de Deus, pararever as nossas atitudes, é necessário dei-xar tudo e irmos ao deserto. Ou subir àmontanha para estar a sós com Deus.

João Batista foi ao deserto e viveu umtempo no meio dos animais selvagens,um tempo de oração para tomar decisões

corajosas, para enfrentar os inimigos daPalavra de Deus e da verdade, para as-sumir a sua missão ao serviço do reino.Foi eremita.

Jesus, por um certo período de sua vida,foi levado ao deserto onde, segundo indicaa tradição, viveu por quarenta dias e qua-renta noites sozinho numa confrontaçãoconsigo mesmo, num discernimento decomo poderia assumir a sua missão.

Todos nós necessitamos de tempos desolidão para podermos enxergar melhor oque se passa dentro de nós. Mas os eremi-tas na Igreja e no mundo têm uma missãotoda especial: manter acesa e viva a cha-ma da contemplação, da oração. É o “Deusbasta e nada mais!”.

Claro que a vida eremítica não é feitapara pessoas demasiadamente jovens,mas sim para pessoas adultas, provadaspela ventania e pelos furacões da vida, quesabem viver reduzindo tudo ao mínimo,porque Deus preenche o coração. O mí-nimo das coisas, o mínimo das pessoas,amando-as imensamente. Hoje em dia,graças a Deus, o movimento eremíticobusca de novo o seu lugar na Igreja e nasociedade. O próprio Carmelo sempre temtido este espírito eremítico. E parece queestá se “gestando” a idéia de existir umeremitério carmelitano na América Lati-na. Deus queira!

A vida eremítica, masculina e femini-na, não faltou em nenhum tempo da his-tória da Igreja. Ela faz parte da riquezada criatividade e do pluralismo da vidaevangélica.