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  • IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

    SEMINRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

    Goinia,

    Agosto de 2002.

    A Orao como Meio de Graa

    Calmito Mrcio Santana Fernandes

  • 2

    SEMINRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

    S P B C

    Teologando:

    Calmito Mrcio Santana Fernandes

    A Orao Como Meio de Graa

    Monografia apresentada ao Seminrio

    Presbiteriano Brasil Central SPBC, em

    cumprimento s exigncias para colao

    de grau.

    Goinia,

    Agosto/2002

  • 3

    TERMOS DE APROVAO

    Assunto : ORAO

    Ttulo : A Orao como meio de Graa

    Autor : Calmito Mrcio Santana Fernandes

    Orientador : Rev. Silas Rebouas Nobre

    Ao Seminrio Presbiteriano Brasil Central SPBC, aps examinar o

    trabalho apresentado pelo teologando Calmito Mrcio Santana Fernandes,

    resolve:

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    ___________________, _______, _____de ______________ de 2002.

    __________________________ ____________________________

    EXAMINADOR EXAMINADOR

    ___________________________ ____________________________

    EXAMINADOR EXAMINADOR

  • 4

    DEDICATRIA

    Os anos que estive aqui no Seminrio duas

    pessoas dispensaram amor e zelo minha vida,

    pessoas que me compreenderam e tiveram

    pacincia a cada luta a cada lgrima e tambm a

    cada vitria nos longo dos quatro anos. O meu

    Pai Landulfo Fernandes de Sousa e minha me

    Dilce Maria Santana de Sousa que tanto orou para

    que as lutas dos longos quatro anos fossem

    superadas pela graa de Deus, por isso dedico

    este trabalho a eles. Dedico tambm esse trabalho

    ao meu Tio Deli Santana (em memria) uma das

    pessoas que mais amei nesse mundo, que nos

    deixou numa madrugada e foi para a glria

    Eterna. Ao meu querido irmo Mrcio Gleison

    que me ajudou a crescer e ser mais zeloso para

    com o ministrio. A Jos Carlos amigo e irmo

    que participou junto comigo dos momentos de

    alegria e tristeza aqui no Seminrio. A minha

    Noiva Enelma Macedo Rodrigues que Deus me

    presenteou em respostas de minhas oraes. As

    suas doces palavras me incentivaram a chegar no

    final desses quatro anos. A vocs, dedico este

    trabalho.

  • 5

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar agradeo ao meu Deus que me chamou para o Sagrado

    ministrio e que me capacitou durante esses quatro anos, a me tornar mais puro na

    doutrina, no carter e no amor a Sua igreja, a ti Senhor toda a minha gratido por

    ouvir minhas oraes e me consolar.

    Muitas pessoas ao longo destes quatro anos participaram um pouco das lutas

    que passamos aqui e queria agradecer a cada uma delas. Quero agradecer a minha

    famlia por todo o carinho que dispensou durante esses anos. A minha querida igreja

    Presbiteriana de Guanambi que mesmo passando por momentos de dificuldades me

    sustentou com recursos financeiros e muita orao.

    Agradeo tambm aos meus mantenedores: Dona Janice Magalhes, Jaildo

    Magalhes e Dona Neide que no mediram esforos para mensalmente me ajudarem

    aqui no Seminrio. Tambm agradeo a Deus pelo Presbitrio de Guanambi na

    pessoa do Presidente Alberto Leo, que esteve comigo ao longo desses quatro anos.

    Ao meu tutor Neemias Alexandre Sobrinho, o Pastor Lcio Arajo e famlia pela

    hospitalidade para comigo, aos pais e irms de minha noiva Enelma Macedo, a igreja

    de Ccos pela ajuda. H um grupo de pessoas que no poderia de maneira alguma

    esquecer de agradecer que foi: Aldemar, Jidelson, Jao Ricardo, Gilvan, Maruilton,

    Jos Marcos e Zez, amigos que tiveram muita pacincia para comigo. Os meus

    colegas do quarto ano, e a cada republicano que de forma direta ou indireta me

    ajudaram no amadurecimento para o sagrado ministrio.

    O meu agradecimento ao Pastor Silas pelo esforo e desprendimento para

    comigo no inicio e no final desta monografia . Tambm agradeo a Wilson(Parceiro)

    pela impresso da monografia. Quero de forma especial agradecer ao Seminrio

  • 6

    Presbiteriano por ter me ensinado durante esses quatro anos a amar a boa teologia e

    lutar por ela, sem duvida por onde for levarei um pouco dos ensinamentos de cada

    professor, agradeo de corao a essa casa. A cada um de vocs meus

    agradecimentos!

  • 7

    NDICE

    INTRODUO ........................................................................................................ 10

    CAPTULO 1

    DEFINIO DE TERMOS ................................................................................... 13

    1.1- ORAO: ....................................................................................... 13

    1.2 -MEIO DE GRAA: .......................................................................... 16

    CAPTULO 2

    FUNDAMENTO BBLICO .................................................................................... 20

    2.1- ORAO NO ANTIGO TESTAMENTO: ............................................. 20

    a) Perspectivas Gerais: .............................................................................. 20

    b) Perspectiva nos Salmos: ....................................................................... 23

    c) Perspectiva dos Profetas: ...................................................................... 25

    2.2- ORAO NO NOVO TESTAMENTO: ................................................ 29

    a) dirigida ao Pai: .................................................................................. 30

    b) Dirigida com Sinceridade: ................................................................ 32

    c) Dirigida com Objetividade: ............................................................... 34

    d) Dirigida com Reverncia: ................................................................. 35

    e) Dirigida com Submisso: .................................................................. 36

    f) Dirigida em forma de Confisso:....................................................... 37

    g) Dirigida em forma de Petio: .......................................................... 38

    h) Dirigida em Nome de Jesus: ............................................................. 39

  • 8

    CAPITULO 3

    ORAO NA HISTRIA ...................................................................................... 42

    3.1- NO PERODO PATRSTICO: ............................................................. 42

    a) Ambrsio de Milo: .............................................................................. 42

    b) Agostinho de Hipona: ........................................................................... 44

    c) Movimento Monstico: ......................................................................... 45

    3.2- COM OS REFORMADORES: .............................................................. 47

    a) Martinho Lutero: ................................................................................... 47

    b) Joo Calvino: ........................................................................................ 48

    3.3- COM A IGREJA MODERNA (CONFISSES RELIGIOSAS). ................... 50

    a) Catecismo Maior: ................................................................................. 50

    b) O Breve Catecismo: .............................................................................. 50

    c) O Catecismo de Heidelberg: ................................................................. 50

    3.4- NOS MOVIMENTOS MSTICOS: ........................................................ 50

    a) No Quietismo de Molinos: ................................................................... 50

    b) No Pietismo de Spener: ........................................................................ 52

    3.5- COM A IGREJA ATUAL: .................................................................. 55

    a) Perspectiva reformada: ......................................................................... 55

    b) Perspectiva Pentecostal: ....................................................................... 56

    c) Perspectiva Neopentecostal: ................................................................. 59

    CAPTULO 4

    A ORAO E A SOBERANIA DE DEUS ........................................................... 62

    4.1- POR QUE ORAR? ............................................................................ 63

    a) Exemplo de Jesus: ................................................................................ 63

    b) A associao com a vigilncia: ............................................................ 65

    4.2- A ORAO COMO MEIO DE GRAA: .............................................. 67

    a) Meio de Comunho: ............................................................................. 68

  • 9

    b) Meio de Transformao: ...................................................................... 73

    c) Meio de Capacitao: ........................................................................... 83

    d) Meio de Glorificao: ........................................................................... 83

    e) Meio de Providncia: ............................................................................ 78

    CONCLUSO .......................................................................................................... 91

    BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................95

  • 10

    INTRODUO

    O assunto orao sem duvida alguma desperta em ns um grande interesse,

    desde cedo ouvimos histrias dos grandes Avivamentos do passado, ficamos

    impressionado com biografias de John Owen, Jonathan Edwards, Charles Spurgeon,

    David Brainerd, John Knox, Lutero, Joo Calvino dentre outros grandes nomes.

    Lendo as historias destes homens uma coisa fica clara que o assunto orao fazia

    parte do quotidiano destes homens nas suas devocionais em casa at o culto pblico,

    orar de fato, fazia parte do ministrio destes grandes pregadores, orar era a tnica

    dessa gerao.

    Destes grandes homens destaco a famosa orao de John Knox D-me a

    Esccia seno eu morro. A orao para os reformadores tinha toda uma

    hermenutica bblica, ou seja, a orao recebia a nfase que a Escritura dava, falar de

    orao era falar de algo institudo pelo prprio Deus em prol do benefcio do Seu

    povo. Eles criam que quando oravam havia um Deus que receberia os pedidos e

    trabalharia no estabelecimento e sucesso do Evangelho em cada Igreja, povoado,

    cidade, estado e pas.

    Entretanto, percebe-se que nos nossos dias a nossa gerao desaprendeu a

    orar, devido s conseqncias da viso pentecostal, neopentecostal e tambm do

    pragmatismo, o fator orao perdeu nas igrejas reformadas o seu respectivo valor.

    No difcil vermos isso no dia a dia dos cristos, nos nossos cultos, nos nossos

    Congressos e Retiros Espirituais que podemos at ouvir do assunto, falar do assunto

    e at mesmo pregar sobre o assunto, mas levar a orao a srio tornou uma prtica

    mais pastoral, como muitos tem dito o Pastor deve ser o homem de orao. Que a

    nossa gerao precisa redescobrir o Pai Celestial est implcito nas livrarias

  • 11

    evanglicas, os livros mais vendidos so de Benny Hinn, David Yong Choo, Bruce

    Wilkinson, Watchman Nee e outros. Esses autores so totalmente comprometidos

    com uma m teologia, interessante notarmos que esses livros esto presentes em

    muitos lares de pessoas de Igrejas reformadas. Outra conseqncia que demonstra a

    urgente necessidade de avaliarmos o assunto em nossas Igrejas to pouca

    freqncia aos cultos dedicados orao, de certa forma quase certo que os cultos

    menos freqentados o da orao. Outro fator que nos mostra a nossa real

    necessidade de avaliarmos a nossa viso ao assunto orao o pouco ou nenhum

    interesse de estarmos na presena de Deus, buscando ter comunho com Ele,

    glorificando o Seu Nome, buscando a vinda do Seu Reino sobre o mundo.

    Precisamos reavaliar, pois o povo hoje no tem muito tempo para depender de Deus,

    a busca pela providncia divina nas coisas que necessitamos foi perdido, j no

    temos tempo para pedir pelo po nosso dirio, pelo perdo dos pecados, quando

    temos queremos desfrutar de uma comunho com o nosso Deus de uma forma

    rpido, orao nas devocionais s acontecem quando estamos interessados em

    alguma beno. Por vivermos em dias de muita correria queremos encontrar um

    Deus Minuto algum que posso conversar rapidamente, pois no desfruto de muito

    tempo, quero me relacionar com Ele em alguns minutos.

    Muitos para atrair o maior numero de pessoas para a orao tem dito por ai

    A orao move a mo de Deus, nfase que descortina a teologia de uma gerao

    que vem Deus como algum que est nos cus para cumprir os desejos dos homens,

    esquecendo de aproximar do Pai Celestial pelo que Ele e no pelo que pode

    receber.

  • 12

    O nosso objetivo neste trabalho abordar o assunto orao teologicamente,

    mostrando atravs desta pesquisa a relevncia de vermos a orao como um fator

    preponderante para o bom andamento do cristo no somente neste presente sculo,

    como tambm no vindouro. A partir da interpretao Reformada do assunto, que via

    o mesmo como um meio de graa, meio ordinrio onde o cristo desfruta dos

    benefcios da mediao de Jesus Cristo, meio onde a Igreja Invisvel alimentada e

    suprida espiritualmente atravs do Esprito Santo.

    Mostraremos a relevncia de encararmos orao como um meio de graa,

    deixamos claro que a nossa abordagem a partir dos smbolos de f que so o

    Catecismo Maior de Westminster e o Breve Catecismo, buscando fazer uma

    abordagem bblico reformado. Certo de que Deus h de nos abenoar passamos agora

    a abordar o fator orao como um meio de benefcios para todos os crentes. Que

    Deus nos abenoe!

    SOLI DEO GLORIA

  • 13

    CAPTULO 1

    DEFINIO DE TERMOS

    1.1- Orao:

    A relevncia da Orao est claramente implcita na Palavra de Deus, tentar

    definir esse termo no uma tarefa fcil, baseando-nos na grande realidade de que a

    orao um mistrio, um caminho de uma profundidade, que no pode ser de todo

    sondado, mas h toda uma possibilidade de ser estudado.

    A.A. Hodge define orao assim:

    Orao uma das partes principais do culto. A palavra orao usada constantemente num sentido mais geral e num sentido mais especfico. Em

    seu sentido mais especfico, ela equivalente a splica, o ato da alma de

    apresentar seus anseios a Deus e pedir a ele que satisfaa e supra todas

    necessidades do suplicante. Em seu sentido geral, a orao usada para

    expressar cada ato da alma de entrar numa relao espiritual com Deus.1

    O Catecismo Maior de Westminster define orao como: um oferecimento

    de nossos desejos a Deus em nome de Cristo e com o auxlio de seu Espirito, e com a

    confisso de nossos pecados e grato reconhecimento de suas misericrdias.2

    Em sntese orao a ... conversa da alma com Deus. Nela manifestamos ou

    expressamos diante dele nossa reverncia e nosso amor por sua divina perfeio,

    nossa gratido por todas as suas mercs.3 Nela o homem encontra um refgio sem

    igual na presena do Senhor dos Cus, o homem sem orao necessariamente

    1 Confisso de Westminster Comentada por A.A.Hodge, (Editora Os Puritanos So Paulo SP, 1999), 374.

    2 O Catecismo Maior, (Editora Cultura Crist Cambuci SP, 1999 ), 200. 3 Charles Hodge, Teologia Sistemtica, (Editora Agnus So Paulo- SP,2001),692 Ver tambm Wayne

    Gruden tem a mesma definio de Orao, ver no seu livro de Teologia Sistemtica, (Editora Vida

    Nova So Paulo-SP,1999), 305.

  • 14

    totalmente irreligioso, assim como o ser humano morre quando seu corao para de

    pulsar, cessando assim a sua atividade, semelhantemente, a alma que no se dirige

    em suas aes a Deus, vivendo como se no Ele no existisse, perceptvel que est

    se encontra espiritualmente morta.

    Assim sendo, o cristo no pode de maneira nenhuma perder de vista a idia

    de que orao uma caminhada quotidiana de total dependncia a Deus colocando

    todo o seu viver na presena dEle. O escritor O. Hallesby partindo do texto de

    Apocalipse 3; 20, mostra-nos a seguinte idia de orao: Orar nada mais do que

    deixar que Jesus tenha acesso s prprias necessidades nossas.4 Orar nada mais do

    que quedarmos luz do sol da graa de Jesus Cristo, Senhor da Igreja, expondo

    Ele, toda a tribulao de nosso corpo e de nossa alma, na dependncia de que Ele

    poderoso para neutralizar a ao do pecado.5 O fim que a palavra de Deus mostra

    sobre a orao que ela pretende levar o crente a conhecer a Deus, ter comunho

    com Ele, orar assim uma compreenso da nossa total dependncia ao Senhor.

    Quando oramos, admitimos a todos, que sem Cristo no h nada a ser feito,

    orar desviar-se de si mesmo para Deus, na confiana de que Ele providenciar a

    ajuda de que precisamos, a orao nos humilha, como necessitados, e exalta a Deus,

    como rico.6 O cristo que ora, mostra publicamente a sua fraqueza frente as coisas

    que o cerca, assim levamos as nossas vidas ao foco central, que a supremacia de

    Deus.

    4 O.Hallesby,. Orao, (Editora Casa Publicadora Presbiteriana So Paulo SP,1990), 8. 5 Idem, 10

    6 John Piper, Teologia da Alegria, (Publicaes Shedd So Paulo SP,2001 ), 135.

  • 15

    Ainda analisando o termo orao, cremos que a mesma de grande

    relevncia para os cristos, ela a porta onde comunicamos a Deus os nossos

    pesares, temores, sofrimentos e tambm na mesma confessamos a Deus as nossas

    faltas. Quando lemos a Bblia com o corao aberto, cremos que Deus fala, porque a

    Bblia a palavra de Deus, na orao o homem que fala a Deus, por ela declaramos

    a nossa dependncia a Deus. Ao falar sobre orao Alan Pieratt, nos mostra, a

    grande verdade de abrirmos os nossos coraes e vermos a importncia da orao :

    A orao a primeira palavra da f religiosa e a palavra final contra

    secularidade. o principal meio pelo qual Deus convidado a fazer parte de

    nossa vida. Pela orao nos abrimos a Ele, e Ele, em sua liberdade e

    soberania, graciosamente entra e assume o controle de uma forma que Ele

    no faz na vida daquele que nada lhe pede. O inverso tambm verdadeiro.

    Pecado e iniquidade so muitas vezes associados a Bblia falta de orao.7

    Portanto, devemos ver a orao como um dos privilgios mais proeminentes

    da vida crist, pois ela o meio designado para o acesso a Deus, para que a alma se

    aproxime do seu criador, e para que o cristo tenha comunho espiritual com seu

    redentor. Ela o canal por onde procuramos as provises necessrias da graa

    espiritual, ainda percebe-se que, orao a via pela qual damos o altssimo de

    conhecer as nossas necessidades implorando que Ele nos alivie.8

    A orao para os cristos algo to real, to verdadeiro que nos trs

    compromisso por ser algo institudo por Deus, atravs dela recebemos mais do amor

    de Deus, da Sua Paz e tambm fora para vencermos a tentao. Por ser parte do

    povo de Deus, no podemos negligenciar nunca esta idia, de que demonstramos

    amor ao Senhor quando mostramos na nossa caminhada que dependemos da sua

    7 Alan Pieratt, Orao: uma nova viso para uma antiga orao, (Editora Vida Nova So Paulo-

    SP,1999), 13.

    8 Arthur W. Pink, La vida de Elias, (Editora. El Estandarte de La Verdade Capellades-

    Barcelona,1992), 181.

  • 16

    graa, amor, misericrdia, e quando vemos esses atributos em Deus a nica coisa a

    fazer se prostrar diante de Deus, em orao.

    1.2 Meio de Graa:

    A igreja sabe que Deus em sua eterna grandeza faz uso de alguns meios para

    abenoar o seu povo, aquilo que recebemos na vida, dado pelo Senhor deve ser visto

    em ultima anlise como coisas imerecidas, todas as bnos so pela graa. No h

    nenhuma resistncia, viso de que Deus tem abenoado o seu povo, que Ele tem

    suprido as necessidades da sua Igreja, Deus de fato tem nos abenoado. De certa

    forma, ao percebermos que h uma cooperatividade de todas as coisas para o bem da

    igreja, podemos dizer ento que at mesmo o sofrimento pode ser um meio que Deus

    utilizar como graa para a sua Igreja (Rm 8:28; Rm 5:23;Tg 1.2-3).9

    Mas o termo meio de graa para a teologia traz sobre si um arcabouo mais

    profundo, sendo empregado num sentido bem mais restrito, ento, no costumeiro

    nem desejvel incluir tudo... a expresso meio de graa.10

    Apesar de crermos que no devemos incluir tudo ao termo meio de graa,

    todavia nosso argumento parte do ensinamento reformado de que orao est incluso

    dentro da lista dos Meios de Graa.11 Encontramos luz na boa teologia de Charles

    Hodge quando faz uma definio sobre o que so meios de graa, ele tem uma viso

    mais ampla do que a de Berkhof sobre o termo orao, incluindo a mesma na sua

    9 D.M. Lloyd-Jones, As insondveis riquezas de Cristo, (Editora PES So Paulo- SP,1992), 254.

    10 Cf. Louis Berkhof no seu livro Teologia Sistemtica, (Editora Luz para o Caminho Campinas-

    SP,1998),609.Ver que nem todos concordam com Berkhof, por exemplo Wayne Gruden, no seu livro

    de Teologia Sistemtica, (Editora Vida Nova So Paulo-SP), 802 mostra a seguinte lista daquilo que

    para ele so meios de graa, ainda que a mesma, para ele no seja exaustiva: O ensino da palavra, os

    Sacramentos, a orao uns pelos outros, adorao, a disciplina da igreja, a oferta, os dons espirituais, a

    comunho, evangelizao e o ministrio individual.

    11 Ver O Catecismo Maior, Op. Cit. Perg. 154.

  • 17

    lista de meio de graa, ele define o termo meio de graa como: Aqueles que Deus

    ordenou com o objetivo de comunicar as influncias vivificadoras e santificadoras do

    Esprito s almas dos homens. Meio de graa no significa todos os instrumentos que

    Deus quer usar como meios para a edificao espiritual de seus filhos. Essa

    expresso apropriada para indicar aquelas instituies que Deus ordenou como

    canais ordinrios da graa, isto , as influncias sobrenaturais do Espirito Santo, para

    as almas dos homens.12

    Partindo desse pressuposto, fica entendido que, de fato, os cristos podem

    gozar os benefcios desses meios, pois eles so eficazes no processo de salvao. O

    Breve Catecismo de Westminster respondendo a pergunta 88(Quais so os meios

    exteriores e ordinrios pelos quais Cristo nos comunica a beno da redeno?), reza

    o seguinte: Os meios exteriores e ordinrios pelos quais Cristo nos comunica as

    bnos da redeno so as suas ordenanas, especialmente a Palavra, os

    sacramentos e a orao, os quais todos se tornam eficazes aos eleitos para a

    salvao. 13

    Os meios de graa dependem unicamente da eficcia do Esprito Santo, e

    esses so instrumentos contnuos da graa de Deus, e no excepcionais, essa graa

    divina no vem at o seu povo ocasionalmente ou acidentalmente, mas que so meios

    ordenados, tendo o valor perptuo. Esses meios no devem ser vistos como

    instrumentos da graa comum, e sim da graa especial de Deus.14

    12 Charles Hodge. Op. Cit, 1366.

    13 O Breve Catecismo, (Editora Cultura Crist Cambuc-SP,1995), 44.

    14 Louis Berkhof. Op. Cit., 610.

  • 18

    Os cristos por intermdio destes meios recebem o alimento espiritual para a

    alma, uma vez que, Deus ainda est a completar sua obra na vida dos mesmos,

    Aquele que comeou boa obra em vs h de complet-la at o dia de Cristo (Fl

    1.6).

    Nessa perspectiva J.C. Ryle define meios de graa como: Meios que Deus,

    graciosamente, designou para transmitir graa ao corao humano atravs do Esprito

    Santo, ou para alimentar a vida espiritual depois de a ter comeado. Enquanto o

    mundo existir, o estado da alma humana sempre depender grandemente do modo e

    do esprito em que ele usa os meios de graa.15

    Uma grande questo a ser observada que, devemos usar esses meios sobre o

    foco bblico, sabendo que devemos nos deleitar neles, no os usando como uma

    questo de dever, s vezes fazendo-o sem um mnimo sentimento, interesse ou

    afeio, pois sabemos que o uso das coisas espirituais de forma mecnica e formal,

    de uma inutilidade total e sem nenhum proveito. Tudo que fizermos para Deus deve

    ser de todo o corao, tendo o cuidado de faz-los com toda a reverncia, seja o

    estudo da Palavra, sacramentos ou a orao, requerido que seja feito com

    integridade e singeleza de alma.

    Nisso estamos certos que a beno de Deus chega ao seu povo, quando esse

    busca curvar diante do Senhor certos de que Ele poderoso para oferecer benefcios

    Igreja. O meio que Deus usa tambm como esse canal a orao, que Ele mesmo

    instituiu para derramar a sua graa aquele que pedir. Uma coisa a ser observado

    que a orao s se torna eficaz como esse meio, quando influenciado pelo Esprito

    Santo, onde o mesmo capacita aquele que pede a Deus, a orar segundo a vontade

    15 J.C. Ryle, Auto-anlise. ( htt://w.w.w.geocities.com/Athens/Delphi/7162/JC Ryle 2.htm).

  • 19

    santa e perfeita de Deus. Dizemos isso pois estamos cientes de que no sabemos

    orar, mas certos tambm estamos de que o Esprito de Deus nos guiar, fazendo que

    as nossas oraes sejam ouvidas pelo Senhor Deus.

  • 20

    CAPTULO 2

    FUNDAMENTO BBLICO DA ORAO

    2.1- Orao no Antigo Testamento:

    a) Perspectivas Gerais:

    Ao aproximarmos da viso veterotestamentria sobre a orao, fica implcita

    a realidade de no se ter somente uma palavra para indicar o sentido da mesma,

    como ocorre nas lnguas modernas. Pelo contrrio, h uma grande variedade de

    palavras e idias. H vrios termos, enriquecendo a palavra orao, usados para

    descrever os sentimentos humanos. Encontramos: implorar, pedir a Deus livramento,

    buscar orientao, rogar misericrdia, interceder, invocar a Deus, clamar em aflio,

    suspirar, louvar, magnificar, exaltar, regozijar-se e adorar. Essas palavras expressam

    sentimentos vividos diante de Deus, o Senhor de Israel.

    No Antigo Testamento, a orao de sublime importncia por causa daquilo

    que caracteriza e constitui a nao de Israel: Seu relacionamento com o seu Deus.

    No todo perceptvel que a histria de Israel permeada e sustentada pela orao.

    Nos momentos decisivos, ali est o servo suplicando a beno do Senhor sobre o seu

    povo. Ai ento, vemos o desabrochar de um relacionamento surpreendente, pois com

    uma leitura acirrada veremos ressaltar a grande maravilha, onde o Deus soberano e

    Santo deseja se comunicar com suas criaturas falhas. Compreendemos nos livros

    veterotestamentrios, Deus querendo relacionar-se com o seu povo, algo explicado

    na grande e insistncia busca dEle, para com os israelitas rebeldes.

    No preciso estudar muitas oraes no Antigo Testamento, pblicas ou

    particulares, para descobrir que a maioria comea fazendo meno majestade de

    Deus, misericrdia e aos grandes feitos dEle, mesmo quando aquele que ora est

  • 21

    sufocado de problemas. 16 Nele, a petio e a intercesso so primrias, embora a

    adorao, as aes de graas e a confisso tambm tenham seu papel. Em todas estas

    formas de orao, porm, o elemento de petio tambm est presente.17

    A impresso que se tem sobre orao no Antigo Testamento que ao invocar

    o nome de Deus, era pressuposto que, ao faz-lo, a pessoa seria ouvida, claro que

    se o nome do Senhor no fosse invocado, no teria nenhuma resposta Invoca-me no

    dia da angustia; eu te livrarei, e tu me glorificars (Sl 50.15). Deus estava sempre

    atento para ouvir as oraes de Israel: O tu que escutas a orao...(Sl 65.2), o povo

    aproximava diante do trono certos da ateno de Deus para com as oraes, Perto

    est o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade(Sl

    145.18).

    O desejo de Deus era de ser buscado, anelava um povo que olhasse para Ele

    em toda e qualquer circunstncia, almejava se relacionar com o seu povo. O prprio

    Deus deixou claro na sua palavra, de seus ouvidos estarem atentos ao clamor do seu

    povo, Se o meu povo que se chama pelo meu nome se humilhar, orar e minha face

    buscar, ento eu ouvirei do cu e perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra(II

    Crnicas 7. 14).

    Desse modo ento, o princpio veterotestamentrio acerca da orao que, a

    mesma uma adorao onde o ser humano reconhecia sua total dependncia Deus,

    ao chegar sua presena. Nele h um destaque visvel do carter de Deus ao ouvir e

    responder a orao do homem, consequentemente a necessidade do indivduo achar-

    16 Robert L. Brandt e Zenas J.Bicket, O Espirito nos ajuda a Orar: Uma Teologia Bblica da Orao,

    (Editora CPAD Rio de Janeiro- RJ,1997), 191.

    17 Walter A. Elwell, Enciclopdia Histrico-Teologica da Igreja Crist.Vol.III, (Editora Vida Nova

    So Paulo-SP,1998), 58.

  • 22

    se em relao de aliana com Ele, implicando um relacionamento de deveres e

    privilgios nesse caminhar com o Senhor.18 Nos Salmos percebemos isso, quando

    clamavam: Deus, no te cales; no te emudeas, nem fiques inativo(Sl 83.1),

    Deus, redime a Israel de todas as suas tribulaes(Sl 25.22).

    Assim sendo, caracterizada por ser dirigida ao Deus nico, que o Deus de

    Israel e, ao mesmo tempo, o Senhor de todas as naes e da terra inteira. O suplicante

    veterotestamentrio, ao se dirigir a Deus, nunca esquecia que estava na presena de

    algum Santo e Onipotente, uma vez que o seu povo aproximava diante do

    Senhor, to somente pela sua bondade. Esse fato percebido pelo constante emprego

    do verbo histah war que significa prostrar-se, indicando um procedimento de um

    homem na presena de um superior.19 De fato, o ato de orar era indispensvel para

    um relacionamento com Deus ao orar o povo de Israel deveria reconhecer a sua

    fraqueza e limitao, e tambm deveria estar consciente do seu estado de pecador,

    observando unicamente a bondade de Deus. Fazendo assim no iria diante dEle com

    qualquer presuno no corao.

    Quando os israelitas chamavam Deus de Yahweh, eles reconheciam Seu

    reinado sobre a criao, viam em Deus um ser bom e pessoal, algum que ouvia

    orao independente de lugar ou circunstncia, qualquer lugar onde o homem

    estivesse, Deus sondaria as profundezas do seu corao,(ver Sal 139). O Antigo

    Testamento deixa claro que a orao pode ser feita em qualquer lugar. A orao no

    estava restrita a lugares santo, ou ao uso de frmulas especiais, Jonas orou no ventre

    do grande peixe(Jn 2.2-10). Os israelitas oravam por ocasio dos sacrifcios matinal e

    18 J.D. Douglas, Novo Dicionrio da Bblia,(Editora Vida Nova So Paulo- SP,2001), 1146.

    19 Lothar Coenen e Colin Brown, Dicionrio Internacional de Teologia do Novo Testamento Vol II

    (Editora Vida Nova So Paulo SP,2000), 1442-14.

  • 23

    vespertino. E recitavam o Shema (ver Deuteronmio 6.4-9), a cada manh e a

    tardinha.20

    b)Perspectiva nos Salmos:

    Nos Salmos a variedade e o nmero das oraes excedem todas as demais

    expresses de orao no Antigo Testamento, e, como em toda a Bblia, nele

    encontramos vrias exposies sobre a vida de orao do povo de Deus, oraes de

    louvores, lamentos, confisses, splicas, oraes de ao de graas, confiana,

    maldies e intercesses. H nesse livro um convite de louvar a Deus, conhec-lo

    melhor, a am-lo e encontrar nele o nosso gozo e a bem-aventurana.

    James Houston mostra-nos a idia de que nos Salmos celebramos o encontro

    com Deus, e esse encontro marcado pela nossa visibilidade de quem Deus

    argumenta o seguinte:

    Os Salmos celebram o nosso encontro com Deus... Aprofundando nossa

    apreciao por Ele, na adorao. Ele nos ajuda a tornar-nos mais realistas e

    mais ntimos com Deus. O resultado o louvor a Deus nos Salmos. O louvor

    permite-nos admirar, celebrar e enfocar sobre o prprio Deus, em resultado

    de nossa experincia e por aquilo que sabemos sobre o seu carter.21

    Ao comentar sobre o livro do Salmos J.I.Packer nos mostra a importncia de

    vermos os mesmos relacionados adorao, confisso e petio diz o seguinte:

    A Bblia ensina e exemplifica a orao como uma atividade qudrupla, a ser

    desempenhada pelo povo de Deus individualmente, tanto em privacidade

    como em companhia de outros. A adorao e o louvor devem ser

    expressados; deve ser feita a confisso contrita do pecado e buscado o

    perdo; devem ser oferecidos agradecimentos por benefcios recebidos; e

    peties e splicas por ns e por outros devem ser proferidas. A orao do

    Senhor(Mt 6-9-13; Lc 11.2-4) incorpora adorao, petio e confisso; o

    livro dos Salmos contm modelos de todos os quatro elementos da orao.22

    20 James Houston, Orar com Deus,(Editora Abba Press So Paulo SP,1995),89 Ainda sobre esse assunto ver O Novo Dicionrio da Bblia,(Editora Vida Nova So Paulo- SP,2001),, quando fala que

    orao tambm estava intimamente associada com o sacrifcio(Gn 13.4; 26.25;28.20.22), 1146.

    21 Idem, 94.

    22 J.I. Packer, Teologia Concisa, (Editora Cultura Crist So Paulo SP,1999), 177.

  • 24

    Entretanto, alguns crentes assimilam a idia de que nos Salmos no existem

    tambm peties, vem a orao de petio em qualquer outro livro menos nos

    Salmos. Alm do louvor e da adorao, Davi e o demais salmistas fizeram splicas.

    visvel que os Salmos so marcados pelo equilbrio, o que no os impede de conter

    as mais variadas peties. Essas abarcam uma grande variedade de situaes e

    circunstncias. certo que os salmistas pediam a um Deus que estava sempre

    disposio de seu povo, quando esse o buscasse de todo o corao.

    H tambm nesse escrito, o ato de confessar a Deus os pecados. A confisso

    torna-se primordial em alguns Salmos, como paradigma de arrependimento. No ato

    de confessar, devia-se ter idia de que a porta da misericrdia de Deus estaria sendo

    aberta, a confisso torna-se essencial, pois atravs dessa orao Deus libera perdo.

    Confessei-te o meu pecado e a minha maldade no encobri. Dizia eu: confessarei ao

    Senhor as minhas transgresses; e tu perdoaste a maldade do meu pecado (Sl 32.5).

    Na grandiosidade dos escritos dos Salmos, encontramos um registro

    abrangente da vida com Deus, por meio de relatos individualizados a respeito do

    funcionamento da vida espiritual. O primeiro e maior mandamento amar a Deus

    com todo nosso corao, com toda a nossa alma e com todo nosso entendimento.

    Como nenhum outro livro da Bblia, o Salmos mostra como o homem deve

    aproximar diante de Deus: com o corao apaixonado, com alma faminta e com a

    mente no dividida.

    O cristo ao ler os Salmos fica ainda familiarizado com as expresses de

    agonia que so enviados na direo de Deus. Neles os salmistas choram e derramam

    suas queixas, em toda a sua aterrorizante intensidade, pois a perspectiva que,

    fazendo isso, Deus interviria.

  • 25

    As oraes nos salmos dirigida sempre ao Senhor Yahweh, independente

    das circunstncias. O foco do corao deles era direcionado quele que est

    entronizado, o Rei do Universo, o Senhor de todo os senhores. Nisto percebemos

    ento o porque das oraes to confiantes neste livro.

    c) Perspectiva dos Profetas:

    Os profetas do Antigo Testamento viam a orao como uma questo crucial

    para a vida espiritual da nao de Israel. Alguns profetas viveram em uma poca em

    que a orao se tornara um exerccio obrigatrio de cerimnias vazias e de palavras

    sem sentido. A reao dos profetas a essa adorao vazia era que Deus recusava-se a

    dar ouvidos s suas oraes irreais.23 Nisso a orao criou uma direo

    importantssima, a intercesso24. Os profetas iam presena de Deus a fim de pedir

    pela nao, clamar pela misericrdia de Deus.

    Ao comentar sobre intercesso, J.D. Douglas aponta os profetas como

    participantes, eles tambm eram mediadores, apesar de estarem profetizando a

    palavra do Senhor, que quase sempre vinha como mensagem de ira, mesmo assim

    esses homens intercediam pelo povo na presena de Deus. O autor diz o seguinte:

    A intercesso parece que estava confinada a notveis personalidades que, em

    virtude de sua posio que lhes fora assinalada por Deus como profetas, sacerdotes e

    reis, esses possuam poder peculiar na orao como mediadores entre Deus e os

    homens. Porm, o Senhor sempre permanecia livre para executar a sua vontade.25

    23 James Houston. Op. Cit., 86-87.

    24 A nfase aqui dada sobre os profetas e o seu ministrio de intercesso exercida por eles a favor

    da nao de Israel.

    25 J.D. Douglas. Op. Cit., 1147.

  • 26

    Os profetas nos seus escritos defendiam o carter de Deus e buscavam

    esclarecer que Deus rejeitava a adorao da parte de pessoas cujos coraes andam

    longe dEle, e quando oravam buscavam a manifestao da mo de Deus sobre o seu

    povo. Isaias um desses exemplos, vivendo numa poca onde a nao havia se

    rebelado e pecado contra Deus, recebendo sua respectiva punio. O profeta ento

    intercede Deus em favor do seu povo, o desejo da sua alma era que Deus olhasse

    para aquela situao com misericrdia: Atenta desde os cus, e olha desde a tua

    santa e gloriosa habitao. Onde est o teu zelo e as tuas obras poderosas?... Tu,

    Senhor, s nosso Pai; nosso Redentor desde a antigidade o teu nome. Quando

    intercedia, sabia quem era Deus, e pedia que Ele manifestasse o seu poder na histria

    do seu povo. Ao comentar sobre essa mesma orao , Lloyd Jones acrescenta o

    seguinte: Ele est comeando com o carter de Deus. E esse , em ltima anlise, o

    segredo da verdadeira orao. A orao sempre deve comear com uma compreenso

    de Deus e do seu carter, de outra forma pode ser uma mera forma de descobrir

    algum tipo de alvio psicolgico.26

    No final dessa intercesso de Isaias h um suspiro na alma do profeta por um

    avivamento nacional, o Dr. M. Lloyd Jones nos convence, quando argumenta sobre

    o fervor existente no corao de Isaias a favor de Israel, algo que era essencial para a

    nao, e com certeza de extrema urgncia:

    Assim temos aqui sua grande petio final: Oh! Se fendesses os cus e descesses! No hesito em declarar que esta a orao suprema em conexo com um

    avivamento. claro que no h nada de errado em orar sempre para que Deus nos

    abenoe, que atente para ns, e que seja gracioso para conosco- essa deveria ser

    nossa orao constante. Entretanto isto vai alm, e aqui que vemos a diferena

    entre aquilo pelo a igreja deveria estar sempre orando, e a orao especial, peculiar e

    urgente.27

    26 D.M. Lloyd-Jones, Avivamento, (Editora PES So Paulo SP,1993), 282. 27 Idem, 308.

  • 27

    Ainda, numa poca onde o povo de Israel estava em decadncia, por ter

    escolhido confiar em deuses falsos, com o corao empedernido, rejeitando a

    correo do Senhor, levanta-se o profeta Jeremias com o corao esmagado pela

    imobilidade de Israel, quanto a submeter-se disciplina divina. Nisso o profeta

    Jeremias se pem a clamar em favor do povo Posto que as nossas maldades

    testifiquem contra ns, Senhor, opera tu por amor do teu nome; porque as nossas

    rebeldias se multiplicaram; contra ti pecamos. Oh! Esperana de Israel, Redentor seu

    no tempo de angustia (Jr 14.9). Quando os israelitas experimentaram os horrores da

    guerra: servido, fome, humilhao, novamente o profeta se pem a clamar Deus,

    ele no esconde diante de tamanha realidade, e continuava a clamar, Lembra-te,

    Senhor, do que tem sucedido; considera, e olha para o nosso oprbrio. A nossa

    herana passou a estranhos, e as nossa casas, a forasteiros. rfos somos sem pai,

    nossas mes so como vivas...( Lm 5.1-3), na mesma orao Jeremias reconhece a

    grandeza de Deus sabendo que o Senhor era poderoso para mudar aquela situao

    Tu Senhor, permaneces eternamente, e o teu trono, de gerao em gerao. Porque

    esquecerias de ns para sempre? Por que nos desampararia por tanto tempo?

    Converte-nos a ti , Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como

    dantes;(Lm 5.19-21).

    Percebemos a intercesso presente tambm no ministrio proftico de

    Ezequiel, mas uma coisa implcita que, no seu escrito as oraes e os dilogos so

    menos que os registrados pelos outros profetas maiores, nos seus respectivos escritos.

    Ao saber sobre vindoura destruio de Jerusalm e a sujeio de Israel o profeta

    orou por seu povo, Sucedeu, pois, que, havendo-os eles ferido, e ficando eu de

    resto, ca sobre a minha face, e clamei, e disse: Ah! Senhor Jeov! Dar-se- o caso

  • 28

    que destruas todo o restante de Israel, derramando a tua indignao sobre

    Jerusalm?(Ez 9.8).

    O profeta Daniel tambm, era um homem profundamente dedicado a orao,

    desfrutou sempre de um relacionamento quotidiano na presena de Deus, mesmo

    sabendo que havia um escrito contra a orao ao verdadeiro Deus, mesmo assim

    continuou sua intensa devoo a Deus Daniel, pois, quando soube que a escritura

    estava assinada, entrou em sua casa, e trs vezes no dia se punha de Joelhos, e orava,

    e dava graas, diante do seu Deus, como tambm antes costumava fazer (Dn 6.10).

    Daniel como os demais profetas tinha a perspectiva de que podia e deveria

    interceder Deus pela nao israelita. Inclina, Deus meu, os teus ouvidos, e ouve;

    abre os teus olhos e olha para a nossa desolao e para a cidade que chamada pelo

    teu nome, porque no lanamos as nossas splicas perante a tua face fiados em

    nossas justias, mas em tuas misericrdias. Senhor, ouve; Senhor, perdoa;

    Senhor, atende-nos e opera sem tardar; por amor de ti mesmo, Deus meu; porque a

    tua cidade e o teu povo se chamam pelo teu nome(Dn 9.18-19). Sobre esta orao

    Robert L. Brandt faz um comentrio do amor de Daniel para com seu povo,

    intercedendo por eles: Daniel era o advogado da nao perante o tribunal de justia

    de Deus. Ele implorou que houvesse reavivamento e restaurao, e a base para tal

    apelo era um genuno arrependimento. Ele considerou como se fossem seus os

    pecados de governantes, reis, sacerdotes e juizes.28

    A vida de orao desses homens era de grande relevncia, no somente

    partindo da perspectiva de que, no seu chamado implicaria tambm intercesso. Eles

    tinham uma vida profunda de orao e a mesma era indispensvel no ministrio

    28 Robert L.Brandt e Zenas J. Bicket, Op. Cit.., 202.

  • 29

    proftico deles. A prpria recepo da Palavra revelatria de Deus envolvia o

    profeta numa relao de orao com Yahweh. De fato, perfeitamente possvel que a

    orao fosse essencial para a recepo da Palavra por parte do profeta ( Is 6.5; Jr

    11.20-23; 12:1-6 e 42.1). A viso proftica foi dada a Daniel quando ele se achava

    em orao(Dn 9.20).29

    Diante da necessidade os profetas oravam; algumas vezes at mesmo em

    favor daqueles contra quem profetizavam. Intimamente familiarizados com o

    propsito divino a respeito do futuro, eles sabiam melhor que os outros pelo que

    deviam orar.

    2.2- Orao no Novo Testamento:

    O termo mais compreensivo no Novo Testamento para orar

    proseuchomai, denota a orao em geral, e pode ser empregado sem mais

    qualificaes. A perspectiva neotestamentria de orao que est de conformidade,

    em todos os aspectos, com aquela que se desenvolvera no Antigo Testamento. Segue

    o modelo das oraes de Jesus, s quais h repetidas referncias, sendo que estas, por

    sua vez, refletem oraes e idias veterotestamentrias.

    Na orao neotestamentria vemos o povo de Deus se dirigindo a Deus. Nisso

    entendemos, que a genuna orao no monlogo, mas sim, dilogo, se tornando

    algo bem pessoal e especfica, um dilogo genuno com Deus, um relacionamento

    espiritual profundo, constituindo assim nesse encontro, um relacionamento de

    amizade e amor.

    Assim como no Antigo Testamento, a orao neotestamentria varia

    enormemente quanto ao tema e complexidade. So Pedidos, confisses,

    29 J.D. Douglas Op. Cit., 1147.

  • 30

    intercesses, agradecimentos e expresses de louvor. S que, no Novo Testamento

    h uma viso mais abrangente sobre a orao, devido ao ensino de Cristo sobre esse

    assunto, o povo agora recebeu um direcionamento para se aproximar diante de Deus.

    Jesus Cristo ensinou os seus discpulos o modo de orar. Jesus em Lucas 11.1-4

    revela-se como Mestre da orao, o nico suficiente que nos pode mostrar o caminho

    da aproximao ao Pai celestial. Partindo dos ensinamentos de Jesus sobre a orao,

    veremos alguns aspectos importantssimos para compreendermos a viso

    neotestamentria sobre esse assunto, vemos ento que:

    a) dirigida ao Pai:

    Aproximando da viso neotestamentria sobre orao, fica implcito que era

    dirigida ao Pai Portanto orareis assim: Pai Nosso(Mt 6.9), assim parece ficar claro

    que, no somente era Deus o Pai de Jesus, em um sentido exclusivo, mas o privilgio

    e filiao estendido a todos aqueles que fazem parte do Reino de Deus.

    O nosso Deus Pai, de quem podemos aproximar com confiana, afeto e

    amor, convictos que Ele est com os ouvidos atentos s nossas peties. Charles

    Hodge enfatiza porque Jesus ensinou os discpulos a orarem ao Pai: O Pai est

    sempre disposio de seus filhos e nunca est preocupado demais que no possa

    ouvir o que eles tm a dizer. Esta a base da orao crist.30

    No Novo Testamento Jesus revela aos discpulos que eles poderiam

    aproximar de Deus chamando-o de Pai (ver Mt 6.6,9, e Lc 11.2) Numa leitura

    acirrada do Antigo Testamento no encontrado nenhum exemplo dos hebreus

    30 Charles Hodge, Teologia Sistemtica, (Editora Hagnus So Paulo SP,2001), 692.

  • 31

    tratando Deus como Pai, quer seja em Salmos ou em qualquer outra orao vetero-

    testamentria. Os textos que aparece a palavra Pai usado para designar Deus

    como Pai de toda a nao, e nenhuma vez que aparece dirigido por um crente

    particularmente.31 Isso no deixa dvida para alguns estudiosos veterotestamentrios,

    chamando ateno, o grande fato de no ser encontrado no judasmo nenhum

    exemplo convincente da utilizao da expresso meu Pai para Deus.32

    Quando olhamos para Deus, convencido de que Ele seja o nosso Pai,

    encontramos um significado singular, pois o Deus que de importncia to crucial

    para tudo que Jesus diz e faz, o fundamento, o centro, a meta da orao que ele

    ensinou para o seu povo. Quando Jesus nos ensina a chamar Deus de Pai, ele nos

    mostra a quem nossa orao deve ser dirigida e nisso descobrimos como esse Deus

    a quem o foco da nossa orao deve se dirigir. Ao cham-lo de Pai, percebemos que,

    nessa palavra est algum que, por definio, se relaciona com outros- seus filhos.

    Quando Jesus nos diz que Deus Pai, ele est nos dizendo que no mais profundo de

    seu ser Ele est envolvido em um relacionamento.

    relevante entendermos que, no so todos que podem chamar a Deus de

    Pai, Jesus no ensinou todos a chamar Deus de Pai, mas somente os discpulos, assim

    entendemos que: Deus Pai para aqueles que depuseram as armas da rebeldia

    31 Alan Pieratt, Orao: uma nova viso para uma Antiga orao, (Edito .Vida Nova So Paulo-

    SP,1999), 59.

    32 Herminsten Maia, Pai Nosso, (Editora Cultura Crist So Paulo SP,2001), 18. Ver que Abba e imma, papai e mame- so as primeiras palavras que as crianas judias aprendem a falar. E abba um

    termo to pessoal, to familiar que ningum jamais se atrevera a usar para dirigir-se ao grandioso

    Deus do universo, ningum, at que Jesus o fez. George Ladd no seu livro de Teologia do Novo

    Testamento(Editora Hagnos SoPaulo-SP,2001),82 acrescenta: A palavra abba foi tomada do linguajar das crianas e significa algo semelhante ao nosso paizinho. Os judeus no fizeram uso desta palavra para se dirigirem a Deus, pois ela era muito intima e parecia desrespeito. Abba

    representa a nova relao de confiana e intimidade que Jesus conferiu aos homens.

  • 32

    contra Ele. Isto s pode acontecer quando a graa de Cristo na vida das pessoas,

    desperta-as e abre seus olhos para ver o Deus glorioso e maravilhoso e a beleza da

    salvao atravs de seu Filho. O resultado que mediante esse relacionamento

    intimo com o Filho, vendo-o como Senhor e Salvador pessoal, ento, e s ento,

    comearo a clamar Pai.33Cristo nos ensinou que: ningum conhece o Pai seno

    o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar( Mt11.27).

    Portanto a orao neotestamentria sempre em primeira instncia dirigida

    ao Pai, e quando feito isso, o povo estava convencido de que esse Deus a quem era

    invocado intimamente de Pai, algum disponvel Igreja. Cristo se relacionava

    com o seu Pai, observando seu modelo, os seus discpulos prosseguia a jornada na

    terra clamando sempre ao Pai, de manh, a tarde, ou de noite. E esse fato, de se

    dirigir a Deus como Pai, fazia-os lembrar da sua benevolncia, pois quantas

    bnos e consolo lhes foram conferidos.

    b) Dirigida com Sinceridade:

    Os judeus tinham algumas motivaes erradas quanto o assunto orao, eles

    tinham formalismo quanto ao tempo, formalismo quanto ao lugar, quanto forma da

    orao e ainda eram formais quanto extensividade da orao. Alguns a faziam

    sinceramente, mas havia aqueles que procurava estar nas praas justamente nos

    horrios marcados para a orao, ali mesmo eles comeavam a recitar as sua preces,

    no meio das grandes multides que passavam, vendia ento uma imagem de piedade

    e consagrao, ganhando grande respeito por parte daqueles que no sabiam fazer

    uma interpretao certa, dos seus coraes. Por isso Cristo combateu a motivao

    33 D.M. Lloyd-Jones, Avivamento.Op.Cit., 282

  • 33

    que eles tinham, E quando orares, no sejais como os hipcritas; pois se comprazem

    em orar em p nas sinagogas, e s esquinas das ruas para serem vistos pelos

    homens(Mt 6.5).

    Para a orao ser verdadeira no ensino de Jesus, ela deveria ter como origem

    uma motivao adequada. A orao expressa com o nico intuito de atrair a ateno

    e a admirao do povo no orao, mas v exaltao do ego, essa fugia da

    perspectiva bblica. Jesus no estava condenando a orao pblica, nem a orao

    individual feitas em lugar pblico, estava combatendo a finalidade destas oraes,

    que era mais direcionada a uma platia, que ouvia e aplaudia, do que aos ouvidos de

    Deus. Ento, percebe-se porque Cristo os chamam de hipcritas.34

    Assim, os discpulos deveria ter cuidado na motivao das suas oraes a

    instruo de Cristo para seus seguidores, quando orarem, entrem em seu quartos e

    fechem as portas, no sugerem que a orao pblica seja imprpria. Apenas sublinha

    a necessidade de que seja evitada qualquer inteno de usarmos a orao como um

    meio de obter a admirao do povo.35

    Quando estivessem orando, deveriam lembrar cuidadosamente, de que

    estariam falando com Deus, e o foco da mesma deve ser unicamente Ele, e nunca as

    pessoas nem o eu, tudo aquilo temporrio que os tirava da motivao certa, devia

    estar do lado de fora de suas motivaes.

    34 Herminsten Maia, Op. Cit., 23.

    35 Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket, Op. Cit., 268.

  • 34

    c) Dirigida com Objetividade:

    Jesus orienta os discpulos a no orar usando vs repeties, e, orando, no

    useis de vs repeties, como os gentios(Mt6.7). A expresso vs repeties se

    deriva do vocbulo grego battologeo, que significa basicamente falar sem pensar,

    falar sem sentido, balbuciar, repetir palavras ou sons inarticulados, falar

    inutilmente e dizer sempre a mesma coisa. Cristo alerta os discpulos que frases

    repetidas, sem sentido, expressa mecanicamente, no tm peso diante de Deus , o que

    Ele ouve o clamor que flui do corao e no o rudo produzido pelos lbios.

    Herminsten Maia comenta o seguinte sobre as vs repeties:

    Os pagos criam que as repeties contribuam para pressionar os seus

    deuses a conceder-lhes favores. Ao que parece, era esta crena que estimulou

    os profetas de baal a permanecerem durante horas orando ao seu deus sem

    serem respondidos. Do mesmo, os efsios indignados com a pregao crist,

    gritaram por quase duas horas: Grande a Diana dos efsios!(At 19.34). De modo semelhante procedem os catlicos romanos com suas repeties do

    Pai nosso e ave-maria .36

    A finalidade das oraes no ensino de Cristo expressar a Deus nosso

    reconhecimento de que ele sabe sobre as nossas necessidades. A orao mais do

    que um apelo feito a Deus. Ela expressa nossa submisso vontade do Pai.

    Na Bblia, nos relatos que nos d de vrias oraes, e de todo o modelo da

    orao, deixa perfeitamente claro que precisamos de instruo, para que no caiamos

    em vs repeties, ou para que, no falhemos em orar com o entendimento, bem

    como com o corao. As vs repeties condenadas por Cristo exatamente aquelas

    que eram feitas sem entendimento e sem o corao. Deveria ser feita com

    objetividade e no de qualquer maneira, o discpulo deveria apresentar diante de

    Deus com essa idia, e no como os pagos.

    36 Herminsten Maia, Op. Cit. , 26.

  • 35

    d) Dirigida com Reverncia:

    Ao ensinar os discpulos a orar, Cristo mostrou tambm que, eles deveriam

    dirigir ao Pai que est nos cus (Mt 6.9), nisso fazemos uma associao

    interessante, ao mesmo tempo que nos mostra que Deus Pai, tambm nos mostra

    que Ele est no cu. H aqui, os clssicos conceitos teolgicos da transcendncia e

    da imanncia: Deus Santo, est acima de ns e separado de todo o mundo criado.

    Ao mesmo tempo, Deus est prximo e dentro de ns, enchendo todas as coisas com

    sua presena.37

    Sobre essa questo Lloyd Jones mostra como deve o discpulo aproximar

    diante da presena de Deus:

    Lembramos de Deus quando oramos? Lembramo-nos da santidade de Deus? Como

    essencial que nos lembremos de tudo isto! Considerem o prprio Senhor Jesus

    Cristo, quando esteve aqui neste mundo, Ele que, embora estivesse na terra, ainda

    estava no cu, o unignito amado Filho do Pai celestial. Quando estava orando, Ele

    disse: Pai santo. No estamos verdadeiramente orando se no compreendermos estas coisas. Somos como crianas mimadas, queremos perdo, queremos bnos,

    queremos, queremos... Esperem um pouco estamos nos aproximando diante de um

    Deus santo. Portanto, ao nos lembrarmos disso, lembramo-nos do nosso prprio

    pecado e da nossa indignidade. Isto nos faz esquecer os nossos direitos e exigncias,

    e leva-nos a prostrarmos perante Ele.38

    Todavia, h algumas pessoas que se intitulam intimas a Deus, tendo a idia de

    que podemos chegar diante de Deus de qualquer jeito, tratando Deus como um igual

    ou em muitos casos como um ser inferior, a quem esses homens dirigem verdadeiras

    imposies em suas oraes, efeito de uma m teologia. Mas ser que isso que nos

    ensina a Bblia? Na verdade tal idia nunca ser encontrada na Palavra de Deus; pelo

    37 Alan Pieratt, Op. Cit, 67.

    38 D.M.Lloyd-Jones, Avivamento,Op.Cit., 299.

  • 36

    contrrio, encontraremos na mesma a perfeita dimenso da gloriosa santidade de

    Deus, e que, portanto, devemos nos aproximar dEle em adorao e respeito.39

    Devemos ento, aproximar diante de Deus reconhecendo que Ele est nos

    cus, e portanto transcende todas as coisas. Ele est acima de tudo, Ele fez tudo, e

    Ele a fonte de tudo. O Deus do cu a quem Jesus nos ensina a orar, pode ver num

    piscar de olhos, toda a extenso da Histria, e j sabe tudo que vai acontecer no

    futuro.40Da ento a nossa reverncia a Ele, por que Ele Santo.

    e) Dirigida com Submisso:

    Os discpulos no podiam apresentar diante de Deus com qualquer premissa,

    de que Ele tem o dever de obedecer a vontade humana, pelo contrrio deviam ir

    diante de Deus, respeitosamente sabendo que a vontade a ser feita a dEle Faa-se

    a tua vontade, assim na terra como no cu.(Mt6.10).

    Quando pensamos a respeito dessa parte da orao ensinada por Jesus,

    podemos ter a perspectiva correta que Deus tem um plano totalmente abrangente e

    inteiramente soberano sobre tudo. Os discpulos deviam subordinar os desejos a essa

    soberana vontade, nisso no fariam das oraes um meio de obter coisas irrelevantes

    para as suas vidas.. Ao pedir a Deus que a vontade dEle fosse feita, deviam ter a

    certeza que Deus tinha o melhor para eles e que sua vontade era sempre o melhor,

    cada um que aproximava diante do Pai Celeste, submetendo-se a direo soberana de

    Deus, reconhecia que a Sua boa mo dirigia as suas vidas para os caminhos

    melhores.

    39 Charles Hodge, Op.Cit., 702.

    40 D.M. Lloyd-Jones, Avivamento, Op. Cit., 282.

  • 37

    Quando oravam sinceramente conforme as Escrituras, deveriam submeter os

    seus desejos a Deus; certos que, de maneira nenhuma poderiam ensinar o Pai

    Celestial nas oraes , nem tampouco mudar a Sua vontade.

    Jesus Cristo mostra atravs do Pai Nosso que a submisso o elemento

    bsico para a orao, pois havendo isso em nossos coraes teremos sempre

    impregnado no mesmo, a realidade de que Deus quer sempre o melhor para o seu

    povo, e, seremos gratos a Ele, mesmo que s vezes no entendamos no momento a

    ao divina, mas ela sempre nos levar ao centro da vontade do Senhor, para mais

    perto da sua presena.

    f) Dirigida em forma de Confisso:

    No Novo Testamento temos ainda a perspectiva de que os discpulos

    deveriam orar suplicando a Deus perdo pelas dvidas. Entendemos que dvida no Pai

    Nosso tem a mesma idia de pecado, uma vez que Lucas usa a palavra pecados em

    lugar de dvidas (ver Lc11.4). A palavra usada para dvida refere-se a uma divida

    pendente que precisa ser paga e ao mesmo tempo assinala que no dispomos de

    recursos para faz-lo.

    medida que aproximamos de Deus, mais sentimos um profundo senso de

    pecado e indignidade pessoal. Devemos sentir o peso dos nossos atos. importante

    vermos que o corao do servo ao pedir perdo dever clamar por aquilo que ele j

    fez com as pessoas que o ofenderam assim como ns perdoamos os nossos

    ofensores. Nenhum Filho de Deus pode abrir mo de pedir ao Senhor que lhe

    perdoe os pecados, mas nenhum tambm tem o direito de pedir perdo por suas

    dvidas quando no sabe perdoar. Quando estamos prontos a perdoar, a despeito de

  • 38

    nossa condio de fraqueza e pecaminosidade, Deus est pronto, em sua santidade

    perfeita, a nos perdoar.

    Toda orao repousa sobre a nossa f na graa perdoadora de Deus. Se Deus

    nos tratasse conforme os nossos pecados, nenhuma orao seria respondida. A

    disposio perdoadora de Deus revelada em seu amor para conosco. Quando o

    poder desse amor derramado sobre ns e habita em ns, ento perdoamos como Ele

    perdoa.

    g) Dirigida em forma de Petio:

    O Senhor Jesus mostra aos discpulos que eles deveriam pedir a Deus aquilo

    que necessitavam, deveriam pedir desde o po, vinda do Reino sobre Eles.

    Mostrou que deviam, de fato pedir. pedi, e dar-se-vos-; buscai, abrir-se-vos-

    Porque aquele que pede, recebe; e o que busca, encontra; e o que bate, se

    abre(Mt7.7).

    Jesus Cristo ensinou que deveriam pedir o que desejassem, deveriam buscar

    aquilo que estava faltando e bateriam, quando queriam receber aquilo que lhes

    estavam vedado.

    Nos ensinamentos de Jesus sobre orao, os discpulos deveriam

    compreender que Deus sabia o intento mais profundo das suas oraes e, portanto,

    responderia necessidade que estivesse debaixo da vontade soberana de Deus.

    Sabiam muito pouco dos caminhos do tempo de Deus, mas deveriam continuar

    suplicando por sua graa. Assim sendo, desfrutaria de uma relao filial de confiana

    com o Seu Deus, o Pai Celestial, expondo-lhes a carncia de suas necessidades.

  • 39

    Charles H. Spugeon interpreta a petio na orao da seguinte maneira:

    dito com verdade que pedir a regra do reino. uma regra que nunca ser

    alterada, em qualquer caso. Se o real divino Filho de Deus no pde estar isento

    desta regra de pedir para que ele possa ter, voc e eu no podemos esperar que esta

    regra seja relaxada em nosso favor.41

    Os discpulos achariam os tesouros escondidos atravs das suas peties,

    por meio da orao deveriam escavar os tesouros que estavam to bem mencionados

    no Pai Nosso.

    h) Dirigida em Nome de Jesus:

    As oraes dos discpulos deveriam ser oferecidas em nome de Jesus. Ele

    deixou claro para seus discpulos quando os ensinou que eles nada tinham, porque

    no haviam pedido no nome dEle: At agora nada tendes pedido em meu nome;

    pedi, e recebereis(Jo 16.24). Eu vos escolhi... a fim de que tudo quanto pedirdes ao

    Pai, em meu nome, ele v-lo conceda(Jo15.16).

    Sobre esse assunto no deveremos fugir daquilo que a Bblia nos ensina,

    quando se diz que devemos orar em nome de Cristo, requer-se de ns que

    insistamos no que Cristo e no que ele fez, como a razo pela qual seremos

    ouvidos.42

    ntido que os discpulos quando ouviram sobre este assunto, no

    relacionaram pedir em nome de Jesus, a um simples acrscimo s suas oraes. No

    significaria que eles deveriam acrescentar essa expresso ao nome de Jesus. Jesus

    41 Douglas F. Kelly, Se Deus j sabe, Porque orar?, (Editora Cultura Crist So Paulo -SP,1996), 87.

    42 Charles Hodge, Op.Cit., 1541.

  • 40

    aqui no est determinando o uso de palavras para serem vistos como frmula

    mgica, que daria poder extra s peties. Orar em nome de Jesus portanto orao

    que se faz com autorizao dele.43 Quando Cristo ensina em nome de quem os

    discpulos deveriam orar, mostra que suas oraes teriam que ter um carter bblico,

    pois dificilmente eles deveriam entender outra coisa. Uma vez estando orando assim,

    no implicaria somente uma orao de autoridade, mas que essa deveria estar

    compatvel com o carter do Senhor Jesus, em verdade refletiria o seu modo de vida

    e a sua prpria vontade.

    De fato, eles no poderiam confiar nos seus prprios mritos, nem tampouco

    na sua justia, antes porm nas misericrdias de Deus, deveriam apelar para os

    mritos e dignidade de Cristo. somente nele, em virtude de sua mediao que

    qualquer beno conferida aos homens.44

    Cremos ento, que orar em nome de Cristo significa orar com a conscincia

    de que nossas oraes no tm valor ou eficcia parte do seu sacrifcio

    reconciliatrio e mediao redentora. Quando a fazemos no nome de Jesus

    reconhecemos nossas limitaes e fraquezas. Assim vem em ns o sentimento que

    nossas oraes s podem penetrar o tribunal de Deus, quando apresentada ao Pai

    pelo Filho, Senhor e intercessor da Igreja.

    Ao falarmos sobre as oraes na perspectiva neotestamentria, abordamos

    principalmente aquilo que Jesus ensinou aos seus apstolos, e que os mesmos

    43 Wayne Gruden, Teologia Sistemtica, (Editora Vida Nova So Paulo SP,2000), 308. 44 Charles Hodge, Op.Cit., 1541.

  • 41

    deveriam passar para os demais discpulos. Abordando essas questes deixamos

    claro que orao no ensinamento de Jesus est longe de ser um assunto esgotado com

    acirradas pesquisas.

    A orao um assunto que recebe grande nfase bblica. Como vimos, tanto o

    Antigo Testamento como o Novo Testamento mostra isso. O Senhor Deus buscado

    pelo seu povo, de fato quando aproximamos da viso bblica acerca do assunto que

    o povo de Deus dava muita primazia em estar na presena, e tambm perceptvel

    que Deus ouvia oraes e tinha prazer em respond-las segundo a sua vontade.

  • 42

    CAPITULO 3

    ORAO NA HISTRIA

    3.1- No Perodo Patrstico: Ao falarmos de orao no perodo Patrstico, selecionamos apenas dois

    personagens, Ambrsio de Milo e Agostinho de Hipona.

    a) Ambrsio de Milo:

    Ambrsio de Milo nasceu em Trveros na Itlia por volta de 333 e morreu

    em 397. O que podemos saber sobre esse homem sobre seus ensinamentos sobre

    orao est confinado aos seus sermes, s vezes por frases coletadas por alguns

    estudiosos.

    Ambrsio via a orao como ...a asa com que a alma voa para o cu,45 onde

    a mesma ter um encontro com o Pai Celestial. Quando expe sobre o Pai trabalha

    a idia de que ramos inimigos de Deus, onde no tnhamos nem a ousadia de

    levantar os nossos olhos para o cu, mas Cristo nos aproximou do Pai, recebemos a

    sua graa, nossos pecados foram perdoados, e de mau servidor, Deus nos fez filho.

    A partir de uma hermenutica acerca do Pai Nosso, nos mostra a seguinte

    declarao: Levanta os olhos para o Pai... que te redimiu por meio de seu Filho, e

    dize: Pai Nosso. Tu o chamas Pai, como um filho, mas no reivindiques para ti

    qualquer privilgio.46 Para ele as virtudes da orao eram muitas, o cristo deveria

    orar em todo lugar e no ficar preso a um determinado espao, fez isso quando

    comparou 1Tm 2,8 e Mtc6,6. Conclui o seguinte: Podes orar em todo o lugar e orar

    sempre no teu quarto. Tu tens o teu quarto em todo o lugar. Mesmo que estejas entre

    45 John Blanchard. Prolas para a vida, (Editora Vida Nova So Paulo SP,1993), 263. 46 Ambrsio de Milo, (Editora Paulus So Paulo-SP,1996), 65.

  • 43

    os pagos ou entre os judeus, sempre tens em todo o lugar o teu segredo. O teu

    quarto o teu esprito. Mesmo que estejas no meio do povo, conservas, no entanto,

    dentro do homem o teu lugar fechado e secreto.47

    Argumentou ainda que a orao no deveria comear com palavras frvolas,

    como se ns estivssemos na presena de qualquer um. No deveria sair de ns

    qualquer palavra arrogante. A orao, portanto, deve comea com o louvor a Deus,

    de modo que peas ao Deus Todo-Poderoso, para o qual todas as coisas so possveis

    e que tem vontade de conced-las.48

    A partir de sua teologia mostra ao povo que quando eles orarem, deveriam ter

    em mente que, a primeira orao deveria conter o louvor, a seguir vinha a suplica,

    depois dessa o pedido, por ultimo vinha a ao de graas. A partir disso conclui:

    No deves comear como faminto pelo alimento, mas pelos louvores a

    Deus. Eis porque estes sbios oradores tm este mtodo para tornar o juiz

    favorvel a si; eles comeam por seus louvores, para tornar o rbitro

    benvolo a si. Depois, pouco a pouco, comea a pedir ao juiz que se digne

    escutar com pacincia. Em terceiro lugar, expe o objeto da sua postulao,

    exprimindo o pedido. Em quarto lugar... assim como comeou pelos

    louvores a Deus, do mesmo modo cada um de ns deve terminar com o

    louvor a Deus e com a ao de graas.49

    Ele tinha plena convico de que a orao s poderia chegar ao Pai por

    intermdio do Filho, sem a intercesso de Cristo ningum aproxima de Deus Pai,

    47 Ambrsio de Milo, Op. Cit., 71-72.

    48 Ver com mais detalhe a exposio feita por ele nas pginas 74-75 do livro Ambrsio de Milo,

    (Editora Paulus So Paulo SP). 49 Ver o livro Ambrsio de Milo, Op. Cit.,75 Para ele encontraremos algumas premissas no Pai

    Nosso. Pai nosso que ests nos cus um louvor a Deus, venha teu reino Seja feita a tua vontade assim na terra como no cu o po nosso de cada dia d-nos hoje e perdoa as nossas dividas entram na rea de pedidos.

  • 44

    certo de que ele ouvir. Ambrsio de Milo afirma que ... a no ser que Jesus

    interceda, no h comunicao com Deus para ns nem para todos os santos.50

    b) Agostinho de Hipona:

    Aurlio Agostinho, nasceu no dia 13 de novembro de 354, em Tagasta, na

    provncia romana da Numdia. No seria radicalismo dizer que a vida desse homem

    foi em constante orao, pois a sua prpria converso foi fruto de vrios anos de

    intercesso que era feito por sua me Mnica.

    Agostinho via na orao um caminho de amizade, afeto e amor para com

    Deus a orao genuna e total nada mais do que amor.51 No livro escrito por ele

    chamado Confisses encontramos as mais belas oraes de louvor, petio, alegria

    e amor. Para Agostinho a felicidade do homem encontrada quando o homem busca

    Deus atravs da orao, quando o ser humano procura o Deus celestial, a sua alma

    viver.52

    bom salientarmos um pouco da comunho existente entre Agostinho e

    Deus, o seu corao era desprendido na presena do seu Senhor, palavras

    desafiadoras e cheias de afeto saiam do seu corao em expresso de louvor Deus.

    Diz ele: minha alma morada muito estreita para te receber: ser alargada por ti.

    Senhor. Est em runas: restaura-a! Tem coisas que ofendem aos teus olhos: eu o sei

    e confesso.53

    50 Richard J. Foster. Orao, o Refgio da Alma,(Editora United Press Campinas SP,2001), 199. 51 Idem, 13.

    52 Ver o Livro Confisses de Santo Agostinho(Editora Paulus So Paulo- SP,1997), 292.

    53 Santo Agostinho, Op. Cit., 23.

  • 45

    Agostinho alertava a Igreja quanto ao perigo ligado a orao. O povo deveria

    ter sinceridade ao entrar na presena de Deus, e o corao do adorador no poderia

    estar aberto aos importnios, s futilidades exteriores. Para ele era preciso fechar a

    porta: resistir as solicitaes dos sentidos corporais, para que uma orao toda

    espiritual se dirija ao Pai. Orao essa feita no intimo do corao, onde em

    segredo[oramos] ao Pai.54

    Devemos ligar a idia de que a orao era importante para ele, cuidava com

    as coisas que poderiam atrapalhar o verdadeiro caminho para a orao chegar ao seu

    objetivo que era o prprio Deus. Confiava que as oraes poderiam ser feitas em

    favor da salvao dos homens, desconsiderando o livre-arbtrio humano a favor da

    salvao. Para Agostinho, ns no deveramos pedir a Deus em favor dos homens se

    esses possuem esta liberdade para escolher a Deus. O que fica visvel ao estudarmos

    a viso de Agostinho sobre orao, que, o mesmo dava muita nfase a esse assunto,

    e que o mesmo tinha um lugar de destaque no seu relacionamento com Deus.

    c) Movimento Monstico:

    Aproximadamente no ano 311 d.C perodo esse de grande mudana para a

    Igreja , devido algumas mudanas ocorridas, quando o imperador Constantino toma o

    poder e implanta o cristianismo como religio oficial do seu imprio. Surge ento um

    movimento rejeitando no apenas aos valores mundanos da sociedade pag, mas

    tambm a introduo destes valores dentro da Igreja.

    Esse movimento ficou conhecido pelo nome de Monasticismo. Dentre os

    idias desse movimento estava o da contemplao e solitude, onde a busca por Deus

    estava patente como afirma Ricardo Barbosa: O silncio, para os Pais do deserto,

    54 Santo Agostinho, O Sermo da Montanha, (Editora Paulinas So Paulo SP,1992), 112.

  • 46

    no significa apenas o no falar, mas tambm uma postura diante de Deus e de ns

    mesmos. um silncio que nos habilita a ouvir, meditar e contemplar as obras e

    mistrios de Deus.55

    Um dos exemplos mais conhecido o de Antnio, que visto como o pai

    desse movimento. Apesar de ser um homem rico vendeu tudo o que tinha, distribuiu

    entre os pobres, entregou-se totalmente num caminhar de imitao a Cristo. Sua

    busca por santidade e perfeio conduziu-o at o deserto, onde, em absoluta solido,

    imitou o gesto de Jesus e permaneceu por quarenta dias em jejum e orao, buscando

    sempre por em primeiro lugar o reino de Deus e a sua justia certo de que tudo

    mais lhe seria acrescentado.56

    O que os pais do deserto buscavam nesse gesto, era um rompimento com o

    processo de mundanizao da Igreja. Para eles a guerra dos cristos era a do domnio

    prprio, visto como uma luta contra os demnios, essa era travada com disciplina,

    orao e leitura da Bblia, jejuns e viglias.

    Como vimos no d para dissociarmos esse movimento da vida de orao,

    eles a buscavam, queria ter um encontro verdadeiro com Deus. Eles tinham ainda

    um ensinamento que no somente viviam como tambm passavam acerca da orao,

    era o da ganncia espiritual, isto , querer mais de Deus do que poderia ser

    suportado. A idia era a seguinte, se a orao no um hbito fixo com voc, em

    vez de comear com doze horas de dilogo cheio de orao, separe alguns momentos

    e coloque neles toda a sua energia.57

    55 Ricardo Barbosa, O caminho do Corao, ( Editora Encontro Publicaes Curitiba-PR,1999), 116.

    56 Idem, 100.

    57 Richard J. Foster, Op. Cit., 199. Ver ainda a avaliao desse movimento feita por Earle E.Cairns no

    seu livro O Cristianismo atravs dos Sculos, (Editora Vida Nova So Paulo-SP,1995), 124.

  • 47

    O movimento monstico tem suas influncias at na nossa poca, onde

    muitos tem visto o exemplo de orao desses homens, e tem buscado contemplar a

    Deus, nesse caminho que alguns chamam de deserto. Aprendemos com os pais do

    deserto a busca pela imitao de Cristo, atravs da sua vida de orao, jejum e amor

    para com o Reino de Deus.

    3.2- Com os Reformadores:

    a) Martinho Lutero:

    A abordagem que Lutero faz acerca da orao que ela chave de toda tica

    crist, ela acompanha toda a vida do cristo. Embora para ele a orao seja parte da

    tica crist, inclua tambm sempre a lembrana da salvao e o pedido pela f

    sustentada pela palavra da promessa do Evangelho da graa de Deus.

    O relacionamento entre o cristo e Deus atravs da orao era para ele

    tambm uma questo de necessidade que leva o cristo a buscar o Senhor em suas

    promessas.58

    Via ainda na orao uma proteo e defesa contra qualquer adversrio, um ou

    dois cristos orando sero um muro de ferro contra os inimigos. A orao se tornava

    uma estratgia de guerra contra o mal e uma entrega total da vida nas mos de

    Deus.59 Torna-se no um trabalho para o crente, mas um alivio para seu corao. A

    mesma no serve para instruir a Deus, mas atravs dela nosso prprio corao recebe

    instruo, o servo de Cristo ora brevemente, mas com freqncia e intensamente.

    Percebe-se que na presena de Deus Lutero encontrava uma torre forte, um

    lugar seguro, o seu relacionamento com Deus era seguro, sabia que poderia confiar

    58 Martinho Lutero, Obras Selecionadas vol. 5, (Comisso Interluterana de Literatura So Leopoldo-

    RS,1995), 113.

    59 Ver Martinho Lutero, Op. Cit., 114.

  • 48

    em Deus no momento de dificuldades. Em orao Lutero expressava os desejos do

    seu corao, vejamos uma de suas oraes: Deus! Deus! meu Deus! Ajuda-

    me contra toda sabedoria deste mundo. Faa isso te imploro; Tu deves fazer isso...

    pelo teu prprio poder imenso... A obra no minha, mas Tua.60

    b) Joo Calvino:

    Calvino foi um dos grandes telogos do passado que mais deu nfase sobre a

    orao. O maior captulo do seu livro as Institutas dedicado a esse assunto. Apesar

    de ser atacado por muitos acerca da sua teologia61, todavia esse homem via em Deus

    algum que se relacionava com a igreja, algum transcendente mas tambm

    imanente. Quando Calvino fala sobre orao, mostra toda possibilidade do ser

    humano conhecer e ter comunho com Deus.

    Chamou orao de o principal exerccio da f, mediante a qual recebemos

    diariamente os benefcios de Deus. No princpio enfrentou uma questo levantada

    por suas prprias pressuposies teolgicas: se a vida crist inteira, do inicio ao final

    dom de Deus, por que orar? Deus no agir independente de nossas oraes?, para

    Calvino o cristo orava por suas necessidades e no pelas necessidades de Deus.

    Pensava o seguinte:

    Os fiis no oram para contar a Deus o que ele no sabe, para pression-lo

    em suas tarefas ou apress-lo quando demora, mas sim a fim de alertar a si

    mesmos para busc-lo, para exercitar a f meditando em suas promessas,

    livrando-se de suas cargas ao se elevaram ao seu ntimo.[...] Mantenha esses

    60 R.C. Sproul, A Santidade de Deus,(Editora Cultura Crist Cambuci-SP,1997),93. Sproul diz que

    essa foi uma das oraes mais comoventes j escritas, aconteceu quando Lutero chamado a retratar

    com a Igreja Catlica.

    61 Ver por exemplo Philip Yancey no seu livro O Deus (In)vsivel(Editora Vida So Paulo-

    SP,2001),131 fala da pregao de um protestante genebrino quando esse falava a um grupo de

    muulmanos, argumenta: Apesar de ser um protestante de Genebra, sentia-se prximo deles porque Joo Calvino transmitiu a seu seguidores uma idia precisa da imensurvel grandeza de Deus parecida

    com o perfil de Al.

  • 49

    dois pontos: nossas oraes so previstas por ele em sua liberdade; contudo,

    o que pedimos, conseguimos pela orao.62

    O cristo ao chegar perto de Deus teria que faz-lo de forma reverente,

    evitando qualquer tipo de leviandade e frivolidade, assim evitando de chegar diante

    de Deus como o homem l de cima, reverncia ento era regra para orao. Ao

    orar o cristo tem que ansiar, desejar, ter fome, sentir sede, buscar, pedir suplicar,

    clamar, a orao deveria ser vista mais que murmrios piedosos, tinha que sair das

    profundezas do corao. 63 Entretanto, para ele os fiis tinham que pedir a Deus e

    nunca esmorecer, escreve ele: Temos que repetir as mesmas splicas, no apenas

    duas ou trs vezes, mas tantas vezes quantas forem necessrias, cem ou mil vezes. ...

    Nunca devemos nos cansar de esperar pela ajuda de Deus.64

    Na orao o cristo coloca sua total dependncia a pessoa de Deus,

    argumenta:

    Deus no estabeleceu a orao para arrogantemente nos envaidecer perante ele ou valorizar grandemente nossas prprias coisas. A orao serve para

    confessarmos, lamentarmos nosso trgico estado; como as crianas lanam

    seus problemas sobre seus pais, assim conosco diante de Deus.65

    Para ele deveramos orar quando nos levantamos de manh, quando

    comeamos o trabalho dirio, quando nos sentamos mesa para uma refeio,

    quando pela graa de Deus acabamos de comer, quando nos preparamos para

    dormir.66

    62 Timothy George, Teologia dos Reformadores, (Editora Vida Nova So Paulo-SP,1994), 227.

    63 Ver no livro Teologia dos Reformadores,228 , que detalhadamente Joo Calvino apresenta quatro

    regras que formulou para guiar o povo nas suas conversas com Deus.

    64 Richard J. Foster Op. Cit., 202.

    65 Timothy George, Op.Cit., 228.

    66 Ver Alan Pieratt, Orao: uma nova viso para uma antiga orao. (Editora Vida Nova So

    Paulo,1999), 33.

  • 50

    3.3- Com a igreja Moderna (Confisses religiosas).

    No geral veremos algumas Confisses de F e Catecismos produzidos aps a

    Reforma religiosa que tratam acerca da orao. Vejamos:

    a) O Catecismo Maior:

    P.178- O que orao? A orao o oferecimento dos nossos desejos a Deus,

    em nome de Cristo e com o auxlio do Esprito Santo, com a confisso dos nossos

    pecados e um grato reconhecimento das suas misericrdias.67

    b) O Breve Catecismo:

    P.98- O que orao? Orao o oferecimento dos nossos desejos a Deus,

    por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confisso dos

    nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas misericrdias.68

    c) O Catecismo de Heidelberg:

    P.116- Por que a orao necessria para os cristos? Porque ela a parte

    principal da gratido, a qual Deus requer de ns, e porque Deus dar sua graa e seu

    Santo Esprito somente para aqueles que sinceramente rogam a Ele, em orao, sem

    cessar, e a quem agradece por estas graas.69

    3.4- Nos movimentos msticos:

    a) No Quietismo de Molinos:

    O quietismo foi um movimento mstico que surgiu dentro da Igreja Catlica

    Romana durante o sculo XVII, a marca desse movimento est acentuado no acesso

    67 O Catecismo Maior, (Editora Cultura Crist Cambuci-SP,1999), 200.

    68 O Breve Catecismo, (Editora Cultura Crist Cambuci-SP,1996), 50.

    69 El Catecismo de Heidelberg, (Editora FELIRE Capellades-Barcelona,1993), 54.

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    intuitivo imediato a Deus pela alma passiva, aberta influncia da luz interior. Teve

    como maior divulgador Michael Molinos (1640-1697), que no seu escrito Guia

    Espiritual destacou a passividade da alma como uma forma de abertura

    comunicao da luz de Deus, a vontade do homem no deveria ser exercida.70

    Madame Guyon (1648-1717) foi uma das divulgadora dos ensinamentos de

    Molinos sobre a orao. A nfase caa sobre a questo do crente estar quieto na

    presena de Deus, nessa perspectiva o cristo era exigido a orar no com a mente

    mas com o corao, afirma Madame Guyon: A razo que a mente humana to

    limitada em sua funo porque s pode focar sobre um objeto de cada vez. Porm a

    orao oferecida do corao no pode ser interrompida pela razo. Nada pode

    interromper esta orao exceto uma afeio confusa. Quando voc se deleita em

    Deus e na doura do seu amor, ento achar impossvel colocar sua afeio em outra

    coisa que no seja Nele.71

    A viso desse movimento ir diante de Deus sem esforo algum, era

    importante que no houvesse nenhuma tentativa humana para ir a presena divina,

    argumenta:

    importante agora que cessem a ao e execuo prprias na tentativa de conhecer

    Sua presena. O prprio Deus age sozinho[...] De fato, aqueles que experimentaram

    Deus, assim o fizeram porque Deus os escolheu primeiro, para se encontrarem com

    70 Earle E. Cairns, O cristianismo atravs dos sculos, (Editora Vida Nova So Paulo-SP,1995),325.

    No livro Nossa Suficincia em Cristo, (Editora Fiel So Jos dos Campos-SP,1996),16 John

    MacArthur faz uma interessante abordagem acerca desse movimento: De acordo com o ensino dos quietistas, o cristo no deve exercer nenhuma energia ou esforo no processo de crescimento

    espiritual, pois o frgil esforo humano impede a operao do poder de Deus. Os quietistas crem que

    os cristos devem apenas entregar-se completamente ao Espirito Santo(isto tambm chamado de

    render-se, morrer para o eu, crucificar a si mesmo, mortificar a carne ou por a vida sobre o altar). Ento, o Espirito vem e vive uma vida de vitria atravs de ns, e Cristo literalmente nos substitui. 71 Madame Guyon, Experimentando Deus atravs da Orao, (Editora DAMPREWAN Rio de Janeiro-

    RJ,2001), 15.

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    Ele. Nenhuma quantidade de esforo pessoal os conduziu sua presena. Portanto,

    da maior importncia que voc permanea to quieto quanto possvel.72

    O quietismo, como vimos, despreza completamente o esforo do crente e,

    portanto, arrisca-se a promover a irresponsabilidade e a apatia espiritual. perigoso

    interpretarmos orao a partir da viso dos quietistas. claro que no nosso

    crescimento espiritual envolve a graa divina nos capacitando, todavia, o homem

    responsvel em estar na presena de Deus buscando a sua vontade, assim o corao

    do crente deve estar ativo na orao.

    b) No Pietismo de Spener:

    O movimento pietista surgiu na Alemanha no sculo XVII, como resultado

    dos esforos de Philip Jacob Spener (1635-1705), cujo objetivo era o de uma

    correo evanglica a ortodoxia fria da igreja luterana. A grande nfase era um

    retorno subjetivo e individual ao estudo da Bblia e orao. Spener organizou

    aquilo que chamou de collegia pietatis, onde se voltava para orao e estudo

    bblico prtico. No seu livro Pia Desideria destaca-se os encontros da orao em

    casa.73

    O movimento pietista atravs do seu precursor Spener, deu muita importncia

    a uma vida cheia de piedade, no bastaria um cristo apenas ouvir a palavra de Deus,

    mas ao ouvi-la teria que permitir que a mesma penetrasse o seu corao, de maneira

    que ao entrar no corao a palavra o daria poder e vitalidade.74 Apesar de estar

    72 Madame Guyon,, Op. Cit., 48-49.

    73 Earle E. Cairns, Op. Cit., 327.

    74 Phillip Jacob Spener, Mudana para o Futuro Pia Desideria( Encontro Editora e Instituto

    Ecumnico de Ps-Graduao em Cincias da Religio Curitiba/So Bernardo do Campo), 60