ORGANIZAÇÃO DE TURMAS E DESEMPENHO … optar por práticas pedagógicas apropriadas para que, ao...
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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Gestão
Sueli Guimarães Gomes
ORGANIZAÇÃO DE TURMAS E DESEMPENHO EM LEITURA: UM ESTUDO DE
CASO
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
Sueli Guimarães Gomes
ORGANIZAÇÃO DE TURMAS E DESEMPENHO EM LEITURA: UM ESTUDO DE
CASO
Rio de Janeiro
2011
Sueli Guimarães Gomes
ORGANIZAÇÃO DE TURMAS E DESEMPENHO EM LEITURA: UM ESTUDO DE
CASO
Dissertação apresentada no Curso de Mestrado
em Educação da Universidade Estácio de Sá
como requisito parcial para a obtenção do grau
de mestre em Educação.
Orientadora: Profª Dra. Elisangela Bernado.
Rio de Janeiro
2011
Sueli Guimarães Gomes
ORGANIZAÇÃO DE TURMAS E DESEMPENHO EM LEITURA: UM ESTUDO DE
CASO
Dissertação apresentada no Curso de Mestrado
em Educação da Universidade Estácio de Sá
como requisito obrigatório para a obtenção do
grau de mestre em Educação.
Orientadora: Profª Dra. Elisangela Bernado.
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
Profª. Dra. Elisangela Bernado
Universidade Estácio de Sá
Profª. Dra. Helenice Maia
Universidade Estácio de Sá
Profª. Dra. Alicia Bonamino
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
AGRADECIMENTOS
À Deus, pela coragem, força e saúde para enfrentar mais um desafio.
À minha muito querida professora doutora Elisangela Bernado, detentora de notáveis
conhecimentos no âmbito da Educação, pela inesgotável paciência de ensinar e contribuir para
o sucesso de seus alunos, entre os quais me incluo, com muito orgulho.
Às Ilustríssimas Profª. Dra. Helenice Maia da Universidade Estácio de Sá e Profª. Dra. Alicia
Bonamino da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, especialistas de renomado
conhecimento, meu profundo respeito e sinceros agradecimentos por incluírem, nas muitas
horas de competente atuação profissional, a apreciação do singelo trabalho que ora lhes
submeto à apreciação.
Ao querido amigo, professor Glauco Aguiar, pela dedicação do seu tempo de lazer à
elaboração de gráficos, que permitiram a conclusão da presente dissertação.
À Fundação Osório, que franqueou acesso aos seus arquivos.
Resumo
A presente pesquisa versa sobre agrupamento de alunos em turmas e teve por objetivo
investigar como a organização de alunos em turmas pode influenciar na promoção da
efetividade (no desenvolvimento das habilidades básicas de leitura) e na prática da equidade
(na oferta de um número maior de oportunidades para os alunos com dificuldades para
alcançar as habilidades escolares desejadas). Para tanto foi preciso refletir sobre critérios de
homogeneidade, heterogeneidade ou de algum outro tipo híbrido que a escola utilize na
formação de suas turmas. A pesquisa é de cunho qualitativo e quantitativo e utilizou dados
produzidos pelo Projeto GERES para robustecer seus resultados. A investigação de campo, de
natureza exploratória e descritiva, ocorreu na Fundação Osório, escola do sistema federal de
ensino, vinculada ao Comando do Exército e subordinada ao Ministério da Defesa. A
investigação buscou compreender as desigualdades de desempenho escolar decorrentes de
desigualdades sociais, que concorrem para uma estratificação educacional dos alunos menos
favorecidos socioeconomicamente.
Palavras-chave: Agrupamento de alunos; homogeneidade/heterogeneidade; desigualdades;
estratificação educacional; Projeto GERES.
Abstract
The present research turns on grouping of pupils in groups and it had for objective to
investigate as the organization of pupils in groups can influence in the promotion of the
effectiveness (in the development of the abilities of reading) and in the practical one of the
equity (in it offers of a bigger number of chances for the pupils with difficulties to reach the
desired pertaining to school abilities). For in such a way it was necessary to reflect on
homogeneity criteria, heterogeneity or some another hybrid type, that the school uses in the
formation of its groups. The research is of qualitative and quantitative matrix and it used data
produced for the Project GERES to strengthen its results. The inquiry of field of exploratory
and descriptive nature, occurred in the Osório Foundation, school of the federal system of
education, tied with the Command of the Army and subordinate to the ministry of the
Defense. The inquiry was endorsed in the critical source to understand the decurrent
inaqualities of pertaining to school performance of social inaqualities, that concur less for an
educational stratification of the favored pupils socioeconomicaly.
Keywords: grouping of pupils; homogeneity/ heterogeneity; inaqualities; educational
stratification; Project GERES.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Composição de Turmas quanto à Idade – 2005/2008- ...........................................50
Tabela 2 – Composição de Turmas quanto à Idade – 2009/2010 - ..........................................52
Tabela 3 – Composição de Turmas quanto ao Gênero – 2005/2010 – ....................................53
Tabela 4 – Fluxo escolar da Turma 111/2005 - ....................................................... ..............55
Tabela 5– Fluxo escolar da turma 112/2005 -.........................................................................56
Tabela 6 – Fluxo escolar da Turma 113/2005 - .......................................................................57
Tabela 7 – Fluxo escolar da 1ªsérie/2ºano – 2005/2010 -.........................................................58
Tabela 8 – Evolução das Turmas quanto Idade Média, Gênero e Aprovação-2005/2010........59
Tabela 9 – Alunos Reprovados.................................................................................................63
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Médias obtidas a Cada Ano de Avanço Escolar- Anos: 2005 – 2008 ..................65
Quadro 2 – Níveis de Habilidade e Proficiências Características – Língua Portuguesa ..........69
Quadro 3 – Interpretação Pedagógica dos Níveis de Proficiência ...........................................70
Quadro 4 – Habilidades em Leitura do Nível Consolidadas por Onda na Fundação Osório...77
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução do Desempenho em Leitura das Escolas ( Extrato Especial) por Onda
2005-2008............................................................................................................. 72
Gráfico 2 – Evolução do Desempenho das Turmas da Fundação Osório por Onda
2005-2008............................................................................................................75
SUMÁRIO
1 Introdução ................................................................................................................... 9
1.1 Objetivo Geral e Questões da Pesquisa. ........................................................ 15
1.2 Procedimentos Metodológicos .......................................................................... 15
1.3 Desenvolvimento da Pesquisa............................................................................ 16
1.4 Descrição do Contexto....................................................................................... 16
1.5 Procedimentos e Instrumentos de Coleta e Análise de Dados........................... 17
1.6 Recursos Utilizados para Maximizar a Confiabilidade dos Resultados.......... 18
2. As Desigualdades no Brasil............................................................................................19
2.1 Construção da Igualdade Educacional........................................................... .... 21
2.1.1 Acesso à Educação........................................................................................ 22
2.1.2 Permanência na Escola................................................................................... 24
2.1.3 Inclusão no Processo Escolar.......................................................................... 26
2.1.4 Ensino de Qualidade........................................................................................30
3. Políticas Públicas e Gestão da Educação......................................................................35
3.1 Gestão Democrática.......................................................................................... ..35
3.2 Descentralização Participativa............................................................................ 38
3.3 Estratificação Educacional e Organização de Turmas........................................ 42
3.4 Avaliação em Larga Escala e as Escolas Eficazes...............................................46
4. A Pesquisa........................................................................................................................49
4.1 O Campo: Uma Escola Pública da Rede Federal de Ensino...............................49
4.2 O Projeto Geres...................................................................................................68
4.3 Alguns Achados......... ........................................................................................82
5. Considerações Finais...................................................................................................... 84
6. Referências Bibliográficas ............................................................................................90
ANEXOS
Anexo A – Distribuição de Alunos por Localidades de Moradia – 2005 - ............... ....95
Anexo B - Distribuição de Alunos por Localidades de Moradia – 2010 - ............... .96
Anexo C - Distribuição de Alunos pela Profissão dos Pais – 2005/2010 - .................... 97
Anexo D – Nível Socioeconômico dos Alunos Reprovados/Jubilados ........................ ..98
1. Introdução
A formulação de políticas públicas, isto é, do conjunto de ações desenvolvidas
pelo Poder Público expressa respostas às demandas da sociedade (VIEIRA, 2009). Tais
respostas podem tomar a forma de leis que regularão a vida dos cidadãos. Essas leis serão tão
democráticas quanto democráticas forem as sociedades que a elaborarem. É pelo voto direto
e livre que a sociedade elege seus representantes para administrar a coisa pública, o próprio
Estado. A democracia é o regime de governo que garante o livre acesso às informações e à
transparência dos processos de gestão e de tomada de decisões.
Educação, assim como saúde, seguridade social, habitação e segurança são
demandas sociais atendidas ou não, em cada época, por políticas públicas próprias, de forma a
manter o equilíbrio social, a partir de um esforço constante de redução das desigualdades
sociais. No âmbito da educação, as políticas públicas buscam responder ao clamor popular por
igualdade de oportunidades educacionais e sociais e são implementadas pelos gestores da
administração pública nos diferentes níveis federal, estadual e municipal.
Processos de centralização administrativa (que concentram a gestão nas mãos de
um Poder Central), e de descentralização (que distribuem as funções administrativas entre os
diferentes Entes Federados), permeiam as políticas públicas. Os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) são exemplos de política pública de centralização administrativa da
educação brasileira, assim como o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb) e o Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) exemplificam ações de
descentralização, este último envolvendo repasse anual de recursos para escolas públicas
estaduais, municipais e do Distrito Federal e para escolas de ensino especial, mantidas por
Organizações Não-Governamentais (ONG), devidamente registradas no Conselho Nacional
de Assistência Social (CNAS) (DOURADO, 2007).
De acordo com Abreu (2002), a descentralização é fato político, que promove
alteração na estrutura de poder da sociedade e implica a redistribuição deste poder, com
repasse do processo de tomada de decisões, da administração direta para a indireta, entre os
níveis de governo (da União para os Estados, destes para os Municípios), do Estado para a
sociedade civil.
A gestão escolar, orientada por princípios da descentralização administrativa e
pedagógica, potencializa uma escola autônoma que, embora em muitas situações se reduza à
capacidade de implementar atividades diferenciadas em sala de aula exige a participação da
comunidade, o aperfeiçoamento dos sistemas de informação e gestão, a avaliação de
10
resultados, todas as formas de alavancar a eficiência administrativa (MARTINS, 2002).
É neste contexto de políticas educacionais marcado pela dualidade
centralização/descentralização que o gestor escolar atua. Cabe-lhe desenvolver uma gestão
nos moldes da democracia vigente, dando voz aos diferentes segmentos que constituem a
comunidade escolar, de maneira a assegurar-lhes a participação no processo de tomada de
decisões e na organização escolar, sempre pautado na gestão democrática, preconizada pelo
art. 206, inciso VI da Constituição Federal (BRASIL, 1988), e participativa, conforme o art.
14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n. 9394 (BRASIL, 1996).
Dentre os muitos desafios que cabem ao gestor escolar enfrentar, está o de agrupar
alunos em turmas, a partir da adoção de uma política interna capaz de dar conta de reunir,
numa mesma sala de aula, alunos oriundos de diferentes famílias, marcados por variadas
experiências de vida. Cabe-lhe optar por práticas pedagógicas apropriadas para que, ao final
de determinado período de tempo, os alunos tenham dominado as habilidades cognitivas
objetivadas.
Uma tomada de decisão, que a princípio, parece de reduzida complexidade, pode,
no decurso do tempo, revelar-se de grande acerto ou ser fragoroso engano, com graves
consequências, como, por exemplo, propiciar a estratificação educacional do aluno, ou até
mesmo de ordem socioeconômica, como dificuldade de inserção no mercado de trabalho.
A estratificação educacional diz respeito às desigualdades de oportunidades,
responsáveis por certa fixação do aluno num mesmo patamar educacional, e está diretamente
ligada à seletividade ao acesso à escola, à dualidade do ensino (propedêutico ou
profissionalizante), às diferenças curriculares e à própria organização de turmas (BERNADO,
2008).
O contexto atual parece apontar para uma tendência indesejável: crianças que
apresentam dificuldades para relacionar os símbolos gráficos aos correspondentes fonemas,
isto é, que não dominam nem as habilidades de leitura da língua materna, nem as de escrita,
nos primeiros anos de escolaridade, mantêm-se num patamar inferior às demais crianças, no
decurso da vida escolar.
Estudos acadêmicos desenvolvidos por Cortesão (1999), Alves e Soares (2007),
Gomes (2005) e Bernado (2008) chamam a atenção para um fator que, segundo eles,
justificaria o fenômeno observado. Acreditam que critério de organização dos alunos por
turmas possa ser um dos fatores da estratificação educacional, impeditiva do avanço de alunos
11
que apresentam algum tipo de dificuldade na sua trajetória escolar. Esses autores creditam à
formação de turmas heterogêneas de alunos verdadeira riqueza que, bem explorada, pode
promover o sucesso dos estudantes.
Os critérios de organização de turmas dizem respeito a alguma forma de
homogeneidade ou de heterogeneidade na distribuição de alunos por turmas em relação ao
desempenho, cor/raça, nível socioeconômico, idade, etc.
Autores, como Ireson e Hallan (1999); Yogan (2000 apud GONZALEZ, 2002)
dentre outros, alinham-se entre os que defendem algum tipo de homogeneidade entre os
alunos de uma turma, de forma a facilitar o trabalho docente, que se restringirá a desenvolver
o ensino para um perfil de aluno.
Esta temática – organização de turmas e desigualdade educacional – é instigante
face a realidade das escolas públicas da cidade do Rio de Janeiro, geralmente desaparelhadas
(ou aparelhadas de forma precária) de recursos materiais e humanos, localizadas em áreas
pobres, desassistidas pelos poderes públicos, atendidas por profissionais insatisfeitos,
organizadas em turmas numerosas de alunos, dentre outros fatores.
É significativa a contribuição do Projeto GERES, pesquisa longitudinal, que
avaliou alunos em Leitura e Matemática, do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental, em 303
escolas das cidades de Belo Horizonte, em Minas Gerais, Campinas, em São Paulo, Salvador
na Bahia, Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro, no estado de mesmo
nome, considerando fatores escolares e sóciofamiliares. É sobre essa base de dados que se
desenvolveu parte da pesquisa ora apresentada.
Percebe-se que muito há que se avançar para tornar o processo de agrupamento de
alunos em turmas mais equitativo e produtivo, de forma que as diferenças individuais,
geradas por fatores variados, sejam reconhecidas, respeitadas e aproveitadas adequadamente.
Muitos são os critérios que podem interferir nesta organização – cor/raça, gênero, idade,
habilidades cognitivas, origem social, organização familiar, nível socioeconômico - mas
nenhum deles conseguiu, ainda, justificar os bons ou maus resultados dos desempenhos
discentes.
Considerando que uma turma de alunos representa um recorte da comunidade na
qual a escola está inserida, entendem-se as desigualdades de desempenho nela existentes.
12
Ao organizar a distribuição de alunos por turmas, os gestores escolares
Buscam algum tipo de critério em que se possam apoiar. Partindo do princípio de que cada
escola tem um perfil, que serve à demanda a que atende, entende-se porque há escolas que só
admitem meninos, outras somente meninas. Outras existem em que a seleção se faz pela
capacidade socioeconômica da família, outras pelas peculiaridades culturais, preocupadas que
estão em atender a grupos de origens étnico-culturais específicos. Há ainda as que se
organizam a partir de critérios seletivos de desempenho. Entretanto, independentemente de
uma possível homogeneidade inicial, a heterogeneidade logo se apresenta, a partir das
diferenças individuais. O desafio com o qual o gestor se defronta diz respeito à capacidade
cognitiva de cada aluno, que precisa ser alocado na turma que melhor responda as suas
necessidades.
Numa escola cuja gestão é democrática e participativa, o gestor e a equipe que
representam os diferentes segmentos da comunidade escolar deverão escolher um critério para
distribuir seus alunos pelas turmas. Pode acontecer de esses agrupamentos revelarem-se
homogêneos quanto ao desempenho e heterogêneos quanto à idade e vice-versa. Poderão
ainda ser formados homogeneamente quanto à origem socioeconômica e de maneira
heterogênea quanto aos resultados, constituindo-se em turmas nas quais um terço dos alunos
tem alto desempenho, outro terço desempenho mediano e o terço final baixo rendimento.
A lógica de formação de turmas de alunos a partir de desempenhos diferenciados
pode ser considerada perversa sob o ponto de vista dos alunos de alto desempenho, impedidos
de avançar por conta dos demais colegas. Usando o mesmo raciocínio, mas agora, sob a ótica
dos alunos de baixo rendimento, percebe-se que a perversidade persiste ao se privilegiar
alunos de alto desempenho, deixando de lado os demais, que também precisam da atenção do
professor.
Os professores, responsáveis por estas turmas, enfrentam o seguinte dilema: ou se
dedicam aos alunos mais fracos em detrimento dos demais ou atendem aos que têm maior
desempenho e deixam de lado os de menor desempenho, ou então, que é provavelmente o que
ocorre, consideram todos como de desempenho mediano.
Todos os critérios aventados são passíveis de fortes críticas, ainda que apoiados
na necessidade de atendimento diferenciado aos vários grupos identificados em uma turma de
alunos. Reconhece-se que, no cotidiano da sala de aula, a implementação desse atendimento é
de difícil execução.
13
O senso comum indica que turmas organizadas a partir de um desempenho escolar
homogêneo são atendidas de forma mais facilitada e alcançam melhores resultados. Sinaliza a
ainda para o fato de que, em turmas de baixo desempenho, os conteúdos programáticos são
ministrados de maneira aligeirada, face à baixa expectativa dos professores em relação à
capacidade dos seus alunos. De qualquer modo, alunos com baixo desempenho escolar, em
turmas homogêneas ou heterogêneas, sempre carrearão para o próprio patrimônio cultural
menos conhecimentos que os de melhor desempenho, ou por culpas atribuídas aos
professores, que não se dedicaram tanto quanto seria necessário, ou por conta das famílias,
que não consideraram a educação fator determinante de uma possível mobilidade social, ou
em razão da própria localização urbana desfavorável da escola.
O problema – como a organização de turmas de alunos influencia na promoção da
efetividade e na prática da equidade - alvo do estudo revela-se de grande importância em face
da necessidade de melhor atender às crianças das escolas públicas da cidade do Rio de
Janeiro, oferecendo-lhes educação de boa qualidade. Acredita-se que, observando de forma
cuidadosa cada aluno e atendendo-o individualmente, consiga-se promover, de forma mais
eficaz, a aprendizagem e o domínio dos mecanismos de Leitura, a par de uma avaliação
mais justa do desempenho escolar de cada criança, fato que por si só deve apontar para
melhores resultados finais.
Parece que escolas organizadas a partir de um modelo que inclui grande número
de alunos por turma dificultam o atendimento e o respeito às diferenças individuais,
inviabilizando o aproveitamento das muitas experiências de vida existentes nas salas de aulas.
Além disso, favorece os baixos índices de aproveitamento e até a evasão escolar. Há,
portanto, necessidade de se investigar os critérios que orientam a organização das turmas de
alunos, a fim de que se possa promover a equidade de aprender e a efetividade desse processo,
de maneira que uma possível homogeneidade de determinados alunos numa turma, não resulte
no abandono de outros tantos, que por falta de oportunidades ou de incentivos, ficaram na
marginalidade do processo educativo.
Ao agrupar alunos em turmas, o gestor corre o risco de contribuir para uma
estratificação educacional, ao permitir que se reproduzam desigualdades sociais dentro da
escola, ao mesmo tempo em que ignora a educação, como fator decisivo para uma possível
mobilidade social do futuro cidadão. Entre os pesquisadores não é unânime a idéia da
educação como via de mobilidade social. Entendem que somente uma parcela pequena,
relativamente, de toda a mobilidade está ligada à educação, havendo muito mais mobilidade
14
para cima e para baixo do que pode ser explicada em termos de educação (LITTLEJOHN,
1976).
No mesmo sentido Silva e Hasenbalg (2000) concluem que, embora a expansão
educacional dos últimos 20 anos tenha elevado o nível de instrução da população e tenha
diminuído a desigualdade educacional entre as regiões, grupos de cor, gênero (as mulheres
ultrapassando os homens no desempenho educacional) e estratos de renda, mostrando uma
evolução significativa em direção a condições de vida mais favoráveis à escolarização das
crianças, a maior parte dessa melhoria é devida à mudança nas condições de vida e à
distribuição geográfica das famílias, decorrente da urbanização e da transição demográfica, e
somente pequena parcela às melhorias efetivas no desempenho do sistema educacional .
Ignorando os fatores de oferta (múltiplas oportunidades educacionais) e os
fatores de demanda (características socioeconômicas e culturais da família do aluno, que
indicam o valor que ela atribui à educação), o gestor da escola, dependendo do
critério escolhido, ao distribuir os alunos por turmas, poderá estar reforçando uma
estratificação social, que no decurso do tempo, poderá ser transformada em estratificação
educacional.
Os autores citados – Cortesão (1999), Alves e Soares (2007), Gomes (2005) e
Bernado (2008) - atribuem grande valor ao fator heterogeneidade no grupamento de alunos
por turmas, creditando-lhe a possibilidade de compartilhamento de experiências e de
vivências favorecedoras do desempenho escolar. A heterogeneidade pode residir no gênero,
na faixa etária, na origem sociocultural e econômica ou no próprio desempenho escolar.
Entretanto, não fica claro que tipo de heterogeneidade é defendido pelos autores.
Certamente, homogeneidade ou heterogeneidade absoluta não é desejável, já
que a primeira seria instrumento de exclusão e a segunda de caos. Assim, deve existir entre a
homogeneidade e a heterogeneidade uma zona de convergência ou uma zona híbrida, de
acordo com Bernado (2008), no qual o agrupamento de alunos por turma contribua para o
bom desempenho de todos os discentes, respeitados os limites de cada um deles.
Num contexto de carências, como é o da educação, de fortes desigualdades
socioculturais e econômicas, envolvendo tanto o corpo docente quanto o discente, pode
parecer de mínimo valor acadêmico a discussão sobre distribuição de alunos em turmas, em
que se pretende avançar. Infelizmente, a trajetória dos estudantes, que demandam mais tempo
para concretizar seus avanços escolares, vem sendo prejudicada, desestimulada e até
15
interrompida por conta de julgamentos apressados, que os deixam à margem da educação de
qualidade e da própria sociedade.
Ao se trazer para a reflexão acadêmica a organização de turmas de alunos vista
como forte aliada da reprodução de vidas desiguais, entre crianças oriundas de famílias
carentes, se percebe que o círculo vicioso das desigualdades educacionais pode ser rompido
pela determinação de pessoas que, no exercício da profissão, sejam capazes de reacender a luz
da esperança, e mesmo diante de grandes obstáculos não esmoreçam e sigam adiante, certas
da vitória final. A escola e os profissionais da educação, por dever de ofício,
devem trabalhar, tendo por alvo o ensino de qualidade para todos, como nos impõe a própria
Constituição Brasileira de 1988, afinal.
Para que as políticas públicas, no âmbito da educação, frutifiquem de forma
adequada, no seu objetivo de reduzir as desigualdades sociais e educacionais, mecanismos de
organização de turmas precisam ser melhores estudados e avaliados. É nesta direção que se
pretende avançar com a pesquisa.
1.1 Objetivo Geral e Questões da Pesquisa
A pesquisa tem por objetivo investigar como a organização de turmas de alunos
influencia na promoção da efetividade (desenvolvimento das habilidades básicas de leitura) e
na prática da equidade (oferta de múltiplas oportunidades aos alunos com dificuldades para
alcançar as habilidades escolares desejadas) em uma escola pública da rede federal de ensino
no município do Rio de Janeiro, favorecendo a igualdade educacional. Para tanto, algumas
questões de estudo foram elaboradas, tais como:
a) Que critérios são utilizados pelo gestor escolar para o agrupamento dos alunos em turmas?
b) A partir destes critérios, como se definem as turmas formadas ?
c) Que estratégias metodológicas são oferecidas pela escola à promoção da equidade e da
efetividade para os alunos que apresentam dificuldades no processo ensino-aprendizagem em
leitura?
1.2 Procedimentos Metodológicos
A presente pesquisa é de cunho qualitativo e quantitativo, utilizando dados do
projeto GERES para robustecer seus resultados. A investigação de campo ocorreu em uma
16
escola pública localizada no município do Rio de Janeiro, e tem natureza exploratória e
descritiva, por pretender preencher lacuna no conhecimento dos processos de formação de
turmas, constituindo-se, pois, numa pesquisa mista (CRESWELL, 2007).
Busca compreender as desigualdades de desempenho escolar decorrentes das
desigualdades sociais, que desde os primeiros anos escolares, concorrem para uma
estratificação educacional, capaz de criar obstáculos aos avanços nos estudos e na conquista
de novos conhecimentos, por parte dos alunos menos favorecidos, e ao mesmo tempo,
entender as relações de poder que se estabelecem na sociedade e se refletem nas escolas e na
educação, reforçando e aprofundando as desigualdades entre os mais e os menos favorecidos
socioeconomicamente.
Tem por suposição que uma turma de alunos, inicialmente mal sucedidos, pode
contribuir, no futuro, para uma estratificação social, caracterizada por alunos impedidos de
avançar, com sucesso, nos estudos, no mundo do conhecimento e até no mercado de trabalho,
por conta de um insucesso inicial na vida escolar.
1.3 Desenvolvimento da Pesquisa
Foram analisados os dados e resultados produzidos pelo Projeto GERES¹ (Estudo
Longitudinal da Geração Escolar 2005) em turmas de uma escola pública situada no
município do Rio de Janeiro, da rede federal de ensino, no período de 2005 a 2008. Foram
também analisados os resultados daqueles mesmos alunos acompanhados pelo projeto
GERES até 2008, no decurso dos anos de 2009 e 2010, cursando o 6º e o 7º anos do Ensino
Fundamental, respectivamente.
1.4 Descrição do Contexto
A escola selecionada, Fundação Osório, foi uma das escolas que participou do
Projeto GERES. Pertence à rede pública federal de ensino, é subordinada ao Ministério da
_________
(1) O Geres é um estudo longitudinal que avaliou alunos em Leitura e Matemática do segundo ao quinto ano do
Ensino Fundamental, levando em consideração os fatores escolares e sócio-familiares que incidem sobre o
desempenho escolar. O Geres trabalha com uma amostra de 303 escolas em cinco cidades brasileiras: Belo
Horizonte (MG), Campinas (SP), Salvador (BA), Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ), com uma amostra
de 881 turmas e de aproximadamente 20.000 alunos. Além dessas atividades com os alunos, foram aplicados
questionários contextuais destinados aos pais, aos professores e diretores das escolas investigadas (disponível em
www.ufmg.geres.br).
17
Defesa e não ao Ministério da Educação e Cultura (MEC). Recebe crianças dos diferentes
segmentos da sociedade e está localizada na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, próxima
a três comunidades carentes. Apesar de atender a um público de condições socioeconômicas
desfavoráveis, a escola possui um desempenho diferenciado. Levou-se, ainda em conta para a
escolha, o fato de a escola ser mais acessível à pesquisadora, que nela trabalha e cuja
secretaria facilitado seu acesso, tornando possível pesquisar os resultados do desempenho
escolar dos alunos ao longo dos anos, bem como as condições socioeconômicas das famílias.
Ressalte-se que a pesquisadora participou do estudo longitudinal mencionado até o ano de
2008 configurando-se, assim, a presente pesquisa como uma continuação qualitativa dos
estudos quantitativos já realizados.
1.5 Procedimentos e Instrumentos de Coleta e Análise de Dados
A partir da aceitação da proposta de participar do Projeto GERES, a escola
permitiu que fossem aplicados questionários contextuais de indicadores socioculturais e
econômicos aos docentes, responsáveis pelas turmas de alunos investigadas, gestores
escolares e responsáveis pelos alunos envolvidos na pesquisa. Aos discentes, foram aplicados
testes de proficiência em Leitura e Matemática em cinco oportunidades: no início e ao final do
ano letivo de 2005 e ao final dos anos de 2006, 2007 e 2008. Neste último ano, os alunos, que
vinham sendo acompanhados desde a antiga primeira série, chegaram ao último ano do
primeiro segmento do Ensino Fundamental e lhes foi aplicado um questionário contextual. O
objetivo da aplicação dos testes foi o de observar o desenvolvimento das habilidades em
Leitura e em Matemática dos alunos, ao longo de cada ano letivo e ao final do 1° segmento do
Ensino Fundamental.
O conjunto desses dados forma os dados quantitativos básicos para se chegar a
uma análise qualitativa. Por oportuno, vale lembrar que:
[...] os métodos quantitativos de análise são recursos para o pesquisador, o qual deve
saber lidar com eles em seu contexto de reflexão (num certo sentido deve dominá-
los), e, não, submeter-se cegamente a eles, entendendo que o tratamento desses
dados por meio de indicadores, testes de inferência, etc. oferecem indícios sobre as
questões tratadas, não verdades; que fazem aflorar semelhanças, proximidades ou
plausibilidades, não certeza (GATTI, 2004, p.14).
18
A análise qualitativa e quantitativa de dados será feita a partir dos resultados dos
desempenhos verificados ao final de cada ano letivo.
1.6 Recursos Utilizados para Maximizar a Confiabilidade dos Resultados
Foram usados quadros estatísticos, tabelas e cruzamentos de dados e a necessária
triangulação de informações para maximizar a confiabilidade dos resultados oferecidos, tudo
apoiado nas fontes primárias, aqui representadas pelos resultados dos testes aplicados aos
alunos, no período de 2005 a 2008, pelos questionários GERES respondidos ( pelos docentes,
gestores escolares e responsáveis pelos alunos), pela análise documental das fichas
individuais dos alunos e das respectivas trajetórias escolares fornecidas pela escola.
Sintetizando o que foi desenvolvido neste 1º capítulo, pode-se afirmar que as
políticas educacionais podem ser vistas como poderosos instrumentos capazes de reduzir as
desigualdades sociais por meio da educação formal promovida pelas instituições escolares.
São elas, portanto, ações legais que pretendem ser promotoras da igualdade educacional, ao
mesmo tempo em que inibidoras das desigualdades sociais. Acredita-se que, aliadas a uma
gestão escolar democrática, que privilegie a participação das comunidades escolar e local,
possam reduzir as desigualdades, impedir as estratificações e incentivar as mobilidades
educacional e social.
Os próximos capítulos tratarão das desigualdades no Brasil, da construção da
igualdade educacional, do quadro teórico e da pesquisa propriamente dita, quando serão
apresentados os dados e as informações apurados, no decurso da investigação. Ao final, serão
feitas considerações sobre a pesquisa levada a efeito.
19
2. As Desigualdades no Brasil
Vivemos um tempo em que as transformações socioeconômicas, tecnológicas e
culturais se sucedem de forma ininterrupta e vertiginosa. Não há como frear o avanço da
tecnologia e dos conhecimentos materiais do planeta. Montanhas de pedra são atravessadas
por túneis construídos pela ação do homem. Paisagens são modificadas pelo desenvolvimento
da ciência, que provoca chuvas em áreas desérticas e ocupa espaços, antes considerados
inóspitos e impróprios à vida humana. Novas formas de vida instalam-se ao sabor do
progresso individual e coletivo da humanidade. No bojo destes avanços da ciência e da
tecnologia, caminham os ordenamentos jurídicos para darem conta de direitos, deveres e
responsabilidades, que uma nova ordem social vai exigindo.
Entre nós, no Brasil, par e passo com as conquistas tecnológicas vão se
elaborando leis, que como os túneis que perfuram as rochas, abrem novos horizontes para os
que, nas terras do Cruzeiro do Sul, habitam. Os avanços se operam em várias direções, sempre
preocupados com o bem-estar dos indivíduos, envolvendo direitos sociais atrelados às muitas
políticas públicas, dentre as quais destacamos as de saúde, seguridade social, educação,
comprometidas com o preceito constitucional, segundo o qual todos somos iguais perante a
lei.
Tomando a igualdade educacional como norte da presente reflexão, buscamos
entender a construção da atual escola brasileira, desafiada a alcançar a excelência, num
ambiente ainda marcado por fortes desigualdades sociais, refletidas nos ambientes
educacionais.
A desigualdade educacional no Brasil está atrelada às diferenças socioeconômicas
das regiões brasileiras: as do sul e sudeste economicamente ricas, mas com bolsões de
pobreza, possuem sistemas educacionais melhor estruturados; as das regiões norte, nordeste e
centro-oeste, com parcos recursos econômicos, padecem de carências sociais de toda sorte,
dentre elas, número insuficiente de docentes e de salas de aula para atenderem às demandas
educacionais das respectivas populações.
A desigualdade social, da qual a educacional é reflexo, tem sua gênese na
formação do povo brasileiro. Somos o resultado da miscigenação de índios, negros africanos e
brancos europeus. Herdamos-lhes as características físicas e de temperamento.
20
Somos o resultado de verdadeiro caldeamento racial no qual índios, brancos e
negros se misturaram de tal forma que todos somos meio brancos, caboclos e mulatos; meio
índios, mamelucos e curibocas. Às características físicas juntaram-se as culturais, de hábitos,
atitudes, costumes religiosos, culturais, farmacológicos, de uso de ervas e xaropes, de crenças,
crendices, de lendas, histórias, de palavras, expressões, nomes, festas, músicas, cantos e
danças.
Nosso povo é mestiço, na sua maioria. Sua cultura é mista, marcada pelo
sincretismo religioso, resumo dos ensinamentos católicos trazidos pelos padres jesuítas,
dentre outros, das práticas religiosas dos negros escravos africanos e dos ritos de adoração das
forças da natureza, ensinados pelos pajés da civilização indígena, habitante primitiva das
terras do Brasil. Tão intimamente estão combinadas as diferentes etnias na gênese do povo,
que declaramos nossa cor, já que os sinais externos do corpo não são capazes de uma
identificação cabal.
O estudo da formação da sociedade brasileira aponta para sérias desigualdades,
decorrentes das profundas diferenças de posição social entre seus membros, de interesses
econômicos sempre antagônicos, de formação cultural tão distinta.
Na época colonial, a economia brasileira baseava-se na grande propriedade rural e
na mão de obra escrava. Era natural que o grande proprietário fosse detentor de amplíssima
autoridade e que bem marcadas fossem as classes que constituíam a sociedade: de um lado o
colonizador branco e europeu, detentor de bens culturais importados e do outro, escravos
negros e índios. A escola era freqüentada apenas pelos filhos das famílias ricas, excluídas as
filhas e o filho primogênito, que recebia uma educação escolar rudimentar, já que a ele
caberia, no futuro, a administração dos bens da família.
Os padres jesuítas eram os responsáveis pela educação elementar para a
população indígena (promovendo a catequese) e para a população branca. Respondiam ainda
pela educação média para os meninos oriundos da classe dominante e pela educação superior
religiosa (ROMANELLI, 2010).
Assim, os anos iniciais da formação do povo brasileiro foram marcados por fortes
desigualdades sociais e educacionais. Para o branco europeu ou não, abastado, quase sempre
a formação intelectual dos colégios dos padres jesuítas, completada em universidade
portuguesa, quase sempre. Para os negros escravos, nenhuma formação educacional, menos
ainda para os índios e bem pouca para o branco pobre e responsável pelo trabalho extrativista,
pela pecuária e pelo comércio.
21
2.1 Construção da Igualdade Educacional
A política educacional brasileira remonta ao período colonial, com o poder da
Coroa Portuguesa reduzido aos interesses de seus representantes, que às próprias custas,
administravam e distribuíam o fruto do trabalho de aventureiros que aqui chegavam em busca
de fortuna e de cativos mandados vir do continente africano.
A educação dos padres jesuítas, voltada para a elite da sociedade colonial, formou
os primeiros representantes da Colônia junto às Cortes Portuguesas e o grau de bacharel ou de
mestre conferido pelos colégios jesuítas passou a ser instrumento de ascensão social.
No século XIX, surgiu uma nova camada social radicada nos centros urbanos e
constituída por artesãos, pequenos comerciantes, burocratas. Dessa nova classe social saíram
jornalistas, professores e intelectuais, indivíduos compromissados com a política e que
desempenharam importante papel no período monárquico e nos movimentos que culminaram
com a proclamação da república. Pode-se dizer que a afirmação desse grupo como classe
social deveu-se à educação escolarizada. A demanda por educação deixou de ser apenas para
uma oligarquia-rural e passou a alcançar a outra parte da população, constituída por uma
pequena burguesia, que percebeu o valor da escola como instrumento de ascensão social. O
título de doutor valia tanto quanto o de proprietário de terras (ROMANELLI, 2010).
A colônia, o império e a república tiveram no patrimonialismo e no clientelismo
sua base de sustentação econômica e política. Para garantir a unidade territorial foi necessária
a centralização do poder nas mãos de uma oligarquia, em alguns momentos, e a redução do
tamanho do Estado, em outros, para assegurar à economia brasileira maiores atrativos e
competitividade. Assim, o Estado Brasileiro ora teve o total controle da política, exercida por
meio de um populismo nacionalista, ora de controle, ora uma política sem direitos sociais
(VIEIRA, 1997).
Neste cenário de políticas públicas de grande amplitude, a transferência de
responsabilidades da União para os diferentes entes federativos tornou-se imperativo
inarredável, que se concretizou com mecanismos de descentralização da gestão da educação,
enquanto política pública de grandes proporções.
Na luta pela igualdade social, a partir de oportunidades educacionais, figuram, de
forma resumida, os direitos atribuídos a todos os cidadãos de acesso à educação, de
permanência na escola, de inclusão no processo escolar e de ensino de qualidade. Será esta a
base de sustentação a partir da qual se desenvolverá a presente dissertação.
22
2.1.1 Acesso à Educação
No período de 1889 a 1930, o da chamada Primeira República, a despeito de já
existirem escolas normais, lideradas por freiras francesas, que formavam professoras, jovens
oriundas das famílias mais abastadas, o povo era analfabeto, em sua maioria. As escolas e as
professoras eram em números insuficientes, os currículos refletiam os interesses das classes
dominantes, a escola não cumpria o seu papel de formar cidadãos (NOSELLA, 1997).
A partir de 1930, inicia-se, com Getúlio Vargas, um período de governo populista
e corporativista, no qual as promessas eram muitas e as realizações bem poucas. O abismo
entre as classes sociais foi se aprofundando de tal forma que não pôde mais ser ignorado. Não
podendo atender de uma só vez às justas reclamações das classes trabalhadoras e dos mais
pobres, os governos começaram a prática de uma política de promessas, de reconhecimento de
direitos civis, de concessão de políticas públicas que atendessem aos mais carentes, sem de
fato, disponibilizarem recursos capazes de atenderem à grande massa de filhos de
trabalhadores que buscavam a escola.
A luta pela escola pública, gratuita, laica e obrigatória foi longa. Passou pela Lei
de Diretrizes e Bases nº 4024, que tornou obrigatória a matrícula nas escolas públicas de
crianças a partir dos sete anos e a permanência das mesmas até os 14 anos de idade.
Em 1971, a Lei n. 5692, ampliou de quatro para oito anos a duração do atual
Ensino Fundamental, promovendo a universalização compulsória do ensino profissional nas
escolas de 2º grau (atual ensino médio).
A Constituição Federal de 1988 recuperou as bases federativas do Estado
Brasileiro. O inciso VI do art. 206 da Constituição Federal preconiza que a educação é direito
de todos e dever do Estado. Definida como direito do cidadão, a educação não pode ser
negada sob nenhum argumento. Em sua gênese, a educação é necessariamente inclusiva.
Reconhecida como dever do Estado, alcança todos os indivíduos, que podem reclamá-la por
serem os sujeitos de um direito, pelo qual o Estado está formalmente obrigado e
responsabilizado.
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei n. 9394, confirma a
obrigatoriedade da educação básica, gratuita, para crianças a partir dos sete e até os 14 anos
de idade, objetivando a formação integral para a cidadania. Estimula a descentralização do
23
sistema educacional, com a redistribuição do poder e repasse do processo de tomada de
decisão e a participação da comunidade na gestão das escolas do sistema público de ensino.
Leis infraconstitucionais consolidam o direito ao acesso à educação, ampliando-o
na direção das creches, do ensino propedêutico (ensino médio) ou técnico-profissionalizante,
na orientação da universidade para todos e nos estudos de pós-graduação.
Em 2005 e 2006, duas leis ampliam o direito à educação: Lei n. 11.114 de
16/05/05, que torna obrigatória a matrícula na escola de crianças a partir dos seis anos de
idade, e a Lei n. 11.274 de 06/02/06, que aumenta de oito para nove anos a duração do Ensino
Fundamental.
Todo o ordenamento jurídico do país está voltado para a redução das
desigualdades sociais, por meio do acesso irrestrito de toda a população brasileira à educação.
Scotti (2007) sugere como critério de equidade (aqui entendida como distribuição
justa, respeitadora da proporcionalidade do direito de cada um) para a educação básica, que os
sistemas de ensino ofereçam igualdade de acesso, de tratamento, de aprendizado, de
realização e de chances. Explica que para promover a igualdade de ingresso, o sistema de
ensino deve garantir, nas escolas, as vagas necessárias para o ingresso de todas
as crianças em idade escolar, garantindo-lhes as condições externas de chegada ao
estabelecimento de ensino. A igualdade de tratamento aponta para a impossibilidade de
professores e instituições de ensino promoverem qualquer tipo de discriminação entre os
alunos, garantindo-lhes o ingresso e a permanência na escola. A igualdade de aprendizado diz
respeito à progressão dos alunos nas diferentes etapas escolares a partir da conquista de
determinado nível de aprendizado, de forma que todos concluam o ensino básico num mesmo
nível de conhecimento. A igualdade de realização significa o esforço das escolas no sentido
de evitarem a evasão e promoverem o sucesso escolar, com os alunos atingindo, pelo menos,
o nível de aprendizado mínimo referente ao ano escolar cursado. Finalmente, a igualdade de
chances entre grupos chama a atenção para o fato de que os fatores socioculturais e
econômicos não devem influenciar nos resultados discentes (SCOTTI, 2007).
Assim, os critérios de equidade em educação devem ser considerados justos
quando estiverem consoantes com um conceito maior de justiça, de ética e de bem e quando
produzirem justiça dentro de uma concepção de sociedade e de mundo (SCOTTI, 2007).
24
2.1.2 Permanência na Escola
Todas essas ações legais visam a diminuir as desigualdades educacionais e sociais
do país. Garantido o acesso à educação, segue o Estado atuando no sentido de manter o aluno
na escola, outro desafio de grandes proporções.
Durante décadas, a evasão escolar foi o pesadelo dos gestores das escolas
públicas. As portas das escolas se abriram para todas as crianças a partir do seis anos de idade,
mas crianças que freqüentavam a escola sem o sucesso esperado, acabavam sendo excluídas
do processo sem completarem o Ensino Fundamental.
A chamada evasão escolar alcançava os alunos que não conseguiam ser
alfabetizados, desanimava aqueles outros que apenas decodificavam sinais gráficos,
reproduziam-nos, mas não lhes entendia o significado. Desta forma, os alunos acabavam
sendo “derrotados” pelo texto de leitura, tornado verdadeiro enigma que não conseguiam
decifrar porque não o conseguiam entender.
Muitas outras situações podem ser apontadas como causas para a evasão escolar:
problemas de saúde do aluno, número excessivo de ausência dos professores, má qualidade do
ensino, precariedade da formação dos docentes, inadequação das instalações escolares,
distância entre a casa do aluno e a escola. Assim, levas e levas de estudantes
abandonaram a escola sem se beneficiarem do direito que o Estado lhes franqueia e garante.
Hodiernamente, a luta travada pelos gestores da educação é pela permanência do
aluno na escola. É neste sentido que se inserem, nas escolas do sistema público de ensino,
programas como os da merenda escolar, que proporciona o desjejum, a merenda, o almoço e o
jantar dos alunos; do transporte gratuito; do Programa Nacional do Livro Didático, que
distribui gratuitamente os livros de que os alunos precisarão durante o ano letivo; o da
biblioteca na escola; o de laboratório de informática, sem esquecer dos programas sociais
(Bolsa Família, Cheque Cidadão, Farmácia Popular, dentre outros) que alcançam as famílias
mais carentes.
Os programas educacionais se sucedem no afã de atender aos alunos não apenas
em suas necessidades básicas no âmbito cognitivo, mas também na oferta de algum tipo de
alimentação saudável, na orientação sobre cuidados com a saúde, na possibilidade de alguma
forma de lazer, objetivando superar o desconforto em que vivem a pobreza que conhecem
bem de perto.
25
Crianças, que chegam à escola depois de uma noite insone ou mal dormida por
conta dos enfrentamentos tão comuns nas comunidades mais pobres, que chegam doentes,
sem atendimento, ou com fome, não podem aproveitar a jornada escolar adequadamente.
Dormem em sala de aula, não conseguem concentrar a atenção, sentem-se ameaçadas por um
inimigo invisível, não podem aprender, reter informações e conhecimentos, nem se formarem
como cidadãos conscientes.
A desigualdade educacional que responde pela repetência e mais adiante pela
evasão, poderia ser reduzida se a cada aluno fosse dado o tempo de que cada um precisa para
aprender, se lhes fossem oferecidas múltiplas e variadas oportunidades para que o processo
ensino-aprendizagem fosse melhor desenvolvido. Provavelmente, foi por esta razão que,
durante algum tempo, as escolas públicas do município do Rio de Janeiro foram organizadas
em ciclos de aprendizagem, posteriormente substituídos pela organização em ano letivo. A
preocupação com a permanência do aluno na escola tem a ver com a necessidade de promover
oportunidades verdadeiramente inclusivas de todas as crianças na escola (BERNADO, 2003).
A inclusão escolar se orienta no sentido de considerar as experiências que a
crianças trazem para sala de aula. Pressupõe-se que falando a partir do que o aluno conhece,
da sua experiência, mais facilmente se possa conduzi-lo ao que ainda não conhece e que lhe
está sendo apresentado.
A permanência do aluno passa pela qualidade da escola, que por sua vez, atenta
para a qualificação do professor, que desemboca na valorização do profissional da educação.
O aluno abandona a escola, que não lhe oferece atrativo, não lhe desperta a atenção nem a
esperança por vida melhor. O professor abandona a sala de aula ou a atende de forma
inadequada e desanimada por não encontrar na escola o reconhecimento pelo trabalho que
desenvolve, nem as recompensa material e moral pela execução de tarefa tão importante que
juntamente com a saúde e a segurança públicas são o baluarte da democracia, numa sociedade
livre e justa.
A permanência do aluno na escola e a qualidade da educação pressupõem a
eficácia da escola. Há escolas que, a despeito das condições desvantajosas em que atuam,
conseguem bons resultados com seus alunos. São as escolas eficazes.
A partir do efeito escola, pode-se concluir que as escolas e a atuação dos
professores podem fazer a diferença no sucesso dos alunos, especialmente nas escolas que
atendem às camadas populares. Entretanto, a escola sozinha não pode corrigir as
26
desigualdades sociais, assim como o ambiente familiar não é o único responsável pelo
desempenho escolar da criança.
Em 1996, a Emenda Constitucional n.14 criou o Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (FUNDEF),
posteriormente substituído pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação
Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), sancionado pela Lei n.
14.494. Trata-se de fundo de natureza contábil, definidor dos recursos que municípios,
estados e União devem destinar à educação básica. É constituído por 15% das receitas de
impostos estaduais e municipais, redistribuídos de forma proporcional ao número de
matrículas de cada unidade da federação. Tal recurso revelou-se instrumento favorecedor de
relativa melhora da situação da educação, com a valorização e municipalização do ensino
fundamental, por meio de expressivo aumento salarial dos professores e oferta de matrículas
para a população em idade escolar (ARRETCHE, 2002).
Saviani (2007), entretanto, chama a atenção para o fato de que o FUNDEB não
representou um ganho financeiro para os sistemas de ensino, já que seus recursos não foram
proporcionais ao aumento do número de matrículas, nas escolas públicas, que continuaram a
atender aos alunos em classes numerosas.
No entanto, a persistir o quadro de múltiplas falências que ronda o sistema de
ensino da escola pública, a melhoria do nível de renda das famílias e uma melhor distribuição
das riquezas do país avançará em passos lentos. Alavancar a equalização de oportunidades
educacionais parece ser a fórmula capaz de romper o círculo vicioso que a ninguém mais deve
interessar e do qual já não é lícito se aproveitar.
A desigualdade social que promove a desigualdade educacional e esta que
perpetua aquela constitui um círculo vicioso que precisa ser rompido. A permanecer tal
círculo, os programas assistencialistas continuarão a existir, a escola pública obrigatória e
gratuita continuará a praticar uma educação meramente compensatória, o fosso entre ricos e
pobres continuará se aprofundando e persistirão poucas as escolas que cumprem o papel de
realmente ensinar.
2.1.3 Inclusão no Processo Escolar
Com a colonização branca e européia, com a cor branca da pele e a religião
católica ou protestante dos colonizadores, firmou-se, durante séculos, a supremacia e o
27
domínio destes, que se tornaram donos das terras, detentores do poder e senhores dos outros
homens – negros e índios – os quais tomaram por escravos para, gratuitamente, produzirem
riquezas que os tornavam mais ricos, enquanto aqueles outros submetidos e aprisionados, a
duras penas, mantinham vivas suas culturas, religião, crenças, hábitos e costumes
(NOSELLA, 1997).
A escola brasileira foi inicialmente conduzida pela Igreja Católica, por meio de
suas ordens religiosas a dos padres jesuítas, em especial. Os meninos, filhos das famílias
abastadas, eram educados pelos padres dos colégios católicos e mandados para as
universidades européias, de onde voltavam formados em Medicina, Direito, Filosofia, etc. As
meninas, educadas por freiras, cursavam as escolas normais da época e tornavam-se
professoras. O povo propriamente dito era analfabeto e dedicado às atividades extrativistas e
agropecuárias.
A escola, no formato que conhecemos é fruto da luta pela escola democrática,
gratuita e laica, que na década de 20, teve em Carneiro Leão, Fernando de Azevedo e Anísio
Teixeira seus grandes defensores. Portanto, durante muito tempo, a escola como instituição
pública freqüentada pelo povo não existia. O que existiam eram classes isoladas que
funcionavam nos salões paroquiais, nas sedes das fazendas e em sala nas casas dos
professores, sem mínimas condições de oferecer ensino de qualidade e a toda população em
idade escolar. O agrupamento das várias classes isoladas em grupo escolar, no final de século
XIX, constitui-se em grande inovação pedagógica (GADOTTI, 2004).
A implantação das primeiras indústrias exigiu melhor qualificação dos
trabalhadores para manejarem máquinas e produzirem riquezas.
A partir de 1930, a necessidade de atender a demanda das classes mais pobres por
escolas, gerou uma política populista que supostamente teria aberto a escola ao povo, sem
provê-las de recursos materiais e humanos para oferecer uma educação de qualidade.
Por conta dessa realidade, a Constituição Federal de 1934 implantou a gratuidade
e a obrigatoriedade do ensino primário, a Constituição de 1937 introduziu o ensino
profissionalizante e as constituições de 1946 e de 1988 deram à escola pública caráter
democrático, gratuito, laico, direito do cidadão e obrigação do Estado, essa última devendo
promover a formação de um cidadania plena nos educandos.
Entretanto, as políticas educacionais, sempre atreladas aos interesses das classes
dominantes, acabaram por oferecer ora uma educação compensatória, ora uma educação
28
excludente, que ainda pratica exames de seleção ou recorre ao sorteio para garantir aos
indivíduos vaga em escola que ofereça ensino de qualidade.
Por conta do privilégio dos antigos colonizadores e da atual elite, detentora do
poder político-econômico e administrativo, a inclusão de todas as crianças das camadas
populares no sistema público de ensino continua sendo um processo de execução precária,
que ora atribui ao aluno a responsabilidade pelo fracasso escolar, ora à família, ora à escola.
A atribuição ao aluno da culpa pelo próprio fracasso na escola tem na teoria do
dom uma frágil tentativa de explicação que não prospera. Essa teoria defende a idéia de que
a escola oferece igualdade de oportunidades a todos os alunos; o bom aproveitamento dessas
oportunidades dependerá do dom – aptidão, inteligência, talento – de cada um. As diferenças
individuais explicariam as diferenças de rendimento escolar. O fracasso escolar seria
decorrente da ausência de condições básicas para a aprendizagem em determinados alunos. A
escola não teria qualquer responsabilidade pelo baixo rendimento discente (SOARES, 2006).
Segundo a ideologia do dom a função da escola seria a de adaptar, ajustar os
alunos à sociedade, de acordo com suas aptidões e características individuais. Essa teoria
ignora que “dons” podem ser desenvolvidos em escolas de boa qualidade, com profissionais
bem preparados, material pedagógico apropriado, tempo adequado à especificidade de cada
aluno.
Outra teoria que pretende explicar o fracasso escolar das crianças mais carentes é
a da deficiência cultural, que atribui ao meio econômico e culturalmente pobre problemas de
deficiência, carência ou privação cultural. Os alunos seriam portadores de déficits
sócioculturais. Essa explicação é inaceitável do ponto de vista das ciências sociais e
antropológicas (SOARES, 2006).
A teoria que atribui à escola a responsabilidade pelo fracasso escolar é a teoria das
diferenças culturais. A escola ao tratar de forma discriminatória a diversidade cultural
transforma as diferenças em deficiências culturais, privilegiando a cultura da classe
dominante e se esquece de que não há deficiências culturais. Há diferenças culturais que
atendem às necessidades dos diferentes grupos humanos, não havendo cultura superior ou
inferior a outra. As culturas se integram ou não, se completam ou não, se superpõem tudo de
acordo com as demandas dos grupos que constituem um povo. Impingir a cultura da classe
dominante aos demais grupos sociais constitui desrespeito a estes grupos, desperdício de
recursos materiais e atitude fortemente preconceituosa.
29
O ser humano é único na sua condição de ser racional, mas é multifacetado nas
suas condições civilizatórias. Nos bolsões de miséria e nos bairros ricos das cidades, a vida
pulsa da mesma forma e a inclusão social é condição inarredável do nosso tempo. Ações
afirmativas permeiam políticas públicas que visam a corrigir erros históricos de
discriminação, por conta de preconceitos de cor, raça, gênero, religião, origem, convicção
política, poder econômico.
É por essa via que as políticas inclusivas se inserem como lídimas estratégias de
universalização de direitos civis, políticos e sociais e como forma de intervenção do Estado,
no intuito de aproximar os valores formais garantidos pelas leis e os valores reais existentes
em situações de desigualdade (CURY, 2005). Nesse sentido, as políticas inclusivas buscam
reduzir as desigualdades sociais a partir do acesso a maior igualdade de oportunidades e de
condições. Por outro lado, elas visam a proteger o direito à diferença (BOBBIO, 1992 apud
CURY, 2005), o que envolve várias formas de discriminação.
A educação inclusiva é aquela que reconhece a existência de culturas,
não discrimina qualquer uma delas, respeita-lhes os valores e reconhece no diferente,
oportunidade de enriquecimento cultural, social e ético. Ela é política de governo que se apóia
na Lei Magna e nas demais leis infraconstitucionais. A educação é direito de todos e dever do
Estado. A partir deste postulado constitucional são obrigatoriamente incluídas na escola
crianças a partir dos seus seis anos de idade e têm sua escolaridade garantida até a conclusão
da educação básica, bem como os alunos portadores de algum tipo de necessidade especial e
os indígenas.
Há políticas de natureza inclusiva já devidamente incorporadas aos sistemas de
ensino. São exemplos dessas políticas o Parecer 03/04 do Conselho Nacional de Educação –
CNE- em seu Conselho Pleno-CP- e a Resolução CNE/CP 01/04 que instituíram as Diretrizes
Curriculares para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana; o Parecer CNE/Câmara da Educação Básica n.14/99 e
Resolução CNE/CEB n.03/99 promoveram a Educação Indígena; o Parecer CNE/CEB 17/01
e 04/02 e a Resolução CNE/CEB 02/01 estabeleceram as Diretrizes Curriculares Nacionais da
Educação Especial; o Parecer CNE/CEB 11/00 e a Resolução 01/00 fixaram as Diretrizes
Curriculares Nacionais da Educação de Jovens e Adultos (CURY, 2005).
São muitas as iniciativas que visam à inclusão escolar. Dentre elas estão o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (FUNDEB) voltado para a universalização do ensino fundamental; o programa de
30
Formação Continuada dos Docentes em Exercício; Programa Brasil Alfabetizado; Programa
Fazendo Escola; Programa Referencial Curricular Nacional para docentes e formação de
docentes, voltados para a educação indígena; Programa Educação Inclusiva: Direito à
Diversidade, dirigido para a formação de gestores e educadores para a inclusão dos alunos
com necessidades especiais.
Outra forma de inclusão lenta, mas continuada é a que diz respeito à
universalização do direito de ingresso na universidade a partir do auxílio de vários
mecanismos, dentre os quais destacamos os resultados do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM), o Programa Universidade para Todos (PROUNI), o programa de sistema de cotas
para afro-descendentes, para alunos egressos das escolas públicas e para indígenas.
A inclusão educacional passa também pela escola pública de horário integral, que oferece as
disciplinas do núcleo comum e disciplinas diferenciadas ligadas às práticas de esportes, às
oficinas de artes, aos laboratórios de ciências físicas e biológicas, de idiomas, de informática.
Nos termos atuais, a inclusão funciona como mecanismo de compensação, como
forma de atenuar algum tipo de injustiça do passado. A inclusão, vista como obrigação social,
defende a própria sociedade dos bolsões de miséria, onde indivíduos mal atendidos ou não
atendidos nas suas necessidades básicas de vida e de subsistência põem em risco todo o
equilíbrio social.
Acredita-se que ensinando o indivíduo a reivindicar direitos, usar a palavra e a
inteligência, e o raciocínio, promovam-se as inclusões educacional e social, num sentido mais
amplo. Usando a palavra como arma e o raciocínio como forma estratégica de se perceber no
mundo, o indivíduo aprenderá a exercer a sua cidadania e não permitirá que se pratique contra
ele uma exclusão nem que se levante em seu proveito uma inclusão de favor.
2.1.4 Ensino de Qualidade
Quando a economia brasileira se baseava no trabalho extrativista, a escola tinha
um papel secundário na vida das famílias. À proporção que a sociedade passou a sofrer o
processo de industrialização, a necessidade de conhecimentos aumentou e a demanda pela
escola formal também. Instituições historicamente fechadas às massas populares foram
forçadas a abrirem suas portas a uma clientela eclética unida apenas pela necessidade do
conhecimento, do saber escolar. Colégios e escolas públicas foram obrigados a democratizar
31
vagas, triplicando-as e adequando-se ao novo contingente de crianças chamadas a receber
(NOSELLA, 1997).
Escolas públicas ou privadas, de orientação religiosa ou laica, orientadas para a
educação geral ou para o ensino profissionalizante, que atendem à elite ou às massas
populares, de tempo integral ou de vários turnos, todas tiveram que se adaptar aos novos
tempos de muita demanda por educação e por conhecimentos, de competição acirrada, de
crise de empregabilidade, de imprevisibilidade, de mudanças, de flexibilização, de conflito, de
comunicação em tempo real, etc.
A escola, preocupada com o processo de transmissão/apropriação do
conhecimento, procura perceber formas de organização do ensino e de práticas pedagógicas
eficazes para criar condições para a organização dos códigos de Leitura/Escrita e da
Matemática e Conhecimento científico do mundo físico e social, conhecimentos hoje,
indispensáveis para bem viver em sociedade (MELLO; SILVA, 1991).
As instituições educacionais e seus atores vivem tempos de crise de credibilidade,
de competência, de perplexidade. As mudanças no mundo do trabalho são muito rápidas. O
capital é volátil ao extremo, as habilidades para viver bem nesse mundo tão instável precisam
ser múltiplas. Há todo um clima de instabilidade que contamina as instituições de todos os
gêneros e a educacional em especial. Daí os vários formatos da escola, que tenta cumprir o
seu papel de preparadora do cidadão para o exercício de uma cidadania responsável. Mas não
é fácil adequar qualidade do ensino à tão grande quantidade de alunos. Igualmente, não é fácil
canalizar recursos, sempre escassos para uma demanda sempre crescente.
As leis ampliaram os direitos dos cidadãos à educação gratuita, mas os gestores
administram parcos recursos para uma escola que precisa ser inclusiva, democrática,
participativa e cidadã. Neste sentido, pode-se dizer que:
O investimento em educação básica, tendo a qualidade como parâmetro de suas
diretrizes, metas e ações e conferindo a essa qualidade uma dimensão sócio-histórica
e, portanto, inclusiva, é um grande desafio para o país, em especial para as políticas
e gestão desse nível de ensino. Pensar a qualidade social da educação implica
assegurar um processo pedagógico pautado pela eficiência, eficácia e efetividade
social, de modo a contribuir com a melhoria da aprendizagem dos educandos, em
articulação à melhoria das condições de vida e de formação da população
(DOURADO, 2007, p. 940).
O grande desafio das políticas de gestão da educação básica é garantir à educação
investimentos tendo a qualidade como parâmetro e lhe conferindo a dimensão inclusiva. A
32
qualidade social da educação implica o processo pedagógico pautado na eficiência (produção
máxima com recursos mínimos), eficácia (administração por metas e resultados) e efetividade
(atenção e prioridade para as demandas da comunidade), de forma a contribuir para a
melhoria da aprendizagem dos alunos, de suas condições de vida e de formação da população
(DOURADO, 2007).
A escola mudou: abriu suas portas, ficou mais democrática. Os professores
mudaram: são mais dialógicos, mais conscientes da própria incompletude. Os gestores
mudaram: já não detém todo o poder, as decisões são compartilhadas com as comunidades
escolar e local. Os alunos mudaram muito mais que todos: são mais exigentes, ativos, querem
respostas rápidas, comunicação quase instantânea, resultados imediatos. Infelizmente, a
família também mudou: já não está tão presente na vida dos próprios filhos.
O papel da escola é fundamental para a transformação da sociedade. Pensar a
qualidade social da educação implica assegurar um processo pedagógico balizado pela
eficiência, eficácia e efetividade social, de maneira a melhorar a aprendizagem dos alunos em
articulação com a melhoria das condições de vida e de formação da população (DOURADO,
2007).
Se o tempo é de perplexidade e indagação, só a escola pode formar o cidadão
reflexivo, por meio de um processo de pergunta e resposta, de propostas e de experiências
novas capazes de preparar o indivíduo para o imprevisível e imponderável dos tempos
futuros. Como instituição educacional por excelência, a escola precisa ser transformadora.
Aproveitando toda a experiência que seus alunos trazem, precisa ensinar-lhes os mecanismos
básicos de leitura, escrita e cálculo matemático para que possam ter vez e voz na defesa de
seus interesses e na luta por uma sociedade mais justa e inclusiva.
O conceito de qualidade da educação extrapola o simples rendimento escolar para
alcançar fatores que se referem às condições de vida dos alunos e de suas famílias, ao
contexto socioeconômico e cultural, referindo-se, ainda, à própria escola, seus atores, seus
projetos, suas instalações, seu cotidiano (DOURADO, 2007).
Certamente, a educação ainda não é democrática como se deseja. As
desigualdades educacionais existem ainda, porque as desigualdades sociais persistem. O
ensino público está franqueado a todas as camadas sociais, mas é basicamente freqüentado
pela população mais pobre e carente, porque as escolas na sua maioria padecem de um mal,
até agora, incurável: sua baixa qualidade. Os grupos sociais mais favorecidos acreditam
encontrar nas escolas de ensino da iniciativa privada, a qualidade que falta na escola pública,
33
crença que nem sempre se confirma. Entretanto a persistir a oferta de qualidade duvidosa no
ensino público, as desigualdades educacionais persistirão não porque faltem escolas, mas
porque o produto que elas oferecem é de baixa qualidade.
Mello e Silva (1991) já recomendavam que as políticas públicas educacionais
devessem privilegiar:
i) a avaliação de resultados e a responsabilização das escolas, a partir de formas de prestação
de contas e informação à população;
ii) descentralização de recursos, dotando a escola de autonomia financeira para realizar sua
manutenção, compra de material e aplicação em ações inovadoras;
iii) definição de diretrizes e requisitos mínimos que garantam a unidade do núcleo curricular
comum, à formação e capacitação dos professores, aos níveis mínimos de saída do sistema a
serem desenvolvidos nos alunos;
iv) compensação das desigualdades regionais e locais por adequada redistribuição de recursos
e apoio técnico;
v) estabelecimento de critérios para uso mais racional dos recursos humanos, de forma a
evitar a ociosidade e a incentivar a produtividade vinculada a estímulos salariais;
vi) formulação de requisitos qualitativos para os materiais didáticos;
vii) redução dos aparatos técnicos e administrativos centralizados, desenvolvendo
um sistema de informação que faça chegar aos usuários e à sociedade, em geral, o
desempenho das escolas e a aplicação dada aos recursos recebidos;
viii) desenvolver estratégias para melhorar a gestão da escola e dos sistemas de ensino, de
forma a capacitá-los a conviver com conflitos, construir o consenso, incorporar a diversidade
e compartilhar a responsabilidade de prestar contas pelos resultados alcançados.
À despeito do tempo decorrido, as recomendações acima continuam sendo válidas
e atuais, já que as políticas públicas incorporaram algumas delas, sem terem alcançado ainda
os resultados desejados.
Para resolver o problema da qualidade do ensino da escola pública há que se
passar pela qualificação e remuneração do professor, pelos recursos destinados à educação
com o incremento de programas já existentes (do livro didático, da merenda e do transporte
escolar) e com a implementação de outros programas (da assistência médico-odontológica, da
organização do currículo, da adequação das instalações escolares, do formato da escola –
escola de tempo integral ou de dois turnos) bem como pela gestão democrática e
compartilhada da instituição com as comunidades escolar e local.
34
No Brasil, parece já haver certa clareza de que a eficácia e a governabilidade
da máquina administrativa, a racionalização do uso dos recursos e o esforço para criar uma
cultura que valorize a avaliação, a produtividade e a capacidade técnica são necessidades –
por conta de maior eficácia servir à economia de recursos para investir em qualidade – e
desafio – para alcançar a qualidade será preciso superar o clientelismo político, o
patrimonialismo e a pressão corporativa dos grupos que privatizaram o Estado (MELLO;
SILVA, 1991).
Em síntese, o capítulo pretendeu, nos limites da investigação que promove,
mostrar que:
a) as desigualdades educacionais são decorrentes das desigualdades sociais que marcaram a
sociedade brasileira desde o seu início;
b) a educação foi, por muito tempo, privilégio dos brancos fazendeiros, comerciantes,
detentores de alguma sorte de poder;
c) as camadas sociais mais carentes, por longo tempo, não tiveram acesso à educação
gratuita, laica e obrigatória;
d) o ordenamento jurídico somente a partir de 1961 garantiu o acesso à educação gratuita,
obrigatória e laica às crianças a partir dos 7 anos de idade;
e) a universalização da educação básica só recentemente foi alcançada, mas desacompanhada
da necessária qualidade;
f) o acesso à escola (oferta de vagas para os alunos) sem o correspondente incentivo à
permanência do aluno na escola, pouco resultado oferece;
g) para garantir a permanência da criança na escola é preciso oferecer aos alunos, além do
transporte, alimentação, material escolar, livro didático, disponibilizar programas de
distribuição de renda mínima à família dessas crianças, de forma a evitar a evasão;
h) a qualidade do ensino pode estar atrelada aos insuficientes recursos destinados à educação,
que por sua vez podem responder pela insatisfação dos professores com a remuneração,
pelo número insuficiente de docentes, pelas classes numerosas de alunos, por escolas
desaparelhadas para os fins a que se destinam;
À guisa de conclusão, pode-se dizer que a demanda atual por ensino de
qualidade exige melhor distribuição dos recursos destinados à educação a par do
incremento de uma cultura que valorize a avaliação e responsabilize o corpo docente pelos
resultados do desempenho dos alunos.
35
3 Políticas Públicas e Gestão da Educação
O estudo realizado desenvolveu-se a partir de quatro eixos principais: o da gestão
democrática, preconizada pela própria Constituição Federal de 1988 e estudada por autores
como Sander (2007), Vieira (2002), Oliveira (2009); o da descentralização participativa,
estudada por Nogueira (1997), Lück (1999), Paro(1991), dentre outros; o da estratificação
educacional, segundo Luz (2006) e Guimarães, Rios-Neto (2010); e o das escolas eficazes,
conforme Brooke e Soares (2008) e Sammons et al. (1995).
3.1 Gestão Democrática
A Constituição Federal de 1988, no seu art. 206, inciso VI consagra o princípio da
gestão democrática do ensino público, conquista social que impõe o aumento das
responsabilidades dos profissionais da educação, lhes atribuindo direito de participação da
gestão escolar, eleição de diretores de escola, elaboração coletiva do planejamento escolar,
construção dos programas e dos currículos (OLIVEIRA, 2009).
No mesmo sentido, o art. 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, n.
9.394/96 determina que os sistemas de ensino definam as normas de gestão democrática do
ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme dois
princípios: o da participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto
político pedagógico e o da participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).
Os objetivos da política nacional de educação, harmonizados com os objetivos
da República, fixados na Constituição Federal, são construir uma sociedade livre, justa e
solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização;
reduzir as desigualdades sociais e regionais e promover o bem de todos sem qualquer tipo de
preconceito de raça, sexo, cor, idade ou qualquer outra forma de discriminação, equalizando
oportunidades de acesso à educação de qualidade, desenvolvendo a autonomia, praticando a
inclusão e o respeito à diversidade.
A Lei n. 10.172/2001, que instituiu o Plano Nacional de Educação (PNE),
elaborou o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) com o objetivo de formar pessoas
capazes de assumir um posicionamento crítico e criativo frente ao mundo. Projeta uma escola
36
pública e uma política nacional de educação voltada para a promoção da autonomia dos
indivíduos a partir da individuação e da socialização dos educandos. O PDE é a tradução
instrumental do Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2001).
Autores, como Sander (2007), defendem a gestão democrática da educação,
valorizadora da liberdade individual e da igualdade social, trazendo à luz um novo modelo de
administração multirreferencial, ao qual dão o nome de “paradigma multidimensional de
administração da educação”. Esse modelo trata a gestão educacional a partir de quatro
diferentes dimensões da gestão: econômica, pedagógica, política e sociocultural.
A administração da educação na sua dimensão econômica considera que as
escolas e universidades têm natureza empresarial e sua gestão está preocupada com o critério
da eficiência econômica. Sander (op. cit. p. 96) afirma que:
A dimensão econômica da administração envolve recursos financeiros e materiais,
estruturas, normas burocráticas, mecanismos de coordenação e comunicação. Nessa
dimensão a administração é chamada a prever e controlar recursos, organizar
estruturalmente a instituição, fixar papeis e cargos, dividir o trabalho, determinar
como este deve ser realizado e por que tipo de profissionais e estabelecer normas de
ação. O critério definidor é a eficiência na utilização de recursos e instrumentos
tecnológicos sob o império da ótica econômica .
De acordo com a dimensão pedagógica, as instituições e os sistemas de
educacionais desempenham um papel político na comunidade e desenvolvem uma gestão
preocupada com o critério da efetividade política. Sander ( op. cit., p. 97) diz que:
A dimensão pedagógica da administração da educação refere-se ao conjunto de
princípios, cenários e técnicas educacionais intrinsecamente comprometidas com a
consecução eficaz dos objetivos do sistema educacional, suas escolas e
universidades.
Nos últimos anos, a dimensão pedagógica vem sofrendo um processo reducionista
face à importância atribuída às funções econômica e tecnológica da educação, que consideram
a administração escolar como ato empresarial. A dimensão pedagógica da educação
deseja atribuir à administração a responsabilidade de coordenar a criação e utilização de
conteúdos, espaços, métodos e técnicas capazes de preservar os fins e objetivos da educação
em seus esforços a par de cumprir seu papel econômico, político e cultural na sociedade.
(SANDER, 2007).
37
Sob a ótica da dimensão política que “engloba as estratégias de ação organizadas
dos participantes do sistema educacional, suas escolas, universidades e outras
instituições de educação e formação cidadã” (SANDER, 2007, p.987), as instituições e
sistemas educacionais estão preocupados com o papel político que desempenham na
comunidade e centrando-se a gestão no critério da efetividade igualmente política.
De acordo com a dimensão cultural da administração da educação, as instituições e
os sistemas de ensino visam ao ser humano. Esta dimensão se concentra basicamente numa
visão de totalidade, que permite compreender os vários aspectos da vida humana. A
administração da educação, na dimensão cultural, deve coordenar a ação das pessoas e dos
grupos que participam do processo educacional da comunidade com o objetivo de promover a
qualidade da vida humana coletiva, refletindo suas crenças e seus valores, sua filosofia e suas
aspirações sociais. A relevância cultural é o critério básico de um paradigma da educação
comprometido com a promoção da qualidade de vida e do desenvolvimento humano. Em
resumo,
/.../ a administração desempenha um papel mediador essencial, substantivo,
dialógico /../. Na realidade, a mediação administrativa não está a serviço do processo
educacional: ela é parte do processo. /.../ as confluências, conflitos e contradições
entre as dimensões das instituições educacionais e dos sistemas sociais em geral
explicitam sempre novas dimensões até então inexistentes. A gestão deste complexo
universo multidimensional é um desafio pandisciplinar de grande envergadura para a
comunidade acadêmica (SANDER, 2007, p. 108).
Oliveira (2009), ao estudar as reformas educacionais, chama a atenção para a nova
regulação das políticas educacionais, dentre as quais destaca os mecanismos de gestão escolar
que pressupõem a participação da comunidade, numa visão democrática da gestão
educacional. Afirma que as reformas educacionais buscaram padronizar os processos
administrativos e pedagógicos, baixando custos e redefinindo gastos, ao mesmo tempo em
que garantiram o controle central das políticas educacionais. Neste modelo ocorrem a
descentralização administrativa, pela transferência de obrigações dos órgãos centrais para a
escola e pela municipalização do Ensino Fundamental; a descentralização financeira, que
permite a escola buscar e administrar recursos financeiros; e a descentralização pedagógica,
que incentiva e promove a elaboração coletiva do projeto pedagógico da instituição de ensino.
O princípio da gestão democrática do ensino público, em que pese as conquistas
sociais que representa, trouxe responsabilidades e novas frentes de trabalho para os docentes,
38
cujas atividades não mais se restringem às atividades de sala de aula, passando a incluir
reuniões e planejamentos pedagógicos e compulsória participação na gestão da escola,
atividade que até então não lhes estavam afetadas. Houve, pois, intensificação e precarização
do trabalho docente. Em suma:
Os trabalhadores docentes vão incorporando ao seu trabalho novas funções e
responsabilidades, premidos pela necessidade de responder às exigências dos órgãos
do sistema, bem como da comunidade.
/.../ O fato é que o trabalho docente tem se reestruturado, dando lugar a uma nova
organização escolar. Contudo, tais transformações, não vieram acompanhadas das
adequações necessárias, por exemplo, os professores continuam sendo contratados e
remunerados por horas/aula, quando na atualidade se exige deles que participem de
atividades para além da sala de aula (OLIVEIRA, 2009, p.212).
O princípio legal da gestão democrática precisa avançar ainda, para ser
plenamente implementado nos sistemas de ensino, sem prejuízo da ação docente, em sala de
aula.
3.2 Descentralização Participativa
A expressão descentralização participativa causa certa dificuldade de
entendimento pelo fato de a palavra centralização lembrar ao senso comum outro vocábulo:
autoritarismo. Historicamente, a centralização foi instrumento de autoritarismo e a luta pela
democracia trouxe a reboque a necessidade de descentralização, entendida como valor e
instrumento operacional da democracia (NOGUEIRA,1997).
É preciso lembrar que descentralização e participação não são termos ou ações
complementares. A descentralização pode ser imposta de muitas formas, inclusive por força
de lei. A participação não. Ela representa uma conquista demoradamente incorporada aos
direitos dos cidadãos. São os artigos 194 e 204 da Constituição Federal de 1988 que dão o
arcabouço legal para a descentralização participativa na área da gestão.
A descentralização referida tem natureza técnica, fiscal, administrativa política, já
que exige, de forma democrática, a participação da sociedade.Atualmente, parece que o
objetivo da descentralização é o de transferir encargos para a sociedade civil de forma a
vinculá-la ao processo de gestão, tornando-a co-responsável pela gestão pública.
39
Nogueira (1997) trata dos conceitos de descentralização democrática e
participativa chamando a atenção para a resistência que o referido modelo sofre face o
emaranhado de interesses federativos nos processo decisório, a despeito do consenso quanto a
sua necessidade, para eficiência (produção máxima com recursos mínimos), eficácia
(administração por metas e resultados) e efetividade (prioridade para as demandas da
comunidade) do serviço público, ao mesmo tempo em que contribui para democratizar o
Estado.
Sugere que a descentralização participativa seja construída na esfera da política,
a partir de acordos e negociações e reafirma que a descentralização é técnica, fiscal,
administrativa e eminentemente política por exigir a participação da sociedade. Afirma, ainda,
serem três os requisitos para que a descentralização seja participativa. O primeiro seria o de
encontrar uma fórmula capaz de equilibrar a participação, enquanto manifestação de direitos e
interesses particulares, e a representação, aqui percebida como construção de interesses
gerais, a partir da luta política. O segundo requisito seria a compatibilização do federalismo,
de forma a reduzir os interesses regionais e construir outro modelo para as instituições que
constituem a federação. O terceiro, finalmente, seria descentralizar a gestão sem deixar de
articular e coordenar, ou seja, impulsionar a construção de um poder local, democrático, capaz
de executar políticas descentralizadas, criando uma outra cultura técnica, menos preocupada
com o controle dos processos e mais atenta aos resultados, capacitada para desenvolver uma
gestão cooperativa, promotora da cooperação e da colaboração institucional.
Para que se construa um modelo de descentralização participativa será necessária
uma fórmula que equilibre participação e representação e que promova o equilíbrio
federativo, acabando com a cultura clientelista e fisiológica, com o corporativismo e com o
paternalismo. Um modelo novo de descentralização participativa deverá desenvolver uma
equação capaz de promover a descentralização sem perder a capacidade de articulação e de
ordenação (gestão descentralizada, participativa e cooperativa), estabelecendo outro tipo de
hierarquia na gestão pública, determinando o que se deseja prioritariamente: normas ou
resultados, regulamentos ou criatividade (NOGUEIRA, 1997).
Lück (2000) sugere para a administração escolar um novo modelo: o da gestão.
Esse modelo daria conta da multiculturalidade da nossa sociedade, da riqueza dessa
diversidade e atenderia às reivindicações de participação emergentes do quadro social.
Substituindo o enfoque da administração pelo da gestão haveria uma mudança nas relações de
poder e não, nas práticas e na organização escolar propriamente dita, pois a gestão vai além da
40
administração escolar, por desenvolver conceitos como o da democratização do processo de
construção social da escola e o da realização de seu trabalho a partir da organização do
projeto político pedagógico, do compartilhamento do poder por meio da tomada de decisão de
forma coletiva, da compreensão da questão dinâmica, conflitiva e contraditória das relações
interpessoais da organização, do entendimento dessa organização como entidade viva,
dinâmica, demandando uma atuação de liderança e articulação, da compreensão de que a
mudança de processos educacionais envolve mudanças nas relações sociais praticadas na
escola e nos sistemas de ensino.
Paro (2002) advoga a tese de que a educação deva ter atributos políticos para ser
também democrática. Defende que a educação escolar tenha uma dimensão política, já que
permite que o ser humano se construa de forma histórica e plural, por conta de conviver com
outros sujeitos individuais e coletivos. O caráter político da educação decorre do fato de o ser
humano depender da ação educativa – na apropriação do que o homem produz de
conhecimentos, crenças, valores, arte, ciência, tecnologia - para se construir. É política
enquanto atualização histórico-cultural. É democrática, por conta de o processo pedagógico
só acontecer com a concordância do educando, sujeito provido de vontade, dentro de um
processo histórico-cultural, no qual o educador é apenas um mediador. Nesse sentido, pode-se
afirmar que:
/.../ parece ainda imperioso enfatizar o caráter político da própria educação, como
estratégia para afirmar sua condição eminentemente democrática, e para que sua
administração, avessa aos interesses de dominação, se faça ao mesmo tempo política
e democrática, porque especificamente educativa (PARO, 2002, p. 22).
O processo educativo é prática política e essencialmente democrática. O conceito
geral de política deriva do fato de o homem, como sujeito precisar se relacionar com outros
homens. A convivência humana pode ser pacífica e cooperativa ou conflituosa e dominadora,
como acontece com a sociedade capitalista em que vivemos. Daí uma nova concepção de
política: a de prática democrática. A democracia nesta acepção significa governo do povo ou
governo da maioria, mas também significa mecanismos, procedimentos, esforços, recursos
utilizados individual e coletivamente para promover o entendimento e a convivência social
pacífica e cooperativa entre sujeitos históricos.
A educação escolar deve ter atributos políticos para ser também democrática. A
ação educativa consiste na apropriação da cultura humana, entendida como o que o homem
41
produz em termos de conhecimento, crenças, valores, arte, ciências, tecnologia, tudo o que
produzir o histórico do homem.
O homem se constrói como ser humano histórico apropriando-se da cultura
produzida pelas gerações anteriores e produzindo cultura para as próximas gerações. Fazer-se
homem histórico é fazer-se um ser político. Político porque o homem só pode viver
politicamente, pois sua existência supõe o plural, a dependência dos outros homens e só vive
convivendo com outros homens. É esta convivência que caracteriza o exercício da política no
seu sentido mais amplo (PARO, 2002).
A educação tem por finalidade a produção de sujeitos e só se realiza tornando o
educando sujeito provido de vontade dentro de um processo histórico-cultural. O educando
educa-se pela mediação do educador. Sem o consentimento livre do educando não há
educação e este livre consentimento é característica da verdadeira educação e está ligado ao
conceito amplo de política enquanto prática democrática.
O caráter político da ação educativa decorre do fato de o ser humano depender da
educação para se construir. A educação além de ser política, enquanto atualização histórico-
cultural é intrinsecamente democrática.
A escola preocupada com fins educativos, isto é, com a construção de sujeitos
históricos, exige uma administração escolar democrática, que implica em: i) relevância para a
qualidade do ensino; ii) importância para a prática da administração escolar; iii) contribuição
para a teoria da administração escolar.
A relevância para a qualidade do ensino diz respeito à apropriação da cultura em
seu sentido pleno, da qual fazem parte os valores construídos historicamente, dentre eles o
valor da democracia, no que se refere às relações de convivência pacífica e livre entre os
sujeitos, mediadas pela educação. Aqui a educação é vista como relação social na qual os
sujeitos se reconhecem legítimos e se aceitam numa relação de convivência. Educação vista
como aceitação mútua é a única forma de convivência social adequada, autenticamente
dialógica entre educador e educando (FREIRE, 1975). Neste sentido, a educação é uma
relação de colaboração, essencial à convivência pacífica e ao desenvolvimento histórico da
sociedade, de exercício político e democrático.
A relação dialógica fundamenta-se na persuasão e afasta qualquer possibilidade de
coerção para manter o acatamento da vontade de um dos sujeitos. A escola, em especial a
básica, que promove a educação bancária entre professor e aluno, não contribui para uma
sociedade democrática nem para formar um cidadão. O ensino há que ser fundado na
42
aceitação mútua, em que o aluno se educa como sujeito político, exercitando, na forma e no
conteúdo, a relação pedagógica democrática necessária para a construção de uma sociedade
que não seja fundada na dominação.
Libâneo (2001) entende que a gestão escolar, nos moldes democrático e
participativo, deve pressupor inicialmente que todos os que constituem a comunidade escolar
dirigem e são dirigidos, avaliem e sejam avaliados e que a qualificação e a competência
profissional são inquestionáveis. Este modelo de gestão exige a clara definição dos objetivos
sociais, políticos e pedagógicos da escola pela equipe gestora, e a articulação das atividades
de direção com as de participação dos diferentes profissionais que trabalham na escola e com
os usuários da mesma. Recomenda ainda coleta de informações que robusteçam a
objetividade no trato das questões relativas à organização e à gestão escolar.
Partindo-se da descentralização administrativa de viés democrático e participativo
pode-se perceber quão árduo, delicado e comprometido com a justiça social pode ser o
processo de composição de turmas de uma escola.
3.3 Estratificação Educacional e Organização de Turmas
Giddens (2007) afirma que o processo de estratificação social consiste em
desigualdades estruturadas numa dada sociedade, na qual as camadas sociais que estão no
topo da pirâmide gozam de privilégios, negados às camadas situadas na base. Sociedades
organizadas em castas ou escravagistas são exemplos de estratificação social. Tudo leva a crer
que a estratificação educacional é conseqüência inarredável de algum tipo de estratificação
social, a qual se define pelo agrupamento de pessoas com características de gênero, cor,
capacidade econômica semelhantes. A estratificação é conseqüência das desigualdades sociais
e tem a ver com uma distribuição assimétrica de poder. Tudo indica que a educação seja a
variável capaz de alavancar as pessoas das classes mais baixas da sociedade para uma
ascensão na escala social.
O termo estratificação educacional tem a ver com a relação entre a origem social e
os resultados escolares e envolve os mecanismos pelos quais esta relação se estabelece
(ALVES, 2010). Tais mecanismos responsáveis pela estratificação educacional estão
relacionados com as características familiares, especialmente no que se refere à demanda de
escolaridade, isto é, às decisões familiares quanto à educação, ligadas às características
socioeconômicas e estruturais da família (BUCHMANN; HANNUM, 2001 apud ALVES,
43
2010). As desigualdades educacionais entre as pessoas dependem da ação conjunta de
variáveis micros - escolaridade dos pais, renda familiar – e variáveis macro – recursos
materiais existentes na escola, características dos professores e políticas públicas voltadas
para a educação.
Condições de vida mais favoráveis podem resultar de melhores possibilidades de
acesso à educação, à escolarização de qualidade. Pode-se dizer que:
No Brasil, alunos com perfis socioeconômicos distintos freqüentam escolas
distintas. As escolas privadas atendem alunos com nível socioeconômico mais
elevado que alunos de escolas públicas. Essas condições desiguais de escolarização
têm conseqüências na produção de resultados escolares muito distintos. Por esse
motivo, qualquer análise sobre os efeitos das escolas e os fatores associados à
eficácia escolar só faz sentido após o controle da influência externa do nível
socioeconômico e cultural das famílias no desempenho dos alunos (ALVES;
FRANCO, 2008, p. 491).
A origem social do aluno pode ter impacto no desempenho educacional, assim
como pode favorecer a reprodução de desigualdades sociais no interior da escola. Entretanto o
sistema de ensino deve priorizar políticas educacionais de democratização das oportunidades
para uma formação de qualidade. Por outro lado, não se pode ignorar que alunos mais pobres
freqüentam as escolas mais desprovidas de recursos materiais e humanos por conta da
localização dos domicílios dos alunos e da escola, fato que por si próprio reforça as
desigualdades (ALVES, 2010).
Pode-se acrescentar ainda que:
Entre alunos pobres, os mais pobres frequentam as piores escolas, o que geralmente
é determinado pela localização do domicílio e da escola. A carência de insumos
básicos, como saneamento, atinge os alunos em suas casas e continua a segui-los no
ambiente escolar (LUZ, 2006, p. 19).
No afã de construir uma sociedade justa, equalizadora de oportunidades para
todos os cidadãos, busca-se compreender as causas e as conseqüências da estratificação
educacional, enquanto desigualdades de oportunidades, que mantêm os alunos em patamares
educacionais diferenciados. Acredita-se de que critérios de organização de turmas de alunos
possam responder por algum tipo de estratificação educacional. Assim homogeneidade ou
heterogeneidade na formação de turmas de alunos é um critério que merece ser investigado.
44
Cortesão (1999, p. 6) é um dos autores que defende a tese de que as turmas de
alunos sejam organizadas segundo critérios de heterogeneidade de forma a aproveitar a
riqueza que as diferenças de origem, gênero, cultura e extrato social podem oferecer,
favorecendo uma homogeneidade sociocultural posterior. Neste sentido, afirma que:
/.../ uma adequada gestão da heterogeneidade constituída através do
posicionamento do professor e também da organização de turmas poderia contribuir
para um maior sucesso escolar dos diferentes tipos de alunos e portanto para uma
maior aproximação do que se designa por escola democrática; /.../
Argumenta ainda que as turmas de alunos devam ser organizadas de forma
heterogênea, como partes integrantes de uma sociedade formada por indivíduos igualmente
diferentes entre si. Rentabilizar as diferenças, eis o grande desafio. A heterogeneidade que a
autora defende é aquela pautada no bom senso, que respeita os limites impostos por turmas
numerosas e demanda do professor um bom conhecimento dos seus alunos. Lembra que
escola e professores precisam se reconhecer como agentes de intervenção sociocultural para
praticarem uma gestão mais autônoma, com soluções criativas para os problemas que lhes
constitui o dia-a-dia. Desta forma, estarão contribuindo para a construção de uma ampla
justiça social. De acordo com a autora, “a heterogeneidade dos alunos, que é frequentemente
tida pelo professor como um problema, é na realidade uma riqueza que importa
aprender a rentabilizar. Mas para isso é preciso conhecer (realmente) o aluno” (CORTESÃO,
1999, p.16).
Para conhecer seus alunos o professor precisa entendendo-lhes os diferentes
comportamentos, interesses e desinteresses, aprendizagens e dificuldades, tudo de forma a
perceber-lhes o potencial, frequentemente oculto por desinteresse e/ou incapacidade aparentes
e comportamentos perturbadores.
Alves e Soares (2007) desenvolvem uma tese, a partir de investigação realizada
em escolas públicas da cidade de Belo Horizonte, onde as práticas pedagógicas se apóiam em
decisões políticas sobre a forma de agrupar alunos por turma. Partem do princípio de que o
desempenho escolar está tão atrelado à origem social do aluno, que fatores individuais
explicam melhor seus ganhos do que os fatores contextuais. Para os autores, a distribuição
dos discentes por turmas tem algum tipo de relação com as desigualdades sociais, que
posteriormente serão reforçadas pelas desigualdades educacionais dos diferentes contextos
das várias turmas, dentro das muitas salas de aula de uma escola.
Defendem a tese de que:
45
/.../ os ganhos dos alunos refletem a interação entre a competência intelectual e o
ambiente contextual das salas de aula, mais do que a escola. Mas, sem dúvida, a
decisão política sobre a forma de agrupamento dos alunos reflete as práticas
pedagógicas da escola (ALVES; SOARES, 2007, p. 53 ).
Eles acreditam que pequenas diferenças entre turmas de alunos, nos anos iniciais
da escolaridade, podem se transformar em grandes diferenças, capazes de uma estratificação
educacional mais ampla. Afirmam, baseados na análise de Cohen (2000), que:
/.../ as escolas têm formas internas de estruturar as desigualdades sociais, porque as
oportunidades educacionais não são as mesmas em todas as turmas devido à
interação do efeito contextual das salas de aula com as características dos
indivíduos, o que potencializa estas últimas (ALVES; SOARES, 2007, p. 53).
Gomes (2005, p. 301) afirma que o impacto da organização de turmas por
aproveitamento existe, mas é bem pequeno. Acrescenta ainda, que a formação de turmas
homogêneas aumenta a distância que permeia o aproveitamento entre as turmas consideradas
mais ou menos fortes, e que é preciso ter cautela na formação de turmas homogêneas, em face
da tendência das origens sociais e dos níveis socioeconômicos atraírem condições
educacionais correspondentes, transformando salas de aula em nichos, onde as diversidades
próprias dos seres humanos não têm nem vez, nem voz. Considera que “grande número de
sistemas educacionais tende a formar turmas de acordo com o aproveitamento, optando pela
homogeneidade, em vez da heterogeneidade”
Entende que a escola pode oferecer educação de qualidade para todos os alunos,
se atuar sobre fatores relativos ao clima da escola, ao efeito aluno, ao incremento de recursos
que contribuam para melhorar a efetividade da educação. Diz que:
/.../ o conjunto das pesquisas de diferentes orientações teóricas e metodológicas
aconselha cautela em face da formação de grupos homogêneos, visto que existe uma
persistente tendência de as origens sociais e o capital cultural e social atraírem
condições educacionais correspondentes (GOMES, 2005, p. 302).
Bernado (2008), a partir de estudos recentes, conclui que as políticas escolares de
formação de turmas influenciam a promoção da efetividade e da equidade escolar. Para tanto,
é preciso que sejam levantadas questões relativas ao ambiente e às condições nas quais
acontecerá (ou não) o aprendizado.
46
Problemas referentes ao ambiente remetem o pesquisador a múltiplas reflexões
sobre gênero (turmas exclusivamente masculinas – raras - ou femininas), faixa etária, cor,
raça, habilidades, nível socioeconômico e cultural dos alunos, bem como à construção de um
ambiente propício à promoção da aprendizagem. Os temas concernentes às condições em que
ocorrerá o aprendizado dizem respeito às práticas pedagógicas dos professores, à interação
professor-aluno, num processo capaz de minimizar as desigualdades sociais e maximizar os
bons resultados na relação ensino-aprendizagem. Inegavelmente, qualquer um dos critérios
referidos para a alocação de alunos por turmas tem defensores e detratores e qualquer um
deles poderá ser considerado adequado, dependendo da cultura e da sociedade na qual a
escola estiver inserida.
Por maior que seja o esforço do gestor escolar na organização dos alunos em
turmas, os grupos alocados constituem verdadeiros mosaicos, cujas partes constituintes vão se
ajustando numa multiplicidade de formas e cores. Quando o ajuste não acontece logo, o
mosaico em que o professor estiver trabalhando demandará mais tempo e esforço.
Assim, gestão democrática, descentralização participativa e estratificação
educacional são questões que precisam ser examinadas para que políticas públicas sejam
formuladas no sentido de reduzir desigualdades educacionais e impedir que desigualdades
sociais sejam reproduzidas na escola, dentro das salas de aula.
3.4 Avaliação em Larga Escala e as Escolas Eficazes
A partir de 1990, com a implantação do Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Básico Brasileiro (SAEB), gerenciado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o desempenho dos alunos passou a ser mensurado por
meio de amostras aleatórias, representativas de alunos de 4º e 8º anos do Ensino Fundamental
(atuais 5º e 9º anos) e de alunos do 3º ano do ensino médio, em Língua Portuguesa e
Matemática.
O objetivo da mensuração era o de avaliar o sistema educacional como um todo e
desta forma oferecer subsídios para formulação de políticas educacionais que auxiliassem na
redução das desigualdades educacionais e, em decorrência, também na diminuição das
diferenças sociais.
Assim:
47
A idéia de que o sistema escolar deve ser olhado também através dos resultados de
seus alunos só apareceu depois da consolidação do SAEB em 1995. A partir dessa
data, o país começou a contar com dados descritivos do desempenho dos alunos que
podem ser usados não só para o monitoramento do sistema como também para a
pesquisa educacional (BROOKE; SOARES, 2008, p. 463).
Em 2005, o SAEB passou a ser composto por dois instrumentos de avaliação: a
Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), divulgado como Prova Brasil e com
o objetivo de avaliar alunos do 5º e do 9º ano do ensino fundamental de todas as escolas
públicas urbanas do país, e a Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB), que mantém
as mesmas características do SAEB e, por isso, é divulgado com o mesmo nome. Os
resultados da Prova Brasil e do SAEB, desde 2005, são utilizados juntamente com os dados
do Censo Escolar para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),
que monitora o sistema público de ensino combinado com os índices de fluxo (promoção,
repetência e evasão) e as pontuações em exames padronizados obtidas por estudantes ao final
do 1º segmento (5º ano) e do 2º segmento do ensino fundamental (9º ano) e no término do
ensino médio (3º ano).
O SAEB, aplicado a cada dois anos, ofereceu resultados que revelaram a
existência de escolas que, à despeito de todas as carências materiais e humanas, conseguiram
superar as dificuldades e promoveram ensino de qualidade. Estas escolas são conhecidas na
literatura especializada pela expressão “escolas eficazes”.
As escolas eficazes são aquelas onde os alunos progridem além do que era
previsto para seu grupo de entrada, ou seja, cerca de 15% da efetiva proficiência do aluno
resulta do efeito escola (SAMMONS, 1999).
Segundo a autora, elas se caracterizam por situações específicas, tais como
liderança profissional do diretor da escola que deve ser firme e objetiva; visão e objetivos
compartilhados; ambiente de aprendizado; concentração no ensino e na aprendizagem; ensino
com propósitos definidos; altas expectativas; reforço positivo; monitoramento do progresso;
direitos e responsabilidades dos alunos; relacionamento família-escola; organização orientada
à aprendizagem.
Alves e Franco (2008) consideram como fatores de eficácia escolar os recursos
escolares efetivamente utilizados pela equipe docente em favor da aprendizagem dos alunos; a
organização e gestão da escola, aqui incluídas tanto a liderança e a dedicação do diretor
quanto o trabalho colaborativo da equipe escolar responsabilizada pelo desempenho dos
alunos; o clima acadêmico, que se refere ao relevo atribuído ao processo do ensino e da
48
aprendizagem; a formação e o salário dos docentes; e a ênfase pedagógica diretamente ligada
à renovação das práticas de ensino.
Em outras palavras, escolas eficazes são aquelas que fazem a diferença, são as
que, não apenas possuem, mas efetivamente utilizam os recursos escolares de que dispõem.
Mais ainda, sua organização e gestão são orientadas por diretores de perfil democrático e com
forte liderança junto ao corpo docente, que, por sua vez, fica responsabilizado de forma
coletiva pelo desempenho dos alunos. Os professores desenvolvem suas atividades em clima
acadêmico que prioriza o ensino e a aprendizagem, ligando-os diretamente à prática de passar
tarefas para casa e corrigi-las, ao cumprimento do conteúdo curricular, à sua dedicação aos
alunos, ao alto nível de exigência, ao clima respeitoso e disciplinado da sala de aula.
De acordo com Brooke e Soares (2008), não só a escola tem importante papel no
desempenho do aluno e pode ser decisiva na melhoria do aprendizado cognitivo do ensino
básico, como a heterogeneidade do nível socioeconômico das famílias é fator preponderante
desse desempenho. Esses autores lembram que os dados produzidos pelo SAEB têm
permitido estudos focalizados na qualidade do ensino, na equidade educacional e despertado o
interesse dos economistas sobre a temática, além da imprensa, que noticiando fartamente tais
resultados, provoca forte pressão da opinião pública sobre a academia, no sentido de oferecer
sugestões que melhorem o atual quadro, revelador do baixo desempenho da educação
brasileira.
Com as reflexões apresentadas nesse capítulo procurou-se mostrar que os
princípios da gestão democrática e da descentralização participativa estão intimamente
ligados, na medida em que a democratização da gestão escolar pressupõe sua
descentralização, que para ser alcançada necessita da participação das comunidades escolar e
local.
Ao se fazer referência à estratificação educacional pretendeu-se chamar atenção
para os critérios de distribuição de alunos em turmas, que não podem reforçar, no interior da
escola, desigualdades sociais e que precisam aproveitar as diferenças de origem, gênero,
idade, cultura das crianças em favor do sucesso das mesmas, em escolas que pretendam ser
minimamente democráticas. Finalmente, foram lembradas as escolas eficazes, que conseguem
o sucesso de seus alunos, a despeito de todas as carências de ordem material e humana e
ultrapassam as barreiras que a estratificação social poderia impor.
49
4 A Pesquisa
4.1 O Campo: Uma Escola Pública da Rede Federal de Ensino
A escola pública da rede federal de ensino objeto da pesquisa é a Fundação
Osório, cujas origens remontam à comissão criada em 1907, para organizar as comemorações
do centenário do Marechal Osório (que ocorreria em 1908). Criar um orfanato destinado a
meninas órfãs de militares do Exército e da Armada era um dos objetivos da comissão. Findos
os festejos do centenário do Marechal Osório, a comissão, em 18/06/1908, transformou-se na
Associação Mantenedora do Orfanato Osório, de curta existência, já que teve suas atividades
encerradas em 1911.
Só em 01/06/1921, o Presidente da República, Epitácio Pessoa, assinou o decreto
n. 14.856 criando o Orfanato Osório destinado a abrigar meninas órfãs de militares. Em 1924,
a instituição ganhou o nome Fundação Osório e em 24/05/1926, foi solenemente instalada nos
terrenos da rua Paula Ramos, onde até hoje se encontra.
Destinada a acolher meninas órfãs de militares, progressivamente passou a
receber filhas de civis e em 1993, a admitir meninos no seu corpo discente. A Medida
Provisória n. 556 de 25/07/1994 vinculou a Fundação Osório ao Comando do Exército
O foco da presente pesquisa foram os 69 alunos matriculados na 1ª série/2º ano do
Ensino Fundamental, em 2005, na Fundação Osório, escola do sistema federal de ensino,
vinculada ao Comando do Exército e subordinada ao Ministério da Defesa e não ao Ministério
da Educação. Buscou-se acompanhar a trajetória destas crianças, a partir do registro dos graus
obtidos pelos mesmos, no decurso dos anos 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. A despeito
de se admitir que números sejam registros frios e impessoais, entende-se que, no caso em tela,
eles podem oferecer indícios do que ocorre paralelamente aos trabalhos desenvolvidos nas
salas de aula e que de alguma forma possa estar interferindo na proficiência dos alunos e
contra os quais a escola, enquanto instituição educacional luta por lhes reduzir os efeitos.
A pesquisa realizada sob a forma de estudo de painel, por conta de ter
acompanhado o mesmo grupo de alunos ao longo do tempo (2005 a 2010), focalizou idade,
gênero, resultados do desempenho escolar, condições socioeconômicas e culturais dos alunos
e de suas famílias, a partir dos documentos arquivados na Secretaria Escolar e constantes das
pastas dos discentes: certidão de nascimento, histórico escolar e registros anuais de
desempenho escolar.
50
Vale acrescentar ainda que a unidade turma, no seu formato original, perdeu-se no
decurso do tempo, em razão do desligamento de alguns alunos e da matrícula de alunos
novos. Entretanto os alunos matriculados em 2005 tiveram a trajetória escolar acompanhada
enquanto permaneceram matriculados na instituição.
A descrição do grupo de crianças que, em 2005, cursava a 1ª série/ 2ºano do
Ensino Fundamental, se iniciará pela variante “idade”. Eram alunos com sete, oito e nove
anos de idade. No intuito de facilitar o estudo, serão trazidas tabelas distributivas dessas
crianças em 2005, 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010 quando cursaram a 1ª série/2ºano, 2ª
série/3º ano, 3ª série/4ºano, 4ª série/5º ano, 5ª série/6º ano e 6ª série/7ºano do Ensino
Fundamental, respectivamente.
Os quantitativos de alunos matriculados nesses momentos eram os seguintes:
Tabela 1: Composição das Turmas Quanto à Idade
1ªSérie/2ºAno – 4ªSérie/5ºAno
2005 – 2008
1ªsérie (2005) 2ªs. (2006) 3ªs. (2007) 4ªs. (2008)
Idade 7 8 9 T IM 8 9 10 T IM 9 10 11 T IM 10 11 12 T IM
Turma
111 8 15 2 25 7,8 7 12 1 20 8,7 6 11 1 18 9,7 6 8 1 15 10,6
112 12 10 1 23 7,5 12 10 1 23 8,5 11 - 1 22 9,5 11 10 1 22 10,5
113 11 10 - 21 7,5 11 10 - 21 8,5 11 10 - 21 9,5 11 10 - 21 10,5
Total 31 35 3 69 7,6 30 32 2 64 8,6 28 31 2 61 9,6 28 28 2 58 10,6
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Legenda:
T = Total IM = Idade Média
A tabela 1 revela a existência de 3 turmas e algumas características dos alunos
cujas trajetórias escolares foram estudadas. Assim, percebe-se, em 2005, que:
na 1ªsérie/2ºano, 35 crianças estavam dentro da faixa etária normal (8 anos de
idade),já que na época, o ensino fundamental era de 8 anos e a obrigatoriedade escolar
a partir dos 7 anos de idade;
51
31 alunos tinham 7 anos de idade, sendo, pois avançados, nos estudos;
a distorção ente a idade e a série/ano é reduzida, representada por apenas 3 crianças
com 9 anos de idade, matriculadas na série/ano escolar;
a turma 111 caracterizava-se por ser numericamente a maior (25), ter a mais alta
idade média (7,8) e concentrar maior número de alunos com 8 anos de idade (15);
a turma 112 tinha o maior número de crianças com 7 anos de idade (12);
a turma 113 era composta por alunos de 7 (11) e 8 (10) anos e com a idade média
(7,5) igual a da turma 112.
No ano seguinte, 2006, na 2ªsérie/3ºano, a composição das turmas sofreu
pequenas modificações, a saber:
do grupo de alunos da 2ª série/3ºano foram desligados 5 alunos, todos da turma 111,
que passou a ser, numericamente, a menor das turmas (20) e composta
predominantemente por alunos com 9 anos de idade (12), além de ter a mais alta
idade média das 3 turmas (8,7);
a turma 112 tem maior concentração de alunos com 8 anos de idade(12) , sendo a
maior das 3 turmas (23);
a idade média das turmas 112 e 113 é a mesma (8,5);
a maior parte dos alunos da 2ª série/ 3ºano tinha 9 anos de idade (32);
A turma 113 manteve-se com a mesma quantidade de alunos (21).
Comparando-se o quantitativo de alunos nos ano de 2006 e 2007 temos que:
a turma 111 perdeu um aluno de 9 e outro de 10 anos de idade, continuando a ser a
menor das 3 turmas (18) e a de idade média mais alta (9,7);
a turma 112 perdeu um aluno de 9 anos de idade;
a idade média das turmas 112 e 113 é a mesma (9,5);
a maior parte das crianças, em 2007, na 3ªsérie/ 4ºano tinha 10 anos de idade (31);
a turma 112 concentrou o maior número de alunos (22);
a turma 113 manteve-se com 21 alunos.
Ao final de 2008, a leitura descritiva da tabela 1 permite que se conclua que:
52
a turma 111 perdeu 3 alunos com 11 anos de idade, continua sendo a menor em
número de alunos (15), mas com a idade média mais alta (10,6);
as outras duas turmas mantiveram-se com o mesmo número de alunos do ano anterior
(22 e 21, respectivamente);
é a mesma a idade média dos alunos das turmas 112 e 113 (9,5);
dos 69 alunos matriculados na 1ª série/2ºano, em 2005, 58 cursaram a 4ªsérie/ 5º ano
do Ensino Fundamental;
dos 31 alunos com 7 anos de idade, em 2005, 28 atingiram, com 10 anos, o último
ano do 1º segmento do Ensino Fundamental;
com 8 anos havia 35 crianças, das quais 28 chegaram, aos 11 anos de idade, 5º ano;
das 3 crianças com 9 anos, na 1ª série/2ºano, duas chegaram, com 12 anos, ao final
do ciclo de estudos.
No 2º segmento do Ensino Fundamental, em 2009, os alunos que em 2005
iniciaram a 1ª/2º ano e atingiram a 5ªsérie/6ºano, e no ano seguinte, a 6ªsérie/7ºano tinham a
seguinte distribuição:
Tabela 2: Composição das Turmas Quanto à Idade
5ªSérie/6ºAno – 6ªSérie/7ºAno
2009 – 2010
5ªsérie (2009) 6ªsérie (2010)
Idade
Turmas
11
12
13
T
IM
12
13
T
IM
111 4 8 1 13 11,8 1 4 5 12,8
112 8 9 1 18 11,6 4 4 8 12,5
113 9 10 - 19 11,6 4 6 10 12,6
Total 21 27 2 50 11,6 9 14 23 12,6
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Legenda:
T= Total IM = Idade Média
53
Observando-se os dados oferecidos pela tabela 2 pode-se perceber que:
a turma 111 teve 2 alunos desligados (11 anos), continuando a ser a menor das 3
turmas, com idade média de 11,8 anos;
a turma 112 teve 4 alunos desligados (3 com 11 anos e 1 com 12) e com idade média
11,6 anos;
da turma 113 foram desligados 3 alunos (2 com 11 anos e 1 com 12), ficando a idade
média da turma igual a da turma 112 (11,6 anos);
à 5ª série/6ºano chegaram 20 crianças com 11 anos de idade, 28 com 12 anos e apenas
duas com 13 anos, com idade média geral 11,6 anos.
Comparando os dados das tabelas 1 e 2, da 5ª série/6º ano para a 6ªsérie/7º ano
percebe-se uma forte mudança no fluxo escolar, com retenção de alunos. Assim:
dos 21 alunos com 11anos, só 9 (com 12 anos) continuaram matriculados na escola
cursando a 6ª série/ 7º ano;
das 27 crianças com 12 anos, em 2009, 14 (com 13 anos) alcançaram o ano seguinte;
os dois alunos com 13 anos em 2009, não chegaram a 6ªsérie/7º ano, em 2010;
os 50 alunos matriculados em 2009, somente 23 continuaram na escola em 2010.
Na seqüência de discrição do grupo de alunos, no que diz respeito à variável
gênero, a tabela tem o formato que se apresenta a seguir.
Tabela 3: Composição das Turmas Quanto ao Gênero
1ªSérie/2ºAno – 6ªSérie/7ºAno
2005 – 2010
Série
Ano
1ª /2º(2005)
2ª/3º (2006)
3ª/4º (2007)
4ª/5º (2008)
5ª/6º (2009)
6ª/7º (2010)
Gênero M F T M F T M F T M F T M F T M F T
T.111 10 15 25 08 12 20 07 11 18 06 09 15 05 08 13 01 04 05
T.112 13 10 23 13 10 23 13 09 22 13 09 22 11 07 18 03 05 08
T.113 05 16 21 05 16 21 05 16 21 05 16 21 05 14 19 02 08 10
Total 28 41 69 26 38 64 25 36 61 24 34 58 21 29 50 06 17 23
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Legenda:
F= Feminino M= Masculino T= Total
54
O exame da tabela 3 revela que em 2005:
o grupo de alunos era feminino, na sua maioria, com 41 meninas e apenas 28
meninos;
das três turmas, somente a 112 tinha número superior de meninos (13) em relação ao
de meninas (10);
a turma 113 tinha o menor número de meninos das 3 turmas (5).
Em 2006, a tabela aponta para a mesma tendência de maior número de meninas,
mostrando que:
o efetivo feminino (38) maior do que o masculino (26);
perda de 2 meninos e 3 meninas na turma 111;
a turma 112 com maioria de meninos (13);
a turma 113 com menor número de meninos (5).
Em 2007, a tabela revela que:
houve redução do quantitativo feminino (de 38 para 36 meninas) e também do
masculino (de 26 para 25 meninos);
que a turma 111 perdeu 1 menino e uma menina;
que a turma 112 perdeu uma menina.
Em 2008, a tabela 3 indica que:
a turma 111 perdeu um menino e duas meninas;
o maior efetivo feminino concentra-se na turma 113 (16) e o masculino na turma 112
(13)
Em 2009, a tabela conclui que:
da turma 111 saíram menino (1) e menina (1);
da turma 112 saíram meninos(2) e meninas (2);
da turma 113 saíram meninas (2);
o efetivo houve redução no efetivo masculino (24 para 21) e no feminino
(34 para 29).
55
Em 2010, a predominância feminina se mantém.
Nota-se que de 2005 a 2010, ocorreram perdas significativas de alunos tendo a
turma 111 perdido 9 meninos e 11 meninas; a turma 112 ,10 meninos e 5 meninas e a turma
113, 4 meninos e 7 meninas. No total, perderam-se 23 meninos e 23 meninas das turmas
originalmente organizadas.
De maneira geral, comparando-se os dados oferecidos pela tabela, o que se
percebe do cenário de composição das turmas é que o efetivo feminino (58%) é pouco maior
do que o masculino (42%), mas que aumenta à proporção que o avanço escolar acontece.
Quanto ao fluxo escolar (taxas de aprovação e de reprovação), julgamos
interessante acompanhar a evolução do aproveitamento de cada uma das três turmas
estudadas, a partir dos alunos matriculados, em 2005, na 1ª série/2º ano, até os resultados
destes mesmos alunos ao final do 7º ano do Ensino Fundamental, em 2010.
A tabela seguinte tem por objetivo registrar o fluxo dos alunos que em 2005
estavam matriculados na turma 111.
Tabela 4: Fluxo Escolar da Turma 111/2005 - 1ª Série/ 2º Ano do Ensino Fundamental
Ano Ano Escolar Matr. Aprov. Reprov. Desligados
2005 2º 25 23 02 03
2006 3º 20 20 00 02
2007 4º 18 18 00 03
2008 5º 15 15 00 02
2009 6º 13 05 08 00
2010 7º 05 04 01 00
Fonte: Fundação Osório: 2011.
A trajetória dos alunos da turma 111 indica;
a reprovação (2) e o desligamento (3) de alunos em 2005;
a aprovação de todos os alunos em 2006, 2007 e 2008;
o desligamento de alunos - ao final de 2006 (2); ao final de 2007 (3) e ao final de
2008 (2).
56
A seguir, apresenta-se a tabela do fluxo de alunos da turma 112.
Tabela 5: Fluxo Escolar da Turma 112/2005 - 1ª Série/ 2º Ano do Ensino Fundamental
Ano Ano Escolar Matr. Aprov. Reprov. Desligados
2005 2º 23 23 00 00
2006 3º 23 22 01 00
2007 4º 22 22 00 00
2008 5º 22 22 00 04
2009 6º 18 08 10 00
2010 7º 08 07 01 00
Fonte: Fundação Osório, 2011.
A tabela 5 indica que a trajetória dos alunos inicialmente matriculados na turma
112 foi a seguinte:
nenhum aluno reprovado ou desligado em 2005;
uma reprovação em 2006;
desligamento de 4 alunos em 2008;
reprovação de 10 alunos em 2009;
reprovação de um aluno em 2010.
Na seqüência, apresenta-se a tabela 6, que descreve a trajetória dos alunos
matriculados na turma 113, em 2005.
57
Tabela 6: Fluxo Escolar da Turma 113/2005 - 1ª Série/ 2º Ano do Ensino Fundamental
Ano Ano Escolar Matr. Aprov. Reprov. Desligados
2005 2º 21 21 00 00
2006 3º 21 21 00 00
2007 4º 21 21 00 00
2008 5º 21 21 00 02
2009 6º 19 13 06 03
2010 7º 10 09 01 00
Fonte: Fundação Osório, 2011.
A leitura descritiva da tabela 6 permite afirmar que:
a turma 113 não teve alunos reprovados nos anos de 2005, 2006, 2007 e 2008;
houve desligamentos de alunos (2) em 2008;
ocorreram reprovações (6) e desligamentos (3), em 2009, no 6º ano do Ensino
Fundamental;
aconteceu uma reprovação em 2010.
Observando-se as tabelas 4, 5 e 6 pode-se inferir que:
a turma 111, a mais numerosa (25 alunos) foi a que teve maior número de alunos
desligados, enquanto que a turma 113,com menor número de alunos (21 alunos),
teve menor número de desligamentos de alunos (2);
em 2005, dois alunos foram reprovados, o que representa menos de 3% dos alunos;
nos anos subseqüentes, foi alto o grau de aproveitamento das três turmas, chegando-se
ao final do 1ºsegmento do Ensino Fundamental com índice de aprovação de 89%;
composição das turmas 111, 112 e 113 em 2005, na 1ª série/2ºano, que era de 25, 23 e
21 alunos, respectivamente, no decurso do tempo sofreu forte redução chegando em
2010 com 5, 8 e 10 alunos.
58
A tabela seguinte mostra o fluxo escolar das crianças matriculadas
inicialmente na 1ªsérie/2ºano, em 2005 e que permaneceram na instituição escolar até o
ano de 2010 cursando a 6ª série/ 7ºano do Ensino Fundamental. Essa tabela agrupa as
crianças das turmas 111,112 e 113, permitindo uma visão geral do grupo de alunos que
concluíram o 1ºsegmento do Ensino Fundamental e freqüentaram os dois primeiros anos
do 2º segmento – 5ª série/ 6º ano e 6ª série/7º ano.
Tabela 7: Fluxo escolar da 1ª Série/ 2º Ano/2005 – 6ª Série/ 7ºAno/ do Ensino
Fundamental em 2010
Ano Série/Ano
Escolar
Matr. Aprov. Reprov. Desligados
2005 1ª/ 2º 69 67 02 03
2006 2ª/ 3º 64 63 01 02
2007 3ª/ 4º 61 61 00 03
2008 4ª/ 5º 58 58 00 08
2009 5ª/ 6º 50 26 24 03
2010 6ª/ 7º 23 20 03 00
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Algumas inferências podem ser levantadas, a partir do exame da tabela acima, tais
como:
dos 69 alunos matriculados em 2005, 23 chegaram, em 2010, ao 7º ano;
ao final da 4ª série/5º ano do ensino Fundamental, dos 69 alunos originalmente
matriculados, 58 continuavam na escola;
no período de 2005 a 2008, apenas 3 alunos foram reprovados;
50 alunos iniciaram o 2º segmento do Ensino Fundamental (5ª série/6º ano);
da 5ª série/6º ano para a 6ª série/7º ano ocorreu o maior número de reprovação do
grupo de crianças estudado (24);
na 6ª série/7ºano foram reprovados 3 dos 23 alunos matriculados.
59
A tabela 8 mostra a seguir a evolução das turmas quanto à idade, ao gênero e à
aprovação, no período de 2005 a 2010.
Tabela 8: Evolução das Turmas 2005 a 2010
Quanto à Idade Média, ao Gênero e à Aprovação
2005 2005 2005 2010 2010 2010
Turma111
(25alunos)
Turma 112
(23 alunos)
Turma113
(21 alunos)
Turma111
(5 alunos)
Turma112
(8 alunos)
Turma113
(10 alunos)
Idade Média 7,8 7,5 7,5 12,8 12,5 12,6
Gen. Masc. % 40 56,5 28,5 20 37,5 20
Gen. Femin.% 60 43,5 71,5 80 62,5 80
Aprovação % 92 100 100 80 87,5 90
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Do exame da tabela acima, percebe-se que a turma 111 tinha como características
possuir crianças cuja idade média era a mais alta (7,8 anos), entre as três turmas, em 2005. Em
2010, manteve tal característica (12,8 anos). Quanto ao gênero, o feminino foi predominante,
em ambas as ocasiões. A taxa de aprovação, embora seja considerada bem alta, foi a mais
modesta dentre as demais turmas.
A turma 112, tanto em 2005 quanto em 2010, era composta por alunos cuja
idade média era inferior a dos alunos da turma 111 (7,5 anos), com um número superior de
meninos, na 1ªsérie/2ºano ( 13 meninos e 10 meninas), e predominantemente feminina na
6ªsérie/7° ano do ensino fundamental (3 meninos e 5 meninas). No que se refere à taxa de
aprovação, esta foi altíssima, em 2005 e muito boa em 2010.
A turma 113, em 2005, tinha média etária 7,5 tendo se elevado um pouco em
2010 ( 12,6); predominantemente feminina e com desempenho altíssimo, registrou uma única
reprovação, em 2010.
60
Traçando um perfil da origem dos 69 alunos a partir do local de moradia, em
2005, verificou-se que as crianças pertenciam à famílias residentes em 24 diferentes
localidades/bairros da cidade do Rio de Janeiro e a duas outras localidades situadas
fora do Município do Rio de Janeiro, fato que sugere a preocupação das famílias por educação
de qualidade, que acreditam encontrar na escola pesquisada, por conta de estar vinculada ao
Comando do Exército e subordinada ao Ministério da Defesa.
O dado sobre a distância entre a escola e o local de moradia dos alunos reflete as
escolhas familiares realizadas a partir de oportunidades e limites que a estrutura social pode
ensejar. O local da moradia das famílias sugere certa vinculação do espaço social ao
desempenho do aluno e à sua própria trajetória escolar, que pode se traduzir em sucesso ou
fracasso, em progressão e aprendizado (ALVES, 2010).
O quadro ilustrativo das localidades de moradias dos alunos (Anexo A) mostra
que as turmas dos alunos da 1ªsérie/2º ano do Ensino Fundamental, de 2005, foram
constituídas por crianças oriundas dos mais diferentes bairros da cidade do Rio de Janeiro e
de outros municípios do mesmo estado.
Os achados já sugerem que são as escolhas familiares que determinam matrículas
em escola pública com diferencial de qualidade, situada longe do lugar de moradia da família,
fato que exige o deslocamento da criança até a escola e a superação de muitos obstáculos para
fugir de uma possível estratificação educacional. Escolas localizadas a uma “melhor
distância” podem significar para as crianças moradoras de bairros operários, de localidades
mais populares, possibilidades de convivência com outras crianças de origem socioeconômica
diversa, oriundas de famílias detentoras de maior capital cultural, fato que lhes pode ser muito
favorável. Neste sentido, tem-se que:
Na perspectiva da estratificação, as escolhas familiares por estabelecimentos
escolares podem ser consideradas ações voltadas à superação ou moderação da
estratificação educacional (ALVES, 2010, p. 463).
Ao final de 2010, a distribuição de alunos por bairros da Cidade do Rio de Janeiro
e fora do município sofreu forte modificação (ANEXO B) com o desligamento de alunos da
escola.
Essa nova distribuição leva a considerar que, a despeito da boa qualidade do
ensino oferecido pela escola, existem outros mecanismos (transferência dos pais militares
61
para outras guarnições, transporte dos alunos, dificuldades materiais das famílias e das
próprias crianças) que não permitem que as escolhas familiares por determinadas escolas
prosperem. Assim, vale ressaltar que:
A despeito da importância [...] das estratégias de mobilização familiar para o acesso
dos filhos às escolas com diferencial de qualidade, não assumo, a priori, que elas
conduzam automaticamente as crianças ao sucesso escolar, pois estudos recentes
indicam diversos mecanismos que engendram desigualdades educacionais (ALVES,
2010, p. 464).
É significativa a mudança do quadro de distribuição dos mesmos alunos, por
conta da “melhor distância”, entre os anos de 2005 e 2010 (ANEXO B), o que faz pensar que
deve haver muitos outros mecanismos responsáveis pelas desigualdades educacionais patentes
ainda no sistema de ensino brasileiro.
Condições de vida mais favoráveis podem resultar de melhores possibilidades de
acesso à educação e à escolarização de qualidade e a origem social do aluno pode ter impacto
no seu desempenho educacional, assim como favorecer a reprodução de desigualdades
sociais, no interior da própria escola. Entretanto, o sistema de ensino deve priorizar políticas
educacionais de democratização das oportunidades e de uma formação de qualidade. Por
outro lado, não se pode ignorar que os alunos mais pobres freqüentam as escolas mais
desprovidas de recursos materiais e humanos, por conta da localização dos domicílios dos
alunos e da escola, fato que reforça as desigualdades (ALVES, 2008).
Origem social dos alunos e resultados educacionais parecem caminhar juntos.
Abandono escolar, repetência, nível de estudos alcançados, bem como tipo de estudos
desenvolvidos e baixo desempenho escolar são comuns na trajetória escolar dos alunos mais
pobres.
Ainda buscando perceber melhor o perfil das crianças investigadas, desenhou-se
um quadro representativo das profissões dos pais dos alunos (ANEXO C), que se apresentou
tão heterogêneo quanto o quadro representativo dos bairros de moradia das crianças e do
agrupamento dos alunos por turmas. Dos pais das 69 crianças matriculadas em 2005, 32
declararam-se militares, 7 sem profissão definida e 21 profissionais em diferentes ocupações.
Em 2010, dos 23 alunos matriculados, 8 pais eram militares, 3 declararam-se sem profissão
definida e 5 profissionais de diferentes áreas de ocupação.
Numa mesma turma, há alunos cujos pais têm baixa escolaridade e outros que
cursaram a universidade. Entretanto, tal fator – escolaridade dos pais - não se mostrou
62
relevante para o cômputo final do bom desempenho escolar dos alunos até o final do 1º
segmento do Ensino Fundamental. Se a pesquisa educacional aponta para um viés de
significativa relação entre origem socioeconômica e cultural dos alunos com o respectivo
desempenho em sala de aula, na escola, objeto da presente pesquisa, tal viés não se
confirmou, em face dos bons resultados obtidos pelos alunos e apontados pelas Tabelas 13, 14
e 15, fazendo lembrar a escola eficaz e os professores que fazem a diferença e mais ainda
que:
A desigualdade educacional é fruto das diferentes escolhas individuais sobre a
aquisição de educação, altamente determinadas pelas características de origem
familiar e comunitária, de acordo com as quais varia o valor que se atribui à
educação formal (LUZ, 2006, p.19).
Continuando no estudo dos quadros de fluxo escolar, observa-se fenômeno que
merece pesquisa mais aprofundada e que diz respeito à verdadeira interrupção do referido
fluxo, com retenção de bom número de alunos, no 6º ano de escolaridade. Dos 50 alunos
matriculados no 6º ano, em 2009, somente 26 foram aprovados para o ano subseqüente, isto é,
52% deles. A partir daí, o fluxo retoma o ritmo anterior. Matriculados 23 alunos no 7º ano, 20
foram aprovados para o 8º ano, ou seja cerca de 87%.
Acredita-se que também seja bem interessante conhecer do fluxo de alunos, que,
reprovados no 6º ano, tiveram o avanço escolar postergado para o ano seguinte.
63
Tabela 9: Alunos Reprovados
6° Ano do Ensino Fundamental
2009
2009 2010
Turma Reprovados Aprovados Jubilados Transferidos
111 08 04 03 01
112 10 08 01 01
113 06 05 01 00
Total 24 17 05 02
Fonte: Fundação Osório, 2011.
A interrupção do fluxo escolar foi corrigida com sucesso pela instituição escolar,
que ofereceu aos alunos mais tempo para apropriação dos conhecimentos objetos de estudo do
6º ano do Ensino Fundamental, por meio de aulas de recuperação de estudos e pela própria
repetição do ano escolar, em outra turma de alunos e com outra equipe de professores.
A partir do acompanhamento das fichas individuais da vida escolar das crianças,
no que se refere às causas dos desligamentos, pode-se afirmar que elas vão da transferência
dos pais militares para outras guarnições no território nacional (2), passam pela distância entre
a escola e a residência dos alunos e chegam às causas envolvendo fracasso escolar e
desestímulo conseqüente (5).
Na 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental, 24 alunos foram reprovados.
Acompanhando a trajetórias desses alunos, identificou-se que 5 deles foram jubilados no ano
seguinte. Ao final da 6ª série/7ºano somente 3 alunos foram reprovados.
No que se refere à reprovação, duas situações chamam a atenção: o número
mínimo de reprovações em 2005 (2), em 2006 (1) e nenhuma nos anos de 2007 e 2008 e a
reprovação de 24 das 50 crianças matriculadas na 5ªsérie/6ºano, em 2009. Muitas podem ter
sido as causas que concorreram para esse insucesso até aqui ainda não apuradas de fato.
O ANEXO D oferece um quadro representativo das profissões dos pais dos alunos
reprovados em 2005, 2006, 2009, 2010 e jubilados em 2010.
64
Observando-se o nível socioeconômico, percebe-se que 8 alunos são filhos de
militares de baixa patente e um único filho de oficial. Os pais das demais crianças (13) têm
diferentes ocupações profissionais de nível médio, sendo 4 deles sem profissão declarada.
Ao final de 2010, ocorreu a jubilação de 5 alunos, cujos pais eram militar de baixa
patente, policial militar, operador de produção e sem profissão declarada (2).
A pesquisa realizada mostrou a mobilidade dos alunos, seu aproveitamento ao
final de cada ano escolar, os resultados finais, os índices de aprovação, reprovação e pedido
de desligamento da escola, bem como uma relação entre as médias globais de cada ano e a
média em Língua Portuguesa, disciplina responsável pela maximização dos procedimentos de
leitura significativa. Num quadro demonstrativo do fluxo escolar e de alunos, no período de
2005 a 2010 chama a atenção uma significativa mobilidade do corpo discente acompanhado.
Fazendo um estudo de painel, desenhou-se um quadro demonstrando as médias
obtidas pelas turmas de alunos a cada ano do avanço escolar, de forma a vincular-se as médias
obtidas em Língua Portuguesa às médias globais obtidas nas demais disciplinas, tudo no
intuito de identificar como a dificuldade na compreensão da leitura pode oportunizar e
potencializar as demais dificuldades cognitivas que o aluno enfrenta, no decurso da sua vida
escolar.
65
Quadro 1: Médias Obtidas a Cada Ano de Avanço Escolar
Anos: 2005 a 2010
Turm
as
Nº
Alu
nos
2005
200
5
200
6
200
6
200
7
200
7
200
8
200
8
200
9
200
9
201
0
201
0
Md. LP Md. LP Md
.
LP Md. LP Md. LP Md. LP
111 25 73 72
112 24 88 83
113 21 90 83
Total 70
121 16 79 73
122 23 80 73
123 18 76 70
124 06 83 82
Total 63
141 20 80 75
142 14 81 77
143 13 78 80
144 13 78 78
Total 60
151 24 72 70
152 17 93 80
153 15 75 78
154 01 83 77
Total 57
161 15 57 47
162 14 59 42
163 14 59 42
164 5 56 57
Total 48
171 08 66 60
172 07 77 70
173 07 74 67
Total 22
Fonte: Fundação Osório, 2011.
Legenda:
Md = Média nas disciplinas
LP = Média em Língua Portuguesa
66
O quadro mostra como os grupamentos dos mesmos alunos matriculados em 2005
evoluíram a cada ano de avanço escolar (2005-2010). Parecem indicar certa estabilidade no
aproveitamento discente nos anos iniciais, com média geral indicativa de bom desempenho
em Língua Portuguesa.
À despeito de as turmas conservarem-se, desde 2005, heterogêneas quanto ao
gênero, origem socioeconômica e cultural, percebe-se serem homogêneas quanto ao bom
desempenho escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental e desempenho fortemente
diferenciado nos 6° ano, quando a proficiência sofreu séria queda.
As dificuldades, que impediram o fluxo escolar localizaram-se basicamente no 6º
ano do Ensino Fundamental em que o nível da proficiência impediu o avanço escolar.
Os resultados que o quadro oferece provocam uma necessária reflexão sobre
repetência, fracasso escolar e evasão de alunos do sistema de ensino. Algum fator existe
responsável pela interrupção, no 6º ano, da trajetória escolar marcada pelo sucesso, nos
primeiros anos de escolarização. Acredita-se que a imaturidade dos alunos (que chegam cada
vez mais jovens ao 2º segmento do Ensino Fundamental) aliada a um significativo aumento
de tarefas e responsabilidades possam responder pelo fracasso escolar referido.
A desigualdade educacional é um fenômeno que extrapola os limites das salas de
aulas, pois diz respeito não só às diferenças individuais, mas também à capacidade de cada ser
humano perceber o mundo e com ele interagir, aproveitando as oportunidades que se
oferecerem.
A escola, por melhor que seja, tem limites que não pode ultrapassar. Pode usar
indicadores de qualidade como o SAEB, a Prova Brasil, o ENEM, o Censo Escolar, o IDEB, a
avaliação participativa, mas não pode modificar o ambiente familiar dos alunos, suas
expectativas, sua capacidade de envolvimento com o mundo do conhecimento. Não se
pretende atribuir culpas a quem quer que seja, mas concluir que o sucesso escolar depende da
ação coordenada dos diferentes agentes sociais (escola, família, aluno) envolvidos no
processo educativo.
É bem verdade que há escolas que conseguem superar todos os obstáculos que a
desigualdade social impõe ao mundo do conhecimento. São escolas que fazem a diferença ao
aproveitarem a diversidade a seu favor. São instituições de ensino que se pautam na gestão
democrática e participativa e desenvolvem suas atividades a partir de objetivos bem definidos
67
e perfeitamente conhecidos e compartilhados pelas comunidades escolar e local. Escolas de
qualidade, que fazem a diferença, são escolas eficazes que possuem padrões de aprendizagem
definidos e séries/anos escolares bem articulados. Fazem parte deste grupo aquelas que,
rotineiramente, controlam o progresso dos seus alunos estando sempre prontas para
oferecerem múltiplas oportunidades para os alunos que apresentam maiores dificuldades na
aprendizagem. Estas escolas estimulam a freqüência e combatem a evasão escolar ao mesmo
tempo em que desenvolvem um alto nível de expectativa no sucesso do aluno.
Embora não se possam negar as diferenças individuais, que podem responder
pelos avanços diferenciados entre turmas de alunos, também não se pode deixar de se
oferecerem tantas oportunidades quantas necessárias, para que todos os alunos sejam
alfabetizados, se possível, no primeiro ano de escolaridade, ainda que cada aluno alcance um
grau diferente do domínio da leitura significativa. O importante é que todos superem os
obstáculos que os signos gráficos, inicialmente, lhes ofereciam e sigam numa rota de sucesso.
Havendo desigualdade educacional, ela responderá pelo insucesso daqueles
alunos, que demandam maior número de oportunidades para desenvolverem as habilidades
básicas de leitura. Assim, cabe ao professor, enquanto facilitador da aprendizagem, perceber
que:
o desenvolvimento das habilidades básicas de leitura demandam bom número de
oportunidades de trabalho;
que os alunos têm desempenhos diferenciados na apropriação dessas habilidades;
que cabe à escola, enquanto local destinado ao desenvolvimento do processo ensino-
aprendizagem, oferecer tantas oportunidades quantas necessárias para que esta
aprendizagem se realize satisfatoriamente;
que cada aluno tem seu tempo próprio de aprender e, portanto, é dever da escola
oferecer-lhe este tempo;
que a escola estará promovendo uma desigualdade educacional indesejável e injusta se
não cumprir a sua obrigação de efetividade e de equidade de ensinar e aprender;
que a organização de alunos em turma não é, necessariamente, determinantes de
desigualdade educacional cognitiva;
que turmas de alunos são reproduções da sociedade de que fazem parte, com tudo o
que a caracteriza de bom e de ruim, de virtudes e vícios;
68
que cabe à escola, aos docentes, às famílias reduzirem as diferenças individuais
próprias do ser humano ampliando as oportunidades de sucesso para as suas crianças.
Entendemos que os recursos materiais disponíveis nas escolas – salas de
leitura, biblioteca, laboratórios de idiomas, de Informática, de Ciências Físicas e
Biológicas, complexos desportivos – devam ser rotineiramente usados. Da mesma forma,
Aulas de Apoio e de Recuperação de Estudos sejam estratégias a que naturalmente se
recorra para alavancar o sucesso dos estudantes.
4.2 O Projeto GERES
Quando se tratou do “desenvolvimento da pesquisa” afirmou-se que seriam
trazidos para o estudo os dados e resultados produzidos pelo projeto GERES.
Em 2004, as escolas federais do município do Rio de Janeiro que possuíam alunos
matriculados nos anos iniciais do ensino fundamental, bem como 30 escolas municipais e 30
da rede privada foram convidadas a participar do projeto, que objetivava não só a realização
de uma pesquisa no âmbito da escola, mas também uma proposta de parceria em prol da
educação e garantidora de benefícios para todos.
O objetivo específico do projeto foi acompanhar a evolução da aprendizagem de
Leitura e Matemática no Ensino Fundamental e identificar as características escolares que
aumentam o aprendizado dos alunos e diminuem a influência da origem social dos mesmos
em seus resultados escolares. Para tanto foi elaborado pelo Centro de Leitura e Escrita da
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais uma matriz listando as
competências de habilidades esperadas de um aluno no estágio inicial da alfabetização com a
finalidade de construir um teste de Leitura. Um grupo de especialistas coordenados pelo
Centro de Avaliação Educacional da Universidade Federal de Juiz de Fora (Caed) e da PUC-
Rio preparou uma matriz de Matemática com a finalidade de construir um teste dessa
disciplina.
A Teoria de Resposta ao Item (TRI)² foi a técnica utilizada para que todos os
______
(²) A TRI é uma técnica de avaliação em que a unidade de análise é o item da prova e não a prova toda e
permite, a partir de reduzido número de questões respondidas por cada aluno, avaliar o desempenho do grupo de
alunos em um conjunto maior de questões, cobrindo por esse meio, amplo número de descritores previstos no
conteúdo.
69
os alunos tivessem suas notas medidas numa mesma escala, a despeito de responderem
diferentes itens. As notas (proficiências) geraram números entre 0 e 170, em 2005,
posteriormente elevados até 222.
Distribuídas as notas de proficiência, foi construída uma escala capaz de indicar
habilidades que distinguiam alunos de uma certa faixa de notas, de outros em faixa
mediatamente inferior. Assim, foi elaborado pelo Centro de Políticas Públicas e Avaliação da
Educação (CAE/UFJF) um quadro de “Níveis de habilidades e proficiências características”,
em Língua Portuguesa.
Para interpretar cada nível de proficiência, os alunos foram distribuídos ao longo
de 4 intervalos de proficiência, a saber: i) o intervalo onde a proficiência da criança se
encontra aquém do ponto que lhes permitiria acertar os itens do conglomerado (cluster) em
tela; ii) o intervalo onde se observa o máximo crescimento da aprendizagem necessária ao
acerto dos itens; iii) o intervalo no qual se inicia a consolidação dessa aprendizagem e iv) o
intervalo correspondente à região do continuum onde a aprendizagem já se encontra
consolidada. Assim, foi construído, o seguinte quadro:
Quadro 2 - Níveis de Habilidade e Proficiências Características - Leitura
Nível Aquém das
habilidades do
nível
Auge do
desenvolvimento das
habilidades do nível
Em vias de
consolidação do
nível
Habilidades do
nível
consolidadas
1 < 53 53 a 109 79 a 104 > = 129
2 < 109 109 a 127 127 a 143 > = 143
3 < 133 133 a 153 153 a 166. > = 166
4 < 155 155 a 172 172 a 182 > = 182
5 < 171 171 a 188 188 a 201 > = 201
6 < 190 190 a 211 211 a 222 > = 222
Fonte: GERES, 2011.
Os seis níveis da escala de proficiência do projeto GERES, acima reproduzidos,
possuem um significado pedagógico. Este significado se explicita na descrição das
70
habilidades desenvolvidas e consolidadas por meio da análise das respostas dadas aos
diferentes itens característicos da cada nível de proficiência. A seguir, apresenta-se o quadro 3
construído para Interpretação Pedagógica da Escala de Proficiência do Projeto GERES .
Quadro 3 - Interpretação Pedagógica da Escala de Proficiência em Leitura do Projeto
Geres
Nível
Habilida
des
Consoli
dadas
Interpretação Pedagógica
1 > = 129 Os alunos reconhecem as letras do alfabeto e a direção da escrita. Lêem
frases curtas com estrutura canônica ou não, associando-as a uma
imagem. Localizam informação em um rótulo.
2 > = 143 Reconhecem as sílabas de uma palavra. Localizam informações em texto
curto (10 linhas), com poucas informações e em linguagem familiar.
Identificam o assunto de texto informativo de extensão mediana (15
linhas), a partir do título. Conseguem perceber uma informação em uma
tirinha e a finalidade de um bilhete.
3 > = 166 Localizam informação em textos de gêneros mais variados, percebem o
assunto indicado pelo título de texto informativo curto e de um folheto de
divulgação de uma campanha, através da associação da linguagem verbal
e não-verbal. Inferem informação em texto de gênero menos familiar, a
partir de pistas não-verbais e o sentido de palavra em poema simples.
Percebem o objetivo de um texto instrucional. Estabelecem relações
lógico-discursivas entre partes de um texto por meio de formas verbais,
identificando um referente distante, bem como relação de causa-
consequência.
4 > = 182 Inferem uma informação em texto não verbal de gênero familiar (tirinha).
e em ficha de identificação de espécie da fauna, bem como o sentido de
uma palavra em uma receita. Reconhecem os efeitos do humor, do uso
das reticências e de uma onomatopéia em uma tirinha. Inferem o sentido
de uma expressão em texto instrucional (receita) sem apoio de imagem.
Identificam relações entre textos de mesmo gênero, percebendo
diferenças quanto à informação. Estabelecem relações entre partes de um
texto por meio de substituição lexical e de causa-consequência, em
poema curto e em texto de extensão mediana. Identificam interlocutores
em uma fábula. Identificam o narrador de um poema com temática e
vocabulário familiares e a situação problemática em uma fábula extensa.
5 > = 201 Realizam inferência em texto com linguagem mista, em conto com cerca
de 15 linhas, reconhece o efeito do humor em anedota, a partir de
combinação de pistas verbais, em texto informativo curto que utiliza
elementos gráficos, identificam a finalidade de uma fábula e de uma
anedota. Estabelecem relações lógico-discursivas, marcadas por uma
locução adverbial de lugar, de causa-consequência em uma narrativa
tradicional (lenda). Distinguem posicionamentos ao reconhecer a opinião
do narrador e dos personagens do discurso direto. Identificam elementos
de um texto narrativo, percebendo a ordem em que os fatos ocorrem em
uma narração literária e a caracterização de uma personagem. Identificam
os interlocutores e o narrador de um texto mais longo (29 linhas).
6 > = 222 Localizam informação em texto informativo curto com vocabulário mais
sofisticado,e em texto expositivo-argumentativo, sob forma de paráfrase;
identificam o assunto de um texto informativo curto ou de letra de música
com linguagem simples; inferem sentido de palavra, em poema;
reconhecem marcas de ironia, em texto com linguagem simples e
temática familiar; reconhecem o efeito de sentido do emprego de um
diminutivo. Estabelecem relações lógico-discursivas de causa-
consequência em texto informativo curto com vocabulário mais
sofisticado. Distinguem posicionamentos, reconhecendo ponto de vista
do enunciador, por meio do emprego de um adjetivo. Identificam marcas
lingüísticas características de situações informais.
Fonte: GERES, 2011.
Observando-se a evolução do desempenho dos alunos da Fundação Osório, por
onda, isto é, a partir da aplicação de instrumentos cognitivos, que envolvem testes de Leitura
e de Matemática, no período de 2005 a 2008, tem-se os gráficos seguintes:
72
Gráfico 1
Fonte: Geres, 2011.
A leitura descritiva do gráfico 1, da “Evolução do Desempenho em Leitura das
Escolas por onda – 2005-2008”- indica que:
A Onda 1, no início de 2005, avaliando as habilidades dos alunos em Leitura , apurou que
elas ultrapassaram o nível 1, cujas “Habilidades do nível consolidadas” têm proficiência
.=129, no quadro de “Níveis de habilidades e proficiências características – Língua
portuguesa e chegaram ao nível 2, pontuando proficiência 140 para as habilidades do nível
consolidadas, no quadro indicadas com proficiência >= 143. As escolas A e E obtém a
proficiência mais alta (145) e as demais proficiências em torno de 140.
Ao final de 2005, a Onda 2 indicou que os alunos ultrapassaram o nível 2 e chegaram ao
nível 3 com proficiência 155, que significa que ficaram incluídos no intervalo de
proficiência 153 a 166 definido no quadro de níveis de habilidade e proficiências
características como “ Em vias de consolidação das habilidades do nível. A proficiência
da Fundação Osório foi inferior a 150.
73
Em 2006, na 2ª série/ 3º ano do Ensino Fundamental, a Onda 3 apurou que os alunos da
escola B alcançaram a maior proficiência (180), superarando o nível 3 e alcançando o
nível 4 de habilidades em Leitura e que os alunos da Fundação Osório mantiveram-se no
nível 3, com proficiência 165.
Em 2007, a Onda 4 indicou que os alunos da 3ª série/ 4º ano da Fundação Osório tiveram
proficiência 175, alcançaram o nível 4, cujo intervalo é intervalo 172 a 182 das
“Habilidades do nível em vias de consolidação”. O gráfico mostra acentuada queda no
desempenho dos alunos em Leitura, decorrente, provavelmente, do baixo rendimento de
uma das turmas, por conta da necessidade de redistribuição dos discentes pelas diferentes
turmas. O resultado indica que esse foi o período que ofereceu para os alunos o maior
número de dificuldades na apropriação dos novos mecanismos de leitura. A escola B foi a
de melhor pontuação (190), tendo chegado ao nível 5.
A Onda 5, em 2008, ao final da primeira etapa do Ensino Fundamental, os alunos da
Fundação Osório apuraram proficiência 185, chegando ao nível 5, cujo intervalo das
habilidades em nível de consolidação é de 188 a 201, mas não tiveram as habilidades do
nível consolidadas, já que a proficiência indicada para esse nível é >= 201. A proficiência
185 informa, ainda, que os alunos chegaram ao nível 6, apenas enquanto “ Auge do
desenvolvimento das habilidades do nível”. A escola B, a melhor pontuada, teve
proficiência >195. O resultado sugere que os alunos inferem informação em texto com
linguagem mista, em conto de extensão mediana (cerca de 15 linhas) e em texto
informativo curto; reconhecem o efeito do humor em uma anedota; identificam a
finalidade de uma fábula; estabelecem relações lógico-discursiva de tempo, em um
poema, marcada por uma locução adverbial e de causa-consequência em uma lenda;
reconhecem a opinião de um personagem presente em discurso direto, e do narrador;
identificam a ordem em que os fatos acontecem na narrativa, a caracterização de uma
personagem, os interlocutores em conto conhecido e em discurso direto, por meio das
marcas explícitas que o identificam.
74
A partir da análise do gráfico de descrição da Evolução do Desempenho em
Leitura das Escolas por onda – 2005-2008 é lícito concluir que os alunos, ao final do 1°
segmento do Ensino Fundamental não conseguiram alcançar o nível 6, aquele que exige que
as habilidades consolidadas sejam > = 222. Sugere que as crianças ainda não dominam ou o
fazem de forma precária ou imperfeita:
a localização de informação em texto informativo curto com vocabulário mais
sofisticado, nem em texto expositivo-argumentativo, sob forma de paráfrase;
a identificação de assunto de um texto informativo curto ou de letra de música com
linguagem simples; a inferência de sentido de palavra, em poema;
o reconhecimento das marcas de ironia, em texto com linguagem simples e temática
familiar e o efeito do sentido do emprego de um diminutivo;
o estabelecimento de relações lógico-discursivas de causa-consequência em texto
informativo curto com vocabulário mais sofisticado;
a distinção dos posicionamentos, reconhecendo ponto de vista do enunciador, por
meio do emprego de um adjetivo e
a identificação das marcas lingüísticas características de situações informais.
75
Gráfico 2
Fonte: Geres, 2011.
O gráfico 2, da “ Evolução do desempenho em Leitura das Turmas da Fundação
Osório por onda – 2005-2008” trouxe algumas informações.
Revelou que em 2005, por ocasião da Onda 1, eram 3 as turmas nas quais foram
aplicados os testes de Leitura: a turma 1 teve a menor proficiência (135) e as
turmas 2 e 3 as melhores (140).
Ao final de 2005, a Onda 2 sinalizou que a turma 1 melhorara bastante o seu
desempenho (>150), mas que fora a turma 2 que obtivera os melhores resultados
(155), seguida pela turma 3 com proficiência menor (150).
A Onda 3, em 2006, indicou que a turma 2 continuou com os melhores resultados
(proficiência 170) e que as turmas 1 e 3 tiveram desempenhos semelhantes (>160 e
<165, respectivamente). A turma nova, de nº 4, apresentou proficiência <170.
76
A onda 4, em 2007, indicou que o melhor desempenho foi o da turma 3 (175); que
as turmas 1, 2 e 4 tiveram desempenhos semelhantes (<175), embora a turma 1
tenha crescido muito em relação a ela mesma e que a turma 2 tenha sido a que
menos progrediu em relação a si própria. Mostrou ainda que a turma 2, que vinha
com bom desempenho, no 4ºano teve mínimo avanço cognitivo em Leitura ( de
170 para >175), provavelmente como decorrência do seu novo perfil ao agregar 2
alunos da turma 1 do ano anterior, 5 da turma 3 e 2 da turma 4.
A Onda 5, em 2008, mostrou forte reação dos alunos da turma 2, que chegaram à
proficiência 190, seguidos bem proximamente pela turma 1 – aquela que na onda 1
teve o desempenho mais modesto – com proficiência superior a 185. Os alunos da
turma 3, que vinham desde a Onda 1 numa trajetória fortemente ascendente,
avançaram pouco, chegando com proficiência 185. Finalmente, os alunos da turma
4 obtiveram proficiência pouco superior a 180.
O gráfico permite concluir que os alunos da turma 2 foram os que tiveram
maior ganho na evolução do desempenho em Leitura, mas que foram os alunos da
turma 1, os que mais progrediram em relação a eles próprios, no decurso da primeira
etapa do Ensino Fundamental.
As informações trazidas pelo gráfico 2 fazem supor que o baixo resultado
da Fundação Osório, na Onda 4, revelado no gráfico 1, seja decorrente da queda
acentuada dos resultados obtidos pelos alunos da turma 2, na referida Onda, em face
da chegada de crianças oriundas de três diferentes turmas do ano anterior. No ano
seguinte, após a necessária acomodação dos novos integrantes, a turma voltou a sua
rota de sucesso.
O quadro 4 trata das habilidades em Leitura do nível consolidadas por
onda na Fundação Osório, no período 2005-2008, mostrando o número e o percentual
de alunos situados abaixo do nível 1, no nível 1 e nos demais níveis. Nesse quadro
foram incluídas as crianças originalmente observadas e as que foram matriculadas
posteriormente.
77
Quadro 4 - Habilidades em Leitura do nível consolidadas por onda na Fundação Osório
2005 – 2008
Habilidades do nível consolidadas Número de Alunos %
Onda 1
Abaixo do Nível 1 15 23,1
Nível_1 26 40,0
Nível_2 24 36,9
Total 65 100,0
Onda 2
Abaixo do Nível 1 4 6,1
Nível_1 16 24,2
Nível_2 35 53,0
Nível_3 8 12,1
Nível_4 3 4,5
Total 66 100,0
Onda 3
Nível_1 5 5,2
Nível_2 47 49,0
Nível_3 28 29,2
Nível_4 13 13,5
Nível_5 3 3,1
Total 96 100,0
Onda 4
Abaixo do Nível 1 2 1,7
Nível_1 3 2,6
Nível_2 27 23,3
Nível_3 46 39,7
Nível_4 33 28,4
Nível_5 5 4,3
Total 116 100,0
Onda 5
Abaixo do Nível 1 1 0,7
Nível_2 18 13,0
Nível_3 33 23,9
Nível_4 63 45,7
Nível_5 23 16,7
Total 138 100,0
Fonte: GERES, 2011.
Legenda:
Nível 1: >= 129 – 142,99 Nível 4: >= 182 – 200,99
Nível 2: >= 143 – 165,99 Nível 5 : > = 201 – 221,99
Nível 3: >= 166 – 181,99 Nível 6: > = 222
78
Descrevendo o quadro 4 de “Habilidades em Leitura do nível consolidadas por
onda – 2005-2008”, relativo à evolução do desempenho dos alunos da Fundação Osório,
percebe-se que:
a) A Onda 1, no início do ano de 2005, identificou que 40% dos alunos, situavam-se no nível
1, o que significa dizer que eram capazes de reconhecer as letras do alfabeto e a direção da
escrita, ler frases curtas com estrutura canônica ou não, associando-as a uma imagem e
localizar informação em um rótulo. Apenas 36,9% dos alunos atingiram o nível 2, aquele em
que estão situadas as crianças que reconhecem as sílabas de uma palavra, localizam
informações em texto curto (10 linhas), com poucas informações e em linguagem familiar,
identificam o assunto de texto informativo de extensão mediana (15 linhas), a partir do título e
conseguem perceber uma informação em uma tirinha e a finalidade de um bilhete. Abaixo do
nível 1, ficaram 23,1% dos alunos testados.
b) A Onda 2, correspondente ao final de 2005, identificou que 6,1% dos alunos testados
mantiveram-se abaixo do nível 1; que 24,2% chegaram ao nível 1; que 53,0% dos alunos
encontravam-se no nível 2, cujas habilidades já foram definidas acima; que 12,1% alcançaram
o nível 3, sendo capazes de localizar informação em textos de gêneros mais variados, perceber
o assunto indicado pelo título de texto informativo curto e de um folheto de divulgação de
uma campanha, através da associação da linguagem verbal e não-verbal, de inferir
informação em texto de gênero menos familiar, a partir de pistas não-verbais e o sentido de
palavra em poema simples, de perceber o objetivo de um texto instrucional, de estabelecer
relações lógico-discursivas entre partes de um texto por meio de formas verbais, de identificar
um referente distante, e relação de causa-consequência. Chegaram ao nível 4 apenas 4,5%
dos alunos, capazes de inferir informação em texto não verbal de gênero familiar (tirinha), em
ficha de identificação de espécie da fauna e perceber o sentido de uma palavra em uma
receita; que conseguiram reconhecer os efeitos do humor, o significado do uso das reticências
e o de uma onomatopéia; que inferiram o sentido de uma expressão em texto instrucional
(receita) sem apoio de imagem e identificaram relações entre textos de mesmo gênero,
percebendo-lhes as diferenças quanto à informação; que estabeleceram relações entre partes
de um texto por meio de substituição lexical e de causa-consequência, em poema curto e em
texto de extensão mediana.
79
e identificaram interlocutores em uma fábula, o narrador de um poema com temática e
vocabulário familiares e a situação problemática em uma fábula extensa. Estes resultados
mostra conquista de valor agregado (progresso do aluno) de um conjunto de habilidades
muito importante no processo de decodificação e codificação das letras e fonemas.
c) No final do ano de 2006, a Onda 3 revelou a existência de 5,2% de alunos no nível 1,
49,0%, no nível 2, 29,2%, no nível 3, 13,5%, no nível 4. Somente 3,1% dos alunos
alcançaram o nível 5, tendo desenvolvido as habilidades de fazer inferência em texto com
linguagem mista, em conto com cerca de 15 linhas, de reconhecer o efeito do humor em
anedota, a partir de combinação de pistas verbais, de identificar a finalidade de uma fábula e
de uma anedota, de estabelecer relações lógico-discursivas, marcadas por uma locução
adverbial de lugar, de causa-consequência em uma narrativa tradicional (lenda), de distinguir
posicionamentos ao reconhecer a opinião do narrador e dos personagens do discurso direto, de
identificar elementos de um texto narrativo, percebendo a ordem em que os fatos ocorrem em
uma narração literária e a caracterização de uma personagem, de identificar os interlocutores e
o narrador de um texto mais longo (29 linhas).
d) A Onda 4, em 2007, identificou a existência, ainda, de 1,7% de alunos situados abaixo do
nível 1, 2,6%, no nível 1, 23,3%, no nível 2, 39,7, no nível 3, 28,4%, no nível 4 e 4,3%, no
nível 5. Tais resultados informam que a grande maioria dos alunos apropriou-se dos
processos iniciais de alfabetização, dominando a aprendizagem das habilidades básicas de
leitura.
e) Em 2008, a Onda 5 apontou para o seguinte resultado: 0,7% dos alunos mantiveram suas
habilidades em Leitura abaixo do nível 1; 13,0% permaneceram no nível 2; 23,9%
continuaram no nível 3; 45,7% atingiram o nível 4 e apenas 16,7% alcançaram o nível 5.
f) Nenhum aluno conquistou o nível 6 das habilidades em Leitura e ao final de 2008, somente
um aluno permaneceu abaixo do nível 1.
g) O percentual de maior valor agregado foi registrado entre as Ondas 1 e 2 com 40,0%, no
nível 1 da Onda 1 e 53,0%, no nível 2 da Onda 2.
80
h) À medida que as habilidades de leitura foram se tornando mais exigentes, os percentuais de
aproveitamento foram sendo reduzidos. O avanço no desempenho escolar das crianças ficou
mais conservador, sem dar grandes saltos de qualidade. Assim, a Onda 3 registrou no nível 3,
aproveitamento de 29,2%, a Onda 4, no nível 4, aproveitamento de 28,4% e a Onda 5, no
nível 5, aproveitamento de 16,7%.
i) No nível 2, a Onda 1 apontou 36,9% de aproveitamento entre os alunos. A Onda 2, ao final
de 2005, indicou que 12,1% dos alunos atingiram o nível 3. Em 2006, a Onda 3 mostrou que
13,5% chegaram ao nível 4, a Onda 4, que 4,3% atingiram o nível 5 e a Onda 5 que 16,7%
atingiram o nível 5.
j) A Onda 2 indicou que 12,1% chegaram ao nível 3; a Onda 3 que 13,5% ao nível 4; a Onda
4 que 4,3% ao nível 5; a Onda 5 que 16,7% atingiram o nível 5.
k) A Onda 2 mostrou que 4,5% alcançaram o nível 4; a Onda 3, que 3,1% atingiram ao nível
5; a Onda 4 que 4,3% lograram o nível 5; a Onda 5 que 16,7% estavam no nível 5.
l) A Onda 3 refletiu que 3,1% dos alunos estavam no nível 5 das habilidades em Leitura; a
Onda 4 identificou 4,3% no nível 5 e a Onda 5 concluiu que 16,7% dos alunos estavam no
nível 5, em 2008.
m) Os percentuais de alunos com habilidades em Leitura abaixo do nível 1 foram diminuindo,
à medida que foram avançando nos anos de escolaridade. Assim, constituíam-se em 23,1%
dos alunos (ou 15 crianças) na Onda 1; 6,1% ( ou 4 crianças), na Onda 2; 1,7% ( ou duas
crianças), na Onda 4 e 0,7% (ou uma criança) na Onda 5, ao final de 2008.
No início de 2005, o grupo de crianças pesquisado estava distribuído em 3 partes:
uma abaixo do nível 1; outra no nível 1 e uma terceira parte no nível 2. Essa distribuição
evoluiu e ao final do mesmo ano verificou-se forte mobilidade dos alunos com 35 deles
localizados no nível 2 , 8 no nível 3 e 3 no nível 4, fato que indica significativo avanço nos
ganhos, nesse período inicial de escolaridade, inclusive com 11 alunos destacando-se.Ao final
de 2006, a Onda 3 apontou para relevante dispersão dos alunos pelos 5 níveis de habilidades
consolidadas, indicando ter sido a 2ª série/3ºano do Ensino Fundamental, período
representativo de grandes dificuldades para o processo ensino-aprendizagem para o grupo de
crianças investigado.
81
Os resultados do ano seguinte (2007), à despeito de existirem alunos distribuídos
pelos 5 níveis de habilidades consolidadas em Leitura e permanecerem dois alunos abaixo do
nível 1, houve expressiva concentração de crianças no nível 3 (indicando avanço dos que
estavam no nível 2) e no nível 4. A Onda 5 (2008) mostra que a maior parte dos alunos
investigados alcançou o nível 4, alguns chegando ao nível 5 das habilidades.
Resumindo, pode-se afirmar que o maior ganho dos alunos em Leitura ocorreu em
2005 e que a 2ªsérie/3ºano do Ensino Fundamental foi o período escolar que ofereceu maior
dificuldade para os estudantes. Além disso, a autonomia nos mecanismos de Leitura só foi
alcançada até o nível 4 por 63 crianças das 138 avaliadas, embora 23 crianças tenham tido as
habilidades consolidadas além, no nível 5.
A investigação apurou que as turmas organizadas com alunos de idades e
desempenhos diferenciados, tiveram itinerários formativos bem próximos, que se creditam
aos processos promotores de efetividade e de equidade, desenvolvidos no interior das salas de
aula e da escola. Em estudos futuros faremos análises mais detalhadas das turmas.
Espera-se que a investigação levada a efeito pelo Projeto GERES produza dados
capazes de mostrar o impacto da diminuição ou aumento da estratificação educacional nos
resultados escolares.
82
4.3 Alguns Achados
Faceando os dados apurados a partir da pesquisa das “fichas individuais” dos
alunos, com os resultados oferecidos pela aplicação de testes das 2ª e 3ª Ondas do Projeto
GERES, percebe-se que eles coincidem e se confirmam no que se refere ao desempenho e
fluxo escolares. Assim, foi possível concluir que:
Foi altíssimo o percentual de aprovação dos alunos da 1ª para a 2ª série do ensino
fundamental, com aprovação de 67 dos 69 alunos inicialmente matriculados, em 2005;
Os resultados dos testes da 2ª Onda do projeto GERES confirmam o bom desempenho
dos alunos ao final da 1ª série, apurando que 53,0% deles alcançaram o nível 2 da
escala GERES para Leitura, aquele que trata da leitura de textos curtos, com
identificação do remetendo de um bilhete, do uso do pronome, enquanto substituto de
algum nome, anteriormente mencionado, da inferência do sentido de alguma palavra a
partir do contexto em que é empregada e da identificação da finalidade do texto;
12,1% atingiram o nível 3, que localiza alguma informação explícita em texto escolar,
estabelecendo relações de causa e conseqüência entre partes do texto; 4,5% chegaram
ao nível 4, que amplia as habilidades relacionadas à realização de inferências.
Continua sendo excelente o resultado do desempenho dos alunos da 2ª para a 3ª série
do ensino fundamental, havendo apenas um aluno retido no fluxo e 63 aprovados para
a série posterior.
A aplicação dos testes da 3ª Onda do Projeto GERES confirmou o bom desempenho
dos alunos, ao concluir que apenas 5,2% dos alunos permaneceram no nível 1, 49,0%
no nível 2 e 29,2% atingiram o nível 3, 13,5% chegaram ao nível 4, o qual tem a
expectativa de que os alunos leiam textos um pouco mais longos, saibam recuperar
informações situadas no princípio, no meio ou no fim do texto, sejam capazes de
estabelecer relações entre as informações contidas em textos de gêneros e temas
familiares, identifiquem as seqüências narrativas, o sentido de palavras desconhecidas
a partir do contexto, determinem o ponto de vista do autor ou de um personagem
83
sobre os fatos narrados, percebam as relações de causa e consequências
explícitas em textos pequenos de gênero, tema e vocabulário pouco familiares .
Não houve retenção de aluno no fluxo escolar de 2007 (da 3ª para a 4ª série/ 5º ano) e
de 2008 (da 4ª para a 5ª série/6º ano do Ensino Fundamental) com todos os alunos
aprovados.
Relativamente à Onda 4 do GERES, que mostrou forte dispersão pelos diferentes
níveis de habilidades consolidadas, pode-se afirmar que ela também sinalizou para
possíveis avanços escolares diferenciados dos alunos da 4ª série/5ºano do Ensino
Fundamental.
A Onda 5 ao fixar 45,7% dos alunos no nível 4 e apenas 16,7% no nível 5 antecipou as
dificuldades que seriam enfrentadas pelos alunos na 5ª série/6ºano.
Esses achados sinalizaram que a avaliação realizada pelos instrumentos cognitivos
utilizados pelo Projeto GERES foram de grande precisão e indicaram dificuldades possíveis
de serem enfrentadas pelos alunos no ano seguinte, fato que se confirmou com fraco
desempenho dos alunos ao final da 5ªsérie/6ºano.
84
5 Considerações Finais
O objetivo da pesquisa de investigar como a organização de turmas de alunos
influencia na promoção da efetividade e na prática da equidade a partir da igualdade
educacional, levou-nos a considerar quais critérios foram utilizados pelo gestor escolar para o
agrupamento dos alunos em turma. Concluímos que tudo leva a crer que a escola pesquisada
pratica um critério de formação de turmas, que distribui os alunos de forma heterogênea,
ignorando a origem socioeconômica e cultural, o desempenho diferenciado, o gênero e a
idade.
Assim, a partir deste critério, parece que as turmas formadas podem ser definidas
como heterogêneas o que obriga professores e gestores a utilizarem estratégias metodológicas
que promovem a equidade, a partir da oferta de múltiplas oportunidades para que alunos com
mais dificuldades alcancem as habilidades de leitura pré-estabelecidas. O resultado da
pesquisa sugere que tanto o ambiente escolar, quanto a ação docente participam do processo
facilitador da aprendizagem. Lembra ainda, que a escola, enquanto lócus privilegiado do
processo ensino-aprendizagem, deve oferecer condições propícias a esse processo, pondo à
disposição da comunidade escolar um ambiente adequado, agradável, seguro e acolhedor. Os
docentes, enquanto mediadores do processo ensino-aprendizagem, denotam estar voltados
para seus alunos, observando-lhes os progressos, mas também as dificuldades, incentivando-
lhes a freqüência à escola e não promovendo a “pedagogia da repetência” (RIBEIRO, 1991).
Investigar a organização de turmas como possível fator determinante de
desigualdade educacional em leitura levou a considerar a existência de algum critério para a
formação das turmas da escola pública pesquisada. Percebeu-se que o critério tinha a ver com
a filosofia da escola de não rotular turmas, fosse como fortes, médias ou fracas, evidenciando
características que promovessem a vaidade e o orgulho de uns e a humilhação e o desprestígio
de outros e atribuindo certa acomodação à grande maioria.
Com a ajuda dos diferentes gráficos, capazes de revelarem o corpus estudado,
percebeu-se que critérios de idade, gênero, desempenho, perfil socioeconômico e cultural não
foram considerados de forma absoluta. As turmas foram formadas por crianças oriundas de
famílias de diferentes bairros, na sua grande maioria, situados em locais bem distantes da
escola e detentoras de capital cultural diferenciado, percebido por conta da ocupação
profissional dos familiares dos alunos, declarada por ocasião da matrícula dos mesmos, na
escola.
As turmas formadas em 2005 e as que se sucederam, freqüentadas pelos 69 alunos,
85
inicialmente matriculados na 1ªsérie/2ºano do Ensino Fundamental, pareceu definirem-se
sempre como heterogêneas.
O sucesso dos alunos pode sugerir que, dentre outros fatores, a utilização de
recursos materiais, tais como os abaixo indicados, podem fazer a diferença no aproveitamento
discente. Assim, (i) sala de leitura, favorecedora do despertamento do interesse pelos livros;
(ii) sala de música, com professores e instrumentos à disposição das crianças; (iii) quadra de
esportes e professores de Educação Física estimulando a prática de exercícios, propiciando
momentos de lazer e canalizando positivamente a energia infantil; (iv) sala de Educação
Artística, com professores estimulando a observação e o manejo de cores e formas do
cotidiano escolar; (v) auditório para apresentação das múltiplas atividades artísticas do corpo
discente e realização de sessões solenes do calendário escolar apontam para uma estratégia
favorecedora de bons resultados na trajetória escolar das turmas de alunos.
A heterogeneidade das turmas de alunos foi também cuidada por profissionais do
Serviço de Orientação Educacional, que buscaram fazer o entrosamento família/escola de
forma a envolver pais e responsáveis de diferentes origens sociais nos processos da educação
formal.
Acredita-se que as turmas heterogêneas reproduzem a desigualdade própria da
natureza, onde não existem dois seres absolutamente iguais. Enquanto a desigualdade e a
heterogeneidade parecem ser regras da natureza, a igualdade situa-se no campo dos direitos
sociais, no ordenamento jurídico que regula as relações dos indivíduos na sociedade. Diz a
Constituição Federal que “Todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza.”
Portanto, a igualdade não é um atributo natural do ser humano. É um artifício legal que
permite a convivência social harmoniosa. Mas as leis não igualam os seres humanos. Elas,
apenas, se propõem a regular as relações humanas em sociedade, de forma a não permitir que
os mais fortes e poderosos subjuguem os mais fracos e humildes.
Os seres vivos não são iguais. Os seres humanos são diferentes. As leis criam uma
igualdade artificial. A igualdade que faz a diferença é a das oportunidades oferecidas a todos
independentemente de cor, crença religiosa, pensamento político-partidário, capacidade
econômica ou intelectual.
O aproveitamento das oportunidades, embora fortemente atrelado ao esforço de
cada indivíduo, fica muito condicionado a outros fatores ligados às características de cada
86
família, ao meio social em que o indivíduo esteja inserido, as suas expectativas de vida, e,
particularmente a fatores escolares.
A sociedade está espelhada e refletida nas turmas de alunos que compõem uma
escola. Os alunos, diferentes uns dos outros, igualam-se nos direitos e deveres a que estão
sujeitos. Aproximam-se no exercício da liberdade com responsabilidade, destacam-se no
esforço individual de conseguir bom desempenho. É assim que cada turma vai desenhando o
seu perfil de turmas mais ou menos responsáveis, mais ou menos autônomas, de desempenho
excelente ou mediano, o mesmo acontecendo com as escolas.
Políticas públicas são instrumentos de equalização da sociedade. A educação é um
destes instrumentos. Entretanto não é fácil promover a educação, já que ela exige a anuência
das partes envolvidas. Todos nos educamos numa convivência solidária, comprometida,
respeitosa e responsável, mas ninguém educa ninguém (FREIRE, 1975).
Turmas de alunos organizadas por algum critério de homogeneidade ou de
heterogeneidade só logram êxito se seus componentes souberem aproveitar as oportunidades
que lhes são oferecidas. Entendem-se como oportunidades, professores que estimulam seus
alunos, escolas que se pautam no respeito, na harmonia, na alegria de suas crianças, que
oferecem ambientes estimulantes para leitura, seja nos cantinhos de leitura construídos dentro
da própria sala de aula, seja nas salas de leitura, seja nas bibliotecas formalmente organizadas.
Parece que reside nas oportunidades de aprender a estratégia maior das escolas que fazem a
diferença, as escolas eficazes. O reforço positivo é também estratégia de sucesso. Aulas de
apoio, de recuperação de estudos, de revisão de assuntos fazem parte dessa estratégia de
sucesso.
Segundo Soares (2002), fatores intra-escolares, relacionados à cultura escolar, aos
professores (satisfação, comprometimento e desempenho) e à sala de aula (tempo e
oportunidade para aprendizagem, ação pedagógica, monitoramento do progresso dos alunos e
recursos tecnológicos), bem como fatores extra-escolares ( características do próprio aluno, de
sua família, do grupo social a que pertence) parecem interferir na trajetória e no avanço
escolares. Condicionamentos familiares são muito fortes. Escola e família precisam caminhar
juntas para alcançarem o sucesso das suas crianças. Caso contrário, não há garantias para um
final feliz.
No caso estudado, 69 crianças foram matriculadas em 2005, no 1º ano do Ensino
Fundamental. Em 2009, estavam matriculadas no 6º ano, 50 crianças e somente 23, em 2010,
chegaram ao 7º ano. Embora a escola promova a efetividade, enquanto desenvolvimento das
87
habilidades básicas de leitura, e a equidade, representada pela oferta de múltiplas
oportunidades para os alunos com dificuldades para alcançar as habilidades escolares
desejadas, ações às quais credita o alto índice de desempenho dos alunos até a conclusão da 4ª
série/ 5ºano do Ensino Fundamental algum outro fator existe que interrompe a trajetória
escolar, até então bem sucedida.
Retomando o objetivo da pesquisa – como a organização de turmas de alunos
influencia na promoção da efetividade e na prática da equidade favorecendo a igualdade
educacional – é lícito admitir-se que, para que a igualdade educacional seja alcançada, é
indispensável que ela seja fortemente desejada.
De nada valem o conforto das salas de aula bem equipadas, a preocupação com a
alimentação de boa qualidade, a facilidade do transporte escolar, a distribuição gratuita do
livro e do material didático, a segurança de profissionais capacitados e adequadamente
remunerados, se o grupo de alunos não aderir ao processo ensino-aprendizagem, se não
estiverem ávidos por novos conhecimentos e desejosos de dominarem os novos instrumentos
de informação.
Igualmente, se as famílias não creditarem à educação alto valor social e
perceberem-na como instrumento de inclusão e, ainda hoje, à despeito de todas as
dificuldades, fator de uma possível e desejada mobilidade social, pouco poderão fazer os
professores e a instituição escolar, enquanto lócus privilegiado do saber formal. Fatores intra e
extra-escolares precisam estar fortemente imbricados e relacionados para que o sucesso
escolar seja alcançado pelo alunado.
A desigualdade educacional é um fenômeno que extrapola os limites das salas de
aulas, pois diz respeito a estratificações sociais decorrentes das desigualdades sociais, que
reforçam as diferenças individuais e a capacidade de cada ser humano perceber o mundo e
com ele interagir.
Tudo indica que as desigualdades sociais podem responder pelos avanços
diferenciados entre turmas de alunos de uma mesma série, dentro da mesma escola,
usufruindo todos dos mesmos recursos didáticos.
Alunos, aleatoriamente organizados em turmas, foram eles próprios desenhando o
perfil dos respectivos agrupamentos. Entretanto, oferecidas tantas oportunidades quantas
necessárias, no período previsto, foram todos os alunos alfabetizados no primeiro ano de
escolaridade, embora cada aluno alcançando grau diferente de leitura significativa. Todos
88
superaram os obstáculos que os signos gráficos – letras e números, por exemplo - inicialmente
lhes ofereciam.
A título de considerações finais, pode-se concluir que:
turmas de alunos são reproduções da sociedade de que são parte;
os alunos têm desempenhos diferenciados na apropriação das habilidades básicas
de leitura;
o desenvolvimento das habilidades básicas de leitura demanda bom número de
oportunidades para que todos os alunos avancem no seu domínio;
cabe à escola, enquanto local destinado ao processo ensino-aprendizagem, oferecer
tantas oportunidades quantas necessárias para que a aprendizagem se realize
satisfatoriamente;
a escola estará promovendo desigualdade educacional se não cumprir sua
obrigação de efetividade e de equidade de ensinar e aprender;
cabe à escola, aos docentes, às famílias reduzirem as diferenças individuais
próprias dos seres humanos, ampliando as oportunidades de sucesso postas a
serviço de suas crianças.
Finalmente, é preciso lembrar que todos somos responsáveis pelo sucesso dos
estudantes em suas salas de aula, em cada escola brasileira. Se é verdade que a realidade é
difícil, cheia de percalços, é também verdade que a capacidade de invenção do ser humano é
ilimitada.
É desta forma que os países vão elaborando políticas públicas que, cuidando
dos economicamente hipossuficientes vão criando mecanismos de igualdade social, ainda que
tímidos, mas que permitem a saudável convivência dos homens em sociedade.
Quando se pensa em educação, percebe-se que as políticas públicas vão tentando
corrigir erros históricos, protegendo os grupos sociais mais carentes, equalizando
oportunidades, de forma a garantir acesso à educação, permanência do aluno na escola,
inclusão de toda a população em idade escolar no processo educativo, propiciando educação
de qualidade, em escolas que fazem a diferença: as escolas eficazes.
A convivência humana cria barreiras e obstáculos entre os próprios homens,
mas a necessidade de sobrevivência faz com que o ser humano encontre fórmulas que o
89
façam superar sua inércia e egoísmo. É pela educação, por meio do exercício da aceitação do
outro, no convívio estreito das salas de aula, aonde as limitações de cada pessoa vão se
desenhando, que uma igualdade, precária ainda, vai sendo construída de forma lenta, mas
ininterrupta.
A igualdade plena, tanto no âmbito social, quanto no educacional, a despeito do
tempo de que necessite para se completar, chegará a seu termo, pois a sociedade humana,
precisa ser justa, para ser inclusiva e democrática para ser livre.
90
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ANEXO A 95
Distribuição de Alunos por Localidades de Moradias
1ª Série/2º Ano do Ensino Fundamental - Ano 2005
BAIRROS/RJ
T.
111
T.
112
T.
113
Total Fora da
Cidade
T.
111
T.
112
T.
113
Total
Andaraí 01 01 Ingá 01 01
Botafogo/Humaitá 01 02 03 Itaipu 01 01
Catumbi/Estácio 03 03 N.
Iguaçu
01 01
Cachambi 01 01 Total 01 01 01 03
Caju 03 03 T.Geral 19 24 20 63
Centro 01 01 S/local. 06
Copacabana 03 02 02 07 Total 69
Eng. da Rainha 01 01
Engenho Novo 01 01
Flamengo 01 01
Gamboa 01 01 02
Glória/Catete 01 01 02
Grajaú 01 01 02
Ilha do Fundão 01 01 02
Lagoa 01 01
L.Vasconcellos 01 01
Olaria 01 01
Ramos 01 01
Rio Comprido 04 02 04 10
Rocha 01 01
São Cristóvão 01 01
Santa Tereza 01 01 02
Tijuca 05 04 01 10
V.Isabel/Maracanã 02 02
Total 18 23 19 60
Fonte: Fundação Osório, 2011.
96
ANEXO B
Distribuição de alunos por Localidades de Moradias
6ª Série/7º do Ensino Fundamental
Ano 2010
Dentro Cidade do Rio de
Janeiro
Turma
111
Turma 112 Turma
113
Total
Botafogo/Humaitá. 01 01 02
Catumbi/Estácio 03 03
Caju 01 01
Centro 01 01
Copacabana 03 01 04
Glória/Catete 01 01
Grajaú 01 01
Ilha do Fundão 01 01 02
Rio Comprido 02 01 01 04
São Cristóvão 01 01
Santa Tereza 01 01
Tijuca 02 03 01 06
Isabel/Maracanã V. 01 01
Total 09 11 08 28
Fora da Cidade do Rio de
Janeiro
N. Iguaçu 01 01
Total 09 11 09 29
Fonte: Fundação Osório, 2011.
97
ANEXO C
Distribuição dos Alunos pela Profissão dos Pais
2005/2010
2005 2005 2005 2010 2010 2010
Profissão T.111 T.112 T.113 Total T.111 T.112 T.113 Total
Administrador 01 01
Agen.Viagem 01 01
Advogado 01 01
Assit.Serviço 01 01
Biólogo 01 01
Comerciante 01 01 01 03 01
Contador 01 01
Eletricista 01 01 02 01 01
Engenheiro 01 01
Guarda Mun. 01 01 01 01
Marceneiro 01 01
Mecânico 01 01
Militar 11 14 07 32 04 03 01 08
Oper.Produção 01 01
Piloto Aéreo 01 01
Professor 02 02 02 02
Radiologista 01 01
Repr.Comerc. 01 01
Serv. Público 03 02 01 06 01 02 01 04
Taxista 01 01
Téc. Info. 01 01
Vendedor 01 01 01 01
Sem Profissão 03 02 02 07 01 02 03
Total 25 23 21 69 06 07 10 23
Fonte: Fundação Osório, 2011.
ANEXO D 98
Nível Socioeconômico dos Alunos Reprovados/Jubilados
1ª Série/2ºAno- 6ª Série/7ºAno do Ensino Fundamental
2005/2010
Ocupação
dos Pais
1ª/série/2ºano
2005
2ªsérie/3ºano
2006
5ªsérie/6ºano
2009
6ªsérie/7ºano
reprovados
2010
6ªsérie/7ºano
jubilados
2010
Biólogo 1
Comerciante 1 2
Eletricista 1 1
Mecânico 1
Militar baixa
patente
1 1 8 1
Militar:
oficial
1
Operador de
produção
1 1 1
Policial
Militar
2 1
Representante
Comercial
1
Taxista 1
Técnico Info. 1
Sem
Profissão
4 1 2
Total 2 1 24 3 5
Fonte: Fundação Osório, 2011.
G633 Gomes, Sueli Guimarães
Organização de turmas e desempenho em leitura: um estudo de caso / Sueli
Guimarães Gomes. – Rio de Janeiro, 2011.
98f. ; 30cm.
Dissertação (Mestrado Educação)– Universidade Estácio de Sá, 2011.
1. Estratificação social - Educação. 3. Educação – Aspectos sociais. 4. Projeto
GERES – Estudo de casos. I. Título.
CDD 370