Organizaçãodejogoe de Treino
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Universidade de Lisboa
Faculdade de Motricidade Humana
Organizao do Jogo e do Treino de
uma equipa de Futebol
Relatrio de Estgio Profissionalizante na Escola deFutebol Dragon Force Lisboa
Relatrio elaborado com vista obteno do Grau de Mestre em Treino
Desportivo
Orientador: Professor Doutor Ricardo Filipe Lima Duarte
Jri:
Presidente
Professor Doutor Pedro Jos Madaleno PassosVogais
Professor Doutor Lus Pedro Camelo Vilar
Professor Doutor Ricardo Filipe Lima Duarte
Joo Lus Mendes Ferreira
Lisboa, 2014
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O segredono correr atrs das borboletas... cuidar do jardim para queelas venham at ns.
Mario Quintana
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Agradecimentos
Dizer obrigado parece to fcil, e todavia, to difcil! Quantas vezes dizemos
obrigado em famlia? Quantas vezes dizemos obrigado a quem nos ajuda, vive perto de ns e
nos acompanha na vida? Muitas vezes damos tudo isso como suposto! Obrigado uma das
palavras-chave da convivncia.
Jorge Mario Bergoglio (2013)
Ao Professor Doutor Ricardo Filipe Lima Duarte pela disponibilidade e
oportunidade, pela sabedoria e por ter sido uma pessoa fundamental nos
conselhos e ensinamentos que permitiram tornar este trabalho uma realidade.
A todos os treinadores da escola de Futebol Dragon Force Lisboa. Para
haver crescimento tm de existir situaes de conflitos de ideias que
despoletem a necessidade de reflexo. Ao longo deste estgio deparamo-nos
com momentos que suscitaram dvidas e interrogaes. Estes momentos
resultaram em dificuldades que foram ultrapassadas atravs do dilogo, da
partilha de experiencias, reflexes pessoais e em grupo que resultaram sempre
na recolha de informaes importantes para cada um de ns.
Ao Nuno Ferreira, por toda a liberdade, confiana e ajuda no processo
de treino e de competio. Apesar das dificuldades, foi um prazer trabalhar
contigo.
Ao Davide, Telmo, Lino e Lus Gonalo pela presena, apoio e
amizade
Aos meus pais, que sempre acreditaram em mim, sempre me permitiram
seguir os meus caminhos, as minhas escolhas. Por todo o esforo e sacrifcios
que fizeram. Por estarem sempre l quando necessito. Um agradecimento
muito especial.
Aos meus irmos, Filipa e Lus pelo carinho e apoio
A todos, um muito OBRIGADO!
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ndice
Agradecimentos ................................................................................................. 4
ndice .................................................................................................................. 5
ndice de Figuras ................................................................................................ 7
ndice de Quadros .............................................................................................. 9
ndice de Grficos ............................................................................................ 10
Resumo ............................................................................................................ 11
Abstract ............................................................................................................ 12
1. Introduo ................................................................................................. 151.1 Aes e tarefas ..................................................................................... 17
1.2 Objetivos ............................................................................................... 18
1.3 Finalidades ............................................................................................ 18
1.4 Processo de realizao do Relatrio de Estgio ................................... 19
2. Enquadramento da prtica profissional.................................................. 23
2.1 Contexto legal e institucional ................................................................ 23
2.2 Macro-ContextoOrganizao do Jogo e do Treino de uma equipa deFutebol ........................................................................................................ 24
2.2.1 O Jogo de Futebol como Sistema Complexo .................................. 24
2.2.2 Organizao do Jogo de uma equipa de Futebol ........................... 26
2.2.3 Organizao do processo de treino no Futebol .............................. 32
2.2.3.1 Pertinncia do exerccio de treino no Futebol ........................... 33
2.2.3.2 Conceo de exerccios de treino no Futebol como conceber o
exerccio de forma a dele se poder retirar o mximo rendimento para osjogadores e para a equipa ..................................................................... 36
2.2.3.3 A anlise das redes de interao social uma forma de avaliar e
controlar o treino e a competio .......................................................... 45
3. Realizao da prtica profissional .......................................................... 51
3.1 Filosofia da Escola de Futebol Dragon Force ....................................... 51
3.1.1 Dragon Force Lisboa ...................................................................... 52
3.2 Conceo da prtica profissional .......................................................... 53
3.3 Atividades ............................................................................................. 54
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3.3.1 Organizao e gesto do processo de treino e competio ........... 54
3.3.1.1 Modelo de Jogo ......................................................................... 54
3.3.1.1 Modelo de Treino....................................................................... 57
3.4 Dificuldades sentidas ............................................................................ 83
3.5 Sistema de avaliao e controlo do trabalho desenvolvido ................... 83
4. Estudo de Investigao ............................................................................ 89
4.1 Estudo - A representatividade dos exerccios de treino e o seu transfere
para a competio: o caso da procura do jogo interior na 2 fase de
construo .................................................................................................. 89
4.1.1 Introduo ....................................................................................... 89
4.1.2 Metodologia .................................................................................... 91
4.1.2.1 Participantes .............................................................................. 91
4.1.2.2 Procedimentos .......................................................................... 92
4.1.3 Resultados ...................................................................................... 97
4.1.4 Discusso ..................................................................................... 104
4.1.5 Concluses ................................................................................... 106
5. Evento - Relao com a Comunidade................................................... 109
6. Concluses e perspetivas de futuro ..................................................... 119
7. Referncias Bibliogrficas..................................................................... 125
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ndice de figuras
Figura 1 - O Jogo de Futebol Coordenao dentro da equipa e entre as
equipas ............................................................................................................ 27
Figura 2 - Estrutura e Organizao do jogo de uma equipa de Futebol
(adaptado de Oliveira, 2004) ............................................................................ 29
Figura 3 - Organizao dos diferentes momentos de uma equipa de Futebol
(Adaptado de Oliveira 2004)............................................................................. 37
Figura 4 - Fatores a ter em conta na conceo de exerccios (Adaptado de
Arajo et al (2006), Duarte (2012); e Travassos et al. (2012) .......................... 45
Figura 5- Anlises das redes de interao social (Duch, Waitzman & Amaral,2010) ................................................................................................................ 47
Figura 6- Ficha de Avaliao Diagnstico e Semestral .................................. 55
Figura 7- Ficha de Perfil do Aluno .................................................................. 56
Figura 8- Ficha de Avaliao Diagnstico da Turma ...................................... 56
Figura 9- Planeamento Semanal (microciclo) ................................................. 63
Figura 10- Conceo de Exerccios de treino ................................................. 67
Figura 11- Plano de Treino de 3 feira (microciclo 17).................................... 69
Figura 12- Estimulao do Futebol de RuaExemplo de Evento nas portas do
Estdio do Drago ............................................................................................ 70
Figura 13- Exemplo Torneio das Naes ....................................................... 73
Figura 14- R.E.D.E 2013/14 ........................................................................... 74
Figura 15- R.E.D.EInformao Pedaggica (pgina 16) ............................ 74
Figura 17- R.E.D.EInformao de Psicologia (pgina 41) .......................... 75
Figura 18- R.E.D.EInformao de Sade (pgina 45) ................................ 75
Figura 19- Anlise Quantitativa da Qualidade ................................................ 77
Figura 20- Anlise Qualitativa ......................................................................... 78
Figura 21- Tempo de exercitao dos sub-momentos, sub-principios ........... 80
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Figura 22- Linhas de Passe ao portador (DC) sempre por dentro (interior e
MC a vermelho) e por fora da estrutura adversria (defesa lateral a azul)...... 93
Figura 23- Bola dentro da estrutura adversria (no mdio interior esquerdo) 93
Figura 24 - Passe para espao interior (dentro da estrutura adversria) e
exterior (fora da estrutura adversria) .............................................................. 97
Figura 25- Exerccio 1 (8x8+(2)2 Sub-Momento (Equipa A)...................... 98
Figura 26- Exerccio 1 (8x8+(2)2 Sub-Momento (Equipa B)...................... 99
Figura 27- Exerccio 2 (GR+8x8+GR+(2)2 Sub-Momento (Equipa A) ..... 100
Figura 28- Exerccio 2 (GR+8x8+GR+(2)2 Sub-Momento (Equipa B) ..... 101
Figura 29Jogo SCP vs DF Lisboa2 Sub-Momento ............................... 102
Figura 30- Capa Torneio Carlos Chainho................................................... 110
Figura 31- Regulamento do Torneio ............................................................. 110
Figura 32- Equipas participantes e respetivos Balnerios ............................ 111
Figura 33- Calendrio Competitivo dos escales 2003 e 2002 .................... 111
Figura 34- Calendrio Competitivo dos escales 2001 e 2000 .................... 112Figura 35 - Balano do Torneio Carlos Chainho (presente nos anexos do
relatrio) ......................................................................................................... 113
Figura 36- Equipa DF Lisboa 2001 fotografia no final de um dos encontros
(campo n2) .................................................................................................... 114
Figura 37- Equipa DF Lisboa 2002 fotografia no final de um dos encontros
(campo n 3) ................................................................................................... 114
Figura 38- Cerimnia final com o ex-jogador e representante do torneio Carlos
Chainho .......................................................................................................... 115
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ndice de Quadros
Quadro 1- Contedos Organizao Ofensiva ................................................. 60
Quadro 2- Contedos Organizao Ofensiva (individual) .............................. 60
Quadro 3- Contedos Organizao Defensiva ............................................... 61
Quadro 4- Contedos Organizao Defensiva (individual) ............................. 61
Quadro 5- Contedos Transio Defesa-Ataque ............................................ 61
Quadro 6- Contedos Transio Ataque-Defesa) .......................................... 62
Quadro 7- Microciclo Padro .......................................................................... 65
Quadro 8- Grelha de avaliao do estgio ..................................................... 84
Quadro 9- Exerccios de treino avaliados - Microciclo 11 ............................... 95
Quadro 10Legenda das posies dos jogadores ........................................ 98
Quadro 11- Percentagem de passes dos defesas para os restantes colegas de
equipa (Equipa AExerccio 1) ....................................................................... 99
Quadro 12- Percentagem de passes dos defesas para os restantes colegas de
equipa (Equipa BExerccio 1) ..................................................................... 100
Quadro 13- Percentagem de passes dos defesas para os restantes colegas de
equipa (Equipa AExerccio 2) ..................................................................... 100
Quadro 14- Percentagem de passes dos defesas para os restantes colegas de
equipa (Equipa BExerccio 2) ..................................................................... 101
Quadro 15- Percentagem de passes dos defesas para os restantes colegas de
equipa (Jogo DFL vs SCP) ............................................................................. 102
Quadro 16 - Percentagem de passes dos defesas para jogadores que
receberam em espaos interiores e exteriores............................................... 103
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ndice de Grficos
Grfico 1- Tempo de exercitao dos momentos de jogo no microciclo 17, 18,
19 e 20 (Janeiro) .............................................................................................. 80
Grfico 2- Tempo de exercitao dos sub-momentos ofensivos de Novembro
a Abril (para cada ms foram considerados 4 microciclos de treino) ............... 80
Grfico 3- Tempo de exercitao escalas/partes (microciclo de treino 21).. 82
Grfico 4- Tempo de exercitao escalas/partes (microciclo 29, 30, 31 e 32)82
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Resumo
A estruturao do processo de treino assume-se como um fator
determinante na preparao de uma equipa de Futebol. Particularmente nocontexto do Futebol de Formao, a Metodologia de Treino adotada destaca-se
como fator capital, j que o objetivo desenvolver a capacidade do jovem se
tornar competente no jogo.
O objetivo do trabalho desenvolvido consiste em compreender, refletir e
fundamentar o processo de treino e competio da equipa sub-14 da Escola de
Futebol Dragon ForceLisboa, onde foi desenvolvido o presente estgio. Para
alm do trabalho de terrenocolaborao ativa em todo o processo de treino ecompetio foi realizado um estudo de investigao tendo como objetivo a
avaliao da representatividade dos exerccios de treino e o seu transfere para
a competio. Na rea de relao com a comunidade, foi organizado um
evento vocacionado para a formao de jogadores.
Do cruzamento da informao proveniente da reviso da literatura, da
reflexo pessoal, da experincia prtica adquirida e do estudo realizado, foi
possvel concluir que: devem-se criar tarefas de treino (exerccios)representativas, em que os constrangimentos representem as pistas
informacionais presentes no ambiente competitivo, para que os jogadores
possam manter as mesmas relaes funcionais (acoplamentos) entre perceo
e ao; a anlise ao jogo de futebol deve atender ao seu carter complexo e
dinmico, focando-se nas interaes entre os diferentes intervenientes, e as
suas mudanas ao longo do jogo; criar contextos facilitadores, mantendo o
nvel de variabilidade aparente no desempenho competitivo e promovendo a
emergncia dos princpios de jogo, parece ser fundamental para o transfere
positivo entre o treino e a competio.
Palavras-Chave:Organizao do jogo, processo de treino, exerccio de treino,representatividade da tarefa, princpios de jogo.
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Abstract
The training process structuration and everything it involves is taken as a
key feature in the preparation of a football team. Particularly in Youth Football,
the adopted Training Methodology stands out as a major factor since its goal is
to develop the youngsters capacity of becoming competent in the game.
The goal of this report is to understand, reflect and fundament the
training and competition process in the team the intern was placed. Therefore,
the intern took part in a professional internship in the U-14 team of Escola de
Futebol Dragon Force Lisboa in which he actively collaborated in all the training
and competition process on the field work. Besides, he conducted an
investigation aiming at the representativeness assessment of the training
exercises and its transfer to the competition. It was organized an event devoted
to the formation of players, regarding community relations,
As a result of all the reading process, personal reflection, practical
experience acquired and study developed, it is possible to conclude:
representative tasks shall be created implying the need to ensure that practice
task constraints represent the competitive performance environment so that
learners can maintain the same perceptual-motor relations with key individuals,events and objects; the football analysis shall focus on a dynamic logic of the
game and on the interaction of the different participants of the game; as well as
to create easing contexts, keeping the apparent variability level in the
competitive performance and promoting the emerge of the game principles,
which seems essential to the positive transfer from training to competition.
Keywords:Game organization, training process, practice task, representative
task design, game principles
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1. Introduo
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1. IntroduoAs cincias do desporto tm vindo, ao longo dos anos, a adquirir uma
maturidade suficiente, gerando um corpo de conhecimentos especficos e teis
ao desenvolvimento e evoluo das diferentes modalidades desportivas
(Castelo, 2005). Williams & Hodges (2005) referem que tm sido levadas a
cabo inmeras pesquisas com o objetivo de se identificar os fatores mais
importantes que levam a bons desempenhos no desporto. Lembram que a
importncia das cincias do desporto apreciada por todos aqueles que esto
envolvidos em equipas profissionais e que a grande maioria dos trabalhos
nesta rea pertena dos fisiologistas do exerccio sendo que disciplinas como
a psicologia desportiva ou a aprendizagem motora so relegadas para segundo
plano. No entanto, estudos mais recentes tm vindo a dar cada vez mais
enfase aos aspetos tticos do jogo. Os mesmos autores encontram explicaes
para a parte fisiolgica ser a mais estudada: muito mais fcil avaliar a
efetividade de um programa de condio fsica do que monitorizar intervenes
que visam alterar comportamentos. Mudanas nas capacidades aerbia e
anaerbia ou nas caractersticas antropomtricas como a massa ou
composio corporal, podem ser facilmente determinadas usando testeslaboratoriais padronizados. Por outro lado, constructos como a ansiedade,
auto-confiana, antecipao e tomada de deciso so difceis de medir
diretamente e podem apenas ser inferidos atravs de mudanas
comportamentais ao longo do tempo. Esta explicao serve-nos tambm a
ns, pois a realizao deste trabalho visa compreender melhor a forma como o
treino conduz a uma determinada organizao do jogo de uma equipa de
futebol.
O jogo de futebol algo imensamente complexo, muito por fora da
vasta rede de relaes que se estabelecem com o seu decorrer. Este pode ser
considerado como a oposio de duas equipas com objetivos idnticos
marcar golos, e evitar golos da equipa adversria. Nesta relao, ambas as
equipas precisam de coordenar os seus jogadores (coordenao intra-equipa)
atravs de uma estratgia coletiva que considere a oposio da outra equipa
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(coordenao inter-equipa) num contexto em evoluo (McGarry, Anderson,
Wallace, Stephen, Hughes, Mike, Franks & Ian, 2002).
Assim, a orientao das aes dos jogadores torna-se algo de
importncia superior, como forma de tornar um pouco mais harmoniosa a redeque se estabelece entre os elementos da mesma equipa. A dinmica relacional
coletiva do jogo, caracteriza-se por uma existncia simultnea de aes de
cooperao e oposio e pela necessidade constante de coordenar as aes
dos jogadores, tendo como pano de fundo um contexto de elevada
complexidade, sendo que a sua realizao depende igualmente das
caractersticas dinmicas do prprio jogo (Jlio & Arajo, 2005). Neste
contexto, as aes que um jogador desenvolve ao longo de um jogo, exigemcomportamentos congruentes com uma determinada lgica de organizao.
Em funo de cada situao de jogo, importante que o jogador seja capaz de
responder de forma adequada, atuando em conformidade com o projeto de
jogo coletivo da sua equipa. Desta forma, atravs da operacionalizao do
processo de treino que o treinador faz emergir um conjunto de regularidades no
comportamento da equipa.
A metodologia do treino do futebol conduziu primeiramente aprendizagem, desenvolvimento e aperfeioamento de gestos tecnicamente
corretos, partindo do princpio que, estes seriam suportados por programas
motores considerados, os mais adequados. Posteriormente, em virtude de uma
eficiente automatizao desses gestos, que o jogador deveria procurar
resolver os problemas tticos do jogo (Castelo, 2009). De acordo com o mesmo
autor, este um paradigma em substituio, pois, j demonstrou as suas
limitaes, uma vez que no atende contnua variabilidade dos contextos de
jogo, bem como, s particularidades inerentes de cada jogador. O treino do
Futebol evoluiu, desta forma, de uma perspetiva mecanicista anteriormente
mencionada, para outra perspetiva que se edifica a partir de um interesse
crescente pelos aspetos estratgico-tticos e pela dimenso cognitiva do
rendimento, privilegiando as perspetivas comunicacional-informacional e
sistmica (Garganta, 1997). A ao de jogo ento uma propriedade
emergente das diferentes interaes dinmicas da perceo, do sistema motor,
do contexto situacional, dos objetivos estratgicos e tticos, pressupondo uma
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finalidade e um vnculo funcional, entre as intenes dos jogadores e dos
constrangimentos a que estes esto sujeitos (Castelo, 2009). Assim, tem sido
defendido que as tarefas/exerccios de treno devem ser concebidas para
assegurar a generalizao da melhoria do desempenho desportivo (Arajo,
Davids & Passos, 2007; Dicks, Davids, & Araujo, 2008; Pinder, Davids,
Renshaw, & Arajo, 2011).
Nos ltimos anos, a investigao em torno da aprendizagem de
comportamentos desportivos assistiu ao aparecimento de novos conceitos e
metodologias (Arajo, 2009). Neste sentido, a pedagogia no-linear sugere
que a aprendizagem seja perspetivada como o resultado das interaes que os
aprendizes estabelecem com o envolvimento em diferentes escalas temporaise que os conduzem a uma estabilizao de determinados comportamentos
(Chow et al, 2011). Tem sido tambm sugerido na literatura que as
modificaes no comportamento podero dever-se a mudanas no modo como
os indivduos usam a informao disponvel no ambiente (Arajo, 2009). Estas
evidncias realam a importncia da aprendizagem decorrer em contextos de
desempenho representativos (Chow et al, 2011), mantendo os
constrangimentos informacionais especficos dos contextos para onde se
pretende generalizar a aprendizagem (neste caso, o jogo de futebol).
1.1 Aes e tarefas
Este estgio compreendeu diferentes aes e tarefas, especificando:
Incluso de um estagirio, Joo Lus Mendes Ferreira, na escola
de futebol Dragon Force Lisboa, durante um perodo que decorreu entre
Setembro de 2012 e Junho de 2013;
Funo principal: apoio/acompanhamento ativo ao treinador
principal da equipa de iniciados C (sub 14) em todo o processo de treino e
competio;
Funes/tarefas adjacentes: planeamento das sesses de treino;
apoio ao treinador principal em determinados exerccios; orientao de
exerccios de treino; elaborao de relatrios de jogo; criao de fichas de
controlo e avaliao da carga de treino;
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Elaborao de um relatrio de estgio com a finalidade de
caracterizar todo o processo, a entregar na Faculdade de Motricidade Humana
da Universidade de Lisboa
1.2 Objetivos
Considerando este conjunto de necessidades, o objetivo geral, a que
nos propomos dar resposta, consiste em compreender e fundamentar, todo o
processo de treino e competio da equipa em que o estagirio esteve
colocado.
Assim, tendo como base esse mesmo objetivo geral, consideramos
como objetivos especficos: Identificar aspetos relevantes para a organizao do jogo de uma
equipa de futebol;
Identificar aspetos relevantes para a organizao do processo de
treino de uma equipa de futebol;
Perceber a importncia do exerccio de treino no rendimento dos
jogadores e da equipa;
Perceber de que forma se estrutura e operacionaliza o processode treino e competio na Escola Dragon Force Lisboa;
Avaliar a representatividade dos exerccios de treino e o seu
transfere para a competio;
Organizao de um evento desportivo vocacionado para a
formao de jogadores.
1.3 FinalidadesTrata-se de um Relatrio que comporta a descrio, fundamentao e
reflexo de todo o processo de estgio, assim como os ensinamentos e as
competncias que nos permite evoluir enquanto profissionais. Compreende
uma reviso bibliogrfica dos temas anteriormente referidos; o processo de
acompanhamento, apoio e realizao das tarefas e funes referidas; o que as
fundamentou; um processo de reflexo pessoal acerca destas temticas; um
estudo de investigao direcionado para o tema do trabalho; a organizao deum evento vocacionado para a formao de jogadores; concluses e
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ensinamentos que retiramos do estgio; e perspetivas futuras a nvel
profissional.
1.4 Processo de realizao do Relatrio de Estgio
Tendo como inteno cumprir com os objetivos definidos, o presente
Relatrio de Estgio est estruturado de acordo com os seguintes pontos:
A introduo, que tem como finalidade sistematizar as temticas
que sustentaro o presente estgio, descrevendo o estado atual de
conhecimentos e boas prticas para que se entenda o quadro de
problematizao do exerccio profissional considerado. Nesta tambm
apresentada a caracterizao geral do estgio e os objetivos do mesmo;
O enquadramento da prtica profissional, no qual tivemos
inteno de caracterizar o contexto a este associado de uma forma
aprofundada, considerando quer o macro contexto Organizao do jogo e do
treino de uma equipa de futebolquer os contextos legais e institucionais;
Realizao da prtica profissional onde definimos e
caracterizamos a conceo a esta associada, as atividades desenvolvidas, as
dificuldades sentidas, o sistema de avaliao e controlo do trabalho
desenvolvido;
O estudo de investigao direcionado para a temtica em
questo;
Relao com a comunidade, no qual descrito o evento
vocacionado para a formao de jogadores;
Concluses e perspetivas para o futuro, no qual pretendemosrefletir acerca dos ensinamentos retirados assim como as intenes que se
seguiro a este estgio;
Referncias Bibliogrficas utilizadas;
Anexos (suporte digital) onde temos inteno de reunir todos os
documentos que ajudem a explicitar mais detalhadamente os temas
abordados.
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2. Enquadramento da
prtica profissional
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2. Enquadramento da prticaprofissional
Para comear, iremos abordar o contexto onde o estgio se inseriu, noseu mbito legal e institucional, para de seguida, nos reportarmos ao
enquadramento de onde surgiu a prtica profissional Organizao do jogo e
do treino de uma equipa de Futebol. Iniciaremos o tema com uma abordagem
aos sistemas complexos, e posteriormente, relacionaremos os mesmos com a
forma como organizamos o jogo e o treino de uma equipa de futebol. Ainda
olharemos mais especificamente para a pertinncia do exerccio de treino e
como conceber o mesmo de forma a retirar o mximo rendimento dosjogadores e da equipa. Por fim faremos uma pequena reviso sobre uma nova
ferramenta de controlo do treino e competioas redes socias.
Todas as temticas presentes neste ponto serviro de suporte e
fundamento da prtica profissional realizada.
2.1 Contexto legal e institucionalO Estgio realizou-se na escola de Futebol Dragon Force Lisboa na
equipa de Iniciados C (sub-14). No de uma forma contratual mas como funo
de Estgio Profissionalizante, inserido no Mestrado em Treino Desportivo da
Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa. Surgiu na
sequncia de contactos formais e informais entre as duas entidades DF
Lisboa e FMH atravs de um protocolo de colaborao solicitado pelo
estagirio em questoJoo Lus Mendes Ferreiraapoiado na orientao doProfessor Ricardo Filipe Lima Duarte. Teve como durao o espao temporal
definido entre Setembro de 2012 e Junho de 2013, e comportou um horrio de
trabalho de cerca de duas horas dirias, ao longo de 3 dias teis (3,4 e 6), e
ainda o jogo, geralmente, realizado ao domingo
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2.2 Macro-ContextoOrganizao do Jogo e do Treinode uma equipa de Futebol
2.2.1 O jogo de Futebol como Sistema Complexo
A cincia das partes ajudou-nos a compreender o mundo que nos rodeia. No entanto, est
se a tornar cada vez mais evidente que importantes perguntas s podem ser respondidas caso
se pense mais cuidadosamente sobre relaes. Na verdade, o grande problema que
pensamos que a soluo est nas partes, quando est nas relaes que estas estabelecem.
Bar Yam (2008)
Uma equipa de Futebol um grupo, no qual, desde logo pela sua
especificidade, as relaes sero necessariamente complexas. Complexas
pelo nmero de pessoas envolvidas, complexas pela forma como estas se
relacionam, complexas porque nas relaes humanas cada um tem a sua
forma de ser e atuar, complexas porque tudo que rodeia um jogo o influencia.
Os sistemas complexos so a nova abordagem ao estudo da cincia das
relaes, entre as partes de um sistema darem origem a comportamentoscoletivos, e como o sistema interage e forma relaes com o meio ambiente
(Bar Yam, 2008). De acordo com von Bertalanffy (1956 cit. por Bertrand &
Guillemet, 1994) podemos definir sistema complexo como um conjunto de
elementos em interao. Partindo desta ideia defende-se que um sistema
caracteriza-se pela abertura que tem na relao com o envolvimento e tem
como finalidade o atingir de um estado final que o caracterize por inteiro.
Quando nos referimos a Sistemas Complexos indispensvel falar detotalidades, partes e relaes. Uma das observaes importantes que tudo
feito de partes. Descobrir como funcionam as partes para depois podermos
descobrir o todo fundamental (Bar Yam, 2008). O mesmo autor refere que o
grande problema pensarmos que a soluo est nas partes, quando na
verdade est nas relaes que estas estabelecem. No fundo para
descobrirmos o todo temos que perceber de que so feitas as partes e como
as mesmas se relacionam (Bar Yam, 2008). Changeux (2002) segue namesma linha de pensamento afirmando que para compreender bem como se
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construam as catedrais, no chega a descrio minuciosa das pedras
assumidas uma a uma: preciso ter tambm uma representao das suas
relaes mtuas e do plano de organizao geral dos pilares, das abbadas,
dos tmpanos
Garganta (1996) aplica o conceito ao futebol ao afirmar que as equipas
podem ser consideradas sistemas complexos, hierarquizados e especializados,
nas quais se tem tentado encontrar um mtodo que permita reunir e organizar
conhecimentos, procurando a interao dinmica entre os elementos de um
conjunto, conferindo a este um carcter de totalidade. Quando olhamos para
uma equipa de futebol percebemos que esta tambm feita de partes e as
mesmas se relacionam constantemente. A forma como interaes locaisinfluenciam a forma como a equipa se comporta a nvel coletivo um exemplo
do que referimos pouco.
Segundo McGarry, et al. (2002) o jogo de Futebol visto como um
sistema complexo, na medida em que, aberto j que est constantemente a
ajustar-se ao envolvimento para manter a sua organizao (por exemplo:
adaptao ao jogo do adversrio, substituies, encaixes de sistemas);
complexo porque composto por inmeras componentes em interao que serelacionam de forma no linear (por exemplo: tendncia de passe de um
jogador); dinmico porque o estado e funcionalidade do sistema vai mudando
ao longo do tempo (por exemplo: acumulao de fadiga, concentrao,
conhecimento do adversrio). Duarte (2012) ainda refere que os sistemas
complexos apresentam 3 caractersticas fundamentais: existe influncia do
envolvimento no comportamento do sistema; h uma interdependncia entre
escalas, ou seja, existe uma influncia mtua entre o individual, o grupal e o
coletivo; e o comportamento emergente (atravs de pequenas regras
podemos moldar comportamentos).
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2.2.2 Organizao do Jogo de uma equipa de Futebol
Os jogos desportivos coletivos so uma criao da inteligncia humana.
Deleplace (1994)
Para Garganta & Grhaigne (1999) o problema fundamental dos JDC
pode ser enunciado da seguinte forma: numa situao de oposio, os
jogadores devem coordenar as aes com a finalidade de recuperar, conservar
e fazer progredir a bola, tendo como objetivo criar situaes de finalizao e
marcar golo. O jogo de futebol um desporto coletivo no qual os
intervenientes, (jogadores) organizados em duas equipas, lutam
incessantemente, num espao e tempo perfeitamente definidos, pela conquista
da posse da bola com o objetivo de a introduzir na baliza adversria,
respeitando as leis do jogo (Castelo, 1994).
Segundo Garganta & Grhaigne (1999) as equipas funcionam num
registo de uma termodinmica do no-equilbrio, pois s assim possvel
desenvolver mecanismos de auto-organizao que criem estrutura e sentido a
partir da aleatoriedade. A interao dos jogadores em condies longe-do-
equilbrio prende-se com o fenmeno de auto-organizao, um processo em
que as componentes comunicam espontaneamente entre si e cooperam
subitamente num comportamento comum, coordenado, concertado (Stacey,
1995, cit. por Garganta & Grhaigne, 1999). Os mesmos afirmam que os
comportamentos dos jogadores so condicionados por um conjunto de regras e
por relaes com uma forma de feedback no-linear. H cerca de 30 anos
atrs, atravs de simulaes de computador, vrios cientistas desenvolveram
uma forma de capturar o comportamento coletivo de um grupo de animais
atravs das interaes locais que estes estabeleciam. Couzin (2009) conseguiu
observar que um grupo de peixes formavam um padro regular sustentando-se
em apenas 3 regras. Observaram tambm que pequenas alteraes nestas
regras originavam padres distintos. Tambm em estudos com humanos foram
observados padres regulares atravs do cumprimento de determinadas
regras. Segundo Duarte (2012), os padres de jogo de uma equipa emergem
de forma espontnea da interao dos graus de liberdade do sistema com oenvolvimento onde decorre a ao, acrescentando que numa equipa de futebol,
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os graus de liberdade correspondem s possibilidades de movimento de cada
jogador (componente). Atravs da alterao de determinados princpios locais
podemos manipular as interaes entre jogadores que por sua vez daro
origem a um determinado padro coletivo (Duarte, Arajo, Correia, & Davids,
2012). Regras simples podem gerar comportamentos complexos e ampliados.
Duarte (2012) referia-se a isto quando mencionava que uma das caractersticas
dos sistemas complexos que o comportamento emergente, ou seja, atravs
de pequenas regras podemos moldar comportamentos.
Teoduresco (2001) cit. por Duarte (2012), define equipa como um micro-
sistema social, complexo e dinmico. As diferentes caractersticas dos
elementos do sistema (os jogadores), assim como o tipo de relaesestabelecidas entre eles (intra-team coordination), e entre eles e a equipa
adversria (inter-team coordination) cria dinmicas de jogo altamente
especficas. McGarry et al. (2002) concluram que desta relao que surgem
os padres de jogo das equipas. Oliveira (2004) parece partilhar da mesma
opinio quando diz que uma equipa de futebol uma micro-sociedade que tem
uma cultura, que tem uma linguagem, que tem uma identidade e muitas outras
coisas prprias. Garganta (1996) refere que os coletivos em confronto
organizam-se em torno de lgicas particulares, em funo de regras, princpios,
e prescries, operando em contextos de elevada imprevisibilidade e
aleatoriedade.
Figura 1. O Jogo de FutebolCoordenao dentro da equipa e entre as equipas
Envolvimento:Treinador
ClimaDimenses do Campo
A
D
M
D
MA
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Nas afirmaes anteriores so realados 3 aspetos importantes a
organizao nica de cada equipa (intra-team coordination), o confronto entra
as duas equipas (inter-team coordination) e o fenmeno de auto-organizao.
Cada equipa tem a sua organizao, estando esta assente sobre a ideia de
jogo do treinador. Segundo Oliveira (2003) devem ser claras as ideias de como
queremos que a nossa equipa jogue, tanto nos aspetos mais gerais como nos
aspetos mais particulares. Se o treinador souber claramente como quer que a
equipa jogue e quais os comportamentos que deseja dos seus jogadores, o
processo de treino e de jogo ser mais facilmente estruturado, organizado,
realizado e controlado. Contudo importante referir que so os jogadores que
operacionalizam as ideias do treinador. Em situao de jogo existe um
adversrio que condiciona sempre a nossa ideia de jogo (inter-team
coordination) e que leva a que os jogadores se adaptem constantemente aos
constrangimentos a que esto sujeitos e que comuniquem espontaneamente
entre si (auto-organizao). Travassos (2012) refere que as melhores equipas
so aquelas que apresentam uma maior variabilidade de comportamentos que
lhes permite constantemente ajustar-se s adversidades da equipa adversria.
Garganta (1996) parece referir-se a isto quando diz que um sistema catico
pode ser isoladamente imprevisvel mas globalmente estvel, se o seu estilo
particular de irregularidade persistir face a pequenas perturbaes. Neste
sentido o autor argumenta que a explicitao de um entendimento sobre o jogo
de Futebol, tanto no plano do jogador como do treinador, deve realizar-se a
partir da emergncia duma constelao conceptual, construda a partir do
compromisso entre o estabelecido (as regras, os princpios) e a inovao.
Para Garganta & Grehaigne (1999), na construo da atitude ttica, o
desenvolvimento das possibilidades de escolha de um jogador depende do
conhecimento que este possui do jogo, estando a sua forma de atuao
fortemente condicionada pelo modo como ele concebe e percebe o jogo, isto ,
pelos seus modelos de explicao. Isto significa que a forma de um jogador
entender o jogo e de nele se exprimir, depende de um fundo, que constitui
aquilo que podemos designar por "modelo de jogo". As relaes que o jogador
estabelece entre este modelo e as situaes que ocorrem no jogo, orientam as
respetivas decises, condicionando a organizao da perceo, a
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compreenso das informaes e a resposta motora. Assim, o modelo de jogo
permite condicionar as escolhas dos jogadores para um padro de
possibilidades, ou seja, orienta as decises dos jogadores (Silva, 2008).
Oliveira (2003) entende por modelo de jogo uma ideia/conjetura de jogo
constituda por princpios representativos dos diferentes momentos/fases do
jogo, que se articulam entre si, manifestando uma organizao funcional
prpria, ou seja, uma identidade. Segundo Duarte e Frias (2011) esta
identidade surge atravs da distribuio posicional dos jogadores no terreno
jogo, das caractersticas especficas de cada jogador e das Interaes que eles
tendem a desenvolver durante o jogo.
Figura 2. Estrutura e Organizao do jogo de uma equipa de Futebol (adaptado de Oliveira,
2004)
A figura 2 esquematiza a forma como pode ser estruturado e organizado
o jogo de uma equipa de Futebol. Como foi referido fundamental o treinador
ter uma ideia clara de como quer que a equipa se comporte em jogo. Assim
sendo, determinante o treinador, antes de mais, fazer um esforo desistematizao mental das suas ideias, porque s assim pode maximizar as
suas funes.
Para Oliveira (2003) um outro aspeto relevante na organizao de uma
equipa de futebol so os jogadores. importante o treinador ter conhecimento
dos seus jogadores ao nvel do entendimento e do conhecimento que eles tm
do jogo, assim como, as capacidades e as caractersticas especficas de cada
um. A partir deste conhecimento o treinador adapta a sua ideia de jogo s
Ideia de Jogo do Treinador
Modelo de Jogo Adoptado
OrganizaoFuncional
Princpios de Jogo:
DefensivosOfensivosTransies
OrganizaoEstrutural
Caractersticasdos Jogadores
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caractersticas dos jogadores que possui, com o objetivo de conseguir retirar o
mximo rendimento dos mesmos e da interao entre eles, ou seja, fazer uma
equipa melhor. Desta forma, o modelo de jogo adotado dever evidenciar e
potenciar o melhor das caractersticas e das capacidades dos jogadores e,
consequentemente, da equipa.
Outro ponto fundamental e constituinte muito importante do modelo de
jogo so os princpios de jogo. Estes so comportamentos e padres de
comportamento que os treinadores desejam que sejam revelados pelos seus
jogadores e pelas suas equipas nos diferentes momentos do jogo (Oliveira,
2004). Nos jogos desportivos com bola, as aes e as decises pr-fabricadas
raramente ocorrem do modo como so realizadas em treino (Arajo, 2009).Frade (2014) refere que os princpios de jogo, so parmetros de controlo que
conduzem a forma como a equipa joga atravs de uma variedade de estados
possveis, mas no dita, prescreve ou codifica os padres emergentes,
reduzindo drasticamente os graus de liberdade da equipa e dos jogadores.
Para que os princpios de jogo emirjam como cultura, tm de ser manifestados
e concretizados de forma plstica. Isto s possvel se o que se deseja como
identidade parte do pressuposto que os princpios de jogo so isso mesmo,
princpios e no fins. Um jogador ou uma equipa, mesmo com um modelo de
jogo, ou com um plano de ao especfico para um jogo, precisa explorar o
contexto, e interagir com colegas e adversrios para resolver as situaes do
jogo (Arajo, 2009). Como j foi referido atravs da alterao de determinados
princpios locais podemos manipular as interaes entre jogadores que por sua
vez daro origem a um determinado padro coletivo (Duarte, Arajo, Correia, &
Davids, 2012). Esses comportamentos e padres de comportamento quando
articulados e entre si evidenciam um padro de comportamento ainda maior, ou
seja, uma identidade de equipa a qual se denomina por organizao funcional
(Oliveira, 2004).
Castelo (1994) faz um resumo daquilo que so princpios de jogo para
alguns autores:
- os princpios tticos de base, so durante o jogo as ligaes comuns a
todos os espritos, estabelecendo os pontos de referncia sobre os quais a
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imaginao, o gnio, se devero apoiar para elevar o nvel de jogo (Poulain cit.
por Castelo, 1994).
- os princpios so bases comuns para que os jogadores falem a
mesma lngua, permitindo exprimirem-se num estilo diferente (Franz cit. porCastelo, 1994).
- os princpios so regras de ao representadas pelo pensamento e o
meio de os jogadores explicarem racionalmente os seus comportamentos
(Mialaret cit. por Castelo, 1994).
- os princpios so as condies a respeitar e os elementos a tomar em
considerao para que o comportamento seja eficaz (Grehaigne cit. por
Castelo, 1994).
Para todos estes autores, os princpios de jogo so vistos como guias de
ao. Como vimos no ponto 2.3.1 deste trabalho, o jogo de Futebol deve ser
entendido como um Sistema Complexo em que os jogadores operam em
contextos de elevada imprevisibilidade e aleatoriedade. Posto isto, os padres
de comportamento dos jogadores e da equipa so consequncia de uma
ordem e de uma organizao da prpria equipa que no deve ser indutora de
limitaes individuais ou coletivas, deve ser sim produtora de comportamentos
criativos balizados por padres de comportamento desejados (Oliveira, 2003).
Um outro aspeto a ter em considerao na organizao do jogo de uma
equipa de futebol so as organizaes estruturais. Entende-se por organizao
estrutural a disposio que os jogadores tm em campo e, consequentemente,
a disposio que a equipa assume (Oliveira, 2003). As estruturas no devem
ser castradoras da organizao funcional da equipa. Equipas com
posicionamentos muito rgidos, sobretudo a atacar, no so capazes de se
adaptar aleatoriedade, e s exigncias do posicionamento do adversrio. As
estruturas devem ir ao encontro dos princpios de jogo definidos, da
organizao funcional e das capacidades e caractersticas dos jogadores.
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2.2.3 Organizao do processo de treino no Futebol
Operacionalizar uma filosofia dar corpo inteligncia, imaginao e criatividade.
a responsabilidade de uma ligao umbilical entre o exerccio, a referncia ideolgica e o seu
inventor. A evoluo d-se ao ritmo de cada exerccio, de cada treino, de cada jogo e de cada
competio. Percorre-se medida que se constri. O objetivo ser sempre o mesmo: criar
intenes e hbitos; tornar consciente e depois sub-consciente um conjunto de princpios de
forma a exponenciar naturalmente uma determinada forma de jogar
Faria (2006)
Depois de vermos como pode ser estruturado e organizado o jogo de
uma equipa de Futebol, debruamo-nos sobre a forma como devemos treinarpara levar os jogadores a operacionalizarem a ideia de jogo do treinador. Por
mais que se tenha um modelo de jogo claro, bem estruturado e de acordo com
as caractersticas dos nossos jogadores, caso no se consiga treinar de forma
eficaz no se conseguiram bons resultados de certeza. Mas afinal o que
treinar de forma eficaz?
Ao longo dos tempos, diferentes tm sido as perspetivas dominantes
relativamente aprendizagem e controlo do movimento humano. Podemosdistinguir, essencialmente, duas abordagens contrastantes: uma baseada na
psicologia cognitiva tradicional (no paradigma do processamento de
informao), e outra baseada na psicologia ecolgica e na teoria dos sistemas
dinmicos (Arajo, 2003). A primeira metodologia preconiza a aprendizagem
assente na procura de um modelo ideal de execuo. Os processos cognitivos,
como a tomada de deciso, so conceptualizados como elaboraes mentais
baseadas nas memrias armazenadas, que posteriormente so implementadas
pelas estruturas executivas (ossos, msculos, etc.) (Arajo, 2005).
Por sua vez, a segunda metodologia idealiza a aquisio motora
baseada na manipulao dos constrangimentos, visando que o atleta encontre
o seu prprio padro de execuo (Passos, Batalau, & Gonalves, 2006).
Sendo assim tem de haver mais que um comportamento predefinido ou pr-
programado para o jogo (Arajo, Davids & Serpa, 2005). De facto, os jogadores
expressam aes exploratrias e performativas com os outros jogadores, e nocontexto de jogo, visando um objetivo. Durante este processo, as decises
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comportamentais emergem da interao dos constrangimentos do jogador, do
seu objetivo e do contexto (Arajo, Davids, Chow & Passos, 2009). Neste
sentido a estrutura do jogo de futebol, implica a totalidade das aes individuais
e coletivas como uma unidade definida, pois cada elemento, est relacionado
com o conjunto, pelo que, este s exprime o seu significado total quando
observado no seu contexto. A teoria dos sistemas dinmicos concebe os
constrangimentos como presses, ou ligaes entre elementos que influenciam
a aquisio de aes e movimentos coordenados num determinado sentido
(Arajo, 2005). Deste modo os movimentos coordenados, emergem a partir da
interao entre mltiplos constrangimentos. Segundo o mesmo autor, torna-se
necessrio identificar e manipular os constrangimentos mais relevantes para
que as aes e decises tenham maior eficcia. Isto indica que necessria a
adaptao intencional aos constrangimentos da tarefa.
Procura-se assim, transpor para o treino os modelos de ao mais
eficazes bem como as tendncias evolutivas do jogo que caracterizam o
desempenho dos melhores jogadores e das melhores equipas do mundo, de
forma a estimular, atravs dos exerccios, o desenvolvimento de
comportamentos definidos, integrados em estruturas funcionais que
consubstanciam as suas exigncias dominantes (Castelo, 2005).
2.2.3.1 Pertinncia do exerccio de treino no Futebol
O exerccio de treino pertinente e adequado s exigncias e situaes do jogo
o elemento fundamental do Futebol
(Tschiene, 1978)
Um padro de jogosurge atravs de um conjunto de comportamentos
que a equipa evidencia em jogo que so resultado do cumprimento de
determinadas regras definidas pelo treinador. Mas como so
promovidos/estimulados estes comportamentos?
Segundo Bezerra (2001) uma semana aps o incio da poca
futebolstica, a equipa tem que apresentar uma performance muito prxima dasua mxima expresso. Estas necessidades/requisitos levaram a interrogar e a
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repensar todo o processo de planeamento e periodizao do treino. O modelo
proposto por Matveiev em 1986 considerando um perodo preparatrio, um
geral e um transitriocada vez mais vai sendo substitudo por modelos mais
atuais que se centrem no uso de exerccios que promovam a integrao de
vrios fatores (fsicos, tcnicos, tticos) com um aumento da intensidade
especifica da carga de treino visando a manuteno de um alto nvel de
intensidade durante todo o processo anual de treino e competio (Tschiene,
1978). Para o mesmo autor, o exerccio de treino pertinente e adequado s
exigncias e situaes de jogo o elemento fundamental do Futebol. O
exerccio deve identificar-se o mais possvel com o tipo de jogo pretendido pelo
treinador a nvel tcnico e ttico, muitas vezes definido no Modelo de Jogo, e
contemplando as capacidades fsicas especificas do futebol (velocidade, fora,
resistncia e flexibilidade). Isto aponta para aquela que deve ser a tarefa
fundamental do treinador criar exerccios que devem reproduzir parcial ou
integralmente o contedo e a estrutura do jogo (Teodoresco, 1984).
Segundo Arajo (2005) a ao ttica emerge do resultado da explorao
das possibilidades de ao, as quais so constrangidas pelas regras, pelo
tempo disponvel, pelas capacidades individuais, pelo seu estado emocional
etc. Os jogadores ao longo da sua evoluo vo ficando sensibilizados para
usar as informaes relevantes. Sempre que se usa a informao relevante
(normalmente surge pela orientao do treinador) a probabilidade de voltar a
usa-la aumenta (Arajo, 2005). Ou seja, a possibilidade de emergir uma
soluo favorvel tende a aumentar com o treino. Estar sensibilizado para usar
uma dada informao, quer dizer que o jogador deteta, cada vez melhor, as
informaes que lhe permitem agir com sucesso em cada situao. Isto
significa que atravs do treino promovem-se comportamentos que quando so
realizados de forma favorvel pelos jogadores tornam-se mais slidos nas
suas aes.
Segundo alguns autores o treino e o exerccio servem para criar pr-
representaes e assim aumentar a velocidade dos acontecimentos fazendo-os
depender de algo j previamente definido e no somente da soluo que o
crebro teria que encontrar e realizar para cada momento do jogo. Parece que
Changeux (2002) se refere a isto, quando afirma que a capacidade de
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antecipar representa um recurso essencial de predisposio para adquirir
conhecimentos. Tambm Silva (2008) refere que a realizao regular dos
princpios de ao faz com que os jogadores criem uma familiaridade com uma
lgica de funcionamento que os leva a antecipar com maior eficcia e menor
esforo os efeitos dos comportamentos. Segundo Changeux (2002) esta
capacidade de antecipao da recompensa foi registada por mtodos
eletrofisiolgicos ao nvel dos neurnios de dopamina do tronco cerebral no
macaco. Estes estudos revelaram que a ativao dos neurnios
dopaminrgicos no coincide com a recompensa, mas antecipa-se na
sequncia da aprendizagem. Para Campos (2008) esta concluso acaba por
explicar a rapidez de processos que as grandes equipas de futebol evidenciam
contrariando a lentido dos mecanismos cerebrais pois perante determinadas
situaes de jogo, o jogador age, ativando os neurnios dopaminergticos, o
que lhe permite uma antecipao na sequncia da aprendizagem garantida
pelo treino exaustivo dos comportamentos pretendidos.
Williams & Hodges (2005) afirmam que as novas abordagens
prescritivas devem-se em grande parte ao desenvolvimento de teorias
alternativas baseadas na psicologia ecolgica e na teoria dos sistemas
dinmicos. Como j foi referido estas perspetivas vm o sujeito como um
sistema dinmico e complexo com o padro de comportamento observado a
constituir-se como o produto de constrangimentos impostos ao aprendiz. De
acordo com esta viso, a coordenao do movimento atingida como
resultado da adaptao do sujeito aos constrangimentos que lhe so impostos
durante a prtica. Em vez de forar o jogador, o treinador precisa de criar um
contexto facilitador. A importncia da prtica deve por isso ser
convenientemente sublinhada. S a presena sistemtica dos comportamentos
que se pretendem que pode conduzir sua assimilao - princpio da
repetio sistemtica.
Daqui conclumos que a repetio sistemtica dos princpios
comportamentais, atravs do exerccio de treino pertinente (com informaes
semelhantes s da competio), o caminho para a operacionalizao do
modelo de jogo criado, sendo este efetivamente um modelo abstrato na medida
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em que cada treinador deve elaborar o seu de acordo com aquilo que pretende
ver implementado e com aquilo que encontra no clube.
2.2.3.2 Conceo de exerccios de treino no Futebol como conceber o
exerccio de forma a dele se poder retirar o mximo rendimento para os
jogadores e para a equipa
Deve-se treinar para lidar com a incerteza e com a variabilidade das situaes em vez
de se treinar para a mecanizao
Arajo (2005)
Como vimos anteriormente o exerccio de treino a forma de dar corpo
a uma determinada ideia de jogo. No fundo, atravs do exerccio de treino
que promovemos os comportamentos que queremos que a equipa evidencie,
durante a competio, nos vrios momentos do jogo. Investigaes atuais
indicam-nos que devemos ter algumas preocupaes na criao de exerccios
de forma a deles podermos retirar o mximo rendimento para os jogadores e
para a equipa.
Num estudo realizado por Bezerra em 2001 concluiu-se que a escolha
criteriosa dos exerccios de treino pode constituir um instrumento eficaz do
mesmo. Identificar o tipo de aes que se pretende para a equipa e selecionar
os exerccios de treino, procurando que estes se aproximem o mais possvel da
situao real de competio, parece ser a chave do sucesso.
Para Oliveira (2004) na criao de exerccios o primeiro passo
estarmos focados no princpio que queremos promover. Segundo o mesmopara que esta tarefa seja concretizada, dentro de uma lgica percetvel,
fundamental dividir o jogo em quatro momentos e definir princpios e sub
princpios que pretendemos que sejam revelados em jogo pelos nossos
jogadores e equipa.
Como vimos no tema 2.3.1 deste trabalho uma das caractersticas dos
sistemas complexos que estes so feitos de partes mas que fundamental
ter em conta a relao entre as mesmas. Oliveira (2003) parece ter isto emconta quando considera a existncia de quatro grandes momentos de jogo
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(Figura 3) e que estes devem ter relaes muito estreitas entre si. Segundo o
mesmo, a separao que se possa fazer apenas deve ser evidente no plano
didctico-metodolgico, para facilitar o processo de estruturao e organizao
do treino e do jogo. necessrio ter sempre em considerao a relao
permanente entre os diferentes momentos. No deve existir, em nenhum
momento, comportamentos que sejam inibidores de outros comportamentos
desejados.
Figura 3. Organizao dos diferentes momentos de uma equipa de Futebol (Adaptado de
Oliveira 2004)
Como tambm foi referido no tema 2.3.1 deste trabalho, segundo Duarte
(2012), uma das caractersticas dos sistemas complexos que existe uma
interdependncia entre escalas. Num estudo do mesmo em 2012, o autor
desenvolveu um modelo conceitual que capturou a interdependncia entre
diferentes nveis de organizao, que vo desde as dades para os coletivos
(ou seja, 1vs1, 3vs3 e 11vs11). Esta interdependncia implica uma causalidade
circular, o que significa que cada jogador, individualmente, influencia
reciprocamente o comportamento coletivo da equipa. Como vemos na figura 3
tambm fundamental dividir o coletivo por escalas/partes (individual, sectorial,
grupal intersectorial e coletivo) mas tendo sempre em conta que estas partes
so interdependentes, ou seja, existe uma influncia mutua entre as mesmas.
Individual
Sectorial (Grupal)
IntersectorialColectivo
Individual
Sectorial (Grupal)
IntersectorialColectivo
Individual
Sectorial (Grupal)
Intersectorial
Colectivo
Individual
Sectorial (Grupal)
Intersectorial
Colectivo
OrganizaoOfensiva
TransioDefensiva
OrganizaoDefensiva
TransioOfensiva
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Segundo Travassos (2012) a tomada de deciso no tomada pelo jogador
com bola nem pelo que no tem a bola, mas sim pela relao que os mesmos
estabelecem. Segundo o mesmo, no jogo, a tomada de deciso surge da
confluncia destas relaes que se estabelecem entre os jogadores. Duarte
(2012) tambm refere que, momentaneamente, os jogadores cooperam para
alcanar sub-objetivos parciais do jogo e que estes fazem emergir padres de
comportamento grupal especficos. Posto isto, importante dividir e treinar por
escalas/partes mas contextualizando sempre a situao. Silva (2008), refere
que ao fracionar a situao para incidir nos diferentes sectores no perde o
sentido. Pelo contrrio, enriquecido porque os jogadores realizam uma maior
densidade, por exemplo, de passes mas sempre contextualizados no
desenvolvimento do modelo de jogo. De acordo com esta lgica, fraciona-se o
jogo mas sem o empobrecer.
Durante os ltimos anos a melhoria das habilidades tcnicas e tticas
tem sido uma das reas estudadas por vrios investigadores. Estes tm
influenciado a forma como os treinadores concebem e operacionalizam o
treino, levando-os a crer que dividindo as tarefas por componentes (por
exemplo, em tcnicos, tticos e fsicos) e mais tarde juntando-os beneficia o
desempenho dos seus jogadores (Ford, Yates, & Williams, 2010). No entanto,
segundo Davids e Araujo (2010) este mtodo de treino falha por no ter em
conta a relao entre os jogadores e as informaes presentes no ambiente.
As tarefas tradicionais podem ser demasiado estticas, uma vez que os
jogadores precisam de ajustar constantemente as suas decises e aes ao
ambiente dinmico em que esto inseridos (Travassos, Arajo, Vilar, &
McGarry, 2011). Para Arajo (2005) a contextualizao das tarefas deve ser
um critrio central a respeitar no processo de treino. Durante os treinos, os
jogadores precisam de aprender a decidir e a agir de acordo com as
possibilidades de ao que o contexto proporciona tal como acontece durante a
competio. Num estudo de Silva (1998) cit. por Arajo (2005) este verificou
que apenas 12% das jogadas apresentaram semelhanas com as
combinaes e circulaes tticas previamente definidas e treinadas. Este
problema remete-nos para a coordenao inter-pessoal para alm da intra-
pessoal. Daqui conclui-se que caso o treino no tenha em conta a coordenao
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inter-pessoal, ou seja, caso no promova exerccios de treino semelhantes aos
da competio (por exemplo, com oposio) o transfere para o jogo ser
reduzido.
Tendo isto em conta surge-nos o conceito de Especificidade como algonuclear para que o modelo de jogo criado pelo treinador seja operacionalizado
pela equipa. Oliveira (2006) cit. por Silva (2008) abordam o conceito de
Especificidade afirmando que tem a ver com a necessidade da melhoria de
todos os princpios de jogo e isso s se consegue quando o processo acontece
tendo como preocupaes as melhorias singulares relativas a cada princpio de
jogo. Segundo estes a especificidade a incidncia repetida de todos os
princpios de jogo definidos no modelo de jogo. Digamos que as interaes dojogo resultam das relaes dos jogadores e que devem ser modeladas para
fazer emergir a dinmica coletiva que se pretende. Assim, as relaes e
interaes dos jogadores do-se numa organizao coletiva, ou seja, numa
lgica que contextualiza esses comportamentos. Para Arajo (2005) como a
perceo e o movimento so inseparveis e especificamente acoplados, a
prtica tem de ser altamente especifica. Isto quer dizer que deve ser aprendido
durante a prtica a acoplar a informao e o movimento. Segundo o autor, o
treino de futebol, deve ento ir ao encontro da situao de jogo tanto quanto
possvel. A informao visual disponvel durante o treino deve corresponder
informao disponvel durante o jogo, caso contrrio a habilidade aprendida, ou
seja, o acoplamento relevante entre informao e movimento, no ser
estabelecido e a prtica ter pouco ou nenhuma utilidade (Arajo, 2005). Faria
(2002) parece partilhar de uma opinio semelhante referindo que para se
instalar uma linguagem comum com regras, princpios, uma cultura de jogo, um
modelo de jogo fundamental que isso seja feito atravs do jogo. Para isso
necessrio no treino situaes que permitam aos jogadores estarem
identificados com aquilo que se quer que seja a competio. Na teoria dos
sistemas dinmicos, entende-se que os comportamentos consistem numa
adaptao intencional aos constrangimentos impostos pelo envolvimento,
durante a realizao de uma tarefa. O treinador deve criar um conjunto de
condies que leve o jogador a ficar afinado a um acoplamento especfico de
informao-movimento (Arajo, 2005).
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At aqui podemos concluir que se devem criar exerccios, com
informaes visuais disponveis semelhantes s da competio, que vo
sempre ao encontro dos princpios comportamentais que se pretende que a
equipa evidencie em jogo (conceito de especificidade). Para que isto acontea
no treino necessrio reduzir o jogo sem nunca o descontextualizar. Ou seja,
trabalhar por partes e por momentos e, sempre que possvel, em situaes
semelhantes s da competio. No fundo treinar alternadamente diferentes
escalas e momentos do jogo tendo sempre em conta as suas relaes. No
entanto, s isto no chega para criarmos exerccios que consigam promover o
rendimento mximo para os jogadores e para a equipa.
Para Arajo (1992), Castelo et al. (1994) e Garcia (1998), cit. porFerreira, A. (2011), na construo de exerccios de treino ttico, devemos ter
em conta alguns princpios metodolgicos. Alguns destes vo ao encontro
daquilo que j referimos anteriormente mas vejamos:
(1) o princpio da sistematizao: segundo Castelo (1996) para a
aquisio de uma capacidade especfica, os jogadores passam por um
conjunto de etapas traduzidas pela aplicao de um conjunto de exerccios de
treino aplicados de forma sistematizada e integrada num todo. Neste sentido,para se atingir um objetivo mais elevado (global) dever-se- estabelecer um
processo de progresso pedaggica, prevista antecipadamente, atravs da
qual se ir rentabilizar e racionalizar a diversidade e o grau de mobilizao de
recursos a serem utilizados.
(2) o princpio do carcter alternativo das tarefas tticas: a formao e o
aperfeioamento da ttica devem dirigirse para formas de organizao da
prtica e para a programao de objetivos que se produzam de uma formaalternativa. Alternam-se formas de organizao, nveis de dificuldade e
objetivos especficos. Este princpio vai ao encontro do que foi referido
anteriormente quando falvamos do treino alternado de diferentes escalas e
momentos.
(3) o princpio da unidade entre a formao ttica elementar e da
formao ttica complexa: este princpio estabelece um compromisso entre a
complexidade e a dificuldade do exerccio de treino, com a capacidade
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(habilidade) dos jogadores. Com efeito, as exigncias do exerccio devero
estabelecer-se do simples para o complexo, do conhecido para o
desconhecido, do pouco para o muito e do concreto para o abstrato.
(4) o princpio da relao entre a formao ttica individual e a formaottica coletiva: o exerccio dever estabelecer-se do tipo top-downou buttom
up, do individual para o coletivo ou deste para o individual.
(5) o princpio da unidade entre a formao ttica terica e a formao
ttica prtica e (6) o princpio da sntese tima indutiva e dedutiva: segundo
Castelo (1996), a que chama tambm de princpio da atividade consciente, o
exerccio de treino dever ter como objetivo ltimo a "construo" de jogadores
que conseguem resolver as diferentes situaes de jogo de forma autnoma,consciente e criativa. Isto s possvel, se a atividade for organizada
consubstanciando o empenhamento ativo e consciente dos praticantes na
execuo das exigncias determinadas pelo exerccio de treino, o que
pressupe a compreenso clara dos objetivos do mesmo. Da que, torna-se por
vezes necessrio a explicao sumria das finalidades do exerccio de treino
(objetivos), bem como das condies que o acompanham e de instrues
precisas para a sua realizao. Neste sentido, as intervenes do treinador,antes, durante e depois do exerccio de treino so uma via para a atividade
consciente dos jogadores.
(7) o princpio do aumento progressivo da dificuldade perturbao: o
comportamento ttico melhora e consolida-se progressivamente no confronto
progressivo das dificuldades derivadas pelas formas de exerccio utilizadas e
da variao dos diferentes elementos do modelo. Oposio passiva, semi-ativa
ou perturbadora para alm do competitivo, associado velocidade deexecuo so os ingredientes determinantes, no esquecendo a complexidade.
(8) o princpio da especificidade e da identidade da tarefa: o domnio de
qualquer meio ttico s se alcana quando possvel realiz-lo em
competio. Como tambm fizemos referncia anteriormente todas as
situaes de treino devem ser especficas, ou seja, ir de encontro aos
comportamentos que se pretendem em situao de competio.
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Para Arajo, Davids e Hristovski (2006) a tomada de deciso emerge
num processo contnuo e cclico de procura de informao para agir, e agir
para detetar melhor a informao A capacidade de tomar decises
essencialmente um meio de deixar a maior parte da informao no jogo,
usando cuidadosamente em tempo real sequncias de interaes entre o
jogador e o contexto para resolver problemas de modo consistente e adaptvel
(Jlio & Arajo, 2005).
Atualmente a dinmica ecolgica tem sido proposta como um paradigma
terico confivel para abordar esta relao jogador-ambiente. As oportunidades
de ao - ou seja, affordances (Gibson 1979) - indicam a forma como os
indivduos interagem com informaes do ambiente, e o seu uso adequadopromove o desempenho adaptativo. Portanto, mais que memorizar um grande
nmero de regras, ou aes, os jogadores precisam de desenvolver a
capacidade de detetar os constrangimentos informacionais que revelem os
caminhos para o objetivo (Arajo, Davids, Chow. & Passos. 2009).
Estas ideias tm implicaes importantes na conceo de tarefas
representativas. A representatividade foi um conceito inicialmente proposto por
Egon Brunswik (1956) que defende a necessidade de assegurar que osconstrangimentos da tarefa representam o ambiente competitivo para que os
jogadores possam manter as mesmas relaes percetivas e motoras (Pinder,
Davids, Renshaw, & Arajo, 2011). Quando os constrangimentos da tarefa
resultam na recolha de informao importante para a ao dos jogadores,
diferentes padres de movimento emergem (Pinder, Renshaw & Davids, 2009).
Duarte (2012) parece partilhar da mesma opinio quando refere que
necessrio constranger a informao do treino para modelar o comportamento
em jogo. No fundo, isto est relacionado com o conceito de especificidade
anteriormente mencionado, ou seja, todas as situaes de treino devem ir de
encontro aos comportamentos que se pretendem em situao de competio.
Estes devem ser estimulados atravs de exerccios de treino com informaes
semelhantes s da competio. Isto para que se consigam manter as relaes
percetivas e motoras do treino idnticas s da competio. Como referem
Pinder, Davids, Renshaw, & Arajo, (2011), as tarefas de treino devem
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representar oportunidades de ao para o jogador, permitindo ao mesmo
explorar o ambiente como se estivessem em competio.
A fim de assegurar o desenho representativo, na manipulao de
constrangimentos da tarefa deve-se manter um nvel de variabilidade (ou maisprecisamente, o grau de incerteza) aparente no desempenho competitivo a fim
de promover uma interao constante entre os jogadores e seu ambiente (Vilar,
Arajo, Davids, & Renshaw, 2012). Por exemplo, para um jogador executar um
passe eficaz num jogo de futebol, o mesmo necessita, no s de perceber a
localizao do companheiro de equipa que ir receber a bola, mas tambm de
passar a bola a uma velocidade especfica de forma a satisfazer as
oportunidades emergentes de ao oferecidas pelo meio ambiente. Isto porquenos jogos desportivos coletivos (JDC), a oportunidade de fazer um passe surge
de acordo com as relaes espcio-temporais que se estabelecem entre os
jogadores (Travassos, Duarte, Vilar, Davids, & Arajo, 2012).
Num estudo realizado por Travassos, Duarte, Vilar, Davids, & Arajo
(2012), foi examinado o efeito da manipulao do nmero de possibilidades de
ao dos jogadores sobre a velocidade da bola e a preciso do passe em
exerccios/tarefas de treino no Futsal. Foram comparados dados de tarefas emque o jogador tinha um nmero pr-determinado de possibilidades de passe,
ou seja, o passe era pr-determinado pelo treinador/investigador podendo ter
uma ou mais possibilidades, com tarefas em que exigiam um comportamento
emergente, ou seja, deixava-se que o jogador decidisse para onde passar
atravs da leitura de jogo. Os resultados indicaram que: 1) mudanas nas
restries das tarefas, tais como o aumento nmero de possibilidades de ao
para o passe, parecem melhorar a representatividade da tarefa; 2) quando
reduzimos as possibilidades de ao aumentamos a preciso mas no
promovemos a adaptao ao meio envolvente; 3) Para conseguir um alto
transfere entre o exerccio e a competio importante manter as condies
dos exerccios semelhantes s da competio para que os jogadores possam
agir de forma adaptativa; 4) tarefas representativas precisam de promover uma
co-dependncia entre indivduo, comportamentos e ambiente para desenvolver
performances adaptativas (Arajo, Davids e Hristovski (2006); 5) as tarefas
podem ser simplificadas. importante realar que quando o objetivo
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aumentar a preciso de um determinado gesto tcnico, como por exemplo o
passe, importante reduzir o n de possibilidades de ao. Ou seja, se
queremos que o jogador repita sistematicamente um determinado gesto porque
no o consegue realizar de forma eficaz importante comear com exerccios
com um baixo n de possibilidades de ao. Porm, a diferena fundamental
surgiu na observao do comportamento dos jogadores, em que aqueles que
foram sujeitos a tarefas mais ecolgicas sabiam adaptar as suas aes aquilo
que era exigido numa determinada situao em competio. Os resultados
acabaram por ir ao encontro do que Ali concluiu em 2011: o desempenho de
uma "tcnica" clssica em ambientes artificiais no refletem,
necessariamente, a capacidade do jogador executar de forma eficaz em
ambientes como os dos JDC.
Para alm das concluses deste estudo, Travassos (2012) refere que
para conceber exerccios de forma representativa e com o objetivo de
desenvolver a tomada de deciso baseada no nosso modelo de jogo, devemos:
1) manipular informaes espcio-temporais com os colegas e adversrios
(definir sectores, corredores, espaos onde pode haver presso); 2) ampliar
a informao que suporta a ao dos jogadores (criar espaos onde queremos
que os jogadores joguem, criar zonas de sada para o 2 momento); e 3)
potenciar o aparecimento de mltiplas solues (permitir que dentro de um
determinado padro os jogadores criem variabilidade no seu jogo).
Na figura 4 apresenta-se de forma sumria os fatores que devemos ter
em conta na conceo de exerccios de treino, de forma a promovermos
comportamentos adaptativos.
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Figura 4. Fatores a ter em conta na conceo de exerccios (Adaptado de Arajo et al (2006),
Duarte (2012); e Travassos et al. (2012)
Um mtodo possvel para assegurar se uma tarefa representativa
comparar os dados de desempenho em tarefas de treino com dados em
situao de competio - fidelidade da ao. Isto ajudaria cientistas do
desporto a avaliar se existe um transfere positivo entre o desempenho em
ambientes de aprendizagem e prtica para as configuraes de desempenho
competitivo (Arajo, Davids, & Passos, 2007); (Pinder, Davids, Renshaw, &
Arajo, 2011).
2.2.3.3 A anlise das redes de interao social uma forma de avaliar e
controlar o treino e a competio
urgente ultrapassar o reducionismo que s v as partes (anlise quantitativa
clssica, nmero de golos, cruzamentos, perdas de bola) e o holismo que s v o todo (anlise
qualitativa bastante subjetiva, realizada por um treinador/investigador que apenas tem uma
viso geral do jogo).
Estrada (2009)
O estudo do jogo a partir da observao do comportamento dos
jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para aorganizao e avaliao dos processos de ensino e treino nos jogos
Elevado n depossibilidades de aco
promover decisesemergentes em detrimento
das pr-determinadas
Simplificar o jogo eampliar informao
relevante
Condies semelhantes sda competio
(variabilidade, incerteza,oposio)
O Treino deve serconfigurado de acordocom as posies dos
jogadores
Co-Dependnciaindividuo,
comportamentos(definidos no modelo de
jogo) e ambiente
Manipular informaesespcio-temporais com os
colegas e adversrios
Comportamento Adaptativo
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desportivos coletivos (Garganta, 1996). A partir da segunda metade da dcada
de oitenta, a identificao de padres de jogo com base nas regularidades
reveladas pelas equipas, tem constitudo uma das preocupaes dominantes
dos investigadores.
Wilkinson (1982) cit. por Garganta (1997) chama ateno para o facto da
anlise da prestao dos jogadores e das equipas no Futebol se basear, quase
exclusivamente, na intuio dos treinadores, denotando uma elevada
subjetividade e modesto valor cientfico. Contudo, a inpcia das concluses
decorrentes dos resultados provenientes de estudos quantitativos e centrados
nas aes tcnicas individuais, levaram os analistas a questionar a pouca
relevncia contextual dos dados recolhidos, logo, a duvidar da sua pertinnciae utilidade (Garganta, 1997).
Como vimos no tema 2.3.1 deste trabalho, com a aplicao da teoria dos
sistemas complexos ao futebol, surge a necessidade de procurar uma anlise
centrada numa lgica dinmica do jogo e que se foque nas interaes entre os
diferentes intervenientes do jogo. Sendo assim, na tentativa de colmatar essa
carncia de conhecimento tm surgido novos mtodos de anlise do jogo
baseados mais nas interaes e menos nas aes, devido ao facto destasmesmas aes apenas informarem o que aconteceu, e no como e porque
ocorreu (Passos, Arajo, Davids, Gouveia e Serpa, 2006). Um desses mtodos
de anlise emergente a aplicao das redes sociais ao fenmeno social
complexo que o Futebol (Duch, Waitzman e Amaral, 2010). Um desafio
importante nas cincias sociais entender a estrutura e a dinmica das
interaes inter-pessoais que contribuem para a organizao e funcionamento
de sistemas sociais complexos (Passos, Davids, Arajo, Paz, Minguns, &
Mendes, 2010). A anlise das redes de interao social, cada vez mais,
comea a ser aplicada no Desporto, considerando equipas como um pequeno
mundo de redes em que o coletivo suportado pela soma das interaes
interpessoais (Duarte, 2012). Como Passos, Davids, Arajo, Paz, Minguns &
Mendes (2010) referem, nos jogos desportivos coletivos, o desempenho da
tarefa assegurado por uma rede complexa de relaes interpessoais entre os
jogadores (rede social). Os ndulos da rede sero os agentes diretamente
envolvidos no jogo, os jogadores, e as linhas que unem os ndulos, isto , os
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jogadores, representam as formas como os jogadores interagem entre si.
Segundo Duarte (2012), a inteligncia coletiva da equipa distribuda por todos
os jogadores e expressa-se atravs das redes de interao que se criam entre
os jogadores. As redes de interao social captam os sistemas de
comunicao existentes no seio das equipas, o que permite perceber
determinados padres de jogo.Para j a maioria dos estudos tm considerado
o passe como sistema de comunicao entre os jogadores que permitem
observar determinadas tendncias das equipas.
Figura 5. Anlises das redes de interao social (Duch, Waitzman & Amaral, 2010)
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3. Realizao da prtica
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