Orientaçoes da CNBB sobre a RCC

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1 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ORIENTAÇÕES PASTORAIS SOBRE A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA 34ª Reunião Ordinária do Conselho Permanente/1994 Brasília, DF, 22 a 25 de novembro de 1994 APRESENTAÇÃO Em várias oportunidades, no decorrer dos últimos anos, a Renovação Carismática Católica tem merecido a atenção de nossos Bispos. A 32ª Assembléia Geral da CNBB, em abril de 1994, começou a estudar um projeto de orientações pastorais sobre a Renovação Carismática Católica, elaborado após ampla consulta a todas as Dioceses do País. Dado o acúmulo de trabalhos, a Assembléia não pôde concluir o estudo, delegando à Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral e ao Conselho Permanente o prosseguimento do mesmo até sua aprovação final. Uma nova comissão episcopal foi constituída e retomou o trabalho em diálogo com a Comissão Nacional da RCC e com Bispos e padres a ela mais ligados. Outras colaborações foram igualmente pedidas e recebidas. A partir de tudo isso a comissão elaborou um novo texto enviado à Presidência e CEP e por elas cuidadosamente estudado. As sugestões apresentadas levaram a comissão a reelaborar o texto, resultando numa segunda redação significativamente modificada. Enviado previamente a todos os membros do Conselho Permanente, o texto foi reescrito a partir das indicações feitas. Foi, portanto, uma terceira redação do texto que o Conselho discutiu, modificou e votou em sua reunião de novembro deste ano, aprovando-o por unanimidade de seus membros. É o resultado desse longo e cuidadoso trabalho que a CNBB entrega, agora, às Igrejas Particulares rogando a Maria, Mãe da Igreja, possam estas orientações pastorais contribuir para o crescimento da comunhão e do ardor missionário de nossas comunidades, dos membros da RCC e de todos os fiéis. Brasília, 27 de novembro de 1994. 1º Domingo do Advento do Senhor. D. A. Celso Queiroz Secretário-Geral da CNBB INTRODUÇÃO 1. Como pastores da Igreja Católica no Brasil, nós, Bispos, nos dirigimos a todos os fiéis, propondo uma reflexão sobre a Renovação Carismática Católica (RCC). De modo especial nos dirigimos aos fiéis que nela têm encontrado meios de crescimento em sua vida espiritual e apostólica. 2. O Espírito Santo anima e sustenta a vitalidade da Igreja em sua dupla dimensão fundamental de comunhão e missão. Ele suscita, orienta e assiste os grandes acontecimentos eclesiais como o Concílio Ecumênico, os Sínodos Episcopais, as Conferências dos Bispos e de outros membros do Povo de Deus, as Assembléias Diocesanas e outras... Ele sustenta também toda a grande obra missionária no mundo. É

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  1. 1. 1 CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL ORIENTAES PASTORAIS SOBRE A RENOVAO CARISMTICA CATLICA 34 Reunio Ordinria do Conselho Permanente/1994 Braslia, DF, 22 a 25 de novembro de 1994 APRESENTAO Em vrias oportunidades, no decorrer dos ltimos anos, a Renovao Carismtica Catlica tem merecido a ateno de nossos Bispos. A 32 Assemblia Geral da CNBB, em abril de 1994, comeou a estudar um projeto de orientaes pastorais sobre a Renovao Carismtica Catlica, elaborado aps ampla consulta a todas as Dioceses do Pas. Dado o acmulo de trabalhos, a Assemblia no pde concluir o estudo, delegando Presidncia, Comisso Episcopal de Pastoral e ao Conselho Permanente o prosseguimento do mesmo at sua aprovao final. Uma nova comisso episcopal foi constituda e retomou o trabalho em dilogo com a Comisso Nacional da RCC e com Bispos e padres a ela mais ligados. Outras colaboraes foram igualmente pedidas e recebidas. A partir de tudo isso a comisso elaborou um novo texto enviado Presidncia e CEP e por elas cuidadosamente estudado. As sugestes apresentadas levaram a comisso a reelaborar o texto, resultando numa segunda redao significativamente modificada. Enviado previamente a todos os membros do Conselho Permanente, o texto foi reescrito a partir das indicaes feitas. Foi, portanto, uma terceira redao do texto que o Conselho discutiu, modificou e votou em sua reunio de novembro deste ano, aprovando-o por unanimidade de seus membros. o resultado desse longo e cuidadoso trabalho que a CNBB entrega, agora, s Igrejas Particulares rogando a Maria, Me da Igreja, possam estas orientaes pastorais contribuir para o crescimento da comunho e do ardor missionrio de nossas comunidades, dos membros da RCC e de todos os fiis. Braslia, 27 de novembro de 1994. 1 Domingo do Advento do Senhor. D. A. Celso Queiroz Secretrio-Geral da CNBB INTRODUO 1. Como pastores da Igreja Catlica no Brasil, ns, Bispos, nos dirigimos a todos os fiis, propondo uma reflexo sobre a Renovao Carismtica Catlica (RCC). De modo especial nos dirigimos aos fiis que nela tm encontrado meios de crescimento em sua vida espiritual e apostlica. 2. O Esprito Santo anima e sustenta a vitalidade da Igreja em sua dupla dimenso fundamental de comunho e misso. Ele suscita, orienta e assiste os grandes acontecimentos eclesiais como o Conclio Ecumnico, os Snodos Episcopais, as Conferncias dos Bispos e de outros membros do Povo de Deus, as Assemblias Diocesanas e outras... Ele sustenta tambm toda a grande obra missionria no mundo.
  2. 2. 2 o mesmo Esprito que faz brotar sempre novas iniciativas no seio do Povo de Deus. Entre os vrios movimentos de renovao espiritual e pastoral do tempo ps-conciliar, surgiu a RCC que tem trazido novo dinamismo e entusiasmo para a vida de muitos cristos e comunidades. 3. Como Bispos, procuramos estar sempre atentos ao do Esprito, ajudando os cristos a valoriz-la. Freqentemente enfatizamos algum aspecto determinado da vida da Igreja que necessita de especial estmulo ou cuidado. assim que neste ano temos incentivado nossas comunidades para a celebrao do Ano Missionrio. Recentemente refletimos tambm com as CEBs ajudando-as a prosseguirem fiis em seu caminho. Nossa misso nos leva tambm a ajudar a discernir as verdadeiras moes do Esprito, incentivando tudo aquilo que contribui para o crescimento da Igreja e a realizao da sua misso. Em tudo, a busca da fidelidade deve ser constante, busca realizada na humildade e em esprito de comunho. 4. As orientaes fundamentais que aqui propomos para a RCC so vlidas e necessrias tambm para todas as comunidades em geral e para os demais movimentos e organismos de Igreja. Todos devemos aprofundar nossa vivncia eclesial, valorizando os novos caminhos que o Esprito suscita e evitando deturpaes e atitudes parciais que dificultam a comunho eclesial. 5. Nossa reflexo parte de uma meditao sobre o Esprito Santo no mistrio e na vida da Igreja, e se desdobra a seguir com orientaes pastorais sobre a Igreja Particular, a Leitura e Interpretao da Bblia, a Liturgia, e as Dimenses da F. Finalizamos com algumas indicaes de ordem mais prtica e concreta. 6. Este texto oferecido aos membros da RCC para ser refletido e aprofundado. Ele quer ser ponto de referncia para um dilogo constante dos pastores com os fiis nos vrios nveis da vida de Igreja. I. O ESPRITO SANTO NO MISTRIO E NA VIDA DA IGREJA 7. O Mistrio da Igreja surge na histria pela misso do Filho de Deus e do Esprito Santo. Enviado pelo Pai, o Verbo Divino assume a natureza humana para instaurar o Reino de Deus na terra e instituir a Igreja a seu servio, como germe e princpio desse Reino (cf. LG, 5b)1 . Enviado pelo Pai e pelo Filho, o Esprito Santo vivifica a Igreja e a faz crescer como Corpo Mstico de Cristo (LG, 8)2 . 8. Estando para consumar a obra que o Pai lhe confiara, Jesus promete o envio do Esprito Santo que continua e aprofunda a prpria misso de Cristo (cf. Jo 14,17.26)3 . Ele no falar por si mesmo, mas ensinar e recordar aos discpulos tudo o que Jesus lhes disse (cf. Jo 14,26)4 . Ele glorificar Jesus porque receber o que de Jesus e o comunicar (cf. Jo 16,14)5 . 9. Em Pentecostes, pela fora do Esprito Santo, os apstolos se tornam testemunhas da Ressurreio (cf. At 1,8; 5,32)6 e a Igreja-comunho inicia a sua misso, espalhando-se pelo mundo com dons e carismas diferentes. Jesus continua sua misso evangelizadora pela ao do Esprito Santo, o agente principal da evangelizao, atravs de sua Igreja (CNBB, Doc. 45, 255)7 . O Esprito Santo, protagonista de toda misso eclesial (RMi, 21)8 leva a Igreja a evangelizar com renovado ardor missionrio. 10. O Esprito Santo o intercessor que nos introduz na vida da Trindade, para a realizao do projeto de Deus, na adoo filial, na glorificao dos filhos de Deus e da prpria criao (cf. Rm 8,19-27)9 . Faz de cada cristo uma testemunha (cf. At 1,8 e 5,32)10 , gera dinamismo interior nos apstolos, tornando-os os primeiros evangelizadores na expanso missionria da Igreja, realiza a unidade entre os que crem para que sejam um s corao e uma s alma (At 4,32)11 , e para permanecerem unidos na doutrina dos apstolos, na comunho fraterna, na frao do po e nas oraes (At 2,42)12 . Habitando em ns (cf. Rm 8,9)13 , faz morrer as obras do pecado
  3. 3. 3 (cf. Rm 8,12)14 . Ele comunica a verdadeira paz, que comunho na vida feliz de Deus. Aquele que vem em auxlio de nossa fraqueza porque nem sabemos o que convm pedir (Rm 8,26)15 . 11. O cristo, pela graa batismal, introduzido na intimidade da vida trinitria, partilhando da sua riqueza na comunidade eclesial. A plena comunho da Trindade manifesta-se na Comunidade-Igreja e oferece vida nova (cf. 2Pd 1,4; Ef 4,24; Cl 3,10)16 de relacionamento de filhos com o Pai (Gl 4,6)17 . 12. Quem se deixa conduzir pelo Esprito Santo faz de sua vida um testemunho de Jesus Bom Pastor (cf. Jo 10,10)18 . No poder, portanto, retirar-se dos problemas e ambigidades da convivncia humana, mas buscar construir fraternidade. No so os que dizem Senhor, Senhor que entraro no Reino de Deus, mas os que fazem a vontade de meu Pai que est nos cus (Mt 7,21)19 . 13. O Esprito ensina, santifica e conduz o Povo de Deus atravs da pregao e acolhida da Palavra, da celebrao dos sacramentos e da orientao dos pastores. Distribui tambm graas ou dons especiais a cada um como lhe apraz (1Cor 12,11)20 , sempre para a utilidade comum. Por essas graas, Ele os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vrios trabalhos e ofcios, que contribuem para a renovao e maior incremento da Igreja (cf. 1Cor 12,2; LG 12b)21 . 14. O Esprito Santo distribui seus dons aos fiis, de tal forma que ningum possui todos eles, como ningum est totalmente privado deles (cf. 1Cor 12,4ss)22 . Esses dons so sempre para o servio da comunidade (cf. 1Cor 14)23 . No a experincia dos carismas que exprime a perfeio da salvao, mas a caridade que deve perpassar toda a vida do cristo (cf. Mc 12, 28-31; 1Cor 13)24 . Procur-la o primeiro e melhor caminho para a edificao do Corpo de Cristo que a Igreja (cf. 1Cor 12,31-13,13; LG, 42; AA, 3)25 . 15. Hoje ele continua renovando a Igreja atravs de mltiplas e novas expresses de f e coerncia crist. Podemos enumerar como frutos do Esprito os novos sujeitos da evangelizao; a expanso e vitalidade das CEBs; movimentos de renovao espiritual e pastoral; a prpria RCC; o engajamento de leigos na transformao da sociedade; a leitura da Bblia luz das situaes vividas na comunidade; a liturgia mais participada com a riqueza de seus ritos e simbologia; a busca de evangelizao inculturada; a fidelidade de muitos na vida cotidiana; as lutas do povo para a implantao dos direitos humanos; a prtica da justia e da promoo social (cf. CNBB, Doc. 45, 301-302)26 . II. ORIENTAES PASTORAIS A) A Igreja Particular 16. O Conclio Vaticano II ensina que a Igreja Particular uma poro do Povo de Deus, confiada a um bispo para que a pastoreie com a cooperao do presbitrio e dos diconos. Nela verdadeiramente reside e opera a Una, Santa, Catlica e Apostlica Igreja de Cristo (cf. CD, 11)27 . 17. Conforme o prprio Conclio Vaticano II, a comunidade eclesial edificada pelo Esprito Santo, mediante o anncio da Palavra (Evangelho), a celebrao da Eucaristia e dos outros sacramentos, a vida de comunho do Povo de Deus com seus carismas e ministrios, entre os quais sobressai o ministrio episcopal-presbiteral-diaconal, que tem a responsabilidade de garantir os laos que unem a comunidade de hoje com a Igreja apostlica e com o projeto missionrio, evangelizador, que lhe confiado at o fim dos tempos (CNBB, Doc. 45, 196)28 . 18. A liberdade associativa dos fiis reconhecida e garantida pelo Direito Cannico e deve ser exercida na comunho eclesial. O Papa Joo Paulo II, na sua Exortao Apostlica Christifideles Laici (n. 30)29 , aponta critrios fundamentais para o
  4. 4. 4 discernimento de toda e qualquer associao dos fiis leigos na Igreja, que podem ser aplicados a todos os grupos eclesiais: o primado dado vocao de cada cristo santidade, favorecendo e encorajando uma unidade ntima entre a vida prtica dos membros e a prpria f (AA, 19)30 ; a responsabilidade em professar a f catlica, no seu contedo integral, acolhendo e professando a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre a pessoa humana; o testemunho de uma comunho slida com o papa e com o bispo, e na estima recproca de todas as formas de apostolado da Igreja (AA, 23)31 ; a conformidade e a participao na finalidade apostlica da Igreja, que a evangelizao e santificao dos homens... de modo a permear de esprito evanglico as vrias comunidades e os vrios ambientes (cf. AA, 20)32 ; o empenho de uma presena na sociedade humana a servio da dignidade integral da pessoa humana, mediante a participao e solidariedade, para construir condies mais justas e fraternas no seio da sociedade. 19. Reconhecendo-se a presena da RCC em muitas Dioceses e tambm a contribuio que tem trazido Igreja no Brasil, preciso estabelecer o dilogo fraterno no seio da comunidade eclesial, apoiando o sadio pluralismo, acolhendo a diversidade de carismas e corrigindo o que for necessrio. 20. Nenhum grupo na Igreja deve subestimar outros grupos diferentes, julgando-se ser o nico autenticamente cristo. 21. A RCC assuma com fidelidade as diretrizes e orientaes pastorais da CNBB. A Coordenao Nacional da RCC ter um bispo designado pela CNBB, como seu Assistente Espiritual, que lhe dar acompanhamento e ajudar nas questes de carter nacional, zelando pela reta aplicao destas orientaes pastorais, sem prejuzo da autoridade de cada bispo diocesano. 22. A RCC assuma tambm as opes, diretrizes e orientaes da Igreja Particular onde se faz presente, evitando qualquer paralelismo e integrando-se na pastoral orgnica. 23. Os Bispos e os procos procurem dar acompanhamento RCC diretamente ou atravs de pessoas capacitadas para isso. Por sua vez, a RCC aceite as orientaes e colabore com as pessoas encarregadas desse acompanhamento. 24. Os membros da RCC participem dos Encontros, Cursos, Crculos Bblicos e outras atividades pastorais e de formao promovidos pelas Igrejas Particulares, bem como dos momentos fortes que marcam a vida eclesial, tais como Campanha da Fraternidade, Ms da Bblia, Ms Missionrio, Preparao de Natal e outros. 25. Deve-se tambm reconhecer a legitimidade de encontros e reunies especficos da RCC, nos quais seus membros buscam aprofundar sua espiritualidade e mtodos prprios, dentro da doutrina da f e da grande comunho da Igreja Catlica. 26. As Equipes de coordenao da RCC, integradas s diversas instncias pastorais da Igreja Particular, visem uma comunho plena com as Comunidades, Associaes, Pastorais Especficas, Servios e Organismos existentes na Diocese, respeitando-os, valorizando-os, reconhecendo-os e colaborando com elas na busca de uma autntica articulao pastoral (cf. CNBB, Doc. 45, 295-296)33 . 27. Os Grupos de Orao alimentem o esprito de comunho eclesial, busquem o crescimento na f e a perseverana de seus participantes levando-os a um efetivo compromisso na evangelizao engajando-se na Comunidade, Parquia e Diocese. 28. As tarefas de coordenao, animao de grupos e de evangelizao sejam confiadas a pessoas adequadamente preparadas e de comprovada vivncia crist.
  5. 5. 5 29. Evite-se na RCC a utilizao de termos j consagrados na linguagem comum da Igreja e que na RCC assumem significado diferente, tais como pastor, pastoreio, ministrio, evangelizador e outros. 30. O programa recentemente lanado pela RCC no Brasil, intitulado Ofensiva Nacional, assuma o Objetivo e as Diretrizes Gerais da Ao Pastoral da Igreja no Brasil. Seus projetos s podero ser implantados em sintonia com os organismos pastorais da Diocese. 31. Os convites a pessoas de outras Dioceses para conferncias, palestras, seminrios e outros eventos, sejam feitos com a devida anuncia do bispo diocesano ou de quem for por ele indicado. 32. Os manuais de orao, livros de estudos bblicos e de formao doutrinal, dada sua importncia pastoral, tenham aprovao eclesistica. B) Leitura e Interpretao da Bblia 33. A Palavra de Deus a prpria presena do Deus que fala: Escrutai as Escrituras... elas do testemunho de mim (Jo 5,39)34 . Cristo, Evangelho vivo do Pai, no s o centro da Bblia, mas tambm seu intrprete (cf. Lc 24,13-35)35 . A Igreja venera as divinas Escrituras como o prprio Corpo do Senhor (DV, 21)36 . E no apenas transmite a Palavra de Deus, mas tambm a interpreta (cf. Interpretao da Bblia na Igreja, Pontifcia Comisso Bblica, 127)37 . 34. A Bblia manifesta o Plano salvfico de Deus de modo unitrio. Por isso, no se podem utilizar textos ou palavras, sem referncia ao contexto e ao conjunto da Bblia (cf. idem, 142)38 . 35. Para no prejudicar uma reta leitura da Bblia, preciso estar atentos para no cair, entre outros, nos seguintes perigos: 1 O fundamentalismo, que fixar-se apenas no que as palavras dizem materialmente sem respeitar o contexto nem a contribuio das cincias bblicas; 2 O intimismo, que interpretar a Bblia de modo subjetivo, e at mgico, fazendo o texto dizer o que no era inteno dos autores sagrados. Sobre isso, sigam-se as orientaes do Magistrio, especialmente o recente documento da Pontifcia Comisso Bblica sobre a interpretao da Bblia na Igreja. 36. urgente a formao doutrinal de todos os fiis, seja para o natural dinamismo da f, seja para iluminar com critrios evanglicos os graves e complexos problemas do mundo contemporneo (ChL, 60)39 . D-se especial importncia formao bblica, que oferea slidos princpios de interpretao. 37. Estimule-se a prtica da leitura orante da Bblia (= lectio divina), fazendo dela fonte e inspirao de nosso encontro com Deus e com os irmos. C) Liturgia 38. Na Liturgia, especialmente na Eucaristia, celebra-se a realidade fundamental da Pscoa: morte e ressurreio de Jesus Cristo, morte e ressurreio do batizado com Cristo. Na ao litrgica, devem encontrar espao todas as realidades da vida cotidiana do cristo, pois com todos os aspectos da sua pessoa que ele tem de passar deste mundo ao Pai. Ao participar na celebrao, o cristo ter presente suas aspiraes, alegrias, sofrimentos, projetos, bem como os de todos os seus irmos. E colocar todas estas intenes na orao que sua comunidade, com toda a Igreja, dirige ao Pai, com Cristo Salvador, na unidade do Esprito Santo (Joo Paulo II, Diretrizes aos Bispos do Brasil, Loyola, 1991, p.44)40 . 39. A dimenso litrgica exprime, pois, o carter celebrativo da Igreja. Constitui, na terra, a expresso mais significativa da comunho eclesial. Na Liturgia, o Povo de Deus
  6. 6. 6 encontra seu maior momento de festa e de comunho eclesial (CNBB, Doc. 45, 92)41 . Por isso, seja dada especial ateno formao litrgica de todos os membros da RCC para maior compreenso e vivncia do mistrio e de sua expresso simblico-ritual e ministerial, visando uma autntica prtica celebrativa, que leve em conta o espao e o tempo litrgico. 40. Nas celebraes, observe-se a legislao litrgica que, embora estabelea normas precisas para certos momentos, abre amplo espao para a criatividade. No se introduzam elementos estranhos tradio litrgica da Igreja ou que estejam em desacordo com o que estabelece o Magistrio ou aquilo que exigido pela prpria ndole da celebrao. 41. Na celebrao da Missa, no se deve salientar de modo inadequado as palavras da Instituio, nem se interrompa a Orao Eucarstica para momentos de louvor a Cristo presente na Eucaristia com aplausos, vivas, procisses, hinos de louvor eucarstico e outras manifestaes que exaltem de tal maneira o sentido da presena real que acabem esvaziando as vrias dimenses da celebrao eucarstica. 42. Os cantos e os gestos sejam adequados ao momento celebrativo e de acordo com os critrios exigidos para a celebrao litrgica. So preciosas e oportunas as orientaes do documento n. 43 da CNBB sobre Animao da vida litrgica no Brasil. Procure-se distinguir cantos para uso litrgico e cantos para encontros. Valorizem-se os Hinrios Litrgicos publicados pela CNBB, os Livros de Cantos das Igrejas Particulares e outros Hinrios difundidos entre o povo. 43. A Celebrao Eucarstica, a distribuio da Sagrada Comunho fora da Missa e o Culto Eucarstico realizem-se dentro das normas litrgicas, as diretrizes da CNBB e as orientaes do bispo diocesano. 44. Cuide-se para que no haja coincidncia de reunies de grupos ou outras iniciativas da RCC com a celebrao da Santa Missa ou outras celebraes da comunidade eclesial. D) Dimenses da vivncia da F 45. Pela vivncia do mistrio de Cristo na vida cotidiana, o Povo de Deus aprofunda constantemente o sentido da f (CNBB, Doc. 45, 86)42 . A prpria dinmica da f comporta tanto a dimenso pessoal e subjetiva, como a comunitria. A f nasce do anncio e cada comunidade eclesial consolida-se e vive da resposta pessoal de cada fiel a esse anncio (RMi, 44)43 . 46. A experincia religioso-crist no se realiza em mera experincia subjetiva, mas no encontro com a Palavra de Deus confiada ao Magistrio e Tradio da Igreja, nos sacramentos e na comunho eclesial (CNBB, Doc. 45, 175)44 . Isso faz parte do desgnio de Deus a quem aprouve chamar os homens a participar da sua prpria vida, no um a um, mas constitudos como povo, no qual seus filhos dispersos fossem reconduzidos unidade (AG 2)45 . 47. A f no pode ser reduzida a uma busca de satisfao de exigncias ntimas e de resposta s necessidades imediatas. Nem se pode propor a f crist sem a dimenso da cruz, inerente ao seguimento de Jesus Cristo (cf. Lc 14, 25-35)46 , caminho para a vida plena na ressurreio. 48. fundamental para a realizao da vida crist e da ao pastoral o sentido comunitrio da f. A formao de pessoas e de comunidades vivas e maduras na f resposta aos desafios da Nova Evangelizao e da ao missionria. A misso nasce da f em Jesus Cristo e fortifica-se quando partilhada (cf. RMi, 4 e 2)47 . 49. A espiritualidade crist integra o social e o espiritual, o humano e o religioso. No est, porm, isenta das ambigidades e mesmo distores que podem caracterizar as
  7. 7. 7 reaes do psiquismo humano, seja individual, seja grupal. Por isso, evite-se alimentar um clima de exaltao da emoo e do sentimento, que enfatiza apenas a dimenso subjetiva da experincia da f. 50. Para expandir o projeto de Deus, o cristo deve comprometer-se com a criao de uma sociedade justa e solidria, eliminando o pecado como gerador de diviso com Deus e os irmos. A dimenso social da f, luz da Doutrina Social da Igreja, requer a luta para debelar as estruturas de pecado: pessoal, comunitrio, social e estrutural, e assim estabelecer o Reino de Cristo e de Deus (cf. LG, 5)48 . Recomenda-se, pois, que membros dos grupos de orao sejam animados a assumir projetos de promoo humana e social, especialmente dos pobres e marginalizados. 51. A evanglica opo preferencial pelos pobres um dom do Esprito Santo Igreja, que tambm concedido, como carisma especial, a alguns grupos de cristos leigos, a certas famlias religiosas e a muitos fiis. Segundo a recomendao do apstolo: aspirai aos carismas melhores (1Cor 12,31)49 , a vivncia da opo pelos pobres deve ser desejada e implorada por todos como carisma precioso, a ser vivido em nossos dias, como sinal da presena do Reino. 52. A falta de coerncia entre a f que se professa e a vida cotidiana uma das vrias causas que geram pobreza em nosso Pas. Os cristos nem sempre souberam encontrar na f a fora necessria para penetrar os critrios e as decises dos setores responsveis pela organizao social, econmica e poltica de nosso povo (cf. DSD 161)50 . E) Questes Particulares 53. Alguns temas necessitam de maior aprofundamento teolgico, dilogo eclesial e orientao pastoral, tais como: Batismo no Esprito Santo, dons e carismas, dom da cura, orar e falar em lnguas, profecia, repouso no Esprito, poder do mal e exorcismo. 54. A palavra Batismo significa tradicionalmente o sacramento da iniciao crist. Por isso, ser melhor evitar o uso da expresso Batismo no Esprito, ambgua, por sugerir uma espcie de sacramento. Podero ser usados termos como efuso do Esprito Santo, derramamento do Esprito Santo. Do mesmo modo, no se utilize o termo confirmao para no confundir com o sacramento da Crisma (cf. Comisso Episcopal de Doutrina, Comunicado Mensal, Dez. de 1993, 2217)51 . 55. Dons e Carismas: O grande dom, que deve ser por todos desejado, o da caridade: Aspirai aos dons mais altos. Alis, passo a indicar-vos um caminho que ultrapassa a todos... (1Cor 12,31-13,13)52 . A caridade o primeiro dom e o mais necessrio, pelo qual amamos a Deus acima de tudo e o prximo por causa dele (LG, 42)53 . 56. O Esprito Santo unifica a Igreja na comunho e no ministrio. Dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierrquicos e carismticos (LG, 4)54 . O Esprito opera pelas mltiplas graas especiais, chamadas de carismas, atravs das quais torna os fiis aptos e prontos a tomarem sobre si os vrios trabalhos e ofcios que contribuem para a renovao e maior incremento da Igreja (Catecismo da Igreja Catlica, 798)55 . Os carismas devem ser recebidos com gratido e consolao. E no devem ser temerariamente pedidos nem se ter a presuno de possu-los (cf. LG, 12)56 . 57. Haja muito discernimento na identificao de carismas e dons extraordinrios. Diante das pessoas que teriam carismas especiais, o juzo sobre sua autenticidade e seu ordenado exerccio compete aos pastores da Igreja. A eles, em especial, cabe no extinguir o Esprito, mas provar as coisas para ficar com o que bom (cf. 1Ts 5,12.19.21)57 . Assim, tambm no que se refere aos carismas, a RCC se atenha rigorosamente s orientaes do Bispo diocesano.
  8. 8. 8 58. Dom da cura: O Senhor d a algumas pessoas um carisma especial de cura, para manifestar a fora da graa do Ressuscitado. No entanto, as oraes mais intensas no conseguem obter a cura de todas as doenas. So Paulo aprende do Senhor que basta minha graa, pois na fraqueza que minha fora manifesta todo seu poder (2Cor 12,9)58 , e que os sofrimentos que temos que superar podem ter como sentido completar na minha carne o que falta s tribulaes de Cristo pelo seu corpo, que a Igreja (Cl 1,24)59 . 59. Ao implorar a cura, nos encontros da RCC ou em outras celebraes, no se adote qualquer atitude que possa resvalar para um esprito milagreiro e mgico, estranho prtica da Igreja Catlica (cf. Eclo 38,11-12)60 . 60. Nas celebraes com doentes, no se usem gestos que do a falsa impresso de um gesto sacramental coletivo ou que uma espcie de fluido espiritual viesse a operar curas. 61. O leo dos Enfermos no deve ser usado fora da celebrao do Sacramento. Para no criar confuso na mente dos fiis, quem no sacerdote no faa uso do leo em bno de doentes, mas use apenas o Ritual de Bnos oficial da Igreja. 62. Orar e falar em lnguas: O destinatrio da orao em lnguas o prprio Deus, por ser uma atitude da pessoa absorvida em conversa particular com Deus. E o destinatrio do falar em lnguas a comunidade. O apstolo Paulo ensina: Numa assemblia prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligncia para instruir tambm aos outros, a dizer dez mil palavras em lnguas (1Cor 14,19)61 . Como difcil discernir, na prtica, entre inspirao do Esprito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, no se incentive a chamada orao em lnguas e nunca se fale em lnguas sem que haja intrprete. 63. Dom da profecia: Na Bblia, profeta o que fala em nome de Deus. Significa, pois, um evangelizador. a comunicao de assuntos espirituais aos participantes de reunies comunitrias, aos quais se dirigem palavras de exortao e encorajamento. Aquele que profetiza, fala aos homens: edifica, consola, exorta (1Cor 14,3)62 . um dom para o bem da comunidade e no tem em vista adivinhaes futuras. 64. Haja grande discernimento quanto ao dom da profecia, eliminando qualquer dependncia mgica e at supersticiosa. 65. Em Assemblias, grupos de orao, retiros e outras reunies evite-se a prtica do assim chamado repouso no Esprito. Essa prtica exige maior aprofundamento, estudo e discernimento. 66. Poder do mal e exorcismo: Cristo venceu o demnio e todo o esprito do mal. Nem tudo se pode atribuir ao demnio, esquecendo-se o jogo das causas segundas e outros fatores psicolgicos e at patolgicos. 67. Quanto ao poder do mal, no se exagere a sua importncia. E no se presuma ter o poder de expulsar demnios. O exorcismo s pode ser exercido de acordo com o que estabelece o Cdigo de Direito Cannico (Cn. 1172)63 . Por isso, seja afastada a prtica, onde houver, do exorcismo exercido por conta prpria. 68. Procure-se, ainda, formar adequadamente as lideranas e os membros da RCC para superar uma preocupao exagerada com o demnio, que cria ou refora uma mentalidade feitichista, infelizmente presente em muitos ambientes. CONCLUSO 69. As orientaes aqui oferecidas so expresso da solicitude pastoral com que o episcopado brasileiro acompanha a RCC e seu carisma prprio dentro do legtimo
  9. 9. 9 pluralismo, mas tambm mostrando sua preocupao com desvios ocorridos, que so prejudiciais para a RCC e para toda a Igreja. 70. Seja este um ponto de partida para uma nova e mais fecunda etapa em que a RCC h de buscar sua maior integrao nas Igrejas Particulares, em conformidade com as Diretrizes Gerais da Ao Pastoral da Igreja no Brasil. 71. Pedimos a Deus que abenoe os membros da RCC e a todos que se empenham, nos dias de hoje, com humildade e confiana a viver a vocao santidade e o compromisso missionrio. Maria, Me da Igreja, interceda para que todos, no seguimento de Jesus Cristo, aspirando aos diversos dons do Esprito, procurem sempre o amor que permanece (1Cor 14,1)64 . _________________________________ Nota:1 cf. LG, 5b: Depois de morrer na cruz, por todos os seres humanos, Jesus ressuscitou, aparecendo como Senhor, Cristo e sacerdote para sempre (cf. At 2, 36; cf. Hb 5, 6; 7, 17-21). Derramou ento nos seus discpulos o Esprito prometido pelo Pai (cf. At 2, 33). A Igreja foi assim enriquecida pelos dons do seu fundador. Procurando observar fielmente seus preceitos de caridade, humildade e abnegao, recebe a misso de anunciar e de promover o reino de Cristo e de Deus junto a todos os povos. Constitui pois, a Igreja, o germe e o incio do reino na terra. Enquanto vai crescendo, aspira de todo corao pela consumao do reino e deseja, com todas as sua foras, unir-se a seu rei na glria. Nota:2 cf. LG, 8: Mediador nico, Cristo constituiu sua santa Igreja, comunidade de f, esperana e caridade como realidade visvel na terra, de que garante a continuidade, para a todos levar a verdade e a graa. Sociedade hierarquicamente estruturada e corpo mstico de Cristo, grupo visvel de pessoas e comunidade invisvel, Igreja terrestre, mas ao mesmo tempo cumulada de bens celestiais, no pode ser considerada duas coisas, mas uma nica realidade complexa, composta de dois elementos, o humano e o divino. Compara-se pois, em profundidade, com o mistrio do Verbo encarnado. Assim como a natureza humana, assumida pelo Verbo divino qual instrumento vivo da salvao, o serve, estando-lhe intimamente unida, a realidade social da Igreja est a servio do Esprito de Cristo, que a anima, em vista do crescimento do corpo (cf. Ef 4, 16). Assim a nica Igreja de Cristo, que professamos no Credo ser una, santa, catlica e apostlica. Cristo ressuscitado a entregou aos cuidados de Pedro (cf. Jo 21, 17), confiou-a a ele e aos demais apstolos, para ser difundida e governada (cf. Mt 28, 18ss) e a estabeleceu para sempre como alicerce e coluna da verdade (cf. 1Tm 3, 15). Constituda e estabelecida assim como sociedade, neste mundo, a Igreja subsiste na Igreja Catlica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos bispos, em comunho com ele. Todavia, fora de sua realidade visvel, encontram-se muitos elementos de santidade e de verdade. So riquezas autnticas da Igreja de Cristo. Verdadeiros apelos unidade catlica. Ora, assim como Cristo realizou a obra da redeno na pobreza e na perseguio, a Igreja tambm chamada a trilhar o mesmo caminho, para comunicar aos homens os frutos da salvao. Cristo, que existia na condio divina, aniquilou-se, assumindo a condio de servo (Fl 2, 6-7), por nossa causa se tornou pobre, embora fosse rico (2Cor 8, 9). Assim tambm a Igreja, apesar dos recursos necessrios ao cumprimento de sua misso, no cresce em funo do sucesso, mas da humildade e da abnegao que venha a proclamar, inclusive pelo exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai para evangelizar os pobres e aliviar os coraes feridos (Lc 4, 18), buscar e salvar os que se haviam perdido (Lc 19, 10). Da mesma forma, a Igreja envolve com amor todos os que sofrem. Reconhece nos pobres e nos desvalidos a imagem de seu fundador, pobre e sofredor, empenha-se em combater a pobreza e se coloca a servio dos pobres, como a servio de Cristo. Santo, inocente e imaculado (Hb 7, 26), Cristo jamais pecou (cf. 2Cor 5, 21). Veio se oferecer unicamente pelos pecados dos outros (cf. Hb 2, 17). A Igreja, porm, tendo em seu seio pecadores, ao mesmo tempo santa e est em constante purificao, no deixando jamais de fazer penitncia e de buscar sua prpria renovao. A Igreja caminha entre as perseguies do mundo e as consolaes de Deus anunciando a cruz e a morte do Senhor at que ele venha (cf. 1Cor 11, 26). Manifestar-se- ento em plena luz a fora do Senhor ressuscitado que a sustenta e a faz superar com pacincia e amor todas as aflies e dificuldades internas ou externas. Assim, a Igreja revela fielmente ao mundo o mistrio de Cristo, embora de maneira velada. Nota:3 cf. Jo 14,17.26: Ele o Esprito da Verdade, que o mundo no pode acolher, porque no o v, nem o conhece. Vocs o conhecem, porque ele mora com vocs, e estar com vocs. (...) Mas o Advogado, o Esprito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinar a vocs todas as coisas e far vocs lembrarem tudo o que eu lhes disse. Nota:4 cf. Jo 14,26: Mas o Advogado, o Esprito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinar a vocs todas as coisas e far vocs lembrarem tudo o que eu lhes disse. Nota:5 cf. Jo 16,14: O Esprito da Verdade manifestar a minha glria, porque ele vai receber daquilo que meu, e o interpretar para vocs. Nota:6
  10. 10. 10 cf. At 1,8: Mas o Esprito Santo descer sobre vocs, e dele recebero fora para serem as minhas testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e Samaria, e at os extremos da terra. cf. At 5,32: E ns somos testemunhas dessas coisas, ns e o Esprito Santo, que Deus concedeu queles que lhe obedecem. Nota:7 cf. CNBB, Doc. 45, 255: Jesus Cristo continua sua misso evangelizadora pela ao do Esprito Santo, o agente principal da Evangelizao, atravs de sua Igreja. Nota:8 cf. RMi, 21: No pice da misso messinica de Jesus, o Esprito Santo aparece-nos, no Mistrio pascal, em toda a sua subjetividade divina, como aquele que deve continuar, agora, a obra salvfica, radicada no sacrifcio da cruz. Esta obra, sem dvida, foi confiada aos homens: aos apstolos e Igreja. No entanto, nestes homens e por meio deles, o Esprito Santo permanece o sujeito protagonista transcendente da realizao dessa obra, no esprito do homem e na histria do mundo. Verdadeiramente, o Esprito Santo o protagonista de toda a misso eclesial: sua obra brilha esplendorosamente na misso ad gentes, como se v na Igreja primitiva, pela converso de Cornlio (cf. At 10), pelas decises acerca dos problemas surgidos (cf. At 15) e pela escolha dos territrios e povos (cf. At 16,6s). O Esprito Santo age por meio dos apstolos, mas, ao mesmo tempo, opera nos ouvintes: por sua ao a Boa-Nova ganha corpo nas conscincias e nos coraes humanos, expandindo-se na histria. Em tudo isso, o Esprito Santo que d a vida. Nota:9 cf. Rm 8,19-27: A prpria criao espera com impacincia a manifestao dos filhos de Deus. Entregue ao poder do nada no por sua prpria vontade, mas por vontade daquele que a submeteu , a criao abriga a esperana, pois ela tambm ser liberta da escravido da corrupo, para participar da liberdade e da glria dos filhos de Deus. Sabemos que a criao toda geme e sofre dores de parto at agora. E no somente ela, mas tambm ns, que possumos os primeiros frutos do Esprito, gememos no ntimo, esperando a adoo, a libertao para o nosso corpo. Na esperana, ns j fomos salvos. Ver o que se espera j no esperar: como se pode esperar o que j se v? Mas, se esperamos o que no vemos, na perseverana que o aguardamos. Do mesmo modo, tambm o Esprito vem em auxlio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convm pedir; mas o prprio Esprito intercede por ns com gemidos inefveis. E aquele que sonda os coraes sabe quais so os desejos do Esprito, pois o Esprito intercede pelos cristos de acordo com a vontade de Deus. Nota:10 cf. At 1,8: Mas o Esprito Santo descer sobre vocs, e dele recebero fora para serem as minhas testemunhas em Jerusalm, em toda a Judia e Samaria, e at os extremos da terra. cf. At 5,32: E ns somos testemunhas dessas coisas, ns e o Esprito Santo, que Deus concedeu queles que lhe obedecem. Nota:11 cf. At 4,32: A multido dos fiis era um s corao e uma s alma. Ningum considerava propriedade particular as coisas que possua, mas tudo era posto em comum entre eles. Nota:12 cf. At 2,42: Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apstolos, na comunho fraterna, no partir do po e nas oraes. Nota:13 cf. Rm 8,9: Uma vez que o Esprito de Deus habita em vocs, vocs j no esto sob o domnio dos instintos egostas, mas sob o Esprito, pois quem no tem o Esprito de Cristo no pertence a ele. Nota:14 cf. Rm 8,12: Portanto, irmos, ns somos devedores, mas no dos instintos egostas para vivermos de acordo com eles. Nota:15 cf. Rm 8,26: Do mesmo modo, tambm o Esprito vem em auxlio da nossa fraqueza, pois nem sabemos o que convm pedir; mas o prprio Esprito intercede por ns com gemidos inefveis. Nota:16 cf. 2Pd 1,4: Por meio delas que ele nos deu os bens extraordinrios e preciosos que tinham sido prometidos, e com esses vocs se tornassem participantes da natureza divina, depois de escaparem da corrupo que o egosmo provoca neste mundo. cf. Ef 4,24: e se revistam do homem novo, criado segundo Deus na justia e na santidade que vem da verdade. cf. Cl 3,10: e se revestiram do homem novo que, atravs do conhecimento, vai se renovando imagem do seu Criador. Nota:17 cf. Gl 4,6: A prova de que vocs so filhos o fato de que Deus enviou aos nossos coraes o Esprito do seu Filho que clama: Abba, Pai!. Nota:18 cf. Jo 10,10: O ladro s vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundncia. Nota:19 Mt 7,21: Nem todo aquele que me diz Senhor, Senhor, entrar no Reino do Cu. S entrar aquele que pe em prtica a vontade do meu Pai, que est no cu. Nota:20 cf. 1Cor 12,11: Mas o nico e mesmo Esprito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer. Nota:21 cf. 1Cor 12,2: Vocs sabem que, quando eram pagos, se sentiam irresistivelmente arrastados para os dolos mudos.
  11. 11. 11 cf. LG 12b: O Esprito Santo distribui graas especiais aos fiis das mais variadas condies, tornando-os aptos e dispostos a assumir os trabalhos e funes teis renovao e ao maior desenvolvimento da Igreja, de acordo com o que est escrito: Cada um recebe o dom de manifestar o Esprito, para utilidade de todos (1Cor 12, 7). Todos esses carismas, dos mais extraordinrios aos mais simples e mais difundidos devem ser acolhidos com ao de graas e satisfao, pois correspondem s necessidades da Igreja e lhe so teis. No se deve porm cobiar temerariamente os dons extraordinrios nem esperar deles, com presuno, frutos significativos nos trabalhos apostlicos. A apreciao sobre os dons e seu exerccio ordenado no seio da Igreja pertence aos que a presidem, que tm especial mandato de no abafar o Esprito, mas tudo provar e reter o que bom (cf. 1Ts 5, 12.19-21). Nota:22 cf. 1Cor 12,4ss: Existem dons diferentes, mas o Esprito o mesmo; diferentes servios, mas o Senhor o mesmo; diferentes modos de agir, mas o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Nota:23 cf. 1Cor 14: Procurem o amor. Entretanto, aspirem aos dons do Esprito, principalmente profecia. Pois aquele que fala em lnguas no fala aos homens, mas a Deus. Ningum o entende, pois ele, em esprito, diz coisas incompreensveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em lnguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assemblia. Eu desejo que vocs todos falem em lnguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza maior do que aquele que fala em lnguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assemblia seja edificada. Suponham, irmos, que eu v encontr-los falando em lnguas: como serei til, se minha palavra no levar para vocs nem revelao, nem cincia, nem profecia, nem ensinamento? O mesmo acontece com os instrumentos musicais, como a flauta ou a ctara: se no produzirem sons distintos, como reconhecer quem toca a flauta ou quem toca a ctara? E se a trombeta produzir um som confuso, quem se preparar para a guerra? Assim tambm vocs: se a sua linguagem no se exprime em palavras inteligveis, como se poder compreender o que vocs dizem? Estaro falando ao vento. No mundo existem no sei quantas espcies de linguagem, e no existe nada sem linguagem. Ora, se eu no conheo a fora da linguagem, serei como estrangeiro para aquele que fala, e aquele que fala ser um estrangeiro para mim. Assim tambm vocs: j que aspiram aos dons do Esprito, procurem t-los em abundncia para edificarem a Igreja. Por isso, aquele que fala em lnguas deve rezar para que ele mesmo possa interpret-las. Se rezo em lnguas, o meu esprito est em orao, mas a minha inteligncia no colhe fruto nenhum. O que fazer ento? Rezarei com meu esprito, mas rezarei tambm com a minha inteligncia; cantarei com o meu esprito, mas cantarei tambm com a minha inteligncia. De fato, se apenas com o seu esprito que voc bendiz, como poder o ouvinte no iniciado dizer Amm ao agradecimento que voc faz, uma vez que ele no sabe o que voc est dizendo? A ao de graas que voc faz sem dvida valiosa, mas o outro no se edifica. Agradeo a Deus por falar em lnguas mais do que todos vocs. Numa assemblia, porm, prefiro dizer cinco palavras com a minha inteligncia para instruir tambm os outros, a dizer dez mil palavras em lnguas. Irmos, no sejam como crianas no modo de julgar; sejam crianas quanto malcia, mas quanto ao modo de julgar sejam adultos. Est escrito na Lei: Falarei a este povo por meio de homens de outra lngua e por meio de lbios estrangeiros, e mesmo assim eles no me escutaro, diz o Senhor. Portanto, as lnguas so um sinal, no para os que acreditam, mas para os que no acreditam. A profecia, ao contrrio, no para os incrdulos, mas para os que acreditam. Por exemplo: se a Igreja se reunir e todos falarem em lnguas, ser que os simples ouvintes e os incrdulos que entrarem no vo dizer que vocs esto loucos? Ao contrrio, se todos profetizarem, o incrdulo ou o simples ouvinte que entrar se sentir persuadido de seu erro por todos, julgado por todos; e os segredos de seu corao sero desvendados; ele se prostrar com o rosto por terra, adorar a Deus e proclamar que Deus est realmente no meio de vocs. Que fazer, ento, irmos? Quando vocs esto reunidos, cada um pode entoar um canto, dar um ensinamento ou revelao, falar em lnguas ou interpret-las. Mas que tudo seja para edificao! Se existe algum que fale em lnguas, falem dois ou no mximo trs, um aps o outro. E que algum as interprete. Se no h intrprete, que o irmo se cale na assemblia; fale a si mesmo e a Deus. Quanto aos profetas, que dois ou trs falem, e os outros profetas dem o seu parecer. Se algum que est sentado recebe uma revelao, cale-se aquele que est falando. Vocs todos podem profetizar, mas um por vez, para que todos sejam instrudos e encorajados. Os espritos dos profetas esto submissos aos profetas. Pois Deus no um Deus de desordem, mas de paz. Que as mulheres fiquem caladas nas assemblias, como se faz em todas as igrejas dos cristos, pois no lhes permitido tomar a palavra. Devem ficar submissas, como diz tambm a Lei. Se desejam instruir-se sobre algum ponto, perguntem aos maridos em casa; no conveniente que a mulher fale nas assemblias. Por acaso, a palavra de Deus tem seu ponto de partida em vocs? Ou foram vocs os nicos que a receberam? Se algum julga ser profeta ou inspirado pelo Esprito, reconhea um mandamento do Senhor nas coisas que estou escrevendo para vocs. Todavia, se algum no reconhecer isso, que tambm Deus no reconhecido. Portanto, irmos, aspirem ao dom da profecia e no impeam que algum fale em lnguas. Mas, que tudo seja feito de modo conveniente e com ordem. Nota:24 cf. Mc 12, 28-31: Um doutor da Lei estava a, e ouviu a discusso. Vendo que Jesus tinha respondido bem, aproximou-se dele e perguntou: Qual o primeiro de todos os mandamentos? Jesus respondeu: O primeiro mandamento este: Oua, Israel! O Senhor nosso Deus o nico Senhor! E ame ao Senhor seu Deus com todo o seu corao, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua fora. O segundo mandamento este: Ame ao seu prximo como a si mesmo. No existe outro mandamento mais importante do que esses dois. 1Cor 13: Ainda que eu falasse lnguas, as dos homens e dos anjos, se eu no tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como cmbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistrios e de toda a cincia; ainda que eu tivesse toda a f, a ponto de transportar montanhas, se no tivesse o amor, eu no seria nada. Ainda que eu distribusse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo s chamas, se no tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor paciente, o amor prestativo;
  12. 12. 12 no invejoso, no se ostenta, no se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, no procura seu prprio interesse, no se irrita, no guarda rancor. No se alegra com a injustia, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo cr, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passar. As profecias desaparecero, as lnguas cessaro, a cincia tambm desaparecer. Pois o nosso conhecimento limitado; limitada tambm a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeio, desaparecer o que limitado. Quando eu era criana, falava como criana, pensava como criana, raciocinava como criana. Depois que me tornei adulto, deixei o que era prprio de criana. Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas trs coisas: a f, a esperana e o amor. A maior delas, porm, o amor. Nota:25 cf. 1Cor 12,31-13,13: Aspirem aos dons mais altos. Alis, vou indicar para vocs um caminho que ultrapassa a todos. Ainda que eu falasse lnguas, as dos homens e dos anjos, se eu no tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como cmbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistrios e de toda a cincia; ainda que eu tivesse toda a f, a ponto de transportar montanhas, se no tivesse o amor, eu no seria nada. Ainda que eu distribusse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo s chamas, se no tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor paciente, o amor prestativo; no invejoso, no se ostenta, no se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, no procura seu prprio interesse, no se irrita, no guarda rancor. No se alegra com a injustia, mas se regozija com a verdade.Tudo desculpa, tudo cr, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passar. As profecias desaparecero, as lnguas cessaro, a cincia tambm desaparecer. Pois o nosso conhecimento limitado; limitada tambm a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeio, desaparecer o que limitado. Quando eu era criana, falava como criana, pensava como criana, raciocinava como criana. Depois que me tornei adulto, deixei o que era prprio de criana. Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas trs coisas: a f, a esperana e o amor. A maior delas, porm, o amor. cf. LG, 42: Deus amor. Quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele (1Jo 4, 16). Deus derrama seu amor em nossos coraes pelo Esprito Santo, que nos dado (cf. Rm 5, 5). O dom primordial, pois, e absolutamente necessrio o amor com que amamos Deus sobre todas as coisas e o prximo por causa dele. Mas para que a caridade cresa e frutifique na alma, como boa semente, cada um deve estar pronto a ouvir a palavra de Deus, cumprir a sua vontade, com o auxlio da graa, participar freqentemente dos sacramentos e do culto, especialmente da eucaristia, entregar-se constantemente orao, abnegao de si mesmo, ao servio fraterno e ao exerccio da virtude. O amor o vnculo da perfeio e a plenitude da lei (Cl 3, 14; Rm 13, 10). Orienta, d forma e acabamento a todos os outros meios de santificao. Por isso o amor para com Deus e para com o prximo o sinal do verdadeiro discpulo de Cristo. Jesus, o Filho de Deus, manifestou seu amor dando sua vida por ns. No h maior amor do que dar a vida por ele e por seus irmos (cf. 1Jo 3, 16; Jo 15, 13). Desde os primeiros tempos at os dias de hoje, alguns cristos foram chamados a dar esse testemunho supremo diante de todos, especialmente dos perseguidores. o martrio, considerado pela Igreja dom supremo e prova mxima de amor, pois, ao aceitar livremente a morte pela salvao do mundo, o discpulo se assemelha ao mestre, igualando-o no derramamento do prprio sangue. Poucos recebem esse dom, mas todos devem estar preparados para confessar a Cristo diante dos homens e segui-lo no caminho da cruz, em meio s perseguies que nunca faltam Igreja. A santidade da Igreja se sustenta ainda de modo especial pela observncia dos muitos conselhos que o Senhor props aos seus discpulos no Evangelho. Em primeiro lugar, o precioso dom da graa divina feito pelo Pai (cf. Mt 19, 11; 1Cor 7, 7) queles que na virgindade e no celibato oferecem unicamente a Deus seu corao indiviso (cf. 1Cor 7, 32-34) e a ele se consagram totalmente. A Igreja sempre teve em grande conta esta prtica da continncia perfeita por causa do reino dos cus, considerando-a sinal e estmulo do amor, fonte espiritual particularmente fecunda para o mundo. A Igreja medita na admoestao do apstolo. Estimulando os fiis ao amor, ele os exorta a terem os mesmos sentimentos do Cristo Jesus, que se esvaziou a si mesmo, assumiu a condio de servo e se tornou obediente at a morte (Fl 2, 7-8) fazendo-se pobre por nossa causa, apesar de rico (2Cor 8, 9). indispensvel que a Igreja como me d em todo tempo o testemunho e o exemplo deste amor e desta humildade. Por isso, se alegra de contar em seu seio com homens e mulheres que seguem de perto o Senhor e claramente proclamam o aniquilamento do salvador, abraando a pobreza com a liberdade dos filhos de Deus e renunciando s suas prprias vontades. Submetem-se a outros, por causa de Deus, ultrapassando, na perfeio, a medida do preceito, para se tornarem mais prximos da obedincia praticada por Cristo. Todos os fiis so chamados e obrigados a buscar a perfeio do prprio estado de vida. Cuidem pois, de manter o corao no caminho reto, para que o uso das coisas terrestres e o apego s riquezas no seja obstculo ao esprito evanglico de pobreza, nem busca da perfeio do amor, conforme a admoestao do apstolo: Os que usam deste mundo passageiro, a ele no se apeguem (cf. 1Cor 7, 31). cf. AA, 3: O dever e o direito dos leigos ao apostolado decorre de sua unio com Cristo cabea. Inseridos no corpo mstico de Cristo pelo batismo e, pela confirmao, corroborados com a fora do Esprito, foram destinados ao apostolado pelo prprio Senhor. Consagrados como participantes do sacerdcio rgio e do povo santo (cf. 1Pd 2, 4-10) para oferecer, por todo seu agir, hstias espirituais e dar testemunho de Cristo em toda parte. Pelos sacramentos, especialmente pela eucaristia, comungam e so alimentados pelo amor, que a alma de todo o apostolados. O apostolado fruto da f, da esperana e da caridade que o Esprito Santo derrama no corao de todos os membros da Igreja. Alm disso, o preceito da caridade, principal mandamento do Senhor, obriga a todos os fiis a procurarem a glria de Deus, por intermdio do advento de seu reino, e a vida eterna, para que todos os seres humanos conheam a Deus, nico e verdadeiro, e a Jesus Cristo, seu enviado (cf. Jo 17, 3).
  13. 13. 13 A todos os fiis se impe o nus insigne de trabalhar para que o anncio da salvao divina seja conhecido e acolhido por todos os seres humanos, em toda a terra. O mesmo Esprito Santo, que santifica o povo de Deus pelo ministrio e pelos sacramentos, concede tambm aos fiis dons peculiares (cf. 1Cor 12, 7) para o exerccio do apostolado, distribuindo-os a seu bel-prazer (cf. 1Cor 12, 11). Assim, cada um, na medida da graa recebida, chamado a colocar esses dons a servio dos outros, tornando-se todos, bons dispensadores da graa multiforme de Deus (1Pd 4, 10), para a edificao de todo o corpo, no amor (cf. Ef 4, 16). Destes carismas, por mais simples que sejam, provm o direito e o dever de cada fiel de exerc-los, no mundo e na Igreja, em benefcio dos seres humanos e da prpria Igreja. Este exerccio deve ser feito na liberdade do Esprito Santo, que sopra onde quer (cf. Jo 3, 8), mas, ao mesmo tempo, em comunho com os irmos em Cristo e, especialmente, com seus pastores, a quem pertence julgar da autenticidade dos carismas e de seu conveniente exerccio, no para abafar o Esprito, mas para tudo provar e reter o que bom (cf. 1Ts 5, 12.19.21). Nota:26 cf. CNBB, Doc. 45, 301-302: 301. Os novos sujeitos histricos, sejam sociais, religiosos ou eclesiais, manifestam-se e apresentam-se ora como o novo diante do estabelecido, ora como o divergente diante do definido, ora como o dissidente diante do oficial. Caracteriza-os, inicialmente, a tendncia ao questionamento, denncia, contestao e reivindicao. Mas progridem para a proposta de novas relaes e de novas estruturas, em que haja maior participao e maior autonomia, em vista construo de uma nova sociedade e de uma Igreja rejuvenecida, numa nova humanidade. Muitas pessoas e grupos reencontram o sentido da vida, at mesmo o caminho do transcendente, de Deus e da Igreja, atravs dessa luta por novas causas. Assim, vo surgindo muitos dos novos mrtires de nossa poca. Seus questionamentos contm muitos desafios, que podem tornar-se fatores de renovao da Igreja e da sociedade. 302. Os novos sujeitos eclesiais vo construindo seu prprio processo de formao, com novos mtodos e novas expresses. No caso dos novos sujeitos populares, predomina a formao na ao, atravs da conhecida seqncia ver, julgar e agir, com o auxlio de assessores sociais e teolgicos. Suas fontes de inspirao so a Bblia, lida luz das novas situaes de nosso tempo, e a liturgia, em que se unem com rica simbologia, as lutas do Povo de Deus com o sacrifcio de Cristo. Por sua vez, os movimentos apostlicos ou de espiritualidade possuem seus prprios mtodos de formao. Nota:27 cf. CD, 11: Diocese a poro do povo de Deus confiada aos pastoreio do bispo com a cooperao dos sacerdotes. Congregada no Esprito Santo pelo seu pastor, atravs do Evangelho e da eucaristia, une-se a ele, constituindo uma Igreja particular, na qual est verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo, una, santa, catlica e apostlica. O bispo a que foi confiada uma Igreja particular seu pastor prprio, ordinrio e imediato. Apascenta suas ovelhas em nome de Cristo, sob a autoridade do sumo pontfice, no exerccio de suas funes de ensinar, santificar e governar. Deve entretanto reconhecer os direitos legtimos dos patriarcas ou outras autoridades. Que os bispos saibam que dar o testemunho de Cristo diante de todos os homens faz parte de sua funo apostlica. Cuidem no somente dos que j seguem o prncipe dos pastores, mas se dediquem tambm de corao queles que se afastaram de algum modo da verdade ou do Evangelho de Cristo e ignoram a salvao misericordiosa, a fim de que todos caminhem na bondade, na justia e na verdade (Ef 5, 9). Nota:28 cf. CNBB, Doc. 45, 196: Mas o que propriamente constitui a Igreja e a torna presente em determinado tempo e lugar? Conforme o prprio Conclio Vaticano II, a comunidade eclesial edificada pelo Esprito Santo, mediante o anncio da Palavra (Evangelho), a celebrao da Eucaristia e dos outros sacramentos, a vida de comunho do povo de Deus com seus carismas e ministrios, entre os quais sobressai o ministrio episcopal- presbiteral, que tem a responsabilidade de garantir a autenticidade dos laos que unem a comunidade de hoje com a Igreja apostlica e com o projeto missionrio, evangelizador, que lhe foi confiado at o fim dos tempos. Nota:29 cf. CFL: O Papa Joo Paulo II, na sua Exortao Apostlica Christifideles Laici (n. 30): sempre na perspectiva da comunho e da misso da Igreja e no, portanto, em contraste com a liberdade associativa, que se compreende a necessidade de claros e precisos critrios de discernimento e de reconhecimento das agregaes laicais, tambm chamados critrios de eclesialidade. Como critrios fundamentais para o discernimento de toda e qualquer agregao dos fiis leigos na Igreja, podem considerar-se de forma unitria os seguintes: O primado dado vocao de cada cristo santidade, manifestado nos frutos da graa que o Esprito produz nos fiis como crescimento para a plenitude da vida crist e para a perfeio da caridade. Nesse sentido, toda e qualquer agregao de fiis leigos chamada a ser sempre e cada vez mais instrumento de santidade na Igreja, favorecendo e encorajando uma unidade mais ntima entre a vida prtica dos membros e a prpria f. A responsabilidade em professar a f catlica, acolhendo e proclamando a verdade sobre Cristo, sobre a Igreja e sobre o homem, em obedincia ao Magistrio da Igreja, que autenticamente a interpreta. Por isso, toda agregao de fiis leigos deve ser lugar de anncio e de proposta da f e de educao na mesma, no respeito pelo seu contedo integral. O testemunho de uma comunho slida e convicta, em relao filial com o Papa, centro perptuo e visvel da unidade da Igreja universal, e com o bispo, princpio visvel e fundamento da unidade da Igreja particular, e na estima recproca entre todas as formas de apostolado na Igreja. A comunho com o Papa e com o bispo chamada a exprimir-se na disponibilidade leal em aceitar os seus ensinamentos doutrinais e orientaes pastorais. A comunho eclesial exige, alm disso, que se reconhea a legtima pluralidade das formas agregativas dos fiis leigos na Igreja e, simultaneamente, a disponibilidade para a sua recproca colaborao. A conformidade e a participao na finalidade apostlica da Igreja, que a evangelizao e a santificao dos homens e a formao crist das suas conscincias, de modo a conseguir permear de esprito evanglico as vrias comunidades e os vrios ambientes.
  14. 14. 14 Nesta linha, exige-se de todas as formas agregativas de fiis leigos, e de cada uma delas, um entusiasmo missionrio que as torne, sempre e cada vez mais, sujeitos de uma nova evangelizao. O empenho de uma presena na sociedade humana que, luz da doutrina social da Igreja, se coloque a servio da dignidade integral do homem. Assim, as agregaes dos fiis leigos devem converter-se em correntes vivas de participao e de solidariedade para construir condies mais justas e fraternas no seio da sociedade. Os critrios fundamentais acima expostos encontram a sua verificao nos frutos concretos que acompanham a vida e as obras das diversas formas associativas, tais como: o gosto renovado pela orao, a contemplao, a vida litrgica e sacramental; a animao pelo florescimento de vocaes ao matrimnio cristo, ao sacerdcio ministerial, vida consagrada; a disponibilidade em participar dos programas e das atividades da Igreja, tanto em nvel local como nacional ou internacional; o empenho catequtico e a capacidade pedaggica de formar os cristos; o impulso em ordem a uma presena crist nos vrios ambientes da vida social e a criao e animao de obras caritativas, culturais e espirituais; o esprito de desapego e de pobreza evanglica em ordem a uma caridade mais generosa para com todos; as converses vida crist ou o regresso comunho por parte de batizados afastados. Nota:30 cf. AA, 19: H uma grande variedade de associaes apostlicas: umas tm por objetivo o apostolado geral da Igreja, outras, finalidades especficas, como a evangelizao ou a santificao, outras, a animao crist da ordem temporal, outras, enfim, do testemunho de Cristo por meio das obras de misericrdia e de caridade. O que h de mais importante nessas associaes que favorecem e estimulam, em seus membros, a unidade entre f e vida. As associaes no existem em funo de si mesmas. Devem visar ao cumprimento da misso da Igreja no mundo. Seu valor apostlico depende de sua subordinao aos fins da Igreja e do testemunho cristo evanglico de seus membros e da prpria associao como um todo. Dado o progresso das instituies humanas e o desenvolvimento da sociedade como um todo, a misso universal da Igreja requer hoje que as iniciativas apostlicas dos catlicos se orientem sempre numa perspectiva internacional. Por sua vez, as organizaes internacionais catlicas alcanaro melhor seus objetivos na medida em que for mais estreita a unio entre seus membros. Respeitadas as relaes com a autoridade eclesistica, os leigos tm o direito de fundar, dar o nome e governar suas prprias associaes. Evite-se, porm, a disperso de foras, inevitvel quando se fundam associaes sem necessidade ou se mantm artificialmente vivas associaes obsoletas. Tambm nem sempre convm transplantar para outras naes formas associativas de um determinado pas. Nota:31 cf. AA, 23: O apostolado dos leigos, tanto individual quanto associativo, deve se inserir no apostolado de toda a Igreja. A comunho com aqueles que o Esprito Santo colocou como dirigentes da Igreja de Deus (cf. At 20, 28) mesmo um elemento essencial do apostolado cristo. Alm disso, indispensvel que as diversas iniciativas apostlicas cooperem entre si, sob o ordenamento ditado pela hierarquia. Para promover o Esprito de unidade, para que a caridade fraterna brilhe em toda atividade da Igreja, para que se obtenham os fins comuns por todos visados e se evite toda competio perniciosa, necessrio que vigore entre as diversas formas de apostolado, verdadeira estima recproca e a devida articulao, guardando cada uma suas prprias ndole e caractersticas. especialmente importante que toda ao da Igreja se faa em harmonia e com a cooperao do clero, dos religiosos e dos leigos. Nota:32 cf. AA, 20: H algumas dezenas de anos, em diversos pases, os leigos buscando empenhar-se mais profundamente no apostolado, reuniram-se em diversas formas de aes e de associaes, em estreita unio com a hierarquia, para alcanar maiores benefcios apostlicos. Dentre tais associaes, algumas delas bem antigas, que produziram preciosos frutos apostlicos e foram diversas vezes aprovadas pelos papas e por inmeros bispos, convm lembrar a ao catlica, entendida habitualmente como a cooperao dos leigos no apostolado hierrquico. Tenham ou no o nome de ao catlica, essas associaes so indispensveis ao nosso tempo e devem ser constitudas com as seguintes caractersticas: a) O fim imediato destas associaes a finalidade mesma da Igreja, isto , evangelizar e santificar os seres humanos, formar-lhes a conscincia de maneira a poderem comunicar o esprito do Evangelho s vrias comunidades e ao meio em que vivem. b) Cooperar com a hierarquia significa, para os leigos, contar com sua experincia prpria, assumir responsabilidades de direo, discutir as condies e as formas concretas de exercer a ao pastoral da Igreja, elaborar planos de ao e execut-los. c) Os leigos devem agir unidos num s corpo, de modo a manifestar a Igreja como comunidade e contribuir para a eficcia do apostolado. d) Tendo se oferecido espontaneamente para colaborar com a hierarquia ou tendo sido convidados, os leigos esto sempre sujeitos s orientaes da hierarquia, que lhes pode conferir um mandato expresso. As organizaes que tm todas essas caractersticas, de acordo com o parecer da hierarquia, so ao catlica, mesmo que assumam outras figuras e nomes, de acordo com as condies locais em que trabalham. O Conclio recomenda vivamente estas associaes. Elas respondem a grandes necessidades da Igreja, em inmeras regies. Convida os padres e os leigos que nelas trabalham a se esforarem por efetivar as diversas caractersticas acima enumeradas e a colaborar com as muitas outras formas de apostolado existentes na Igreja. Nota:33 cf. CNBB, Doc. 45, 295-296: 295. a) A articulao de pessoas normalmente realizada mediante reunies e encontros. Atravs deles, alm da comunicao de experincias e da troca de conhecimentos, desenvolve-se a solidariedade, a fraternidade e a compreenso mtua. Para que no se multipliquem alm da necessidade, dever-se- cultivar o senso da representao, habituando-se a agir com representantes das bases junto s instncias superiores e como multiplicadores junto s bases, das decises comuns. O xito das reunies e
  15. 15. 15 encontros depende da capacidade e at mesmo da virtude de aceitar e acolher as diferenas das pessoas e das opinies. 296. b) A articulao das atividades, significando a adequada distribuio de tarefas entre agentes e organismos, com suas respectivas atribuies, normalmente realizada atravs do processo de planejamento pastoral. A ao pastoral planejada a resposta especfica, consciente e intencional s exigncias da evangelizao. Dever realizar-se num processo de participao em todos os nveis da comunidade e pessoas interessadas, educando-as numa metodologia de anlise da realidade, para depois refletir sobre essa realidade do ponto de vista do Evangelho e optar pelos objetivos e meios mais aptos e fazer deles um uso mais racional na ao evangelizadora. Nota:34 cf. Jo 5,39: Vocs vivem estudando as Escrituras, pensando que vo encontrar nelas a vida eterna. No entanto, as Escrituras do testemunho de mim. Nota:35 cf. Lc 24,13-35: Nesse mesmo dia, dois discpulos iam para um povoado, chamado Emas, distante onze quilmetros de Jerusalm. Conversavam a respeito de tudo o que tinha acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o prprio Jesus se aproximou, e comeou a caminhar com eles. Os discpulos, porm, estavam como que cegos, e no o reconheceram. Ento Jesus perguntou: O que que vocs andam conversando pelo caminho? Eles pararam, com o rosto triste. Um deles, chamado Clofas, disse: Tu s o nico peregrino em Jerusalm que no sabe o que a aconteceu nesses ltimos dias? Jesus perguntou: O que foi? Os discpulos responderam: O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, que foi um profeta poderoso em ao e palavras, diante de Deus e de todo o povo. Nossos chefes dos sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado morte, e o crucificaram. Ns espervamos que fosse ele o libertador de Israel, mas, apesar de tudo isso, j faz trs dias que tudo isso aconteceu! verdade que algumas mulheres do nosso grupo nos deram um susto. Elas foram de madrugada ao tmulo, e no encontraram o corpo de Jesus. Ento voltaram, dizendo que tinham visto anjos, e estes afirmaram que Jesus est vivo. Alguns dos nossos foram ao tmulo, e encontraram tudo como as mulheres tinham dito. Mas ningum viu Jesus. Ento Jesus disse a eles: Como vocs custam para entender, e como demoram para acreditar em tudo o que os profetas falaram! Ser que o Messias no devia sofrer tudo isso, para entrar na sua glria? Ento, comeando por Moiss e continuando por todos os Profetas, Jesus explicava para os discpulos todas as passagens da Escritura que falavam a respeito dele. Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez de conta que ia mais adiante. Eles, porm, insistiram com Jesus, dizendo: Fica conosco, pois j tarde e a noite vem chegando. Ento Jesus entrou para ficar com eles. Sentou-se mesa com os dois, tomou o po e abenoou, depois o partiu e deu a eles. Nisso os olhos dos discpulos se abriram, e eles reconheceram Jesus. Jesus, porm, desapareceu da frente deles. Ento um disse ao outro: No estava o nosso corao ardendo quando ele nos falava pelo caminho, e nos explicava as Escrituras? Na mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalm, onde encontraram os Onze, reunidos com os outros. E estes confirmaram: Realmente, o Senhor ressuscitou, e apareceu a Simo! Ento os dois contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus quando ele partiu o po. Nota:36 DV, 21: A Igreja sempre honrou as Escrituras como corpo do Senhor, especialmente na santa liturgia, em cuja mesa no deve faltar nem a palavra de Deus, nem o corpo do Senhor, para serem dados aos fiis. A Igreja sempre considerou e considera as Escrituras, juntamente com a sagrada Tradio, sua suprema regra de f. Inspiradas por Deus e definitivamente escritas, nos comunicam de maneira imutvel a palavra do prprio Deus e nos fazem ouvir a voz do Esprito Santo, atravs dos escritos profticos e apostlicos. Toda a pregao eclesial, como a prpria religio crist, deve-se alimentar e ser orientada pela Escritura. Nos livros sagrados, o Pai que est no cu vem amorosamente falar a seus filhos. to grande a fora e a virtude da palavra de Deus que ela sustenta e d vigor Igreja, corrobora a f de seus filhos, alimenta a alma, jorra como fonte pura e perene da vida espiritual. Aplica-se Escritura o que se l: A palavra de Deus viva e eficaz (Hb 4, 12) tem o poder de edificar e de dar a vocs a herana entre todos os santificados (At 20, 32; cf. 1Ts 2, 13). Nota:37 cf. Pontifcia Comisso Bblica, Interpretao da Bblia na Igreja, 127. Nota:38 cf. Pontifcia Comisso Bblica, Interpretao da Bblia na Igreja, 142. Nota:39 ChL, 60: Dentro desta sntese de vida situam-se os mltiplos e coordenados aspectos da formao integral dos fiis leigos. No h dvida de que a formao espiritual deve ocupar um lugar privilegiado na vida de cada um, chamado a crescer incessantemente na intimidade com Jesus Cristo, na conformidade com a vontade do Pai, na dedicao aos irmos, na caridade e na justia. Escreve o Conclio: Esta vida de ntima unio com Cristo alimenta-se na Igreja com as ajudas espirituais que so comuns a todos os fiis, sobretudo a participao ativa na sagrada liturgia, e os leigos devem socorrer-se dessas ajudas, de modo que, ao cumprir com retido os prprios deveres do mundo, nas condies normais da vida, no separem da prpria vida a unio com Cristo, mas, desempenhando a prpria atividade segundo a vontade de Deus, cresam nela. A formao doutrinal dos fiis leigos mostra-se hoje cada vez mais urgente, no s pelo natural dinamismo de aprofundar a sua f, mas tambm pela exigncia de racionalizar a esperana que est dentro deles, perante o mundo e os seus problemas graves e complexos. Tornam-se, desse modo, absolutamente necessrias uma sistemtica ao de catequese, a dar-se gradualmente, conforme a idade e as vrias situaes da vida, e uma mais decidida promoo crist da cultura, como resposta s eternas interrogaes que atormentam o homem e a sociedade de hoje. Em particular, sobretudo para os fiis leigos, de vrias formas empenhados no campo social e poltico, absolutamente indispensvel uma conscincia mais exata da doutrina social da Igreja, como repetidamente os padres sinodais recomendaram nas suas intervenes. Falando da participao poltica dos fiis leigos, assim se
  16. 16. 16 exprimiram: Para que os leigos possam realizar ativamente este nobre propsito na poltica (isto , o propsito de fazer reconhecer e estimar os valores humanos e cristos), no so suficientes as exortaes, preciso dar- lhes a devida formao da conscincia social, sobretudo acerca da doutrina social da Igreja, a qual contm os princpios de reflexo, os critrios de julgar e as diretivas prticas (cf. Congregao para a Doutrina da F, Instruo sobre liberdade crist e libertao, 72). Tal doutrina j deve figurar na instruo catequtica geral, nos encontros especializados e nas escolas e universidades. A doutrina social da Igreja , todavia, dinmica, isto , adaptada s circunstncias dos tempos e lugares. direito e dever dos pastores propor os princpios morais, tambm sobre a ordem social, e dever de todos os cristos dedicarem-se defesa dos direitos humanos; a participao ativa nos partidos polticos , todavia, reservada aos leigos. E, finalmente, no contexto da formao integral e unitria dos fiis leigos, particularmente significativo, para a sua ao missionria e apostlica, o crescimento pessoal no campo dos valores humanos. Precisamente neste sentido, o Conclio escreveu: (os leigos) tenham tambm em grande conta a competncia profissional, o sentido da famlia, o sentido cvico e as virtudes prprias da convivncia social, como a honradez, o esprito de justia, a sinceridade, a amabilidade, a fortaleza de nimo, sem as quais nem sequer se pode dar uma vida crist autntica. Ao amadurecer a sntese orgnica da sua vida, que, simultaneamente, expresso da unidade do seu ser e condio para o cumprimento eficaz da sua misso, os fiis leigos sero interiormente conduzidos e animados pelo Esprito Santo, que Esprito de unidade e de plenitude de vida. Nota:40 Joo Paulo II, Diretrizes aos Bispos do Brasil, Loyola, 1991, p. 44. Nota:41 cf. CNBB, Doc. 45, 92: A dimenso litrgica exprime, pois, o carter celebrativo da Igreja. Constitui, na terra, a expresso mais significativa da comunho eclesial. Na liturgia, o Povo de Deus encontra seu momento maior de festa e de comunho eclesial. Nota:42 cf. CNBB, Doc. 45, 86: Pela vivncia do Mistrio de Cristo na vida cotidiana, o povo de Deus aprofunda constantemente o sentido da f. Por ele, adere inde fectivelmente f e, com reto juzo, penetra-a mais profundamente e, mais plenamente, a aplica na vida. Nota:43 cf. RMi, 44: O anncio tem a prioridade permanente na misso: a Igreja no pode esquivar-se ao mandato explcito de Cristo, no pode privar os homens da Boa-Nova de que Deus os ama e salva. A evangelizao conter sempre como base, centro e, ao mesmo tempo, vrtice do seu dinamismo uma proclamao clara de que, em Jesus Cristo () a salvao oferecida a cada homem, como dom de graa e de misericrdia do prprio Deus. Todas as formas de atividade missionria tendem para esta proclamao que revela e introduz no mistrio, desde sempre escondido e agora revelado em Cristo (cf. Ef 3,3-9; Cl 1,25-29), o qual se encontra no mago da misso e da vida da Igreja, como ponto fulcral de toda a evangelizao. Na realidade complexa da misso, o primeiro anncio tem um papel central e insubstituvel, porque introduz no mistrio do amor de Deus, que, em Cristo, nos chama a uma estreita relao pessoal com ele e predispe a vida para a converso. A f nasce do anncio, e cada comunidade eclesial consolida-se e vive da resposta pessoal de cada fiel a esse anncio. Como a economia salvfica est centrada em Cristo, assim a atividade missionria tende para a proclamao de seu mistrio. O anncio tem por objeto Cristo crucificado, morto e ressuscitado: por meio dele realiza-se a plena e autntica libertao do mal, do pecado e da morte; nele Deus d a vida nova, divina e eterna. esta a Boa Nova, que muda o homem e a histria da humanidade, e que todos os povos tm o direito de conhecer. Um tal anncio tem de se inserir no contexto vital do homem e dos povos que o recebem. Alm disso, ele deve ser feito numa atitude de amor e de estima a quem o escuta, com uma linguagem concreta e adaptada s circunstncias. Para isso concorre o Esprito, que instaura uma unio entre o missionrio e os ouvintes, tornada possvel enquanto um e os outros, por Cristo, entram em comunho com o Pai. Nota:44 cf. CNBB, Doc. 45, 175: A experincia religioso-crist no se realiza em mera experincia subjetiva, mas no encontro com a Palavra de Deus confiada ao Magistrio e Tradio da Igreja, nos sacramentos e na comunho eclesial. Nota:45 cf. AG 2: A Igreja peregrina por natureza missionria. Nasce, segundo o desgnio divino, da prpria misso do Filho e do Esprito Santo. Tal designo flui do amor original ou da caridade do Pai, Princpio imprincipiado, de que o Filho gerado e de que procede o Esprito Santo, por intermdio do Filho. Por sua infinita misericrdia e ternura, a bondade divina nos cria livremente e nos chama graciosamente a participar de sua vida e de sua glria, difundindo a bondade com liberalidade sem fim, de tal sorte que o criador de todas as coisas venha a ser, ao cabo e ao fim, tudo em todos (1Cor 15, 28), para sua glria e nossa felicidade. Deus no chama os seres humanos individualmente, independentemente das relaes de uns com os outros, pois visa a constituir um s povo, em que estejam reunidos todos os seus filhos. Nota:46 cf. Lc 14, 25-35: Grandes multides acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse: Se algum vem a mim, e no d preferncia mais a mim que ao seu pai, sua me, mulher, aos filhos, aos irmos, s irms, e at mesmo sua prpria vida, esse no pode ser meu discpulo. Quem no carrega sua cruz e no caminha atrs de mim, no pode ser meu discpulo. De fato, se algum de vocs quer construir uma torre, ser que no vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrrio, lanar o alicerce e no ser capaz de acabar. E todos os que virem isso, comearo a caoar, dizendo: Esse homem comeou a construir e no foi capaz de acabar! Ou ainda: Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, ser que no vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poder enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele v que no pode, envia mensageiros para negociar as condies de paz, enquanto o outro rei ainda est longe. Do mesmo modo, portanto, qualquer de vocs, se no renunciar a tudo o que tem, no pode ser meu discpulo.
  17. 17. 17 O sal bom. Mas se at o sal perde o sabor, com que o salgaremos? No serve mais para nada: nem para a terra, nem para esterco. Por isso, jogado fora. Quem tem ouvidos para ouvir, oua. Nota:47 cf. RMi, 4 e 2: 4. A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso como lembrei em minha primeira encclica programtica a de dirigir o olhar do homem e orientar a conscincia e experincia da humanidade inteira para o mistrio de Cristo. A misso universal da Igreja nasce da f em Jesus Cristo, como se declara no Credo: Creio em um s Senhor, Jesus Cristo, Filho Unignito de Deus, nascido do Pai antes de todos os sculos () E por ns homens, e para nossa salvao, desceu dos cus. E se encarnou, pelo Esprito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem. No acontecimento da Redeno est a salvao de todos, porque todos e cada um foram compreendidos no mistrio da Redeno, e a todos e cada um se uniu Cristo para sempre, atravs deste mistrio: somente na f, se fundamenta e se compreende a misso. No entanto, devido s mudanas dos tempos modernos e difuso de novas idias teolgicas, alguns interrogam-se: ainda atual a misso entre os no-cristos? No estar, por acaso, substituda pelo dilogo inter-religioso? No se dever restringir ao empenho pela promoo humana? O respeito pela conscincia e pela liberdade no exclui qualquer proposta de converso? No possvel salvar-se, em qualquer religio? Para qu, pois, a misso? 2. J so muitos os frutos missionrios do Conclio: multiplicaram-se as Igrejas locais, dotadas do seu bispo, clero e agentes apostlicos prprios; verifica-se uma insero mais profunda das Comunidades crists na vida dos povos; a comunho entre as Igrejas contribui para um vivo intercmbio de bens e dons espirituais; o empenho dos leigos no servio da evangelizao est mudando a vida eclesial; as Igrejas particulares abrem-se ao encontro, ao dilogo e colaborao com os membros de outras Igrejas crists e outras religies. Sobretudo est se afirmando uma nova conscincia, isto , a de que a misso compete a todos os cristos, a todas as dioceses e parquias, instituies e associaes eclesiais. No entanto, nesta nova primavera do cristianismo, no podemos ocultar uma tendncia negativa, que, alis, este documento quer ajudar a superar: a misso especfica ad gentes parece estar numa fase de afrouxamento, contra todas as indicaes do Conclio e do Magistrio posterior. Dificuldades internas e externas enfraqueceram o dinamismo missionrio da Igreja ao servio dos no-cristos: isto um fato que deve preocupar todos os que crem em Cristo. Na Histria da Igreja, com efeito, o impulso missionrio sempre foi um sinal de vitalidade, assim como a sua diminuio constitui um sinal de crise de f. distncia de 25 anos da concluso do Conclio e da publicao do Decreto sobre a atividade missionria Ad gentes, a 15 anos da Exortao apostlica Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, de veneranda memria, desejo convidar a Igreja a um renovado empenho missionrio, dando, neste assunto, continuao ao Magistrio dos meus predecessores. O presente documento tem uma finalidade interna: a renovao da f e da vida crist. De fato, a misso renova a Igreja, revigora a sua f e identidade, d-lhe novo entusiasmo e novas motivaes. dando a f que ela se fortalece! A nova evangelizao dos povos cristos tambm encontrar inspirao e apoio, no empenho pela misso universal. Mas o que me anima mais a proclamar a urgncia da evangelizao missionria que ela constitui o primeiro servio que a Igreja pode prestar ao homem e humanidade inteira, no mundo de hoje, que, apesar de conhecer realizaes maravilhosas, parece ter perdido o sentido ltimo das coisas e da sua prpria existncia. Cristo Redentor como deixei escrito na primeira encclica revela plenamente o homem a si prprio. O homem que quiser compreender-se profundamente () deve aproximar-se de Cristo () A Redeno, operada na cruz, restituiu, definitivamente, ao homem a dignidade e o sentido de sua existncia no mundo. No faltam, certamente, outros motivos e finalidades: corresponder a inmeros pedidos de um documento deste gnero; dissipar dvidas e ambigidades sobre a misso ad gentes, confirmando, em seu compromisso, os benemritos homens e mulheres que se dedicam atividade missionria e todos os que ajudam; promover as vocaes missionrias; estimular os telogos a aprofundar e expor, sistematicamente, os vrios aspectos da misso; relanar a misso, em sentido especfico, comprometendo as Igrejas particulares, especialmente as de recente formao, a mandarem e a receberem missionrios; garantir aos no-cristos, e particularmente s autoridades dos pases aos quais se dirige a atividade missionria, que esta s tem uma finalidade, ou seja, servir o homem, revelando-lhe o amor de Deus manifestado em Cristo Jesus. Nota:48 cf. LG, 5: O mistrio da santa Igreja se manifesta, pois desde sua prpria fundao. O Senhor Jesus deu incio a sua Igreja pregando a boa nova, isto , a vinda do reino de Deus, prometido h sculos pelas Escrituras. Os tempos se cumpriram, o reino de Deus est iminente (Mc 1, 15; cf. Mt 4, 17). Esse reino se torna visvel aos olhos humanos por intermdio da palavra, dos atos e da presena de Cristo. A palavra do Senhor se compara semente lanada ao campo (Mc 4, 14). Os que a ouvem com f e aderem ao pequeno rebanho de Cristo (Lc 12, 32), recebem o reino. Da por diante a semente germina e cresce, at o momento da colheita (cf. Mc 4, 26-29). Os milagres de Cristo tambm comprovam que o reino de Deus chegou terra: Se pela mo de Deus expulso os demnios, que o reino de Deus chegou at vocs (Lc 11, 20); cf. Mt 12, 28). Mas, acima de tudo, o reino se manifesta na prpria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do Homem, que veio para servir e dar sua vida para a redeno de muitos (Mc 10, 45). Depois de morrer na cruz, por todos os seres humanos, Jesus ressuscitou, aparecendo como Senhor, Cristo e sacerdote para sempre (cf. At 2, 36; Hb 5, 6; 7, 17-21). Derramou ento nos seus discpulos o Esprito prometido pelo Pai (cf. At 2, 33). A Igreja foi assim enriquecida pelos dons do seu fundador. Procurando observar fielmente seus preceitos de caridade, humildade e abnegao, recebe a misso de anunciar e de promover o reino de Cristo e de Deus junto a todos os povos. Constitui pois, a Igreja, o germe e o incio do reino na terra. Enquanto vai crescendo, aspira de todo corao pela consumao do reino e deseja, com todas as sua foras, unir-se a seu rei na glria. Nota:49 cf. 1Cor 12,31: Aspirem aos dons mais altos. Alis, vou indicar para vocs um caminho que ultrapassa a todos.
  18. 18. 18 Nota:50 cf. DSD 161: A falta de coerncia entre a f que se professa e a vida cotidiana uma das vrias causas que geram pobreza em nossos pases, porque os cristos no souberam encontrar na f a fora necessria para penetrar os critrios e as decises dos setores responsveis pela liderana ideolgica e pela organizao da convivncia social, econmica e poltica de nossos povos. Em povos de arraigada f crist impuseram-se estruturas geradoras de injustia. Nota:51 cf. Comisso Episcopal de Doutrina, Comunicado Mensal, Dez. de 1993, 2217. Nota:52 1Cor 12,31-13,13: Aspirem aos dons mais altos. Alis, vou indicar para vocs um caminho que ultrapassa a todos. Ainda que eu falasse lnguas, as dos homens e dos anjos, se eu no tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como cmbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistrios e de toda a cincia; ainda que eu tivesse toda a f, a ponto de transportar montanhas, se no tivesse o amor, eu no seria nada. Ainda que eu distribusse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo s chamas, se no tivesse o amor, nada disso me adiantaria. O amor paciente, o amor prestativo; no invejoso, no se ostenta, no se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, no procura seu prprio interesse, no se irrita, no guarda rancor. No se alegra com a injustia, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo cr, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passar. As profecias desaparecero, as lnguas cessaro, a cincia tambm desaparecer. Pois o nosso conhecimento limitado; limitada tambm a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeio, desaparecer o que limitado. Quando eu era criana, falava como criana, pensava como criana, raciocinava como criana. Depois que me tornei adulto, deixei o que era prprio de criana. Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas trs coisas: a f, a esperana e o amor. A maior delas, porm, o amor. Nota:53 cf. LG, 42: Deus amor. Quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele (1Jo 4, 16). Deus derrama seu amor em nossos coraes pelo Esprito Santo, que nos dado (cf. Rm 5, 5). O dom primordial, pois, e absolutamente necessrio o amor com que amamos Deus sobre todas as coisas e o prximo por causa dele. Mas para que a caridade cresa e frutifique na alma, como boa semente, cada um deve estar pronto a ouvir a palavra de Deus, cumprir a sua vontade, com o auxlio da graa, participar freqentemente dos sacramentos e do culto, especialmente da eucaristia, entregar-se constantemente orao, abnegao de si mesmo, ao servio fraterno e ao exerccio da virtude. O amor o vnculo da perfeio e a plenitude da lei (Cl 3, 14; Rm 13, 10). Orienta, d forma e acabamento a todos os outros meios de santificao. Por isso o amor para com Deus e para com o prximo o sinal do verdadeiro discpulo de Cristo. Jesus, o Filho de Deus, manifestou seu amor dando sua vida por ns. No h maior amor do que dar a vida por ele e por seus irmos (cf. 1Jo 3, 16; Jo 15, 13). Desde os primeiros tempos at os dias de hoje, alguns cristos foram chamados a dar esse testemunho supremo diante de todos, especialmente dos perseguidores. o martrio, considerado pela Igreja dom supremo e prova mxima de amor, pois, ao aceitar livremente a morte pela salvao do mundo, o discpulo se assemelha ao mestre, igualando-o no derramamento do prprio sangue. Poucos recebem esse dom, mas todos devem estar preparados para confessar a Cristo diante dos homens e segui-lo no caminho da cruz, em meio s perseguies que nunca faltam Igreja. A santidade da Igreja se sustenta ainda de modo especial pela observncia dos muitos conselhos que o Senhor props aos seus discpulos no Evangelho. Em primeiro lugar, o precioso dom da graa divina feito pelo Pai (cf. Mt 19, 11; 1Cor 7, 7) queles que na virgindade e no celibato oferecem unicamente a Deus seu corao indiviso (cf. 1Cor 7, 32-34) e a ele se consagram totalmente. A Igreja sempre teve em grande conta esta prtica da continncia perfeita por causa do reino dos cus, considerando-a sinal e estmulo do amor, fonte espiritual particularmente fecunda para o mundo. A Igreja medita na admoestao do Apstolo. Estimulando os fiis ao amor, ele os exorta a terem os mesmos sentimentos do Cristo Jesus, que se esvaziou a si mesmo, assumiu a condio de servo e se tornou obediente at a morte (Fl 2, 7-8) fazendo-se pobre por nossa causa, apesar de rico (2Cor 8, 9). indispensvel que a Igreja como me d em todo tempo o testemunho e o exemplo deste amor e desta humildade. Por isso, se alegra de contar em seu seio com homens e mulheres que seguem de perto o Senhor e claramente proclamam o aniquilamento do salvador, abraando a pobreza com a liberdade dos filhos de Deus e renunciando s suas prprias vontades. Submetem-se a outros, por causa de Deus, ultrapassando, na perfeio, a medida do preceito, para se tornarem mais prximos da obedincia praticada por Cristo. Todos os fiis so chamados e obrigados a buscar a perfeio do prprio estado de vida. Cuidem pois, de manter o corao no caminho reto, para que o uso das coisas terrestres e o apego s riquezas no seja obstculo ao esprito evanglico de pobreza, nem busca da perfeio do amor, conforme a admoestao do apstolo: Os que usam deste mundo passageiro, a ele no se apeguem (cf. 1Cor 7, 31). Nota:54 cf. LG, 4: Depois que o Filho terminou a obra que o Pai lhe confiara (cf. Jo 17, 4), o Esprito Santo foi enviado, no dia de Pentecostes, como fonte perene de santificao da Igreja, dando assim, aos que crem em Cristo, acesso ao Pai (cf. Ef 2, 18). o Esprito da vida, fonte que jorra para a vida eterna (cf. Jo 4, 14; 7, 38-39), pois por ele o Pai d vida aos homens mortos pelo pecado e, em Cristo, ressuscitar seus corpos mortais (cf. Rm 8, 10-11). O Esprito habita na Igreja e no corao dos fiis como num templo (cf. 1Cor 3, 16; 6, 19), em que ora e d testemunho de que so filhos adotivos (cf. Gl 4, 6; Rm 8, 15-16 e 26). Leva a Igreja verdade plena (cf. Jo 16, 13) e a unifica na comunho e no ministrio. Com os diversos dons hierrquicos e carismticos, a instrui, dirige e enriquece com seus frutos (cf. Ef 4, 11-12; 1Cor 12, 4; Gl 5, 22). Rejuvenesce a Igreja com a fora do Evangelho, renova-a continuamente e a conduz unio consumada com seu esposo. Por isso o Esprito e a esposa dizem ao Senhor Jesus: Vem (cf. Ap 22, 17). A Igreja pois o povo unido pela unidade mesma do Pai, do Filho e do Esprito Santo. Nota:55
  19. 19. 19 cf. Catecismo da Igreja Catlica, 798: O Esprito Santo o Princpio de toda ao vital e verdadeiramente salutar em cada uma das diversas partes do corpo. Ele opera de mltiplas maneiras a edificao do Corpo inteiro na caridade: pela Palavra de Deus, que tem o poder de edificar(AT 20,32), pelo Batismo, atravs do qual forma o Corpo de Cristo; pelos sacramentos, que proporcionam crescimento e cura aos membros de Cristo; pela graa concedida aos apstolos, que ocupa o primeiro lugar entre os seus dons; pelas virtudes, que fazem agir segundo o bem, e enfim pelas mltiplas graas especiais (chamadas de carismas), atravs das quais torna os fiis aptos e prontos a tomarem sobre si os vrios trabalhos e ofcios, que contribuem para a renovao e maior incremento da Igreja. Nota:56 cf. LG, 12: O povo santo de Deus participa da funo proftica de Cristo. D o testemunho vivo de Cristo, especialmente pela vida de f e de amor, e oferece a Deus a hstia de louvor como fruto dos lbios que exaltam o seu nome (cf. Hb 13, 15). O conjunto dos fiis ungidos pelos Esprito Santo (cf. 1Jo 2, 20.27) no pode errar na f. Esta sua propriedade peculiar se manifesta pelo senso sobrenatural da f, comum a todo o povo, desde os bispos at o ltimo fiel leigo, demonstrado no acolhimento universal a tudo o que diz respeito f e aos costumes. O senso da f despertado e sustentado pelo Esprito de verdade. Graas a este senso, o povo de Deus, seguindo fielmente o magistrio sagrado, no obedece a uma palavra humana, mas palavra de Deus (cf. 1Ts 2, 13) transmitida aos fiis de uma vez por todas (Jd 3). A ela adere firmemente, entende-a em profundidade e a aplica melhor prpria vida. Mas no s pelos sacramentos e pelos ministrios que o Esprito Santo santifica, diri