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quartafeira, 18 de março de 2015 OPINIÃO ANO XXI Nº 227 MARÇO 2015 A fé que mata O ano de 2015 iniciou com o recrudescimento do fundamentalismo religioso no mundo, uma ameaça aos esforços humanos em prol da laicidade do Estado e da espiritualidade livre, humanista e progressista . O massacre do Charlie Hebdo Embora sem resultar no mesmo e expressivo número de mortes do episódio de 11 de setembro de 2001, em Nova York, o atentado ao jornal Charlie Hebdo, de Paris, perpetrado no último dia 7 de janeiro, passa à História como forte expressão de uma das mais angustiantes tragédias da atualidade internacional: o danoso avanço do fundamentalismo religioso e de sua capacidade de espalhar terror no mundo civilizado. O ataque feito pelos irmãos Said e Chérif Kouachi, somado a outro contra um mercado de alimentos judaicos, na capital francesa, terminou por vitimar 17 pessoas. Extremistas religiosos ligados ao Estado Islâmico logo reivindicaram a autoria dos atentados, em represália ao fato de o jornal francês publicar charges satirizando o profeta Maomé e em face das divergências históricas entre a fé muçulmana e as crenças cristãs e judaicas. A fé justificando o crime Tanto quanto o cristianismo e o judaísmo, o islamismo admite diferentes formas de interpretação, gerando oposições internas entre umas a outras. Por ocasião dos atentados, a Liga dos Estados Árabes condenou aqueles atos, e a Universidade AlAzhar publicou manifesto rechaçando a violência, segundo ela, sempre contrária aos ensinamentos do Corão, independente do “crime cometido contra os sagrados sentimentos muçulmanos”. Entretanto, diferentes setores radicais islâmicos comemoraram as mortes dos “infiéis", ratificando a crença de que a fé islâmica está destinada a dominar e redimir o planeta. O extremismo islâmico prega a legitimidade da luta “contra aqueles que não creem em Alá e que não adotam a religião da verdade”, segundo texto literal nos versos 9:5 e 9:29 do Corão. Um Estado contra o Estado de Direito O recrudescimento do radicalismo islâmico ganhou maior significação no contexto internacional contemporâneo, a partir da fundação do Estado Islâmico. Consolidando movimentos terroristas da facção jihadista, a mais radical das concepções muçulmanas, um potente califado com governo e pretenso território, este tomado da Síria e do Iraque, foi proclamado em 2014. A organização afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo. Aspira ao controle político sobre todo o Islã. Prega abertamente a eliminação dos “hereges” e “infiéis”. Suas ações terroristas não poupam sequer muçulmanos de outras correntes, mas são especialmente direcionadas a pessoas e povos do Ocidente. Nos últimos meses, inúmeras execuções foram perpetradas contra reféns de diferentes países cuja política se opõe a seus métodos violentos. Extremamente cruéis, exibem, pelas redes sociais do mundo inteiro, vídeos onde suas vítimas são decapitadas ou queimadas vivas, depois de submetidas às piores torturas psicológicas. O conhecimento que liberta A história de povos e comunidades onde viceja a crença no monoteísmo judaísmo, cristianismo e islamismo está repleta de capítulos de barbárie, desfechados ou apoiados, inclusive, por suas hierarquias religiosas. A fé em um Deus pessoal a cuja palavra se credita, cega e literalmente, a autoria do conteúdo dos ”livros sagrados”, acaba por se sobrepor aos CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO NO CCEPA clique na imagem CCEPA NO FACEBOOK QUEM SOMOS 1 mais Próximo blog» Criar um blog Lo

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OPINIÃO ANO XXI Nº 227 MARÇO 2015

A fé que mataO ano de 2015 iniciou com o recrudescimento do fundamentalismo religioso no mundo,uma ameaça aos esforços humanos em prol da laicidade do Estado e da espiritualidadelivre, humanista e progressista.

O massacre do Charlie HebdoEmbora sem resultar no mesmo e expressivo número de mortes do episódio de 11 de setembrode 2001, em Nova York, o atentado ao jornal Charlie Hebdo, de Paris, perpetrado no último dia7 de janeiro, passa à História como forte expressão de uma das mais angustiantes tragédias daatualidade internacional: o danoso avanço do fundamentalismo religioso e de sua capacidadede espalhar terror no mundo civilizado.O ataque feito pelos irmãos Said e Chérif Kouachi, somado a outro contra um mercado dealimentos judaicos, na capital francesa, terminou por vitimar 17 pessoas. Extremistas religiososligados ao Estado Islâmico logo reivindicaram a autoria dos atentados, em represália ao fato deo jornal francês publicar charges satirizando o profeta Maomé e em face das divergênciashistóricas entre a fé muçulmana e as crenças cristãs e judaicas.

A fé justificando o crimeTanto quanto o cristianismo e o judaísmo, o islamismo admite diferentes formas deinterpretação, gerando oposições internas entre umas a outras. Por ocasião dos atentados, aLiga dos Estados Árabes condenou aqueles atos, e a Universidade AlAzhar publicou manifestorechaçando a violência, segundo ela, sempre contrária aos ensinamentos do Corão,independente do “crime cometido contra os sagrados sentimentos muçulmanos”. Entretanto,diferentes setores radicais islâmicos comemoraram as mortes dos “infiéis", ratificando a crençade que a fé islâmica está destinada a dominar e redimir o planeta. O extremismo islâmico pregaa legitimidade da luta “contra aqueles que não creem em Alá e que não adotam a religião daverdade”, segundo texto literal nos versos 9:5 e 9:29 do Corão.

Um Estado contra o Estado de DireitoO recrudescimento do radicalismo islâmico ganhou maior significação no contexto internacionalcontemporâneo, a partir da fundação do Estado Islâmico. Consolidando movimentos terroristasda facção jihadista, a mais radical das concepções muçulmanas, um potente califado comgoverno e pretenso território, este tomado da Síria e do Iraque, foi proclamado em 2014. Aorganização afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo. Aspira aocontrole político sobre todo o Islã. Prega abertamente a eliminação dos “hereges” e “infiéis”.Suas ações terroristas não poupam sequer muçulmanos de outras correntes, mas sãoespecialmente direcionadas a pessoas e povos do Ocidente. Nos últimos meses, inúmerasexecuções foram perpetradas contra reféns de diferentes países cuja política se opõe a seusmétodos violentos. Extremamente cruéis, exibem, pelas redes sociais do mundo inteiro, vídeosonde suas vítimas são decapitadas ou queimadas vivas, depois de submetidas às piorestorturas psicológicas.

O conhecimento que libertaA história de povos e comunidades onde viceja a crença no monoteísmo – judaísmo,cristianismo e islamismo está repleta de capítulos de barbárie, desfechados ou apoiados,inclusive, por suas hierarquias religiosas. A fé em um Deus pessoal a cuja palavra se credita,cega e literalmente, a autoria do conteúdo dos ”livros sagrados”, acaba por se sobrepor aos

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valores humanos. A autoridade, a onipresença, o domínio pessoal atribuídos àquela entidade ea sacralidade de sua “palavra” tendem a produzir um tipo de crente de mentalidade retrógrada,subserviente e intolerante. Daí à violação dos mais fundamentais direitos do homem é umpasso, capaz mesmo de levar às piores atrocidades.Todas as culturas, notadamente o monoteísmo, experimentam o embate entre o conhecimentoe a fé. No Ocidente, mesmo enquanto a religião açambarcou o poder civil e administrou asfontes formais do conhecimento, espíritos corajosos rebelaramse contra o dogmatismoreligioso, sempre que atentasse contra a razão. O Iluminismo abriu caminho ao cultivo da razãosobre a fé. Assim mesmo, guardamos marcas dos séculos em que nos foi vedado raciocinarlivremente.Nesse contexto, reconheçase a contribuição do espiritismo, em países onde sua filosofia éconhecida e assimilada. Sem qualquer menosprezo às tradições religiosas, notadamente àcristã em cujo seio nasceu e se desenvolve, sua proposta é a contextualização de toda equalquer revelação religiosa. Reconhecendo valor cultural e moral nos chamados livrossagrados, a nenhum considera, entretanto, detentor infalível de verdades eternas.Toda a revelação só se convalida na medida em que for abonada pela razão e se conformaràquilo que O Livro dos Espíritos classificou como lei natural, gravada na consciência do espíritoimortal. Isto revoluciona o conceito de fé, como, aliás, propõe Allan Kardec, em lapidarsentença: “Fé inabalável somente é aquela capaz de encarar a razão, face a face, em qualquerépoca da humanidade”.Só a plena adequação da fé ao conhecimento poderá superar as grandes e pequenasintolerâncias ainda existentes nos meios religiosos. (A Redação)

Brasil em buscade nova ética públicaÀ medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns dos males quegerou, e esses males desaparecerão com o progresso moral (Allan Kardec,comentário à q.793, L.E.).

Discutese, academicamente, no campo da psicologia social, se é o ser humano o agentetransformador da sociedade ou se, ao contrário, é a sociedade que transforma o indivíduo.No meio espírita, costumase afirmar que toda a transformação da sociedade resulta do esforçodo próprio homem, na busca de sua transformação pessoal. As mudanças sociais seriam, dessaforma, o somatório das qualidades humanas. Transformandose o homem, individualmente, porvia de consequência, a sociedade estaria transformada. Não por outra razão, consagrouse, emnosso meio, a expressão “reforma íntima”, atribuindose a esta a capacidade de se mudar omeio em que vivemos.Se considerarmos a sociedade simplesmente como um aglomerado de pessoas, destituída deuma consciência coletivamente construída, a fórmula acima seria de todo inquestionável. Mas,sociedade é um pouco mais do que isso. Ela é produto de uma cultura. Cultura, sabemos, éconstrução que se faz ao curso do tempo. Resulta de crenças, de valores, de experiênciascoletivas, de costumes arraigados, adquiridos no processo interrelacional. Nós, espíritas,levamos em conta, inclusive, as prováveis múltiplas experiências encarnatórias coletivas naformação da cultura de um povo. A cultura exerce sobre o indivíduo enorme influência. Nãoraro, o modifica radicalmente.Talvez por isso mesmo, muitos daqueles valores que construímos a partir do esforço detransformação individual, mas que ainda não integram a cultura da sociedade a quepertencemos, pareçamnos tão difíceis de se impor. Mais do que isso: difíceis mesmo de seremvivenciados por nós próprios, diante de circunstâncias onde os hábitos sociais abonamcomportamento diverso daquele que, intimamente, já aprendemos a entender como correto.Felizmente, entretanto, a cultura não é estática. Há um dinamismo natural que, às vezes, emmuito pouco tempo, opera enormes transformações sociais, políticas e éticas. Allan Kardecutilizavase da expressão “força das coisas” para nominar esse processo de transformação devalores e de costumes que se impõem a uma sociedade.O Brasil vive, hoje, indubitavelmente, um choque ético de considerável dimensão.Afortunadamente, várias de suas instituições republicanas despertaram para a necessidade deuma ação enérgica no sentido de investigar, coibir e punir velhas práticas incrustadas em suacultura política e cujos resultados vinham, ultimamente, assumindo proporções devastadoras.Não resta dúvida de que isso é resultado do amadurecimento de uma consciência social epolítica capaz de influir decisivamente não apenas no futuro político da nação, mas também noprocedimento de seus cidadãos.Isso não invalida aqueles esforços que sejamos capazes de realizar, intimamente, no sentido dedomar nossas imperfeições. São forças que se complementam. O cultivo pessoal da virtude,além de nos gratificar com a paz de consciência, gera o exemplo, capaz de iluminar outras

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consciências, notadamente na convivência familiar. Mas, no macro espaço social, as grandesiniciativas inspiradas pela consciência coletiva são, igualmente, forças decisivas queimpulsionam a melhoria ética do ser humano.Enfim, ninguém é uma ilha. Convivemos, interagimos, influenciamos e somos influenciados.Como nos assegura a doutrina espírita, somos espíritos imortais em processo de evolução.Responsáveis que somos por nossa própria transformação moral, dispomos também, seja qualfor o meio em que estivermos inseridos, de maior ou menor capacidade de transformação doscostumes, rumo a uma ética coletiva superior.

Pena de morte?Recente pesquisa feita por aqui apontou: mais de 55% dos gaúchos se declararam a favor dapena de morte. A medida, embora inviável constitucionalmente – a não adoção da pena capitalé cláusula pétrea da Carta Magna de 1988 –, vem ganhando espaço em todos os segmentossociais, no país. Em meus tempos de faculdade de Direito, nos anos 70, a oposição à pena de morte erapraticamente unânime, nos meios jurídicos. Em sentido contrário, recordo da luta de um certodeputado federal carioca, Amaral Netto. Elegeuse por oito mandatos consecutivos, tendo comoúnico programa de campanha a introdução da pena capital. Morreu sem atingir seu objetivo. Aconsciência jurídica nacional rejeitava a pena de morte. Hoje, há, entre nós, muitos juristasfavoráveis à sua introdução. Por que será?

A posição de vanguarda de O Livro dos EspíritosDiante da sofisticação da criminalidade, agora formando cartéis organizados, movidosespecialmente pelo tráfico de drogas talvez, o maior dos males de nosso tempo , pessoas deboa formação dão mostras de capitulação: só a pena de morte poderia reverter o quadro.Errado. A experiência civilizatória e a evolução do Direito Penal têm demonstrado que abarbárie não se reduz com o emprego de penas de caráter meramente retributivo. Retribuir omal com outro mal de idêntica graduação causa à sociedade mais danos do que aquelesprovocados pelo mal que se quer punir. Incita o espírito de emulação entre Estado ecriminalidade. A sociedade tornase ainda mais violenta, mergulhando em infindável guerraentre o “bem” e o “mal”. Quando O Livro dos Espíritos, em sua questão 760, prognosticou aabolição da pena capital das legislações humanas, antecipava a existência de organismospolíticos internacionais nos moldes da atual União Europeia, que só tem como integrantespaíses onde não há a pena capital. Ao tempo do nascimento da doutrina espírita, praticamentetodas as nações europeias adotavam a pena de morte.

Direitos humanosQual, então, a solução? Deixar de punir? Absolutamente. O Estado tem o dever de zelar pelaordem. E o exercício da justiça punitiva é atribuição que o contrato social lhe outorgou.Entretanto, a pena perde inteiramente seu sentido se não estiver movida pelo escopo daeducação e da reabilitação do delinquente. É nesse contexto que se devem entender os direitoshumanos, tão vilipendiados e pouco compreendidos pela maioria das pessoas. Não se trata deconcessão, a delinquentes, de direitos que os cidadãos de bem não possuem. Tratase de lhesgarantir o direito de viver com o mínimo de dignidade humana, mesmo que segregados dasociedade, para a qual deverão, um dia, retornar, reeducados e convencidos de que não vale apena delinquir. Todos, assim, “bons” ou “maus”, ganharemos com esse tipo de política. Custadinheiro? Custa. Mas, um dia o Estado terá que adotar políticas com esse embasamentofilosófico, se deseja frear mesmo a criminalidade.

Uma grande família chamada humanidadeManuel Porteiro, admirável pensador argentino, via a sociedade humana como uma grandefamília. A reencarnação, nesse contexto familiar, não seria mero instrumento de retribuiçãopunitiva, mas, fundamentalmente, de reeducação, através da disciplina, da solidariedade e doamor.Um argumento que me parece definitivo contra a pena de morte para quem adota a filosofiaespírita: o delinquente eliminado de forma violenta tende a voltar para essa mesma sociedade,revoltado e com sentimentos de vingança. A pena capital apenas adia e agrava os problemasque deseja extinguir.

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O diálogo entre fé, razão e dúvida Jerri Almeida Professor, autor, entre outros, do livro: “Kardec e a revolução na fé”.

A fé não exclui a dúvida! No espiritismo, a dúvida dialoga filosoficamente com a fé. O argumentoda “verdade absoluta”, em qualquer área do conhecimento, é um “erro absoluto”. No exercíciointelectual, na busca do conhecimento e da construção da fé, não se deve desconsiderar oslimites naturais de cada um, e a possibilidade de autoengano. Certezas e dúvidas fazem partedesse percurso!A dúvida pode ser um instrumento, como foi para Descartes na filosofia, capaz de conduzir paraa análise e rejeição de certas opiniões ou conhecimentos instituídos pelas tradições. A dúvidaparte de uma incerteza sobre determinado assunto. Se esse assunto diz respeito às questõesreligiosas e existenciais, então, essa “dúvida” poderá carregar certas angústias.Nesse caso, poderá ser considerada uma “dúvida natural”, quando vem acompanhando oindivíduo em sua caminhada existencial, ou uma “dúvida despertada”, quando gerada por umasituação externa. Por exemplo, o defrontarse com a morte de uma pessoa querida, poderádespertar no sujeito dúvidas sobre a existência de Deus e o sentido da vida. O evento “morte”,por vezes, gerador de “angústias”, tornase capaz de desencadear dúvidas.Dúvidas e angústias poderão motivar um processo de busca por respostas mais consistentes.Nessa jornada pessoal, percorrerá o sujeito inúmeras possibilidades explicativas, sintonizandose com aquela que melhor apaziguar suas angústias emocionais e inquietações intelectuais.A relação ou a proximidade entre fé e razão sempre representou uma fronteira de difícil diálogono território do conhecimento. Aparentemente, fé e razão são elementos divergentes, pois a fécarrega consigo uma profunda carga religiosa, por vezes, associada ao mistério, enquanto arazão apresentase no âmbito do saber aberto, próprio da filosofia e da ciência.O filósofo Erich Fromm observou que: “Enquanto a fé racional é o resultado da atividade interiorda pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão à determinada coisaque se aceita como verdadeira, independentemente de sêla ou não”(¹).Kardec realizou a crítica da fé irracional, dogmática ou cega. Em sessão na SociedadeParisiense(²) , ele tem a oportunidade de dialogar com o espírito de um padre que desencarnaraadversário do espiritismo. O diálogo é muito esclarecedor, pois aborda o problema da crença eda fé racional. Enfatiza o discípulo de Pestalozzi, que o espiritismo deixa a cada um a inteiraliberdade de exame de seus princípios. Qualquer princípio baseado no erro cai pela forçamesma das coisas. Assim, as ideias falsas postas em discussão mostram seu lado fraco e seapagam ante o poder da lógica e dos fatos.Não raras vezes nos deparamos com estudos espíritas distantes do que preconizava Kardec,pois aos participantes é vedada a análise e discussão dos textos. Qualquer estudo sério dafilosofia espírita deve permitir o espaço do debate fundamentado, da análise estruturada emargumentos lógicos e responsáveis, ao invés de leituras intermináveis e cansativas semnenhum aproveitamento. Dogmatizar os estudos é colaborar para o enraizamento de crenças,que já deveriam estar superadas no meio espírita.Kardec foi um defensor da dialética, do argumento, do debate de ideias, necessários àconstrução do conhecimento e da própria fé. O espiritismo, dizia ele, não impõe uma crençacega, pois deseja que a fé se apoie na compreensão. Por isso, deixa a cada um inteiraliberdade de examinar seus princípios e aspectos. Sem a pretensão de colocar um ponto finalem tudo, por não se tratar uma macro teoria salvacionista, o espiritismo, postulando a féracional, enfatiza o papel da dúvida como elemento humano e natural, na busca por um saberquase sempre relativo, consubstanciado na progressividade do conhecimento.

[1] FROMM, Erich. A Revolução da Esperança. 5ª. Ed. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1984. Pág. 3132.

2 KARDEC, Allan. Partida de um adversário do Espiritismo para o mundo dos espíritos. Revista Espírita. Outubro de 1865. P.

295. Edicel.

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No mês do livro espírita, os intercâmbios do CCEPANo mês de abril, tradicionalmente comemorado como o mês do livro espírita, serão realizadosalguns intercâmbios do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, com outras instituições epensadores espíritas brasileiros. Assim:

Medran em Balneário Gaivota, dia 4A convite do Centro Espírita Allan Kardec, de Balneário Gaivota/SC, o presidente do CentroCultural Espírita de Porto Alegre, Milton Medran Moreira, proferirá palestra, naquela instituição,no dia 4 de abril, sábado, às 19h, abrindo ciclo de palestras comemorativas aos 150 anos dolivro “O Céu e o Inferno”. Abril assinalará também o 8º aniversário daquela instituição. Tema dapalestra de Medran: “Anjos e demônios – um enfoque espírita”.

W Garcia no CCEPA, dia 10O escritor espírita Wilson Garcia proferirá palestra no CCEPA,aberta ao público, e especialmente destinada aoscolaboradores e estudiosos do espiritismo do Centro CulturalEspírita de Porto Alegre. Tema: “Chico, você é Kardec?”, títulode obra do conferencista, que é um dos mais importantesescritores espíritas da atualidade. W Garcia autografará váriasde suas obras, por ocasião da palestra no Centro CulturalEspírita de Porto Alegre.

Salomão em Osório, dia 21O Diretor do Departamento Doutrinário do CCEPA, Salomão Jacob Benchaya, abrirá, emOsório/RS o Ciclo de Estudos Kardecistas, promovido pela Sociedade Espírita Amor eCaridade, com a palestra “Reflexões acerca da Natureza, Caráter e Objetivo do Espiritismo”, aser proferida às 20h do dia 21 de abril. Antecederá à palestra um encontro para troca de ideiasentre trabalhadores do CCEPA, que acompanharão Salomão, e do Centro anfitrião.

Começa este mês o Curso Básico de EspiritismoInicia no próximo dia 25 de março o Curso Básico deEspiritismo, a ser ministrado às quartasfeiras, às 15h, noCCEPA, pelo Diretor Doutrinário Salomão Jacob Benchaya ea pedagoga e colaboradora da instituição, Dirce TeresinhaCarvalho Leite. As inscrições são gratuitas. Informações pelofone 3209 3092 ou [email protected] .O curso estendese por cinco quartasfeiras consecutivas, nomesmo horário.

Lento e doloroso progressoSenhor editor: Penso que deveria republicar o artigo “Lento e Doloroso Progresso”, da edição dedezembro de 2005, com algumas observações adicionais referentes à imensa corrupção política domomento. Aquele artigo continua atualíssimo, apesar de nove anos passados.Abraços. Gilberto Guimarães Silva – [email protected]

Nota da Redação – O artigo referido pelo leitor apareceu como “Nossa Opinião”, na matéria “A corrupçãoque nos envergonha”, capa da edição n. 126 do jornal CCEPA Opinião. O editorial que publicamos nestapágina faz novas considerações sobre o tema. A edição 126 pode ser buscada em: http://www.espiritnet.com.br/Opiniao/Ano2005/opiniao12.htm

Qualidade editorialMe puse a revisar los últimos números que tenía de CCEPA Opinião/América Espírita sobre mi escritorioy me llena de orgullo participar de una Revista Espírita de tanta calidad. Es excelente la parte editorial quesiempre escribe el edictor Milton Medran Moreira, con artículos tambien reproducidos por Abertura, deInstituto Cultural Espírita de Santos. También la selección de artículos y los temas son excelentes, asícomo la diagramación. Quisiera hacerte llegar, Milton, mis felicitaciones por tanta dedicación y esmero

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puestos al servicio de la difusión de “nuestro” ideal espírita. Un abrazo grande, agradecido y afectuoso,por la excelente labor de todo el equipo de CCEPA, especialmente de mi amigo Maurice Herbert Jones, aquien deseo lo mejor siempre.Dante López – Rafaela/Argentina.

Fanatismo“Quando o fanatismo, seja ele religioso, político ou ideológico, passa a habitar a alma humana, sua mentese fecha para a razão”. Destaco esta frase da coluna “Opinião em Tópicos” (janeiro/fevereiro de CCEPAOpinião) para lamentar que nosso querido Brasil, ultimamente, também está sendo cenário de muitofanatismo, tanto no campo religioso (pastores que incutem crenças ultrapassadas para extorquiremdinheiro de pessoas despreparadas), quanto ideológico (políticos que se vestem de ovelhas, mas quesão lobos muito perigosos). Até quando?Josemara C. Soremar – Porto Alegre.

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segundafeira, 9 de fevereiro de 2015

OPINIÃO ANO XXI Nº 226 JANFEV 2015

Pesquisa científica feita por núcleo da Universidade Federal de Juiz de Fora concluiu queinformações contidas em lote de cartas psicografadas pelo médium Chico Xavier, nadécada de 70, eram verídicas.

Pesquisa ganha repercussão internacionalUm lote de 13 cartas atribuídas a Jair Presente, jovem morto por afogamento, na cidade deAmericana/SP, psicografadas pelo médium Francisco Cândido Xavier, no período de 1974 a1979, foi objeto de minuciosa pesquisa acadêmica realizada pelo psiquiatra Alexander Moreirade Almeida, diretor do Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde (NUPESUFJF0) emparceria com o Departamento de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, a partir de tese depósdoutorado dos pesquisadores Denise Paraná e Alexandre Rocha.O objeto da pesquisa não era comprovar a autenticidade do fenômeno mediúnico (comunicaçãoentre “vivos” e “mortos”), mas cingiase a apurar se os dados presentes nas cartas conferiamcom a realidade. O estudo terminou por concluir que os dados eram críveis: “As informaçõescomunicadas nas cartas eram precisas (nomes, datas e descrições de fatos acontecidos na vidada família) e verídicas (nenhuma informação comunicada nas cartas estava incorreta ou erafalsa”, afirmou MoreiraAlmeida em entrevista ao site UOL. Vários órgãos da imprensa nacionalrepercutiram a notícia, após destaque internacional obtido pelo trabalho publicado, em setembrodo ano passado, pela revista científica “Explore”, da Editora Elservier, de Amsterdã, Holanda, eque pode ser conferido em http://www.journals.elsevier.com/explorethejournalofscienceandhealing/ .

Metodologia buscou blindar fraudesAo examinar a autenticidade dos fatos revelados nas cartas psicografadas, o estudo levou emconta, inclusive, a probabilidade de Chico Xavier ter tido acesso às informações por outrosmeios. Essa possibilidade terminou por se revelar extremamente remota. Em vários casos eraminformações privativas da família, algumas delas, até desconhecidas dos familiares querecorreram a Chico na busca de comunicação com Presente. Foi o caso de informação trazidapelo suposto espírito comunicante sobre o falecimento de sua madrinha, episódio até entãodesconhecido da família.Na metodologia empregada pela pesquisa, selecionaramse 99 informações objetivas epassíveis de verificação. Para apurar sua veracidade, foram feitas entrevistas em profundidadecom familiares e pessoas que tiveram acesso aos fatos. Também se recorreu a recortes de

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jornais e outros documentos.

Para saber mais: entrevista realizada pelo site uol, na Internet, pode ser acessada em:http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimasnoticias/redacao/2014/12/26/estudoanalisaveracidadedecartaspsicografadasporchicoxavier.htm .

O Método e os FatosSempre que se apresentam elementos de provas, como o desta notícia, sobre temas espíritas,há quem alegue que a pesquisa não seguiu rigorosamente o “método científico”. No grupo dedebate da CEPA, na Internet, o tema foi discutido, a partir das experiências realizadas porWilliam Crookes, recordadas em nossa última edição.Vale registrar o que escreveu, ali, Ricardo Nunes, licenciado em filosofia: “O objeto de estudo doespiritismo não é passível de reprodução como em um laboratório de química”. Daí, segundoele, os limites reconhecidos por pensadores modernos como Popper, Khun e outros, do que sechama “método científico”. Lembrou Ricardo que “as condições de harmonia entre médium eespíritos são únicas, e isto deve ser levado em conta, sob pena de querermos deitar ofenômeno espírita em um leito de Procusto”.Àquele comentário, outro integrante do grupo, Homero Ward da Rosa, também formado emfilosofia, acresceu: “O objeto de estudos do espiritismo, como diria Descartes é uma coisa quepensa, e, além disso, tem livrearbítrio, vontade, intenção. Apresentase quando pode e a quemquer, e, por isso, não há como ser observado, estudado, analisado, dissecado, unicamente pelométodo científico, acadêmico tradicional, o que não implica que este não possa ser utilizado”.Poderíamos resumir esses lúcidos comentários, recordando que, para o espiritismo, espírito égente como a gente. Médium, idem. Mais do que os métodos científicos com que se medemfenômenos físicos ou químicos, a essas manifestações se devem aplicar as interpretações, bemmais complexas e nunca matematicamente previsíveis e inteiramente esclarecedoras, dapsiquiatria, da psicologia, da sociologia, da antropologia e do direito, ciências humanas queveem o ser humano como uma inteligência movida por saberes, crenças, interpretações,emoções e experiências díspares, e nem sempre enquadráveis em esquemas deprevisibilidade.De qualquer sorte, fatos são fatos. Em outras experiências comprovadamente sérias, já sefotografaram espíritos; já se analisaram suas comunicações escritas pelas mãos de ummédium, identificando seus traços grafoscópicos com os de quando encarnado; já se gravaramsuas vozes diretas; já se compararam estilisticamente seus ditados com a respectiva produçãoliterária na vida física.São manifestações factuais que, um dia, por certo, se hão de impor, não mais como elementosde crença, mas como expressões de uma realidade que, para ser devidamente reconhecida,está a reclamar a adoção de um novo paradigma científico, com coragem suficiente para rompercom o materialismo em que se acabou enredando a cultura contemporânea. (A Redação).

Vergonha e esperança“A morte não apresenta tabela de preço. Não premia delatores. Não adianta trazerdinheiro grudado ao corpo com fita crepe, o vexame será inútil.” (Martha Medeiros – Z.H.7.1.2015).

Como todos os brasileiros de bem, a cronista gaúcha Martha Medeiros diz ter começado o ano“sentindo vergonha do país e, ao mesmo tempo, com esperança”. Expressou esse duplosentimento em sua festejada coluna do jornal Zero Hora. A vergonha, obviamente, justificadapelos crimes contra o erário público, cometidos por agentes do governo e empresários. Aesperança, esboçada na capacidade que hoje demonstra a Nação de apurar os ilícitos e puniros culpados.Mas, o mesmo artigo, “Ela, a incorruptível”, adentra um tema de particular relevância para nós,espíritas: “Por mais que roubem” escreveu Martha referindose a corruptores e corrompidos –“nunca poderão subornar a morte”, pois que “ela está logo ali em frente, aguardando sereshumanos de todos os escalões, tanto os donos de jatinhos quanto os que puxam carroça”.A inexorabilidade da morte seria, por si só, um estímulo à vida digna. Viver dignamente atestaa experiência , conduz à morte igualmente digna. Para quem, no entanto, admite asobrevivência do espírito e da consciência após o decesso físico, os males antes delepraticados geram consequências que precisarão ser enfrentadas pelo agente.

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Embora condutora de nossa cultura, a religião, com sua pregação de recompensas e castigoseternos, revelouse incapaz de gerar uma ética apta à formação de uma sociedade livre dacorrupção. Esta, infelizmente, impregna o Estado, os organismo sociais, suas mais carasinstituições e, inclusive, a Igreja.A filosofia espírita propõe uma visão mais ampla acerca da responsabilização do agente após amorte. Acrescendo à questão da sobrevivência individual do espírito a sua condição evolutivaadmite que a busca dos valores imperecíveis é meta de todo o ser consciente. Erros e acertosfazem parte desse processo. Mas o erro, em qualquer circunstância, gera sofrimento. Deste, sóse libera o espírito na medida em que a experiência e o aprendizado lhe inspirarem mudançasefetivas de conduta em direção do bem.Indivíduos e sociedades humanas, mais do que o temor pelos castigos prescritos pelossistemas penais e pelas religiões, precisam aprender a ler as leis da natureza e agir em suaconformidade. Quando convictos de que o mal praticado contra outros é a causa primordial deseus sofrimentos, serão, inexoravelmente, conduzidos a mudanças. O progresso, este é,efetivamente, inexorável. E a morte, como elemento intrínseco da vida, tornase, nessa visão,mais um degrau galgado na escada que leva à responsabilidade individual e ao equilíbrio social.Vida após vida, morte após morte, vamos, assim, aprendendo a administrar nossas vergonhas ea ampliar nossa esperança em prol de tempos melhores.

William CrookesNa obra de Crookes sobre espiritualismo tudo o que falta é rigor científico, pela absoluta falta dedescrição metódica e pela presença de conclusões infundadas. Uma pessoa habituada ao tratocientífico não conseguiria reproduzir os experimentos ilustrados e muito menos chegar àsmesmas conclusões.Sim, Crookes foi genial, mas em sua área de pesquisa. Já nos estudos espiritualistas apenasreproduziu a falácia do "espiritualismo científico" tão comum entre aqueles que creem. Ou seja,nada mais do que pseudociência.Sergio Mauricio Brasília, DF.

Nota da Redação: a manifestação acima foi feita na Lista de Debates da CEPA, pela Internet,onde se discutiu a matéria de capa de CCEPA Opinião de dezembro. Veja em “Nossa Opinião”,na página anterior, a posição de outros debatedores e a deste jornal.

Apenas um Pedagogo (1)Com prazer republiquei em meu blog artigo do amigo Eugênio Lara, cuja versão original saiu naedição de dezembro último do jornal Opinião, do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Brasil.Digo prazer porque se trata de um excelente artigo sobre o codificador Allan Kardec e porquerevela o amadurecimento seguro do pensamento de um batalhador pelas ideias espíritas, queestá atento a tudo o que se passa alhures e no interior de um movimento cada vez maispluralizado e cada vez mais distante do foco original. Vejo o título – Apenas um Pedagogo – nasua duplicidade de significado, ou seja, um Pedagogo com P maiúsculo está anos luz à frentedo homem comum, como o revela o autor neste artigo que vale a pena ler.Wilson Garcia – Recife/PE. (Blog: http://www.expedienteonline.com.br/

Apenas um Pedagogo (2)Gostei de ver Kardec em pauta no artigo do Eugênio do Opinião. Lendo a Revista Espírita lhedamos o devido valor. Mais que nunca, vejo isto.Paulo Cesar Fernandes – Santos/SP.

As crises da fé e da religiãoInteressantes considerações (Opinião em Tópicos/dezembro). Acontece que o ser humanomoderno quer, ou deveria querer, compreender tudo, e não acreditar ou ter crença ou fé. Noentanto, as religiões não se dirigem à compreensão, e sim à crença e ao dogma (que ninguémquer, ou deveria querer, aceitar sem compreender seus fundamentos e considerálo justo). Adúvida de Madre Teresa é bem típica de quem quer compreender e não aceita mais ter fé cega;no entanto, ela também deveria ter expressado a dúvida sobre o que é ou significa Deus, poisperdeuse totalmente a noção do que essa entidade é e significa aliás, por culpa das religiões!Interessante também, no caso dela, que o amor altruísta não depende de fé, e sim deespiritualidade (pois ele não faz sentido de um ponto de vista materialista, que devenecessariamente levar ao egoísmo).Valdemar W. Setzer – São Paulo.

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Loucos ou covardes?Como classificar pessoas como os

autores dos atos de terrorismo contra jornalistas do “Charlie Hebdo”, de Paris, em 7 de janeiroúltimo?Crentes ou dementes? É difícil admitir que algum tipo de fé religiosa possa justificar tantabarbárie.Como entender a alma e a mente de indivíduos assim?Quando o fanatismo, seja religioso, ideológico ou político, passa a habitar a alma humana, suamente se fecha para a razão. Renunciar à razão é negar o divino que está em nós. Nadaidentifica melhor a presença de Deus no interior da alma humana do que o cultivo da razão.Raciocinar é aprender a ler o grande livro da Natureza. Nenhum livro sagrado é mais rico doque o repertório de leis naturais gravadas na consciência imortal do ser humano.

Homens ou feras?Foram necessários alguns séculos de civilização para que inteligência e ética se encontrassem,dando lugar ao reconhecimento dos direitos fundamentais do homem. Valores como igualdade eliberdade, frutos da fraternidade que, por sua vez, nascera da sociabilidade, levaram àconquista da dignidade humana.Por todo o tempo em que fomos governados por nossos deuses tribais, desconhecemos osatributos de dignidade da alma humana. A ruptura com o sagrado e o resgate do natural abriramcaminho à emancipação do espírito.Respeito à vida, à integridade, às ideias, às crenças e sentimentos do outro é o que define o serhumano. É o que nos distingue da fera que já fomos e nos liberta do atavismo religioso em quepermanecemos encarcerados, por longo tempo.

Furor sagrado?Por tempos, o domínio do sagrado sobre o profano justificou a vingança e se sobrepôs à própriavida humana. Esta nada valia, quando em confronto com o universo sacro. Os novos tempostrouxeram para o mesmo nível o laico e o religioso. A crítica e a sátira a um e a outro restarambalizadas por idênticos regramentos: aqueles prescritos pelo moderno estado de direito. Mesmopara segmentos como o nosso, que defendem o respeito a todas as crenças, cultos esimbologias religiosas, é repulsiva e absolutamente injustificável a vindita, o furor sagrado emnome do qual se atenta contra a vida e a liberdade.

Desencanto ou esperança?Episódios assim geram mais perguntas do que respostas.Mas o tempo age sempre em favor do homem. Ele transmuda ignorância em aprendizado,vingança em tolerância, tolerância em alteridade, e ódio em amor.

2015 – Ano de SimpósioComo acontece de dois em dois anos, 2015 é ano do Simpósio Brasileiro do PensamentoEspírita, criação de Jaci Regis para o Instituto Cultural Kardecista de Santos. Na oportunidade,haverá também Assembleia Geral da CEPABrasil, com eleição de dirigentes para a próximagestão. Veja as informações abaixo sobre o Simpósio:

Curso Básico de Espiritismo no CCEPAO Departamento Doutrinário do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre promove, a partir de 25de março próximo, um Curso Básico de Espiritismo, inteiramente aberto ao público. As aulas,em número de cinco, serão ministradas por Salomão Jacob Benchaya (Diretor doDepartamento) e a pedagoga espírita, integrante do CCEPA, Dirce Teresinha Carvalho Leite.As inscrições, gratuitas, já estão abertas. Veja os detalhes no cartaz no topo da página.

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Sobre o futuro do EspiritismoVinícius Lima Lousada – [email protected] Educador – Bento Gonçalves/RS

“O Espiritismo é a grande niveladora que avança para aplainar todas as heresias.Ele é conduzido pela simpatia; ele é seguido pela concórdia, pelo amor e pelafraternidade; ele avança sem abalos e sem revolução; ele nada vem destruir, nadaderrubar na organização social; ele vem a tudo renovar”. Um filósofo do outro mundo(*).

Que será do Espiritismo nesses dias de pósmodernidade desvairada, de afetos líquidos, decertezas nada certas, de fidelidades transitórias à epistemologia espírita? Como se portará essafilosofia diante de escassez de sabedoria no copo transbordante de tanta informação veiculada,não raramente, superficial?Como lidará a Doutrina dos Espíritos, no século XXI, com tamanha mídia a seu serviço nemsempre apresentando o pensamento lúcido de Allan Kardec, forjando um caráter de religiãonacionalista – que o Espiritismo com Kardec nunca teve – com pregações, cânticos e rezas queparecem configurar um novo evangelismo, pouco identificado com a tradição filosófica em que omestre inseriu a Doutrina, desde O Evangelho segundo o Espiritismo, ao apresentar como seusprecursores Sócrates e Platão?Que serão dos colóquios naturais com os desencarnados em tempos que um novo moisaísmoparece ecoar nas mentes e proibir, sem chancela alguma do ensino coletivo dos Espíritos, aarte de dialogarmos com os supostos mortos, apesar das instruções de Kardec sobre asevocações?As pessoas solitárias não poderão chamar seus amados, domiciliados no além, para um abraçoa mais, uma conversa a mais, uma elucidação sobre as leis da vida e suas consequências? Nãopoderá o coração em dúvida rogar ao seu benfeitor espiritual aconselhamentos enobrecedores?Até quando indagar os Espíritos sobre temas sérios, a despeito do ensino kardequiano, vai ser

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algo visto como coisa permitida somente para gente de nível evolutivo inencontrável na Terra?E os médiuns, terão de esquecer que o são e recalcarão as suas potencialidades psíquicas parase ajustarem ao adestramento conduzido por alguns agentes que ignoram a pedagogia damediunidade proposta por Kardec ou não guardam na alma qualquer vivência mais profundacom o fenômeno espírita?Como se comportará a filosofia composta pelos Espíritos e Kardec diante da negação dodiálogo e do debate que se coloca para dar lugar aos discursos “iluminados” que não suportama dúvida e a inquietação filosófica?O Espiritismo suportará aqueles que se creem com credenciais maiores que as de Kardec aoponto de ignorarem a sua obra para criarem sistemas de ideias particulares e exóticas?Mesmo que a arrogância não ouça o pensamento crítico, se faça excludente com os que sededicam a pensar filosoficamente e venha a se dedicar a um discurso obscurantista – quepromova a ignorância como virtude e achincalhe a inteligência em nome da fé cega,estigmatizandoa de vaidade –, o Espiritismo prosseguirá no ar, fazendo vibrar as fibras íntimasdos que se sentiram tocados no coração por sua filosofia, adotandoa como referênciaexistencial.O Espiritismo independe dos homens e das mulheres ou das instituições. É mensagem dosEspíritos à humanidade domiciliada na carne e, mesmo que o seu ensino seja proibido – algoque seus adversários desistiram, faz tempo ele ainda existirá.O Espiritismo está na Natureza, está no Espírito, nas leis que a vida encerra e revela em suamajestade, delineando uma ideia, a nós outros, acerca da Inteligência Suprema e de nossaprópria pequenez ante a Sapiência Divina.Será uma lástima se o saber espírita, com todo o seu potencial transdisciplinar, como ciência doinfinito em permanente diálogo criativo com as leis naturais, seja encarcerado nas nossasreferências religiosas do passado.O futuro, diz o adágio popular, a Deus pertence. Mas, quero crer que os limitantes impostos aoEspiritismo pela falta de lucidez em voga se dissiparão ante o ensino progressivo e coletivo dosEspíritos que se apresentam diuturnamente à grande família humana, independente de credo,partido, questões étnicas, religião, condições econômicas ou posições ocupadas na sociedade.O Espiritismo, com Kardec, prossegue. E o seu futuro? O mesmo dos grandes ideais: comouma fênix mitológica ressurgirá sempre das cinzas a que fora reduzido para, em novaspossibilidades, renovar tudo à sua volta.Queiram as mentes estreitas ou não, o Espiritismo prosseguirá em sua tarefa de renovação,apesar delas, sendo que os Espíritos são os seus maiores propagadores, como um dia ensinouAllan Kardec.Construamos, enfim, uma convicção espírita na base sólida da fé raciocinada e estudemosKardec, na fonte e em profundidade, para que através de nós o Espiritismo seja Espiritismo,com os seus princípios, desdobramentos e a lucidez que o caracteriza desde as baseskardequianas.

(*) Revista Espírita, junho de 1863. O futuro do Espiritismo.

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sábado, 13 de dezembro de 2014

OPINIÃO ANO XXI Nº 225 DEZEMBRO 2014William Crookes (1832/1919):

“É absolutamente verdadeiro que uma conexão foiestabelecida entre este mundo e o outro”.Termina o ano de 2014 sem que, no movimento espírita, se tenha destacado apassagem do 140º aniversário de uma obra fundamental para o espiritismocientífico “Researches in the Phenomena of the Spiritualism”, de William Crookes(1874) cuja versão para o português recebeu o título de “Fatos Espíritas” (FEB1919).

O autorO físico e químico William Crookes (foto) é considerado um dos mais importantes cientistas deseu tempo. Membro da respeitadíssima Sociedade Dialética de Londres entrou para a históriada ciência por valiosas descobertas, como: o elemento tálio, o “tubo de Crookes”, os raioscatódicos e o estado radiante da matéria. Por sua decisiva contribuição científica, foi nomeadocavaleiro, em 1897, pelo Rei Eduardo VII, e recebeu a “Order of Merit”, em 1910.A partir de 1870, Crookes, após haver comunicado essa intenção à Royal Society, entidade deintelectuais ingleses por ele integrada, passou a investigar, com absoluto rigor científico, os

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chamados fenômenos espíritas, a partir, notadamente, daquelesproduzidos por importantes médiuns da época, como DanielDunglas Home e Florence Cook. Esta, então com 15 anos deidade, materializou, em várias e seguidas sessões, na casa docientista, o espírito identificado como Katie King, que, diante devárias testemunhas, caminhava na sala, conversava com ospresentes, tendo segurado em seus braços o bebê da família epermitido que se lhe cortasse uma mecha de cabelo. As famosassessões de materialização, na residência de Crookes, eram feitas noescuro, mas algumas foram fotografadas com a utilização de luzvermelha.

A obraA obra que acaba de completar 140 anos, publicada que foiem 1874, reunindo escritos do autor publicados desde 1864em “The Quartely Journal of Science”, é anterior àsexperiências de materialização em sua casa. Estas só viriamconfirmar as teorias de Crookes sobre a sobrevivência ecomunicabilidade dos espíritos, fundadas em observações defatos que, desde a juventude, lhe haviam chamado atenção eque são relatados no livro.Ainda em1874, William Crookes apresentou minuciosorelatório dos fenômenos com os médiuns Florence Cook eDaniel Dunglas Home, atestando que os mesmos produziam genuínos fenômenos espirituais. Mesmo que seus relatostenham sido recebidos com incredulidade por alguns de seuspares, o famoso cientista ratificaria inteiramente, pelo restanteda vida, suas convicções confirmadas nos fatos ocorridos emsua residência, sob a observação de insuspeitas testemunhas.Assim, em setembro de 1898, ao tomar posse na presidência

da Associação Britânica pelo Avanço da Ciência, declarou:“Trinta anos se passaram desde que publiquei as atas das experiências tendentes a mostrarque fora dos nossos conhecimentos científicos existe uma força posta em atividade por umainteligência diferente da inteligência comum a todos os mortais. Nada tenho que retratar dessasexperiências e mantenho as minhas verificações já publicadas, podendo mesmo a elasacrescentar muita coisa”.E, em 1917, dois anos antes de morrer, em entrevista para “The International Psychic Gazette”repetiu:"Nunca tive jamais qualquer ocasião para modificar minhas ideias a respeito. Estouperfeitamente satisfeito com o que eu disse nos primeiros dias. É absolutamente verdadeiro queuma conexão foi estabelecida entre este mundo e o outro".

Na InternetVocê pode baixar a edição original do livro de William Crookes, assim como seu resumo, feitona edição em português, com o título de “Fatos Espítitas”. Acesse:http://www.autoresespiritasclassicos.com/Pesquisadores%20espiritas/William%20Crookes/William%20Crookes%20%20Fatos%20Esp%C3%ADritas.htm

Há 30 anosEm 1984, portanto há 30 anos, Maurice Herbert Jones transmitia a presidência da FederaçãoEspírita do Rio Grande do Sul a Salomão Jacob Benchaya. E, com ela, um projeto quecomeçaria, logo, a ser posto em execução: a revista “A Reencarnação”, órgão oficial da FERGS,em suas três seguintes edições, enfocaria, em cada uma, os comumente chamados trêsaspectos fundamentais do espiritismo. Naquele mesmo ano, sairia o primeiro número da série,versando sobre o aspecto científico. A edição 400 deixava a gráfica com este título de capa: “Otripé doutrinário está quebrado?”. Uma pergunta mostrando a clara preocupação com o estágiodo movimento, onde segundo o recado inicial da Redação, “o importante aspecto religioso”estava “bem desenvolvido”, mas era mister “encorajar a atividade científica” (artigo “Ciência: oângulo esquecido”).A histórica edição, além de resgatar a contribuição de cientistas mais antigos como Mesmer,Croockes, Richet, Lodge, Wallace, e de saudar a atividade de contemporâneos como HernaniGuimarães, George Meek e Banerjee, trazia a palavra de importantes pensadores então ematividade, como Jorge Andréa, o próprio Hernani, Cícero Marcos Teixeira, Herculano Pires eNazareno Tourinho, todos preocupados com a ausência de uma ancoragem científica do

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espiritismo, no estágio de então. Tourinho, em seu depoimento, assinalava: “Se desprezarmosnossa base científica, o movimento entrará em deplorável sectarização mística”.Teríamos avançado nesses 30 anos? Provavelmente, bem menos do que nos 110 decorridos,então, entre o trabalho de Crookes e a edição da revista. O pensador paraense NazarenoTourinho parece ter acertado em sua previsão: o movimento está mais sectarizado e maismístico. Dirseá que o espírita não tem a obrigação de ser versado em ciência. Que seu refletirfilosófico pode ancorar racionalmente suas convicções. É verdade. Personagens como Crookes,Richet, Bozzano e outros, nunca se declararam espíritas. Pesquisadores que, hoje,especialmente nos Estados Unidos, se ocupam da memória extracerebral, concluindo pelareencarnação, também não se declaram como tal. O importante é que nós, espíritas, estejamospermanentemente atentos a esse tipo de pesquisa e saibamos, minimamente, interpretálas nosentido da fundamentação teórica de nossa visão de homem e de universo. Claramente, esta émuito menos uma fé e bem mais uma boa teoria conciliável com a ciência moderna. (ARedação)

No limiar de um novo tempo“É preciso que o mal chegue ao excesso para tornar compreensível a necessidadedo bem e das reformas.” (O Livro dos Espíritos – questão 704)

É evidente que nenhum cidadão brasileiro estará observando com alegria os acontecimentosvindos à tona pela investigação “Lava Jato”, deflagrada pela Polícia Federal. Tratase de ummilionário esquema de lavagem de dinheiro, oferecimento e recebimento de propina, em quefiguram, de um lado, grandes empreiteiras de obras públicas contratadas pela Petrobrás, e, deoutro, exdiretores e executivos daquela que é a maior estatal do país. Assim, recursos quedeveriam se destinar ao fortalecimento da economia nacional e, logo, à produção de bens eserviços públicos, estariam servindo ao enriquecimento ilícito de funcionários e fornecedores,num vergonhoso conluio cuja real extensão se prenuncia como estarrecedora, segundo asinvestigações até agora divulgadas. Talvez seja o maior escândalo da história do Brasil.Se ninguém se alegra com os fatos, reconheçase, contudo, que sua investigação e a possívelresponsabilização de seus autores dão indícios de que a Nação vive o início de um novo tempo.E, por isso, há, sim, motivos de regozijo.O aprimoramento moral e ético do ser humano e da sociedade envolve aprendizados eexperiências que requerem tempo e esforço. Diferentemente da proposta teológica judaicocristã, segundo a qual teria o homem saído perfeito das mãos de Deus e, posteriormente, secorrompido pelo pecado da desobediência, para nós, adeptos e cultivadores da filosofia espírita,o ser humano é um projeto que parte do “simples” e “ignorante” no rumo da perfectibilização,existência após existência do espírito imortal.Ao aprimoramento da inteligência, no entanto, nem sempre se segue o da virtude, de formaimediata: “o fruto não pode vir antes da flor”, disseram as entidades espirituais na suainterlocução com Allan Kardec (O Livro dos Espíritos – q. 791). Asseveraram mais: que acivilização só poderá chegar a seu ápice “quando a moral estiver tão desenvolvida quanto ainteligência”, pelo efetivo combate ao orgulho e egoísmo, matrizes de todo o mal e sofrimentohumanos. Apesar do aparente paradoxo, orgulho e egoísmo marcam estágios de nossoprocesso de humanização que, cedo ou tarde, necessariamente, terão de ceder lugar aoautoconhecimento e à solidariedade, desbravando, assim, o caminho da felicidade, destino detodo o espírito e coletividades, independentemente de suas crenças e cultura.Não se diga que nunca houve tanta corrupção. Parece mais razoável afirmar que ela sempreexistiu e que, no entanto, não se criara, antes, uma consciência coletiva verdadeiramente forte eeficiente quanto à necessidade de se a debelar. É dessa consciência que emana oenfrentamento do mal cuja existência passa a ser reconhecida como real e passível deextirpação. É dessa mesma consciência que brotará a coragem para as transformações, paraas mudanças exigíveis tanto de governantes como de governados, de ricos e pobres, deempresários e trabalhadores, pois que uma nação só se constrói com o esforço comum nabusca de padrões éticos por todos intelectualmente introjectados e efetivamente vivenciados.É possível que o mal tenha chegado ao seu excesso. Pelo menos é assim que o vemos, graçasà nossa capacidade de com ele nos indignarmos. Capacidade de indignação é também indíciode avanço ético. Mas é certo que a Nação vive o seu melhor momento para inaugurar um novoperíodo de sua já tão sofrida história. Há sinais de que começamos a trilhar um novo caminho.Um novo fio condutor parece impelir nossas futuras gerações das quais nós mesmospoderemos fazer parte a estágios de regeneração e de genuíno progresso. Já adiamos pordemais esse tempo.OLHO: Capacidade de indignação é também indício de avanço ético.

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As crises de cada umAqueles que se nutrem da crença religiosa têm formas diferentes de enfrentar as crises da fé. Oavanço do conhecimento humano e a autonomia de pensamento, conquistada na modernidade,levam o crente, em algum momento, a refletir em sentido contrário às suas crenças. É quandoele percebe o choque entre a razão que se amplia e a fé que vê seus antes inexpugnáveisdomínios progressivamente invadidos pelo conhecimento.Mas, cada um reage de forma distinta ao se manifestar a crise. A maioria, num dado momento,e sem qualquer sentimento de culpa, simplesmente deixa de cultivar as crenças que lhe foramtransmitidas culturalmente ou às quais aderiu em tempos onde não dispunha das informaçõesagora disponíveis.

Fé e religiãoPerder a fé nem sempre implica em abandonar a religião. Esta, por muito tempo, organizou emonopolizou a vida social das comunidades. Criou rituais de passagem que integram o scriptadotado e mantido pela sociedade de espetáculo em cujo palco nos movimentamos: batizados,casamentos, cultos fúnebres, missas de sétimo ou trigésimo dia, e por aí a fora. Para a maioria,são eventos meramente sociais que há muito independem da fé. Tampouco esta é exigida deseus atores. Bastalhes representar o papel social da religião, apenas isso.Abandonar a fé tornouse uma atitude fácil e indolor. Renunciar a todos esses aparatos que seintegraram ao espetáculo do calendário social pode ser bem mais complicado. A hipocrisiapassa, então, necessariamente, a fazer sua figuração no roteiro.

Madre Teresa de CalcutáEntretanto, há pessoas que construíram toda sua vida a partir da fé interior. Madre Teresa deCalcutá, por exemplo. O imenso bem que praticou em favor de seu semelhante nasceujustamente da crença. A caridade eralhe consequência da fé abraçada ainda na infância. Mas,em algum momento, as dúvidas passaram a atormentála. Logo após a morte da missionária,seus biógrafos revelaram a profunda crise de fé que a acompanhou por cerca de 50 anos e daqual deixou registro em cartas de próprio punho. Nelas, há frases como esta: "Onde está minhafé, inclusive aqui no mais profundo não há nada, meu Deus, que dolorosa é esta penadesconhecida. Não tenho fé. Se há um Deus, perdoame, por favor. Quando tento elevarminhas preces ao Céu, há um vazio tão condenador...". O tormento que sentia pela ausência defé, sendo esta elemento primordial da religião, provocavalhe, segundo escreveu, uma “terríveldor” que a monja buscava compensar com sua entrega total ao serviço pelos maisnecessitados. Foi seu jeito particular de enfrentar a crise da fé. Cabelhe, assim, muito melhor otítulo de humanista do que o de santa.

Fé e evolucionismoA crise da fé também atinge as instituições. Mas, aí poderá convir fazer de conta que a crisenunca existiu. Entre a radicalidade da fé e a preservação da instituição, optase por esta. É oque a Igreja faz com relação ao evolucionismo. Claramente, a tese da evolução não secompatibiliza com o mito judaicocristão da criação, espécie por espécie. Muito menos com abase fundamental herdada do judaísmo pelo cristianismo. Esta repousa na ideia dadesobediência do primeiro casal saído das mãos de Deus e cuja descendência toda foiamaldiçoada. Maldição de um deus pessoal, criador, que só se anularia com outro mitofundamental cristão: o de um redentor que baixa dos céus à Terra para salvar quem nele crê.Esse deus é justamente aquele de cuja existência Teresa de Calcutá duvidou. Não há comocompatibilizálo com o conhecimento moderno. A Igreja prefere ratificar, na prática, toda acosmogonia que ampara seus dogmas, e, contraditoriamente, afirmar não se opor à evolução. É seu jeito de administrar a maior crise de fé já provocada em sua história.

Apenas um PedagogoEugenio Lara, arquiteto e designer gráfico, membrofundador do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita,editorfundador do site PENSE – Pensamento Social Espírita e autor de Breve Ensaio Sobre o Humanismo Espírita.Email: [email protected]

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Penso que um dos motivos de, ao menos para osespíritas, Kardec permanecer atual, é o fato de que seuverdadeiro papel e finalidade na estruturação doEspiritismo ainda não são claros. Há os que o subestimame o descartam como personagem central da DoutrinaEspírita. Por sua vez, outros entendem que Kardec eratão genial que os espíritos seriam descartáveis, criandoassim um pensamento exclusivo e sistêmico. Para tanto,foi filósofo, teólogo, médico, astrônomo, cientista etc. etc.Penso que entre esses dois extremos há maisperspectivas, há outro olhar possível.O Espiritismo surgiu da mente privilegiada de AllanKardec como um grande sistematizador de ideias, cujaorigem, todavia, não se encontravam, na sua totalidade,em seu acervo intelectomoral. Muitas daquelas ideiasnão eram dele. É fato, confirmado por ele próprio, quechegou a discordar radicalmente do conceito dereencarnação ensinado pelos espíritos. Demorou a aceitálo, assim como demorou para admitir a teoria da evoluçãoe a evolução anímica. Até o último instante, insistiu com a

decrépita teoria da geração espontânea, mas teve de se render à tese evolucionista.Rivail/Kardec tem de ser visto em sua dimensão humana e social. Possuía atributos intelectuaise culturais que poderiam qualificálo como filósofo, teólogo, cientista, médico, literato,semiólogo, comunicólogo etc. etc. No entanto, ele não foi nada disso porque era, sobretudo, umpedagogo. Em meio à sua formação humanista, enciclopédica, era essa a sua especialidade, apedagogia, a ciência da educação.Dada a natureza sintética do Espiritismo, teve de, em muitos momentos de sua obra, se valer doinstrumental crítico e reflexivo de um filósofo. Em outros momentos, como teólogo, tentoucompreender e intuir a natureza divina e sua relação com a criação e as criaturas. Aexperimentação e observação dos fenômenos medianímicos exigiram dele uma posturacientífica. Teve de agir como cientista, mas, ao mesmo tempo, não se limitou apenas a observare comprovar o fenômeno por meio de pesquisas nem sempre rigorosas, porque pensava alémdaquela fenomenologia. Extraiu dali uma nova filosofia espiritualista, segundo sua própriadefinição.Essa nova filosofia não surgiu de uma revelação teológica, de alguma elucubração metafísicaou por determinação divina simplesmente porque sua origem é histórica e social. Daquelesfenômenos pueris e fúteis das mesas girantes parisienses é que surgiu o Espiritismo.Rivail trabalhou com suas ideias e ideias alheias, oriundas das reuniões mediúnicas, de autoriados espíritos. Difícil imaginar a tonelada de informações que ele teve de processar, sem umnotebook, sem computador, sem nenhuma máquina para auxiliálo, nem mesmo uma benditamáquina de escrever ou alguma caneta esferográfica.No caso, ninguém melhor do que um pedagogo para a busca de sínteses. E, provavelmente,naquele exato momento, ninguém melhor do que ele na França, especialmente em Paris, ocentro da cultura ocidental, para realizar aquele monumental trabalho. Forças intelectuaispossuía com sobras, mas as forças físicas estavam muito aquém, tanto que desencarnouprecocemente.O trabalho informático e pedagógico que realizou o qualifica como fundador/codificador doEspiritismo.Não foi teólogo, nem filósofo ou cientista, ainda que em múltiplos momentos de sua obra,possamos observar o teólogo Rivail em ação, tanto n’O Evangelho Segundo o Espiritismo comoem O Céu e o Inferno, por exemplo. Assim como o filósofo, o ensaísta nos textos teóricos queelaborou em O Livro dos Espíritos, bem como o humanista, na estruturação das Leis Morais eem suas reflexões sobre a questão social.A principal marca de seu trabalho está na capacidade que teve de sintetizar uma série deinformações, ideias e conceitos díspares, contraditórios, desconexos, agindo como um grandepedagogo/pensador capaz de filtrar aquela imensidão de informações.O Espiritismo é uma questão de razão e bom senso, dizia Kardec, ciente do potencial filosóficoda nova doutrina, uma corrente espiritualista de pensamento, uma nova escola filosófica.Nem teólogo ou cientista, nem filósofo ou revelador, apenas um pedagogo que colocou todo seupotencial intelectomoral a serviço de uma forma de pensamento inédita em sua abordagem ecapaz de produzir uma verdadeira síntese no contexto do espiritualismo. Allan Kardec, apenasum pedagogo. Deveria ser o suficiente.

“Kardec Ponto Com” registra 20 anos de “CCEPA Opinião”Em sua edição de novembro último, a gazeta eletrônica “Kardec Ponto Com” registrou apassagem dos 20 anos do jornal “CCEPA Opinião”, completados em agosto de 2014.

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08/04/2015 Opinião

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O jornalista paraibano Carlos Barros deixou consignada a efeméride publicando entrevistarealizada com o editor do jornal do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, Milton MedranMoreira, remontando às origens históricas deste jornal e sua linha editorial. Na entrevista,Medran aborda, entre outros tópicos, a forma como entende deva se “comunicar” o espiritismo,a partir da ideia central de que, sendo a proposta espírita “racional e capaz de dar respostasconcretas às mais instigantes perguntas do homem de todos os tempos”, não é, entretanto “umateoria que exclua todos os demais esforços humanos no sentido do conhecimento e dafelicidade”. Assim, para o editor de “CCEPA Opinião”, quem comunica o espiritismo a partir deque é uma “revelação pronta e acabada” se equivoca e leva outros a semelhantes equívocos”,privandoos daquilo que lhes é mais caro e nobre: “a liberdade de pensamento e deconsciência, que, segundo Kardec, é uma das características da verdadeira civilização e doprogresso (L.E. q.837).Interessados na leitura da entrevista, em sua íntegra, poderão solicitála pelo email:[email protected] .

Confraternização de fim de ano do CCEPAIntegrantes do quadro associativo, dirigentes,colaboradores do Centro Cultural Espírita dePorto Alegre reuniramse na noite de 4 dedezembro, para um jantar deconfraternização, na sede da entidade,assinalando o final de mais um período deatividades anuais da casa.Na oportunidade, o presidente, MiltonMedran Moreira, agradeceu, em nome dadireção do CCEPA, a colaboração e oespírito de integração vivido pela “famíliaCCEPA” durante o ano, dando especialdestaque ao evento aqui realizado emsetembro último, quando sediamos o “VIFórum do LivrePensar Espírita”, promoção

da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA.Por ocasião do jantar de confraternização, foi lançado, pelodiretor do Departamento Doutrinário, Salomão JacobBenchaya, o projeto de realização, em abril de 2015, de umCurso Básico de Espiritismo”, aberto ao público. Os conteúdosdo curso serão desenvolvidos por Salomão e pela pedagogaespírita Dirce Teresinha Carvalho Leite, nossa colaboradora.

Distante, mas pertoEstou renovando minha assinatura de “CCEPA Opinião” para o ano de 2015. Apesar de distante,continuo perto e acompanhando o esforço de todos em prol do espiritismo laico e livrepensador. Um grande e fraterno abraço.Ademar Arthur Chioro dos Reis – Brasília/DF.

Tempo de União e DiálogoTalvez devesse aguardar um pouco mais, para a abordagem a seguir. Ainda estou sob o efeito dochoque, da tristeza, da desilusão com o que vejo no exemplar de novembro/2014 (editorial “Tempo deunião é diálogo”). Uma entidade espírita (ou não se reconhecem também mais assim?) mesmo sedeclarando não religiosa, livrepensadora, progressista, humanista e pluralista, publicando, seja em quefolha for, citações da sra Dilma Roussef, infelizmente e para desgraça do nosso País (pelo visto não dossenhores) presidente da República???!!! O sentimento de consternação é tão imenso, que prefiro nãoenumerar os qualificativos desprezíveis a que tal pessoa é merecedora, e acredito não desconhecerem. Sei que falo pela imensa maioria dos BRASILEIROS, espíritas ou não. Obrigada pela remessaininterrupta do vosso jornal.Marlene Alves da Silveira – Porto Alegre.

Nota do Editor“CCEPA Opinião” ratifica sua condição de órgão genuinamente espírita, livrepensador, humanista epluralista. Exatamente em respeito a essa sua linha editorial, este jornal não tem compromisso ideológicoou partidário, de qualquer matiz, reconhecendo aos cidadãos espíritas o direito de exercitarem, da formaque melhor lhes aprouver, seus ideais políticos e ideológicos. Tal posicionamento, entretanto, não nosexime de citar ou reproduzir pensamentos emitidos por agentes políticos ou administrativos que,circunstancialmente, coincidam com os valores por nós defendidos de progresso, união e diálogo, assim

Eloá Bittencourt, Sílvia Moreira e Medran organizadores do evento

Salomão, Eloá e Medran junto ao cartaz promocional

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08/04/2015 Opinião

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Postado por CCEPA às 19:06 Nenhum comentário:

como de respeito à democracia e aos poderes legitimamente constituídos.

Espiritismo laicoEstou enviando em anexo cheque correspondente à renovação de minha assinatura de “CCEPAOpinião” para continuar recebendo esse maravilhoso jornal que, juntamente com nosso “Abertura”,oferece sempre bons temas de reflexão sobre o espiritismo laico. Desejo a todos um Ano Novo feliz erepleto de realizações.Liamar Gadelha Pazos – Santos/SP.

Peça e RecebaNa oportunidade em que renovo a assinatura de “CCEPA Opinião”, agradeço pela divulgação de meulivro “Peça e Receba – O Universo conspira a seu favor”. Aproveito para informar que, com apenasquatro meses de lançamento, a obra já está em sua terceira edição, sendo que a primeira foi de 5.000exemplares, a segunda de 2.000 e esta última 1.000 exemplares. Está em primeiro lugar entre os livrosmais vendidos da Editora EME.José Lázaro Boberg – Jacarezinho/PR

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