Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário...

6
Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda de mandato por atos em Tavira, vai ser desafiado a esclarecer na câmara a que agora preside, Faro, todos os 74 processos de que esta foi alvo. Autarca considerou ontem deci- são do Supremo Administrativo como "desproporcional". ATUAL PÁGS. 4 E 5

Transcript of Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário...

Page 1: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

Oposição questiona Macáriosobre 74 processos em FaroPOLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda de mandato por atos

em Tavira, vai ser desafiado a esclarecer na câmara a que agora preside, Faro,todos os 74 processos de que esta foi alvo. Autarca considerou ontem deci-são do Supremo Administrativo como "desproporcional". ATUAL PÁGS. 4 E 5

Page 2: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

Vereadoresdo PS queremsaber se Faronão é TaviraMacário. Apesar de não ter conhecimento de

qualquer ilegalidade, oposição quer ser infor-mada sobre os processos contra a autarquia

FERNANDO MADAÍL

Os vereadores da oposição socialis-ta na Câmara de Faro vão solicitar aMacário Correia, na próxima reu-nião quinzenal, marcada para quar-ta-feira, que lhes seja fornecida a in-

formação sobre os 74 processos ins-taurados contra o município e emque fase se encontram.

João Correia, um dos quatro ele-mentos da minoria socialista noExecutivo, disse ao DN que "nãotem informação precisa" sobre esta

matéria, admitindo porém que,sendo do conhecimento da banca-da da oposição, não se conhece emFaro nenhuma das situações pelasquais Macário é acusado em Tavira(vercaixa)."Os processos normaisde licenciamento", explica, "são da

competência do presidente, que os

delega no vereador do Urbanismo,e não vão asessãode câmara, a nãoser que haja alguma denúncia" e,nesse caso, os vereadores os peçam.

As consequências jurídicas dadecisão do Supremo Tribunal Ad-ministrativo (STA) , que decidiu a

"perda de mandato" de MacárioCorreia em Faro por "factos ilícitos"

cometidos emTavira-e o ex-basto-nário da Ordem dos Advogados,Rogério Alves, entende que este ca-so levanta um debate "juridicamen-te interessante", pois a lei é omissa

quanto à possibilidade de um elei-to perder o mandato numa autar-quia por atos praticados noutra-,apenas suscitam comentários pru-dentes, pois o visado vai recorrerainda da decisão.

Mas tanto João Marques comoJosé Apolinário - o cabeça de listado PS, derrotado por pouco mais deuma centena devotos, opta pornãocomentar, alegando "não estar ati-vo politicamente em Faro" - se re-vêem na posição do presidente daconcelhia do PS de Faro. Subli-nhando que não se pronuncia so-bre a questão jurídica, Luís Graçadefende, porém, que há conse-quências políticas a extrair do acór-dão, "que deita por terra o mito de

que uma autarquia pode ser dirigi-da através de uma política do que-ro, posso e mando". E desafiou o

PSD e o CDS, base da coligação queelegeu, em 2009, Macário em Faro,a tornarem pública a sua "avaliação

política" sobre o caso. Luís Graça fri-sa dois aspetos para insistir na pre-tensão. "Em primeiro lugar, há dois

anos a campanha foi centrada napersonalidade de Macário Correia

e, mesmo assim, a vitória foi tan-gencial, pela margem ténue de0,4%. Em segundo, não se trata deum autarca qualquer, mas de umantigo secretário de Estado do Am-biente, que tem responsabilidadesacrescidas no cumprimento de leisambientais e de ordenamento doterritório". E o PS/Faro quer saber se

o PSD e o CDS "mantêm a defesa e a

confiança" no autarca.O líder do PSD de Faro, Luís Go-

mes, lembra que o processo aindanão está concluído "nem se afigurauma questão cristalina, tendo havi-do duas decisões favoráveis às pre-tensões de Macário Correia e a doSTA", que se pronunciou pela perdado mandato. Advogando "pondera-ção e comedimento" e lembrandoque se deve deixar " à Justiça o que é

da Justiça", considera inadequado

Page 3: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

fazer extrapolações políticas, comopretende o PS. Quando a decisão fordefinitiva, garante, então oPSD /Faro "vai tirar as ilações políti-cas". Já o presidente da distrital doCDS, Francisco Paulino, em decla-

rações àLusa, considerou Macário"uma pessoa respeitável, respeita-dora e acatadora das leis", acusandoainda o PS de estar avivernum cli-

ma de "excitação pré-eleitoral" e ro-tulando o desafio do líder socialistade Faro "uma falta debomsensodetodo o tamanho".

Nuno Sequeira, presidente da

Quercus, viu com agrado a decisãodo STA. "Vemos com alguma satis-

fação que um caso como este, emque parece existir violação das leisdo ordenamento do território, ve-

nha a ter consequências", disse aoDN. O ambientalista espera que adecisão "venha a servir de exemplo"aos cidadãos que tomam decisões

respeitantes ao ordenamento deterritório. "O Estado cria as leis, masé o próprio, através da administra-

ção regional e local, a contorná-las",acrescentou, com joana capucho

A frase sobre o beijo e ocasos Secretário de Estadocontra o horário das disco-tecas e autarca acusado deassédio sexual, Macário temcarreira política polémica

"Pssst! Vem aí o Macário", ironiza-vam uns autocolantes distribuídosem bares e discotecas quando oentão secretário de Estado do Am-biente lançou uma campanhacontra o ruído provocado pelos es-

paços de diversão noturnos. Mas aimagem que lhe ficou colada en-quanto membro do primeiro Go-verno de maioria absoluta de Ca-vaco Silva (1987-1989) foi o exem-plo dado para apoiar a suainiciativa antitabágica, ao afirmar

que "beijar uma mulher que fumaé como lamber um cinzeiro". Ago-ra, lembra que a frase, tantas vezescitada e ironizada, foi concebidapor um criativo de publicidade pa-ra a campanha "uma geração lim-pa de fumo".

Em 1993, quando defrontouJorge Sampaio, que se recandida-tava à Câmara de Lisboa, foi de talforma menorizado pelo adversá-rio que ficou sozinho num debatena SIC - a cadeira de Sampaio, quese recusara a debater com aqueleantagonista, ficaria vazia no estú-dio, para se entender que socialis-ta tinha sido convidado e faltara.

Após o mandato como vereadorda oposição na capital, MacárioCorreia mudou-se para o Algarve,

cinzeiroconquistando a autarquia de Tavi-

ra, em 1998, e assumindo, de certaforma, um papel na região, ao ní-vel da influência social-democra-ta, idêntico ao que antes era nor-malmente associado ao governa-dor civil Cabrita Neto.

Além do seu estilo e das suasconvicções - como a decisão deencerrar mais cedo os bares nailha de Tavira-, seria ainda acusa-do de assédio sexual por uma che-fe dos serviços jurídicos da autar-quia e entrou em polémica comum professor do seu filho quandoa criança feriu o lábio num exercí-cio escolar. Já em Faro, o autarcatem sido notícia pelas celeumas

que manteve com os bombeirosou com o Farense. f.m.

Autarca fala em despropoçãoentre factos e decisão judicial

entrevista "Duas piscinas, trêsedifícios alterados na sua função euma moradiapara habitação pró-pria", repetiu Macário Correia pa-ra sublinhar que a decisão do Su-

premo Tribunal Administrativo deo condenar à perda do mandatodemonstra uma "aparente falta de

proporção entre os factos e a deci-são". Em entrevista à RTP, o autar-ca lembrou que "não estamos a fa-lar de alvarás, loteamentos, cente-nas de prédios", mas apenas de

"pequenas questões".

Negou que tivesse agido com a

consciência de estar a cometer ile-

galidades, explicando que "nin-guém de bom senso" decide con-vencido que está a violar a lei, a in-fringir normas. "Agi de boa-fé, nãopratiquei atos imorais, nem obti-ve benefícios pessoais", fez ques-tão de acentuar, mostrando-se de"consciência tranquila".

Questionado sobre o facto de

ter contrariado pareceres dos téc-nicos, retorquiu que tem "opiniãoprópria e capacidade de decisão",sublinhando que, se tudo depen-desse só dos técnicos, então não

era preciso eleger políticos. "Umacoisa é dar opiniões; outra é tomardecisões",afirmou, para explicarque os pareceres são apenas maisum dos elementos da decisão.

Acerca das ilegalidades de que é

acusado, lembrou que a interpre-tação que fez da legislação não é

apenas a sua, pois "juizes, emborade tribunais de instância inferior,subscreveram a [sua] opinião" .

Incomodado por estar "a ser en-xovalhado na praça pública", ondesão publicadas "falsidades", disse

que recebeu "telefonemas de soli-

Page 4: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

dariedade, não apenas de dirigen-tes do seu partido, mas tambémde altos dirigentes do PS e de mui-tos autarcas, alguns do PS e até daCDU", em.

ALJEZUR

Autarcas condenadosrecorrem da decisão

> Os presidentes da Câmara eda Assembleia Municipal(AM) de Aljezur, condenadospelo Tribunal de Lagos apenas de perda de mandatoe de prisão pelo crime de pre-varicação no licenciamentode obras no Vale da Telha,vão recorrer da sentença.José Amarelinho, presidenteda autarquia, foi condenado atrês anos e dois meses de penasuspensa mediante o paga-mento de cinco mil euros.Manuel Marreiros, presidenteda AM, teve igual pena, masaumentada em um ano.

"Macário Correia?Só o conheçopela televisão'"reportagem Vivendas de luxosubstituíram antigas casasem ruínas no sítio da Picotae hoje valerão meio milhãode euros.

No sítio da Picota, perto de Cacho-

po e a cerca de dez quilómetros dacidade de Tavira, um dos locais on-de foram construídas vivendas deluxo dispersas em terrenos ante-riormente ocupados por casas emruínas, só apresença de jornalistasquebrou, ontem, a rotina e a tran-quilidade. "Macário Correia? Só o

conheço pela televisão. Compreihá anos, através de uma empresaimobiliária, um terreno com ruí-nas para construir um dia umacasa e desde 1972 que este espaçoestá registado na matriz predialcomo edificável. Ainda antes dehaver democracia neste país e nu-ma altura em que Macário Correianem sonharia vir a ser presidenteda Câmara de Tavira, já havia au-torização para construir. O quequerem agora? Esta zona nem per-tence à Rede Ecológica Nacional efoi a Comissão de Coordenação eDesenvolvimento Regional do Al-

garve que me prestou essa infor-mação. Tenho a consciência tran-quila, não cometi qualquer ilega-lidade", disse ao DN Maria Fer-nanda Perdigão, de 60 anos, pro-fessora aposentada.

Enquanto olhava para a sua vi-venda, localizada num terrenoque pertenceu à família de Macá-rio Correia, no cimo de um monte

e rodeada de oliveiras, não escon-dia um sentimento de "revolta" emface daquilo que considera tratar-se "toda uma especulação" em tor-no do cx- autarca de Tavira. "As

pessoas devem analisar as situa-ções com calma em vez de falaremcomo se soubessem o que se pas-sa. Havia aqui pelo menos cincoterrenos com ruínas nos quais seconstruíram habitações. Se nãofosse assim, seria uma zona deser-tificada como sucede com tantasoutras neste país", acrescentouMaria Fernanda Perdigão, resi-dente há seis anos na Picota e pa-ra quem tudo o que agora se diz deMacário "é política por ele ser pre-sidente da câmara de Faro". Culpapor outro lado a Câmara de Tavira

por não possuir ainda licença dehabitação e tal como os restantesmoradores recorre a um furo pú-blico para conseguir água. "Estoua ser perseguida porque este terre-no era da família de Macário Cor-reia." Um morador que utiliza o

seu burro para carregar garrafõesde água, lembrou que naquelazona "há pelo menos cinco casas

que pertenciam à família do Ma-cário, mas qualquer pessoa podeter propriedades e vendê-las". Nosítio da Picota, há vivendas que va-lerão hoje de 400 a 500 mil euros.Em Vale da Murta, outra zona doconcelho de Tavira, uma habitan-te não estranha a decisão judicialde anular licenças de construção."A ideia era obter licença de cons-

trução para vender as casas."

JOSÉ MANUEL OLIVEIRA

Page 5: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

Um político que não foge da polémica e que mantém a postura de um adepto do ambiente

Page 6: Oposição questiona Macário sobre processos - clipquick.com · Oposição questiona Macário sobre 74 processos em Faro POLÉMICA Macário Correia, alvo de uma decisão de perda

ACÓRDÃO

Moradias e piscinaem reserva ecológica> O Supremo Tribunal Admi-nistrativo condenou o presi-dente da Câmara de Faro àperda de mandato devido aolicenciamento de obras pri-vadas em freguesias rurais doconcelho deTavira, quandoMacário cumpria o seu ter-ceiro mandato neste municí-pio (2005-2009). Entre oscasos citados no acórdãoestão o licenciamento deduas moradias e uma pisci-na, tudo projetos em solos

que integram a ReservaEcológica Nacional e estãoem Área Florestal de UsoCondicionado definida peloPDM. Em todas as situações,Macário contrariou os pare-ceres técnicos da chefe daDivisão de Gestão Urbanís-tica e da diretora do Depar-tamento de Urbanismo. Aestes licenciamentos jun-tam-se outros, como a con-versão de estábulos e arma-zéns em segundas habita-ções, processos escrutinadospela Inspeção-Geral daAdministração Local numaauditoria e que levou oMinistério Público a pedir aperda de mandato do autarcano Tribunal Administrativo eFiscal de Loulé.

P&REsclarecimentos dadospor Pedro Melo, advogadoespecialista em Direito Público

> Macário Correia pode perder o

mandato em Faro, apesar de as

alegadas ilegalidades teremocorrido em Tavira?É perfeitamente possível.Se não pudesse perder o man-dato por já estar à frente deoutra autarquia, não era san-cionado.> Então como se explica queeste seja um acórdão inéditono que toca à perda de man-dato de um autarca quandoele já exerce funções noutraautarquia?Tem sido propalado que esteacórdão é inédito, mas não é

exatamente verdade, pois jáhouve casos anteriores de per-das de mandatos na sequênciade iniciativas judiciais do MEO que será inédito - mas não o

posso asseverar- é que está emcausa a perda de um mandatopor alegados ilícitos cometidosem mandato anterior.Apresente situação explica- se

pelo tempo que demoram este

tipo de processos que revestemde alguma complexidade, nãoobstante tenham a natureza de

processos urgentes.

> Se não pudesse perder onovo mandato, o autarca nãoseria sancionado. Mas comoficaria um ex- autarca que jánão exercesse funções, ficariaimpune?Se estivesse em causa um ex-autarca, não haveria qualquersanção. Mas, note-se, não esta-mos aqui no plano criminal; aoinvés, estamos no âmbito de

responsabilidade político-ad-ministrativa, donde se com-preende que assim seja. Comoé óbvio, se os atos praticadospelo autarca vierem a ser con-siderados inválidos, em proces-so autónomo, então as edifica-ções licenciadas poderão vir a

ser postas em causa.> Para que órgãos pode o au-tarca recorrer da sentença do

Supremo TribunalAdministrativo (STA)?O autarca pode agora recorrerpara o Tribunal Constitucional(TC) ou para o pleno do STA.Poderá recorrer para o TC se,

porventura, durante a pendên-cia do processo invocou algu-ma questão de natureza cons-titucional (se não o fez duran-te o processo, não o poderáagora fazer). Poderá tambémrecorrer para o Pleno do STA se

conseguir demonstrar a exis-tência de uma contradiçãoentre decisões judiciais sobreesta matéria.