Opus LADO MAIS Dei - ClipQuick · 2013-01-27 · São 50 milhões de euros, mas provavelmente o...

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O LADO MAIS SECRETO DA IGREJA Opus Dei Dois ex-presidentes da AR ; banqueiros e um ex-jogador da seleção entre os 1550 membros Em Portugal, a obra está nas Finanças do Governo e na banca Irmã Lúcia decisiva para o nosso país ser o primeiro, depois da Espanha, a receber a organização A PIDE até de Marcello Caetano desconfiou Nos EUA, teve um candidato às últimas primárias republicanas e um antigo diretor do FBI A história e os estranhos rituais: a autoflagelação silenciosa na última década, o Opus Dei ganhou seis mil membros e está em 66 países especial págs 22 a33

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O LADO MAIS SECRETO DA IGREJA

Opus DeiDois ex-presidentesda AR ; banqueirose um ex-jogadorda seleção entreos 1550 membros

Em Portugal, a obra está nasFinanças do Governo e na bancaIrmã Lúcia decisiva para o nossopaís ser o primeiro, depois daEspanha, a receber a organização

• A PIDE até de Marcello Caetanodesconfiou

• Nos EUA, teve um candidato àsúltimas primárias republicanas eum antigo diretor do FBI

• A história e os estranhos rituais:a autoflagelação silenciosa• Só na última década, o Opus Deiganhou seis mil membros e estáem 66 países especial págs 22 a33

A outra investigaçãoprometidaJOÃOMARCELINO

ste trabalho jornalístico sobre o Opus Dei estavaprometido desde um outro que publicámos a— propósito da maçonaria, a organização secretarival, cuja influência nacional parece bastantesuperior, sobretudo no mundo dos negócios.

As comparações acabam por ser inevitáveis, desde logo aonível da discrição, secretismo mesmo, dos seus membrose nos estranhos rituais.A predominância da maçonaria, a regular e a outra, nãosignifica que os membros do Opus Dei não estejam presentesem lugares de destaque na sociedade. No Parlamento háapenas um deputado do Opus Dei, contra várias dezenas damaçonaria. Porém, na história da democracia, a obra já tevedois presidentes da AR (Oliveira Dias e Mota Amaral).O Opus Dei é conhecido no seio do próprio Vaticano porcontrolar as finanças. Em Portugal, é também na banca quese tem notado ao longo dos anos a sua influência, eminstituições poderosas como o BCP (com Jardim Gonçalves ePaulo Teixeira Pinto, este último, hoje, já fora da obra) ou oBPI (através de Artur Alves Conde e Câmara Pestana, querecentemente até levou Artur Santos Silva a participar emações do Opus Dei).Outro dado curioso, nas Finanças e no Governo, é que desdeAntónio Guterres - que viveu numa residência da obra,embora não seja membro - não havia no Executivo alguémligado ao Opus Dei (Bagão participou num retiro, mas aocontrário do que muitos pensam, nunca aderiu). Porém, aúltima minirremodelação governamental colocou umcooperador da obra no Governo: Manuel Rodrigues,secretário de Estado das Finanças, a área a que a organizaçãoparece ter estado sempre mais atenta.Há, no entanto, gente ligada ao Opus Dei em vários sectores,desde o futebol (Nelson, antigo defesa direito do Sporting,e Trapattoni, ex- treinador campeão no Benficae ex-selecionador italiano) até à justiça.Neste trabalho, além de cruzarmos fontes e ouvirmos omaior número de pessoas, entrevistámos o líder do Opus Dei,fizemos uma pequena reportagem numa ação da obra,descobrimos livros portugueses proibidos num índex e aindatentámos desvendar, tanto quanto foi possível, o patrimóniogerido, direta ou indiretamente, pelos membros do Opus Dei.São 50 milhões de euros, mas provavelmente o númeropeca por defeito.Procurámos as informações. As conclusões ficam a cargodo leitor.

Opus Deinas Finançasdo Governoe com forçana banca

Poder. Conhecida como 'maçonaria branca',o Opus Dei tem mais de 1500 membros emPortugal. Apesar de negar a existência de umaestratégia de poder, conta com figuras de desta-

que na banca e na política. Há mais de dez anosque um governo não tinha um elemento ligadoà obra, mas a última minirremo delação pôs noExecutivo um cooperador que até há três mesesgeria a financeira da Escola de Negócios da obraTextos de RUI PEDRO ANTUNES

O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho,colocou recentemente uma das mais impor-tantes áreas da governação nas mãos de umcooperador do Opus Dei: o secretário de Es-tado Manuel Rodrigues. O novo homem -

-sombra de Vítor Gaspar nas Finanças juntaassim duas áreas às quais a obra é constante-mente associada: a política e a banca, nasquais sempre teve membros influentes.

Para muitos uma "igreja dentro da Igreja",o Opus Dei é a única prelazia pessoal reco-nhecida pelo Vaticano e ajuda em Portugalmais de 1550 membros a "aproximarem-sede Deus". No País, tal como no resto do mun-do, a esmagadora maioria dos seus membrosmantém-se no anonimato, um obscurantis-

mo que, aparde girar em torno de uma pes-soa (o prelado Javier Echevarría), faz que mui-tos o considerem uma "seita religiosa". A de-

signação ofende os seus membros, que pri-mam por ser discretos e dizem agir indi-vidualmente nas suas profissões. Esteja ounão montada uma teia de influências em Por-

tugal, é certo que o Opus Dei conta (entre nu-merários, supranumerários e cooperadores-três diferentes níveis de ligação à obra) compessoas que são influentes napolítica e, prin-cipalmente, no sector bancário.

Voltemos então às Finanças. Até integrar o

Governo, Manuel Rodrigues acumulou as

funções de vice-presidente do PSD com as de

professor da AESE -Escola de Direção e Ne-gócios, instituição dirigida por membros e

uma das obras cooperativas do Opus Dei Por-

tugal. Professor de Economia e Finanças, Ma-nuel Rodrigues tirou também o seu MBAnoutra estrutura do Opus Dei: o lESE Busi-ness School da Universidade de Navarra.Além disso, no último mês de setembro, Ma-nuel Rodrigues assumiu o cargo de diretor-

-geral da sociedade de capital de risco daAESE, a Naves, funções que deixou a 26 de ou-tubro para integrar o Governo, tal como cons-ta da declaração de rendimentos entregue noTribunal Constitucional a 2 1 de dezembro.

No cargo governamental que ocupa, Ma-nuel Rodrigues (que o DN tentou contactarpor todos os meios, sem êxito) vai igualmen-te lidar de perto com abanca, área que os ele-

mentos do Opus Dei - incluindo alguns dosseus mais destacados membros - conhecembem. Apesar de alguns elementos da obra te-rem perdido o poder que noutros tempos ti-veram no BCP, há outros que continuam mui-to bem colocados na banca. O presidente doConselho de Administração do BPI e da Fun-

dação Calouste Gulbenkian, Artur Santos Sil-

va, participou em alguns eventos do Opus Deia convite de Carlos da Câmara Pestana, quedurante anos foi o representante do segundomaior acionista do BPI (o Itaú) e um dos vice-

-presidentes do banco.

Apesar da aproximação, quando confron-tado pelo DN, Artur Santos Silva não falou so-bre a participação nestes eventos, disse ape-nas ser "muito amigo do dr. Câmara Pestana"

e garantiu: "Não sou, nem pretendo ser,membro do Opus Dei." Quanto a CâmaraPestana não há qualquer dúvida de que é

uma figura de destaque da obra e preside o

Itaúsa - Investimentos Itaú S A, que perten-ce ao Itaú Brasil.

O Itaú decidiu alienar a sua participação noBPI, o que não significa que o Opus Dei fiquefora de cena. É que aparticipação de 18,9% doBanco Itaú no BPI - de acordo com o contra-to de promessa de compra e venda já assina-do -vai ser vendida ao banco espanhol LaCaixa, instituição associada ao Opus Dei porter sido parceira da Fundação Senara (sedea-da em Madrid, que pertence à obra e foi cria-da pelo fundador da prelatura, o espanhol Jo-semaría Escrivá de Balaguer) .

Câmara Pestana é supranumerário, o que ?

? significa que é membro da obra, frequenta os

centros, participa em retiros e outros eventos,mas é casado. Além disso, ocupa cargos emestruturas ligadas ao Opus Dei, como a Fun-dação Maria Antónia Barreiro, em que émembro do conselho geral. Artur Alves Con-de, membro do Opus Dei, professor e um dosfundadores daAESE, também foi, até 2010,administrador da seguradora do BPI (a BPIVida), chegando aserpresidente do conselhofiscal do banco.

O 'banco do Opus Dei'?Um dos argumentos utilizados pelos mem-bros daprelatura para reforçar a ideia de quea obra nunca pretendeu controlar a banca é

o facto de muitos dos membros j á se teremenfrentado ferozmente no mundo empresa-rial. E um dos episódios mais conhecidos foia oposição de Câmara Pestana às intençõesde um dos mais destacados membros do

Opus Dei, o banqueiro e fundador do BCP,

Jorge Jardim Gonçalves, na OPA que o BCP fezao BPI em 2006.

Jardim Gonçalves teve um primeiro con-tacto com a obra quando estudava na Uni-versidade de Coimbra, mas, curiosamente,foi o PREC que o empurrou para o Opus Dei.Sem emprego em Portugal depois das nacio-

nalizações, o madeirense foi para Madrid tra-balhar no Banco Popular Espanhol em pleno"Verão Quente". Foi aí que, por influência dasuamulher, Maria daAssunção, acabariaporse tornar supranumerário do Opus Dei, ain-da no ano de 1975.

Precisamente 30 anos depois, JardimGonçalves escolheu como seu sucessor napresidência do então maior banco privadoportuguês o antigo secretário de Estado daPresidência do Conselho de Ministros deCavaco Silva e também supranumerárioPaulo Teixeira Pinto - que viria a abandonara organização em 2007. Quando fez a esco-lha, Jardim Gonçalves desvalorizou a ligaçãopublicamente: "É uma coincidência. Ele serdo Opus Dei é um problema dele. Nunca fa-lámos sobre isso. Cada um tem os seus ca-minhos. A escolha teve que ver com o que a

pessoa é e pode continuar a ser. As pessoasda prelatura tiveram a mesma surpresa do

que os jornalistas, quando o nome do suces-sor foi conhecido." Ao DN, Teixeira Pintonão quis falar sobre o Opus Dei, uma vez quenunca o faz, nem fará, por uma "questão de

princípio".Se houve solidariedade entre supranume-

rários nesta sucessão, o mesmo não se podedizer quanto à OPA do BCP sobre o BPI. Câ-mara Pestana estava de um lado da barrica-

da e Jardim Gonçalves e o seu delfim, Teixei-ra Pinto, do outro. Opus Dei, Opus Dei, negó-cios aparte. Câmara Pestana, então númerodois do BPI, foi um dos grandes responsáveispelo falhanço dos dois irmãos supranumerá-rios na OPA, tendo convencido o Banco Itaúa não vender as ações ao BCP ao preço de se-

te euros por título.Três membros do Opus Dei de costas vol-

tadas, mas só fora das portas dos centros daobra. Apesar de toda a troca de farpas públi-cas, longe dos olhares dos media Câmara Pes-

tana, Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves trata-vam-se cordialmente em sessões espirituaisno Oratório de S. Josemaría, no Lumiar.

Organização "perigosa" e "reacionária"Os críticos do Opus Dei não têm dúvidas de

que a obra procura ter influência na banca e

na política nos vários países por onde passa.E Portugal não é exceção. O presidente da As-

sociação Ateísta Portuguesa, Alfredo Espe-rança, considera o Opus Dei uma das organi-zações "mais perigosas e reacionárias dalgre-ja Católica". O ateu acredita que o Opus Deitem "muito mais influência do que a maço-naria, que está fragmentada em várias orga-nizações". "Basta ver o que aconteceu noBCP", remata. Alfredo Esperança lembra ain-da que o Tribunal Federal Suíço, com sede emLausana, definiu o Opus Dei num acórdãocomo "uma seita, uma associação secreta

que atua ocultamente, com um máximo de

opacidade nos seus assuntos".

Apesar de muitos ex- membros terem cri-ticado o Opus Dei em conversas com o DN,não quiseram dar a cara. O mesmo não acon-teceu com a presidente da Fundação Sara-

mago, Pilar dei Rio, que confessou ao DN quecresceu perto do Opus Dei, uma vez que o seu

pai era membro da obra. Porém, a prelaturanão lhe merece o mínimo respeito, classifi-cando-a de "uma seitapara castrar". "Castraas pessoas física e intelectualmente e só temum único objetivo: poder!", afirma.

O Opus Dei Portugal, através do gabinetede comunicação, garante que "nunca" pro-curou obter influênciana sociedade, lembra

que "as leis são para serem cumpridas" e que"é moralmente grave obter tratamentos defavor". O diretor de comunicação, Pedro Gil,

assegura que "a autonomia e liberdade de ca-

dapessoa são valores cruciais que não po-dem ser postos em causa".

'Maçonaria branca' perdeApesar de conhecida como a "maçonariabranca", os membros do Opus Dei conside-ram ofensiva a comparação com os pedrei-ros-livres. Dizem que não têm mais influên-

cia do que a maçonaria, uma vez que não têm"influência nenhuma". Certo é que, olhandoaos grandes cargos da sociedade, a prelaturaperde na contagem de espingardas para os

que veneram o "Grande Arquiteto do Univer-so". Os deputados maçons são largas deze-nas, enquanto o social-democrata MotaAmaral- garante a prelatura - é hoje o únicodeputado que pertence ao Opus Dei.

O próprio responsável do gabinete de co-municação da obra, Pedro Gil,esclarece que "qualquermembro da Prelatura do

Opus Dei que atua na área pú-blica, fá-lo sempre por exclu-siva iniciativaprópria, com to-tal liberdade e responsabilida-de pessoal sem qualquermandato do Opus Dei". As-sim, acrescenta, "Mota Ama-ral representa na Assembleiada República exclusivamente quem o ele-

geu, não a obra".

Apesar de recusar qualquer tipo de in-fluência, dois destacados membros do OpusDei já ocuparam o cargo de segunda figura da

Nação. O fundador do CDS, Francisco Olivei-ra Dias - atualmente também membro doConselho Geral da Fundação Maria AntóniaBarreiro -, e Mota Amaral foram ambos pre-sidentes da Assembleia da República (AR) .

Mota Amaral, ainda hoje deputado doPSD, garante ao DN que nunca foi instru-mentalizado : "Pertenço ao Opus Dei há maisde 50 anos e o facto de ser membro nuncaafetou a minha liberdade política. Seria inad-missível que alguém da obra me desse instru-

ções ou pedisse favores." O social-democra-ta é numerário e quando está em Lisboa (o

que acontece em metade da semana) dormenum dos centros da obra. É assim há mais de30 anos. Porém, "para que as coisas não se

confundissem, quando fui presidente do Par-lamento fiz questão de ficar na residência ofi-cial", explicou o parlamentar.

Ao contrário de Mota Amaral (presidenteda AR de 2002 a 2005) , a escolha de FranciscoOliveira Dias, médico de profissão, não foi fá-

cil. A eleição só foi decidida aofim de três votações. Naaltura,um deputado socialista, o his-toriador César Oliveira, che-

gou a confidenciar ao médicodo CDS que "a maçonariaqueria o lugar". Por essa altura(1981-82), na hierarquia doEstado, Oliveira Dias apenastinha à sua frente um homem

que é próximo do Opus Dei,apesar de não ser membro: o ex-presidenteda República Ramalho Eanes.

Além de ter frequentado a AESE, Eanes ti-rou o doutoramento na instituição em que,por norma, se formam os membros do Opus:a Universidade de Navarra, em Espanha,controlada pelo Opus Dei e criada por Jose-maria Escrivã de Balaguer.

A atual presidente da AR, Assunção Este-ves, também admitiu que chegou a ser con-vidada pela maçonaria e pelo Opus Dei".

Próximos mas não membrosAssociado à prelatura por, ao longo dos anos,ter participado em eventos promovidos pelaobra, o casal Eanes é admirador confesso dofundador do Opus Dei, tendo ido a Roma à

canonização de Balaguer em outubro de2002. Uma admiração partilhada pelo antigoministro da Solidariedade Social do CDS Ba-

gão Félix, que já participou num retiro do

Opus Dei. Porém, não aderiu à obra.Dizer "não" ao Opus Dei foi também o que

fizeram Marcelo Rebelo de Sousa e DiogoFreitas do Amaral, ambos convidados no fi-nal dos anos 70 por Adelino Amaro da Costa.A pedido do seu amigo democrata-cristão,Marcelo chegou a fazer donativos a um dos

projetos da obra. O antigo ministro do CDS- que morreu na queda do avião em Camara-te, também fatal para o então primeiro-mi-nistro Sá Carneiro - foi um dos destacadosmembros da obra, que abandonaria para se

poder casar (era membro celibatário) .

Antes de sair da obra, Amaro da Costa con-vidou amigos para integrar a prelatura, entreos quais dois ex- ministros de Cavaco Silva:Roberto Carneiro (Educação) e Miguel Bele-za (Finanças) . Este último revelou ao DN quenão se recorda se "o convite foi feito formal-mente", mas admite que falou "várias vezes ede forma profunda com Amaro da Costa so-bre o assunto e a fé no geral". Mas Miguel Be-leza nunca se sentiu "suficientemente voca-cionado para aderir". Por outro lado, o tam-bém ex-ministro de Cavaco, Arlindo Cunha,chegou a ser membro da obra, mas já saiu.

São dois osex-presidentesdo Parlamentoque pertencem

àobraO antigo primeiro-ministro e atual alto-co-

missário das Nações Unidas para os Refugia-dos, António Guterres, chegou a viver numaresidência da obra e, embora não seja mem-

bro, costuma ser associado à organização. Foi,

curiosamente, nos governos de Guterres quemais se falou em disputas nas pastas entre o

Opus Dei e a maçonaria - o que ambas as or-

ganizações negam. Ao DN, na grande investi-

gação sobre a maçonaria, o grão-mestre doGrande Oriente Lusitano (GOL) disse clara-mente que o "Opus Dei não é nenhum inimi-

go. Muitas vezes associam-se os maçons a umcerto anticlericalismo, o que não é verdade.Não há inimizade nenhuma".

O GOL, a mais influente obediência maçó-nica do País, sempre gozou de alguma in-fluência junto do PS, daí que a maioria dos so-cialistas não visse com bons olhos a aproxi-mação ao Opus Dei - geneticamente ligado àdireita. Aliás, a prelatura - que tem uma lista

negra de livros - definiu Portugal Amordaça-do, do histórico socialista Mário Soares, comouma das obras proibidas.

Apesar disso, a mulher de Mário Soares etambém fundadora do PS, Maria Barroso, jáparticipou em eventos da obra social da pre-latura, tendo também integrado a comitivaportuguesa que assistiu à canonização dofundador. Uma aproximação promovida poruma "grande amiga", já falecida, e que perten-cia à obra, Ana Boléo Tomé. "Não pertençoao Opus Dei, mas tenho pela obra o maior res-

peito. Consideram-me cooperadora porquegosto de cooperar com todas as organizaçõesinspiradas nos grandes movimentos cristãos.

Gosto de fazer alguma coisa pelos outros", dis-

se ao DN a antiga primeira dama.

Apesar das restrições que impedem osmembros da obra de participar em eventospúblicos, não é vedada a presença em comí-cios políticos. No entanto, como explicou aoDN um antigo numerário, "a opção políticaestá limitada a dois partidos: o PSD e o CDS".

A aproximação de ZitaSeria impensável ver um membro do PartidoComunista no Opus Dei. No entanto, uma ex--delfim de Álvaro Cunhal, Zita Seabra, temvindo a aproximar-se da obra. A também ex-

-deputada do PSD já participou em eventosdo Opus Dei, numa identificação que terá co-

meçado com a publicação de um livro demonsenhor Hugo de Azevedo (membro his-tórico da obra) sobre JosemaríaEscrivá. Tam-bém o livro Opus Dei, da autoria de John L.Allen (correspondente da CNN no Vaticano,acusado de o ter escrito por encomenda da

prelatura) , foi publicado em Portugal pelaAlêtheia, editora de Zita Seabra. Além de pre-

sidente desta editora, Zita preside uma em-presa sedeada em Óbidos, aVárzea da Rainha

Impressores (VRI), que, por sua vez, tem co-mo acionista a Naves, uma sociedade finan-ceira detida maioritariamente pela... escola

superior afeta ao Opus: a AESE.Confrontada pelo DN, Zita Seabra mos-

trou-se indignada com estas ligações, classi-ficando-as como "insinuações" ao mesmotempo que recusou explicar a ligação aoOpus Dei. Considerou as questões como "jor-nalismo de sarjeta", afirmando que aVRI na-da tinha que ver com a AESE nem com o

Opus Dei. Os sitese documentos oficiais daNaves e da AESE dizem o contrário. Fonte ofi-cial do Opus Dei confirmou igualmente queZita Seabra já participou em eventos da obra.

Em sentido inverso, o deputado do CDSJoão Rebelo deixou de ser cooperador do

Opus Dei em 2002, por "questões pessoais defé". Sobre os anos em que colaborou diz "só teras melhores memórias". E acrescenta: "Co-nheci pessoas extremamente inteligentes,com quem ainda hoje mantenho umaboa re-

lação." Os cooperadores não estão obrigadosao celibato nem a todos os rituais, mas parti-cipam em eventos e missões da obra.

Em situação idêntica está o histórico doCDS e antigo número dois da AR, NaranaCoissoró, que apesar de pertencer à religiãohindu ainda hoje é cooperador do Opus Dei-condição que permite que fiéis de outras reli-

giões participem nas atividades. Aligação deNarana Coissoró começou através da filha,Smitá, que tem inclusive um cargo dirigente:vice- secretária da assessoria regional do OpusDei Portugal.

Ao DN, Narana Coissoró explicou que, en-quanto "mero cooperante", é "mais um ami-go. O meu contributo é dar lições, dar pales-tras, quase sempre sobre o Oriente e a índianas instituições ligadas à obra". Narana Cois-soró rejeita a existência de qualquer ideia deobscuridade associada à prelatura. "É falso.Chamam-lhe a maçonariabranca, mas não énenhuma maçonaria. Não é secreta. Não temmandamentos. Não tem graus", justifica.

João Rebelo partilha a mesma opinião econsidera que a comparação é sinónimo de

ignorância, evidenciando uma diferença: "Se

for a uma missa dada por um sacerdote do

Opus Dei ninguém lhe nega a entrada, masnão o deixarão certamente ir a uma sessão damaçonaria."

Í.João Paulo 11, um dos papas mais comprometidos com sobra, conseguiu Levar

a cabo a canonização de S. Josemaría Escrivã de Balaguer, em tempo recorde

Echevarría, prelado do Opus Dei, num encontro da obra realizado em Matosinhos,

em 2003