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A participação popular que muda o rumo de uma ideologia politica

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  • Fabiana Patrcia Franco de Lima

    O QUE IDEOLOGIA A participao popular que muda o rumo de uma

    Ideologia Poltica.

    Monografia: Filosofia.

    Universidade de Braslia UnB. Curso de Filosofia.

    Braslia 22 de Julho de 2011.

  • 2

    Fabiana Patrcia Franco de Lima

    O QUE IDEOLOGIA A participao popular que muda o rumo de uma

    Ideologia Poltica.

    Monografia apresentada ao Curso de

    Filosofia da Universidade de Braslia,

    como requisito parcial para

    obteno de grau de Bacharel e

    Licenciatura em Filosofia, sob orientao

    do Prof. Dr. Alex Sandro Calheiros.

    Braslia DF 22 de Julho de 2011.

  • 3

    BANCA EXAMINADORA:

    Orientador: Professor Dr. Alex Sandro

    Calheiros

    __________________________________

    Professora convidada: Dr Priscila Rufinoni

    _________________________________

  • 4

    Agradeo minha querida me

    Maria do Rosrio de Ftima

    Franco de Lima, e a meu

    querido pai Lusimar Jos de

    Lima, e em memria a minha

    irm Luciana Franco de Lima.

    Todo carinho e apoio na

    realizao deste curso.

  • 5

    Resumo

    O livro O que Ideologia da autora Marilena Chau, parte de alguns exemplos,

    histrico do termo, a concepo marxista de Ideologia; no qual Marilena Chau procura dar

    nfase mais profunda ao assunto da ideologia, mostrando tambm a concepo que outros

    pensadores tinham sobre o tema. Para os filsofos gregos, movimento era qualquer

    alterao da realidade, seja ela qual for. Com base nisso, Aristteles elaborou a teoria das

    quatro causas. Era uma tentativa para dar explicao ao problema dos movimentos. Ento,

    as diferentes relaes entre as quatro causas explicam tudo que existe, o modo como existe

    e se altera, e o fim ou motivo para o qual existe. O trabalho era colocado como um

    elemento casual secundrio e inferior, por Aristteles. A ideologia tem como trao usar as

    idias como independentes da realidade terica e histrica. Ao elaborar sua teoria, o terico

    julga estar produzindo idias verdadeiras. O idelogo seria ento aquele que inverte as

    relaes entre as idias e o real. No plano da metafsica conservada a causa final, pois esta

    se refere ao dos homens se relacionando entre si e com a natureza. O processo histrico

    no sucesso de fatos no tempo, no progresso das idias, mas o modo como homens

    reais criaram os meios e formas reais para a sua existncia social. No entanto, tende a

    esconder dos homens o modo real de como suas relaes sociais foram produzidas. A isso

    se d o nome de ideologia. O termo ideologia surgiu pela primeira vez em 1801,

    designando-se inicialmente de cincia natural da aquisio, da por diante, um sistema de

    idias condenadas a desconhecer sua relao com o real. A ideologia, enquanto teoria passa

    a ter um papel de comando sobre a prtica dos homens, que devem submeter-se aos

    critrios e mandamentos do terico antes de agir. A nova sociedade no constituda

    apenas pelos burgueses, mais ainda por outro homem, o trabalhador livre. Trabalhador livre

    em um sentido duplo. graas a essa contradio que a autora dedica mais da metade do

    livro para abordar o que Karl Marx entendia por ideologia. A produo das idias e as

    condies sociais e histricas no so separadas por Marx. Ele demonstra, tambm, que a

    contradio no a das idias, mas sim, contradio entre homens reais em condies

    histricas e social real chamada luta de classe (na qual acontece h muito tempo no mundo

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    inteiro, causando uma grande disputa entre as pessoas). atravs das classes sociais que a

    sociedade civil nega o indivduo isolado e o indivduo como membro da famlia. O trabalho

    no pago (mais-valia) a origem do capital. H uma contradio na medida em que a

    realidade do capital a negao do trabalho.

    Uma das grandes idias da ideologia a da sociedade civil concebida como um

    indivduo coletivo, visando ocultar a realidade da sociedade civil que a luta de classes; a

    luta de classes o quotidiano da sociedade civil. O processo no qual as atividades humanas

    comeam a se realizar como se fossem autnomas ou independentes dos homens chamada

    de alienao. As idias aparecem como entidades autnomas descobertas por homens

    determinados, e no como produtos do pensamento de tais homens.

    Um instrumento de poder da ideologia a dominao e as formas de luta de classes.

    A ideologia um dos meios usados pelos dominantes para exercer a dominao, fazendo

    com que esta no seja percebida como tal pelos dominados, uma transformao das idias

    da classe dominante em idias dominantes para a sociedade como um todo. Essa resulta da

    prtica social, nasce da atividade social dos homens no momento em que estes representam

    para si mesmos essa atividade. Portanto, a ideologia um instrumento de juno de classe.

    Por conseguinte, o livro O que ideologia que explica claramente o que ideologia.

  • 7

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    SUMRIO Introduo.......................................................................................................09

    Capitulo I - A participao popular que muda o rumo de uma Ideologia

    Poltica.............................................................................................................17

    I.I Onde a cidadania mais que um conceito...........................................................................................................17

    I.II- Uma Nova Ideologia...........20

    Capitulo II A Ideologia e suas vertentes.......................................................35

    II.I A Manipulao da Ideologia...................................................................36

    Concluso.........................................................................................................49

    Bibliografia......................................................................................................50

    Anexos Entrevistas........................................................................................51

  • 9

    Introduo

    No livro O que ideologia, Marilena S. Chau recorre aos pensamentos de Hegel

    e Marx para criar uma contradio e explicar o tema. Seu foco explicar o que ideologia

    atravs da diviso social e do trabalho. Marilena Chau comea o livro com a teoria

    Aristotlica das quatro causas, definindo o que ela chama de verdade imutvel, o fato de

    no existir causas finais na natureza, e sim apenas no campo da metafsica. A histria pode

    ser examinada sob dois aspectos; do ponto de vista do homem e da natureza. Marilena

    descreve de forma bem detalhada a dualidade existente entre natureza e homem,

    necessidade racional e finalidade e liberdade.

    Aristteles elaborou algo que, a partir da filosofia medieval, ficou sendo conhecido

    como a teoria das quatro causas. Como se sabe, uma das maiores preocupaes dos

    filsofos gregos era a explicao do movimento. Por movimento, os gregos entendiam; a

    primeira causa como toda mudana qualitativa de um corpo qualquer (por exemplo, uma

    semente que se toma rvore, um objeto branco que amarelece, um animal que adoece); a

    segunda causa ser que toda mudana quantitativa de um corpo qualquer (por exemplo, um

    corpo que aumente de volume ou diminua, um corpo que se divida em outros menores); a

    terceira causa que toda mudana de lugar ou locomoo de um corpo qualquer (por

    exemplo, a trajetria de uma flecha, o deslocamento de um barco, a queda de uma pedra, o

    levitar de uma pluma); por fim a quarta causa ser que toda gerao e corrupo dos

    corpos, isto , o nascimento e perecimento das coisas e dos homens. Movimento, portanto

    significa para um grego toda e qualquer alterao de uma realidade, seja ela qual for.

    A teoria aristotlica das quatro causas, tal como foi recolhida e conservada pelos

    pensadores medievais, uma das explicaes encontradas pelo filsofo para dar conta do

    problema do movimento. Haveria, ento, uma causa material (a matria de que um corpo

    constitudo, como, por exemplo, a madeira, que seria a causa material da mesa), a causa

    formal (a forma que a matria possui para constituir um corpo determinado, como, por

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    exemplo, a forma da mesa que seria a causa formal da madeira), a causa motriz ou eficiente

    (a ao ou operao que faz com que uma matria passe a ter uma determinada forma,

    como, por exemplo, quando o marceneiro fabrica a mesa) e, por ltimo, a causa final (o

    motivo ou a razo pela qual uma determinada matria passou a ter uma determinada forma,

    como, por exemplo, a mesa feita para servir como altar em um templo). Assim, as

    diferentes relaes entre as quatro causas explicam tudo que existe, o modo como existe e

    se altera, e o fim ou motivo para o qual existe.

    Um aspecto fundamental dessa teoria da causalidade consiste no fato de que as

    quatro causas no possuem o mesmo valor, isto , so concebidas como hierarquizadas indo

    da causa mais inferior causa superior. Nessa hierarquia, a causa menos valiosa ou menos

    importante a causa eficiente (a operao de fazer a causa material receber a causa formal,

    ou seja, o fabricar natural ou humano) e a causa mais valiosa ou mais importante a causa

    final (o motivo ou finalidade da existncia de alguma coisa).

    Depois de Aristteles, Augusto Comte se encarregou de ampliar a viso de o que era

    ideologia. Para Comte, a humanidade tende a passar por trs fases: a fase fetichista ou

    teolgica em que o homem explica a realidade por meio do mover divino; a fase metafsica

    em que o homem explica a realidade atravs de princpios gerais e abstratos; e a fase

    positiva ou cientifica em que o homem contempla a realidade, a analisa, formula leis gerais

    e cria uma cincia social que servir de base para o comportamento individual e coletivo.

    Cada uma dessas explicaes para os fenmenos naturais e humanos compe uma teoria,

    ou melhor, uma ideologia.

    Logo aps Comte, Marilena Chau comea a explicar Karl Marx e a sua viso em

    relao existncia da ideologia nas diferentes sociedades. Marx acredita que a ideologia

    se utiliza inmeros meios para alienar o povo, como por exemplo, atravs do Estado. Para o

    povo, este seria a representao do interesse geral, mas, na verdade, ele a expresso das

    vontades e interesses da classe dominante da sociedade. Outro exemplo de ideologia seria

    apresentar a sociedade civil como um indivduo coletivo, pois atravs disso ocultaria a

    realidade da sociedade que comprimida pela luta de classes.

  • 11

    No livro A Ideologia Alem Marx caracteriza a Ideologia e tem como objetivo um

    pensamento alemo posterior a Hegel. Marx no separa as condies sociais e histricas da

    produo das ideias em que so produzidas. Ele distingue o tipo de Ideologia produzido

    pelos pensadores franceses (Ideologia poltica e jurdica), ingleses (econmica) e alemes

    (filosfica).Se falarmos em Ideologia geral e Ideologia geral burguesa, as formas dessa

    Ideologia encontram-se determinadas pelas condies sociais em que se encontram os

    diferentes pensadores burgueses. Marx dirige duas crticas principais aos idelogos alemes

    seria o fato de que tiveram a pretenso de acabar com o sistema hegeliano, criticando

    apenas um aspecto da filosofia de Hegel em vez de faz-lo como um todo; o outro que

    tomaram um aspecto da realidade humana e passaram a deduzir todo o real a partir desse

    aspecto idealizado.

    Para Marx, se quisermos compreender a Ideologia alem, preciso sair da

    Alemanha e fazer umas consideraes gerais sobre o fenmeno da Ideologia. A Ideologia

    uma concepo distorcida da histria dos homens. Marx concebe a histria como um

    conhecimento dialtico e materialista da realidade social. Dentre as vrias fontes dessa

    concepo, encontra-se a filosofia hegeliana, que Marx criticava, mas conservava em

    aspectos essenciais por ele. Temos como exemplo, o tratado filosfico para compreender a

    origem e o sentido da realidade como cultura; define a Cultura pelos movimentos de

    exteriorizao e de interiorizao do Esprito; Combate histria do Esprito, que comea

    manifestando-se na produo de obras culturais; Pensa a histria como reflexo. Reflexo

    no sentido natural em que o raio luminoso retorna na direo da sua fonte luminosa, ou

    seja, volta sua origem. Nesse sentido, o Esprito sair para fora de si, criando a Cultura e

    volta para dentro de si, reconhecendo sua obra; Procura dar conta do fenmeno da

    alienao. Alienao no sentido de que o Sujeito no se reconhecer como produtor das

    obras e como sujeito da histria; Diferencia o modo como uma realidade aparece e o modo

    como produzida. Esses vrios aspectos do pensamento hegeliano constituem a dialtica,

    ou seja, a histria o movimento de posio, negao e conservao das ideias, e essas

    ideias so a unidade do Esprito (Cultura).

    Marx e Engels determinam o surgimento das Ideologias no instante em que a

    diviso social do trabalho separa o trabalho material de trabalho intelectual. Os homens se

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    distinguem dos animais porque produzem as condies de sua prpria existncia material e

    espiritual. A diviso social do trabalho no uma simples diviso de tarefas, mas a

    manifestao de algo fundamental na existncia histrica.A diviso social do trabalho

    origina e originada pela desigualdade social ou pela forma da propriedade. As ideias

    nascem da atividade material.

    A forma inicial da conscincia a alienao, e, por causa disso, a Ideologia ser

    possvel: as ideias sero tomadas como anteriores prxis, como um poder espiritual

    autnomo que comanda a ao material dos homens. A diviso social do trabalho torna-se

    completa quando o trabalho material e o espiritual separam-se. Nasce agora a Ideologia

    propriamente dita, ou seja, o sistema ordenado de ideias e das normas e regras como algo

    separado e independente das condies materiais. Logo, Marx e Engels consideram trs

    aspectos que so condies sine qua non para que haja histria: fora de produo, relaes

    sociais e conscincia. Tais condies entram em contradio como resultado da diviso

    social do trabalho material e intelectual. Foi instalada para a prpria conscincia imediata

    dos homens a percepo da desigualdade social: uns pensam, outros trabalham; uns

    consomem e outros produzem e no podem consumir os produtos de seu trabalho. Outra

    contradio surge entre os interesses de um indivduo e os interesses coletivos. Pois onde

    houver propriedade privada, no pode haver interesses sociais comuns. O Estado toma

    forma autnoma a partir do interesse coletivo contido na relao de contradio com o

    interesse particular. Mas como quem rege os pensamentos de uma sociedade a classe

    dominante, o Estado a forma pela qual os interesses da parte mais forte e poderosa da

    sociedade ganham a aparncia de interesse de toda sociedade. O Estado uma comunidade

    ilusria; a expresso poltica da sociedade civil enquanto dividida em classes; a vitria

    de uma parte da sociedade sobre outras. O Estado realiza sua funo apaziguadora e

    reguladora da sociedade atravs de um mecanismo impessoal que so as leis ou o Direito

    Civil.Est aberto o caminho para a Ideologia poltica que explicar a sociedade atravs das

    formas dos regimes polticos (aristocracia, monarquia, democracia, tirania, anarquia) e que

    explicar a histria pelas transformaes do Estado (passagem de um regime poltico para

    outro).A diviso social uma situao que no ser superada por meio de teorias, mas pelas

    relaes sociais de produo e suas representaes pensadas. Assim, a transformao

    histrica capaz de ultrapassar essas divises e as contradies depende de pressupostos

  • 13

    prticos e no tericos. Que o surgimento da massa da humanidade como massa

    inteiramente destituda de propriedade; preciso que o modo de produo capitalista tenha

    se tornado um processo histrico mundial para que uma revoluo plena possa efetuar-

    se.Sem as condies materiais da revoluo, intil a ideia de revoluo. Mas sem a

    compreenso intelectual dessas condies materiais, a revoluo permanece como um

    horizonte desejado, sem encontrar prticas que a efetive.

    A histria no o desenvolvimento das ideias, mas o das foras produtivas, a luta de

    classes. A sociedade civil o palco onde se desenvolve a histria. o sistema de relaes

    sociais que se organizam na produo econmica, nas instituies sociais e polticas, e que

    so representadas por um conjunto sistemtico de ideias jurdicas, religiosas, polticas etc.

    o lugar onde a famlia, igrejas, escolas e o conjunto das relaes sociais so pensados por

    meio das ideias. A sociedade civil no a sociedade, ou seja, uma espcie de grande

    indivduo coletivo feito de partes ou rgos funcionais que ora esto em harmonia ora em

    crise, e sim uma das grandes ideias da Ideologia burguesa para ocultar o fato de que a

    sociedade civil a produo e reproduo da diviso em classes e tambm luta de classes.

    Na pratica isso significa que as classes sociais no esto feitas e acabadas pela sociedade,

    mas esto se fazendo umas s outras por sua ao, e esta ao produz o movimento da

    sociedade civil; e que o conjunto das prticas sociais faz dos indivduos membros de uma

    classe social. O sujeito da histria so as classes sociais.

    Marx e Engels mostram que as relaes dos indivduos com sua classe so relaes

    alienadas. Que a Ideologia no processo subjetivo consciente, mas um fenmeno objetivo

    e subjetivo involuntrio produzido pelas condies da existncia social dos indivduos. A

    Ideologia burguesa, atravs da sociologia, transforma em ideia cientfica essa coisa

    chamada classe social, estudando-a como um fato e no como resultado da ao do homem.

    a que se d a alienao do trabalhador: no se reconhece como ser transformador e sim

    como um ser vinculado a uma classe. A Ideologia burguesa produzir ideias que confirmem

    essa alienao. E mais a alienao o processo social como um todo que no produzido

    por um erro da conscincia que se desvia da verdade, mas o resultado da prpria ao do

    social dos homens. No a crtica, mas a revoluo a fora motriz da histria.

    Diferentemente do que pensavam os positivistas, a relao entre teoria e prtica uma

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    relao simultnea e recproca, por meio da qual a teoria nega a prtica como um fato dado,

    para revel-la como prxis social atividade socialmente produzida e produtora da existncia

    social. A prtica, por sua vez, nega a teoria como um saber separado e autnomo que

    comandaria de fora a ao dos homens. E negando a teoria, a prtica faz com que a teoria se

    descubra como conhecimento das condies reais de prtica existente, de sua alienao e

    transformao.

    Marx e Engels afirmam que conhecem um nico tipo de saber: a cincia da

    histria.Toda concepo histrica, at o momento, ou tem emitido completamente a base

    real da histria ou a tem considerado algo secundrio, sem qualquer conexo com o curso

    da histria, os historiadores apontam apenas a finalidade dos fatos, nem os analisam e nem

    os explicam. Na medida em que as foras reais (que explicam o processo de surgimento de

    um acontecimento) permanecem ocultas, o historiador-idelogo inventa causas e

    finalidades que acabam convertendo a histria numa entidade autnoma que usa os homens

    como meros instrumentos. Estamos diante da ideia da histria. Dessa forma, no s os

    acontecimentos histricos so explicados de modo invertido (o fim explica o comeo), mas

    tal explicao ainda permite que a classe dominante justifique suas aes.A histria

    tambm o processo de dominao de uma parte da sociedade sobre todas as outras. A

    Ideologia um dos meios usados pelos dominantes para exercer a dominao, fazendo com

    que esta no seja percebida como tal pelos dominados.Os seguintes aspectos tornam a

    Ideologia quase que incompatvel pois temos a separao entre trabalhadores e pensadores;

    o fenmeno da alienao. Enquanto no houver um conhecimento da histria real; enquanto

    a teoria no mostrar o significado da prtica imediata dos homens, a Ideologia se manter; e

    a dominao de uma classe sobre as outras.

    Logo, a Ideologia resultado da luta de classes e tem por funo esconder a

    existncia dessa luta. E que o poder ou a eficcia da Ideologia aumenta quanto maior for

    sua capacidade para ocultar a origem da diviso social em classes e a luta de classes.

    Para Marilena Chau o papel da ideologia impedir que a dominao e a explorao

    sejam percebidas em sua realidade concreta. Isso est relacionado com o principio do

    Kitsch, que em essncia significa a tentativa de esconder, de varrer para debaixo do tapete

  • 15

    aquilo que h de inaceitvel e contraditrio na existncia humana, criando uma iluso de

    que tudo belo e perfeito.

    O kitsch pode ser entendido como uma forma de ideologia. Na segunda guerra

    mundial, os meios de comunicao nos pases comunistas eram controlados, de forma que o

    que se passava era somente o lado bom daquele regime; isso uma forma de transmitir a

    ideologia. Ideias criadas por uma minoria e passadas maioria, de forma que se paream

    ideias universais.

    A classe dominadora s poder manter seus privilgios se dominar politicamente e

    se dispuser de instrumentos para essa dominao. Esses instrumentos so o Estado e a

    Ideologia. Por sua vez, o grande instrumento do Estado o Direito, auxiliado pela

    Ideologia. O papel do Direito fazer com que a dominao no seja tida como uma

    violncia, mas como legal e ser, por isso, aceita. A lei direito do dominante e o dever

    dever do dominado. Porm, se o Estado e o Direito fossem vistos como realmente so, ou

    seja, como instrumentos para o exerccio consentido da violncia, ambos no seriam

    respeitados, e os dominados se revoltariam.

    A funo da Ideologia consiste em impedir essa revolta. Assim, a Ideologia substitui

    a realidade do Estado pela ideia do Estado. A maneira pela qual a classe dominante

    representa a si mesma se tornar a maneira como todos os membros dessa sociedade

    pensaro. Logo, a Ideologia o processo pelo qual as ideias das classes dominantes tornam-

    se ideias dominantes de todas as classes sociais de modo que a classe que domina no plano

    material domina tambm no plano espiritual.

    Para que as ideias de classe dominante cheguem s outras classes, ela as distribui

    atravs da educao, religio, costume, meios de comunicao etc. As ideias de Ideologia

    so,portanto,universais e abstratas.

    Os idelogos so alguns membros das classes dominante e mdia, aliada da

    primeira, que esto encarregados de transformar as ideias da classe dominante em

    representaes coletivas ou universais.

  • 16

    O processo histrico real, para Marx e Engels, o de que cada nova classe em

    ascenso e desenvolvimento precisa formular seus interesses de modo sistemtico e precisa

    fazer com que tais interesses apaream como interesses de toda a sociedade.

  • 17

    Capitulo I - A participao popular que muda o

    rumo de uma Ideologia Poltica.

    A participao poltica uma forma democrtica de manifestao do povo em

    relao ao poder estabelecido, para que a sociedade possa encontrar seus caminhos atravs

    da unio de todos em prol dos objetivos da justia social, cidadania, respeito aos valores e

    aos princpios da dignidade humana.

    Por isso, a participao poltica um dever de todos, importante que exista,

    porque atravs dela todos podem exercer a sua vontade e tomar conscincia do que est

    sendo feito. Em outras palavras, deve agir como um poder fiscalizador das polticas

    pblicas, que no podem ficar restritas a um pequeno nmero de indivduos que ditam as

    normas, sem conhecerem o que os outros pensam a respeito.

    Veremos, como cada indivduo que participar na poltica, poder favorecer a plena

    realizao de cada participante como ser humano, contribuindo para a construo de uma

    nova sociedade, na qual as decises polticas sero de responsabilidade de todos.

    Para isso necessrio analisar os contextos histricos, sociais e polticos, a

    expresso "participao poltica" se presta a inmeras interpretaes. Se considerarmos

    apenas as sociedades ocidentais que consolidaram regimes democrticos, por si s, o

    conceito pode ser extremamente abrangente.

    I.I Onde a cidadania mais que um conceito.

    A participao poltica designa uma grande variedade de atividades, como votar, se

    candidatar a algum cargo eletivo, apoiar um candidato ou agremiao poltica, contribuir

    financeiramente para um partido poltico, participar de reunies, manifestaes ou comcios

    pblicos, proceder discusso de assuntos polticos.

    O conceito1 de participao poltica tem seu significado fortemente vinculado

    conquista dos direitos de cidadania. Em particular, extenso dos direitos polticos, aos

    cidados adultos.

    1 No texto participao poltica e cidadania Renato Cancian, especial para Pedagogia e Comunicao.

  • 18

    Todos experimentamos o exerccio da cidadania ou o seu desrespeito na vida e,

    assim, acabamos perfeitamente aptos para apontar a existncia ou a falta da mesma sem

    dificuldades. Esta realidade permite alcanar o contedo que aquele termo designa a partir

    de uns cem nmeros, de direitos que o integram. Tais direitos, seguindo a moral de vida de

    uma sociedade e de seus interesses, vo sendo estendidos e ampliados, favorecendo, por

    conseguinte, a identificao do significado e contedo da cidadania em uma quase infinita

    variedade de situaes.

    Cidadania, palavra derivada de cidade, estudada por Aristteles, mais bem

    compreendida se pensarmos a cidade como o Estado. Desse modo entendida cidadania,

    possvel dizer que, todo cidado, que integra a sociedade pluralista do Estado democrtico,

    senhor do exerccio da cidadania, a qual, em sntese, vocbulo que expressa um extenso

    conjunto de direitos e de deveres.

    Esta idia, de exerccio de um vasto conjunto de direitos e de deveres, consiste o

    conceito amplo de cidadania, cujo contedo, superior ao conceito estrito de cidadania, o

    qual percebido unicamente como o exerccio do direito e dever polticos de votar e de ser

    votado, s adquire pleno significado, no mundo contemporneo, num Estado democrtico

    de direito. E, normalmente, na atualidade, quando fazemos referncia cidadania, estamos

    falando de seu sentido ampliado.

    Perceber o pleno alcance do conceito amplo de cidadania, hoje, exige,

    necessariamente, o ambiente de vida e de convvio entre os homens tpico e prprio de um

    Estado democrtico de direito. Em sua acepo ampla, cidadania constitui o fundamento

    da primordial finalidade daquele Estado, que possibilitar aos indivduos habitantes de um

    pas o seu pleno desenvolvimento atravs do alcance de uma igual dignidade social e

    econmica.

    O ambiente de vida social do Estado democrtico, cujos pilares de sustentao

    encontram-se na admisso, na garantia e na efetividade dos direitos fundamentais da pessoa

    humana, em uma sociedade solidria, tornado real atravs da observao de vrios

    postulados que lhe so essenciais. So pressupostos do Estado democrtico; a valorizao e

    atualidade da dignidade do homem e o reconhecimento da importncia de dispensar a

    todos, tratamento fraternal, igualitrio e no discriminativo; a confiana nos talentos e

  • 19

    possibilidades latentes dos homens; a segurana e o crdito nos valores institucionalizados

    pelas massas, como fundamentos para o progresso do bem comum e o alcance da justia; a

    aceitao da legitimidade das decises tomadas por meio de processos racionais e

    participativos de deliberao, com o consenso da maioria, que constitui o reflexo, o

    resultado de debates livres entre todos; o respeito aos grupos minoritrios; e, a compreenso

    de que todo o interesse geral a sntese dos diversos interesses e idias dos indivduos e

    dos grupos, diferentes centros de poder, que integram a sociedade pluralista.

    Diante disso, percebe-se que, o conceito amplo de cidadania, est conectado e

    conjugado, porque encontra a seus princpios bsicos estruturastes, aos conceitos de

    democracia e de igualdade.

    O princpio de igualdade disciplina todas as atividades pblicas e tem aplicao

    direta nas relaes privadas, que ocorrem entre os particulares, impondo, para torn-lo real,

    a proibio de discriminaes e a eliminao das desigualdades fticas nos planos social e

    econmico, proporcionando a todos os cidados igual condio de vida e mesma posio

    perante o Estado democrtico. E, tambm para a realizao da cidadania, o princpio

    democrtico torna indispensvel participao popular nas tomadas de deciso.

    A cidadania, no Estado democrtico de direito, efetivada, oferece aos cidados,

    como iguais condies de existncia, o gozo atual de direitos e a obrigao do cumprimento

    de deveres, que, resumidamente, podem ser assim apresentados: exerccio de direitos

    fundamentais e participao; e, os deveres de colaborao e solidariedade. Sabendo-se que

    todo cidado tem sua existncia acompanhada do exerccio de direitos fundamentais e do

    direito de participao. Sobre a participao, cumpre asseverar que este direito significa a

    capacidade de ser consultado para as tomadas de deciso que dizem respeito direo da

    sociedade em que vive o cidado e que, dentre os direitos de participao poltica, tais

    como a igualdade de sufrgio, o direito de voto e de elegibilidade, e o direito de petio,

    ainda importa recordar outro que tambm a integra, o direito de iniciativa popular.

    As iniciativas populares de leis, que cabe aos cidados (o 2 pargrafo do artigo 61

    da Constituio da Repblica brasileira), o referendo e o plebiscito, correspondem a

    alternativas de participao poltica (o referendo e o plebiscito devem ser determinados,

    para que se verifiquem, pelo Congresso Nacional).

  • 20

    O exerccio de todos os direitos inerentes ao Estado democrtico e do direito de

    participao, acompanhado do respeito aos deveres de contribuir para o progresso social e

    de acatar e respeitar o resultado final obtido em cada consulta coletiva.

    A respeito dos direitos fundamentais, os quais representam, na verdade, situaes

    reconhecidas juridicamente sem as quais o homem incapaz de alcanar sua prpria

    realizao e desenvolvimento plenamente, consistindo o resultado da luta dos homens por

    um direito ideal, justo e humano, que foram e vo sendo aperfeioados e estendidos ao

    longo do tempo, os mesmos estabelecem faculdades da pessoa humana que permitem sua

    breve classificao do seguinte modo: os direitos de liberdade, como por exemplo, a

    liberdade de conscincia, de propriedade, de manifestao do pensamento, de associao;

    os direitos de participao poltica, tais como a igualdade de sufrgio, o direito de voto e de

    elegibilidade, o direito de petio, e os direitos de participao poltica; os direitos sociais,

    que abrangem os direitos de natureza econmica, como por exemplo, o direito ao trabalho,

    de assistncia sade, educao; os direitos chamados de quarta gerao, por exemplo, o

    direito preservao do meio ambiente e qualidade de vida.

    I.II- Uma Nova Ideologia

    A participao poltica dos indivduos na sociedade global apresenta-se como um

    caminho, uma das principais vias alternativas, para o alcance da insero social e da

    diminuio das desigualdades econmicas reveladas pela globalizao.O processo de

    globalizao em marcha acabou com os limites geogrficos, mas no eliminou a fome, a

    misria e os problemas polticos de milhes de globalizados que vivem abaixo da chamada

    linha da pobreza absoluta, no encontram pontos de referncia para tornarem-se agentes de

    influncia poltica no processo global. Enfrentar e superar essas dificuldades, exige do

    indivduo autonomia, a construo de uma identidade pessoal, capaz de delimitar espaos e

    gerar novas conscincias de cidadania.

    O alienante2 predomnio das coisas sobre os homens, tem criado enormes barreiras

    para a tomada de conscincia dos indivduos, o que dificulta ainda mais a superao das

    2 Poltica e Educao - Globalizao e Participao Poltica. Valmir Lima.

  • 21

    dificuldades de participao poltica e a conseqente insero na sociedade globalizada. O

    indivduo no consegue ter domnio de um aparato mecanizado, que cria constantes

    necessidades, tenciona as relaes sociais e dita as normas no mundo globalizado.

    O indivduo tem extremas dificuldades de situar-se em uma sociedade, que assim

    como assinala o declnio do Estado-nao, fazem surgir os novos grandes centros

    mundiais de poder, soberania e hegemonia. A situao to problemtica e contraditria

    que ele j no consegue identificar os donos do poder. Fica deslocado ainda mais do centro

    das decises polticas, diante da doutrina neoliberal que transfere as possibilidades de

    soberania para as organizaes, corporaes e outras entidades de mbito global.

    As elites buscam criar condies que nunca se resolvem, acenam para os indivduos,

    constantemente, com novas perspectivas, aliam-se a setores sociais, partidos ou governos,

    mas definem as decises segundo as suas razes e interesses polticos. Ao cidado aparece

    uma globalizao de padres de consumo, de mtodos e estilos que se neutralizam de

    formas diferentes na vida de cada um. A mesma diversificao de valores que lhe

    apresentada, retira-lhe a capacidade da escolha autnoma e reduz-lhe a possibilidade de

    participao poltica.

    H de se considerar tambm a universalizao dos meios de comunicao, que

    levou aldeia global informatizada. Tudo que se globaliza, virtualiza-se. As prprias idias

    transfiguram-se na magia da eletrnica. robotizado, o indivduo no encontra o ponto de

    referncia da reflexividade poltica. O problema maior do indivduo encontrar a

    essencialidade da verdade dos fatos, parmetros de compreenso entre o que informa e o

    que aliena na globalizao. So questes essencialmente ideolgicas, normalmente

    manipuladas pelos meios de comunicao de massa, e que expressam uma nova concepo

    acerca da transformao social e da prtica poltica.

    Ao indivduo necessrio compreender que a globalizao um processo em

    marcha, inacabado, que modifica as suas condies de autonomia, porm no o impede de

    refletir, pensar e agir. As dificuldades que enfrenta de participao poltica esto em

    encontrar-se na imensido interativa de conceitos, valores, idias, que alargam ou reduzem

    horizontes, diante da maior ou menor capacidade de discernimento das foras que atuam no

  • 22

    desenvolvimento da globalizao, a qual, modificam substancialmente as condies de vida

    e trabalho, os modos de ser, pensar e imaginar. Modifica as condies de alienao e as

    possibilidades de emancipao dos indivduos.

    O desafio do indivduo de vencer suas dificuldades de participao poltica est em

    grande medida, na capacidade do mesmo em compreender que a poltica deve ser uma

    atividade lcida, que necessita de homens lcidos, capazes de lutar por uma sociedade

    autnoma, que forme necessariamente indivduos autnomos.

    Uma poltica de autonomia, deve por sua vez, agir sobre os indivduos, com o

    objetivo, de que possa ajud-los a atingir a sua prpria autonomia. Um projeto de

    autonomia , pois, a transformao do sujeito de maneira que ele possa ser participante do

    processo, ou seja, tenha participao poltica na sociedade em que vive.

    A participao poltica, portanto, exigncia bsica para que o indivduo supere as

    barreiras impostas pela globalizao e consiga desenvolver aes de cidadania dentro da

    prpria sociedade global. Nesse sentido, necessrio encurtar o distanciamento entre as

    formas institucionais existentes, sejam jurdicas ou polticas, e a real possibilidade de

    reconhecer nas leis, nas instituies, as suas prprias leis e o seu prprio poder.

    A cidadania, compreendida como soberania, implica, necessariamente, em

    indivduos que tenham alcanado um grau de autonomia, de participao poltica, de

    autoconscincia. Nesta altura da globalizao as possibilidades de autoconscincia ainda

    so reduzidas, limitadas.

    H uma constante problematizao da prpria sociedade global. As naes

    integram-se e desintegram-se na velocidade da luz. As transformaes sociais so to

    intensas, que assim como revolucionam pela informatizao, fazem ressurgir fatos que

    pareciam esquecidos, anacrnicos. Os horizontes abertos pela globalizao iluminam o

    presente e recriam o passado.

    Os indivduos esto acoplados a uma mdia impressa e eletrnica, que transforma o

    mundo em paraso das imagens, criam linguagens e formas de expressar que dissolvem as

  • 23

    barreiras herdadas do territorialismo. Tudo se desterritorializa. O mundo transforma-se em

    territrio de todo mundo, se torna grande e pequeno, homogneo e plural, articulado e

    multiplicado. Mesmo os centros decisrios mais fortes, nem sempre se afirmam absolutos,

    inquestionveis. Globalizam-se perspectivas, dilemas sociais, polticos econmicos e

    culturais. Os problemas nacionais mesclam-se com as realidades e os problemas mundiais.

    necessrio, porm, que o indivduo veja o mundo como um conjunto de naes e

    regies formando um sistema global, integrado a uma rede de interdependncias, que est a

    exigir-lhe a todo instante tomada de decises. O posicionar-se lhe exige a superao da

    crise da razo, isto , o rompimento dos limites impostos pela tradio.

    importante que o indivduo supere as prticas polticas institudas no passado,

    para alcanar a participao poltica na globalizao. A submisso, o conformismo e a

    alienao no lhe conduzem ao caminho da autonomia, via principal para o alcance da

    reflexividade social, do conhecimento atualizado, da tomada de deciso e, por conseguinte,

    da prpria participao poltica.

    A autonomia requisito bsico para a participao poltica do indivduo na

    globalizao. Somente um indivduo autnomo capaz de processar e selecionar

    informaes, ter domnio de conhecimento, tomar decises e posicionar-se frente a um

    mundo de riscos, incertezas e conflitos globais.

    A autonomia leva o indivduo participao poltica, porm, no deve estar atrelada

    s justificaes de ordem econmica ou ideolgica que o incapacite ou o impea a condio

    de ser, agir e entender as contradies que permeiam o mundo globalizado.

    As mudanas que acompanha a formao e o desenvolvimento da sociedade global,

    tm colocado os indivduos, situados em diferentes lugares e distintas condies, sociais e

    culturas. A interconexo global criou cadeias de decises polticas, que so vias possveis

    para que os indivduos alcancem autonomia e passem a participar politicamente.

    Outra relao importante a ser considerada dentro da globalizao, so as

    necessidades de consumo e a dependncia dos indivduos em satisfaz-las neuroticamente.

  • 24

    A sociedade global uma imensa mquina de criar necessidades. A compulsividade

    consumista fragiliza o indivduo frente s regras de mercado, o induz a perda de autonomia,

    a submisso ao capital e ao empobrecimento poltico.

    A globalizao do capitalismo joga o indivduo em um mundo de controvrsias,

    quase de crise existencial, j que oscila entre o sonho de satisfazer todos os seus desejos e a

    realidade de no poder realiz-los.

    globalizao o que interessa a angstia do indivduo, que o distancia da razo,

    do equilbrio entre o poder e querer e o torna um compulsivo do consumo. o processo de

    massificao e homogeneizao cultural, que no apenas gera vcios consumistas nos

    indivduos, como tambm os impede de participarem politicamente.

    A globalizao do consumo pelo consumo afeta o comportamento social do

    indivduo e sentida de diferentes formas e intensidade na vida de cada cidado. H de se

    considerar a maior ou menor transferncia de estilos pelo grande sistema de informao,

    desde um simples comercial de televiso aos sofisticados sites na rede mundial de

    computadores.

    A3 chamada informao em tempo real, no d tempo ao indivduo de pensar, ou

    ainda o que fundamental, de refletir e encontrar o ponto de conscincia entre o que

    necessrio consumir, e a necessidade consumista. Observa-se assim que os indivduos

    mantm-se refns da globalizao. Ainda no encontraram as condies de domnio de suas

    prprias vontades e distanciam-se cada vez mais dos centros das decises.

    Os fatores que os afastam se revelam to naturalmente, que so aceitos como

    inerentes evoluo tecnolgica e cientfica da humanidade. O indivduo visto como o

    pndulo de um relgio que oscila aos extremos, mas no consegue o domnio ou controle

    dos rumos a seguir.

    A participao poltica exige convico de deciso, clareza do que se busca e

    certeza nas escolhas. Estas exigncias, apregoadas pela prpria globalizao, parecem to

    3 Poltica e Educao Globalizao e Participao Poltica. Valmir Lima

  • 25

    bvias, porm, ganham um grau de complexidade enorme quando requeridas no contexto

    do desequilbrio social e econmico do mundo global.

    Dispersos nas dessemelhanas tnicas, culturais e econmicas, banalidades no

    contexto da globalizao, os indivduos no encontram recursos de discernimento lgico,

    que lhes afiance domnio de poder decisrio, autonomia e participao poltica na

    sociedade global.

    Os4 indivduos vivem um mundo de problemas e desafios na globalizao. Nunca se

    falou tanto em dificuldades como nos tempos atuais. A velocidade que traz a mudana

    afasta a soluo. Os problemas oscilam nos extremos da inquietude ou na falta de limites da

    angstia. Os desafios no tm limites de exigncias, renova-se a todo instante e tornam-se

    mais complexos, medida que aumenta a globalizao das relaes sociais.

    As diversidades tnicas, culturais, econmicas e polticas que compem o mundo

    global, na verdade no so diferenas entre espaos fsicos da globalizao e sim entre

    indivduos que tm lnguas diferentes, costumes diferentes grau de desenvolvimento social

    diferente e principalmente pensam diferentemente.

    A heterogeneidade de conceitos entre indivduos na globalizao cria grandes

    barreiras para o enfrentamento de desafios como a humanizao das decises econmicas, a

    diversidade cultural, cientfica e tecnolgica, ainda presas a uma sociedade tradicional, que

    no consegue superar as diferenas tnicas e polticas, que separam os homens nos limites

    do desejo e do consumo provocados na multiplicidade de interesses do mundo global.

    Questionado na globalizao de exigncias que o cerca, o indivduo no consegue

    ter respostas aos desafios que lhe so impostos. So exigncias que criam grandes

    obstculos participao poltica, que intimidam posicionamentos e revelam deficincias

    de formao global, no entendimento de mundo.

    4 Poltica e Educao Globalizao e Participao Poltica. Valmir Lima

  • 26

    Observa-se que as dificuldades de participao poltica na sociedade global,

    decorrem de dois aspectos que precisam ser considerados: os de ordem pessoal e aqueles

    que vm de uma conjuntura poltica que englobou idias, mas no ensinou a pensar.

    Confinados no limite da viso dos seus mundos pessoais ou na imensido de um,

    global, que os manipula a todo instante, os indivduos enfrentam provocaes que os

    desnorteiam na complexidade de exigncias que lhes so feitas.

    Os indivduos so cobrados, a todo o momento, e suas deficincias se revelam pela

    maior ou menor capacidade de desempenho das suas tarefas de rotina. A globalizao exige

    indivduos melhores preparados, que saibam ouvir, mas que assumam funes de tomada

    de deciso, que tenham iniciativa prpria, mas sejam fiis aos princpios neoliberais de

    tratar globalmente as questes sociais e econmicas.

    No mbito poltico, o objetivo desconsiderar toda a forma de organizao que no

    considere a realidade da desigualdade social, como resultado das diferenas histricas,

    tnicas ou econmicas, entre os povos. No aspecto cultural a miscigenao de valores

    globais ainda no aconteceu. No h claramente definida uma cultura global, que possa dar

    ao indivduo, uma identidade de cidado do mundo.

    A indstria cultural adquire alcance global, na dimenso do interesse econmico

    que a sustenta, tambm pela sobreposio de valores e objetivos das classes dominantes e,

    torna-se um desafio vida do indivduo quando j consegue comandar o seu modo de

    informar-se, divertir-se e pensar os problemas reais ou imaginrios.

    Querendo ou no, estamos todos presos em uma grande experincia, que est

    ocorrendo no momento da nossa ao como agentes humanos -, mas fora do nosso

    controle, em um grau impondervel. No uma experincia do tipo laboratorial, porque

    no controlamos os resultados dentro de parmetros fixados mais parecida com uma

    aventura perigosa, em que cada um de ns, querendo ou no, tem de participar.

    O indivduo precisa compreender a complexidade do mundo que o cerca. Entender

    os seus contrastes, que oscilam nos limites das "verdades" que o sustenta e acreditar, que

  • 27

    por mais fortes que se revelem os centros decisrios, nem sempre so absolutos e

    inquestionveis.

    Aos indivduos o processo social da globalizao parece mais desafiador que o

    processo poltico. Por uma dificuldade de contextualizar a sociedade como integrante de

    uma estrutura poltica, a concepo ideolgica do mundo no lhes est presente. No se

    sentem agentes polticos da transformao social, passivamente aceitam ser dominados, no

    encontram meios de organizao e empobrecem politicamente. O empobrecimento poltico

    os afasta da responsabilidade de definir posies, de sentirem-se comprometidos com os

    rumos da prpria globalizao. Faz surgir um descompromisso coletivo com a realidade

    poltica, como se essa no influenciasse nas relaes de domnio na sociedade globalizada.

    A participao poltica na globalizao passa pelo desafio do indivduo

    compreender, que a mesma racionalizao que articula progressivamente as mais diversas

    esferas da vida social, acentua e generaliza a alienao de uns e outros, tambm em mbito

    universal. A marcha da racionalizao caminha junto com a alienao, uma e outra se

    determinando reciprocamente.

    Os indivduos necessitam compreender, e este um desafio de ordem pessoal, que a

    sociedade global no uma mera extenso quantitativa da sociedade nacional, que a

    desterritorializao no os desobriga responsabilidade de autodeterminao. Precisa-se de

    indivduos preparados intelectual e politicamente, capazes de decidir e agir nas afrontas

    globais do servilismo anacrnico institudo e encontrar caminhos de reverso das

    disparidades sociais.

    O desafio da preparao pessoal, singular dos indivduos na globalizao, no uma

    tarefa simples, j que as influncias que sofrem extrapolam ao campo da invididualidade.

    Nascem do campo da impessoalidade. Nascem de mltiplas direes, esto na

    complexidade dos processos sociais, nas estruturas de dominao e apropriao das

    instituies sociais, nos discursos ideolgicos e ganham dimenso nas informaes e

    contra-informaes de uma mdia globalizante.

  • 28

    Vive-se um cotidiano configurado pela fabulosa massa de informao disponvel,

    veiculada eletronicamente em escala planetria, estruturante do indivduo e determinante de

    um novo movimento que questiona o homem e sua humanidade, enquanto a realidade

    multiplamente questionada e problematizada.

    A globalizao um constante questionamento do processo de autonomia dos

    indivduos, das influncias que possam receber na definio de modelos polticos, que se

    mostram ao mesmo tempo individuais e sociais e os deixam desamparados frente s

    instituies. Surgem da o desafio da busca da tomada de posies de autonomia, de

    domnio de conhecimento, das influncias das instituies na definio das bases de uma

    sociedade, que dita o comportamento social e a postura poltica dos indivduos na aldeia

    global.

    Sendo assim, a postura comportamental do indivduo na globalizao assume

    diferentes facetas, em funo da sua maior ou menor dificuldade no controle dos

    conhecimentos que possa ter em relao s formas institucionais existentes e da definio

    poltica que conceba da sociedade global.

    Indivduos que tem dificuldades de conceber a sociedade globalizada na sua

    pluralidade de interesses, que sejam despreparados intelectualmente, com certeza no

    encontram parmetros de compreenso entre as condies de alienao e as possibilidades

    de autonomia poltica na globalizao. A sociedade global modifica-lhes as condies de

    vida e trabalho e no lhes concede oportunidades de aprender a v-la com esprito crtico. A

    alienao cultural, ainda enraizada em uma identidade nacional, acompanha a alheao

    poltica, conduz o indivduo a eximir-se de responsabilidades e torna-se um obstculo

    participao poltica.

    Considerando-se a freqente lentido com que se modifica a identidade de inmeras

    pessoas e o desejo intenso que muitas delas sentem de reafirmar seu controle sobre as

    foras que moldam sua vida, provvel, admitem os globalistas, que as complexidades da

    poltica da identidade nacional persistam. Porm, somente uma viso de poltica global

    pode vir a se adaptar aos desafios polticos de uma era mais globalizada, marcada por

  • 29

    comunidades de destinos que se superpem e por uma poltica que envolva; o local, o

    nacional, o regional e global.

    O desafio de ser participativo, de encontrar o poder da tomada de decises, no se

    esgota apenas no domnio das potencialidades culturais dos indivduos, que so importantes

    mas no necessariamente determinantes, j que existem os alienados voluntrios da

    poltica. A estes, a maior dificuldade de participao poltica est em no desejar definir

    posies polticas acerca da globalizao.

    So essas diversidades de condutas, muitas enraizadas em valores tradicionais

    (ignorados pela globalizao), que deixam os homens globalizados reduzidos a meros

    coadjuvantes no processo da mundializao de aes polticas, que criam dificuldades de

    compreenso da teoria que movimenta o mundo global.

    Os indivduos so peas ou partes de rgos em constantes deslocamentos pela

    aldeia global. Mesmo que no saiam dos lugares onde vivem, sofrem os efeitos da imensa

    cadeia de informao disponvel, veiculada em escala planetria, que os conduz,

    aleatoriamente, a valores globais.

    A globalizao da mdia trouxe para o indivduo, o desafio de conviver com uma

    realidade planetria, com formas diferentes de vida, com estilos desiguais de sociedades,

    que o cerca, o assedia nos mais ntimos valores culturais e lhe exige acompanhamento

    permanente das mudanas que mudam as regras sociais e familiares.

    Essa pluralidade de novos conceitos, de mltiplos parmetros de relacionar-se em

    sociedade, desafia os indivduos a todo instante, exige um reciclar constante de

    comportamento, a busca de uma nova identidade pessoal no contexto de uma mudana em

    seu pensamento global.

    A nova ordenao da sociedade mundial cria cadeias decisrias, que alteram a

    natureza e a dinmica das relaes entre os indivduos. A necessidade de participao

    poltica torna-se uma exigncia nos riscos, incertezas e conflitos que se revelam no

    entrelaamento do indivduo com o sistema global.

  • 30

    As aes cotidianas dos indivduos mostram a essencialidade da prtica poltica nos

    processo da definio de rumos na globalizao. Normalmente alheios aos centros de

    decises, perdem o domnio do conhecimento, a capacidade de decidir, processar e

    selecionar informaes que lhes garantiriam inverter as condies de submisso,

    conformismo e alienao impostas pelo mundo global.

    Para impor-se, enquanto cidado nesta aldeia global, o indivduo tem que conquistar

    autonomia. Necessita relacion-la como principal via para vencer as dificuldades de

    compreenso poltica, como instrumento de formao de um cidado capaz de ser e agir, de

    ter um entendimento crtico da sociedade globalizada. Esses so desafios que implicam,

    necessariamente, na mudana de comportamentos, que exigem dos indivduos atitudes

    claras, objetivas, frente aos princpios excludentes do neoliberalismo. A busca da

    autonomia passa a ser uma exigncia constante medida que o principal vis para o

    alcance da participao poltica na globalizao.

    igualmente um desafio para o indivduo, ter a compreenso de uma nova ordem

    econmica internacional, quando parte integrante de uma legio de excludos, que

    aumenta a todo instante a escala da desigualdade social e cria um mundo de dominao e

    dependncia entre os homens.

    A maior provocao aos indivduos, neste contexto global, a da edificao de um

    processo de autonomia poltica, que o ensine aprender a ocupar espaos pblicos e perder

    vcios de dependncia s prticas polticas do passado. A autonomia deve capacit-lo a

    inserir-se no contexto social e a compreender as circunstncias da existncia humana na

    globalizao. Ao contrrio, permanecer preso a uma estrutura de dominao e

    dependncia, em crise de razo frente a incessante globalizao do mundo.

    A crise existencial do homem globalizado, mais do que uma perturbao de vida,

    um desafio turbulncia da incerteza, do medo, da perplexidade que o cerca no mundo

    global, cada vez mais o homem obrigado a abdicar da rigidez das idias, atitudes e tipos

    de comportamentos fundamentados no sistema de valores tradicionais e buscar respostas

    nos parmetros de uma "modernidade reflexiva", que em muitos aspectos ainda esto para

    serem formulados.

  • 31

    Assim, a capacidade poltica do indivduo exige, fundamentalmente, reviso de

    valores, sejam pessoais ou conjunturais, novas concepes do processo cultural civilizatrio

    em marcha na globalizao. Precisa o indivduo compreender que na globalizao cultural,

    ao mesmo tempo, que h muita perda, h muito ganho. Que preciso ter domnio das

    contradies globais, para viver com as fragmentaes e os antagonismos de uma sociedade

    que faz dos conflitos a sua base de sustentao.

    O indivduo pea integrante de um cenrio que ajuda a criar e recriar

    constantemente, mas no consegue experiment-lo. A todo instante torna-se o cenrio que

    desaparece, entra e sai de cena, parece estar sendo punido pela incapacidade poltica de

    enfrentar um processo de globalizao em mutao permanente.

    As definies da globalizao, principalmente econmicas, criam nos indivduos a

    desconexo com o seu mundo social, cultural e poltico. Deixam de perceber a

    mundializao em todas as suas esferas e no buscam paradigmas polticos para explic-las

    ou o que seria mais importante entend-las. Vem da, o que se pode chamar de alienao

    poltica conjuntural, isto , os indivduos por no perceberem o entrelaamento de

    interesses do mundo global, so facilmente manipulados pelas elites deliberantes que os

    comandam.

    A supremacia do poder econmico de uma camada social minoritria, que se utiliza

    de instrumentos especulativos da globalizao, coloca para o indivduo a realidade de que

    enquanto a economia melhora, o social piora. O desafio est em encontrar formas de

    participao poltica, que possam levar a uma nova concepo acerca da transformao

    social, que sejam prticas diferenciadas, flexveis, simultaneamente locais e globais.

    As condies de liberdade e democracia, inegveis avanos polticos, que o mundo

    experimenta nas ltimas dcadas, no tem se refletido na concretizao de uma conscincia

    de participao poltica dos indivduos na globalizao. Ainda presos a conceitos e formas,

    ou simplesmente um cego poltico, no conseguem construir, por exemplo, um

    sindicalismo de maior conscincia, compromisso e proposta, ou seja, mais pragmtico e

    menos ideolgicos.

  • 32

    Saber utilizar as condies de liberdade com participao poltica e assumir

    responsabilidades, um grande desafio que a ideologia colocou aos indivduos na

    globalizao.

    A ausncia de uma poltica de vida, fez o indivduo distanciar-se dos centros

    decisrios, submeter-se fora do mercado. Surge, a partir de ento, legies de excludos

    sociais que passam a viver margem de propagadas conquistas e grandes avanos da

    globalizao. A esses a globalizao separatista, segregacionista, espoliadora social e

    politicamente.

    As conseqncias da excluso social so estarrecedoras, quando se analisa o nmero

    de miserveis, indivduos que alm de no ter participao poltica na globalizao, vivem

    em grau de absoluta pobreza. Desde ento a excluso social vem aumentando em escala

    mundial, desafiando os limites de uma economia de mercado e de um sistema poltico que

    prega democracia, mas gera situaes extremas; tanto de generalizao da pobreza como de

    fortalecimento da plutocracia.

    Aos indivduos o desafio posto o de encontrar vias de participao poltica, que

    evitem a propagao ainda maior da pobreza mundial, que no deixem desaparecer s

    garantias de liberdade e de democracia; e que garantam que as possibilidades de construo

    de uma sociedade autnoma e da conquista da condio de cidado so to reais quanto os

    princpios excludentes da globalizao.

    O homem um ser essencialmente social e poltico. Quando lhe falta esta

    compreenso ou quando nega esta condio, torna-se um ser, ausente, potencialmente

    manipulvel, um mero ocupador de espaos fsicos, ou simplesmente um conformado

    observador das decises do mundo que o cerca. A compreenso da essencialidade poltica

    do homem torna-se exigncia ao prprio entendimento da sociedade em que vive. No h

    como separar, dissociar o indivduo do seu meio social, no h como deixar de reconhec-

    lo na definio ou emisso das aes polticas que definem a complexidade das relaes de

    poder na sociedade.

  • 33

    A globalizao uma abertura social, econmica e poltica do mundo, mas no

    eliminou a ligao do homem com seus valores, seus conflitos, seus anseios. Os cenrios

    so outros, as exigncias so diferentes, os desejos se alteram, mas os indivduos no

    perderam a essncia do pensamento e a mstica de fazer histria.

    Assim sendo, necessrio que as relaes de dominador e dominado, sejam

    democratizadas no mago da globalizao. Esta uma compreenso bvia, quando os

    indivduos se deparam com dificuldades de participao poltica na globalizao. Falta-

    lhes, como esta anlise demonstra, alternativas polticas que os estreitem na solidariedade

    contra a excluso social e os aproxime na humanizao pessoal.

    Os homens, ainda no encontraram pontos de referncias que os faam partes

    integrantes dos centros decisrios, ainda no aprenderam a lidar e decidir na complexidade

    das relaes de dominao do mundo global. No de se estranhar, portanto, que ainda no

    saibam superar as suas dificuldades de participao poltica e vem como uma exaustiva

    provocao necessidade de assumir posies na sociedade globalizada.

    As dificuldades de participao poltica dos indivduos na sociedade global

    ocasionam reflexos profundos na conquista de uma autonomia cidad, que lhes impedem de

    ascender aos discursos da conciliao das diferenas, do que justo, possvel e realizvel,

    que sustentam ideologicamente a globalizao. Conclui-se que os indivduos ainda no tm

    domnio desta nova estrutura de prticas polticas, que se sustenta no uso do conhecimento

    e da destreza tecnolgica. Assim so facilmente afastados dos centros decisrios do poder,

    tornam-se apndices de uma elite deliberante que fez nascer, comanda e se mantm neste

    sistema de tutela poltica na globalizao.

    Todas as anlises que se faam para compreendermos as dificuldades que tem os

    indivduos de ascender politicamente na globalizao, se identificaro com posies deste

    trabalho, que apontaram para uma desconstruo ideolgica do mundo. Os indivduos,

    precisam visualizar a multiplicidade de interesses que movem o mundo global. Necessitam

    compreender que vivem um novo tempo, que o processo social da globalizao e o

    processo poltico se entrelaam na angstia e incerteza das exigncias globais, que a

  • 34

    realidade da globalizao impe a formao de novos indivduos, como novas idias e

    novos objetivos.

    A complexa e contraditria realidade social da globalizao, os indivduos precisam

    encontrar pontos de referncias de atuao de cidadania nos formatos da prpria sociedade

    globalizada, que necessitam lutar por autonomia e buscarem os espaos de participao

    poltica nos limites de cada instituio, que forma o mundo global. Os indivduos tm

    dificuldades de participao poltica na globalizao, porque precisam ainda compreender

    que nos centros decisrios do poder poltico, isto , no interior das instituies

    organizadas que se definem as relaes de dominao do mundo global.

    Os indivduos precisaro compreender, que a insero social na globalizao no

    acontecer, como demonstra este trabalho, sem o afastamento da ideologia, da religio, e de

    posies segregacionistas, que os tem impedido de compreender novas formas de mundo,

    de entender novas realidades e com elas interagir no contexto da globalizao.

    As possibilidades de um projeto pessoal ganhar efeito na globalizao so pequenas,

    se no vir alicerado na conscientizao da participao poltica. Pois o grande problema da

    ascenso do indivduo, enquanto cidado, na globalizao est no seu descompromisso

    poltico com a realidade que o cerca, na sua ausncia na tomada de decises, na sua

    passividade frente s mudanas e transformaes, que vo com rapidez alucinante criando e

    recriando novas formas de vida e exigindo novos modelos de comportamento social.

    A superao das dificuldades de participao poltica na globalizao, s acontecer

    quanto os indivduos forem capazes de discernir entre o que dito e o que de real acontece

    nas relaes de interatividade universal. Quando conquistarem o entendimento poltico, que

    o mundo da globalizao , com certeza, o do domnio da cincia e da tcnica, mas

    tambm o seu mundo, onde ocorrem relaes de homem e cidado.

    A superao das dificuldades de participao poltica na globalizao acontecer

    quando o mundo global para os indivduos se tornar familiar, quando for vencido o

    servilismo poltico.

  • 35

    Capitulo II A Ideologia e suas vertentes.

    "Se abandonar ingenuidade e os preconceitos do senso comum for

    til; se no se deixar guiar pela submisso s idias dominantes e

    aos poderes estabelecidos for til; se buscar compreender a

    significao do mundo, da cultura, da histria for til; se conhecer o

    sentido das criaes humanas nas artes, nas cincias e na poltica

    for til; se dar a cada um de ns e nossa sociedade os meios para

    serem conscientes de si e de suas aes numa prtica que deseja a

    liberdade e a felicidade para todos for til, ento podemos dizer que

    a Filosofia o mais til de todos os saberes de que os seres

    humanos so capazes. (CHAU, Marilena. Convite Filosofia.

    Editora tica, So Paulo, 2000. Pg 17.)

    Segundo Marilena Chau, a ideologia no pode ser considerada uma mentira que

    as classes dominantes usam para subjugar os menos favorecidos, porque os que se

    beneficiam dos privilgios tambm sofrem influncias 5das ideologias. Portanto,

    6a

    ideologia se caracteriza pela naturalizao, na medida em que so consideradas naturais

    as situaes que na verdade so produtos da ao humana e que portanto so histricos e

    no naturais por exemplo, dizer que a diviso da sociedade em ricos e pobres faz parte

    da natureza; ou que natural que uns mandem e outros obedeam.

    II.I A Manipulao da Ideologia.

    Em seu livro O que Ideologia, Marilena Chau propem o inicio da discusso

    tocante esfera da ideologia, tendo como base para estas reflexes a seguinte construo,

    5 Ideologia no sentido amplo: aquela voltada para as discusses e prticas pedaggicas sobre algum

    assunto em pauta, comum para todas as classes. 6 Ideologia no sentido restrito: aquela presente nos grupos poderosos e privilegiados, com grande

    influncia. denominada de ideologia negativa. A ideologia no sentido amplo chamada de ideologia

    positiva.

  • 36

    que objetiva procurar ser uma forma de compreenso da ideologia, de seus fundamentos,

    slidos ou no, e igualmente de suas conseqncias.

    A ideologia um saber cheio de lacunasou de

    silncios que nunca podero ser preenchidos,

    porque, se o forem, a ideologia se desfaz por

    dentro; ela tira sua coerncia justamente do fato de

    s pensar e s dizer as coisas pela metade e nunca

    at o fim. (Chau, 1984, p. 23).

    Segundo7 as argumentaes citadas do trabalho de Marilena Chau, podemos

    verificar como forma de compreenso por parte da filsofa, a ideologia como um conjunto

    difundido de inverdades, estas expostas atravs de uma concepo oriunda de idias falsas,

    ou seja, smbolos e preconceitos, isto posto para neutralizar e dominar aqueles que

    historicamente pertencem classe dos dominados, sem que eles percebam como esto

    sendo dominados. Para que este processo se legitime, a ideologia tem de se constituir em

    um emaranhado de ideais e assim sendo, nunca dizendo as coisas at o fim. A filsofa,

    para melhor exemplificar as suas expresses, comenta uma frase que teria sido dita por um

    ex-presidente da repblica do Brasil, cujo nome no foi revelado. A citada frase expressaria

    que na viso deste ento presidente, O brasileiro um povo feliz! Aqui no a guerras,

    terremotos, vulces e nem acontecem grandes catstrofes!.(Chau, 1984, p. 10). Chau

    comenta da seguinte forma a frase por ela citada de um proposto ex-presidente da

    repblica, cujo nome e data da citao no foram por ela explicitados;

    Na verdade, a afirmao do ex-presidente uma

    forma de ideologia, procurando esconder de outras

    formas de guerra, a luta de classes, ou outras

    formas de catstrofes, as catstrofes sociais: a fome,

    a misria, o desemprego, o salrio injusto; o

    analfabetismo, a explorao e outras. (Chau,

    1984, p. 11).

    7Ideologia, o Mtodo. Guilherme Augusto.

  • 37

    Pelas observaes consideradas inerentes a tentativa de compreenso do que vem a

    ser ideologia por Marilena Chau, a ideologia igualmente ligada concepo difundida

    em sua prpria contemporaneidade, pois;

    A ideologia ento um conjunto lgico,

    sistemtico e corrente de idias [...] valores,

    normas e regras que indicam e prescrevem aos

    membros de uma sociedade o que pensar, o que

    dever fazer e como dever fazer, o que sentir e

    como sentir. [...] Ela um conjunto explicativos e

    pratico de carter normativo, prescrito, regulador e

    controlador, cuja funo dar aos membros de

    uma sociedade dividida em classes uma explicao

    racional e convincente para as desigualdades

    sociais, polticas e culturais, jamais atribuindo a

    origem destas desigualdades diviso de classes,

    explorao e dominao. (Chau, 1985, p. 25).

    Segundo Marilena Chau, a diviso social do trabalho, ao separar os homens em

    proprietrios e no proprietrios do aos primeiros poder sobre os segundos. Estes so

    explorados economicamente e dominados politicamente. Estamos diante de classes sociais

    e da dominao de uma classe por outra. A classe que explora economicamente s poder

    manter seus privilgios se dominar politicamente e, portanto, se dispuser de instrumentos

    para essa dominao. Esses instrumentos seriam o Estado e a ideologia.

    Atravs do Estado, a classe dominante monta um aparelho de coero e de represso

    social que lhe permite exercer o poder sobre toda a sociedade, fazendo-a submeter-se s

    regras polticas. O grande instrumento do Estado o Direito, isto , o estabelecimento das

    leis que regulam as relaes sociais em proveito dos dominantes. Atravs do Direito, o

    Estado aparece como legal, ou seja, como Estado de direito. O papel do Direito ou das

    leis o de fazer com que a dominao no seja tida como uma violncia, mas como legal, e

    por ser legal e no violenta deve ser aceita. A lei direito para o dominante e dever para

    o dominado.

  • 38

    Se8 o Estado e o Direito fossem percebidos nessa sua realidade real, isto , como

    instrumentos para o exerccio consentido da violncia, evidentemente ambos no seriam

    respeitados e os dominados se revoltariam. A funo da ideologia consiste em impedir essa

    revolta fazendo com que o legal aparea para os homens como legtimo, isto , como justo

    e bom. Assim, a ideologia substitui a realidade do Estado pela idia do Estado ou seja, a

    dominao de uma classe substituda pela idia de interesse geral encarnado pelo Estado.

    E substitui a realidade do Direito pela idia do Direito ou seja, a dominao de uma classe

    por meio das leis substituda pela representao ou idias dessas leis como legtimas,

    justas, boas e vlidas para todos.

    No se trata de supor que os dominantes se renam e decidam fazer uma ideologia,

    pois esta seria, ento, uma pura maquinao dos poderosos. E, se assim fosse, seria muito

    fcil acabar com uma ideologia.

    Marilena Chau ressalta que, a ideologia resulta da prtica social, nasce da atividade

    social dos homens no momento em que estes representam para si mesmos essa atividade, e

    vimos que essa representao sempre necessariamente invertida. O que ocorre, porm, o

    seguinte processo; as diferentes classes sociais representam para si mesmas o seu modo de

    existncia tal como vivido diretamente por elas, de sorte que as representaes ou idias

    (todas elas invertidas) diferem segundo as classes e segundo as experincias que cada uma

    delas tem de sua existncia nas relaes de produo. No entanto, as idias dominantes em

    uma sociedade numa poca determinada no so todas as idias existentes nessa sociedade,

    mas sero apenas as idias da classe dominante dessa sociedade nessa poca. Como mostra

    o trecho da entrevista de Marilena a revista Carta Maior;

    Carta Maior: Qual sua avaliao sobre a cobertura da chamada grande mdia brasileira nas

    eleies deste ano? Na sua opinio, houve alguma surpresa ou novidade em relao eleio

    anterior?

    Marilena Chau: Eu diria que, desta vez, o cerco foi mais intenso, assumindo tons de guerra, mais

    do que mera polarizao de opinies polticas. Mas no foi surpresa: se considerarmos que 92%

    da populao aprovam o governo Lula como timo e bom, 4% o consideram regular, restam 4% de

    desaprovao a qual est concentrada nos meios de comunicao. So as empresas e seus

    empregados que representam esses 4% e so eles quem tm o poder de fogo para a guerra.

    8 A Ideologia como Forma de Memria Coletiva. Maria Laura.

  • 39

    O interessante foi a dificuldade para manter um alvo nico na criao da imagem de Dilma

    Rousseff: o preconceito comeou com a guerrilheira, no deu certo; passou, ento, para a

    administradora sem experincia poltica, no deu certo; passou, ento, para a afilhada de Lula,

    no deu certo; desembestou na fria anti-aborto, e no deu certo. E no deu certo porque a

    populao dispe dos fatos concretos resultantes das polticas do governo Lula.

    Isso me parece a novidade mais instigante, isto , uma sociedade diretamente informada pelas

    aes governamentais que mudaram seu modo de vida e suas perspectivas, de maneira que a

    guerra se deu entre o preconceito e a verdadeira informao.

    CM: Passada a eleio, um dos debates que deve marcar o prximo perodo diz respeito

    regulamentao do setor de comunicao. Como se sabe, a resistncia das grandes empresas de

    mdia muito forte. Como superar essa resistncia?

    MC: Numa democracia, o direito informao essencial. Tanto o direito de produzir e difundir

    informao como o direito de receber e ter acesso informao. Isso se chama isegoria, palavra

    criada pelos inventores da democracia, os gregos, significando o direito emitir em pblico uma

    opinio para ser discutida e votada, assim como o direito de receber uma opinio para avali-la,

    aceit-la ou rejeit-la.

    Justamente por isso, em todos os pases democrticos, existe regulamentao do setor de

    comunicao. Essa regulamentao visa assegurar a isegoria, a liberdade de expresso e o direito

    ao contraditrio, alm de diminuir, tanto quanto possvel, o monoplio da informao.

    Evidentemente, hoje essa regulamentao encontra dificuldades postas pela estrutura oligoplica

    dos meios, controlados globalmente por um pequeno nmero de empresas transnacionais. Mas no

    por ser difcil, que a regulamentao no deve ser estabelecida e defendida. Trata-se da batalha

    moderna entre o pblico e o privado.

    CM: Voc concorda com a seguinte afirmao: A mdia brasileira uma das mais autoritrias do mundo?

    MC: Se deixarmos de lado o caso bvio das ditaduras e considerarmos apenas as repblicas

    democrticas, concordo.

    CM: Na sua opinio, possvel fazer alguma distino entre os grandes veculos miditicos, do

    ponto de vista de sua orientao editorial? Ou o que predomina um pensamento nico mesmo.

    MC: As variaes se do no interior do pensamento nico, isto , da hegemonia ps-moderna e

    neoliberal. Ou seja, h setores reacionrios de extrema direita, setores claramente conservadores e

    setores que usam a folha de parreira. A folha de parreira, segundo a lenda, serviu para Ado e Eva se cobrirem quando descobriram que estavam nus.

    Na mdia, a folha de parreira consiste em dar um pequeno e controlado espao

    opinio divergente ou contrria linha da empresa. s vezes, no d certo. O caso do Estado

    contra Maria Rita Kehl mostra que uma vigorosa voz destoante no coral do sim senhor no pode

    ser suportada.( Viomundo 22 de novembro de 2010 s 10:48h site Carta Maior)

  • 40

    A maneira pela qual a classe dominante representa a si mesma representa sua

    relao com a natureza, com os demais homens, com o Estado, tornar-se- a maneira pela

    qual todos os membros dessa sociedade iro pensar. A ideologia consiste precisamente na

    transformao das idias da classe dominante em idias dominantes para a sociedade como

    um todo, de modo que a classe que domina no plano material (econmico, social e poltico)

    tambm domina no plano espiritual (das idias). Isto significa que, embora a sociedade

    esteja dividida em classes e cada qual devesse ter suas prprias idias.

    A dominao de uma classe sobre as outras faz com que s sejam consideradas

    vlidas, verdadeiras e racionais as idias da classe dominante. Para que isto ocorra,

    preciso que os membros da sociedade no se percebam como estando divididos em classes,

    mas se vejam como tendo certas caractersticas humanas comuns a todos e que tomam as

    diferenas sociais algo derivado ou de menor importncia Os membros da sociedade se

    identifiquem com essas caractersticas supostamente comuns a todos, preciso que elas

    sejam convertidas em idias comuns a todos. preciso que a classe dominante, alm de

    produzir suas prprias idias, tambm possa distribu-las, o que feito, por exemplo,

    atravs da educao, da religio, dos costumes, dos meios de comunicao disponveis;

    como tais idias no exprimem a realidade real, mas representam a aparncia social, a

    imagem das coisas e dos homens, possvel passar a consider-las como independentes da

    realidade e, mais do que isto, inverter a relao, fazendo com que a realidade concreta seja

    tida como a realizao dessas idias.

    Todos esses procedimentos consistem naquilo que a operao intelectual por

    excelncia da ideologia. A transformao das idias particulares da classe dominante em

    idias universais de todos e para todos os membros da sociedade.

    Para que est ideia seja difundida Marilena, mostra a importncia dos membros da

    classe dominante ou da classe mdia (aliada natural da classe dominante) que, em

    decorrncia da diviso social do trabalho em trabalho material e espiritual, constituem a

    camada dos pensadores ou dos intelectuais. Esto encarregados, por meio da sistematizao

    das idias, de transformar as iluses da classe dominante (isto , a viso que a classe

    dominante tem de si mesma e da sociedade) em representaes coletivas ou universais;

  • 41

    Tatiana Merlino Em 2006, a senhora ficou profundamente descontente com a postura da mdia durante o perodo eleitoral, e agora a imprensa teve novamente um comportamento

    bem complicado. A gente ueria que a senhora comeasse falando sobre a sua avaliao da

    cobertura da mdia nas eleies presidenciais.

    Marilena Chau Eu diria que no houve cobertura. Houve a produo miditica da

    campanha eleitoral e das eleies. Cobertura significaria mostrar o que efetivamente estava se

    passando no primeiro turno com todos os candidatos e no segundo turno com os dois candidatos

    que restaram. E no foi isso que aconteceu. A candidata Dilma no teve em instante nenhum a sua

    campanha coberta pela mdia. Ela teve a sua campanha ou ignorada, ou deformada ou

    criminalizada. E do lado do candidato Serra, tambm no houve uma cobertura da campanha dele.

    Porque se tivesse havido uma cobertura da campanha dele, o que a mdia deveria ter mostrado?

    Essa coisa extraordinria que eu nunca vi acontecer em lugar nenhum de um candidato se

    autodestruir. Primeiro, o vice, ele no conseguiu escolher o vice e depois deu uma escolha que no

    foi feita por ele e insignificante. Em seguida, ele comea a campanha descendo a lenha no governo

    Lula, o qual, entretanto, numa pesquisa de opinio, tinha tido quase 90% de timo e bom, e,

    provavelmente, as pessoas que acompanhavam o programa do Serra, aquelas que opinam, devem

    ter dito que no era uma boa, a ele passou a dizer que ia fazer o que o Lula estava fazendo, mas

    melhor. A, quando ele comeou a explicar o que era melhor, comeou a fazer propostas

    completamente alucinadas, foi uma alucinao que ele props. Bom, mas quando ns chegamos

    nesse ponto, voc tem a entrada em cena do segundo turno. Ora, na hora que entra em cena o

    segundo turno, o que que vem como uma avalanche? O famoso dossi. O dossi que foi atribudo

    ao PT, disseram que a Dilma tinha mandado fazer, que foi o famoso dossi que o Acio fez. Foi o

    dossi que invadiu todos os planos da vida do Serra, e mais, atingiu diretamente a filha dele, que

    eles tinham dito que o PT que tinha violado a menina, a Vernica. Foi uma completa produo do

    Acio, em Minas. Ora, isto que destruiria qualquer candidatura em qualquer tempo e lugar, o

    servilismo da mdia foi tal, que isto, ou no apareceu, ou apareceu em pequenas notcias e de uma

    maneira to confusa que ningum sabia do que se tratava. E, depois, quando entrou em cena o

    aborto, em primeiro lugar a mdia nunca disse que quem introduziu o tema do aborto foi a Marina,

    que fez um discurso conservador dos evanglicos para os evanglicos, introduziu os temas

    religiosos e o tema do aborto. Como ela no entra no segundo turno, o Serra se apropria desse

    tema. Ora, uma imprensa que est defendendo a liberdade de expresso, que est defendendo o

    espao pblico, que est defendendo a opinio pblica, est defendendo a liberdade de

    pensamento, como que ela pode embarcar na entrada em cena como tema eleitoral de uma

    questo que pertence ao espao privado, e uma questo de religio, que o aborto? A plena

    cobertura que foi dada a isso, contradizendo o prprio significado daquilo que a imprensa deveria

  • 42

    de entender por coisa pblica, espao pblico, opinio pblica e liberdade de pensamento e de

    expresso! Bom, ento, depois, no caso da Dilma, mais interessante do que a no cobertura da

    campanha do Serra, porque no caso da Dilma, tentou-se primeiro a guerrilheira. a guerrilheira,

    a guerrilheira... E eu tinha dito a uns amigos, este um caminho perigoso. um caminho perigoso,

    porque, em termos de histria pessoal, muito paralela histria do prprio Serra. Se voc pega o

    comcio dos cem mil, no Rio [de Janeiro], em 1961, o discurso mais radical do comcio no foi o do

    Jango, no foi o do Brizola, no foi o do Julio, foi o do Serra como presidente da UNE. Ele fez o

    discurso afirmando... o ncleo do discurso do Serra em 1961 foi revoluo armada. Ento, eu dizia

    [] um perigo, porque se eles enveredarem pela figura da Dilma guerrilheira, eles vo ter que dizer

    que o Serra pregou em 1961 para cem mil brasileiros a revoluo armada.(Revista Caros Amigos

    Sem comunicao no h democracia.)

    Assim, a classe dominante (e sua aliada, a classe mdia) se divide em pensadores e

    no pensadores, ou em produtores ativos de idias e consumidores passivos de idias.

    Muitas vezes, no interior da classe dominante e de sua aliada, a diviso entre pensadores e

    no pensadores pode assumir a forma de conflitos, por exemplo, entre nobres e sacerdotes,

    entre burguesia conservadora e intelectual progressistas, mas tal conflito no uma

    contradio, no exprime a existncia de duas classes sociais contraditrias, mas apenas

    oposies no interior da mesma classe. A prova disso, escrevem Marx e Engels, que basta

    haver uma ameaa real para a dominao da classe dominante para que os conflitos sejam

    esquecidos e todos fiquem do mesmo lado da barricada. Nessas ocasies, desaparece a

    iluso de que as idias dominantes no so as idias da classe dominante e que teriam um

    poder diferente do poder dessa classe

    Marilena diria que, possvel que, em determinadas circunstncias histricas, os

    intelectuais se coloquem contra a burguesia e se faam aliados dos trabalhadores. Se os

    trabalhadores, compreendendo a origem da explorao econmica e da dominao poltica,

    decidirem destruir o poder dessa burguesia possvel que os intelectuais progressistas, sem

    o saber, passem para o lado da burguesia. E o que ocorre, por exemplo, quando, diante do

    aguamento da luta de classes num pas, os intelectuais demonstram aos trabalhadores que,

    naquela fase histrica, o verdadeiro inimigo no a burguesia nacional, mas a burguesia

    internacional imperialista, e que se deve lutar primeiro contra ela. A ideologia da unidade

  • 43

    nacional, que os intelectuais progressistas, de boa-f, imaginam servir aos trabalhadores, na

    verdade serve classe dominante.

    Do lado dos intelectuais, isto decorre do fato de que interiorizaram de tal modo as

    idias dominantes que no percebem o que esto pensando. Do lado dos trabalhadores, se

    aceitam tal ideologia nacionalista, isto decorre da diviso social do trabalho que foi

    interiorizada por eles, fazendo-os crer que no sabem pensar e que devem confiar em

    quem pensa. Com isto, tambm eles so vtimas do poder das idias dominantes.

    Esse fenmeno de manuteno das ideias dominantes mesmo quando se est lutando

    contra a classe dominante o aspecto fundamental da hegemonia, ou o poder da classe

    dominante. Por isso ele dizia que, se num determinado momento, os trabalhadores de um

    pas precisam lutar usando a bandeira do nacionalismo, a primeira coisa a fazer redefinir

    toda a idia de nao, desfazer-se da ideia burguesa de nacionalidade e elaborar uma idia

    do nacional que seja idntica de popular. Precisam, portanto, contrapor, idia dominante

    de nao, uma outra, popular, que negue a primeira. Uma histria concreta no perde de

    vista a origem de classe das idias de uma poca, nem perde de vista que a ideologia nasce

    para servir aos interesses de uma classe e que s pode faz-lo transformando as idias dessa

    classe particular em idias universais.

    O processo histrico real, escreve Marx e Engels, no o do predomnio de certas

    idias em certas pocas, mas um outro e que, cada nova classe em ascenso que comea a

    se desenvolver dentro de um modo de produo que ser destrudo quando essa nova classe

    dominar, cada classe emergente, precisa formular seus interesses de modo sistemtico e,

    para ganhar o apoio do restante da sociedade contra a classe dominante existente, precisa

    fazer com que tais interesses apaream como interesses de toda a sociedade. Assim, por

    exemplo, a burguesia, ao elaborar as idias de igualdade e de liberdade como essncia do

    homem faz com que se coloquem de seu lado como aliados todos os membros da sociedade

    feudal submetido ao poder da nobreza, que encarnava o princpio da desigualdade e da

    servido.

    Para poder ser o representante de toda a sociedade contra uma classe particular que

    est no poder, a nova classe emergente precisa dar s suas idias a maior universo possvel,

  • 44

    fazendo com que apaream como verdadeiras e justas para o maior nmero possvel de

    membros da sociedade. Precisa apresentar tais idias como as nicas racionais e as nicas

    vlidas para todos. Ou seja, a classe ascendente no pode aparecer como uma classe

    particular contra outra classe particular, mas precisa aparecer como representante de toda a

    sociedade, dos interesses de todos contra os interesses da classe particular dominante. E

    consegue aparecer assim universalizada graas s idias que defende como universais. Um

    bom exemplo disso est neste trecho da entrevista de Marilena a revista CULT;

    CULT A senhora disse que o governo atual no o governo dos nossos sonhos, no exatamente da esquerda, que no teria o perfil de esquerda. Considerando, portanto, essa ambiguidade ideolgica que se reflete na prpria agenda do governo, a senhora acredita que

    polticas assistencialistas, alm do carisma e da identificao popular do presidente, so

    suficientes para explicar sua boa avaliao?