Opinias 01 junho 2014

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Opinias UMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA UMA FESTA PARADOXAL Como você gostaria de comemorar mais uma conquista da nação brasileira? SOLIDARIEDADE Quem te ouve em tuas aflições? PATAGÔNIA Entre focas, gelo e pinguins SOCIEDADE O medo do descontrole UTI Quase do outro lado da vida Quanto custa a Quanto custa a Quanto custa a Quanto custa a Quanto custa a IGNORÂNCIA? IGNORÂNCIA? IGNORÂNCIA? IGNORÂNCIA? IGNORÂNCIA? Ano I - nº 1 Junho - 2014

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Uma revista de ideias, pensamentos e pontos de vista.

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OpiniasUMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA

UMA FESTA PARADOXALComo você gostaria de comemorar mais uma conquista da nação brasileira?

SOLIDARIEDADEQuem te ouve emtuas aflições?

PATAGÔNIAEntre focas,gelo e pinguins

SOCIEDADEO medo dodescontrole

UTIQuase do outrolado da vida

Quanto custa aQuanto custa aQuanto custa aQuanto custa aQuanto custa aIGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?

Ano I - nº 1

Junho - 2014

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Opinias - Junho 2014

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Editorial Sumário

Expediente

O pensamento é, talvez, a nossa maior liberdade, a únicaque ninguém poderá nos roubar jamais. Assim seexpressou o filósofo e matemático francês Blaise Pascal(1623/1662) sobre este ato extremamente individual depensar: "A nossa dignidade consiste no pensamento.

Procuremos pois pensar bem. Nisto reside o princípio

da moral."

Vivemos um tempo de intensa turbulência social, em que,espremidos por uma avalanche cada vez mais caudalosa eveloz de informação e difusão de ideias, sentimo-nosmuitas vezes tolhidos ou com dificuldade de conduzir norumo adequado a nossa íntima capacidade de pensar.Por todas as características que lhe são próprias, o ato depensar e de expor ideias e pontos de vista torna-se,portanto, uma necessidade cada vez maior para exercitarem plenitude o sagrado exercício da liberdade.Especialmente quando vemos esta liberdade ameaçadapela ação de agentes que, declarada ou dissimuladamente,tendem a monopolizar ideias, impor pensamentos eatitudes, ditar, para poder espoliar e extorquir, éfundamental que nossa capacidade de pensar se mantenhaem exercício e total alerta. É imprescindível pensaradequadamente para poder agir adequadamente.Nessa trilha lhes apresentamos OPINIAS (do Esperanto,

pensar): para dar espaço ao pensamento livre, às opiniões eàs ideias necessárias para nossa subsistência como sereshumanos capazes de agir para tornar nosso mundo melhor.Conclamamos, pois, autores que comunguem esta visãopara participar e utilizar este espaço, que sempre garantiráa liberdade de expressão, legítimo e democrático direitoque norteará a publicação. E convidamos a todos que nosajudem a divulgar este trabalho e estas ideias livres.

OPINIAS - ANO I - nº. 1 - Junho 2014 - Publicação virtual mensal da Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. * Diretores: Marcos

Gimenes Salun, Luciana Gomes Gimenes e Naira Gomes Gimenes * Editor e Jornalista Responsável:: Marcos Gimenes Salun (MTb20.405-SP) * Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). *Redação e Correspondência: Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - cj.12 - Jardim

Santa Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 E-mail: [email protected] - Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815. BLOG: http:/

/opinias2014.blogspot.com.br/ * Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão (SP), Anienne Nascimento (AL), Sonia

Hammermuller (RS), Maria Virgínia Bosco (SP), Hugo Harris (SP), Roberto Rago (SP), Carlos Eduardo de Oliveira (SP), Luciana Gomes

Gimenes (SP), Ligia Terezinha Pezzuto (SP), Débora Martins (GO), Renata Iacovino (SP), Valquíria Gesqui Malagoli (SP), Lu Pupim (ES), Maria

Angélica Guichard (RS).

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores a quem pertencem todos os direitos. PERMITIDA a reprodução dos artigos

desde que citada a fonte e mencionada a autoria.

MARCOS GIMENES SALUNJornalista

São Paulo - SP

[email protected]

ALGUMAS IDEIAS

04Do outro ladoA médica Anienne Nascimento foi

paciente da UTI, exatamente no

dia de sua formatura.

06Patagônia

Sônia Hammermuller

22 Sobre a ignorânciaA consultora social e empresarial Lu

Pupin escreve sobre o que significa

a ignorância e sugere possíveis

caminhos para se livrar dela

16 Serviço de escuta

Ligia Terezinha Pezzuto tem larga

experiência neste assunto e nos

fala sobre o trabalho voluntárioatravés de um capítulo de seu livro.

15 Para ver

na WWWLuciana Gomes Gimenes

20Deus e SaramagoDébora Martins

24FelinaMaria Angélica Guichard

21 Realidade DistanteRenata Iacovino

08Uma festa paradoxal

Os contrastes de nossa Pátria de

chuteiras, na avaliação de

Maria Virgínia Bosco

03 SociedadeO psiquiatra Carlos Augusto

Galvão analisa os dias atuais

e fala sobre o medo.

12 Erudição

e porcariaHugo Harris

13 Do giz à

InternetRoberto Rago

14 Conservado

no vinhoCarlos Eduardo Oliveira

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Vejo de minha janela o mundo pegando fogo. O povomais paciente do mundo para com seu estado parece quejá não suporta mais tanta injustiça e perdeu o sentido daesperança de uma nação verdadeiramente republicana.Talvez estejamos vendo a insipiente revolta individual, quemultiplicado por milhões e milhões transforma-se numfogaréu no inconsciente coletivo, de dificílimo controle; aía gênese das revoluções.

Houve avisos prévios há meses, que provocaram apenasmaquiagens sofistas, que já não mais enganam quem querque seja, a começar pelas classes que mais sofrem, ospobres e miseráveis, enfim a classe média, pois o governofalou a todos os que ganham mais de equivalentes 800dólares por mês: - “Alegrem-se... agora vocês são classemédia, e tratem de pagar imposto de renda”. Paga toda asociedade, como manda a cidadania, mas como nadarecebe, parece que está entrando de sola no estado.

O Governo ameaça, vocifera que jogará suas forçascontra os que se rebelarem. Rosna, late... mas começa aperceber que por aí só jogará gasolina no incêndio. Hádécadas, na América Central, governos tentaram resistir àrevolta popular pela força e caíram. Eram ditaduras, e aoposição revoltada mais organizada, pois sabia contra oque lutava. Não é o caso do Brasil.

Temos um estado incompetente, sanguinário e corruptoaté o âmago, eleitoralmente democrático, mas cruel comorepública. Todos os que o dirigiram, não só nãoconseguiram controlá-lo em suas sujeiras, comolocupletaram depois que descobriram-se incapazes;atualmente a coisa está visível. A maioria dos políticosperdeu completamente a compostura e enriquecemisteriosamente da noite para o dia, às escancaras, à vistade todos. Isto acontecendo numa época em que mudouapenas a capacidade comunicativa dos cidadãos, emrelação às décadas passadas, torna-se preocupante.

A alternativa revolucionária que o povo tinha e pôs nopoder azedou irremediavelmente; a desilusão torna-se tãodensa, quase literalmente visível, e gera o calor da revoltaardente que vejo agora pela televisão.

Não temos alternativas aos políticos, mas o povo podepensar que tem: as grandes quadrilhas que já existem hámuitos e muitos anos atravessaram vários governos, e sãoas coisas mais organizadas afora os políticos. Umpesadelo; estou com medo. Muito medo.

MEDOPor

CARLOS AUGUSTO GALVÃOPsiquiatra

São Paulo - SP

[email protected]

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Em 1995 eu estava terminando o curso de medicina.Lembro bem que no último dia de aula saímos paracomemorar nossa vitória. Enfim tínhamos terminado.Apesar de cansados e desgastados, estávamos felizes eorgulhosos. O que eu não sabia era que ainda faltava umestágio a cumprir.Ao chegar em casa naquela noite, eu não estava mesentindo muito bem. Sou diabética tipo 1 e haviadescoberto esse diagnóstico há alguns anos. Nos últimosmeses eu tinha me descuidado mais do que devia. Issoera compreensível, pois andava cheia de preocupações eapreensões, tinha que terminar o TCC, estudar para asúltimas provas, organizar a festa, afinal fazia parte dacomissão de formatura e tantas outras coisas...Meu pai saiu comigo na madrugada para me levar aohospital. Dessa parte não lembro quase nada, só lembroque na sala de espera ele ia e vinha com copinhoscheios d’água que eu engolia avidamente. Minha sedeera intensa, eu estava bastante desidratada, com umacetoacidose diabética grave.Apaguei...Alguns dias depois acordei na UTI. Ao ver meuendocrinologista lá, provavelmente escrevendo a minhaevolução e/ou prescrição fiquei morrendo de vergonha,com uma vontade enorme de me esconder no leito.Tentei me iludir, talvez ele não tivesse me visto. Nãoqueria que ele soubesse que era eu quem estava alidaquela forma. Será que lembrava de mim? Fazia tantotempo que eu não retornava para uma consulta. Seráque havia me reconhecido? Mal sabia que ele estava aliexclusivamente por minha causa, já há vários dias.Minha família tinha acionado sua assistência e agradeçoa bendita oportunidade de ser paciente desse médico,que é humano acima de tudo e que salvou minha vidatanto por competência profissional, comopelo carinho e dedicação.Após a internação eu evoluí com uma série decomplicações. No momento em que ia ser entubada, amédica intensivista constatou um edema de glote eprecisou me submeter a uma traqueostomia de emer-gência. Percebi que respirava através de um ventiladorque soprava oxigênio dentro dos meus pulmões, mesmoque eu não quisesse. Aquela situação era extremamentedesconfortável, além do mais, eu não podia falar.Imagina o que é isso?Experimentei ainda o que é ter um cateter numa veiacentral e também uma veia dissecada pela necessidadede medicações. Apresentei insuficiência renal aguda queme tornou tão inchada que eu mais parecia uma obesamórbida. Pior foi ter que passar pela diálise peritoneal edepois pela hemodiálise, já que a primeira não foisuficiente.Poderia listar uma enormidade de coisas pelas quaisvivenciei, mas não vejo necessidade. O que escrevi foisuficiente para demonstrar essa experiência e o quantoprecisei lutar bravamente pela vida.Notei que já era querida naquele espaço e que todos me

Meuúltimo

estágio

De repente a médica, prestes a se

formar, foi parar do outro lado, num

leito de UTI. O que ela testemunhou

nos mostra uma imagem comovente

e intrigante da fragilidade

do ser humano...

Por

ANIENNE NASCIMENTOMédica Infectologista

Maceió - AL

[email protected]

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conheciam e me tratavam com carinho, apesar deeu não saber quem era nenhum daqueles seresamorosos conhecidos como técnicos(as) deenfermagem e que depois se tornaram amigos.Lembro também dos(as) enfermeiros(as); fisiote-rapeutas; profissionais da limpeza e tantos outrosque trabalhavam, enquanto acompanhavam etorciam pela minha recuperação.Depois vim a descobrir que todos os dias, nashoras da visita ou não, o lado de fora da UTI seencontrava sempre repleto de colegas, amigos efamiliares que desejavam saber sobre mim. Foinecessário tampar uma janelinha de vidro que láhavia, pois isso estava causando tumulto, já quetodo mundo queria me ver.Mergulhada nessa dor imensa, senti-me amadacomo nunca...Após quase um mês, finalmente recebi alta daUTI. Fui para o quarto, mas meu estágio ainda nãotinha terminado. Apresentei uma recaída. Nãotenho condições de descrever o que estava exter-no a mim naquele momento, nem como tudoaconteceu, mas posso e quero descrever o queestava interno, o que acontecia dentro de mim...Eu sentia como se estivesse atravessando um ciclodividido em três partes. Essas partes não eramtodas do mesmo tamanho. A “primeira parte dociclo” ocupava um espaço/tempo deaproximadamente quarenta e cinco por centodeste. Nela eu não via nada. Eu estava naescuridão, com uma sensação de opressão e umaperto muito forte no peito, que mefazia querer correr dali.

Sem muito esforço, eu passava para a“segunda parte do ciclo” que ocupava um espaço/tempo de aproximadamente dez por cento. Eutinha a impressão que era como uma ponte que melevava de um “lugar” para “outro”.Ao ultrapassar a pequena ponte eu chegava na“última parte do ciclo” que também ocupava umespaço/tempo de quarenta e cinco por cento. Alieu era tomada por uma sensação de gozo. É difícildescrever. A comparação mais próxima que possofazer é com um orgasmo, só que este da forma

que conhecemos é fugidio, fugaz, enquantoque aquilo era duradouro, perene... E alémdessa sensação, eu via um sol bem à minhafrente... Eu olhava para aquele sol, sem quemeus olhos se sentissem feridos. Eu podiafixar meu olhar naquela luz intensa semnenhum problema. Quando a retina seacostumou, pude perceber que a luz tinha umaforma humana, de mulher, mas não pude versuas feições...Eu não sentia vontade nenhuma de retornarpara o que chamei de “primeira parte dociclo”; a “última parte do ciclo” era muitoacolhedora e prazerosa, mas eu me sentiasugada. Eu tentava me segurar, mas nãoconseguia permanecer ali porque a força queme tragava era muito maior que a minha.Percorri aquele ciclo por diversas vezes elembro que da última, quando volteidefinitivamente para esta tal “primeira partedo ciclo”, consegui vislumbrar o que aconteciafora de mim, concluindo que o que me puxavapara essa realidade eram três vozes quegritavam ensurdecedoramente chamando meunome: a voz da minha psicóloga, a voz do meumédico e a voz do meu pai. Via aqueles trêsrostos bastante angustiados ao meu redor emais uma vez......Apaguei.De novo acordei na UTI. Era o dia exato emque meus colegas colavam grau, enquanto euterminava o meu último estágio. Impossívelesquecer minha emoção quando, ao abrir osolhos, o colega que estava de plantão seaproximou e disse:– Parabéns, “Doutora”!Pensei: Doutora? Eu? Essa palavra pareceumúsica aos meus ouvidos. Agradeci com osolhos brilhantes e embaciados. Olhei em meuderredor e pensei: ainda tenho muito o quefazer por aqui!E foi assim que cumpri o meu último estágioda graduação: o de “paciente grave”.Hoje eu concluo que a “primeira parte dociclo” cheia de opressão, desconforto e malestar foi necessária, mas agora me sinto livree feliz ao percorrer a pequena ponte e mepermitir seguir em direção à “última parte dociclo”. Vejo-me caminhando calma e agrada-velmente para a Luz. O caminho do resgate àsaúde, ao prazer, à VIDA.Há dias em que podemos retomar certaslembranças. Há horas em que devemosmesmo resgatá-las. Há momentos em queprecisamos revivê-las...

...Apaguei.

De novo acordei na UTI. Era o dia exato em que meus

colegas colavam grau, enquanto eu terminava o meu

último estágio. Impossível esquecer minha emoção

quando, ao abrir os olhos, o colega que estava de

plantão se aproximou e disse:

– Parabéns, “Doutora”!

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PatagôniaGELADA

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Por

SÔNIA HAMMERMULLERFotógrafa amadora

Esteio - RS

[email protected]

Perito Moreno

Embarcação em Ushuaia

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Lobos Marinhos - Ushuaia

Farol do Fim do Mundo

Ilha dos Pinguins - Canal de Beagle

Bem próxima do Brasil, a Patagônia é um dos

lugares mais belos do mundo.

Localizada majoritariamente na Argentina, mas também com

uma pequena extensão além da fronteira com o Chile, a região

deslumbra por seus cenários ora inóspitos, ora arrebatadores.

De um lado, os Andes, gigantes nevados de granito que fazem a alegria

de montanhistas, esquiadores ou daqueles que simplesmente

amam uma paisagem de cartão-postal.

Do outro, a leste, o Oceano Atlântico, gelado por conta das correntes

antárticas, mas rico em espécies marinhas, como pinguins,

focas, baleias e orcas.

A fotógrafa Sônia Hammermuller foi até lá e registrou alguns

flagrantes desse paraíso gelado e exuberante.

http://www.patagonia.com.br/Para saber mais:

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“ Todos juntos vamos, pra frente

Brasil, B-R-A-S-I-L!”

Hoje ouvi numa rádio um novo tema musical muitobonito sobre a copa do mundo de futebol, essa dedois mil e quatrorze que de nós tão rapidamente  já seaproxima. Trata-se duma mídia muito bem feita que fazpropaganda duma instituição financeira famosa entrenós.

Assim que ouvi o jingle imediatamente me reporteiaos idos de mil novecentos e setenta, derradeiro jogoda copa  Brasil versus Itália, últimos minutos dosegundo tempo, quando, em família, no ponto deônibus, de volta para casa tranquilamente, vindos dacasa dos meus tios da Mooca e sem medo de quecolocassem fogo no ônibus, eu ouvi a festa do quartogol do Brasil sobre a Itália. Uma comoção. Consigoouvir os gritos de euforia. Ópio, sem dúvida,ópio bom.

Eu tinha dez anos de idade, não entendia nem defutebol nem de sociedade, muito menos de políticavigente, aquela que infelizmente amordaçava aDemocracia que viria com a abertura quinze anosdepois, todavia, entendia de aura de paz e alegria, aadvinda de certa dose de fantasia infantil. Quando setem dez anos, tudo parece perfeitamente festa...

O jingle da época, o que se tornou um clássico donosso futebol tricampeão do mundo, começava assim:“noventa milhões em ação, pra frente Brasil do meucoração...”. Eu achava noventa milhões um númeroincontável de gente! Na minha matemática que ia atéum gigante mil, se um milhão já fugia da minhacapacidade de contar, imaginem noventa milhões!Naquela época, lembro ainda que se  usava cantar deverdade o Hino Nacional não só nos estádios, mastodos os dias nas escolas onde também se levantavaquando o professor entrava nas salas de aulas e aBandeira do Brasil tremulava sob nossas sincerasreverências à insígnia de ORDEM E PROGRESSO,a que nos prometia ser a tranquilidade algo sem voltarumo à prosperidade da Nação.

Eu achava aqueles dizeres lindos...Para frente Brasil iríamos todos juntos em ordem e emprogresso... algo que ainda hoje é nossa vontadeuníssona de cidadãos comprometidos com o País.

JINGLE-GOLS!

Estamos

à porta

da

CCCCCOOOOOPPPPPAAAAA

88888

Por

MARIA VIRGINIA BOSCOMédica e Escritora

São Paulo - [email protected]

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De volta para dois mil e quatorze, dia desses tambémouvi uma propaganda cuja criança pequena dizia assim:“que legal, eu nunca vi uma copa do mundo, e essa vaiser no Brasil.”

Também fiquei matutando com o dito da menina.O Brasil do contexto campestre da nossa atual copadecerto é um Brasil que merecia mais... muito mais.Percebo que gols na atual conjuntura me parecemmeio insípidos, algo sem muito nexo. Acho que possoexternar o meu sonho de cidadã e analisar em qualcampo eu gostaria que ganhássemos a copa mundialde futebol.

Claro que torço e gosto do esporte porque futebolestá no DNA do brasileiro e negar a nossa genéticafutebolística seria como negar nossa identidadecultural. Mas aqui, meu pensamento é analógicoatravés do tempo ora já digital de euforia virtual:quarenta e quatro anos se passaram do nossotricampeonato, fomos tetra, penta, sonhamos com ohexa em campos brasileiros e muita coisa socialmentemudou entre nós.

Fizemos inúmeros gols pelo tempo, perdemos emvários campos. Ocorreram coisas boas, coisasmedianas, coisas ruins, coisas péssimas, só nãosaberia dizer se a resultante dessas mudanças decoisas é positivamente a coisa boa que urge do“todos juntos vamos pra frente Brasil, salve aseleção!”

Eu gostaria que aquela criança que, como eu nos anossetenta, hoje também fantasia seu hexacampeonatofutebolístico pela primeira vez, pudesse gritar gol numBrasil bem melhor construído e sedimentado, algo quese concretizaria apenas pela cidadania conquistada emmutirão.

Eu gostaria que a Copa do Mundo de futebol em doismil e quatroze, fosse recebida por um país quegozasse de todo o resultado do seu gigante potencialhumanístico e geográfico para desfrutar gols em todosos campos sociais... com toda justiça social que seenxerga com os olhos, não apenas a contada comnúmeros.

Eu gostaria que um possível e justo hexacampeonatoocorresse num campo em que todas as mínimasprioridades sociais estivessem ao menosprogramadas.

Esse sonho não é utopia, é só questão de vontade, dedeterminação. Num campo em que o trigo autóctoneda nossa terra pudesse diminuir ao menos o custo  dopãozinho para as famílias de renda mais estreita.

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Eu gostaria de gritar gol para a educação quealimenta mais que comida doada em campo semlogística para se alimentar superficialmente.

Eu gostaria dum país cujas Arenas da Copa nãocontrastassem tão duramente com filas dedesassistência à saúde básica, não digo nem emhospitais de ponta!

Que a cada gol em solo brasileiro, via Copa,pudéssemos contar uma tuberculose a menos ouqualquer outra doença infecto-contagiosa evitável queo valha... uma dengue a menos, uma leptospirose amenos, uma hepatite a menos, um lixo a menos, umhomicídio a menos, um professsor e escolas a mais,uma copa de árvore rebrotando na Amazônia... Bingo!Esses seriam gols de sustentabilidade paratodo o sempre!

Eu gostaria que, no campo da nossa copa de futebol,corressem mais rios de águas cristalinas e potáveis,todos comprometidos com a vertente dedesenvolvimento tecnológico próprio, com a geraçãoda “energia nossa”, a que catalizaria a propulsão deirmos todos juntos pra frente... Brasil, com ou semfutebol.

Que nos campos minados do nosso petróleo tãosofrido houvesse a justa reversão para algumcombustível mais acessível, nem que fosse o restolhodo último óleo alvo, dada à imensa frota de riquezainconsciente movida a quatro rodas que paralisa oPaís, a mesma que nos emperra no trânsito das nossastantas “vias sem saídas”.

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Eu gostaria que os holofotes dos estádios brilhassemtodos sobre nós, desofuscando nossa atualescuridão... Energia social eólica, quem sabe Brasil?Aquela soprada pelos bons ventos...

Eu gostaria de gritar “gol”! num supermercado emque, ao invés de inflação galopante, houvesse aomenos bananas ao justo preço de bananas e tomatesao justo preço de tomates. Que o pé de alface tivessedez folhas! Que maravilha de ganho... num campo dehortifruti da terra.

Eu gostaria que os campos da Copa fossem camposde segurança pública para todos, brasileiros e nãobrasileiros,  plenamente livres para exercermos nossodireito de “ir e vir” sem balas perdidas ou incêndiosnos interceptando pelo caminho.

Os estádios? Ah os estádios não precisariam sernenhum Taj Mahal! Porque o AMOR essencial quenos move a sermos prioritariamente campeões sociaispara depois sermos um país hexacampeão defutebol... ah, esse amor supera todos os desejosvoláteis representados pelos palácios desportivoscarcomíveis pelo tempo. A cidadania nunca virasucata... mas pode, paradoxalmente, significarsofrimento quando dilapidada.

Eu gostaria de gritar gol para cada ato de proteção erespeito pela nossa Constituição Cidadã!Eu gostaria de tantas fantasias concretizadas... detantas, como eu gostaria.

Queria meu país campeão... em tudo. Quase umamegalomania da cidadania.

Hoje somos DUZENTOS MILHÕES de brasileirosem mais um “pra frente Brasil do nosso coração, salvea seleção”. Não o “salve” a nossa convulsão social dehoje. Ou melhor: Deus nos salve!

Não sei dizer qual Brasil do futuro espera pelagarotinha que tão entusiasticamente aguarda pela suaprimeira Copa mundial de futebol. Todavia, ela temtodo o mundão de tempo pela frente para sonhar e amim, tal se denomina esperança de dias melhores.Ela ainda não sabe de nada... Talvez ela ainda veja umBrasil diferente do de hoje tremulando ordem rumo atodos os progressos mais que merecidos a todos nós.E de repente mais uma vez... “é aquela corrente prafrente”.

Que não só pareça. Que seja! Que todo o Brasil se dêas mãos de verdade. “ Tudo num só coração”! VamosBrasil, todos juntos, rumo aos campos férteis. “Quenossos campos tenham mais vida e nossas vidas maisamores”. Sem os tantos atuais horrorres.

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Livros e filmes são parte fundamental de minha vida.São eles que preenchem minhas horas de lazer e,muitas vezes, também assessoram minha vidaprofissional. Outro dia, numa aula em que discutia commeus alunos a construção de um roteirocinematográfico que dois deles queriam fazer,desculpava-me pela referência que trazia a eles:tratava-se do filme “O dilema”, do cineasta americanoRon Howard. É um filme popular que eu,particularmente, não gostei. Mas, naquele dia,enquanto auxiliava meus alunos, considerei pertinentemencionar certo trecho que poderia “iluminar” ocaminho que eles queriam percorrer na história quequeriam contar.Esse é um mero exemplo de como qualquer parte denosso repertório pode em algum momento serimportante para nós. No meio intelectual,principalmente no meio acadêmico, aproximar-se deobras populares, evidentemente de caráter comercial,pode ser tratado como limitação ou, até mesmo, comodeficiência. Sim, neste mundo em que vivemosconstante patrulha ideológica, quando qualqueropinião que se emite está sujeita a ser debatida edistorcida, também há uma patrulha intelectual. Comose “ser comercial” fosse sinônimo de obra ruim.Acontece que nas ciências humanas, ainda mais nasartes, qualquer referência é importante. Existem obrasque, em seu conjunto, podem ser fracas oudesagradáveis, porém possuem algum elemento quepode ser aproveitado. Vejam o caso do cineastaQuentin Tarantino. Trata-se de um autor com grandeconhecimento cinematográfico, desde os filmes docânone mundial até filmes trash, de arte marcial e

independentes. Ele recicla estas referências etransforma em algo único, graças a seu talento ecriatividade. Filmes como “Kill Bill” ou o clássico“Pulp Fiction” são ótimos exemplos desteprocedimento. Trata-se de releituras de clichêscinematográficos, os quais conseguimos muitas vezesreconhecer, mas com a novidade do tratamentodispensado por Tarantino.E o conhecimento erudito? Um estudante de arte (sejacinema, literatura, artes plásticas) deve ter em seurepertório certo aprofundamento a respeito de autoresfundamentais. Seja um Andy Warhol, Federico Fellini,Machado de Assis, Guimarães Rosa ou Salvador Dali.Qual artista que se preze não conhece a Guernica ounão teve a possibilidade de ler “Em busca do tempoperdido”? Como que um cineasta pretende trabalhar oritmo de um filme sem nunca ter assistido a “Oencouraçado Potemkin”? Como alguém pretendetrabalhar as cores se nunca apreciou um quadro deMonet?Ser umprofissional,em primeirolugar, requeristo que já foidito nas linhasanteriores:repertório.Mas devemosdeixar delado opreconceito econsiderarque tudo pode ser repertório, mesmo que nãopercebamos isso logo que apreciamos a obra. LeiaHarry Potter, veja filmes bregas, escute músicaspopulares. Mas não deixe de ir a uma boa exposição,de assistir a um espetáculo de dança ou lerrevistas literárias.Poderíamos, aqui, fazer uma analogia com a famosafrase do filme “O iluminado”, de Stanley Kubrick: “Allwork and no play makes Jack a dull boy”. Esteprovérbio traz em si o conselho de que se devemesclar trabalho e diversão para ser completo, o queinspirou a criação do título deste texto.Assim, não deixe de estimular o seu lado popular, dever aquilo que muitos chamam de “porcarias”. Elaspodem ser o estímulo que você precisava para ter umalgo a mais. Às vezes, o excesso de erudição trava anossa criatividade. Amplie seus horizontes, mescleseus conhecimentos, veja as tranqueiras e seja umprofissional completo.

MUITMUITMUITMUITMUITA ERA ERA ERA ERA ERUDIÇÃOUDIÇÃOUDIÇÃOUDIÇÃOUDIÇÃO

e pouca porcarianos faz artistasincompletos

Por

HUGO HARRISCineasta, jornalista e professor

universitário

São Paulo - SP

[email protected]

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Opinias - Junho 2014

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As novas gerações veem o giz como vimos apalmatória. A evolução tecnológica está muito presentena vida dos jovens e à disposição da educação buscandoconseguir melhores resultados.

As antigas professoras/mestras tinham de lutarapenas com um quadro negro e um pedaço de giz parapassar os mesmos conhecimentos que as “tias” de hoje,que têm a seu dispor uma parafernália tecnológica quefazem com um “click” e certamente mantém o aluno muitomais interessado.

Um dos problemas mais evidentes é asupervalorização da forma em detrimento ao conteúdoque esvazia um pouco a eficácia dos infindáveissoftwares de apresentação. Os suados seminários foramsubstituídos por cinematográficos “slide shows”, cheiosde efeitos especiais, mas vazios em conteúdo.

O que fazer para equilibrar tudo isso? Como tornara tecnologia nossa aliada?

A criança de hoje, capaz de manusear um “I-Pad”,facilmente tem de ser capaz de se localizar no tempo/espaço e de compreender a evolução histórica dahumanidade, ou pelo menos de seu país.

Poderiam ser criados “games” que matassemmenos e informassem mais. Que tal transportar ascaravelas de Cabral para as telinhas? Ou criar jogoscujos objetivos fossem atingidos através de cálculosmatemáticos? Acabar-se-ia de vez com o estigma, quea maioria das mães tem, de que tais “apetrechos” sóservem para jogar, afastando as crianças dos estudos.

Nossos aliados

O computador e as redes sociais são aliados daeducação, quando nos permitem pesquisar muito maisfacilmente. Porém, o famoso “ctrl c / ctrl v” faz com quea criança nem leia o que está pesquisando. Nos tempospassados, era necessário carregar os pesados volumes

da “Barsa” e copiar o resultado da pesquisa. Pelo menosse lia e copiava-se. E se nada disso funcionasse, pelomenos, exercitavam-se os músculos (como eram pesadosaqueles livros!)

A Internet é uma ferramenta muito útil para seministrar um curso de idiomas, por exemplo. Podem serfeitos “downloads” de filmes para se trabalharvocabulário, pronúncia e gramática. Pode-seproporcionar aos alunos textos “up to date” de jornaisdo mundo inteiro. Conseguir contos ou até mesmo livroscompletos, apresentando-se um pouco da literatura.

Além dos “downloads”, a tecnologia permite daraulas “on-line”. Hoje você pode otimizar o seu tempotendo aulas durante as intermináveis horas desperdiçadasno trânsito. Você não precisa perder suas aulas duranteas férias, podendo fazê-las refastelando-se ao sol daspraias, bebendo “drinks” e saboreando petiscos.

E os professores têm seu mercado totalmenteaberto, podendo atingir pessoas em qualquer lugar dasua cidade, ou estado, ou país, ou do planeta. Tudo éuma questão de adaptação.

Prós e contras, tudo e todos os temos. Como dizo velho ditado: “a diferença entre o remédio e o venenoé a dose...”

Do giz àDo giz àDo giz àDo giz àDo giz à

INTERNETINTERNETINTERNETINTERNETINTERNETPor

ROBERTO RAGOJornalista e professor de inglês

São Paulo - SP

[email protected]

Opinias - Junho 2014

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Opinias - Junho 2014

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Tignanello 2007

com ossobuco erisotto alla milaneseSalut les amis!

Há muito tempo eu não cozinhava, então no último domingo resolvifazer um ossobuco, prato que nós, lá em casa, adoramos. A patroase encarregou do risoto milanês. Para acompanhar este prato, entreos vinhos italianos de que eu dispunha na minha adega, resolvi abriro Tignanello 2007, um toscanão do Antinori, corte de sangiovesecom “um pouco” de cabernet, segundo o rótulo.O vinho tem umas partículas em suspensão, então o tirei da cavelogo cedo e passei para o decanter uma hora antes da refeição.Deixei o decanter sobre água gelada para manter o vinho a uns18ºC. Mais quente que isso ele não mostra seu lado mais “elegante”.Tem uma bela cor rubi, muito profunda, com reflexos violáceos nomeio da taça e granada na borda, com lágrimas densas e lentas. Éum vinho bem maduro, o primeiro nariz demonstrando geleia defrutas vermelhas, mas já com aquele caráter meio rústico, terroso,tão presente nos vinhos italianos. Conforme vai se abrindo, começaa demonstrar notas especiadas (pimenta, cravo), até um pouquinhomentoladas e de cedro. Na boca é intenso, rico e aveludado, mastem acidez suficiente para fazer um bom contraponto ao frutado, quefinaliza com um longo retrogosto de compota de frutas vermelhas eameixa.O vinho acompanhou muito bem o ossobuco. Como eu costumocolocar um pouco de cenoura para “quebrar” a acidez dos molhosde tomates mais encorpados, resultando nummolho mais suave, a fruta intensa equilibrada coma acidez e o volume do vinho na boca fizeram umótimo casamento com a maciez e a gordura dacarne e do tutano. Estava uma delícia...Ainda bem que não pretendia fazer mais nada nodomingo à tarde...Santé!

Por

CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRAEngenheiro

Santo André - SP

[email protected]

http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/

VISITE O BLOG

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Opinias - Junho 2014

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SOBRE DIABETESA Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) mantém, desde2006, um blog dedicado a portadores de diabetes, com dicasde como cuidar da saúde e derrubar mitos de alimentaçãomuito comuns como comer ou não carboidratos. Hádepoimentos das vitórias e das dificuldades de leitores naseção “minha história”.http://blog.diabetes.org.br/

SÃO PAULO ANTIGAImportante acervo histórico e iconográfico da

maior cidade da América Latina, que diariamentesofre modificações em sua paisagem. A memória

paulistana está ali preservada em curiosidades,personagens, lugares, construções de

ontem e de hoje que oferecem ao visitante bonsmomentos de cultura e lazer.

http://www.saopauloantiga.com.br/

VIDA ORGANIZADAA escritora, blogueira e organizadora profissionalThais Godinho criou um blog para inspirar as pessoasa serem suas próprias personal organizers. Ela dádicas preciosas de como facilitar o dia a dia da casa,família, finanças, lazer, estudos, bem-estare muito mais.http://vidaorganizada.com/

Rua Augusta1960

Rua Augusta2012

Pesquisar na internet pode ser caótico ou deslumbrante, dependendo de onde se quer ir edo que se pretende encontrar. A redação de OPINIAS afundou as bateias nessa minainesgotável e faiscou estas indicações.

Por

LUCIANA GOMES GIMENESAdministradora de empresas e

Coordenadora de compras

São Paulo - SP

[email protected]

GARIMPAMOS

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Opinias - Junho 2014

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A sociedade de hoje versus o silêncio

Marcada pelo desenvolvimento tecnológico e,com isso, pelo aumento da quantidade deinformações, estímulos visuais e sonoros, pela grandevelocidade, que encurta distâncias e incrementa onúmero de atividades exercidas no dia, nossasociedade atual vive um momento em que o silênciose faz cada vez mais necessário, a fim de permitirelaborar todos esses estímulos.

Entretanto, atualmente o silêncio incomoda e évisto como ameaça, por isso é preenchido com a fala,com sons e ruídos. É bem presente a ideia de que“um homem em silêncio é um homem sem sentido”1 .O silêncio, sendo visto como vazio, como falta,impede a reflexão, o pensamento e a contemplação.Desse modo, o homem esvazia-se porque perde ocontato consigo, uma vez que não se dá aoportunidade de elaborar todos esses estímulos,assimilá-los e perceber qual o sentido que eles têmpara si mesmo.

É necessário dar-se o direito de silenciar parase poder pensar, entrar em contato consigo, observaro mundo à volta e perceber o significado que essesestímulos todos têm para cada um enquanto pessoasúnicas, cuja vivência e experiências pessoais levarão aextrair, dos fatos e acontecimentos do dia a dia,percepções, análises, conclusões e até mesmo sentidopara a vida.

A falta do silêncioe a necessidade

de se sentirouvido*

Por

LIGIA TEREZINHA PEZZUTOJornalista

São Paulo - SP

[email protected]

O Serviço de Escuta busca

ajudar o próximo, indo além do

silêncio e isolamento que as

pessoas sofrem na idade da

tecnologia, suprindo uma

necessidade básica do ser

humano, a de ser ouvido.

O silêncio é necessário para o reequilíbriointerior, para conversar consigo mesmo, para sonhar,refletir que caminho se deseja seguir e o que se querpara a própria vida e para si.

Deus fala no silêncio do coração humano. Nomais íntimo do coração é que brota a vontade d’Ele. Ea vontade mais íntima do coração deve ser também aSua vontade. O silêncio proporciona esse Encontro,esse diálogo. Possibilita encontrar a resposta para oque Ele quer de cada um de nós no momento e para anossa própria existência. Serenando o espírito atravésdo silêncio, dá-se espaço ao eu mais profundo e setem a chance de uma vida mais tranquila porquepassamos a ter maior clareza a respeito de quemrealmente somos e do que queremos.

Hoje em dia falta o espaço para que o sentidofaça sentido e é no silêncio que isso é possível.Silenciando, um sentido tem lugar, e mais outro e outromais, levando a reflexões, tomadas de decisões ou deposturas diante dos fatos ou da própria vida.

Uma caminhada, uma sessão de relaxamento,um período de tempo a sós ou o silêncio sagrado nascelebrações litúrgicas podem ser momentosproveitosos em que paramos um pouco e deixamosque os pensamentos se organizem, os sentimentossejam clareados e se façam as condições adequadaspara que decisões sejam tomadas.

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Opinias - Junho 2014

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A necessidade de se sentir ouvido

Não é de se estranhar que hoje em dia muitaspessoas tenham a necessidade de sentirem-se ouvidas,uma vez que tantos falam mas poucos ouvem.

Comunicar compreende falar e escutar; nota-sehoje um desequilíbrio aí, em que se privilegia o falar.Como já foi dito anteriormente, a sociedade pós-moderna sente-se incomodada com o silêncio e dámaior valor à fala, apesar de sentir a necessidade decomunicar-se. E, para haver comunicação efetiva, énecessário que uma pessoa silencie para que outrafale. E que cada um fale e silencie também.Comunicar-se é algo inato ao ser humano e todos têma capacidade de falar, seja verbalmente, sejagestualmente; e todos também têm a capacidade deescutar, quer a linguagem sonora, quer a linguagemgestual ou sensorial.

É comum perceber, em conversas corriqueiras,que as pessoas de nossa sociedade atual sentem anecessidade de serem ouvidas sem julgamentos, comresponsabilidade, compaixão e sigilo. O Serviço deEscuta nasceu a partir dessa necessidade.

Em sua mensagem para o Dia Mundial da Comunicação de 20122 , o então Papa Bento XVI coloca que“quando palavra e silêncio se excluem mutuamente, a comunicação deteriora-se, porque provoca um certoaturdimento ou, no caso contrário, cria um clima de indiferença; quando, porém, se integram reciprocamente, acomunicação ganha valor e significado”.

A busca do equilíbrio

Ao nos criar, Deus nos fez à sua imagem esemelhança, e tudo o que foi criado tem um equilíbriooriginal. Precisamos ter cuidado com esse equilíbriogerado por Ele. Somos participantes da criação e,como agentes, temos uma responsabilidade emrelação a ela. Deus mesmo quer a nossa participação,uma vez que ele é Pai, Filho e Espírito Santo e veio aonosso encontro, deixando uma missão a cada um denós.

Vemos muitas situações de injustiça e deviolência amplamente divulgadas pelos meios decomunicação social. Está ocorrendo a desumanizaçãodo ser humano. E isso porque ele está perdendo ocontato consigo e com o outro, uma vez que nãosilencia e consequentemente não reflete, não pensa,não sonha, não contempla. Isso é algo muito sério,mas essa perda pode ser revertida. E uma das formasde revertermos essa situação é escutarmos mais.

Em termos gerais, torna-se necessário ir aoencontro do outro para escutá-lo e sermos escutados,a fim de que o equilíbrio se restabeleça.

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Opinias - Junho 2014

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Nós nos tornamos mais humanos quandoouvimos as pessoas porque nos sensibilizamos arespeito das alegrias, dificuldades e inquietudes nossase do outro. Assim voltamos a ser a criatura original deDeus e retornamos ao equilíbrio gerado por Ele. Abusca de nosso eu verdadeiro possa por aí.

Para uma escuta efetiva

Há certas atitudes éticas que devem ser levadasem conta num atendimento pelo voluntário do Serviçode Escuta: o sigilo, a discrição, o respeito, a

responsabilidade e o encaminhamento. Todas têmrazões muito fortes para serem assumidas e colocadasem prática. Estamos lidando com a vida das pessoas,com seu bem-estar.

Todos nós temos nossas particularidades,nossos segredos e desejos que queremos verrespeitados. A pessoa que desabafa conosco não édiferente. Ela deposita em nós esses elementos de suavida. Assim, temos o dever de respeitá-la e assegurar-lhe o sigilo daquilo que ouvimos. Ao depositar em nóssuas inquietações, seus problemas e dificuldades, elaespera que não saiamos a falar por aí o que nosconfiou. Devemos ser responsáveis o suficiente paraguardarmos conosco o que escutamos a fim de que apessoa sinta-se resguardada, tal como gostaríamosque fizessem conosco.

Outra atitude imprescindível para uma boaEscuta é o não julgamento. Jesus nos ensina que nãodevemos julgar, o que só cabe a Deus fazer. Ora, cadapessoa é um mundo especial e único. Teve vivênciasparticulares e passou por situações distintas das quepassamos, além de ter tido uma formação que édiferente da que tivemos. No mínimo não é justo julgá-la por isso. Por vezes ela nem tem consciência do malque determinada situação em que se encontre estejafazendo a ela. Delicadamente, é preciso fazê-laperceber isso por si mesma, através de perguntasabertas, como, por exemplo: “Como você se sentiuagindo assim?”.

Segundo o humanista Carl R. Rogers3, do qualpodemos aproveitar os estudos, quando uma pessoa écompreendida e aceita, ela abandona suas falsasdefesas e avança construtivamente. Isso significa que,se é compreendida como se sente e é, sem seranalisada ou julgada, pode “desabrochar e crescer”.

O encaminhamento é outro item

importante a ser destacado.

Devemos reconhecer nossos

limites ao ajudar alguém, ao

ouvirmos seus desabafos.

Algumas vezes a ajuda necessária

não está ao nosso alcance por

sermos limitados, dependendo do

que se nos apresenta.

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Opinias - Junho 2014

1919191919A obra tem como base servir de

explicação e aplicação de um

Serviço muito importante nos dias

atuais: o da Escuta. Com texto

coloquial, que parece um diálogo, a

autora nos apresenta o que é esse

serviço e como implantá-lo nas mais

diversas comunidades: paróquias,hospitais, capelas etc.

COMPRE:

http://www.avemaria.com.br/

Serviço de Escuta -o que é e como implantá-lo

* Texto extraído do livro Serviço de Escuta - o que é e como implantá-lo (capítulo 2), 1.ed. São Paulo: Ave-Maria, 2013,de autoria de Ligia Terezinha Pezzuto. Todos os direitos reservados

Ligia Terezinha Pezzuto

Editora Ave-Maria - SPO encaminhamento é outro item importante aser destacado. Devemos reconhecer nossos limites aoajudar alguém, ao ouvirmos seus desabafos . Algumasvezes a ajuda necessária não está ao nosso alcancepor sermos limitados, dependendo do que se nosapresenta. É sinal de humildade reconhecer esseslimites e não adentrar nos campos para os quais nãoestamos habilitados. Assim, se não temos habilitaçãopara psicologia, por exemplo, não devemos entrarnessa área, mas ficarmos no terreno da ajuda humana,uma relação de ajuda que privilegia a “escuta”.

A identidade que se formou do Serviço deEscuta, com base nas experiências adquiridas, permiteafirmar que, a despeito da formação do agente queescuta, o Serviço se restringe ao ato de escutar, noque se refere à ajuda humana, isto é, mesmo sendoadvogado, por exemplo, o atendimento será como“escutador” e não como profissional da área doDireito. É claro, no entanto, que o bom senso deveimperar. Algumas paróquias criaram grupos deprofissionais específicos, organizados fora do Serviçode Escuta, para onde são encaminhadas as pessoasque necessitam de uma ajuda a mais do que aquelaque podemos e devemos dar (advogados, psicólogos,assistentes sócias etc.).

O que se faz é adotar o uso de uma lista deendereços úteis de atendimentos gratuitos em diversasáreas: jurídica, médica, psicológica, psiquiátrica,grupos de autoajuda e assistência social. Dependendodo problema que se apresenta, se houver anecessidade de encaminhar a pessoa a uma ajudaespecializada, explica-se claramente isso a ela e seoferece essa possibilidade.

Silenciar é imprescindível, com tantos estímulosvisuais, sonoros, olfativos e sensoriais, tantasinformações pelos meios tecnológicos cada vez maisavançados e com o aumento de atividades no dia adia. Ao silenciar, pode-se assimilar o que realmentefaz sentido e deixar de lado aquilo que não nosacrescenta nada. Isso é essencial para um equilíbriointerior. Às vezes, em meio a tantas situações em quenão há esse equilíbrio, é preciso elaborar ospensamentos e sentimentos através de um desabafo. Eé ai que entra o Serviço de Escuta.

1 ORLANDI, E.P. As formas do silêncio: - no movimento dos

sentidos, 4. ed. Campinas: Ed. da Unicamp, 2002, p.37

2 Site da Região Episcopal Sé. http://regiase.mco2.net/aspx/DetailsNoticia.aspx?idNoticia=2855. Consultado em: 15/05/2012.

3 ROGERS, C.R. Tornar-se pessoa. 5. ed. São Paulo: MartinsFontes, 1981, p. 38

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Opinias - Junho 2014

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A problematização

do Fator Deus para

JOSÉ SARAMAGO

Revisitando a obra e a vida de Saramago, faz-seoportuno colocar em pauta algumas questões. Com umaespontaneidade ímpar este autor faz uma explanaçãoacerca dos acontecimentos encadeados por atitudes dahumanidade no texto, “O fator deus”. Na chamativa, oautor envolve o leitor para caminharem juntos nadisposição de presenciar as descrições de ocorrênciasintituladas “Algures”. Nesta apresentação, Saramago põeo leitor atual em períodos distintos, para focalizar emdetalhes o imaginário não visto pela ótica presencial, maspela captação de informação. Assim, o leitor conseguede forma reflexiva visualizar as cenas em questão.

Os dados são categóricos e falam por si mesmos.Os “Algures” são espaços estritamente escolhidas peloautor,  para divulgar o ser humano e seus impulsosreacionários. O artigo inicia-se com uma indignação doautor pelas tragédias desnecessárias e pela discrepânciados fundamentalistas justificarem que as ações errôneassão em nome de Deus.

Os “Algures” na Índia são apresentados porSaramago, com a presença de um oficial britânico com asua artilharia se preparando para atirar, e logo a seguir, umcampo sanguinário com corpos decepados, como se a vidahumana não tivesse importância alguma.   “Algures” em Angola, dois soldados portugueseserguem um negro quase morto e separam sua cabeça deuma forma natural, expondo a cabeça em um pau, “atode vanglória”. Esta atitude serve de divertimento para ossoldados, pois o negro era um “guerrilheiro”.

Em Israel, no mesmo momento que soldadosisraelitas imobilizavam um palestino, um outro militarmartelava os ossos da mão de um palestino por este estara jogar pedra.

Estados Unidos da América do Norte, data 11 desetembro: “Algures” jamais esquecido, dois aviões sãolançados contra as torres gêmeas e no mesmo estilo, oterceiro avião se adentra no edifício do Pentágono. Ficarammilhares de mortos soterrados nos escombros, sem direitoa um velório digno sendo que suas essências pairavam noar, pois tudo retornou ao nada.

As cenas repetitivas apresentadas demonstram aação de homens passivos aos ditames de seu líderespiritual. Trata-se de ações humanas pensadas earticuladas por uma mente reacionária. Fica a pergunta:Por que esse absurdo que os leva a raciocinar de talforma ao ponto de achar que tem algo divino a lhesordenar a cometer tragédias tão opostas à “vida”? Quemonstruoso DEUS é esse que coloca seus filhos em umcombate mortal, no qual vence o melhor ou o maisesperto?  Para Saramago, Deus, esse ser inexistente, éinocente de haver criado um universo inteiro para colocarnele seres capazes de cometer crimes para logo virjustificar-se dizendo que são celebrações do seu podere da sua glória e, portanto, permanecem alheios a todosesses atos justificados por sua vontade, cujo resultado éo amontoado de corpos como troféus para a passagemao paraíso repleto de gratificações.

A problematização é o “Fator Deus”, que estápresente na mente fanática de seus adeptos, os quaiscriam uma visão distorcida da realidade, fazendo-oscometer as maiores atrocidades em nome do divino,como se estivessem num campo de batalha e fossemsoldados lutando por seu país e por uma causa justa.Para o autor, essa é uma criação mental de uma entidadesuperior a ditar regras de condutas, e é igual em todosos homens seja qual for a religião que professem. Tudoisso tem intoxicado a mente humana e aberto as portas àintolerância mais sórdida.

O autor no seu artigo nos convida a ficar alerta aesse “fator Deus”, numa atitude de desconfiança paranão cairmos na armadilha dos inimigos imaginários,criados pelas mentes que se sustentam nos arcabouçosda fé, ao traduzir erroneamente textos que por eles sãodenominados sagrados, inserindo-os em atos de lealdadea seu ser supremo. A partir daí condenam e destroemquem a eles se contrapõem numa atitude contra aliberdade humana de escolher o que quer para si e parasua vida.

Por

DÉBORA MARTINSProfessora, Pesquisadora e

Mestranda em Estudos Literários

UFG - Goiânia - [email protected]

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Opinias - Junho 2014

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Opinias - Junho 2014

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Realidade

DISTDISTDISTDISTDISTANTEANTEANTEANTEANTEEram outros tempos. Dos bens duráveis. Até o

tempo durava. Hoje vivemos os descartáveis; o tempopassa sem que o sintamos.

Quase tudo é feito para ter vida útil curta. Autilidade desta vida? Resume-se a isto mesmo: ser útil,usável e pronto. Partir pra outra. Que, logo, já não é amesma.

Eram outros tempos aqueles dos duráveis. Móveisnão cediam às intempéries; roupas eram usadas até gastar;geladeira, aparelho de som, máquina fotográfica, televisor,liquidificador eram produtos que resistiam décadas; nósresistíamos a algo que, agora, tornou-se regra contrariar:éramos menos consumistas – termo, aliás, advindo damodernidade.

O moderno anunciou a diversidade de marcas emodelos em inúmeros setores, sob a máscara do excessode acesso inerente ao sistema capitalista – caridosamentedemocrático e perversamente escravocrata.

Antes encontrávamos duas marcas de um produtoe bem poucos modelos.

Atualmente o nível de satisfação é inversamenteproporcional à quantidade de coisas colocada no mercado.Mais opção, mais frustração. Atrelamos nossa felicidadeao ter e a colecionar gestos consumistas diários. Assim,relações humanas também parecem bens descartáveis.O contato que mantemos com o semelhante é raso; osassuntos, frívolos. Estamos dispersos e desatentos ao outro– desconcentração imperiosa conosco, inclusive.

Tempos que não são para brincadeiras na rua,conversa prolongada olho no olho, ou amizadesincondicionais. Medo e insegurança regem nossos atos esuas ausências; a busca por um suposto amigo é guiadapor utilitarismo e pragmatismo.

Doenças que não se manifestavam, hoje estão àsolta, mostrando que também nesse campo há diversidade.

O sucesso é fugaz. A música é exemplo. Enquantosaboreávamos um encarte de LP artisticamente elaborado,ouvíamos faixa a faixa do vinil. Hoje, na palma da mãocarregamos centenas de sons que mal damos conta deouvir.

Pessoas e coisas misturam-se, confundem-se,perdem identidades buscando encontrar-se em algo que,por estar longe, dificilmente alcançarão. O “dentro de si”parece um lugar distante da realidade.

Por

RENATA IACOVINOEscritora, compositora e cantora

São Paulo - SP

[email protected]

Texto e imagem extraídos do livro Ocasos e Renasceres,

1.ed. São Paulo: Rumo Editorial, 2013, de autoria de RenataIacovino. Todos os direitos reservados.

Imagem: Turbilhão (monotipia)

Por

VALQUÍRIA GESQUI MALAGOLIEscritora e artista plástica

Jundiaí - SP

[email protected]

Ocasos e RenasceresRenata Iacovino

COMPRE:[email protected]

Page 22: Opinias 01 junho 2014

Opinias - Junho 2014

2222222222Ignorância é uma questão de consciência ingênua ou aausência de consciência crítica? Este tema desfila emminha mente há muito tempo. O estímulo despertadorveio do nosso grande mestre Paulo Freire, naabordagem dos comportamentos observáveis dasconsciências: ingênua e crítica.

Pela amplitude do tema, fica difícil dar conta. Atéporque quantificar ou qualificar a ignorância humana éo mesmo que surfar nas ondas mais nervosas erevoltas das ideias.

Quanto custa a

IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?IGNORÂNCIA?Por

LU PUPIMConsultora educacional, empresarial

e social

Vitória - ES

[email protected]

Para tornar mais didática a explanação, faz-senecessário dirigir a análise para uma reflexão depensamentos construtivos de ações que possamsensibilizar algumas estruturas que porventurapermeiam o campo manipulativo de podres-poderes.

Para situar a ignorância na visão da consciênciaingênua, alguns reflexos podem ser percebidos pormeio de atitudes individuais reveladas como:

* Daqueles que sofrem de cegueira mental, quejamais questionam os pressupostos sistemas ecrenças da comunidade na qual estão inseridos(normalmente são mentes fechadas porconvicções íntimas e velhas ideias, mas quenunca foram testadas).

* A pobreza política que Pedro Demo trata comosendo ela um problema mais profundo do quea carência material, pois, segundo ele, passarfome é uma grande injustiça, mas injustiçaainda maior é não chegar a perceber que afome é produzida e imposta.Completando com a citação de Demo: “Aimportância estratégica da educação está nocombate à pobreza política, à medida que forcrítica e reconstrutiva, estabelecendo um doscaminhos mais efetivos da emergência dosujeito histórico capaz de desenvolver projetopróprio coletivo.”

A título de contribuição e aproveitando afundamentação de Paulo Freire, pode-se citar algumascaracterísticas dos acometidos da ignorância na visãoda consciência ingênua:

* Tendência a um simplismo, tanto nainterpretação dos problemas, quanto namaneira de encarar os desafios;

* Culto aos fatos passados, colocando-os comoreferencial para um presente que se querconstruir;

* Tendência para aceitar e agir de formacondicionada - massificadora. Muitas vezesesta tendência pode até levar aodesenvolvimento de uma consciência fanática;

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Opinias - Junho 2014

Page 23: Opinias 01 junho 2014

Opinias - Junho 2014

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* Não se submete à investigação; sua concepçãocientífica é um jogo de palavras; suasexplicações são carregadas de magia;

* Parte do princípio que possui um conhecimentoamplo, porém seus argumentos são frágeis;

* Polêmico, porém não esclarece por falta deprofundidade.

O tema também demanda abrir um espaço paraabordar alguns aspectos da consciência crítica vistacomo o outro lado do combate à ignorância. Noentanto vale à pena ressaltar que, em nível de discursoinstitucional, deve-se prestar atenção na suaconotação, pois normalmente a consciência críticaexige uma prática das atitudes de divergênciaoperando por meio de uma verdadeira “ginástica dealongamento” em favor dos processos de recepçãocognitiva na inteligência das pessoas. Além deencorajar o “novo olhar”, isso eleva o patamar críticodelas, libertando-as da falta de rumo que é a mãe dainfecundidade.

Como contextualização da ignorância, a melhor opçãoé colocá-la como sendo matéria prima do saber,desde que haja conscientização da responsabilidadena eliminação de barreiras, diferenças, separações,pois o saber é um ato de união. Lembrando também, atítulo de comparação, que é através das ruínas dopsiquismo que se constrói a verdadeira alegria deviver.

Pode-se neste momento dispensar o alongamento dadiscussão e sugerir ao prezado leitor que busque amelhor modalidade de investimento para o seu capitalpotencial do saber. De preferência, privilegiando o seuencontro consigo mesmo, sem precisar para isso pagarum alto preço pela destensionalização da ignorânciaque, de certa forma, será um ponto de partidasaudável para se buscar o saber ser em toda plenitudeexistencial.

Quais indicações possíveis poderiam serexperienciadas?

* O exercício permanente do homem é aprender

porque só assim ele pode tornar-se genial pormeio do conhecimento;

* Abrir as mentes para assimilar novos conceitos,concepções e construir novos conhecimentos;

* Reconhecer a mutação da realidade;* Indagar, investigar, provocar, interagir;* Repelir posições passivas;* Valorizar o diálogo e fazê-lo nutriente essencial

do seu viver;* Amplificar a percepção e ampliar as redes

relacionais.

Como contextualização da ignorância, a melhor opção é

colocá-la como sendo matéria-prima do saber, desde que haja

conscientização da responsabilidade na eliminação de barreiras,

diferenças, separações, pois o saber é um ato de união.

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Opinias - Junho 2014

Page 24: Opinias 01 junho 2014

Opinias - Junho 2014

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FELINAFELINAFELINAFELINAFELINAFitaste tão fundo que me derrubaste,Com teu olhar de brilho derradeiro,Aos poucos, fui caindo ao chão, eSó então eu te enxerguei por inteiro.

Vi na queda teu imbatível orgulho,Morto cavalo de batalhas,Em que galopaste,Sem freios

Olhei longe e avistei bem perto,Os mortos e feridos que sangraste,Para singrares mais forte, com sorte,Em outros reinos.

Só do chão percebiA dimensão das tuas afiadas garras,E o poder dos teus maléficosE intrínsecos desejos

De querer despojar de mim,Muito mais do que a vida e a alegria,Pois querias arrancar, dar um fim,Aos meus amigos, amor e energia.

Se tu queres mesmo acabar comigo,Vem logo, anda, me arrebata inteira,Lambe tudo, escarnes, descoles ossosArranca a pele, se é que isso te faz faceira.

E saibas que se te peço mesmo que avances,É porque sei que não tens a mínima chance,Podes vir, te apressa, depressa, tô bem calma,Pois jamais tu terás acesso à minha alma!

Por

MARIA ANGÉLICA GUICHARDRedatora publicitária, atriz

e poetisa

Porto Alegre - RS

[email protected]

Do livro

PEDAÇOS DE MIM (2001)