Orientação à Ação Evangelizadora Espírita da Infância ... · Ao Espiritismo, que antecipou...
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FEDERAO ESPRITA BRASILEIRA - CONSELHO FEDERATIVO NACIONAL REA DE INFNCIA E JUVENTUDE Orientao Ao Evangelizadora Esprita da Infncia: Subsdios e Diretrizes
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Orientao Ao Evangelizadora
Esprita da Infncia:
Subsdios e Diretrizes
Documento elaborado pela rea de Infncia e Juventude do Conselho Federativo Nacional da FEB
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Ano de elaborao: 2015
Equipe de elaborao:
Coordenao Nacional da rea de Infncia e Juventude do CFN/FEB, Coordenao Adjunta de Infncia, Coordenaes Regionais de Infncia (Nordeste, Sul, Centro, Norte), Representantes Estaduais da rea de Infncia e Juventude, Representantes Estaduais de Infncia.
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MENSAGEM SOBRE A CRIANA1
Criana e Futuro
Hoje, a criana abenoado solo arroteado que aguarda a semente da fertilidade e da vida ,
necessariamente atendida pela caridade libertadora do Evangelho de Jesus, nas bases em que a
Codificao Kardequiana o restaurou, o celeiro farto de esperanas para o futuro.
Criana que se evangeliza adulto que se levanta no rumo da felicidade porvindoura.
Toda aplicao de amor, no campo da educao evanglica, visando a alma em trnsito pela
infncia corporal, valiosa semeadura de luz que se multiplicar em resultados de mil por um...
Ningum pode empreender tarefas nobilitantes, com as vistas voltadas para a Era Melhor da
Humanidade, sem vigoroso empenho na educao evanglica da criana.
Embora seja ela um Esprito em recomeo de tarefas, reeducando-se, no raro, sob os
impositivos da dor em processo de caridosa lapidao, a oportunidade surge hoje como desafio e
promessa de paz para o futuro. Sabendo que a infncia ensejo superior de aprendizagem e
fixao, cabe-nos o relevante mister de proteger, amparar e, sobretudo, conduzir as geraes novas
no rumo do Cristo.
Esse cometimento-desafio -nos grave empresa por estarmos conscientizados de que o corpo
concesso temporria e a jornada fsica um corredor por onde se transita, entrando-se pela porta
do bero e saindo-se pela do tmulo, na direo da Vida Verdadeira.
A criana, luz da Psicologia, no mais o adulto em miniatura, nem a vida orgnica pode
continuar representando a realidade nica, face s descobertas das modernas cincias da alma.
Ao Espiritismo, que antecipou as conquistas do conhecimento, graas Revelao dos
Imortais, compete o superior ministrio de preparar o futuro ditoso da Terra, evangelizando a
infncia e a juventude do presente.
Em tal esforo, apliquemos os contributos da mente e do sentimento, recordando o Senhor
quando solicitou que deixassem ir a Ele as criancinhas, a fim de nelas plasmar, desde ento, mais
facilmente e com segurana, o reino de Deus que viera instaurar na Terra.
Bezerra
1 Pgina psicografada pelo mdium Divaldo P. Franco em 18 de janeiro de 1978 no Centro Esprita Caminho da Redeno, em Salvador-BA e publicada na revista Reformador, FEB, junho de 1978.
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MENSAGEM AOS EVANGELIZADORES2
Filhos,
Roguemos a Jesus pela obra que prossegue sob o divino amparo.
Que no haja desnimo nem apressamento, mas, acima de tudo, equilbrio e amor. Muito
amor e devotamento!
A Evangelizao Esprita Infantojuvenil amplia-se como um sol benfazejo abenoando os
campos ao alvorecer.
O prprio servio, sem palavras articuladas, mas luz da experincia, falar conosco sobre
quaisquer alteraes que se faam necessrias, enquanto, no sustento da prece, estabeleceremos
o conbio de foras com o Alto, de modo a nos sentirmos amparados pelas inspiraes do bem.
De tempos em tempos ser-nos- necessria uma pausa avaliativa para revermos a extenso
e a qualidade dos servios prestados e das tarefas realizadas. Somente assim podemos verificar o
melhor rendimento de nossos propsitos.
Unamo-nos, que a tarefa de todos ns. Somente a unio nos proporciona foras para o
cumprimento de nossos servios, trazendo a fraternidade por lema e a humildade por garantia do
xito.
Com Jesus nos empreendimentos do Amor e com Kardec na fora da Verdade, teremos toda
orientao aos nossos passos, todo equilbrio nossa conduta.
Irmanemo-nos no sublime ministrio da evangelizao de almas e caminhemos adiante,
avanando com otimismo.
Os amigos e companheiros desencarnados podem inspirar e sugerir, alertar e esclarecer,
mas necessrio reconhecermos que a oportunidade do trabalho efetivo ensejo bendito junto
aos que desfrutam a bno da reencarnao.
Jesus aguarda!
Cooperemos com o Cristo na evangelizao do Homem.
Paz!
Bezerra
2 Mensagem recebida pelo mdium Jlio Cezar Grandi Ribeiro, em sesso pblica no dia 2-8-1982, na Casa Esprita Crist, em Vila Velha, Esprito Santo, publicada na Separata da revista Reformador, FEB, 1986 e na obra Sublime Sementeira, FEB, 2012.
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SUMRIO
APRESENTAO
INTRODUO
PARTE I - SUBSDIOS AO EVANGELIZADORA ESPRITA DA INFNCIA
1. A CRIANA
1.1 A criana: Esprito imortal
1.2 A criana em processo de desenvolvimento e aprendizagem
a) Criatividade
b) Afetividade
c) Linguagens, imaginao e ludicidade
d) Socializao e habilidades sociais
e) Protagonismo infantil
2. A AO EVANGELIZADORA ESPRITA
2.1. Definio, objetivos e finalidades
2.2. Eixos estruturantes da tarefa: conhecimento doutrinrio, aprimoramento moral,
transformao social
2.3. O Papel da famlia
2.4. O Papel e perfil do evangelizador
2.5. Papel do dirigente da instituio esprita
2.6. A importncia da qualidade da tarefa
a) Qualidade Doutrinria
b) Qualidade Relacional
b.1) Vnculo fraterno
b.2) Processos interativos e comunicativos
b.3) A evangelizao como ao inclusiva
c) Qualidade Pedaggica
c.1) Contextualizao e reflexo crtica
c.2) Dinamismo metodolgico e tecnolgico
c.3) A arte na evangelizao esprita
c.4) Incentivo leitura
d) Qualidade Organizacional
d.1) Faixa etria
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d.2) Agrupamentos
d.3) Estrutura organizacional
d.4) Interao das diferentes reas e atividades no Centro Esprita
d.5) Planejamento, acompanhamento e avaliao
2.7. Espaos de Ao com a Criana
a) Espao de Estudo Doutrinrio e Vivncia do Evangelho
b) Espao de Convivncia Familiar
c) Espao de Vivncia e Ao Social
d) Espao de Confraternizao
e) Espao de Comunicao Social
f) Espao de Integrao nas Atividades do Centro e no Movimento Espritas
PARTE II - DIRETRIZES AO EVANGELIZADORA ESPRITA DA INFNCIA
1. Introduo: breve histria
2. Princpios Norteadores e Diretrizes Nacionais Ao Evangelizadora Esprita da Infncia
2.1. Princpios Norteadores
2.2. Diretrizes Nacionais Ao Evangelizadora Esprita da Infncia
Diretriz 1: Dinamizao da Evangelizao Esprita da Infncia
Diretriz 2: Formao de Trabalhadores da Evangelizao Esprita da Infncia
Diretriz 3: Organizao e Funcionamento da Evangelizao Esprita da Infncia no Centro
Esprita
Diretriz 4: Dinamizao das Aes Federativas voltadas Evangelizao da Infncia
3. Dinamizao das Aes: Pblicos Envolvidos
3.1. Algumas aes junto s crianas
3.2. Algumas aes junto aos dirigentes
3.3. Algumas aes junto aos evangelizadores e coordenadores
3.4. Algumas aes junto famlia
4. Desenvolvimento, Acompanhamento e Avaliao
MENSAGEM
REFERNCIAS
PARTE III EXPERINCIAS EVANGELIZADORAS JUNTO INFNCIA
Acesso pelo site www.dij.febnet.org.br
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APRESENTAO
O presente documento, intitulado Orientao Ao Evangelizadora Esprita da Infncia: Subsdios
e Diretrizes foi elaborado considerando-se as contribuies dos trabalhadores da rea de Infncia
e Juventude das Entidades Federativas Estaduais do Brasil, tendo como base os seguintes princpios:
O carter educativo da ao evangelizadora esprita, de modo a promover continuamente o
estudo, a prtica e a difuso da Doutrina Esprita junto criana com vistas vivncia dos
ensinamentos de Jesus e formao do Homem de Bem;
A concepo de criana como Esprito imortal, biopsicoespiritual, reencarnado em um
contexto scio-histrico-cultural, e com potencialidades e necessidades em fase de
aperfeioamento, e como protagonista3 em seu processo de desenvolvimento moral e
aprimoramento espiritual;
A necessidade de se intensificar a implantao e a implementao de grupos de
Evangelizao Esprita da Infncia nos Centros Espritas, garantindo s crianas espaos de
efetiva participao, estudo e confraternizao;
A busca pela qualidade crescente da tarefa da Evangelizao Esprita4, contemplando o zelo
doutrinrio, relacional, pedaggico e organizacional;
A necessidade de fortalecer a participao das crianas e sua integrao nas atividades do
Centro Esprita e do Movimento Esprita;
A organizao de eixos estruturantes e integradores de todas as aes junto s crianas,
contemplando: conhecimento doutrinrio, aprimoramento moral e transformao social;
A concepo de evangelizador como esprito comprometido com seu aprimoramento moral,
com sua formao continuada e com a qualidade da tarefa de evangelizao.
O papel do evangelizador, com destaque sua constante preparao e estudo, bem como
ao seu perfil de liderana, dinamismo, integrao, afetividade, criatividade, dedicao,
comunicao, disciplina, flexibilidade, compromisso e exemplificao;
3 Compreende-se como protagonismo a participao ativa do indivduo e o engajamento em seu processo de desenvolvimento, aprendizagem e ao social, buscando contribuir, gradativamente, com seu meio, contando com o apoio e orientao de pessoas mais experientes. 4 Entende-se por Evangelizao Esprita toda a ao voltada ao estudo, prtica e difuso da Doutrina Esprita junto criana e ao jovem. Por ser Jesus o guia e modelo para a Humanidade, seu Evangelho constitui roteiro seguro para a formao de hbitos e caracteres orientados ao bem e construo da paz. Conforme expe Bezerra de Menezes (1982), [...] a tarefa de Evangelizao Esprita Infantojuvenil do mais alto significado dentre as atividades desenvolvidas pelas Instituies Espritas, na sua ampla e valiosa programao de apoio obra educativa do homem. No fosse a evangelizao, o Espiritismo, distante de sua feio evanglica, perderia sua misso de Consolador [...]. (Sublime Sementeira, FEB, 2012).
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O zelo com a ambincia (considerando os ambientes fsico e espiritual) e a organizao de
estratgias metodolgicas alinhadas aos princpios da Doutrina Esprita e adequadas e
atrativas ao pblico infantil, que despertem seu interesse, motivao, aprendizado e
desenvolvimento, estimulando o autoconhecimento, o autoaprimoramento e a construo
de sua autonomia;
O investimento simultneo nos diferentes Espaos de Ao com a Criana: espaos de
estudo doutrinrio e vivncia do Evangelho; de convivncia familiar; de vivncia e ao
social; de confraternizao; de comunicao social; de integrao nas atividades do Centro
e do Movimento Espritas;
A importncia do compromisso da famlia em promover a formao moral5 da criana e o
fortalecimento permanente dos vnculos de afeto, cooperao, respeito e aprendizado
coletivo;
A ateno ao Plano de Trabalho do Movimento Esprita Brasileiro e da rea de Infncia e
Juventude do Movimento Esprita Brasileiro em vigncia, e demais documentos oriundos do Conselho Federativo Nacional e da rea de Infncia e Juventude, como instrumentos
norteadores das aes que promovem a estruturao e a dinamizao da tarefa, a formao
de trabalhadores, a organizao e o funcionamento no Centro Esprita, e a dinamizao das
aes em mbito federativo.
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos, questo 629: Que definio se pode dar da moral? A moral a regra do bem proceder, isto , de distinguir o bem do mal. Funda-se na observncia da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, por que ento cumpre a lei de Deus.
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Introduo
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ORIENTAO AO EVANGELIZADORA ESPRITA DA INFNCIA:
SUBSDIOS E DIRETRIZES
INTRODUO
atravs da evangelizao que o Espiritismo desenvolve seu mais valioso programa de assistncia educativa ao homem.
Guillon Ribeiro (1963)6
A Infncia representa relevante fase do desenvolvimento humano, caracterizada por processos
formativos essenciais evoluo do Esprito encarnado. Herdeiro da prpria histria e agente de
transformao, o Esprito na fase infantil encontra-se em nova oportunidade reencarnatria,
contando com a organizao biolgica, familiar e social necessrias ao seu processo de
aprimoramento, zelosamente planejada e acompanhada por Benfeitores Espirituais.
Nesse perodo dinmico e estruturante na formao do ser, a criana encontra-se receptiva a novas
aprendizagens e em pleno desenvolvimento nas dimenses biolgica, psicolgica, emocional, social
e espiritual, enriquecendo-se com as experincias dos contextos socioculturais e enriquecendo-os
com suas percepes, experincias pessoais, construdas ao longo de suas mltiplas existncias. O
processo bidirecional de aprendizagem e desenvolvimento ressalta o papel ativo do ser humano,
6 As citaes apresentadas como epgrafes no presente documento constam da obra Sublime Sementeira, FEB, 2012.
ESTUDO, PRTICA E DIFUSO DA DOUTRINA ESPRITA JUNTO CRIANA
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que aprende e ensina desde a tenra idade, convidando-nos ao adequado investimento e
apresentao de referenciais edificantes, de modo a contribuir para o seu xito reencarnatrio.
Considerando que os Espritos s entram na vida corporal para se aperfeioarem, para se
melhorarem (KARDEC, Allan. O Livro dos Espritos, Q. 385) e que a educao constitui [...] a chave
do progresso moral (Id. Ibid., comentrio da questo 917), v-se a grave e impostergvel
responsabilidade de conduzi-los pela senda do bem, favorecendo-lhes o exerccio do
autoconhecimento, da reforma ntima, do aprendizado e da vivncia da Lei do Amor.
No campo da Educao formal, a preocupao com a formao integral do ser humano vem
merecendo destaque, em especial aps a consolidao do Relatrio Delors (1996), elaborado por
especialistas da educao, filsofos e decididores polticos de todas as regies do mundo que
integraram a Comisso Internacional da UNESCO sobre a Educao para o sculo XXI. Tal relatrio
apresenta quatro pilares educacionais, amplamente difundidos na esfera educacional, que
contemplam a necessidade do aprender a aprender, do aprender a fazer, do aprender a conviver e
do aprender a ser, perspectiva que supera o legado intelectualista e fragmentado do ser e passa a
considerar a viso integral das aprendizagens que o constituem, fortalecendo a interao dos
saberes e prticas, da convivncia e da formao da personalidade.
Sob tal perspectiva, para alm da aquisio de conhecimento, a Educao passa a ser concebida
como um processo formativo de valores e atitudes em favor da paz, da compreenso internacional,
da cooperao, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais (Gomes, 2001), sendo
apresentada como a chave do desenvolvimento sustentvel, da paz e da estabilidade no seio dos
pases e no mundo (UNESCO, 2003).
Tais consideraes esto em harmonia com a questo 917 de O Livro dos Espritos (Cap. XII, Da
perfeio moral), em que os espritos ressaltam que pela educao que se dar a melhoria do
homem, mas no por essa educao que tende a fazer homens instrudos, mas pela que tende a
fazer homens de bem. Tal a tarefa que nos compete realizar.
No campo religioso, as instituies espritas, alinhadas aos propsitos de promover o estudo, a
prtica e a difuso da Doutrina Esprita, tm-se empenhado em implantar e implementar aes
junto infncia, de modo a favorecer espaos de estudo doutrinrio, vivncia evanglica e
confraternizao, em consonncia com o alerta de Bezerra de Menezes (1982, Sublime Sementeira,
FEB, 2012):
Considerando-se, naturalmente, a criana como o porvir acenando-nos agora, e o jovem como o adulto de amanh, no podemos, sem graves comprometimentos espirituais, sonegar-lhes a educao, as luzes do Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, fazendo brilhar em seus coraes as excelncias das lies do excelso Mestre com vistas transformao das sociedades em uma nova Humanidade.
A ao evangelizadora, inspirada na formao integral da criana, contempla o conhecimento
doutrinrio, o aprimoramento moral e a transformao social, tendo como finalidade a vivncia da
mxima do Cristo o Amor a Deus, ao prximo e a si -, e como objetivo primordial a formao do
Homem de Bem. O xito da tarefa vincula-se aos esforos empreendidos na qualidade doutrinria,
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relacional, pedaggica e organizacional que perpassam as aes desenvolvidas pelos inmeros e
dedicados evangelizadores nos diferentes rinces do Pas.
Mediante a relevncia e seriedade da tarefa, Joanna de ngelis (FRANCO, 1978) convida-nos ao
exerccio do planejamento, enfatizando:
Nas atividades crists que a Doutrina Esprita desdobra, o servidor sempre convidado a um trabalho eficiente, pois a realizao no deve ser temporria nem precipitada, mas de molde a atender com segurana. [...] Planejar-agindo servir-construindo. [...] Planifica tudo o que possas fazer e que esteja ao teu alcance.
Frente a essas reflexes, somos instados ao exerccio de planejar as aes evangelizadoras junto s
crianas, organizando subsdios e diretrizes que favoream sua implantao e implementao de
forma efetiva, primando por sua qualidade crescente.
Relevante realidade a ser considerada no presente estudo, e que refletir na organizao da
atividade nas instituies espritas, refere-se ao crescimento do nmero de crianas espritas no
pas. Um comparativo dos dados do IBGE de 2000 e 2010 aponta que, a despeito da populao
infantil ter decrescido em mbito nacional (-10,68%), a populao infantil esprita aumentou cerca
de 44,83%, representando um crescimento de mais de 132.000 crianas, conforme as tabelas a
seguir apresentadas:
INFNCIA (0 A 11 ANOS) 2000 2010 Diferena
Total Brasil Populao 169.872.856 190.755.799 20.882.943
Total Brasil Espritas 2.262.401 3.848.876 1.586.475
Populao Brasil 0 a 11 anos 39.903.971 35.641.354 -4.262.617
Populao Brasil 0 a 11 anos Esprita 294.610 426.679 +132.069*
(+44,83%)
Proporo Crianas x Brasil 23,49% 18,68% -
Proporo Crianas x Espritas 13,02% 11,08% -
INFNCIA ESPRITA
Faixa etria 2000 2010
0 a 4 106.023 159.832
5 a 9 129.900 183.114
10 a 11 58.687 83.733
Total 294.610 426.679
*Dados aproximados. Visto que o IBGE trabalha com o segmento etrio de 10 a 14 anos, considerou-se, para fins do clculo apresentado, os dados do censo divididos nos segmentos de 10 a 11 anos (Infncia) e 12 a 14 (Juventude), atendendo ao critrio de proporcionalidade previsto na projeo da populao brasileira realizada pelo IBGE7.
7 Estudo desenvolvido por Chrispino e Torracca (2015) e apresentado durante VII Encontro Nacional da rea de Infncia e Juventude.
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O momento nos convida a prosseguir e avanar. A construo do documento Orientao Ao
Evangelizadora Esprita da Infncia: Subsdios e Diretrizes objetiva oferecer ao Movimento Esprita
Brasileiro referncias para potencializar as aes espritas com a criana, favorecendo o estudo, a
prtica e a difuso da Doutrina Esprita junto ao corao infantil.
Para tanto, foram considerados como referncia na elaborao deste documento:
obras bsicas da Doutrina Esprita;
livro Sublime Sementeira: Evangelizao Esprita Infantojuvenil (FEB, 2012) e outras
obras de temtica esprita e educacional;
documentos orientadores oriundos do Conselho Federativo Nacional da FEB e da rea de
Infncia e Juventude do CFN/FEB;
a sntese do documento Situao da Criana e da Famlia no Centro Esprita, resultado
das consideraes das Entidades Federativas Estaduais sobre o tema, elaborado pela rea
de Infncia e Juventude e apresentado na reunio ordinria do CFN de 2014.
as aes desenvolvidas pelas reas de Infncia e Juventude das Entidades Federativas
Estaduais ao longo dos anos e compartilhadas durante as reunies das Comisses
Regionais.
o Plano de Trabalho para o Movimento Esprita Brasileiro 2013 2017 (2012a) e o Plano de
Trabalho para a rea de Infncia e Juventude 2012 2017 (2012b).
os resultados das enquetes publicadas no site do DIJ/FEB voltadas aos evangelizadores,
famlias e crianas no 1 semestre de 2015.
as contribuies das reas de Infncia e Juventude e das Coordenaes de Infncia das
Entidades Federativas Estaduais durante o VII Encontro Nacional da rea de Infncia e
Juventude (2015).
estudos tericos e contribuies acadmicas de reas do conhecimento relacionadas
educao, psicologia e desenvolvimento humano.
O documento organiza-se em duas partes, sendo a Parte I referente s Diretrizes para a Ao
Evangelizadora Esprita da Infncia, com destaque s contribuies dos Estados em resposta
anlise da situao da criana e da famlia no Centro Esprita; e a Parte II referente ao
aprofundamento filosfico-doutrinrio da tarefa, com destaque s concepes de infncia, aos
eixos estruturantes, qualidade da ao evangelizadora e aos espaos de ao.
Esperamos que o presente documento auxilie as instituies espritas do Brasil na implantao e
implementao da Evangelizao Esprita da Infncia, de modo a fortalecer, continuamente, o
investimento na alma infantil, reconhecendo a relevante e bela responsabilidade assumida,
enquanto tarefeiros espritas, pais, familiares, evangelizadores e educadores em geral, para sua
conduo pela senda do bem.
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PARTE I Subsdios Ao
Evangelizadora Esprita da
Infncia
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A Criana
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I SUBSDIOS AO EVANGELIZADORA ESPRITA DA INFNCIA
1 A CRIANA
pela educao que as geraes se transformam e aperfeioam. Para uma sociedade nova necessrio homens novos.
Por isso, a educao desde a infncia de importncia capital. Leon Denis (2008)
Visando melhor compreenso dos elementos que integram as aes junto Infncia,
apresentamos, a seguir, concepes e reflexes acerca da criana, as caractersticas gerais da fase
infantil e aspectos que influenciam no seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
1.1. A CRIANA: ESPRITO IMORTAL
As crianas so os seres que Deus manda a novas existncias. (Allan Kardec, O Livro dos Espritos, resposta questo 385)
O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas no sabes de onde vem, nem para onde vai; assim todo aquele que nascido do Esprito. (Jesus)
Joo 3:8
O esclarecimento de Jesus a Nicodemos, o doutor da lei, serve-nos de referncia na apresentao
do conceito esprita de criana: um Esprito Imortal que tem o seu ontem e ter o seu amanh,
forasteiros do infinito, em busca de novas experincias, procura da evoluo espiritual. (Bezerra
de Menezes, 1979, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
luz dos princpios espritas, a criana um Esprito de retorno paisagem das experincias
terrenas, pela via da reencarnao, para continuar seu aprendizado e desenvolvimento com vistas
ao progresso que o conduzir felicidade, reparao de seus erros e superao de suas
imperfeies. Nesse sentido, no se configura nem como um homem pronto em miniatura, nem
como uma pgina em branco a ser preenchida exclusivamente pelos adultos e pelas experincias
atuais.
Conforme Santo Agostinho, diferentemente das tradicionais concepes sobre a infncia, o
Espiritismo nos esclarece que sob a aparncia da inocncia e da pureza h um ser espiritual que
possui experincias multimilenares, apresentando uma biografia espiritual contendo conquistas
e dificuldades, vitrias e equvocos, virtudes e imperfeies que se expressam na vida fsica por meio
de inclinaes, aptides, temperamento e tendncias comportamentais desde a mais tenra idade.
(KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XIV, item 9), tambm considera que desde
pequenina, a criana manifesta os instintos bons ou maus que traz da sua existncia anterior.
http://www.bibliaonline.com.br/acf/jo/3/8
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Mas a criana enquanto Esprito Imortal no s passado, visto que igualmente um ser que se
abre ao processo de novas aprendizagens num ambiente sociocultural, assinalado pela necessidade
imperiosa de progredir.
A viso esprita considera, ainda, que na fase infantil o Esprito reencarnado atua de conformidade
com o instrumento de que dispe (Id. LE, Q. 379) e mais acessvel s impresses que recebe,
capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os incumbidos de educ-
lo. (Id. Ibid., Q. 383). nesse perodo ... que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os maus
pendores. (Id. Ibid., Q. 385). Brandura, plasticidade, possibilidade de apreender conselhos dos mais
experientes, receptividade s influncias externas e aspecto de inocncia (dormitam certas
tendncias negativas) so algumas das caractersticas que, em geral, possibilitam a interveno
educativa no auxlio ao progresso do ser reencarnado.
Suas ideias, esclarece Allan Kardec (ESE, cap. VIII, item 4), s gradualmente so retomadas,
acompanhando o desenvolvimento corporal e psicolgico e, por isso mesmo, destaca-se a
importncia da ao educativa junto criana pela docilidade que esta apresenta para a formao
de hbitos saudveis que determinaro a personalidade futura.
A infncia, desse modo, uma necessidade para o Esprito, uma consequncia natural das leis que
Deus estabeleceu e que regem o Universo. (KARDEC, Allan. LE, Q. 385), uma estratgia da Pedagogia
Divina que possibilita sempre a oportunidade da educao integral (cabea, corao e mos -
pensar, sentir e agir), a nica a conduzir a Humanidade ao progresso e felicidade, pela vivncia da
Lei Divina ou Natural.
Numa abordagem sinttica, enquanto ser interexistencial, a criana, na tica esprita:
um Esprito Imortal, em trnsito, herdeiro de si, que traz consigo um patrimnio de
experincias conquistadas ao longo de suas reencarnaes;
um ser que reencarna para se melhorar, progredir, numa dada condio fsica, social,
histrica, cultural e espiritual, na qual se expressa como ser de aprendizagens mltiplas sob
a influncia do seu passado, do atual ambiente em que se situa e dos estmulos, orientaes,
limitaes, possibilidades, desafios e processos educativos presentes em sua experincia
reencarnatria.
Sementeira capaz de receber a boa semente, a criana/Esprito imortal solo cultivvel reclamando
assistncia e cooperao de todos, a fim de que o presente lhe proporcione as condies de
enfrentamento das necessidades e desafios reencarnatrios que se lhe apresentam como resultado
natural de seu processo evolutivo.
1.2. A CRIANA EM PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
A criana a cano com que o tempo embala os ouvidos do futuro quanto a semente, que lanada na terra frtil da nobre orientao, produzir florao e frutos de
esperanas para o amanh Thereza de Brito (1991)
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A Doutrina Esprita, ao descortinar o vu da ignorncia acerca da vida no mundo espiritual,
oportunizou um novo olhar sobre a vida no mundo fsico, especialmente no que tange funo
educativa da reencarnao, conforme nos aponta Joanna de ngelis (FRANCO, 1994a):[...] A
reencarnao, sem dvida, valioso mtodo educativo de que se utiliza a vida, a fim de propiciar
os meios de crescimento, desenvolvimento de aptides e sabedoria ao Esprito que engatinha no
rumo da sua finalidade grandiosa.
[...] Por isso, e sobretudo, a tarefa da educao h que ser moralizadora, a fim de promover o
homem no apenas no meio social, antes preparando-o para a sociedade essencial, que aquela
preexistente ao bero donde ele veio e sobrevivente ao tmulo para onde se dirige. (Id. Ibid.)
Sob tal perspectiva, os pais, evangelizadores, educadores e espritas em geral devem reconhecer
nas crianas, espritos imortais em fase de aprimoramento, com bagagens, conquistas espirituais e
necessidades, identificando-os como participantes ativos no processo de construo de sua
aprendizagem e desenvolvimento moral.
Superando concepes reducionistas e lineares do desenvolvimento, que se limitam
temporalidade bero-tmulo, a viso esprita amplia a percepo de aprendizagem e
desenvolvimento, visto que os considera como processos complementares e retroalimentados,
contnuos e ininterruptos, perpassando as etapas da desencarnao e reencarnao, em
movimento progressivo de autoaprimoramento.
Sob tal tica, a Infncia assume carter estruturante e favorvel a aprendizagens balizadoras de
concepes, condutas e perspectivas que sustentaro os passos no caminho evolutivo.
Ao reconhecer a imortalidade da alma e a viso histrica do esprito reencarnado, considerando a
existncia de aprendizagens pretritas e futuras atual encarnao, amplia-se a repercusso dos
investimentos educativos e fortalece-se a formao integral do ser, abrangendo o desenvolvimento
intelectual e afetivo, a formao moral, e as habilidades interativas e sociais, refletidas em atitudes
coadunadas prtica do bem. A concepo de desenvolvimento integral abrange, nessa
perspectiva, a formao, contnua e gradativa, do Homem de Bem, tal qual descrita em O Evangelho
segundo o Espiritismo (KARDEC, Allan. Cap. XVII, item 3).
Destacam-se, nessa perspectiva, o papel ativo do indivduo no seu processo de autoedificao, os
contextos sociais como cenrios de enriquecimento cultural, e as interaes sociais como processos
fundamentais pelos quais as aprendizagens se constituem. Sob tal tica, para alm da concepo
inatista de desenvolvimento humano em que as habilidades so consideradas inatas e prontas
desde o nascimento, com pouca possibilidade de mudana - e da concepo ambientalista em que
se considera o determinismo do ambiente na constituio do indivduo, verifica-se a concepo
sociointeracionista como valorizadora dos processos interativos, reconhecendo a relao indivduo-
meio como processo bidirecional de enriquecimento e aprendizagem. Tal concepo impacta
diretamente as estratgias que contribuiro efetivamente para a formao integral da criana, ao
reconhecer a singularidade do ser, a diversidade dos contextos e a oportunidade das interaes.
Sob tal tica, o desenvolvimento humano no ocorre de forma determinista, uniforme, tampouco
passiva, visto que as informaes do ambiente no so recebidas prontas, mas elaboradas junto
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subjetividade do indivduo, formada por experincias (pretrito), ideais (futuro) e oportunidades
(presente) de aprendizagem. Os contextos ambientais passam a ser influenciadores mas no
determinantes das aprendizagens, marcadas pelas inmeras experincias culturais.
Conforme nos afirma o Esprito Joanna de ngelis:
A criana no um adulto miniaturizado, nem uma cera plstica, facilmente moldvel. Trata-se de um esprito em recomeo, momentaneamente em esquecimento das realizaes positivas e negativas que traz das vidas pretritas, empenhado na conquista da felicidade. (FRANCO, 1994b)
O desenvolvimento, as aprendizagens e as interaes das crianas em diferentes contextos,
estruturados ou informais, sociais ou familiares, aponta-nos para a especificidade dos processos
formativos e para as caractersticas da contemporaneidade, exigindo sensibilidade, empatia,
criatividade e dedicao por parte de todos os que com elas convivem. A relevncia das interaes
sociais destacada em O Livro dos Espritos (KARDEC, Allan), ao afirmar-se que:
Deus fez o homem para viver em sociedade. No lhe deu inutilmente a palavra e todas as outras faculdades necessrias vida de relao. (Questo 766) Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a unio social que elas umas s outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. (Comentrio questo 768)
Verifica-se, ainda, a evoluo tecnolgica, a conscincia ambiental, o acesso s redes de
comunicao, dentre muitos outros aspectos do mundo contemporneo, alertando-nos para o
exerccio sensvel do olhar aos Espritos recm-reencarnados, reconhecendo caractersticas
singulares nas crianas da atualidade, refletidos em seus interesses, comportamentos, habilidades,
estratgias comunicacionais etc.
Destacam-se, nesse aspecto, as observaes dos Espritos na obra A Gnese (KARDEC, Allan), em
que a Gerao Nova apresentada no mundo em transio, afirmando-se o gradual nascimento de
Espritos mais adiantados e propensos ao bem. Conforme alertam:
A poca atual de transio; confundem-se os elementos das duas geraes. Colocados no ponto intermdio, assistimos partida de uma e chegada da outra, j se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes so peculiares. (item 28).
Visando renovao e instaurao da era do progresso moral,
a nova gerao se distingue por inteligncia e razo geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenas espiritualistas, o que constitui sinal indubitvel de certo grau de adiantamento anterior. No se compor exclusivamente de Espritos eminentemente superiores, mas dos que, j tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento de regenerao. (item 28)
Sejam tais Espritos melhores ou Espritos antigos que se melhoraram pela mudana de suas
disposies morais, pode-se observar em nosso orbe a plena transio, convidando-nos enquanto
pais, evangelizadores e educadores em geral igualmente em aprendizagem a re-olharmos a
infncia e as estratgias de interao educativa, a fim de oportunizar-lhes espaos edificantes de
aprendizagem e convivncia, que contribuiro para o seu desenvolvimento integral.
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Reconhecendo a postura ativa do indivduo em seu processo evolutivo, destaca-se a perspectiva
educacional que promova a autonomia, por meio do exerccio gradual, seguro e consciente do livre-
arbtrio, favorecendo criana a escolha de caminhos saudveis direcionados ao xito de sua
jornada reencarnatria e, no campo da formao esprita, ao exerccio da f raciocinada e da
vivncia do Evangelho de Jesus nas aes cotidianas.
Alguns aspectos do desenvolvimento da criana merecem destaque, por constiturem funes
superiores e linguagens que representam o universo infantil e suas formas de interao social,
alguns dos quais detalhamos a seguir:
Criatividade:
A criatividade a faculdade humana que trata, em especial, da habilidade em criar e inovar,
construindo formas de ver, de se relacionar e de realizar aes diferentes das habituais.
caracterizada pela originalidade de pensamento, capacidade de imaginao, autoconfiana,
improvisao, flexibilidade, sensibilidade e curiosidade.
A fase da infncia potencialmente criativa e, como capacidade inerente ao ser humano, a
criatividade apresenta-se em diferentes graus, de acordo com a vivncia do esprito e com as
oportunidades educativas de estmulo.
A descoberta de novas formas de ao e pensamento ativa as estruturas mentais, ampliando a
percepo de vrias alternativas aos diferentes contextos e desafios, expandindo as possibilidades
de ao. A criatividade relaciona-se, dessa forma, capacidade de mudana e de flexibilidade,
estimulando o processo de transformao de sentimentos e pensamentos, e facilitando a
descoberta de caminhos para o autoaprimoramento. O pensamento criativo desperta a vontade e
impulsiona a ao inteligente da criana, possibilitando maior dinamismo nos processos de
aprendizagem e desenvolvimento.
salutar, portanto, que a criatividade das crianas seja estimulada nos contextos educativos,
incluindo-se os de evangelizao esprita, de modo a incentivar seu exerccio em prol de aes
coadunadas prtica do bem.
Afetividade
O afeto elemento bsico de vinculao da criana, desde o nascimento. Por meio dos vnculos
afetivos se adquire a capacidade de relacionamento consigo mesmo, com o outro e com o meio
social em que se est inserido, favorecendo os processos de aprendizagem e desenvolvimento.
Em se tratando da infncia, em que o ciclo de sensaes e percepes altamente ativado, a forma
significativa para a construo do conhecimento est intimamente ligada interao com o outro e
qualidade afetiva das relaes estabelecidas. Sendo assim, a criana aprende relacionando-se e
vivenciando com o outro experincias ldicas e afetivas, no conhecimento de si mesmo e do
prximo.
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Sob a tica da ao evangelizadora, tratar a criana com afeto fazer acordar, em seu ntimo, o
amor superior e sublime herdado de Deus, proporcionando o despertar da afetividade latente, e
conduzindo o esprito ao bem comum, a partir da sua felicidade e do prximo.
O Esprito Andr Luiz, na obra No Mundo Maior, destaca o imenso poder existente no afeto e no
amor, ao expor que: [...] se o conhecimento auxilia por fora, s o amor socorre por dentro. (XAVIER,
2000, cap. IV).
Linguagens, imaginao e ludicidade
Compreender a criana perceb-la como ser de mltiplas possibilidades e linguagens. Ser criana
descobrir o mundo e interagir com ele, compartilhando diferentes modos de ser, pensar, sentir,
brincar, falar, descobrir, inventar, em um conjunto inimaginvel de possibilidades criativas.
Para cada questo, a lgica infantil tem infinitas possibilidades de compreenso, mostrando-nos
quo variveis so as formas de se pensar e agir da criana.
Inicialmente sincrtico, o pensamento da criana estrutura-se gradualmente a cada nova ideia ou
experincia, mobilizando recursos internos para a novidade e buscando solues inteligentes para
atribuir significados a objetos, relaes, fenmenos e fatos. A organizao das ideias, o
levantamento de hipteses e o exerccio da criatividade favorecem criana transitar no mundo
imaginativo e retornar ao mundo real com alternativas de soluo de problemas, em pleno e
gradual exerccio da autonomia.
A brincadeira e a imaginao assumem relevante papel no cenrio de tais aprendizagens, das
interaes sociais e no desenvolvimento das linguagens, que ultrapassa a concepo de oralidade e
assume a amplitude das representaes comunicacionais, emocionais, corporais e artsticas.
O brincar favorece, ainda, por meio das interaes e exploraes ldicas, o desenvolvimento das
linguagens, da imaginao, dos processos criativos, alm da percepo de regras, do estmulo a
escolhas e da conscincia emocional. Por favorecer criana a expanso de ideias para alm dos
contextos situacionais reais, projetam-se no mundo imaginrio contextos, enredos e solues
elaborados com base em suas aprendizagens, interesses e criatividade. O brincar e a capacidade de
imaginar e de fazer de conta so aspectos marcantes da infncia que auxiliam na construo e
reconstruo de uma conscincia da realidade, estimulando a descoberta de si mesmo e das
possibilidades de relao com o outro e com o mundo. Nesse sentido, os jogos e brincadeiras
constituem atividades privilegiadas de organizao e autoexpresso da criana e, por essa razo,
fundamentais no cenrio do desenvolvimento e da aprendizagem infantil.
Com base nessa viso, muito oportuno que, aliceradas em boa base doutrinria, as atividades
evangelizadoras sejam cercadas de propostas ldicas, que levem em conta as diversas formas de
linguagem - msica, teatro, imitao, dana, desenhos, literatura, brincadeiras, histrias, contos,
parbolas, jogos -, zelando pelos aspectos motivacionais e formativos promovidos nos encontros de
Evangelizao.
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Socializao e construo de habilidades sociais
O desenvolvimento e as aprendizagens se consolidam nas interaes sociais. Como indivduo em
trnsito por diferentes grupos e microssistemas sociais (familiar, escolar, comunidade etc.), a
criana convidada a conhecer e lidar com diferentes culturas, hbitos e formas de ver e conceber
o mundo. O exerccio gradativo da empatia favorece ao indivduo ampliar suas percepes e
reconhecer as singularidades e diversidades que constituem o meio social, representando um
encontro de mundos e histrias que influenciaro mutuamente indivduos e ambientes. Lidar com
o prximo implica ampliar, gradativamente, o repertrio de habilidades sociais, no exerccio
permanente da compreenso, do respeito e da empatia sobre os quais se edificam as comunicaes
e relaes interpessoais.
Dos micro aos macrossistemas, a ampliao de tal percepo impacta na conscincia cidad e da
corresponsabilidade social, favorecendo ao indivduo perceber-se como cidado do universo,
agente de transformao, e convidando-o a refletir sobre liberdades e limites, aes e reaes, e a
assumir posturas coadunadas aos seus princpios e ideais.
No campo da aprendizagem infantil, tais habilidades encontram-se em pleno desenvolvimento
desde a tenra idade, potencializados em ambientes onde o dilogo, as interaes, as trocas e
respeito mtuo so incentivados. A ampliao da percepo de si para a percepo do outro, a
compreenso de que um amigo pode ter gostos iguais ou diferentes dos seus, a necessidade de
compartilhar pertences, o desejo da convivncia com seus pares, o desenvolvimento da
autoexpresso e da linguagem, o esforo de aguardar a sua vez nas atividades, dentre outras
mltiplas habilidades em exerccio, convida-nos, enquanto educadores e familiares, a favorecer
espaos saudveis de interao, referenciados pela vivncia de valores condizentes com a
construo da paz e promoo do bem.
Formas de interao pautadas no respeito pleno e incondicional ao prximo, alinhadas aos
ensinamentos do Evangelho de Jesus e, muito especialmente, sua regra urea de convivncia
social - fazer ao outro o que gostaria que o outro vos fizesse estimulam-nos ao exerccio e
ateno permanente, zelando pela construo de laos de fraternidade legtima. Do exerccio da
empatia, do colocar-se no lugar do outro, surge a conduta da solidariedade, da humildade e da
caridade, habilidades sociais e morais que representam o princpio, a finalidade e o meio da ao
evangelizadora.
Enquanto mediadores e organizadores de espaos educativos, criativos e acolhedores, os
evangelizadores e familiares devem primar por modalidades de interao cooperativas que
favoream o exerccio da autonomia moral da criana, da f raciocinada e do uso consciente do
livre-arbtrio, ferramentas que contribuiro para o xito reencarnatrio das crianas que conosco
trilham os caminhos da Evangelizao.
Protagonismo infantil
Reconhecer a criana como ser espiritual, que tem suas formas prprias de ser, expressar, conhecer
e se comunicar, exige que as reconheamos igualmente como pessoas possuidoras de direitos,
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capacidades e valores prprios, participantes ativas na ao educativa e no desenvolvimento
pessoal e social.
A criana traz mltiplos conhecimentos e experincias oriundos de vidas pretritas, alm de se
constituir num determinado contexto histrico, social e espiritual, evidenciando a singularidade e a
diversidade de formas de representar o mundo e simboliz-lo.
Considerar a participao da criana, validando o protagonismo infantil, no implica apenas
legitimar suas necessidades e interesses, mas importa, sobretudo, considerar suas opinies,
pensamentos, sentimentos e atitudes, em processo de construo conjunta das atividades
evangelizadoras. Tais aes devem fundamentar-se numa prtica educativa que d vez e voz s
crianas, que se baseia em seus contextos de vida, em suas experincias subjetivas, bem como em
seus interesses e necessidades.
Costa (2000), ao desenvolver o tema protagonismo junto ao pblico jovem, reconhece-o como via
pedaggica essencial, como caminho inovador no preparo das novas geraes. Concebe o
protagonismo como modalidade de ao educativa, enquanto criao de espaos e condies
capazes de possibilitar aos jovens envolverem-se em atividades direcionadas soluo de
problemas reais, atuando como fonte de iniciativa, liberdade e compromisso. Segundo ele,
participar, para o adolescente, influir, atravs de palavras e atos, nos acontecimentos que afetam
a sua vida e a vida de todos aqueles em relao aos quais ele assumiu uma atitude de no-
indiferena, uma atitude de valorao positiva.
O autor ainda conclui: [...] o protagonismo preconiza um tipo de relao pedaggica que tem a solidariedade entre geraes como base, a colaborao educador-educando como meio e a autonomia do jovem como fim. O Protagonismo juvenil, embora tenha seu eixo na educao para a cidadania, concorre tambm para a formao integral do adolescente, uma vez que as prticas e vivncias exercem influncia construtiva sobre o jovem e em toda a sua inteireza.
Transpondo para a realidade infantil, considerar o protagonismo da criana implica tambm
considerar as suas caractersticas, interesses e desejos de transformao de contextos sociais reais,
fatos no raramente manifestados nos dias atuais. Implica o estmulo conscincia e prtica da
cidadania, concebida sob uma perspectiva planetria, valorizando iniciativas e acompanhando, de
forma presencial e orientadora, aes no bem.
oportuno, ento, que a evangelizao se constitua como ambiente dialgico, de confiana, onde
ideias possam ser expressas, decises possam ser adotadas, configurando-se como espao de
escuta e respeito s diferenas, estimulando a participao protagonista da criana, que ultrapassa
a postura de simples expectadora para a de agente de seu prprio futuro.
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A Ao
Evangelizadora
Esprita
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2. A AO EVANGELIZADORA ESPRITA
Cada menino e moo no mundo um plano da Sabedoria Divina para servio Humanidade [...]
Emmanuel (2010)
2.1. DEFINIO, FINALIDADES E OBJETIVOS
Evangelizemos, com Jesus, para alcanarmos os valores indeformveis da educao integral sob os auspcios do Mestre por excelncia.
Estevo (1977)
A ao evangelizadora esprita da infncia e da juventude representa toda a ao voltada ao estudo,
prtica e difuso da Doutrina Esprita junto criana e ao jovem.
Reconhecendo Jesus como o guia e modelo oferecido por Deus Humanidade (KARDEC, Allan, O
Livro dos Espritos, questo 625), identifica-se em seu mandamento maior a finalidade de toda ao
evangelizadora:
Amars o Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma e de todo o teu esprito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amars o teu prximo, como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos. Jesus (Mateus, 22:36-40)
Abordando as questes relativas perfeio moral e ao papel educativo do Espiritismo, Allan Kardec
(LE, parte 3, captulo XII) apresenta relevantes comentrios questo 917, estreitamente
relacionadas prtica evangelizadora junto s crianas e jovens:
Louvveis esforos indubitavelmente se empregam para fazer que a Humanidade progrida. Os bons sentimentos so animados, estimulados e honrados mais do que em qualquer outra poca. Entretanto, o egosmo, verme roedor, continua a ser a chaga social. um mal real, que se alastra por todo o mundo e do qual cada homem mais ou menos vtima. Cumpre, pois, combat-lo, como se combate uma enfermidade epidmica. Para isso, deve-se proceder como procedem os mdicos: ir origem do mal. [...] Poder ser longa a cura, porque numerosas so as causas, mas no impossvel. Contudo, ela s se obter se o mal for atacado em sua raiz, isto , pela EDUCAO, no por essa educao que tende a fazer homens instrudos, mas pela que tende a fazer homens de bem. A educao, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar os caracteres, como se conhece a de manejar as inteligncias, conseguir-se- corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam plantas novas. [...] Faa-se com o moral o que se faz com a inteligncia e ver-se- que, se h naturezas refratrias, muito maior do que se julga o nmero das que apenas reclamam boa cultura, para produzir bons frutos. (Grifo nosso)
Nesse sentido, considera-se que a ao evangelizadora esprita tem como objetivo primordial a
formao de homens de bem, em conformidade com o Mandamento Maior de Jesus e com os
caracteres descritos em O Evangelho segundo o Espiritismo (KARDEC, Allan, cap. XVII, item 3). Para
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o alcance dos resultados almejados, os esforos voltam-se a promover a integrao da criana e do
jovem com Deus, com o prximo e consigo mesmo por meio do estudo e vivncia da Doutrina
Esprita, o Cristianismo redivivo.
As atividades de Evangelizao Esprita tm como objetivo:
proporcionar o estudo e a vivncia da Doutrina Esprita, em seu trplice aspecto, e dos
ensinos morais do Evangelho de Jesus, visando ao seu aprimoramento moral e
formao de pessoas de bem.
promover e estimular a integrao da criana e do jovem consigo mesmo, com o
prximo e com Deus8, bem como no conjunto de atividades dos Centros Espritas e do
Movimento Esprita;
oferecer criana e ao jovem a oportunidade de perceber-se como ser integral, crtico,
consciente, participativo, herdeiro de si mesmo, cidado do Universo, agente de
transformao de seu meio, rumo a toda perfeio de que suscetvel9
Com tal enfoque, observa-se o desenvolvimento da atividade de Evangelizao Esprita nas
instituies espritas, identificando-a como ao que contribui para o xito da misso
espiritual do pas. Conforme nos informa Joanna de ngelis (1982):
Graas ao trabalho preparatrio que se vem realizando, h anos, junto criana e ao jovem, que encontramos uma florao abenoada de trabalhadores, na atualidade, que tiveram o seu incio sadio e equilibrado nas aulas de evangelizao esprita, quando dos seus dias primeiros na Terra... Este ministrio de preparao do homem do amanh facultar ao Brasil tornar-se realmente O corao do mundo e a Ptria do Evangelho, conforme a feliz ideao do Esprito Humberto de Campos, por intermdio de Francisco Cndido Xavier, traduzindo o programa do Mundo Maior em referncia nao brasileira. (Sublime Sementeira, FEB, 2012)
No que tange especificamente Evangelizao da Infncia, destaca-se o conjunto de aes criativas que visam aproximar as crianas da mensagem de Jesus luz do Espiritismo, considerando-se as peculiaridades relacionadas s diferentes faixas etrias, ncleos de interesses, estratgias comunicacionais, formas de interao, dentre outros aspectos que influenciam diretamente a eficcia da ao evangelizadora. Algumas das experincias exitosas desenvolvidas pelos Estados encontram-se anexas ao presente documento.
O olhar atento dos evangelizadores aos processos de desenvolvimento e aprendizagem das crianas, reconhecendo-as como espritos imortais ativos no caminho do autoaperfeioamento, favorecer a escolha de estratgias metodolgicas adequadas e atrativas que promovero a construo de espaos educativos prazerosos de crescimento e convivncia, aprendizado e vivncia crist.
Conforme sintetiza o Esprito Amlia Rodrigues (FRANCO, 1979):
Evangelizar uma criana como honrar o mundo com a grandeza de deveres maiores, adornando o futuro de gemas valiosas. Quando voc ensina, transmite.
8 FEB/CFN. Orientao ao Centro Esprita. Rio de Janeiro: FEB, 2007. cap. 6, it. 3, Objetivos a e d, p. 66-67. 9 FEB. Currculo para as escolas de evangelizao esprita infanto-juvenil. Rio de Janeiro: FEB, 2007
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Quando voc educa, disciplina. Mas quando voc evangeliza, salva. Instrudo, o homem conhece; educado, vence; evangelizado, serve sem cansao, redimindo-se.
Breves consideraes sobre Evangelizar e Educar
Para fins de compreenso do presente documento, faz-se necessrio o adequado entendimento dos termos evangelizar e educar, muitas vezes utilizados sob perspectivas opostas, distintas ou mesmo antagnicas. A perspectiva desenvolvida no presente documento age sob a tica da consonncia, visto que toda a evangelizao um ato educativo e que a educao, baseada nos princpios cristos, um ato evangelizador.
Concebendo-se Evangelizao Esprita Infantojuvenil como toda a ao voltada ao estudo, prtica e difuso da mensagem esprita junto criana e ao jovem, identifica-se que o termo Evangelizao inspira a transformao moral do homem e do mundo por meio dos ensinamentos de Jesus. Por ser Evangelizao Esprita, toda a ao perpassa os ensinamentos contidos nas obras codificadas por Allan Kardec, considerando seu trplice aspecto: cincia, filosofia e religio. Nesse sentido, a dimenso moral ampliada na perspectiva da crena em Deus, da construo da f balizada na razo, na conduta fundamentada no bem, na conscincia da sua imortalidade e no real entendimento de sua origem, destino e razo de existncia.
Para alm de uma transmisso de conhecimentos, a tarefa de Evangelizao Esprita objetiva a ressonncia dos ensinamentos espritas nas mentes, coraes e mos das crianas e jovens, fortalecendo-os para o percurso reencarnatrio. Por objetivar a formao de hbitos coadunados mensagem crist luz da Doutrina Esprita, constitui uma ao educativa, atendendo definio dada por Kardec no comentrio questo 685a de O Livro dos Espritos, ao afirmar que a educao o conjunto dos hbitos adquiridos.
A finalidade educativa do Espiritismo perpassa o conhecimento, o sentimento e a ao (pensar, sentir e agir) com vistas ao exerccio pleno do amor, maior ensinamento de Jesus, sntese de todo o objetivo evolutivo.
Nesse sentido, observa-se que ao evangelizadora constitui um conjunto de aes formativas em seu sentido pleno, pois visa ao aprimoramento integral do indivduo e transformao social. A ao educativa tambm.
Com base nas consideraes referidas, compreender-se-, para os fins do presente documento, ao evangelizadora esprita como ao educativa pautada nos princpios espritas, sem ater-se aos seus aspectos etimolgicos, mas natureza e s finalidades da tarefa desenvolvida junto criana e ao jovem no Movimento Esprita Brasileiro.
2.2. EIXOS ESTRUTURANTES DA TAREFA: CONHECIMENTO DOUTRINRIO, APRIMORAMENTO
MORAL E TRASFORMAO SOCIAL
[...] a educao esprita, de profundidade, portanto, no se limita contribuio de recursos intelectuais, artsticos e convencionais, seno, equao dos desafios
evolutivos, preparando o indivduo para tentames sempre mais elevados e grandiosos. Benedita Fernandes (1993)
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Consonantes e alinhados aos objetivos da Evangelizao Esprita, os eixos estruturantes
representam pilares filosficos que perpassam todas as aes desenvolvidas em seu campo de
atuao. Trs eixos estruturantes so identificados e enfatizados visando ao alcance pleno dos
objetivos da tarefa:
Conhecimento doutrinrio (F raciocinada)
Aprimoramento Moral (Vivncia do amor)
Transformao social (Trabalho no bem)
Tais eixos representam pilares integrados sobre os quais se estrutura a ao evangelizadora,
garantindo-lhe sentido e favorecendo a efetiva integrao do indivduo consigo mesmo, com o
prximo e com Deus.
Alinhado tal perspectiva, o trip cabea, corao e mos representa as trs dimenses humanas
consideradas no legado filosfico-educacional de Johann Heinrich Pestalozzi, mestre do codificador
da Doutrina Esprita, Hippolyte Lon Denizard Rivail, cuja o educativa se pautava no sentido da
aprendizagem para a promoo da autonomia do ser.
No campo da ao evangelizadora esprita, destacamos relevante mensagem de Francisco Thiesen
(1996, Sublime Sementeira, FEB, 2012), ao afirmar que (...) o melhor mtodo de construir o futuro
dignificar o presente e equip-lo com valiosos instrumentos de conhecimento, amor e trabalho
direcionado para as criaturas do amanh.
Nesse sentido, pode-se identificar estreita consonncia das dimenses humanas (pensar, sentir e
agir) com os eixos estruturantes da ao evangelizadora junto s crianas e jovens (conhecimento
doutrinrio, aprimoramento moral e transformao social), ressaltando-se seu valor integrativo.
Sob tal fundamentao, compreende-se que a ao evangelizadora se efetiva quando, respaldada
pelos conhecimentos doutrinrios, o indivduo prossegue em sua reforma ntima e imprime, em seu
contexto sociocultural, as atitudes resultantes do processo. O desenvolvimento no se restringe,
dessa maneira, formao intelectual, mas integra-se formao moral e legitima-se na atitude
social.
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Nessa perspectiva, apresentamos, a seguir, algumas fundamentaes doutrinrias que respaldam e
apontam no apenas a transversalidade dos eixos nos diferentes focos e espaos de atuao, mas
igualmente a inerente interao entre eles, formando significativo trip sustentador de todas as
aes evangelizadoras implementadas e que viro a ser desenvolvidas (destaques nossos).
CONHECIMENTO DOUTRINRIO (F raciocinada):
Conhecereis a verdade e ela vos libertar. Jesus (Jo, 8:32)
Ningum acende uma candeia para p-la debaixo do alqueire; pe-na, ao contrrio, sob o
candeeiro, a fim de que ilumine a todos os que esto na casa. Jesus (S. Mateus, 5:15)
[...] que vosso amor cresa cada vez mais no pleno conhecimento e em todo o
discernimento. Paulo (Filipenses 1:19)
Espritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instru-vos, este o segundo. O Esprito
de Verdade (KARDEC, Allan, O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. VI, item 6)
Os espritos anunciam que chegaram os tempos marcados pela Providncia para uma
manifestao universal e que, sendo eles os ministros de Deus e os agentes de sua vontade,
tm por misso instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regenerao
da Humanidade. Allan Kardec (O Livro dos Espritos - Prolegmenos)
medida que os homens se instruem acerca das coisas espirituais, menos valor do s
coisas materiais. Depois, necessrio que se reformem as instituies humanas que o
[egosmo] entretm e excitam. Isso depende a educao. Allan Kardec (O Livro dos
Espritos, resposta questo 914)
Assim, o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador prometido: conhecimento das
coisas, fazendo que o homem saiba donde vem, para onde vai e por que est na Terra; atrai
para os verdadeiros princpios da lei de Deus e consola pela f e pela esperana. Allan Kardec
(O Evangelho segundo o Espiritismo cap. VI)
F inabalvel s o a que pode encarar frente a frente a razo, em todas as pocas da
Humanidade. Allan Kardec (O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XIX, item 7)
Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode [...] tornar-se, conforme
disseram os Espritos, a grande alavanca da transformao da Humanidade. Allan Kardec
(Obras Pstumas, Projeto 1868)
O Espiritismo uma cincia que trata da natureza, origem e destino dos Espritos, bem como
de suas relaes com o mundo corporal. Allan Kardec (O que o Espiritismo Prembulo)
Instruamo-nos, pois, para conhecer. Eduquemo-nos para discernir. Cultura intelectual e
aprimoramento moral so imperativos da vida, possibilitando-nos a manifestao do amor,
no imprio da sublimao que nos aproxima de Deus. Emmanuel (XAVIER, 2006)
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APRIMORAMENTO MORAL (Vivncia do amor):
Porque onde est teu tesouro, a estar tambm o teu corao. Jesus (Mateus 6:21)
919. Qual o meio prtico mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir
atrao do mal? Um sbio da antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo. Allan
Kardec (O Livro dos Espritos)
[...] H um elemento, que se no costuma fazer pesar na balana e sem o qual a cincia
econmica no passa de simples teoria. Esse elemento a educao, no a educao
intelectual, mas a educao moral. No nos referimos, porm, educao moral pelos livros
e sim que consiste na arte de formar os caracteres, que incute hbitos, porquanto a
educao o conjunto dos hbitos adquiridos. Allan Kardec (O Livro dos Espritos,
Comentrio da questo 685a)
Encontraram na crena esprita a fora para vencer as ms inclinaes desde muito tempo
arraigadas, de romper com velhos hbitos, de calar ressentimentos e inimizades, de tornar
menores as distncias sociais. [...] Assim, pela fora das coisas, o Espiritismo ter por
consequncia inevitvel a melhoria moral. Allan Kardec (Viagem Esprita de 1862, 2011)
No basta desenvolver as inteligncias, necessrio formar caracteres, fortalecer as almas
e as conscincias. Os conhecimentos devem ser completados por noes que esclaream o
futuro e indiquem o destino do ser. Para renovar uma sociedade, so necessrios homens
novos e melhores. Leon Denis (2008, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
Seja Allan Kardec, no apenas crido ou sentido, apregoado ou manifestado, a nossa
bandeira, mas suficientemente vivido, sofrido, chorado e realizado em nossas prprias vidas.
[...]. Bezerra de Menezes (Reformador, dez/1975)
A Humanidade precisa ser reformada. Do interior do homem velho cumpre tirar o homem
novo, a nova mentalidade cujo objetivo ser desenvolver o amor na razo direta do combate
s multiformes modalidades em que o egosmo se desdobra. A renovao do carter depende
da renovao dos mtodos e processos educativos. Vincius (2009, Sublime Sementeira, FEB,
2012)
TRANSFORMAO SOCIAL (Trabalho no bem):
Vs sois o sal da terra. Jesus (Mateus 5:13)
Vs sois a luz do mundo. Jesus (Mateus 5:14)
Assim brilhe tambm a vossa luz diante dos homens. Jesus (Mateus 5:16)
Todos vs, homens de f e de boa vontade, trabalhai, portanto, com nimo e zelo, na grande
obra de regenerao, que colhereis pelo cntuplo o gro que houverdes semeado. Allan
Kardec (O Livro dos Espritos, questo 1019)
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Por sua poderosa revelao, o Espiritismo, vem, pois, apressar a reforma social. Allan
Kardec (Viagem Esprita em 1862, 2011)
[...] esta [melhoria moral] conduzir prtica da caridade, e da caridade nascer o
sentimento de fraternidade. Quando os homens estiverem imbudos dessas ideias, a elas
conformaro suas instituies, e ser assim que realizaro, naturalmente e sem abalos, todas
as reformas desejveis. a base sobre a qual assentaro o edifcio do futuro. Essa
transformao inevitvel, porque est conforme a lei do progresso [...]. Allan Kardec
(Viagem Esprita em 1862, 2011)
Para uma sociedade nova necessrio homens novos. Por isso, a educao desde a infncia
de importncia capital. Len Denis (2008, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
H necessidade de iniciar-se o esforo de regenerao em cada indivduo, dentro do
Evangelho, com a tarefa nem sempre amena da autoeducao. Evangelizado o indivduo,
evangeliza-se a famlia; regenerada esta, a sociedade estar a caminho de sua purificao,
reabilitando-se simultaneamente a vida do mundo. Emmanuel (XAVIER, 2009)
Eduque-se o homem e teremos uma Terra verdadeiramente transformada e feliz! Guillon
Ribeiro (1963, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
Todo o empenho e todo o sacrifcio na educao esprita das multides de entidades que
ora se reencarnam, no planeta terrestre, deve ser oferecido como recurso de construo
definitiva em favor do mundo novo, preparando, desde hoje, os alicerces de amor e de
sabedoria para que seja instalado rapidamente o reino de Deus nos coraes humanos.
Surjam ou no impedimentos, enfrentem-se ou no batalhas contnuas, a glria de quem
serve prosseguir sempre, e a daquele que educa dignificar. Vianna de Carvalho (2007,
Sublime Sementeira, FEB, 2012)
[...] Como se assevera, com reservas, que o homem fruto do meio onde vive, convm se
no esquecer de que o homem o elemento formador do meio, competindo-lhe modificar
as estruturas do ambiente em que vive e elaborar fatores atraentes e favorveis onde se
encontre colocado a viver. [...] Joanna de ngelis (FRANCO, 1994a)
Mediante os eixos apresentados, reconhece-se a importncia da viso formativa das aes espritas,
uma vez que, inspirando-se em Emmanuel: Toda a tarefa, no momento, formar o esprito
genuinamente cristo; terminado esse trabalho, os homens tero atingido o dia luminoso da paz
universal e da concrdia de todos os coraes. Emmanuel (XAVIER, 2009)
No que tange ao evangelizadora junto infncia e juventude, a mensagem de Bezerra de
Menezes (1982) ratifica a viso formativa da tarefa, contextualizando-a:
Sem dvida alguma, a expanso do Movimento Esprita no Brasil, em nmero e em qualidade, est assentada na participao da criana e do jovem, naturais continuadores da causa e do ideal. Entendemos que somente assim a Evangelizao Esprita Infantojuvenil estar atingindo
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seu abenoado desiderato, no apenas pela expanso do Espiritismo no Brasil, mas, sobretudo, contribuindo para a formao do homem evangelizado que h de penetrar a alvorada de um novo milnio de alma liberta e corao devotado construo de sua prpria felicidade. (Sublime Sementeira, FEB, 2012)
O esquema a seguir apresentado sintetiza a ao evangelizadora esprita infantojuvenil:
2.3. O PAPEL DA FAMLIA
Conquanto seja o lar a escola por excelncia, [...] (os pais) jamais devero descuidar-se
de aproxim-los dos servios da evangelizao, em cujas abenoadas atividades se propiciar a formao espiritual da criana e do jovem diante do porvir.
Bezerra de Menezes (1982)
A famlia constitui relevante clula da sociedade, locus privilegiado das primeiras aprendizagens dos
espritos reencarnados, com relevante funo socializadora e de amadurecimento espiritual.
Os vnculos intrafamiliares, para alm das relaes consanguneas, de descendncia e afinidade,
representam eixos de referncia emocional e social para as crianas e jovens, preparando-os e
fortalecendo-os para os desafios reencarnatrios assumidos.
Nessa perspectiva, Joanna de ngelis (FRANCO, 2012) afirma que:
A famlia, sem qualquer dvida, bastio seguro para a criatura resguardar-se das agresses do mundo exterior, adquirindo os valiosos e indispensveis recursos do amadurecimento psicolgico, do conhecimento, da experincia para uma jornada feliz na sociedade. [...] a famlia o alicerce sobre o qual a sociedade se edifica, sendo o primeiro educandrio do esprito, onde so aprimoradas as faculdades que desatam os recursos que lhe dormem latentes. A famlia a escola de bnos onde se aprendem os deveres fundamentais para uma vida feliz e sem cujo apoio fenecem os ideais, desfalecem as aspiraes, emurchecem as resistncias morais.
FINALIDADE
Amor a Deus, ao prximo e a si
OBJETIVO PRIMORDIAL
Formao do Homem de Bem
EIXOS
Conhecimento doutrinrio
Aprimoramento moral
Transformao social
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O ser humano estruturalmente constitudo para viver em famlia, a fim de desenvolver os sublimes contedos psquicos que lhe jazem adormecidos, aguardando os estmulos da convivncia no lar, para liber-Ios e sublimar-se.
Ressalta-se que a sociedade contempornea vem apresentando mudanas e transformaes na
organizao da famlia, revelando-se sob a forma de diferentes arranjos e configuraes familiares,
marcados por singulares histrias, valores, modos de comunicao e expresso das emoes e
pensamentos. Sob tal realidade, a nfase na qualidade das relaes deve sempre preponderar sobre
a estrutura que se apresenta.
Essas consideraes encontram eco em pesquisas (IBOPE, 2006; NOVAES e MELLO, 2002) realizadas
com jovens brasileiros, nas quais a famlia tem merecido especial destaque, uma vez que os pais so
indicados por eles como tendo alto grau de influncia na construo de seus valores. O apoio e a
boa relao com a famlia so considerados como importantes fatores para a vida do jovem e, na
escolha da religio, prepondera a influncia da famlia, seguida pela influncia dos amigos.
Reconhece-se, dessa forma, que a famlia assume relevante funo no processo evolutivo das
crianas e jovens. A maternidade e a paternidade constituem verdadeiras misses, visto que Deus
colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pela senda do bem (KARDEC, Allan.
O Livro dos Espritos, questo 582). Os pais e familiares representam, nesse sentido, evangelizadores
por excelncia, assumindo sria tarefa educativa junto s crianas e aos jovens que compem seu
ncleo familiar:
[...] inteirai-vos dos vossos deveres e ponde todo o vosso amor em aproximar de Deus essa alma; tal a misso que vos est confiada e cuja recompensa recebereis, se fielmente a cumprirdes. Os vossos cuidados e a educao que lhe dareis auxiliaro o seu aperfeioamento e o seu bem-estar futuro. Lembrai-vos de que a cada pai e a cada me perguntar Deus: Que fizestes do filho confiado vossa guarda? (Santo Agostinho, KARDEC, Allan, ESE, Cap. XIV, 9).
Tendo em vista a relevante orientao de Santo Agostinho, os ncleos familiares devem promover
um ambiente domstico educativo, afetuoso, coerente e evangelizador, de modo a favorecer o
desenvolvimento moral e espiritual dos filhos e a orient-los para os caminhos do bem.
O vnculo com a instituio esprita, por meio da evangelizao e dos grupos e reunies de famlia,
caracteriza-se como oportunidade de fortalecimento e consolidao do processo de educao
moral e espiritual vivenciado no espao familiar. Nesse sentido, a realizao do Evangelho no Lar e
as atividades oferecidas pela instituio esprita representam especiais e imprescindveis momentos
de estudo, convivncia e aprendizagem em famlia.
Evangelizemos nossos lares, meus filhos, doando nossa famlia a bno de hospedarmos o Cristo de Deus em nossas casas. A orao em conjunto torna o lar um santurio de amor onde os Espritos mais nobres procuram auxiliar mais e mais, dobrando os talentos de luz que ali so depositados. (Bezerra, 1979, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
Portanto, que os pais enviem seus filhos s escolas de evangelizao, interessando-se pelo
aprendizado evanglico da prole, indagando, dialogando, motivando, acompanhando... (Guillon
Ribeiro, 1963).
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2.4. O PAPEL E O PERFIL DO EVANGELIZADOR
bom que se diga, o evangelizador consciente de si mesmo jamais se julga pronto, acabado, sem mais o que aprender, refazer, conhecer... Ao contrrio,
avana com o tempo, v sempre degraus acima a serem galgados, na infinita escala da experincia e do conhecimento.
Guillon Ribeiro(1963)
Considerando sua essncia educacional, o Espiritismo dilata o pensamento e lhe rasga horizontes
novos. [...] mostra que essa vida no passa de um elo no harmonioso e magnfico conjunto da obra
do Criador (ESE - cap. II - 7).
Ao favorecer a ampliao da conscincia acerca da vida, a Doutrina Esprita encontra ressonncia
nos coraes das crianas e jovens, auxiliando-os na busca por respostas e orientaes.
Bezerra de Menezes (1989)10, convoca-nos a colaborar com este importante processo, ao dizer:
Espritas, que ouvistes a palavra da Revelao: a vs vos cabe levar por toda parte as notcias do Reino de Deus, expandindo-as por todos os rinces da Terra. No mais amanh ou posteriormente. Agora tendes o compromisso de acender, na escurido que domina o Mundo, as estrelas luminferas do Evangelho de Jesus.
O evangelizador assume relevante papel na aproximao da mensagem esprita s mentes, coraes
e mos das crianas e jovens, estimulando-os a pensarem, sentirem e agirem em sintonia com os
princpios cristos na senda do progresso individual e coletivo.
Sua ao deve ser pautada nos princpios da fraternidade, da amorosidade e da coerncia
doutrinria, contextualizando os ensinamentos realidade e vivncia das crianas e jovens.
Sensibilidade, coerncia, empatia, amizade, responsabilidade, conhecimento, alegria e zelo so
algumas das caractersticas dos evangelizadores que buscam a construo de espaos interativos de
aprendizado e de confraternizao junto Infncia e Juventude.
Muito alm de um transmissor de conhecimento, o evangelizador atua como mediador entre a
Doutrina Esprita e o evangelizando, e organizador dos espaos de aprendizagem e interaes,
potencializando os dilogos, os debates e as vivncias que favoream o processo mtuo de
transformao moral rumo formao do homem de bem, compreendido em sua vivncia
genuinamente crist.
Para tanto, o evangelizador deve valer-se da adequada e contnua preparao doutrinria e
pedaggica, para que no se estiolem sementes promissoras ante o solo propcio, pela inadequao
de mtodos e tcnicas de ensino, pela insipincia de contedos, pela ineficcia de um planejamento
10 Mensagem de Bezerra de Menezes, recebida psicofonicamente por Divaldo Franco, no encerramento do Congresso Internacional de Espiritismo, realizado em Braslia, em outubro de 1989.
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inoportuno e inadequado. Todo trabalho rende mais em mos realmente habilitadas (Guillon
Ribeiro, 1963, Sublime Sementeira, FEB, 2012).
Amlia Rodrigues (FRANCO, 1979), orienta-nos, ainda, quanto ao papel educativo das aes e
condutas mediante as possibilidades individuais, ao afirmar que Todos somos educadores.
Educamos pelo que fazemos, educamos com o que dizemos, alertando-nos para o fato de que o
primeiro passo de quem ensina deve ser dado no sentido de educar-se.
Sob tal perspectiva, reconhece-se que o evangelizador um Esprito imortal, igualmente em
aprendizagem e desenvolvimento, que, ao abraar a tarefa da evangelizao, compromete-se com
o exerccio contnuo do autoaprimoramento e da coerncia entre o ensino e a prtica do Evangelho
de Jesus. Conforme nos apresenta Emmanuel:
Quando Jesus penetra o corao de um homem, converte-o em testemunho vivo do bem e manda-o a evangelizar os seus irmos com a prpria vida e, quando um homem alcana Jesus, no se detm, pura e simplesmente, na estao das palavras brilhantes, mas vive de acordo com o Mestre, exemplificando o trabalho e o amor que iluminam a vida, a fim de que a glria da cruz se no faa v. (XAVIER, 2010a).
A despeito das imperfeies inerentes ao processo evolutivo em que todos se encontram, a tarefa
de Evangelizao convida o evangelizador exemplificao e enseja humildade perante as
aprendizagens, coragem perante os desafios, fraternidade perante as interaes, alegria perante as
conquistas e gratido perante as oportunidades de crescimento conjunto.
Algumas caractersticas podem ser cultivadas, continuamente, pelos evangelizadores de Infncia, a
fim de que possam desenvolver, com segurana, a nobre tarefa abraada:
conhecimento da Doutrina Esprita;
conhecimento e identificao com os objetivos da tarefa;
exerccio do olhar, escuta e fala sensvel;
empatia e integrao com a criana, conhecendo suas caractersticas, potencialidades,
necessidades e interesses, de acordo com sua individualidade, a fase de desenvolvimento
e o contexto histrico-cultural do grupo;
reconhecimento e valorizao do papel ativo da criana no seu processo de
desenvolvimento, aprendizagem e evoluo espiritual;
comprometimento com o processo formativo e de aprimoramento moral dos
evangelizandos, na perspectiva da promoo do conhecimento doutrinrio (pensar), da
reforma ntima (sentir) e da transformao social (agir);
sensibilidade na construo das relaes interpessoais e na formao dos vnculos de
confiana, amizade e fraternidade;
busca pelo contnuo aperfeioamento comunicacional e didtico, identificando
estratgias, metodologias e atividades dinamizadoras, criativas e adequadas ao pblico
infantil;
abertura para o dilogo, mediao e comunicao com a criana e familiares, dentro e
fora do Centro Esprita;
busca pelo autoconhecimento e autoaprimoramento;
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liderana, habilidade e disposio para o trabalho em equipe.
Nesse contexto, a formao inicial e continuada de evangelizadores mostra-se fundamental e deve
primar pela fidelidade doutrinria, pelo zelo relacional, pela qualidade pedaggica e pela
organizao da tarefa, indispensveis prtica evangelizadora, de modo a proporcionar a
conscientizao acerca da responsabilidade dos trabalhadores da Evangelizao e a segurana
necessria adequada conduo da tarefa assumida.
2.5. O PAPEL DO DIRIGENTE DA INSTITUIO ESPRITA
Unamo-nos, que a tarefa de todos ns. Somente a unio nos proporciona foras para o cumprimento de nossos servios,
trazendo a fraternidade por lema e a humildade por garantia do xito. Bezerra de Menezes (1982)
A Evangelizao Esprita da Criana e do Jovem, como rea integrada organizao do Centro
Esprita, necessita do apoio dos dirigentes e da equipe gestora da Instituio, visando ao adequado
desenvolvimento de suas aes.
Espritos como Bezerra de Menezes, Guillon Ribeiro e Francisco Thiesen, ao abordarem a relevncia
da Evangelizao Esprita junto criana e ao jovem, destacam o necessrio envolvimento das
instituies espritas, cujos trechos de mensagens e orientaes so apresentados a seguir:
Tem sido enfatizado, quanto possvel, que a tarefa da Evangelizao Esprita Infantojuvenil do mais alto significado dentre as atividades desenvolvidas pelas Instituies Espritas, na sua ampla e valiosa programao de apoio obra educativa do homem. No fosse a evangelizao, o Espiritismo, distante de sua feio evanglica, perderia sua misso de Consolador [...]. (Bezerra de Menezes, 1982, Sublime Sementeira, FEB, 2012)
Que dirigentes e diretores, colaboradores, diretos e indiretos, prestigiem sempre mais o atendimento a crianas e jovens nos agrupamentos espritas, seja adequando-lhes a ambincia para tal mister, adaptando ou, ainda, improvisando meios, de tal sorte que a evangelizao se efetue, se desenvolva, cresa, ilumine. (Guillon Ribeiro, 1963, ibid.)
Ao dirigente esprita cabe a tarefa de propiciar aos Evangelizadores todo o apoio necessrio ao bom xito do empreendimento espiritual. No apenas a contribuio moral de que necessitam, mas tambm as condies fsicas do ambiente, o entusiasmo doutrinrio atraindo os pais, as crianas e os jovens, facilitando o intercmbio entre todos os participantes e, por sua vez, envolvendo-se no trabalho que de todos ns, desencarnados e encarnados. (Francisco Thiesen, 1997, ibid.)
Nesse sentido, a sensibilizao, presena e apoio dos dirigentes para a organizao dos Espaos de
Ao com a Criana no Centro Esprita garantiro a sua realizao em ambiente de apoio mtuo,
favorecendo-lhes no apenas a oportunidade do estudo e prtica do Espiritismo, mas, igualmente,
as orientaes seguras de companheiros mais experientes.
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2.6. A IMPORTNCIA DA QUALIDADE: QUALIDADE DOUTRINRIA, QUALIDADE RELACIONAL,
QUALIDADE PEDAGGICA E QUALIDADE ORGANIZACIONAL
O solo frutifica sempre quando ajudado pelo cultivador. Usa, pois, o arado com que o Senhor te enriquece as mos, trabalhando a leira que te
cabe, com firmeza e esperana, na certeza de que a colheita farta coroar-te- os esforos, cada vez mais, desde que permaneas apoiado no propsito seguro de
corresponder ao programa de trabalho que o Pai te reserva, na oficina da luz, em busca da alegria inaltervel
Emmanuel (XAVIER, 2010b)
Semear Confiar na Colheita
A natureza, beleza e magnitude da Evangelizao Esprita da Criana e do Jovem convida-nos busca
permanente de sua qualidade. Considerando a tarefa como elevada semeadura, compete-nos o
exerccio contnuo para que os campos se ampliem com segurana e qualidade, proporcionando
espaos de real aprendizado e vivncia crist. A confiana na colheita depender, sobremaneira, da
qualidade da semeadura, manifestada em diferentes expresses: a qualidade doutrinria, capaz de
assegurar a fidedignidade dos postulados espritas; a qualidade relacional, condio fundamental
para constituio de um ambiente harmnico e de um trabalho fraternal em equipe; a qualidade
pedaggica, expressa na rica e correta utilizao de processos e recursos didtico-pedaggicos
adequados ao pblico com o qual se vai trabalhar; e a qualidade organizacional, que diz respeito
infraestrutura, aos recursos humanos e integrao de todos os envolvidos para o efetivo alcance
dos objetivos da evangelizao.
Qualidade doutrinria
Fidelidade Doutrina Esprita (Allan Kardec) e ao Evangelho de Jesus
Qualidade relacional
Zelo interpessoal, acolhimento, sensibilidade no olhar, na fala e na escuta
Qualidade pedaggica