Organizadora Orly Zucatto Mantovani de Assis - fe.unicamp.br · I SEMINÁRIO INTERNACIONAL...
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Organizadora
Orly Zucatto Mantovani de Assis
ANAIS DO I SEMINRIO INTERNACIONAL
EDUCAO PARA O SCULO XXI
2018
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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Copyright by autores, 2018
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Organizadora
Orly Zucatto Mantovani de Assis
EDUCAO PARA O SCULO XXI
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DEDICATRIA
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APRESENTAO
O I Seminrio Internacional organizado e promovido pelo Laboratrio
de Psicologia Gentica da Faculdade de Educao da UNICAMP e realizado de
05 a 07 de maro do corrente ano, teve por finalidade oferecer um espao de
aprofundamento e ampliao de conhecimentos, que possibilitasse discusso e
reflexo sobre a Educao do Sculo XXI a partir dos quatro pilares propostos por
Jacques Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a
viver juntos, os quais foram adotados pela UNESCO e declarados em seu relatrio
Educao: um tesouro a descobrir. Buscando assim, interrogar o sentido dos
referidos pilares e do discurso da educao que neles se fundamentam, os
profissionais da educao podem escolher com mais segurana dentre as prticas
educativas que utilizam, quais so as mais eficazes a fim de que os seus alunos
possam aprender a conhecer, pois consideram prazeroso o ato de compreender ou
construir o conhecimento. Para isso, necessrio que o aluno construa as estruturas
de pensamento especficas para conhecer, por meio das quais desenvolvem o
raciocnio dedutivo, indutivo e a memria que possibilitam a aquisio do
conhecimento fsico, do conhecimento lgico matemtico e o do conhecimento
social, que correspondem a todo contedo das disciplinas que compem os
currculos da educao infantil ao ensino mdio. Sabemos que sem ter construdo
essas estruturas que so os instrumentos para aquisio do conhecimento, segundo
Piaget, a crianas, os pr-adolescentes, jovens e adultos no podem compreender
nada do que a escola lhes ensina. Alm disso, a tarefa da educao estar quase
completa quando os estudantes aprendem a fazer, isto , quando eles se tornam
capazes de ir alm do conhecimento terico adquirido e saberem utiliz-lo na vida
prtica ao exercer a profisso que escolheram como meio de subsistncia e
realizao pessoal e profissional. O saber fazer ou dominar competncias implica
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necessariamente o aprender a conhecer, pois ambos transformam o aluno num
tcnico ou profissional capaz de aplicar esses saberes tericos e prticos no
trabalho que realiza. Segundo Jean Piaget, a interao social um dos fatores do
desenvolvimento e da aprendizagem. Entretanto, para que esse fator desempenhe
seu papel, preciso que nossos alunos em toda a sua trajetria escolar tenham tido
a oportunidade de aprender a viver com os outros compreend-los, realizar
trabalhos em equipes, cooperar, trocar pontos de vista, tanto com os colegas que
apresentam dificuldades de aprendizagem quanto com aqueles que no tm
dificuldades, assim tambm com relao aos que tm crenas e valores semelhantes
aos seus ou no. Para aprender a ser, imprescindvel que o aluno desenvolva a
autonomia intelectual e moral, a criatividade, a sensibilidade, a espiritualidade, a
responsabilidade, o respeito pelo outro e, ademais esteja comprometido em
contribuir para o progresso tecnolgico, material e cultural de sua comunidade.
Nesse sentido, para que a qualidade de nossa educao melhore, imperativo que
esses quatro pilares sejam considerados igualmente.
Com certeza as palestras, conferncias, oficinas, relatos de pesquisas, relatos de
experincias apresentados nesse I Seminrio Internacional, bem como as reflexes
e o debate de ideias propiciadas por esse evento podero contribuir para a melhoria
de nossa da Educao. A participao de todos que estiveram conosco fez aumentar
nossa esperana de que isso acontea.
Este livro contm relatos de pesquisas, relatos de experincias, propostas de
minicursos e oficinas que apresentam as ideias e preocupaes dos participantes
deste evento, que reuniu profissionais dos diferentes nveis de ensino e renomadas
universidades brasileiras e de outros pases. Seus trabalhos elaborados a partir de
diferentes perspectivas tm em comum os quatro pilares da educao que esto
fundamentam a educao deste sculo e tambm a procura de meios eficazes para
aprimorar a formao dos professores que fundamentam sua prtica docente nos
princpios construtivistas. Sejam de natureza terica ou representem experincias
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concretas desenvolvidas em instituies ou salas de aulas, esses trabalhos refletem
uma viso sobre a prtica da educao inspirada na teoria piagetiana, a qual implica
que o trabalho pedaggico seja organizado de modo quer na escola um ambiente
escolar de tal ordem que torne possvel ao aluno elaborar, at a concluso, os
instrumentos indispensveis de adaptao que so as operaes da lgica e
construir valores e princpios morais que o torne capaz de exercer com autonomia
seus deveres de cidado. Isso s ser possvel se a escola tiver por finalidade
promover o desenvolvimento intelectual, moral, social e afetivo de seus alunos.
Os trabalhos contidos nesta publicao, cujos temas esto intimamente
relacionados com os saberes e fazeres dos profissionais da educao deixam claro
tambm um posicionamento que encerra a convico de que a educao pode se
converter em um importante instrumento para ajudar seus alunos a conquistar a
autonomia, tornarem-se pessoas criativas, crticas, alegres e felizes. Mais do que
nunca se tem conscincia de que nossa educao s se transformar na medida em
que os professores se apropriarem cada vez mais do conhecimento para isso
necessrio.
Resultado dos esforos de uma equipe que integra o Laboratrio de
Psicologia Gentica, que h mais trinta anos vem desenvolvendo atividades de
docncia e prestao de servios para a coletividade a partir de estudos e pesquisas
realizados em nossa Universidade, a realizao do I Seminrio Internacional a
Educao de Sculo XXI se tornou possvel graas aos esforos e a cooperao da
comisso organizadora. Esta publicao foi possvel graas aos esforos
incansveis da comisso cientfica e da Profa. Dra. Andra Patapoff Dal Coleto que
se encarregou da editorao final. A todos queremos expressar nossos sinceros
agradecimentos.
Somos gratos tambm equipe do Centro de Convenes da Unicamp, por
todo apoio, orientao e esforos envidados junto comisso organizadora para
que fosse possvel alcanar nossos objetivos.
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Agradecemos a equipe administrativa do Laboratrio de Psicologia
Gentica da Faculdade de Educao da Unicamp que com entusiasmo e
competncia tem se encarregado da logstica para a promoo de nossos cursos de
extenso universitria e de nossos eventos. Somos gratos tambm Rafaela Braga
Miranda que atende prontamente com alegria e de nossos s nossas necessidades
burocrticas.
Nossa gratido se estende tambm a Saberes Consultoria e Assessoria
Educacional cujo apoio foi inestimvel para que esse I Seminrio Internacional
tivesse xito.
Dedicamos esta publicao a todos aqueles profissionais que decidiram
contribuir para que as crianas com as quais convivem, sejam autoconfiantes,
autnomas e mais felizes.
Campinas, 01 maro de 2018.
Orly Zucatto Mantovani de Assis
Coordenadora do LPG/FE/Unicamp
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SUMRIO
RELATO DE PESQUISA - APRENDER A CONHECER ................................ 18
CONHECE-TE A TI MESMO E AOS TEUS DIREITOS: UM ESTUDO SOBRE A
CONSTRUO DO CONHECIMENTO SOCIAL NA ESCOLA ........................ 19
RELATO DE PESQUISA - APRENDER A SER .............................................. 31
A PSICOGNESE DA GENERALIZAO: UM ESTUDO EVOLUTIVO
PIAGETIANO ........................................................................................................ 32
PROFESSORES, SEUS SABERES E SUA IDENTIDADE PROFISSIONAL ..... 44
RELATO DE PESQUISA - APRENDER A FAZER ......................................... 57
O PROEPRE EM GUAXUP/MG: O QUE DIZEM PROFESSORES? ................ 58
OS TEMPOS E ESPAOS NA PR-ESCOLA: O BRINCAR SRIO? ............. 71
A IMPORTNCIA DO PROGRAMA DE MONITORIA NO ENS. SUPERIOR . 84
UMA PRTICA DE RESOLUO DE CONFLITOS DE PROFESSORES........ 94
CONCEPES DE PROFESSORES EM RELAO AO DESENVOLVIMENTO
MORAL E SUAS INTERAES COM CRIANAS DE 0 A 3 ANOS .............. 107
RELATO DE PESQUISA - APRENDER A VIVER JUNTOS - .................... 120
CONCEPO DE ALUNOS E PROF. SOBRE A PRTICA DE RESOLUO
DE CONFLITOS NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL ........ 121
ESCOLA COM GNERO, ESCOLA COM SEXUALIDADES .......................... 134
O CLIMA ESCOLAR POSITIVO E O DESEMPENHO DO ESTUDANTE
MEDIANTE DADOS CONTEXTUAIS .............................................................. 147
RELATOS DE EXPERINCIA - APRENDER A CONHECER ................... 161
INTRODUO AO ENSINO DA PROGRAMAO JAVASCRIPT POR MEIO
DA PLATAFORMA KHAN ACADEMY ............................................................ 162
METODOLOGIAS ATIVAS E O ENSINO DA ARITMTICA:
MULTIPLICAO .............................................................................................. 172
ARITMTICA: PROPOSTA DE INTERVENO COM METODOLOGIAS
ATIVAS ................................................................................................................ 186
A BASE CURRICULAR DIVERSIFICADA DO PROGRAMA DE ENSINO200
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INTEGRAL NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM: PRATICA PRATICA
INTERDISCIPLINAR ENTRE SOCIOLOGIA E ORIENTAO DE ESTUDOS
200
ENSINO DE MATEMTICA EM ESCOLAS DEMOCRTICAS: UMA
EXPERINCIA .................................................................................................... 211
CONHECIMENTO FSICO: EXPERINCIAS MARAVILHOSAS ............... 220
RELATO DE EXPERINCIA - APRENDER A SER ..................................... 232
O PAPEL DO ALUNO NAS INSTITUIES QUE SE AUTODENOMINAM
INOVADORAS .................................................................................................... 233
VOC PREFERE BRINCAR OU COMPRAR? ................................................... 246
EDUCAO DE 0 A 3 ANOS A INTENCIONALIDADE DA ROTINA DIRIA
DA E.M.E.I. CRECHE CENTENRIO ............................................................. 259
FORMAO CONTINUADA DOS GESTORES ESCOLARES: DESAFIOS E
POTENCIALIDADES .......................................................................................... 270
RELATOS DE EXPERINCIAS - APRENDER A FAZER ........................... 279
DA COMPREENSO DO MTODO AO REALISMO NOMINAL: ................. 280
O MUNDO PELA CRIANA .............................................................................. 280
REFLEXO SOBRE O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO NA FORMAO
DO CIDADO DO SC. XXI A PARTIR DE PROVAS OPERATRIAS DE
PIAGET ................................................................................................................ 293
PROEPRE: PRTICAS PARA O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ............. 307
PRTICAS PEDAGGICAS DO PROEPRE - PROMOVENDO UM
TRABALHO PAUTADO NA ESCUTA DAS CRIANAS ................................ 319
RELATOS DE EXPERINCIAS - APRENDER A VIVER JUNTOS .......... 331
DORMIR NA ESCOLA PODE? ........................................................................... 332
COMO CONVIVER COM PESSOAS QUE PENSAM DIFERENTE DE NS?
SER QUE CONVERSANDO A GENTE SE ENTENDE? RELATO DE UMA
EXPERINCIA SOBRE POSSVEIS CONEXES ENTRE OS CONFLITOS DA
ORALIDADE E A QUESTO FILOSFICA DO PACTO SOCIAL ................. 341
PROJETO VALORES PARA CONVIVNCIA .................................................. 356
DA TERRA MEMRIA: A CONSTRUO DA IDENTIDADE ................... 365
PAZ SE FAZ COM ARTE .................................................................................... 376
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EDUCAO PARA A PAZ E TOLERNCIA - FORMAO REALIZADA NO
ANO DE 2016 PARA PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL NA
SECRETARIA DA EDUCAO DA REDE MUNICIPAL DE ITATIBA SP. .. 390
A PAZ SE APRENDE EM QUALQUER LNGUA ............................................. 400
PSTER - APRENDER A CONHECER .......................................................... 410
O USO DOS BLOCOS LGICOS E A CONSTRUO DA ESTRUTURA DE
CLASSIFICAO ............................................................................................... 411
HORTA E SADE: UMA EXPERINCIA INTERDISCIPLINAR .................... 423
NO ENSINO INTEGRAL DESENVOLVIDA NA DISCIPLINA ELETIVA DA
GRADE CURRICULAR DIVERSIFICADA ....................................................... 423
AVALIANDO O MODO PRETENDIDO DAS ESTRATGIAS DE
APRENDIZAGEM NO ENSINO TCNICO EM ESTUDANTES BRASILEIROS
434
PSTER - APRENDER A FAZER .................................................................... 446
UM NOVO OLHAR PARA A SALA DE AULA: EXPERINCIAS DE ALUNAS
DO CURSO DE EXTENSO DO PROEPRE ENSINO FUNDAMENTAL .... 447
O PROGRAMA DE MONITORIA DE UMA INSTITUIO DE ENSINO
SUPERIOR ........................................................................................................... 458
O DESENHO NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA PROPOSTA DE
INTERVENO .................................................................................................. 468
MEU QUERIDO DIRIO: A ESCRITA DE TEXTOS DE AUTORIA POR
CRIANAS DO PRIMEIRO ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL ................. 480
PSTER - APRENDER A SER ......................................................................... 491
O PROJETO DE VIDA NA ESCOLA DO PROGRAMA ENSINO INTEGRAL 492
(RE)APRENDER A SER PROFESSOR? O PIBID COMO LCUS DE
APRENDIZAGEM DOCENTE ............................................................................ 502
DESENVOLVIMENTO MORAL: MUITO SE FALA, MAS O QUE SE TEM
FEITO?.................................................................................................................. 513
PSTER - APRENDER A VIVER JUNTOS.................................................... 524
O PROTAGONISMO JUVENIL NA ESCOLA DO PROGRAMA ENSINO
INTEGRAL: ESPAOS E VIVNCIAS .............................................................. 525
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COMUNICAO ORAL - APRENDER A FAZER ....................................... 536
A TEORIA PSICOGENTICA DE JEAN PIAGET E A METODOLOGIA ATIVA
DE EDUCAO MUSICAL DE JACQUES-DALCROZE ................................ 537
COMUNICAO ORAL - APRENDER A CONHECER .............................. 549
A PESQUISA CIENTFICA NO CONTEXTO DA FORMAO PARA O
TRABALHO: SISTEMA DE COMPLEXOS ....................................................... 550
MATEMTICA NA PR-ESCOLA, IMPLICAES DA TEORIA DE JEAN
PIAGET ................................................................................................................ 562
AS PRTICAS DE LEITURA E A FORMAO DO INDIVDUO LEITOR NAS
CLASSES DO PROEPRE ..................................................................................... 575
OS ESTMULOS E A AQUISIO DA LINGUAGEM: DESENVOLVIMENTO
INFANTIL EM PERSPECTIVA .......................................................................... 587
BLACKOUT DOCENTE: COMO SUPERAR A CRISE DA TRANSIO
PARADIGMTICA E INSPIRAR PARA APRENDER A CONHECER? .......... 601
CURRCULO DA EDUCAO INFANTIL COMO REFLEXO DE UMA
ESCOLA DE EDUCAO INFANTIL DE QUALIDADE ................................ 618
O USO DE APARELHOS ELETRNICOS DE TELA E A CONSTRUO DAS
ESTRUTURAS LGICAS ELEMENTARES E INFRALGICAS DE ESPAO
634
CONSIDERAES SOBRE A IMPORTNCIA DAS IDEIAS PIAGETIANAS
PRESENTES NO PROCESSO DE FORMAO CONTINUADA DE
PROFESSORES.................................................................................................... 656
COMUNICAO ORAL - APRENDER A SER ............................................. 671
ELEANOR RIGBY: OS BEATLES E O VCUO EXISTENCIAL ................... 672
ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE A AUSNCIA DE SENSIBILIDADE
MORAL E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS QUE
PRATICAM O BULLYING ................................................................................. 686
APRENDER PARA SER: ESCOLA E FORMAO HUMANA ....................... 708
PROPOSTA DE DISCUSSO SOBRE A EVOLUO DO APARATO
COGNITIVO EM FUNO DAS TROCAS COM O MEIO PSICO-SOCIAL
COMO CONSTRUO EPIGENTICA NA PERSPECTIVA DA
EPISTEMOLOGIA GENTICA DE JEAN PIAGET .......................................... 723
A FORMAO TICO-MORAL E O ENSINO DE CINCIAS ........................ 738
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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ALGUMAS CONSIDERAE SOBRE A AUSNCIA DE SENSIBILIDADE
MORAL E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS QUE
PRATICAM O BULLYING ................................................................................. 753
COMUNICAO ORAL - APRENDER A VIVER JUNTOS ....................... 775
PENSAMENTO E LINGUAGEM NA TEORIA DE PIAGET: ITINERRIO,
CONTRAPONTOS E IMPLICAES AO COMUNICATIVA ................ 776
APRENDIZAGEM COOPERATIVA: REFLEXES FRENTE S DEMANDAS
DA ATUALIDADE .............................................................................................. 792
VOC QUER BRINCAR COMIGO? A IMPORTNCIA DO BRINCAR NA
PRIMEIRA INFNCIA ........................................................................................ 807
RESUMOS: CONFERNCIAS, MESAS E MINICURSO ............................. 820
A ESCOLA E A CONSTRUO DE COMPETNCIAS PARA A EDUCAO
DESSE SCULO .................................................................................................. 821
AO E PRAZER ................................................................................................ 822
O TRABALHO COM O JOGO NA CONSTRUO DO CONHECIMENTO: AS
ABSTRAES E O CONHECIMENTO LGICO-MATEMTICO ................. 828
A CONSTRUO DA NOO DE ESPAO NA CRIANA ........................... 829
JOGOS TA-TE-TI E KALAH: ESTRATGIA, DESENVOLVIMENTO E
APRENDIZAGEM ............................................................................................... 831
FUNES EXECUTIVAS E SUAS RELAES COM O DESENVOLVIMENTO
MORAL DE JEAN PIAGET................................................................................. 832
O CURRCULO CONSTRUTIVISTA E AS ATIVIDADES NA EDUCAO
INFANTIL ............................................................................................................ 834
ATIVIDADES DIVERSIFICADAS NO PROEPRE DO
ENSINOFUNDAMENTAL I ............................................................................... 835
PILAR DA EDUCAO PARA PAZ .................................................................. 837
PROTAGONISMO INFANTO-JUVENIL: QUANDO ....................................... 839
A AJUDA PARTE DOS IGUAIS PARA A SOLUO DO BULLYING ........... 839
A PRTICA DOCENTE NA FORMAO DE PROFESSORES NUMA
PERSPECTIVA PIAGETIANA ........................................................................... 840
METODOLOGIAS ATIVAS NA EDUCAO BSICA: A POSSIBILIDADE DE
INTEGRAO DO CURRCULO E AS TECNOLOGIAS DIGITAIS .............. 841
EDUCAO FINANCEIRA E PARA O CONSUMO ACESSO QUALIDADE
DE VIDA............................................................................................................... 842
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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OS DESAFIOS DA EDUCAO INFANTIL E A BASE NACIONAL COMUM
CURRICULAR (BNCC)....................................................................................... 848
SOBRE OS PILARES DA EDUCAO NO ENSINO SUPERIOR ................... 851
POS GRADUAO EM EDUCAO NO BRASIL EM DEBATE
MODERNIZAR E FORMAR PESQUISADORES .............................................. 853
A CONVIVNCIA TICA NA ESCOLA E OS PROCESSOS FORMATIVOS 856
ESCOLA BOA ESCOLA PARA TODOS ......................................................... 858
A INCLUSO ESCOLAR UM DESAFIO AO MODO TRADICIONAL DE
ENSINAR. ............................................................................................................ 858
A CONSTRUO DO RELACIONAMENTO DE PERSPECTIVAS ESPACIAIS
E A COMPREENSO DE CONTEDOS DA ASTRONOMIA NA ESCOLA .. 860
UMA ESCOLA ABERTA PARA TODOS: CONSTRUINDO UM CAMINHO...
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RELATO DE PESQUISA APRENDER A CONHECER
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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CONHECE-TE A TI MESMO E AOS TEUS DIREITOS: UM ESTUDO
SOBRE A CONSTRUO DO CONHECIMENTO SOCIAL NA ESCOLA
Camila Fernanda da Silva - [email protected]
Faculdade de Filosofia e Cincias UNESP, Campus de Marlia
Resumo
Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa-ao, com anlise de
natureza qualitativa e quantitativa, realizada luz da Epistemologia Gentica e dos
estudos sobre o conhecimento social. Foram participantes desta pesquisa 19
crianas, entre sete e nove anos de idade, alunos de uma turma de 3 ano do Ensino
Fundamental de uma escola pblica municipal do interior do estado de So Paulo.
Os participantes foram escolhidos por se tratar da turma atribuda pesquisadora
como professora regular no ano de 2016. Os procedimentos para o
desenvolvimento desta investigao foram delimitados segundo as orientaes para
a pesquisa-ao. Na fase exploratria, tendo como objetivo avaliar as ideias que as
crianas tinham sobre os seus direitos, foi aplicada uma entrevista baseada no
mtodo clnico-crtico piagetiano, contendo histrias envolvendo diferentes direitos
infantis e suas respectivas violaes. Na fase de ao, os participantes vivenciaram
uma interveno pedaggica sob o enfoque construtivista, por meio de atividades
com msicas, vdeos, histrias, desenhos, entre outras, tendo como objetivo
favorecer a construo do conhecimento social e o avano na compreenso da
noo social especfica. Finalmente, na terceira e ltima fase, de avaliao, foram
reaplicadas as entrevistas clnicas, com a finalidade de verificar a evoluo da
noo social pesquisada aps a implementao da interveno pedaggica. Os
dados foram analisados segundo os nveis de compreenso da realidade social. Os
resultados da fase exploratria demonstraram que as crianas possuam noes
bastante simplistas sobre seus direitos e, muitas vezes, nem os reconheciam nas
histrias. Durante e realizao das atividades propostas, foi possvel observar o
envolvimento da turma, bem como os conflitos e necessidades que surgiam sobre
SEMINRIO INTERNACIONAL
EDUCAO PARA O SCULO XXI 1.
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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os diferentes temas abordados. Ao final da interveno pedaggica, na fase de
avaliao, percebemos modificaes na maneira de pensar dos sujeitos ao
analisarem as situaes descritas nas histrias. Houve um avano significativo na
maneira como os sujeitos compreendem seus direitos, assim como reconhecem
suas diferentes formas de respeito, garantia e violao.
Palavras-Chave: Epistemologia Gentica; Conhecimento Social; Direitos das
Crianas. Interveno Pedaggica Construtivista.
Introduo
Neste trabalho, apresentamos os dados referentes pesquisa de mestrado
intitulada A construo da noo de direito em alunos do 3 ano do Ensino
Fundamental: uma pesquisa-ao na perspectiva piagetiana (SILVA, 2017) que
buscou ouvir e compreender o que as crianas pensam/sabem sobre seus direitos. A
pesquisa aqui descrita faz parte de uma srie de investigaes que vem sendo
levadas a efeito nas linhas de pesquisa Construo do Conhecimento Social e
Construo de ambientes pedaggicos pautados no construtivismo do Grupo de
Estudos e Pesquisas em Aprendizagem e Desenvolvimento na Perspectiva
Construtivista (GEADEC) da FFC/UNESP, campus de Marlia-SP.
A justificativa da temtica dos direitos das crianas no trabalho de Silva
(2017) se deu pela realidade do contexto escolar da professora/pesquisadora. Ao
iniciarmos nossa trajetria como docente na Educao Bsica, nos deparamos com
questes bastante problemticas que apesar da necessidade de serem discutidas por
seu grande teor educativo e poltico, raras vezes aparecem como foco de nossas
discusses junto a nossos alunos. Aspectos como as diferenas sociais, tnicas,
raciais, culturais, de gnero, de religio e, ao mesmo tempo, dos direitos, apesar de
parecerem compor o cotidiano escolar, tm pouqussimo espao de reflexo para
serem debatidos ou, simplesmente, reconhecidos como importantes. Assim sendo, a
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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temtica dos direitos das crianas emergiu das/nas interaes cotidianas da
professora/pesquisadora com seus alunos enquanto sujeitos de pesquisa.
Desde sua promulgao, em 1990, o ECA, como legislao vigente,
consagra em seu texto a participao da criana na sociedade e, por consequncia,
refora a ideia de que a criana no pode ser ignorada em sua opinio sobre os
aspectos que lhe dizem respeito.
A Lei n. 11.525 (BRASIL, 2007), em vigor desde sua data de sua
publicao, em 25 de setembro de 2007, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da
Educao (LDB) (BRASIL, 1996) determinando a incluso obrigatria, no
currculo do Ensino Fundamental, de contedos que tratem dos direitos das
crianas e adolescentes, tendo o ECA como diretriz. O objetivo no foi o de criar
uma nova disciplina, mas sim trabalhar a questo nas disciplinas que j existem,
tornando o Estatuto presente no dia-a-dia da escola.
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educao Bsica
(BRASIL, 2013), os componentes curriculares e as reas de conhecimento devem
articular a seus contedos, a partir das possibilidades abertas pelos seus
referenciais, a abordagem de temas abrangentes e contemporneos, que afetam a
vida humana em escala global, regional e local, bem como na esfera individual.
Nesse contexto, tambm aparecem os direitos das crianas e adolescentes, de
acordo com o ECA, como tema que deve permear o desenvolvimento dos
contedos da base nacional comum e da parte diversificada do currculo, assim
como as temticas: sade, sexualidade e gnero, vida familiar e social.
Entendemos que nossas crianas, independentemente de seu contexto,
devem ser escutadas e enxergadas em suas singularidades para no permanecerem
assistindo passivas s inmeras violaes de seus direitos ou pior, como vtimas.
Assim, com base no referencial piagetiano sobre a construo do conhecimento e,
corroborando os trabalhos de Delval e Padilla (1997 apud SARAVALI, 1999),
Chakur et al. (1998), Saravali (1999), Barroso (2000) e Trevisol (2002),
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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defendemos que para se compreender os direitos e poder reivindic-los, exerc-los
e proteger-se no basta apenas ter contato com eles, reproduzindo-os sem, ao
menos, lhes atribuir significados, afinal, o conhecimento adquirido por meio de
uma construo e reelaborao individual do sujeito.
O objetivo primordial de Piaget, nas pesquisas em que realizou, foi o de
compreender como surge o conhecimento e de demonstrar, por meio de estudos
criteriosos, que o sujeito tem papel fundamental e singular na construo de novos
conhecimentos. Assim, passou sua vida estudando e buscando compreender a
elaborao de novos conhecimentos, por meio da construo que o sujeito realiza
em interao com o meio fsico e social. Os trs tipos de conhecimento estudados
por Piaget, isto , o conhecimento fsico, o conhecimento lgico-matemtico e o
conhecimento social so diferenciados na obra piagetiana de acordo com suas
fontes (gnese) e modos finais de estruturao (KAMII; HOUSMAN, 2002).
Apesar de menos explorado, o embrio do conhecimento social se encontra
na obra piagetiana, de modo que seus seguidores deram continuidade aos seus
estudos (PIAGET; WEIL, 1951). O conhecimento social nasce nas interaes entre
os indivduos e das transmisses sociais e culturais que acontecem ao decorrer da
vida. Desse ponto de vista, as crianas e os adolescentes elaboram, durante o longo
perodo de seu desenvolvimento, noes e ideias especficas referentes aos diversos
aspectos da realidade social, por meio de um processo de construo que ocorre
desde o nascimento.
No que diz respeito natureza do conhecimento social, Chakur (2011, p.
169) afirma que [...] pessoas, fenmenos sociais e instituies podem ser,
igualmente, objetos de conhecimento e que a interao sujeito-objeto pode, ela
prpria, revelar-se de natureza mais propriamente social. Por sua vez, Delval
(2007, p. 21), acerca das especificidades das representaes sobre o mundo social,
diz que [...] tienen algunas caractersticas peculiares que las diferencian de otras
representaciones, debido al carcter propio del conocimiento social.
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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O conhecimento social, como objeto de conhecimento, segundo Enesco et
al. (1995), produzido em um contexto social que adquire o seu significado no seio
das relaes com os outros. Esse objeto de conhecimento pode se caracterizar por
diferentes dimenses, tais como: o conhecimento do eu e dos outros (conhecimento
psicolgico ou pessoal), as relaes interpessoais, os papis sociais, as normas que
regulam as condutas dentro do grupo social, o funcionamento e a organizao da
sociedade (economia, poltica, etc).
Os estudos referentes ao conhecimento social nos mostram que no se pode
chegar diretamente por uma transmisso ou do nada por simples maturao, s
explicaes a respeito das questes da realidade social, como por exemplo,
econmicas, polticas ou das relaes sociais, sendo preciso que as ideias sejam
construdas por meio de um processo individual e lento.
Durante o desenvolvimento, a criana vai formando representaes sobre os
diferentes aspectos da sociedade [...] resultado de uma atividade construtiva a
partir de elementos fragmentados que recebe e seleciona (DELVAL, 1989, p.
245). Sobre esse paulatino processo de construo [...] lo importante es ver cmo
un individuo se hace adulto dentro de una sociedad determinada y va adquiriendo
la ideologa de esa sociedad; y tambin cmo va entendendo las instituciones
sociales, las reglas de funcionamiento social, etc. (DELVAL, 2007, p. 8-9).
Destacamos que na perspectiva do conhecimento social, a interao social
reconhecida nesse processo de construo, afinal, sabemos que os sujeitos
aprendem uns com os outros, todavia, cada indivduo tem que realizar um trabalho
bastante pessoal e, portanto, singular na construo de suas noes sociais. Assim,
faz-se preciso compreender como acontece o processo de desenvolvimento das
concepes e ideias sobre o mundo pelas crianas, pois suas representaes so
construdas e no automticas (DELVAL, 1991).
Tais explicaes e interpretaes acerca do mundo social no so
semelhantes s dos adultos e nem foram ensinadas, todavia, [...] so comuns a
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crianas de uma mesma faixa etria, mesmo provenientes de meios sociais e
culturais distintos. (CHAKUR, 2011, p. 176). Delval (2002) nos explica que a
evoluo das concepes sobre o mundo social ocorre em trs nveis, ao longo do
desenvolvimento, considerando que essas ideias podem se transformar,
caracterizando a existncia de uma evoluo. O autor abordou essa evoluo
propondo a existncia de nveis de compreenso da realidade social. Em linhas
gerais, esses nveis tm por objetivo demonstrar os progressos do conhecimento da
sociedade, bem como mostrar as semelhanas existentes na construo de
diferentes noes sociais (DELVAL, 2002).
As pesquisas referentes construo do conhecimento social corroboram
aquilo que a teoria piagetiana acreditava ser o papel ativo do sujeito que conhece.
A criana realiza uma tarefa individual que nada tem a ver com uma assimilao
passiva; isso significa que as representaes que elabora no so simples cpias das
dos adultos (DELVAL, 2007).
A partir disso, temos uma de nossas mais importantes tarefas na escola:
possibilitar que as crianas tenham voz e vez para exprimirem sua opinio e viso
de mundo. Assim, sem a pretenso de questionar a efetividade da legislao
destinada proteo das crianas e dos adolescentes, investigamos as ideias que
alunos do Ensino Fundamental tm sobre os direitos das crianas.
Desenvolvimento
A pesquisa aqui descrita realizou-se em uma Escola Municipal de Ensino
Fundamental (EMEF), localizada numa cidade do interior do estado de So Paulo.
A turma escolhida foi um 3 ano do Ensino Fundamental com 19 alunos
regularmente matriculados, com idade entre sete e nove anos de idade, por se tratar
da sala atribuda pesquisadora, como professora regular da turma em 2016.
Objetivou-se avaliar as ideias que as crianas tm sobre os seus direitos,
realizamos a aplicao de uma entrevista baseada no mtodo clnico-crtico
piagetiano (CHAKUR et al., 1998) e no trabalho de Delval (1997) envolvendo
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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diferentes direitos infantis e suas respectivas violaes. As histrias referiam-se ao
direito educao, alimentao, proteo contra maus-tratos, seguidas de perguntas
gerais sobre os direitos.
Os procedimentos para o desenvolvimento desta investigao foram
delimitados de acordo com as orientaes para a pesquisa-ao, dividindo-se em
trs principais momentos, sendo uma fase exploratria, uma fase de ao e, por
ltimo, uma fase de avaliao, conforme o descrito por Thiollent (2011). Os dados
foram analisados segundo os nveis de compreenso da realidade social (DELVAL,
2002).
Na fase exploratria, as respostas da maioria dos sujeitos de nossa amostra
foram enquadradas no nvel I de compreenso da realidade social. Nesse nvel, as
crianas embasam suas explicaes nos aspectos mais visveis da situao, naquilo
que aparente e possvel de ser observado. Por assim dizer, os conflitos so pouco
perceptveis e, quando questionados a respeito da veracidade das histrias, os
sujeitos demonstravam no acreditar que as situaes-problema descritas fossem
possveis de acontecer na vida real.
Para tais sujeitos, a situao da criana que no vai escola, por exemplo,
parecia algo impossvel de se concretizar, porque nenhum pai gostaria ou admitiria
que um filho no frequentasse a escola. Alm disso, os direitos so, quase sempre,
confundidos com deveres e obrigaes. Na sequncia, exemplos de respostas desse
nvel considerado mais elementar:
ALE (7;10): O que voc acha dessa histria? Eu acho que um mito.
Como assim um mito? Porque todos os filhos tm que ir pra escola. Por
que todos os filhos tm que ir pra escola? Porque ningum nasce
sabendo. Ento todos tm que ir escola.
KAI (8;3): Voc acha que as crianas tm direitos? Tem. Quais so
eles? tipo assim, no xingar a professora? Para voc isso um
direito? Sim. Quais mais? No xingar a professora, no bater nos
amigos.
Durante a fase de ao foram feitas alteraes no ambiente da sala de aula,
pautadas em princpios construtivistas, segundo as orientaes da metodologia
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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ativa do PROEPRE Programa de Educao Infantil e Ensino Fundamental
(ASSIS; ASSIS, 2002). Nosso objetivo era o de propiciar um espao privilegiado
para a discusso da temtica por meio de diferentes atividades e, da mesma forma,
favorecer as interaes dos sujeitos com o meio, com seus pares e, por assim dizer,
com a professora/pesquisadora.
A interveno pedaggica, foi composta de 35 atividades diferenciadas,
sendo coletivas, diversificadas e individuais enfocando a temtica dos direitos das
crianas, bem como formas de violaes. As atividades foram propostas utilizando
como recurso: vdeos, histrias, msicas, interpretao de imagens, confeco de
cartazes, produes de desenhos e textos, criao de roteiros teatrais, apresentao
teatral e de seminrios, entre outros. Tais atividades visaram a construo de
noes/explicaes sociais e no somente de informaes referentes ao assunto
tratado. Para tanto, o espao da sala de aula foi modificado para se aproximar ao
mximo de um ambiente sociomoral construtivista.
Finalmente, na terceira e ltima fase, de avaliao, foram reaplicadas as
entrevistas clnicas, com a finalidade de verificar a evoluo da noo social
pesquisada aps a implementao da interveno pedaggica com enfoque na
construo do conhecimento social das noes de direito.
Na fase de avaliao, encontramos sujeitos com respostas caractersticas do
nvel II de compreenso da realidade social. As crianas desse nvel, comeam a
fazer consideraes para alm dos aspectos mais superficiais ou evidentes das
situaes-problema relatadas nas histrias. As relaes passam a ser sociais ou
institucionalizadas e no mais pessoais. Os conflitos passam a ser mais percebidos
e os sujeitos at ponderaram que certos profissionais ou instituies poderiam
contribuir na resoluo dos conflitos envolvidos nas histrias, por meio da
reivindicao dos direitos ou pela punio do responsvel pela violao, por meio
da ao policial ou do Conselho Tutelar, como mostra o trecho, a seguir:
GIS (9;5) Voc j ouviu algum falar em ter direitos? O direito da
criana. Quais so? Brincar, tomar banho, dormir e ela ficar se
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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divertindo com a famlia. Tem um direito que o mais importante? Sim.
Qual ? Vim pra escola, estudar e aprender. [...] Toda criana tem esse
direito? Sim, porque seno ela vai pro Conselho Tutelar. Como assim?
O Conselho conversa com ela e chama os pais dela e fala que se eles
no colocarem ela na escola, no vai aprender nada. Ser que os
direitos dependem da idade? Sim. Os adultos tm direitos? Tem, eles
tm que cuidar das crianas, como alimentar elas. Se no cuidar um
crime e se o pai for preso, l na cadeia [...]
Na fase de avaliao tambm encontramos um nmero, mesmo que
pequeno, de respostas caractersticas do nvel III de compreenso da realidade
social. Nesse nvel, os sujeitos passam a levar em conta, em suas respostas, os
aspectos e processos ocultos para as explicaes dos fenmenos sociais. Do mesmo
modo, buscam encontrar uma coerncia entre os diferentes aspectos abordados nas
histrias, abordando diretamente os conflitos. De maneira mais efetiva, identificam
os problemas relatados nas histrias como formas de violao dos direitos
fundamentais das crianas. A seguir, um excerto da resposta de um sujeito desse
nvel:
ANA (9;4) O que voc acha dessa histria? Ruim, porque o filho tem
que ir pra escola, porque um direito dele. Como assim? Toda criana
tem esse direito, n? Ento, ele tem todo direito de ir pra escola e
servio da me e do pai [...] Voc acha certo os pais fazerem isso?
No, porque os pais que deviam estar fazendo isso e no o filho. Por
que no, o filho? Porque ele pequeno, tem direito de brincar, estudar,
tomar banho, ser alimentado. [...] Mas essa criana da histria, tm
direito? Tem, s que os pais no pensam. Eles no querem fazer
servio, mas criana tem que ficar brincando, ir na escola, esse o
direito dela. Voc acha que a criana podia fazer alguma coisa? Podia
contar pra professora. O que a professora poderia fazer? Ligar pro
Conselho, porque isso importante. Falar que a criana est dentro de
casa, fazendo servio, o pai sai de casa e deixa a criana l. Isso um
problema, deixar a criana sozinha, fazendo servio [...]
Consideraes finais
A nosso ver, as diferenas entre os resultados da fase exploratria e da fase
de avaliao so decorrentes das alteraes na organizao da rotina de sala de
aula, bem como da adoo de uma postura docente diferenciada, por meio de um
trabalho pedaggico dinmico e provocativo de trocas entre os pares,
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reciprocidade, respeito mtuo, vivncia democrtica, valorizao de aspectos
sociomorais e construo da autonomia.
Em sntese, os resultados da fase exploratria demonstraram que as crianas
possuam noes bastante simplistas sobre seus direitos e, muitas vezes, nem os
reconheciam nas histrias. Durante e realizao das atividades propostas, foi
possvel observar o envolvimento da turma, bem como os conflitos e necessidades
que surgiam sobre os diferentes temas abordados.
Ao final da interveno pedaggica, na fase de avaliao, percebemos
modificaes na maneira de pensar dos sujeitos ao analisarem as situaes descritas
nas histrias. Houve um avano significativo na maneira como os sujeitos
compreendem seus direitos, assim como reconhecem suas diferentes formas de
respeito, garantia e violao.
Acreditamos e defendemos que como professores, no podemos subestimar
a capacidade de nossas crianas de interpretarem as informaes recebidas do
meio. Entendemos que, ainda que certas questes lhes paream difceis de serem
compreendidas, imprescindvel que as crianas tenham contato com eles,
reflitam, ouam as opinies de seus pares, entrando em desequilbrio com suas
prprias ideias e que, enfim, paulatinamente, tomem conscincia sobre seus
contedos.
A atualidade desta pesquisa e a relevncia de sua realizao se revelam ao
entendermos que as informaes aqui contidas podem contribuir significativamente
com as discusses no campo dos direitos humanos e, em especfico, dos direitos
das crianas. A medida que transformamos nossa prtica de ensino, embasados
num processo verdadeiramente construtivista, oportunizamos que nossas crianas
experieciem aes desafiadoras, organizem e reorganizem seus conhecimentos,
estruturem e formulem explicaes prprias a partir do vivido.
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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RELATO DE PESQUISA
APRENDER A SER
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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A PSICOGNESE DA GENERALIZAO: UM ESTUDO EVOLUTIVO
PIAGETIANO
Eliane Giachetto Saravali [email protected] UNESP/Marlia-SP
Amanda M. P. Mano [email protected]
UNESPAR/PR
Taislene Guimares - [email protected] - UNESP/Marlia-SP
Anglica Pall Oriani [email protected] UNESP/Marlia-SP
Resumo
O texto apresenta um estudo evolutivo transversal a respeito da construo da
generalizao, baseado no trabalho original de Piaget (1896-1980) sobre a temtica.
A pesquisa foi desenvolvida junto a 80 participantes com as seguintes faixas
etrias: 20 sujeitos de 06 anos, 20 de 11 anos, 20 de 16 anos e 20 de 21 anos, sendo
metade pertencente a instituies de ensino pblicas e metade a instituies de
ensino particulares. Todos foram submetidos prova da generalizao o conjunto
das partes e os dados obtidos foram analisados conforme nveis de construo da
generalizao. Os resultados indicam um significativo atraso dos sujeitos
brasileiros em relao aos protocolos piagetianos apontando que, mesmo entre
indivduos mais velhos, a generalizao e, no caso especifico dessa prova, a
interseco, no havia sido construda ou estava em nveis mais elementares.
Reflexes sobre o papel da escola e dos docentes encerram o trabalho.
Palavras Chave: generalizao; teoria piagetiana; estudo evolutivo.
SEMINRIO INTERNACIONAL
EDUCAO PARA O SCULO XXI 1.
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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Introduo
A atualidade da teoria piagetiana se apresenta, para ns educadores, em
vrios aspectos; dentre um dos que nos cumpre destacar est a explicao do
grande mestre sobre como ocorre o desenvolvimento humano. Para alm das
discusses referentes teoria dos estdios, to enfatizadas, e at mesmo distorcidas
no campo pedaggico, acreditamos ser importante uma ateno especial aos
mecanismos que pem em funcionamento nosso sistema cognitivo e o processo de
equilibrao, entre eles, a abstrao reflexionante, a formao de possveis e a
generalizao. Esses processos so bem menos enfatizados nos estudos dos
seguidores piagetianos e, a nosso ver, nos ajudam a explicar muitas das
dificuldades que temos encontrado em nossos alunos, bem como aquelas que
evidenciam uma incapacidade docente de realizar intervenes profcuas.
A capacidade de realizar generalizaes deriva de aes sobre os objetos no
sentido fsico, mas a capacidade de reconhecer elementos em termos de classes,
atribuindo incluses, comparaes, quantificaes fruto de operaes, o que nos
remete s coordenaes mentais que transcendem o papel fsico da experincia.
Piaget et al (1995) distinguiram 2 tipos de abstraes, a saber: emprica e
reflexionante; essa ltima subdividida pelo autor em pseudo-emprica e refletida. A
abstrao emprica permite a retirada de caractersticas observveis dos/nos objetos
e a abstrao reflexionante atua a partir das coordenaes das aes exercidas pelos
sujeitos. A abstrao pseudo-emprica consiste numa variao da abstrao
reflexionante, porm apoiada nos resultados constatveis da ao e a abstrao
refletida uma abstrao reflexionante que se torna consciente ao sujeito (PIAGET
et al, 1995).
Da mesma forma, Piaget y col (1984) nos apresentaram dois tipos de
generalizao que se apiam nos processos de abstrao: a generalizao indutiva e
a generalizao construtiva.
La que parte de lo observable contenido en los objetos, por tanto,
abstracciones empricas, y que se remite a ellos para averiguar su
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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validez de las relaciones observadas, con el fin de establecer su grado
de generalidad y sacar de ello previsiones posteriores (pero sin tratar
an de encontrar explicaciones o razones, lo que nos llevaria a
superar lo observable). Esta forma es de naturaleza esencialmente
extensiva y consiste en proceder del alguno a todos o del hasta
aqui a siempre: la llamaremos generalizacin inductiva [...] En
cambio, cuando la generalizacin se funda en o se refiere a las
operaciones del sujeto a sus productos, su naturaleza es en ese caso
simultneamente comprensiva y extensiva, y conduce entonces a la
produccin de nuevas formas e incluso, a veces, de nuevos contenidos.
[...] Las llamaremos generalizaciones constructivas (PIAGET y col,
1984, p.8).
Na obra destinada a investigar a construo da generalizao, os autores
apresentam diferentes estudos nos campos da lgica, numrico, de coordenaes
espaciais, entre outros. Para o presente relato, objetivamos apresentar uma
pesquisa1 realizada com crianas, jovens e adultos a partir da prova do conjunto das
partes, constante da referida obra, e analisada sob a tica da construo da
generalizao.
Aspectos Metodolgicos
Trata-se de um estudo evolutivo, pautado no mtodo clnico-crtico
piagetiano (PIAGET, 1967; 1979) do qual participaram 80 sujeitos com as
seguintes faixas etrias: 20 sujeitos de 06 anos, 20 de 11 anos, 20 de 16 anos e 20
de 21 anos. Os recortes etrios foram escolhidos objetivando-se abarcar a
possibilidade de transio entre momentos diferentes do desenvolvimento; assim,
por exemplo, poderamos ter um momento de transio do estdio pr-operatrio
para o estdio concreto, um momento de equilbrio do estdio operatrio concreto e
incio da construo de estruturas formais, e dois momentos de equilbrio do
estdio operatrio formal.
Cada grupo de sujeitos foi dividido conforme a instituio de ensino de
origem: pblica ou particular. Assim, temos 10 sujeitos de 06 anos de escolas 1 Financiada pelo CNPq Edital Universal, 2014.
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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pblicas e 10 sujeitos de 06 anos de escolas particulares, 10 sujeitos de 11 anos de
escolas pblicas e 10 sujeitos de 11 anos de escolas particulares, 10 sujeitos de 16
anos de escolas pblicas e 10 sujeitos de 16 anos de escolas particulares, 10
sujeitos de 21 anos de Universidades pblicas e 10 sujeitos de 21 anos de
Universidades particulares.
As instituies escolares foram contatadas para a permisso de realizao
da pesquisa, assim como todos os sujeitos autorizaram ou foram autorizados a
participar da mesma. Os procedimentos ticos foram devidamente analisados e
aprovados conforme o Comit de tica em Pesquisa da UNESP, campus de
Marlia-SP, protocolo n 1.089.954/15.
Todos os participantes foram submetidos Prova da Generalizao O
conjunto das partes; os dados foram coletados nas respectivas instituies
educativas, em salas reservadas aos pesquisadores. As entrevistas foram gravadas
em vdeo e, posteriormente, analisadas conforme o proposto na obra piagetiana
acerca do tema (PIAGET y col, 1984).
Resumidamente, essa prova da generalizao possui o seguinte protocolo:
Material: conjunto de figuras concretas (em EVA, papel ou acrlico)
classificados da seguinte forma: quadrados e crculos, grandes ou pequenos,
vermelhos ou amarelos, sendo 8 classes de n elementos cada uma.
Procedimento: aps manipulao e reconhecimento inicial pelo sujeito das
cores e formas procede-se aos seguintes questionamentos/instrues: 1) Convida-se
o participante a escolher as figuras de tal forma que se obtenha um nmero igual de
quadrados e grandes; 2) Solicita-se outras possibilidades; 3) Coloca-se 4 quadrados
grandes vermelhos e um grande crculo amarelo e solicita-se ao participante que
faa um grupo com um nmero igual de crculos e vermelhos; 4) Pergunta-se, se
possvel acrescentar ao grupo teste outro crculo vermelho sem destruir a
igualdade; 5) Pergunta-se: possvel trocar o grande crculo amarelo por outra
pea, sem destruir a igualdade?; 6) Apresenta-se ao sujeito um grande quadrado
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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amarelo e pede-se que seja encontrada uma figura que seja o contrrio; 7) Aps
solicitar as possibilidades e explicaes, pergunta-se: Existe alguma que seja o
mais contrrio? possvel organizar do menos contrrio para o mais contrrio?; 8)
Solicita-se que aponte todas as peas que no so grandes quadrados amarelos.
Trata-se de uma prova que requer muita preparao, pois o prprio modo de
perguntar pode esconder interseces ou junes equivocadas que so ditas aos
sujeitos sem que percebamos. Requer, portanto, bastante familiaridade por parte do
experimentador.
Resultados e Discusses
A anlise das respostas seguiu os nveis de construo da generalizao
apresentados na obra piagetiana (PIAGET y col., 1984).
No nvel IA, observamos que os sujeitos raramente conseguem retomar a
instruo dada pelo experimentador, sobretudo quando os elementos de interseco
so explcitos. Assim, um atributo sempre visto separado dos demais.
CAR (6;5): Para o grupo de quadrados e grandes: Tem que pegar quadrado
grande. [...] Um grupo de nmero igual ao meu de crculos e vermelhos. [Pega
somente os crculos vermelhos].
ELV (11;2): Separa em igual quantidade dois grupos de quadrados amarelos e
grandes. Explica para mim o que voc fez, como era o grupo que eu te pedi:
Grupo de quadrado de tamanho grande.
MAO (16;6): Para os quadrados e grandes pergunta-nos: um grupo de
quadrados grandes?. Repetimos a instruo: um grupo de quadrados e
grandes. [Faz um grupo com todos os quadrados vermelhos grandes e outro
com todos os quadrados amarelos grandes.] Tem outro jeito? Posso intercalar
as cores, vermelho e amarelo.
AYS (21;2): Separa para mim um grupo de nmero igual de quadrados e
grandes. Quadrados grandes? Quadrados e grandes. [Separa 3 grupos com 3
elementos cada, todos quadrados grandes]. Voc acha que tem um outro jeito?
[Comea a pegar os quadrados pequenos, mas os une formando, figuralmente
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sobre a mesa, um quadrado grande.] H um outro jeito? Olha para as
fichas....acredito que tenha,mas eu no sei.
Para a construo de um grupo igual, os sujeitos recorrem apenas aos
aspectos aparentes, tais como o tamanho do monte de peas, a quantidade de peas,
etc. Para Piaget, h uma dificuldade de raciocnio sobre divises heterogneas e os
sujeitos recorrem a divises homogneas, ou seja, suprimem divises e unem
qualidades que lhes permitiriam distinguir as duas classes. Adems, y como
consecuencia, estos sujetos solo pueden razonar acerca de clases, o disyuntivas o
fusionadas, ya que toda interseccin les es ajena. (PIAGET y col. 1984, p.16).
Novamente, o protocolo de CAR nos ilustrativo:
CAR (6;5): Quando solicitada a pensar sobre a possibilidade de
manuteno/destruio da igualdade, consegue pensar em termos do tamanho
da pilha ou da quantidade de peas Se voc colocar uma pea vermelha
aqui vai ficar menos para esse grupo. De igual modo, uma substituio s
possvel se a troca for por uma pea amarela.
Qualquer indagao sobre uma outra maneira de responder ao que foi
pedido respondida com um simples mexer nas fichas, sem a construo de novos
conjuntos.
Na solicitao final, novamente observa-se a ausncia de interseces.
ANL (6;2): Separe os que no so grandes, quadrados, amarelos. Separa
somente as peas pequenas e afirma: Separei porque so as pequenas.
No nvel IB, so observadas diferenas sutis, mas nota-se um incio de
variao quando se pede quadrados e grandes. Porm, tal variao significa atender
ao pedido do experimentador considerando a caracterstica quadrado ou a
caracterstica grande. Assim, por exemplo, podem selecionar quadrados vermelhos
e quadrados amarelos todos grandes. No entanto, observa-se que os sujeitos so
capazes de mais variaes.
HEN (6;7): [Para um nmero igual de quadrados e grandes pega 2 quadrados
vermelhos e 2 crculos amarelos.] H um outro jeito? Pega dois crculos
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amarelos. [Em seguida, aps lhe ser apresentado 3 quadrados vermelhos
grandes e um crculo amarelo grande pedido para encontrar um grupo igual
de crculos e vermelhos, faz trs grupos: 1) com 3 quadrados grandes
vermelhos e 1 crculo amarelo grande; 2) com 4 crculos vermelhos grandes e
um crculo amarelo grande; 3) com 3 crculos vermelhos pequenos e 1 crculo
pequeno amarelo.]
RIC (11;0) v duas possibilidades para o questionamento anterior: 1) 3 crculos
vermelhos grandes e 1 crculo amarelo pequeno; 2) 4 crculos amarelos
grandes e 1 quadrado grande vermelho.
H uma viso ainda em elaborao, mais limitada, a respeito das
possibilidades dos contrrios e poucos elementos so apresentados como
contrrios; isso ocorre pelo fato de os participantes continuarem considerando uma
caracterstica de cada vez, sendo a cor a predominante.
Nas palavras de Piaget:
[...] est claro que las reacciones frente a la pregunta sobre las
diferencias tienen una gran relevancia para la construccion del conjunto
de las partes: atestiguan acerca de la ausncia de una regulacin y de
una jerarquizacin de las negaciones, que impide, en realidad, la
construccin de divisones heterogneas extensivas con los subsistemas
que esas suponen. Por esta razn, todo el primer estdio, incluyendo el
nivel IB, pude caracterizarse por la ausencia de soluciones espontneas
mediante disyunciones correctas, la ausncia de interseccin y por
identidades todavia mal comprendidas. (PIAGET y col, 1984, p.18).
Para o nvel IIA, observamos que a interseco ainda no est consolidada,
embora o sujeito consiga visualizar mais possibilidades de formao dos conjuntos
pedidos, mediante a considerao das diferentes caractersticas, ainda que
permaneam somadas isoladamente. Embora errem, percebe-se a existncia de
mais conflitos, mais testagens. Como diz Piaget: Se percibe una mejor
comprensin de las soluciones de identidad, pero esa sigue siendo incompleta e
insuficiente para desembocar en las intersecciones (1984, p. 21).
GAB (16;8): Separa para mim os que no so grandes, quadrados,
amarelos. [Ela separa inicialmente todos os pequenos.] Diz que no so
grandes, e que h quadrados e amarelos.
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Os sujeitos passam a no visualizar somente o tamanho da pilha ou as
caractersticas visveis do grupo teste. Por exemplo:
MAR (11;5): Para a construo de um conjunto igual de crculos e vermelhos,
pega um quadrado vermelho pequeno, um crculo vermelho pequeno e trs
crculos amarelos pequenos. Outro jeito? Recorrendo somente aos pequenos e
vermelhos, coloca 4 quadrados e 1 crculo. Outra forma? Quadrado grande
vermelho, crculo grande amarelo e trs crculos pequenos vermelhos.
Para a identificao dos contrrios, j conseguem considerar duas, at trs
categorias, mas estabelecer uma hierarquia entre elas mais difcil. o caso de:
EDI (21;4): Para os contrrios de um quadrado amarelo seleciona:o quadrado
grande, o pequeno e o crculo grande (todos amarelos), alm do crculo
pequeno, quadrado pequeno e quadrado grande (todos vermelhos). Voc acha
que d para organizar do mais contrrio para o menos contrrio? Sim. Voc
pode fazer ento? Faz uma sequncia de vermelhos: crculo pequeno, quadrado
pequeno, quadrado grande, e uma sequncia de amarelos: crculo grande e
quadrado pequeno. Ao ser questionado alega que fez separao entre amarelos
e vermelhos.
NIN (11;8): Para um grande quadrado amarelo indica um crculo grande
vermelho. Por que o contrrio? Porque ela redonda e essa quadrada, ela
no tem vrtices e essa tem. Ser que tem mais alguma possibilidade de uma
pea contrria? Tem essa (um crculo amarelo). Por que? Porque ela
redonda...e menor. Tem alguma outra? Pega um crculo pequeno vermelho e
um crculo grande amarelo. Por que so contrrios? Essa porque vermelha, e
essa porque redonda. Outra possibilidade? No. Dessas que voc separou,
tem alguma que mais contrria da que eu te dei? No.
ERI (16;11): Para o contrrio de grande quadrado amarelo: [Separa crculo
pequeno de ambas as cores, crculos grandes de ambas as cores, quadrados
grandes de ambas as cores e o quadrado pequeno vermelho.] Tem como
organizarmos do mais contrrio para o menos contrrio? Aps muitas trocas e
questionamentos do experimentador chega disposio final: crculo pequeno
vermelho, crculo grande vermelho, quadrado pequeno vermelho, crculo
amarelo pequeno, crculo grande amarelo e quadrado grande vermelho,
demonstrando pouca convico alegando: para apenas estabelecer uma
ordem.
A dificuldade com a interseco tambm aparece na pergunta final da
prova. Alguns exemplos.
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NIN (11;8): Para as peas que no so grandes, quadrados, amarelos, pega os
crculos vermelhos e pequenos.Tem alguma outra possibilidade? No. Porque
essa aqui amarela (apontando os crculos amarelos pequenos e no pode ser
amarela); essas daqui so quadrados grandes e essa daqui grande (aponta
para os crculos amarelos grandes).
MIG (11;6): Para os que no so grandes quadrados amarelos, separa todos os
quadrados amarelos. O que voc pensou? Que no grandes, so pequenas, so
quadrados e so amarelos. Tem outra possibilidade? No.
O nvel IIB nos traz as interseces devidamente justificadas, os sujeitos
compreendem, portanto, a diferena entre ou e e.
JAQ (16;11): Um grupo com nmero igual de quadrados e grandes. Separa
todas as formas grandes. Me conta o que voc pensou para fazer esse grupo. Se
so quadrados e grandes eu peguei as formas que tinham maiores e que
incluam os quadrados. Ah eu esqueci os quadrados pequenos. Eles tambm
precisam estar includos. Por que? Porque uma diviso de quadrados e
formas grandes, ento, apesar de serem pequenos, eles tambm se enquadram
na parte de quadrados. S os crculos pequenos que no se enquadram no
grupo.
Piaget explica que as reaes desse nvel IIB preparam claramente conjunto
das partes:
Las divisiones heterogneas pedidas conducen rapidamente a
disyunciones correctas [...] Por fin, el sujeto deduce, antes de
averiguarlo, que dos soluciones justas distintas pueden ser reunidas
conservando la igualdad n = n, y empieza a traducir de manera
extensiva las relaciones diferente y contrario. (PIAGET y col,
1984, p.23-24).
Em toda a nossa amostra s encontramos 1 participante no nvel III, AND
(16;6). Nesse nvel, observam-se as interseces de forma clara, h mais
possibilidades quando se solicita a igualdade dos grupos e no h dificuldade para
o estabelecimento e a hierarquizao dos contrrios.
Os dados que apresentamos podem ser observados na Tabela 1 a seguir:
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TABELA 1 Resultados Prova da Generalizao
Nveis de Construo da Generalizao
IA IB IIA IIB III Total
Idades f % f % f % f % f % f %
06 anos 18 90 2 10 - - - - - - 20 100
11 anos 1 5 4 20 14 70 1 5 - - 20 100
16 anos - - 6 30 12 60 1 5 1 5 20 100
21 anos - - 2 10 14 70 4 20 - - 20 100
Fonte: Dados da pesquisa
Legenda
f frequncia
% percentual
A comparao dos dados obtidos entre escolas pblicas e particulares pode
ser observada na tabela 2, a seguir.
TABELA 2 Comparao dos resultados entre escolas pblicas e particulares
IA IB IIA IIB III
Idades Pa Pu Pa Pu Pa Pu Pa Pu Pa Pu
06 anos 10 8 - 2 - - - - - -
11 anos - 1 - 4 10 4 - 1 - -
16 anos - - 2 4 7 5 - 1 1 -
21 anos - - 1 1 7 7 1 3 - -
Fonte: Dados da pesquisa
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Legenda
Pa Escola pblica
Pu Escola particular
De uma maneira geral, observamos um atraso na construo da
generalizao em nossos participantes, ainda que tenhamos includo em nossa
amostra sujeitos mais velhos. Nos protocolos piagetianos, temos essa questo j
resolvida para crianas com 10 anos e, quadros maiores de evoluo para crianas
com 8 e 9 anos. Embora saibamos que a idade no deva ser a referncia maior,
chama a ateno a ausncia de uma importante construo em jovens e adultos
universitrios.
As comparaes entre as escolas pblicas e particulares corroboram,
igualmente, o atraso mencionado. No entanto, os dados sugerem que os alunos das
escolas particulares atingem um pouco mais rapidamente o nvel IIA do que
aqueles da escola pblica. Todavia, como j dito, h que se mencionar a
permanncia do atraso, mesmo em participantes mais velhos. Tais dados
corroboram os achados de Mantovani de Assis (1976) que indicavam que no o
nvel scio-econmico que influencia o desenvolvimento, mas sim o tipo de trocas
que ocorrem entre sujeito e meio fsico e social.
Consideraes finais
O que pesquisas e dados como esses que apresentamos podem nos
proporcionar em termos de reflexo? O que o atraso na construo de um
mecanismo importante para o desenvolvimento cognitivo pode significar?
A generalizao construtiva possibilita ao indivduo transcender o
observvel e o aparente, bem como a construo de variveis diferentes. Isso, a
nosso ver, condio necessria para uma anlise crtica dos objetos de
conhecimento com os quais nos deparamos, seja no mbito fsico, lgico-
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matemtico ou social. Processos que se excluem e se mesclam, assim como a
observao das afirmaes e negaes, num contnuo processo de diferenciaes e
integraes condio para uma mobilidade maior do sistema cognitivo.
No contexto de nossa pesquisa, observamos que no somente a escola
pblica falha, mas a escola particular tambm no tem conseguido promover o
desenvolvimento dos seus alunos, que so reforados numa postura pacfica e de
contnua reproduo. Cabe, portanto, aos professores a compreenso sobre o que
podem fazer em relao a isso, ou seja, promover prticas que sejam de fato
coerentes com o desenvolvimento e que auxiliem os alunos a pensarem,
argumentarem, se contradizerem, hipotetizarem etc. S assim as construes
podem avanar.
Referncias
MANTOVANI DE ASSIS, O. A solicitao do meio e a construo das estruturas
lgicas-elementares pela criana. 1976. Tese (Doutorado em Psicologia Educacional) -
Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas.
PIAGET, J. O raciocnio na criana. Traduo de Valerie Rumjaneck Chaves. Rio de
Janeiro: Record, 1967.
PIAGET, J. A representao do mundo na criana. Traduo Rubens Fiza. Rio de
Janeiro: Record, 1979. 318p.
PIAGET, J. Investigaciones sobre la generalizacin. Mxico: Premia Editora, 1984.
PIAGET, J. O possvel e o necessrio - evoluo dos possveis na criana. vol 1. Trad.:
Bernardina Albuquerque. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1985.
PIAGET, J. Abstrao reflexionante relaes lgico-aritmticas e ordem das relaes
espaciais. Porto Alegre: Artmed, 1995.
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PROFESSORES, SEUS SABERES E SUA IDENTIDADE PROFISSIONAL
Carla Fernanda Figueiredo Felix - [email protected] - UFSCar
RESUMO
Este artigo foi baseado em uma pesquisa de mestrado de Eveliyn Tiemi senvolvida
entre 2013 a 2015, vinculada ao Programa de Ps-Graduao em Educao na
Universidade Estadual de Campinas. O estudo objetivou compreender quais so os
elementos que contribuem para formao da identidade profissional docente de
professores iniciantes atuantes nos anos iniciais do ensino fundamental. Dentro
disso, buscou-se compreender tambm como os professores constroem os saberes
que compem suas prticas dirias. A pesquisa apoiou-se na abordagem qualitativa
e utilizou dois instrumentos para coleta de dados, a entrevista semiestruturada e o
questionrio. Alguns documentos oficiais tambm foram usados a fim de levantar
mais evidncias para anlise. Oito professoras inseridas na rede de um municpio
mineiro, atuantes do 1 ao 5 ano, se disponibilizaram a participar e colaborar com
a pesquisa. Como base terica, os trabalhos Assuno (1996); Corsi (2002; 2005),
Garcia (1998; 1999), Gonalves (2013), Goodson (2013), Huberman (2013); Lima
(2006); Moitta (2013) Nvoa (2013), Tardif (2002), Tardif e Raymond (2000),
entre outros, serviram para compreender os dados. Nesse texto, em especfico, ser
evidenciado as impresses que as professoras participantes tiveram em relao
formao inicial, da insero profissional, das condies de trabalho, os saberes
que construram e como isso reflete na identidade profissional que construram a
respeito de si e da profisso.
Palavras Chave: Professores iniciantes; Saberes docentes; Formao inicial;
Identidade profissional.
SEMINRIO INTERNACIONAL
EDUCAO PARA O SCULO XXI 1.
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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Introduo
A pesquisa teve o propsito de compreender como construda a identidade
profissional de oito professoras iniciantes em Poos de Caldas (MG), atuantes do 1
ao 5 ano do ensino fundamental da rede pblica de ensino. A partir disso surgiram
outras indagaes, tais como: as relaes entre pares, dirigentes e alunado
contribuem para a identidade profissional? Como a formao inicial e,
posteriormente a formao continuada, atravessa a prtica docente e os constituem
profissionalmente? A comunidade onde a escola est inserida exerce influncia
sobre a prtica do professor? As trajetrias escolares e pessoais esto presentes nas
posturas assumidas em sala e na prpria identidade docente? A atuao traz
elementos que so incorporados pelos professores moldando uma imagem de si e
de seu trabalho?
A identidade profissional compreendida tambm como parte integrante dos
saberes docentes, foi elencada para tecer reflexes sobre como, ao longo dos anos, os professores
se apropriam e (re)significam discursos pedaggicos e sua prtica a partir de suas
vivncias dirias no ambiente escolar.
Para orientar esta pesquisa utilizou-se uma abordagem qualitativa na
tentativa de compreender os processos pelos quais as professoras passam no incio
da carreira na rede e, tambm, descobrir os elementos que as constituem
profissionalmente. A opo por uma abordagem se deve ao entendimento de que as
relaes so demasiadamente complexas e demandam uma interao maior entre os
sujeitos. Para coletar os dados foram utilizados dois instrumentos, a entrevista
semiestruturada e o questionrio.
A partir disso, foram criados eixos temticos, uma vez que os elementos
pontuados pelos sujeitos da pesquisa aparecem em mais de uma fala. Quatorze
aspectos foram evidenciados: incio da carreira; viso que as professoras tm da sua
formao inicial (magistrio, estgio e curso de pedagogia); formao continuada;
saberes que embasam suas prticas; sentimento em relao atuao profissional;
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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desafios da profisso; falas que desmotivam; relao com os agentes envolvidos no
ambiente escolar (pares, dirigentes, alunos, pais e comunidade); expectativas em
relao profisso; desvalorizao profissional; imagem que tem de si e do seu
trabalho; escolha pela profisso; o trabalho que ultrapassa a sala de aula e, ltimo
eixo, se gosta de ser professora.
Os dados foram trabalhados com os seguintes referencias: incio da carreira
utilizando-se dos estudos de Corsi (2002; 2005) Lima (2006). J os estudos de
Tardif (2002), Tardif e Raymond (2000), Assuno (1996), Pimenta (2008);
Pimenta e Lima (2012) trazem contribuies no sentido de refletir sobre quais
saberes os professores possuem para embasar suas prticas. Em relao insero
na carreira docente, foram a base do trabalho, as obras de Garcia (1998; 1999) e
Gonalves (2013). Ainda pensando no professor e o contexto escolar, sua relao
com os pares, dirigentes, comunidade e aluno os estudos de Guarnieri (1996),
Goodson (2013), Moitta (2013) e Nvoa (2013), Tancredi (2009). As contribuies
de Fontana (2010), Moita (2013), Novaes (1991), Silva (2014) ajudaram a pensar
sobre a identidade profissional das professoras que atuam nos anos inicias do
ensino fundamental e, para aprofundar as discusses, o conceito de identidade em
metamorfose de Ciampa (1987) fecha o referencial terico da pesquisa.
Esse estudo trouxe importantes elementos para se pensar como os
professores, ao longo da carreira, vo construindo uma identidade de si e de seu
trabalho a partir dos vrios aspectos que compem e influenciam suas prticas.
Nesse texto, em especfico, sero evidenciadas as impresses que as professoras
participantes dessa pesquisa tiveram em relao formao inicial, insero
profissional e condies de trabalho, no sentido de tecer reflexes sobre como esses
elementos contriburam para construo da identidade profissional docente. Muitos
excertos foram trabalhados nesses trs temas, contudo, nesse artigo foram
selecionados apenas alguns2.
2 Trabalho completo disponvel em:
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Antes de explorar o material escolhido necessrio compreender o conceito
de identidade, utilizado como base terica para compreenso e anlise dos dados.
Identidade Profissional Docente
Falar sobre identidade, pessoal ou profissional, falar das vrias imagens
construdas de si mesmo a partir do outro, ser identificado e identificar-se no outro
(CIAMPA, 1987), entre a imagem interna e a imagem externa, ou seja, as vrias
identidades que um sujeito pode assumir durante sua vida, nesse caso
especificamente, na sua carreira docente. um processo dinmico que ocorre em
momentos e lugares especficos, produzindo elementos que vo constituindo o
indivduo, o professor, ao longo do ciclo de vida profissional (FONTANA, 2010).
O ser humano se forma e se transforma a partir da relao com o outro, na
interao social, por isso um processo dialtico que implica a atividade e a
conscincia (CIAMPA, 1987). Passa a entender e interiorizar estilos de vida a partir
do momento que encontra significado para suas aes, buscando sempre
explicaes para os fatos, tornando desse modo suas atitudes intencionais.
[...] a identidade humana no dada, de uma vez por todas, no ato do
nascimento: constri-se na infncia e deve reconstruir-se sempre ao
longo da vida. O indivduo nunca constri sozinho: ela depende tanto
dos julgamentos dos outros como das suas prprias orientaes e
autodefinies. A identidade um produto de sucessivas socializaes.
(DUBAR, 1997, p. 10).
Assim, a identidade se forma e se transforma com o outro, porque
interiorizamos aquilo que os outros nos atribuem de tal forma que se torna nossa.
A tendncia que ns nos predicarmos coisas que os outros nos atribuem
(CIAMPA, 1987, p. 131). Por isso sempre usamos proposies substantivas para
identificar algum e no proposies verbais.
Ao adotar uma identidade em um determinado contexto, estou de alguma
forma, excluindo vrias outras possibilidades, ou seja, toda identidade relacional
http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000956454&fd=y
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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e, de certo modo, excludente. marcada pela diferena (SILVA, 2014). Implica,
tambm, em vrios aspectos simblicos, culturais, econmicos e socais, pois,
pertencer a uma nacionalidade carrega cultura especfica, lngua oficial, tendncia
poltica e sistema econmico. Ao considerar esses aspectos, juntamente ao fato do
ser humano estar em constante transio entre lugares e tempos, somado a sua
adaptao e interiorizao de todos esses elementos, fica claro que sua identidade
metamorfose, ser ser metamorfoseado. A metamorfose a expresso da vida.
Como tal processo inexorvel, tenhamos ou no conscincia dele (CIAMPA,
1987, p. 113).
Importante esclarecer que o indivduo no pode ser visto como ser isolado,
mas sim como relao (CIAMPA, 1987), como aquele que, presente e atuante no
grupo, interioriza e transpem, por meio de alguns filtros e escolhas, o que
vivencia. A individualidade uma incorporao progressiva da cultura da
sociedade de pertena (DUBAR, 1997, p. 45).
Bourdieu (2004) traz importantes contribuies para se analisar os
ambientes de socializao, denominados por ele de campos sociais, que exercem
um papel crucial na formao da identidade. A famlia, amigos, as instituies
educacionais so exemplos de campos sociais que, com suas regras mais ou
menos flexveis, induzem as pessoas, fazendo com que estas assumam
determinadas posturas, ou seja, um estilo de vida familiar ser repassado s novas
geraes reafirmando os modelos, padres daqueles sujeitos.
Assim, pode-se dizer que os lugares sociais e histricos que ocupamos
que nos tornam reais, determinando o contedo de nossa criao pessoal e cultural.
Essa determinao tanto delineia quanto delimita as possibilidades entre as
quais escolhemos (FONTANA, 2010, p. 103). Ainda nessa linha pode-se dizer
que a cultura controla o sistema social que controla a personalidade que, por sua
vez, controla o organismo (DUBAR, 1997, p. 51).
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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No caso dos professores geralmente nos referimos a sua identidade pelo
vis de seu trabalho, ao longo da carreira pode mudar a maneira como o enxerga e
modific-lo inmeras vezes. Isso se deve ao fato que sua identidade tanto pessoal
quanto profissional est em constante transio (HALL, 2005).
Sendo assim, a identidade profissional no um produto acabado, ela um
lugar de lutas e conflitos, um espao de construo de maneira de ser e de estar na
profisso (NOVOA, 2013, p. 16), por isso importante entender os elementos que
vo, ao longo da carreira, influenciando na construo do eu professor, na
maneira como esse profissional se v, se reconhece no trabalho e os saberes que
constroem.
Formao inicial e a construo dos saberes docentes
De acordo com a bibliografia, os saberes so variados, abarcam saberes
profissionais, compostos pelos conhecimentos sobre a educao e a ideologia
pedaggica, transmitidos por meio das instituies de formao inicial e
continuada. Saberes disciplinares que equivalem aos vrios campos do
conhecimento presentes na sociedade, que provem da tradio cultural e dos grupos
produtores desse conhecimento. Saberes curriculares, ou seja, a apropriao de
discursos, contedos, objetivos elencados como primordiais educao escolar,
denominados eruditos, que o professor deve aprender e ensinar no contexto escolar.
Por fim, os saberes experienciais baseados em suas vivncias em sala de aula
desenvolvidos, a partir do exerccio prtico do seu ofcio, levando em considerao
a realidade e especificidades do lugar onde se est inserido (TARDIF, 2002).
Segundo Tardif (2002) no h como delimitar quais saberes serviro de base para
os professores. H uma srie de elementos dentre os quais podemos citar: relaes
estabelecidas no cotidiano da escola, da formao inicial, da trajetria pessoal e
escolar, por meio dos saberes prticos, etc. Cada professor passar por caminhos
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I SEMINRIO INTERNACIONAL EDUCAO PARA O SCULO XXI
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distintos dos demais (GARCIA, 1999) e seu desenvolvimento profissional ser
fruto de suas escolhas e experincias (MIZUKAMI, 2002).
A formao inicial, por exemplo, deveria fornecer instrumentos e
ferramentas necessrios prtica docente, para que a partir dela, os professores
aprendessem a buscar, ir alm, despertar e instigar nos indivduos uma formao
crtica, form-los em uma perspectiva de continuum durante sua carreira
(GARCIA, 1999). um longo processo de aprendizagem, tanto ainda na graduao
como dentro da prpria sala de aula. A respeito disso, duas professoras trazem
elementos importantes para reflexo:
A primeira coisa que a formao me ensinou foi aprender a buscar, se
uma atividade no est dando certo, vai pesquisar, vai correr atrs. A
segunda foi a prtica vinculada a teoria que eles [professores da
universidade] passaram. (Entrevista 18/02/2014, Laura).
Quando a gente est na faculdade aprende a teoria, temos poucos
momentos de prtica dentro da faculdade. Os estgios que a gente tem
so de observao, em nenhum momento voc pode assumir a sala,
colocar em prtica o que voc pensa ou pensa em fazer. (Entrevista
13/02/2014, Camila).
De acordo com a professora Camila seu saber ficava condicionado s
teorias e discursos na universidade. O estgio como componente curricular nos
cursos de formao inicial um caminho para aproximar os estudantes da sala de
aula e do ambiente escolar. Segundo Pimenta e Lima (2013), essa aproximao
contribui para formao de uma identidade nos sujeitos envolvidos, pois esse
exerccio de relacionar teoria e prtica proporciona aos professores momentos
reflexivos, contribuindo para seu desenvolvimento profissional, logo, para
construo da identidade profissional.
Outro aspecto importante a ser evidenciado, segundo tema em destaque
nesse texto, a insero dos professores no contexto escolar e as relaes que se
tecem nesse espao.
Insero Profissional e influncias na identidade docente
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A insero do professor iniciante no seu ambiente profissional, na
instituio escolar um processo importante na construo de sua identidade, onde
o individual entra em contato com o grupo, isso provoca rupturas e (re)adaptaes.
Para conviver necessrio aprender uma srie de atributos culturais, simblicos,
eco