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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE UM SISTEMA DE DRENAGEM TRADICIONAL (HIGIENISTA) E UM SISTEMA DE DRENAGEM COM UM RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO ON-LINE Orientando: Pedro Girondi Lopes Orientador: Daniel Gustavo Allasia Piccilli Santa Maria, RS 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE TECNOLOGIA

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE UM SISTEMA DE DRENAGEM TRADICIONAL (HIGIENISTA) E UM SISTEMA DE DRENAGEM COM

UM RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO ON-LINE

Orientando: Pedro Girondi Lopes Orientador: Daniel Gustavo Allasia Piccilli

Santa Maria, RS

2016

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE UM SISTEMA DE

DRENAGEM TRADICIONAL (HIGIENISTA) E UM

SISTEMA DE DRENAGEM COM RESERVATÓRIO DE

DETENÇÃO ON-LINE

Pedro Girondi Lopes

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Maria

(UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Daniel Gustavo Allasia Piccilli (UFSM)

Santa Maria, RS, Brasil

2016

Universidade Federal de Santa Maria Centro de Tecnologia

Curso de Engenharia Civil

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE UM SISTEMA DE DRENAGEM TRADICIONAL (HIGIENISTA) E UM SISTEMA DE DRENAGEM COM

UM RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO ON-LINE

elaborado por Pedro Girondi Lopes

como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Dr. Daniel Gustavo Allasia Piccilli (Presidente/Orientador)

Prof. Dr. Gihad Mohammad (UFSM)

Profa. Dra. Elisandra Maziero (UFSM)

Santa Maria, 13 de Julho de 2016

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer aos meus pais, João Roque Dias Lopes

e Denise da Rosa Girondi, juntamente com minhas irmãs Maria Antônia Girondi Lopes

e Giorgia Girondi, por todo amor e confiança que sempre tiveram em mim.

À minha namorada, Thaís Vieceli por todo apoio, compreensão e

companheirismo nos momentos bons e difíceis desta etapa.

Aos meus avós, João Bicca Lopes e Janice Dias Lopes, por tudo que fazem

por mim.

Ao Prof. Dr. Daniel G. A. Piccilli, orientador deste trabalho, pela oportunidade

concedida e por todo conhecimento compartilhado.

À minha tia, Deize Dias Lopes, por todas as dicas e apoio durante toda a

graduação.

Aos meus amigos e colegas, Artur Rosa, Douglas Lobo, Eduardo Resener,

Fábio Pivetta, Fabricio Corrieri, Marcos Morgental, Marcos Rodrigues, Matheus Sassi,

Pedro Etcheverria e Rafael Goettems, que passaram grande parte desta jornada junto

a mim.

Aos meus demais colegas, amigos e familiares, que, de alguma forma,

participaram do meu crescimento como pessoa.

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Engenharia Civil

Universidade Federal de Santa Maria

ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE UM SISTEMA DE DRENAGEM TRADICIONAL (HIGIENISTA) E UM SISTEMA DE DRENAGEM COM

UM RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO ON-LINE

AUTOR: PEDRO GIRONDI LOPES

ORIENTADOR: PROF. DR. DANIEL GUSTAVO ALASSIA PICCILLI

Data e local da defesa: Santa Maria, 13 de julho de 2016

O acelerado e desordenado crescimento dos centros urbanos, associado à falta de planejamento prévio dos órgãos competentes, acabou por defasar os sistemas de drenagem urbana existentes, provocando enchentes, desastres ambientais e humanos, piora na qualidade da água e consequentemente na vida da população. Durante muito tempo, o método tradicional utilizado nos projetos de drenagem urbana consistia em eliminar a água da chuva dos centros o mais rápido possível, porém com o aumento das impermeabilizações e, concomitantemente, da água escoada superficialmente, os dimensionamentos existentes tornaram-se inviáveis. Neste contexto, algumas medidas sustentáveis como: bacias de detenção, valas de infiltração e planos diretores de drenagem urbana, começam a ganhar espaço como soluções na busca pela adequação dos sistemas de drenagem urbana, a fim de amortecer e retardar os picos de vazões, tentando manter o ciclo hidrológico o mais próximo do natural das bacias. Neste trabalho de conclusão, foi realizada uma comparação econômica e funcional do dimensionamento das redes de drenagem com e sem uma bacia de detenção on-line, utilizando como estudo de caso o loteamento Aomar Pigatto, situado no município de Frederico Westphalen – RS. Após a conclusão dos dimensionamentos e orçamentos, chegou-se num valor maior para o método utilizando a bacia de detenção on-line, entretanto este custo a mais é justificável pela melhor funcionalidade do sistema sustentável.

Palavras-chave: Drenagem Urbana, Drenagem Sustentável, Bacias de Detenção.

ABSTRACT

COMPARATIVE ANALYSES BETWEEN A TRADITIONAL DRAINAGE SYSTEM (HYGIENIST) AND A DRAINAGE SYSTEM WITH AN ON-

LINE DETENTION RESEVOIR

AUTHOR: PEDRO GIRONDI LOPES

ADVISOR: PROF. DR. DANIEL GUSTAVO ALASSIA PICCILLI

The accelerated and disorganized growth of urban centers, associated with a lack of prior planning of the competent bodies, brought discrepancies to the drainage systems, causing floods, environmental and human disasters, deterioration in water quality and, consequently, on people’s lives. For a long time, the traditional method used in urban drainage project was to eliminate rainwater as soon as possible, however, with an increasing waterproofing and water drained surface, existing sizing have become unviable. In this context, some sustainable measure as detention reservoirs, swales, and master plans for urban drainage, begin to gain ground as solutions in seek for the adequacy of urban drainage systems, in order to dampen and slow the flow peaks, trying to maintain the water cycle as close to the natural. In this final project, an economical and functional comparison of the sizing of drainage systems with and without an on-line detention reservoir, using as a case study the allotment Aomar Pigatto, located in the city of Frederico Westphalen – RS. Upon completion of sizing’s and budgets, has been concluded that the method using the detention reservoir was more expensive, however, this difference between costs may be justified by the functionality of the sustainable system.

Keyword: Urban Drainage, Sustainable Drainage, Detention Resevoirs.

LISTA DE ANEXOS

ANEXO A: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS SARJETAS. ..................... 84

ANEXO B: PLANILHA DIMENSIONAMENTO DAS BOCAS DE LOBO. ................ 85

ANEXO C: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS GALERIAS NA REDE

TRADICIONAL. ......................................................................................................... 86

ANEXO D: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS GALERIAS NA REDE

SUSTENTÁVEL. ....................................................................................................... 87

ANEXO E: ORÇAMENTO PARA A REDE DE DRENAGEM TRADICIONAL. ......... 88

ANEXO F: ORÇAMENTO PARA A REDE SUSTENTÁVEL DE DRENAGEM. ....... 89

LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE A: TRAÇADO DA REDE TRADICIONAL. ............................................ 90

APÊNDICE B: TRAÇADO DA REDE SUSTENTÁVEL. ........................................... 91

APÊNDICE C: CROQUI DO RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO. ............................ 92

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Hidrograma hipotético do efeito da urbanização de uma área. .................. 21

Figura 2: Reservatório de detenção. ......................................................................... 25

Figura 3: Reservatório de retenção. .......................................................................... 25

Figura 4: Comparação do caminho da água em reservatórios off-line e on-line. ...... 26

Figura 5: Representação de uma trincheira de infiltração típica. ............................... 27

Figura 6: Exemplo de vala de infiltração em Denver. ................................................ 28

Figura 7: Associação de valas de infiltração e trincheira de infiltração. .................... 29

Figura 8: Poço de infiltração cilíndrico. ...................................................................... 30

Figura 9: Poço de infiltração em forma de trincheira. ................................................ 30

Figura 10: Exemplo de seção transversal de um pavimento permeável. .................. 31

Figura 11: Representação do sistema de diques de proteção. ................................. 33

Figura 12: Curva de atendimento às demandas de drenagem urbana. .................... 34

Figura 13: Zoneamento de áreas inundáveis. ........................................................... 35

Figura 14: Boletim de monitoramento e previsão de enchentes. ............................... 37

Figura 15: Seção transversal de uma sarjeta. ........................................................... 47

Figura 16: Tipos de bocas de lobo. ........................................................................... 48

Figura 17: Capacidade de engolimento. .................................................................... 50

Figura 18: Capacidade de esgotamento das bocas de lobo com depressão de 5 cm

em pontos baixos das sarjetas. ................................................................................. 50

Figura 19: Hidrograma unitário triangular. ................................................................. 58

Figura 20: Localização do loteamento em estudo. .................................................... 65

Figura 21: Imagem da projeção do loteamento. ........................................................ 65

Figura 22: Imagem 3D do loteamento “Aomar Pigatto”. ............................................ 66

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Precipitação rearranjada pelo método dos blocos alternados. ................. 71

Gráfico 2: Hidrograma unitário triangular - pré-urbanização. .................................... 74

Gráfico 3: Hidrograma unitário triangular – pós-urbanização. ................................... 74

Gráfico 4: Hidrogramas resultantes de pré e pós-urbanização. ................................ 75

Gráfico 5: Hidrograma da bacia utilizando o reservatório de detenção. .................... 78

Gráfico 6: Comparação dos hidrogramas gerados. ................................................... 78

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Período de retorno para diferentes ocupações de áreas. ......................... 40

Quadro 2: Equações para a estimativa do tempo de concentração. ......................... 41

Quadro 3: Coeficientes de parametrização da bacia U100 de Irái-RS. ..................... 44

Quadro 4: Exemplo de tabela de cálculo de redes de microdrenagem. .................... 53

Quadro 5: Valores de Cd para condutos circulares de concreto com entrada

arredondada. ............................................................................................................. 62

Quadro 6: Obtenção da chuva de projeto. ................................................................ 68

Quadro 7: Obtenção do coeficiente C do método racional. ....................................... 69

Quadro 8: CN de pré-urbanização. ........................................................................... 71

Quadro 9: CN de pós-urbanização. ........................................................................... 72

Quadro 10: Escoamento superficial na bacia pré-urbanizada. .................................. 72

Quadro 11: Escoamento superficial na bacia pós-urbanização................................. 73

Quadro 12: Dimensões reservatório de detenção. .................................................... 76

Quadro 13: Relação cota/volume do reservatório. .................................................... 76

Quadro 14: Coeficientes e dimensões do orifício. ..................................................... 77

Quadro 15: Coeficientes e dimensões do vertedor. .................................................. 77

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Coeficiente de rugosidade de Manning. .................................................... 42

Tabela 2: Valores de C por tipo de ocupação. .......................................................... 45

Tabela 3: Valores de C de acordo com a superfície de revestimento. ...................... 46

Tabela 4: Fator de redução de vazão das sarjetas. .................................................. 52

Tabela 5: Fator de redução de vazão das bocas de lobo. ......................................... 52

Tabela 6: Relações para fator hidráulico de seções circulares. ................................ 54

Tabela 7: Hietograma de 40 minutos pelo método dos blocos alternados. ............... 56

Tabela 8: Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas. .................................. 58

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16

1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................. 17

1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................... 17

1.2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................................... 17

1.2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................................. 19

2.1 DRENAGEM URBANA ................................................................................................... 19

2.1.1 DRENAGEM URBANA CONVENCIONAL .............................................................................. 19

2.1.1.1 A urbanização e suas consequências no escoamento superficial ............................ 20

2.1.2 DRENAGEM URBANA COMPENSATÓRIA/SUSTENTÁVEL ...................................................... 22

2.1.2.1 Medidas estruturais .................................................................................................. 23

2.1.2.1.1 Reservatórios ou bacias de detenção/retenção ..................................................... 24

2.1.2.1.2 Trincheiras de infiltração ....................................................................................... 27

2.1.2.1.3 Valas de infiltração ................................................................................................ 28

2.1.2.1.4 Poços de infiltração ............................................................................................... 30

2.1.2.1.5 Pavimentos permeáveis ........................................................................................ 31

2.1.2.1.6 Diques ................................................................................................................... 32

2.1.2.2 Medidas não estruturais ........................................................................................... 33

2.1.2.2.1 Plano diretor de drenagem urbana ........................................................................ 34

2.1.2.2.2 Zoneamento de áreas inundáveis ......................................................................... 35

2.1.2.2.3 Sistemas de previsão de cheias e de alerta .......................................................... 37

2.2 CRITÉRIOS PARA PROJETO DE DRENAGEM URBANA ............................................. 38

2.2.1 CLASSIFICAÇÃO DAS BACIAS .......................................................................................... 38

2.2.2 TEMPO DE RETORNO (TR).............................................................................................. 39

2.2.3 TEMPO DE CONCENTRAÇÃO (TC) .................................................................................... 40

2.2.4 CHUVA DE PROJETO ...................................................................................................... 43

2.3 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA TRADICIONAL DE DRENAGEM URBANA .......... 44

2.3.1 VAZÃO DE PROJETO ...................................................................................................... 44

2.3.2 DIMENSIONAMENTO DAS REDES DE MICRODRENAGEM ..................................................... 47

2.3.2.1 Sarjetas .................................................................................................................... 47

2.3.2.2 Bocas de lobo .......................................................................................................... 48

2.3.2.5 Galerias ................................................................................................................... 52

2.4 DIMENSIONAMENTO DA REDE SUSTENTÁVEL DE DRENAGEM URBANA............... 55

2.4.1 VAZÃO DE PROJETO ...................................................................................................... 55

2.4.1.1 Método dos blocos alternados ................................................................................. 56

2.4.1.2 Método do Soil Conservation Service (SCS) ............................................................ 57

2.4.1.3 Método do hidrograma unitário triangular ................................................................. 58

2.4.1.4 Convolução .............................................................................................................. 59

2.4.2 DIMENSIONAMENTO DO RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO .................................................... 60

2.4.2.1 Método de Puls ........................................................................................................ 60

2.4.2.2 Dispositivos de saída ............................................................................................... 61

2.4.2.2.1 Orifícios ................................................................................................................. 61

2.4.2.2.2 Vertedores ............................................................................................................ 63

3 METODOLOGIA ............................................................................................................... 65

3.1 ANÁLISE DA ÁREA A SER ESTUDADA ........................................................................ 65

3.2 CRITÉRIOS DE PROJETO ............................................................................................ 67

4 RESULTADOS ................................................................................................................. 68

4.1 DIMENSIONAMENTO DA REDE DE MICRODRENAGEM............................................. 68

4.1.1 PARÂMETROS INICIAIS DE PROJETO ................................................................................ 68

4.1.2 SARJETAS, BOCAS DE BOBO E GALERIAS......................................................................... 69

4.2 DIMENSIONAMENTO DA BACIA DE DETENÇÃO ON-LINE ......................................... 70

4.2.1 HIETOGRAMA DE PROJETO............................................................................................. 70

4.2.2 OBTENÇÃO DOS HIDROGRAMAS ..................................................................................... 71

4.2.3 VOLUME DO RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO ON-LINE ........................................................ 75

4.3 ORÇAMENTOS ............................................................................................................. 79

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 81

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 82

16

1 INTRODUÇÃO

A partir da segunda metade do século XX teve início no Brasil um acentuado

deslocamento da população rural para a área urbana. Essa população deslocou-se

para as cidades em busca de melhores condições de trabalho, saúde e educação,

porém, em geral, devido à falta de recursos financeiros ocuparam a periferia das

cidades, onde as condições de infraestrutura urbana eram, e ainda são, praticamente

inexistentes. A população urbana, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística), era 36% do total em 1950, já em 2010 chegou a 84%. Essa população

proveniente do meio rural causou um crescimento desorganizado e não planejado

previamente pelos órgãos competentes e tem provocado impactos significativos no

meio ambiente e na qualidade de vida da população.

A forma não planejada com que as cidades se desenvolvem, utilizando o solo

de maneiras inadequadas, ocupando áreas de risco e não adequando seus

dispositivos de drenagem vêm fazendo com que a qualidade de vida da população

diminua gradativamente. Isto ocorre devido ao aumento da frequência das

inundações, que, concomitantemente, causa diminuição na qualidade da água e

aumento da presença de sólidos no escoamento pluvial, consequências associadas à

prejuízos financeiros, disseminação de doenças de veiculação hídrica e, em alguns

casos, perdas de vidas.

Durante muito tempo os projetos de drenagem urbana tiveram como ideia

apenas escoar a água precipitada o mais rápido possível para jusante, fase conhecida

como período higienista da drenagem urbana. Esta filosofia não pode mais ser

seguida, pois com o grande crescimento dos centros urbanos este sistema tornou-se

insuficiente e passou a necessitar de adequações que tornassem a drenagem mais

sustentável. No conceito higienista são instaladas tubulações para drenar nas águas,

mas, com a continua urbanização eram necessárias ampliações e cada vez mais

obras num ciclo infinito.

. Hoje os projetos de drenagem já visam ser mais sustentáveis, sendo

projetados com, por exemplo, bacias de detenção, trincheiras de drenagem e valas

de drenagem. Esta nova filosofia visa resolver os problemas da drenagem na fonte

dos problemas, recuperando a infiltração e evapotranspiração perdidas com a

eliminação da cobertura superficial e impermeabilização do território. Assim são

17

projetadas estruturas com a finalidade de retardar o escoamento superficial, aumento

das áreas de infiltração, retenção e detenção de água, com o intuito de manter o ciclo

hidrológico o mais próximo do natural.

1.1 JUSTIFICATIVA

Ao analisar-se a atual situação dos sistemas tradicionais de drenagem já

implantados, percebe-se que estes não estão cumprindo o seu papel com eficiência,

visto a quantidade de inundações que vem ocorrendo. Existem diversos fatores

responsáveis pela defasagem dos sistemas de drenagem urbana, entre eles, podem-

se citar a ocupação de zonas ribeirinhas e várzeas, resíduos não coletados,

desmatamento, impermeabilização dos solos, entre outros.

Frente a estes problemas, mostra-se clara a necessidade de reformulação dos

sistemas de drenagem pluvial, passando por técnicas compensatórias, que evitem o

surgimento de problemas, em vez de consertá-los constantemente ou transferi-los

para jusante.

Embora seja clara a necessidade de utilização de novos métodos de drenagem,

no Brasil a experiência na área é, ainda, bastante limitada. Deste modo, são

necessários exemplos reais em que possam ser demostradas as vantagens de

sistemas sustentáveis de uma forma didática que permita a engenheiros e

governantes optarem por este tipo de estruturas de drenagem.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliar os custos relacionados à utilização de bacias de detenção em

condomínios residenciais.

1.2.2 Objetivos específicos

18

Realizar análise da experiência existente no Brasil sobre a questão;

Realizar o dimensionamento da rede de drenagem pluvial utilizando o sistema

convencional, considerando os passeios dos lotes de concreto e as ruas com

revestimento asfáltico;

Realizar o dimensionamento da rede de drenagem pluvial utilizando o sistema

compensatório (sustentável), tendo como medida preferencial um reservatório

de detenção;

Analisar os resultados encontrados e compará-los com os obtidos por Basso

(2013) e Kipper (2015), que dimensionaram, para o mesmo condomínio, redes

de drenagem utilizando trincheiras de infiltração e microrreservatórios de

detenção, respectivamente.

19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 DRENAGEM URBANA

Segundo Tucci (1997), o conjunto de medidas que buscam minimizar riscos e

prejuízos causados por inundações à população e à infraestrutura urbana, e ainda, a

harmonização do processo de desenvolvimento urbano articulado e sustentável que

pode ser usado como a definição para o termo Drenagem Urbana.

A finalidade básica da drenagem urbana é o escoamento rápido e eficiente das

águas das chuvas em excesso até um local apropriado. Isto deve estar associado ao

menor impacto ambiental possível, ou seja, a bons projetos de drenagem urbana, que

são aqueles que procuram evitar modificações nas características do clico hidrológico

do local em questão.

Segundo o Manual de Drenagem Urbana de Porto Alegre (DEP/IPH, 2005), os

sistemas de drenagem são definidos como: drenagem na fonte, microdrenagem e

macrodrenagem. A drenagem na fonte é definida pelo escoamento que ocorre no lote,

condomínio, ou empreendimento individualizado.

A microdrenagem é entendida pelo sistema de condutos construídos

destinados a suportar e conduzir as águas das chuvas. Fazem parte deste sistema,

por exemplo, bocas de lobo, sarjetas, valas, galerias, entre outros.

Segundo Martins (1995), as estruturas de macrodrenagem são destinadas à

condução final das águas captadas pelo sistema de microdrenagem. De fato, a

macrodrenagem de uma zona urbana corresponde à rede de drenagem natural pré-

existente nos terrenos antes da ocupação, sendo constituída pelos rios, riachos e

córregos localizados nos talvegues e vales em cidades montanhosas, já em cidades

planas e litorâneas são utilizados canais artificiais.

2.1.1 Drenagem urbana convencional

A visão clássica de drenagem urbana resume-se na implantação de soluções

estruturais, como obras de canalização, que aceleravam o escoamento para jusante.

Segundo Canholi (2014), essa visão “higienista” era adotada pelos responsáveis pela

20

drenagem de águas pluviais, a exemplo dos esgotos sanitários, os projetos

preconizavam a rápida retirada das águas drenadas dos locais onde haviam sido

originadas, ocasionando a sobrecarga dos córregos receptores.

Esta filosofia tradicional, também conhecida como conceito de canalização,

refere-se à prática da canalização convencional exercida por décadas no mundo todo

e particularmente no Brasil, voltada à implantação de galerias e canais de concreto,

ao transformação dos rios em condutos fechados ou canais fechados, à retificação do

traçado, ao aumento de declividades de fundo e demais intervenções, que visavam,

prioritariamente, promover o afastamento rápido dos escoamentos e o aproveitamento

dos fundos de vale como vias de trafego, tanto laterais aos canais como sobre eles

(CANHOLI, 1995).

Os principais termos utilizados no dimensionamento de uma rede de drenagem

convencional são: galerias, poços de visita, trecho, bocas de lobo, tubos de ligações,

meios-fios, sarjetas, sarjetões, condutos forçados e estações de bombeamento.

2.1.1.1 A urbanização e suas consequências no escoamento superficial

No início da década de 60 o Brasil passou a apresentar um acelerado processo

de êxodo das áreas rurais para as áreas urbanas. A aceleração e desorganização

deste processo, aliados à falta de planejamento de órgãos competentes, geraram

impactos não só sociais como também ambientais nos grandes centros urbanos.

O processo de urbanização acarretou em grandes modificações com relação

ao uso e ocupação dos solos e, consequentemente, nas características hidrológicas

locais. Segundo Lima-Queiroz et al., (2003), a ocupação de áreas instáveis nas

encostas e de áreas sujeitas a inundações nos vales dos cursos de água associado a

um sistema de drenagem deficiente e da crescente impermeabilização dos solos,

contribuem muito para o agravamento dos problemas trazidos pela urbanização.

A ocupação urbana atinge diretamente o ciclo hidrológico. Tucci (1997) resume

os principais impactos causados pela mesma:

Aumento do escoamento superficial e da vazão máxima dos hidrogramas e

antecipação dos picos;

21

Redução da evapotranspiração e do escoamento subterrâneo, diminuindo o

nível dos lençóis freáticos;

Aumento da produção de material sólido;

Deterioração da qualidade das águas superficiais, principalmente no início das

chuvas, quando a drenagem de águas carreia material sólido e lava as

superfícies urbanas.

Uma das principais e mais alarmantes consequências da urbanização é o

aumento do escoamento superficial. A impermeabilização das superfícies, através do

processo de urbanização, impossibilita que as águas das chuvas atinjam o solo e

infiltrem. Concomitantemente, a água que não infiltra acaba por escoar

superficialmente.

Na Figura 1 é mostrado um hidrograma de uma área urbanizada e de uma área

não urbanizada. Ao analisá-la pode-se perceber o incremento do pico de vazão no

hidrograma da área urbanizada com relação ao da área não urbanizada. Além disso,

constata-se uma diminuição do tempo de escoamento superficial para a área

urbanizada. Estes são efeitos diretos do processo de impermeabilização das

superfícies associado à remoção das águas superficiais de forma mais ágil por meio

dos dispositivos de drenagem urbana.

Figura 1: Hidrograma hipotético do efeito da urbanização de uma área.

Fonte: Tucci, 1997.

22

2.1.2 Drenagem urbana compensatória/sustentável

O acelerado processo de urbanização ocorrido nos grandes e médios centros

urbanos brasileiros evidenciou a limitação dos sistemas de drenagem convencionais

na resolução dos problemas relacionados ao aumento do escoamento superficial das

águas pluviais. Com o tempo, passou-se a perceber que a transferência dos

escoamentos para jusante não servia como solução, pois apenas transferia as

inundações (TUCCI, 1997).

Na década de 70 os países desenvolvidos, ao perceberem as limitações dos

sistemas de drenagem tradicionais, passaram a estudar novas soluções para a

drenagem de suas cidades. A partir daí foram criados sistemas que propiciavam a

retenção e infiltração das águas pluviais, antes mesmo que estas atingissem as redes

de drenagem. Estas novas técnicas de drenagem ficaram conhecidas por Sistemas

de Drenagem Compensatórios ou Sustentáveis (TUCCI, 1997).

No Brasil, em 2001, com o Estatuto da Cidade (Lei 10251/2001) Governo

Federal sinalizou que a drenagem urbana passaria a ser mais importante. Com a

criação deste estatuto, o Governo passou a atrelar financiamentos com a utilização

de medidas compensatórias, como reservatórios de detenção e trincheiras de

infiltração e medidas não-estruturais, como a criação de planos diretores de drenagem

urbana (CADORE, 2013).

Segundo Canholi (2014), as medidas compensatórias em drenagem urbana

podem ser entendidas como estruturas, obras, dispositivos ou mesmo como conceitos

diferenciados de projeto, cuja utilização não se encontra ainda disseminada. Estas

soluções diferem do conceito tradicional de canalização, embora possam estar

associadas a ela, para melhoria do sistema de drenagem.

A drenagem sustentável procura controlar o escoamento superficial o mais

próximo possível do local onde as precipitações atingem o solo, o que se chama de

controle de escoamento na fonte.

Entre os princípios da drenagem urbana sustentável estão os seguintes (TUCCI

et al., 1995):

23

Tratar a bacia como sistema. As medidas de controle não podem reduzir o

impacto de uma área em detrimento de outra, ou seja, os impactos de

quaisquer medidas não devem ser transferidos;

A cheia natural não deve ser ampliada por aqueles que ocupam a bacia, tanto

num loteamento simples, como nas obras de macrodrenagem existentes no

ambiente urbano;

Controlar permanentemente as enchentes;

Além destes, Tucci (1995) também propõe que sejam utilizadas medidas

estruturais e não-estruturais em conjunto. As técnicas estruturais adaptam projetos

inovadores da engenharia, como a utilização de pavimentos permeáveis, bacias de

detenção e valas de infiltração.

Já as medidas não-estruturais, são as medidas reguladoras e preventivas,

como a criação de Planos Diretores de Drenagem Urbana, zoneamento de áreas

ribeirinhas, criação de sistemas de alerta e utilização de seguro contra catástrofes.

2.1.2.1 Medidas estruturais

Medidas estruturais são todas as obras da construção civil executadas com o

objetivo de reduzir ou evitar prejuízos causados por enchentes. As medidas estruturais

podem ser divididas em medidas intensivas e extensivas.

As medidas intensivas são aquelas que agem no rio e podem ser de

quatro tipos: de aceleração do escoamento: canalização e obras correlatas; de

retardamento do fluxo: reservatórios de detenção ou retenção. Restauração de calhas

naturais; de desvio do escoamento: canais de desvio e túneis de derivação; e que

englobem a introdução de ações individuais visando tornas as edificações à prova de

enchentes (CANHOLI, 2014).

Ainda segundo Canholi (2014), as medidas extensivas são aquelas que agem

na bacia, procurando modificar as relações entre precipitações e vazões e

correspondem aos pequenos armazenamentos disseminados na bacia, ao controle

da erosão do solo e à recomposição da cobertura vegetal ao longo da bacia de

drenagem.

24

Segundo o Plano Diretor de Drenagem Urbana e Ambiental de Teresina no

Estado do Piauí (CONCREMAT, 2010), as medidas estruturais são agrupadas em três

categorias, conforme sua ação exercida na bacia hidrográfica, em suas diferentes

escalas, podendo atuar individualmente ou em conjunto. As três categorias são as

seguintes:

Ação distribuída ou na fonte: inclui o uso de medidas para o controle do

escoamento pluvial que atua sobre os lotes, praças e passeios;

Ação na microdrenagem: inclui o uso de medidas de controle do escoamento

pluvial que agem sobre o escoamento resultante de um loteamento, ou mais

de um loteamento, sendo definido em função da área de drenagem

contribuinte;

Ação na macrodrenagem: contempla o uso de medidas para o controle do

escoamento pluvial sobre áreas acima de 1,5km² a 2km², ou de áreas a serem

definidas em função dos principais riachos urbanos. (PDDrU, TERESINA –

Módulo II, p. 12, 2010).

2.1.2.1.1 Reservatórios ou bacias de detenção/retenção

Atualmente, a concepção e instalação de dispositivos que favoreçam a

detenção/retenção dos escoamentos, em escalas micro e macro, é um conceito

largamente utilizado em vários países e que começa a se disseminar no meio técnico

brasileiro (PORTO, 2006).

Os reservatórios de detenção/retenção têm como objetivo principal armazenar

um certo volume de água por um determinado tempo, assim, redistribuindo as vazões

durante um período maior com o intuito de diminuir as vazões de pico durante os

eventos chuvosos. Além disto, as bacias de detenção/retenção também têm sido

utilizadas como espaços de lazer e recreação, e também como forma de melhorar a

qualidade da água pelo controle de sedimentos e poluição.

As bacias de detenção e retenção possuem os mesmos objetivos e funções,

embora possuam uma diferença. Conforme é mostrado nas Figuras 2 e 3, as bacias

de retenção mantém um volume da água ao longo do tempo, enquanto as bacias de

detenção não possuem este volume.

25

Figura 2: Reservatório de detenção.

Fonte: DEP/IPH, 2005, apud Maidment, 1993.

Figura 3: Reservatório de retenção.

Fonte: Maidment, 1993, apud DEP/IPH, 2005.

Os reservatórios de detenção/retenção são divididos em dois tipos básicos: off-

line e on-line, conforme mostrado na Figura 4. Os reservatórios off-line não entram em

funcionamento para qualquer evento, mas sim para determinados eventos que foram

definidos em projeto, ou seja, para precipitações cujos volumes gerados estão acima

de determinados limites. Já os reservatórios on-line entram em funcionamento para

qualquer evento de chuva, incluindo chuvas de baixa intensidade. O dispositivo que

cria essa diferença é chamado de by-pass, que nada mais é que um canal de

determinada capacidade. O by-pass tem a função de desviar a vazão do reservatório.

26

No instante em que a vazão supera a capacidade deste by-pass, começa a verter para

dentro do reservatório off-line. Deste modo, como não é armazenado todo o volume

da chuva e sim o que não pode ser escoado pelo by-pass, o reservatório

dimensionado tem um volume menor à situação on-line, tornando o off-line mais

barato (Neves et al., 2005).

Como cita Cadore (2013), os reservatórios off-line possuem mais vantagens

com relação aos on-line, além do custo. Como os primeiros milímetros de chuva

promovem uma “limpeza” das superfícies, o escoamento inicial tem alta concentração

de poluentes. Ao utilizar reservatórios off-line, estes primeiros milímetros de água mais

suja acabam passando pelo by-pass, reduzindo a quantidade de água poluída no

reservatório, portanto, causando menos problemas ambientas.

Sob o aspecto de limpeza, os reservatórios off-line também levam vantagem

diante dos on-line. Como os reservatórios off-line não são utilizados em todos os

eventos acabam por necessitar menos de manutenções. Embora as bacias de

detenção/retenção off-line apresentem diversas vantagens nem sempre é possível

implantá-las, devido à falta de espaço físico. Nestes casos, a alternativa existente é o

controle total da vazão com reservatórios do tipo on-line.

Figura 4: Comparação do caminho da água em reservatórios off-line e on-line.

27

Fonte: Canholi, 2014.

2.1.2.1.2 Trincheiras de infiltração

Um dos métodos mais conhecidos para controle do escoamento superficial de

águas pluviais é a utilização de dispositivos de infiltração e/ou percolação. Ao projetar

a urbanização de uma área, a preservação da infiltração do volume precipitado

permite manter condições mais próximas possíveis das condições naturais.

Segundo Baptista et al,. (2005) as trincheiras de infiltração (Figura 5) são

técnicas compensatórias de drenagem que são implantadas junto à superfície do solo

ou a uma pequena profundidade, com a finalidade de recolher as águas pluviais ao

longo de seu comprimento, favorecendo a infiltração e/ou armazenamento temporário.

Estas estruturas apresentam largura e profundidade reduzidas, enquanto suas

dimensões longitudinais são bastante expressivas.

Figura 5: Representação de uma trincheira de infiltração típica.

Fonte: modificado de Schueler, 1987, apud DEP/IPH, 2005.

28

As trincheiras são constituídas por valetas preenchidas com material granular

com porosidade em torno de 35%, além disto, uma camada de filtro geotêxtil é

colocada entra a trincheira e a superfície, recoberta por uma camada de seixos,

formando uma superfície drenante (DEP/IPH, 2005).

Segundo Urbonas e Stahre, apud DEP/IPH (2005) o uso dessa tecnologia de

infiltração não é indicado em situações onde o nível d’agua máximo do lençol estiver

a menos de 1,2m abaixo do fundo das trincheiras. Caso a camada impermeável esteja

a uma menor profundidade, ou o solo esteja na classificação C ou D do Soil

Conservation Service – grupos hidrológicos onde os solos são caracterizados por

apresentarem capacidades mínimas de infiltração abaixo da média, em solo saturado

– ou caso a superfície de infiltração for um aterro as trincheiras também não são

indicadas.

Como vantagens deste tipo de dispositivo pode-se citar: redução das vazões

de pico de escoamento à jusante; baixo custo; redução das dimensões das tubulações

à jusante; redução dos riscos de inundação; recarga de aquíferos subterrâneos. Já as

desvantagens são: manutenção periódica específica; possibilidade de colmatação;

limitações no caso de grandes declividades; risco de poluição do lençol subterrâneo.

2.1.2.1.3 Valas de infiltração

Segundo Canholi (2014), as valas de infiltração são valetas revestidas com

vegetação adjacentes a ruas e estradas, ou junto a áreas de estacionamento, para

favorecer a infiltração. É mostrado na Figura 6 um exemplo do uso desta técnica na

cidade de Denver nos EUA.

Figura 6: Exemplo de vala de infiltração em Denver.

29

Fonte: Canholi, 2014.

As valas normalmente são longas e estreitas e seus taludes laterais e o fundo

são cobertos por vegetação. As principais vantagens deste método são a infiltração

da água para camadas superficiais e profundas do solo, a captura de poluentes e a

diminuição da velocidade do escoamento superficial. Já como desvantagens podem

ser citadas: a necessidade de manutenções periódicas, a perda da capacidade de

infiltração com o acúmulo de materiais finos e resíduos sólidos, e o risco de

contaminação da água dos aquíferos.

Para um melhor controle do escoamento superficial as valas de infiltração

podem ser associadas às trincheiras de infiltração, como mostrado na Figura 7.

Figura 7: Associação de valas de infiltração e trincheira de infiltração.

30

Fonte: modificado de Urbonas e Stahre, 1993, apud Canholi, 2014.

2.1.2.1.4 Poços de infiltração

Os poços de infiltração consistem de uma escavação em forma cilíndrica ou

retangular com uma estrutura ou preenchimento de pedras para manter a forma da

escavação. De acordo com Ciria (1996), apud DEP/IPH (2005), quando ocorre um

evento de chuva, parte da água fica armazenada, enquanto outra parte infiltra na base

e nas laterais.

Estas estruturas são as medidas de contenção na fonte mais recomendadas

quando não se dispõe de espaço ou quando a urbanização existente inviabiliza

medidas dispersivas como trincheiras e valas de infiltração.

Nas Figuras 8 e 9 são apresentados, respectivamente, um exemplo de poço de

infiltração em formato cilíndrico e em forma de trincheira.

Figura 8: Poço de infiltração cilíndrico.

Fonte: Ciria, 1996, apud DEP/IPH, 2005.

Figura 9: Poço de infiltração em forma de trincheira.

31

Fonte: Ciria, 1996, apud DEP/IPH, 2005.

Deverá ser feita limpeza regularmente dos dispositivos para retenção de

sedimentos na entrada do dispositivo. A frequência de limpeza deve ser maior quanto

maior for a área e quando houver muita presença de material que possa causar

obstrução.

2.1.2.1.5 Pavimentos permeáveis

Segundo Urbonas e Stahre, apud DEP/IPH (2005) os pavimentos permeáveis

(Figura 10) devem ser classificados em três tipos: pavimentos de asfalto poroso;

pavimentos de concreto poroso; pavimentos de blocos de concreto vazado

preenchidos com material granular, como areia ou vegetação rasteira.

Figura 10: Exemplo de seção transversal de um pavimento permeável.

32

Fonte: Hogland e Niemczynowicz, 1996 apud DEP/IPH, 2005.

Segundo Schueller (1987), apud DEP/IPH (2005) os pavimentos permeáveis

são compostos por duas camadas de agregados, sendo uma camada de agregado

fino ou médio e outra de agregado graúdo, mais a camada do pavimento permeável

propriamente dito.

O objetivo da estrutura é fazer com que o escoamento infiltre o mais rápido

possível na capa ou revestimento poroso de 5 a 10 cm de espessura, após isso, a

água passa por um filtro de agregado de 1,25 cm de diâmetro e espessura aproximada

de 2,5 cm, e por fim, vá para uma câmara ou reservatório de pedras mais profundo

com agregados maiores (DEP/IPH, 2005).

A utilização dos pavimentos permeáveis, de modo geral, pode proporcionar

uma redução dos volumes escoados e do tempo de resposta da bacia para condições

similares ou até mesmo, dependendo das características do subsolo, condições

melhores que as de pré-urbanização, desde que seja usada racionalmente,

respeitando seus limites físicos, e que seja conservado periodicamente com uma

manutenção preventiva, evitando assim o seu entupimento. As principais limitações

podem ser:

Quando a água drenada é altamente contaminada, haverá também

contaminação do lençol freático;

Falta de controle na construção e manutenção, podem entupir os dispositivos

tornando-os ineficientes.

2.1.2.1.6 Diques

Os diques (Figura 11) são considerados uma das medidas de contenção a

inundações mais antigas. Estas estruturas têm como função proteger as áreas

33

ribeirinhas ou litorâneas que se situam em cotas inferiores às dos níveis d’água

durante os períodos de enchentes ou marés.

Segundo Tucci (1993), o maior risco envolvido na construção dos diques é a

dificuldade de definir corretamente o nível da cheia máxima possível, havendo sempre

um risco de colapso, com consequências ainda piores para jusante do que os

prováveis riscos que haveria se a obra não existisse.

Figura 11: Representação do sistema de diques de proteção.

Fonte: Barbosa, 2007.

2.1.2.2 Medidas não estruturais

Ao contrário das medidas estruturais, que podem criar uma falsa segurança e

até induzir à ampliação da ocupação das áreas inundáveis, as ações não estruturais

podem ser eficazes a custos mais baixos e com horizontes mais longos de atuação

(TUCCI, 2003).

A associação de medidas não estruturais e estruturais podem minimizar os

prejuízos e reduzir os custos diante de catástrofes referentes a inundações dos

centros urbanos.

As ações não estruturais têm o intuito de disciplinar a ocupação territorial, o

comportamento de consumo das pessoas e as atividades econômicas (CANHOLI,

2014). A seguir serão descritas algumas medidas não estruturais.

34

Na Figura 12 é mostrada as curva de atendimento às demandas da drenagem

urbana a partir das ações referentes às medidas estruturais e não estruturais.

Figura 12: Curva de atendimento às demandas de drenagem urbana.

Fonte: Braga, 1994, apud Canholi, 2014

2.1.2.2.1 Plano diretor de drenagem urbana

De acordo com Tucci (1995), ao formular um Plano Diretor de Drenagem

Urbana, as seguintes atividades são recomendadas:

Devem ser analisadas as sub-bacias urbanas e as faixas ribeirinhas,

estabelecendo-se normas de inspeção de projeto e execução de ocupação e

de obras urbanas;

A área legislada e controlada deve ser subdividida em distritos, para os quais

são realizados estudos para regulamentar o tipo de ocupação e os critérios a

serem seguidos;

Elaborar um manual de drenagem urbana específico para a cidade, que servirá

de orientação aos engenheiros projetistas e à fiscalização dos projetos;

35

Estabelecer equipes para operação e manutenção dos sistemas de drenagem

urbana, fiscalização dos projetos e elaboração de estudos de

acompanhamento e planejamento.

É válido ressaltar a importância da participação da população na elaboração de

planos diretores, deste modo as pessoas compreenderiam melhor o

funcionamento e as vantagens do projeto e acabariam se empenhando mais na

busca conjunta de soluções para o problema das cheias.

2.1.2.2.2 Zoneamento de áreas inundáveis

Os rios geralmente possuem dois leitos: o leito menor, onde a água escoa na

maior parte do tempo; e o leito maior, que é inundado em média a cada 2 anos. O

impacto devido à inundação ocorre quando a população ocupa o leito maior do rio,

ficando sujeita às enchentes (DEP/IPH, 2005).

Zoneamento de áreas ribeirinhas é definido por uma série de regras

necessárias para delimitar as áreas de maiores riscos à população. Este zoneamento

visa minimizar as perdas materiais e humanas quando ocorrerem inundações.

Devido à dificuldade de obtenção de todas as informações necessárias, a

elaboração destas delimitações deve ser dividida em duas fases. Na fase preliminar,

às áreas de inundação são delimitadas com critérios reduzidos, tendo como base

mapas topográficos existentes e marcas de enchentes passadas. Na sequência,

realiza-se o mesmo estudo anteriormente citado, porém de forma mais detalhada,

além de ensaios de batimetria do rio para definição das áreas de inundações

(CONCREMAT, 2010).

Pela Figura 13, segundo o Plano Diretor de Drenagem Urbana e Ambiental de

Teresina no estado do Piauí (CONCREMAT, 2010), pode-se dividir o escoamento dos

rios em três partes principais.

Figura 13: Zoneamento de áreas inundáveis.

36

Fonte: Souza et al., 2007 apud Concremat, 2010.

Zona de passagem de cheia (faixa um, em verde) - Esta parte da seção

funciona hidraulicamente e permite o escoamento da cheia. Qualquer construção

nessa área reduzirá a área de escoamento, elevando os níveis à montante desta

seção. Portanto, em qualquer planejamento urbano, deve-se procurar manter esta

zona desobstruída.

Zona com restrições (faixa dois, em cinza) - Esta é a área restante da superfície

inundável que deve ser regulamentada. Esta zona fica inundada, mas, devido às

pequenas profundidades e baixas velocidades, não contribui de forma significativa

para a drenagem de cheia. Seu uso está liberado para parques e atividades

recreativas ou esportistas, uso agrícola, habitações com mais de um piso, serviços

básicos bem projetados (estradas e linhas de transmissão), entre outros.

Zona de baixo risco (faixa três, em amarelo) - Esta zona possui pequena

probabilidade de ocorrência de inundações, sendo atingida em anos excepcionais por

pequenas lâminas de água e baixas velocidades. A definição dessa área é útil para

informar a população sobre a grandeza do risco a que está sujeita. Esta área não

necessita de regulamentação quanto às cheias.

37

2.1.2.2.3 Sistemas de previsão de cheias e de alerta

Os sistemas de previsão e alertam atuam para evitar o fator surpresa, que

muitas vezes provoca vítimas fatais e grandes prejuízos financeiros.

Estes sistemas podem ser divididos em três fases descritas por Basso (2013):

Prevenção: são desenvolvidas atividades preventivas, dentre elas pode-se

citar: os treinamentos à população das zonas ribeirinhas, realizados pela

Defesa Civil; mapas de delimitações; planejamento de alojamento a

desabrigados;

Alerta: monitoramento do nível dos rios em tempo real. As entidades

responsáveis possuem a capacidade para calcular o tempo em que a cota de

risco será atingida, e quando houver necessidade, a população será avisada

no ato, por sinais sonoros, para desocuparem as áreas de risco e buscarem

abrigos seguros nestas situações;

Mitigação: são as medidas tomadas após a ocorrência das cheias. Estas

buscam diminuir o prejuízo da poluição. Pode-se citar como exemplo o

isolamento de ruas e áreas de risco.

Na Figura 14 é apresentada a interface do boletim de monitoramento e previsão

do sistema de alertas contra cheia da Bacia do Rio Doce.

Figura 14: Boletim de monitoramento e previsão de enchentes.

38

Fonte: http://www.cprm.gov.br/alerta/site/boletim.html, apud Basso, 2013.

2.2 CRITÉRIOS PARA PROJETO DE DRENAGEM URBANA

2.2.1 Classificação das bacias

A classificação das bacias hidrográficas acontece pela análise de alguns

preceitos, que serão utilizados para escolhas de diferentes métodos e critérios. Um

dos principais critérios classifica as bacias pelo seu porte, adotando como critério o

tempo de concentração e a área de drenagem das bacias.

Bacias de Pequeno Porte: aquelas cuja área de drenagem seja inferior a 2,5

km² e/ou o tempo de concentração inferior à 1h;

Bacias de Médio Porte: aquelas cuja área de drenagem está entre 2,5 e 1000

km² e/ou tempo de concentração entre 1 e 12 horas;

Bacias de Grande Porte: aquelas cuja área de drenagem é maior que 1000 km²

e/ou tempo de concentração maior que 12 horas.

39

Esta classificação está relacionada ao método de cálculo das vazões de cheia.

No caso de bacias de pequeno porte utiliza-se o método racional, pois além de ser um

método simples, este adapta-se melhor ao comportamento hidrológico de tais bacias.

Já para bacias de médio e grande porte, normalmente são utilizadas técnicas

baseadas no hidrograma unitário de modo a evitar a superestimação das vazões de

pico.

2.2.2 Tempo de retorno (Tr)

Ao dimensionar-se obras estruturais de drenagem com ação em qualquer

escala, seja no lote, microdrenagem ou macrodrenagem, deve-se adotar um

determinado evento de cheia. Desta forma, assume-se o risco de que, para eventos

de cheia superiores aos de projeto, a estrutura poderá falhar.

Deste modo, determina-se tempo de retorno (Equação 1) como o inverso da

probabilidade de um determinado evento hidrológico ser igualado ou superado em um

ano qualquer, ou seja, o tempo necessário para que tal evento hidrológico aconteça

novamente.

Tr =1

Fr(≈P) (1)

Onde:

Tr – Tempo de retorno;

Fr – Evento de cheia.

Quanto maior o tempo de retorno escolhido para a estrutura, maior será o custo

da obra, portanto é um dado de vital importância para o projeto e que deve ser

estudado. A determinação do risco da estrutura de falhar durante sua vida útil é dado

pela Equação 2:

R = 1 − [1 − (1/𝑇𝑟)]𝑛 (2)

Onde:

R – risco;

Tr – período de retorno (anos);

40

n – vida útil da obra (anos).

O projetista, ao definir o tempo de retorno do evento do projeto, deve analisar

a relação custo/benefício. Por exemplo, o tempo de retorno para estruturas de

macrodrenagem deve ser maior do que para estruturas de microdrenagem, pois sua

falha acarretaria em alagamentos maiores, podendo atingir, por exemplo, um bairro

inteiro. Já no caso de falha em estruturas de microdrenagem seriam gerados apenas

alagamentos localizados. O Quadro 1, montado pelo DAEE/CETESB (1980), após

análises prévias de custos/benefícios, auxilia o projetista na definição do tempo de

retorno indicado para cada estrutura.

Quadro 1: Período de retorno para diferentes ocupações de áreas.

Fonte: DAEE/CETESB, 1980.

2.2.3 Tempo de concentração (tc)

Por definição, o tempo de concentração (tc) é o tempo que uma gota de chuva

que atinge a região mais remota da bacia, leva para atingir exutório. Ou seja, o tempo

em que toda a bacia passa a contribuir para o escoamento superficial.

A forma correta para definição do tempo de concentração de uma bacia

consiste na análise de hidrogramas e hietogramas, porém nem todas as bacias

possuem tais informações disponíveis, sendo assim, necessária a utilização de

fórmulas empíricas. Os modelos de cálculo são feitos conforme parâmetros como

41

área, comprimento do talvegue, declividade, rugosidade da superfície, entre outros, e

as fórmulas são determinadas por estudos experimentais e de campo, deste modo,

deve-se ter muito cuidado na definição do modelo que será utilizado para a bacia em

questão.

No Quadro 2 são relacionadas as principais fórmulas para determinação de

tempos de concentração de bacias hidrográficas.

Quadro 2: Equações para a estimativa do tempo de concentração.

Fonte: Silveira, 2004.

No estudo em questão, será adotado o tempo de concentração de entrada de

10 minutos vindo da sarjeta, comum para áreas residenciais com sarjetas com

inclinação longitudinal menor ou igual a 3%. Ao longo dos trechos os trechos da rede,

o tempo de concentração será determinado pela Equação 3.

𝑇𝑐2 = Tc1 + Tg (3)

42

Onde:

Tc2 – tempo de concentração no fim do trecho (min);

Tc1 – tempo de concentração inicial (min);

Tg – tempo de percurso na galeria (min).

Quando se tratarem de vários trechos de drenagem, deve ser calculado um

tempo de concentração para cada trecho, a soma destes resulta na concentração

final.

O raio hidráulico é calculado conforme a fórmula:

Rh =A

Pm (4)

Onde:

A – área da seção transversal (m²);

𝑃𝑚 – perímetro molhado da seção transversal (m).

A velocidade do escoamento determina-se pela fórmula de Manning (Equação

5):

V =Rh2/3.𝑆1/2

𝑛 (5)

Onde:

V – velocidade do escoamento (m/s);

Rh – Raio hidráulico (m);

S – declividade (m/m).

Na Tabela 1 são mostrados os coeficientes de rugosidade de Manning (n)

utilizados na equação de Manning (Equação 5), conforme as características do

conduto.

Tabela 1: Coeficiente de rugosidade de Manning.

43

Fonte: CONCREMAT, 2011.

2.2.4 Chuva de projeto

O método da curva IDF utilizado para determinação da chuva de projeto é

baseado nas relações entre intensidade, duração e frequência das chuvas na bacia.

Cada região possui sua curva IDF específica. A partir do ajuste dos dados das curvas

IDF de cada região é obtida a equação (Equação 6).

I =a.Trb

(t+c)d (6)

Onde:

I – intensidade da precipitação (mm/h);

Tr – tempo de recorrência (anos);

t – duração da precipitação (min);

a,b,c,d – constantes obtidas pelo estudo estatístico de dados pluviométricos da

região.

Em regiões que carecem de dados pluviométricos são utilizados dados de

regiões próximas ou é feita interpolação destes dados.

44

No caso da bacia em estudo, para obter-se a intensidade da chuva de projeto

para o loteamento em desenvolvimento na cidade de Frederico Westphalen – RS,

foram considerados os coeficientes a, b, c, d, definidos segundo Vilar Sampaio (2011),

que deterninou-os através da desagregação das chuvas de 24 horas de duração.

Desta forma, foram utilizados os coeficientes encontrados a partir da

espacialização da bacia hidrográfica denominada U100 por Vilar Sampaio (2011)

(Quadro 3), que se encontra na cidade de Iraí – RS, distante 30 km da região do

loteamento em estudo.

Quadro 3: Coeficientes de parametrização da bacia U100 de Irái-RS.

Nº BH Tempos de Duração da Chuva (min)

5 10 15 20 30 45 60 120 240 360 720 1440

122 U100

145.4 113.6 94.7 82.1 65.7 51.6 43 26.9 16.3 12.1 7.1 4.2

Coeficientes da Equação IDF

a b c d r²

1076.22 0.1348 9.11 0.7609 0.9947

Fonte: Sampaio, 2011.

2.3 DIMENSIONAMENTO DO SISTEMA TRADICIONAL DE DRENAGEM URBANA

2.3.1 Vazão de projeto

Para dimensionamento de estruturas de drenagem em bacias pequenas pode-

se utilizar o método Racional. Para isso, devem ser considerados alguns princípios do

método, como:

A duração da precipitação máxima do projeto deve ser igual ao tempo

de concentração da bacia. A bacia deve ser pequena para tal condição

ser atingida, pois a duração é inversamente proporcional à intensidade,

além disto, a caso a bacia seja muito grande podem ocorrer variações

das precipitações no espaço e no tempo;

45

Adota-se um coeficiente C único para perdas, estimado com base nas

características da bacia. Pode-se adotar um C ponderado;

Não se avalia o volume de cheia e a distribuição temporal das vazões,

pois é considerada apenas a chuva média no intervalo de tempo.

Portanto não pode ser utilizado para dimensionamento de reservatórios

de amortecimento.

O método racional é definido pela seguinte equação:

Q =CIA

360 (7)

Onde:

Q - vazão máxima – vazão de pico (m³/s);

C - coeficiente de escoamento superficial;

I - intensidade da precipitação (mm/h);

A - área da bacia (ha).

Ao agrupar os conceitos definidos anteriormente, verifica-se que a intensidade

da precipitação depende da equação IDF, do tempo de retorno e do tempo de

concentração. Já o coeficiente de escoamento superficial depende de fatores como:

solo, cobertura, tipo de ocupação, tempo de retorno e intensidade da precipitação.

Nas Tabelas 2 e 3 estão indicados, respectivamente, valores de coeficiente C

de acordo com uso do solo e de acordo com superfícies de revestimento

Tabela 2: Valores de C por tipo de ocupação.

46

Fonte: Asce, 1969 e Wilken, 1978 apud DEP/IPH, 2005.

Tabela 3: Valores de C de acordo com a superfície de revestimento.

Fonte: Asce, 1969 apud DEP/IPH, 2005.

47

2.3.2 Dimensionamento das redes de microdrenagem

2.3.2.1 Sarjetas

Conforme Tucci (1995), as águas, ao caírem nas áreas urbanas, escoam,

inicialmente, pelos terrenos até chegarem às ruas. Sendo as ruas abauladas

(declividade transversal) e com inclinação longitudinal, as águas escoarão,

rapidamente, para as sarjetas, e destas, ruas à baixo. Se a vazão for excessiva,

ocorrerá: (i) alagamento e seus reflexos. (ii) inundação de calçadas; (iii) velocidade

exagerada, com erosão do pavimento.

Para cálculo da capacidade de condução da rua ou da sarjeta podem ser

consideradas duas possibilidades: a água escoando por toda a calha da rua ou a água

escoando somente pelas sarjetas.

As duas possibilidades diferenciam-se peça altura da água na sarjeta, onde, na

primeira possibilidade, h1 = 0,15 m e, na segunda, h2 = 0,10 m. A declividade

longitudinal da sarjeta, adotada para ambas as possibilidades, é de 3% (Figura 15).

Figura 15: Seção transversal de uma sarjeta.

Fonte: DAEE/CETESB, 1980.

Ao considerar-se rua e sarjeta adota-se um triângulo com a declividade da rua.

O dimensionamento hidráulico de sarjetas pode ser obtido através da utilização da

Equação de Manning transformada:

Q =A.Rh

23.S

12

n (8)

48

Onde:

Q – vazão (m³/s);

A – área de seção transversal da sarjeta (m²);

𝑅ℎ – raio hidráulico (m);

S – declividade de fundo (m/m);

n – coeficiente de rugosidade de Manning (Tabela 1).

2.3.2.2 Bocas de lobo

As bocas de lobo possuem a responsabilidade de fazer a passagem da água

captada pelas sarjetas, para as galerias de drenagem subterrâneas. Podem ser

divindades em três grupos: bocas ou ralos de guias, ralos de sarjeta (grelhas) e ralos

combinados (DEP/IPH, 2005). Cada tipo possui variações quanto ao rebaixamento

em relação ao nível da superfície normal do perímetro e ao seu número (simples ou

múltipla), conforme é mostrado na Figura 16 a seguir.

Figura 16: Tipos de bocas de lobo.

49

Fonte: DAEE/CETESB, 1980.

A vazão que a boca pode receber chama-se capacidade de engolimento. Ao

ocorrer acúmulo de água sobre a boca de lobo, é gerada uma lâmina com altura menor

do que a abertura guia. Este tipo de boca de lobo pode ser considerado um vertedor

e a capacidade de engolimento será:

Q = 1,7. L. y3

2 (9)

Onde:

Q – vazão (m³/s);

y – altura de água próxima à abertura na guia (m);

L – comprimento da soleira (m).

Nas Figuras 17 e 18, são apresentados gráficos que permitem determinar a

vazão total, com base na altura e largura da depressão da boca de lobo, declividade

transversal e altura projetada de água.

50

Figura 17: Capacidade de engolimento.

Fonte: DAEE/ CETESB, 1980. Onde: w = largura da depressão em m; a = altura da depressão em m; I declividade

transversal do leito carroçável em m/m.

Figura 18: Capacidade de esgotamento das bocas de lobo com depressão de 5 cm em pontos baixos das sarjetas.

Fonte: DAEE/ CETESB, 1980.

51

Quando a altura de água sobre o local for maior do que o dobro da abertura na

guia, considera-se que funciona como um orifício. A vazão será calculada por:

Q = 3,01. L. h3

2. (y1/h)1

2 (10)

Onde:

L – comprimento da abertura (m);

h – altura da guia (m);

y1 – carga da abertura da guia (m); (y1= y - h/2). Para cargas de uma a duas

vezes a altura da abertura da guia (1 <y1/h < 2), a opção por um ou outro critério deve

ser definida pelo projetista.

Para bocas de lobo com grelha admite-se o comportamento de um vertedor de

soleira livre, para profundidades de lâmina até 12 cm. Se um dos lados da grelha for

adjacente à guia, este lado deve ser excluído do perímetro L da mesma. A vazão deve

ser calculada pela Equação 10, substituindo o comprimento de abertura (L) pelo

perímetro do orifício (P) em metros. No caso de profundidades de lâminas maiores

que 42 cm, a vazão é calculada pela Equação 11:

Q = 2,91. A. y1

2 (11)

Onde:

A – área da grade, excluídas as áreas ocupadas pelas barras (m²);

y – Altura de água na sarjeta sobre a grelha (m). Na faixa de transição entre 12

e 42 cm, a carga a ser adotada é definida segundo julgamento do projetista.

3.3.2.3 Fatores de Redução da Capacidade de Escoamento.

Tucci (1995) afirma que, as capacidades de escoamento anteriormente citadas

podem, segundo alguns autores, sofrer redução no valor calculado, a fim de aproximar

o resultado teórico das limitações existentes nos casos reais.

Para sarjetas, após ser calculada a capacidade teórica, multiplica-se esta pelo

seu fator de redução, que leva em conta obstrução de sarjetas de pequenas

declividades por sedimentos, carros estacionados, lixos, entre outros.

52

Na Tabela 4 são apresentados os valores recomendados para os fatores de

redução de sarjetas .

Tabela 4: Fator de redução de vazão das sarjetas.

Fonte: DAEE/CETESB, 1980.

Para bocas de lobo, a redução pode ser causada por obstrução com detritos,

irregularidades nos pavimentos das ruas junto às sarjetas e alinhamento real. Na

Tabela 5 são mostrados os valores recomendados para os fatores de redução de

bocas de lobo.

Tabela 5: Fator de redução de vazão das bocas de lobo.

Fonte: DAEE/CETESB, 1980.

2.3.2.5 Galerias

O dimensionamento das galarias de drenagem é feito baseado nos princípios

das equações hidráulicas de movimento uniforme, como Manning, Chezy, entre

53

outras. O cálculo depende do coeficiente de rugosidade do material utilizado e do tipo

de canalização adotado.

No estudo em questão, será utilizada a equação de Manning. O cálculo após a

definição das bocas de lobo é feito nos seguintes passos: i) define-se o tempo de

concentração; b) estabelecem-se os caminhos da rede e se delimitam as áreas

contribuintes a cada trecho; c) em uma planilha auxiliar de cálculo procede-se o

dimensionamento (Quadro 4).

Quadro 4: Exemplo de tabela de cálculo de redes de microdrenagem.

Fonte: adaptado de Tucci, 1995.

A seguir, informações para o preenchimento do Quadro 4:

Coluna 1 - nome do trecho, identificado pelo PV de início e PV de fim;

Coluna 2 - comprimento do trecho;

Coluna 3 – área de drenagem acumulada (área de drenagem contribuinte a

cada trecho de microdrenagem + de montante);

Coluna 4 – tempo de concentração de cada trecho (para o primeiro trecho,

determina-se aplicando a metodologia recomendada. Nos trechos

subsequentes, o tempo de concentração será o do trecho inicial mais o tempo

de escoamento na galeria. O tempo de escoamento é dado pela razão do

comprimento pela velocidade do trecho anterior);

Coluna 5 – determina-se a vazão utilizando a equação do método racional;

54

Coluna 6 – determina-se o diâmetro da tubulação em função da vazão (Q) e da

declividade (S). D = 1,55. ⟨Q.n

S12

3

8 (Equação 12) – adota-se o diâmetro comercial

adequado;

Coluna 7 – determinar a declividade da galeria

Coluna 8 – Se o Dadotado > Dcalculado, deve-se calcular a lâmina percentual

(y/D), a qual levará ao raio hidráulico real e a velocidade efetiva de escoamento

no conduto. Para a determinação de 𝑦/𝐷, deve-se primeiramente determinar o

fator hidráulico (Fh) da seção, Fh =Q.n

D83.S

12

(Equação 13). Se for seção circular,

determinado o Fh, entra-se com este valor na Tabela 6 e se determinam as

relações 𝑅ℎ/𝐷 e 𝑦/𝐷. Feito o processo, recorre-se a equação de Manning e a

velocidade é recalculada, e o tempo de escoamento determinado;

Coluna 9 – velocidade de projeto, recalculada a partir dos procedimentos

apresentados para a coluna 8;

Coluna 10 – tempo de escoamento (te =comprimento

velocidade+ 𝑇𝑐 𝑑𝑜 𝑡𝑟𝑒𝑐ℎ𝑜 𝑎𝑛𝑡𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟)

(Equação 14), determinado através dos procedimentos apresentados para a

coluna 8;

Coluna 11 – as cotas do terreno a montante e a jusante do trecho;

Coluna 12 – as cotas do greide do projeto das redes de drenagem;

Coluna 13 – calcular a profundidade de enterramento (cota do terreno – cota

do greide).

Tabela 6: Relações para fator hidráulico de seções circulares.

55

Fonte: DEP/IPH, 2005.

2.4 DIMENSIONAMENTO DA REDE SUSTENTÁVEL DE DRENAGEM URBANA

2.4.1 Vazão de projeto

Conforme citado anteriormente, o Método Racional não pode ser utilizado para

obtenção de vazões para dimensionamento de reservatórios de amortecimento, pois

este não avalia o volume de cheia e a distribuição temporal das vazões.

Neste caso, para obtenção da vazão de projeto devem-se realizar os seguintes

passos:

56

1. Definem-se o tempo de retorno, intervalo de tempo de análise das

precipitações, quantidade de intervalos de tempo;

2. Com a curva IDF definida anteriormente e os dados definidos no passo 1

calcula-se a intensidade das precipitações (mm/h);

3. Calcula-se as precipitações acumuladas (mm) e desacumuladas (mm);

4. Organiza-se as precipitações desacumuladas conforme o método dos

blocos alternados;

5. Calcula-se as precipitações efetivas com o método do Soil Conservation

Service (SCS), definindo diferentes coeficientes CN para pré e pós

urbanização;

6. Calcula-se a propagação com o Hidrograma Unitário Triangular (HUT),

definindo diferentes tempos de concentração para pré e pós urbanização;

7. Realiza-se a convolução dos valores encontrados no método SCS e no

HUT;

2.4.1.1 Método dos blocos alternados

No método dos blocos alternados, os valores de precipitações são

reorganizados de forma que o máximo incremento ocorra, aproximadamente, no meio

da duração da chuva total (DAEE/ CETESB, 1980). Os blocos de chuva seguintes são

organizados a direita e a esquerda alternadamente, até preencher a duração. O

método dos blocos alternados é realizado conforme mostrado na Tabela 7.

Tabela 7: Hietograma de 40 minutos pelo método dos blocos alternados.

57

Fonte: DEP/IPH, 2005.

2.4.1.2 Método do Soil Conservation Service (SCS)

Uma das formas mais utilizados para estimar o volume de escoamento

superficial de um evento de chuva é o método desenvolvido pelo National Resources

Conservation Center dos EUA (TUCCI, 1995)

Este método define que a lâmina escoada durante uma chuva de projeto é dada

por:

𝑄 =(𝑃−𝐼𝑎)^2

(𝑃−𝐼𝑎+𝑆) (15)

Se:

𝑄 < 𝐼𝑎 – Não há escoamento, portanto, 𝑄 = 0;

𝑄 > 𝐼𝑎 – Há escoamento, portanto, 𝑄 = 𝑄.

Onde:

Q – precipitação efetiva (mm);

P – precipitação durante evento (mm);

S – parâmetro adimensional definido por 𝑆 =(25400)

𝐶𝑁 – 254 (Equação 16) a partir

da Tabela 8;

Ia – estimativa das perdas iniciais, dado por 𝐼𝑎 = 0,2. 𝑆 (Equação 17).

58

Tabela 8: Valores de CN para bacias urbanas e suburbanas.

Fonte: DEP/IPH, 2005.

2.4.1.3 Método do hidrograma unitário triangular

Segundo Tucci (1995), após estudos realizados em um grande número de

bacias e de hidrograma unitários nos EUA, técnicos do Departamento de Conservação

do Solo (SCS) verificaram que os hidrograma podem ser aproximados por relações

de tempos e vazão estimadas com base no tempo de concentração e na área das

bacias. Para simplificar ainda mais, o hidrograma unitário pode ser aproximado por

um triângulo, definido pela vazão de pico, pelo tempo de pico e pelo tempo de base

conforme a Figura 19.

Figura 19: Hidrograma unitário triangular.

59

Fonte: adaptado de Tucci, 1995.

A seguir estão descritas as relações que permitem calcular o hidrograma

unitário triangular:

O tempo de pico (𝑡𝑝) do hidrograma pode ser estimado como 60% do tempo

de concentração da bacia (𝑡𝑐), portanto: 𝑡𝑝 = 0,6. 𝑡𝑐 (Equação 18);

O tempo de subida (𝑇𝑝) do hidrograma pode ser estimado como o tempo de

pico (𝑡𝑝) mais a metade da duração da chuva (𝐷), portanto:𝑇𝑝 = 𝑡𝑝 + 𝐷/2

(Equação 19);

O tempo de base do hidrograma (𝑡𝑏) é aproximado por: 𝑡𝑏 = 𝑇𝑝 + 1,67𝑇𝑝

(Equação 20);

A vazão de pico (𝑞𝑝) do hidrograma unitário triangular é estimada por: 𝑞𝑝 =

0,208.𝐴

𝑇𝑝 (Equação 21), onde 𝑇𝑝 é dado em horas, a área da bacia (𝐴) é dada em

Km², e 𝑞𝑝 em mm de chuva efetiva.

2.4.1.4 Convolução

Aplicando os princípios da proporcionalidade e da superposição é possível

calcular os hidrogramas resultantes de eventos complexos, a partir do hidrograma

unitário. Este cálculo é feito através da convolução.

O hidrograma unitário é, geralmente, definido como uma função em intervalos

de tempo discretos. A vazão em um intervalo de tempo é calculada a partir da

convolução entre as funções de chuva efetiva (𝑃𝑒𝑓) e ordenadas do hidrograma

unitário discreto (ℎ).

60

𝑄𝑡 = ∑ 𝑃𝑒𝑓𝑖. ℎ𝑡−𝑖+1𝑡𝑖=1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 < 𝑘 (22)

𝑄𝑡 = ∑ 𝑃𝑒𝑓𝑖 . ℎ𝑡−𝑖+1𝑡𝑖=1−𝑘+1 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑡 ≥ 𝑘 (23)

2.4.2 Dimensionamento do reservatório de detenção

2.4.2.1 Método de Puls

A equação da continuidade aplicada a um reservatório é dada por:

𝑑𝑆

𝑑𝑡= 𝐼 − 𝑄 (24)

Onde:

S – volume (m³);

t – tempo (s);

I – vazão afluente (m³/s);

Q – vazão de saída do reservatório (m³/s).

Esta equação pode ser reescrita em intervalos discretos como:

𝑆𝑡+∆𝑡−𝑆𝑡

∆𝑡= 𝐼′ − 𝑄′ (25)

Onde:

I’ e Q’ – representam valores médios de vazão afluente e defluente do

reservatório ao longo do intervalor de tempo ∆𝑡.

Considerando uma variação linear de I e Q ao longo de ∆𝑡, a equação pode ser

reescrita como:

𝑆𝑡+∆𝑡−𝑆𝑡

∆𝑡=

(𝐼𝑡+𝐼𝑡+∆𝑡)

2−

(𝑄𝑡+𝑄𝑡+∆𝑡)

2 (26)

Onde:

61

𝐼𝑡, 𝐼𝑡+∆𝑡, 𝑄𝑡 e 𝑄𝑡+∆𝑡 são os valores no início e no final do intervalo de tempo.

Uma forma mais simples de calcular a propagação de vazão num reservatório

é o método conhecido como Puls modificado. Neste método a equação acima é

reescrita como:

2.𝑆𝑡+∆𝑡

∆𝑡+ 𝑄𝑡+∆𝑡 = 𝐼𝑡 + 𝐼𝑡+∆𝑡 +

2.𝑆𝑡

∆𝑡− 𝑄𝑡 (27)

Onde os termos desconhecidos aparecem no lado esquerdo e os termos

conhecido aparecem no lado direito.

A partir da equação acima monta-se uma tabela de relação entre 𝑄𝑡+∆𝑡 e 2.𝑆𝑡+∆𝑡

∆𝑡

a partir da relação cota – área – volume do reservatório e através da relação cota e

vazão, por exemplo uma equação de vertedor ou orifício.

O volume do reservatório deve ser definido a partir do hidrograma de pré-

urbanização e de pós-urbanização, ou seja, o volume é dimensionado para que a

vazão de pico de pós-urbanização com a bacia de detenção seja, no máximo, igual a

de pré-urbanização.

2.4.2.2 Dispositivos de saída

2.4.2.2.1 Orifícios

Segundo Porto (2006), define-se orifício como uma abertura de perímetro

fechado, de forma geométrica definida, realizada na parede ou fundo de um

reservatório. O escoamento pelo orifício pode ocorrer para um local sob pressão

atmosférica, ou seja, de descarga livre, ou para uma região ocupada pelo mesmo

líquido, chamada de descarga afogada.

O cálculo da vazão de saída dos orifícios será dividido em dois casos: 1)

quando o orifício está afogado; 2) quando o orifício não está afogado.

Caso 1: No caso do orifício afogado, considera-se a lei dos orifícios que é

descrita pela Equação 28.

62

𝑄 = 𝐶𝑑. 𝐴. √2. 𝑔. 𝐻 (28)

Onde:

Q – vazão de saída (m³/s);

Cd – coeficiente de vazão (Quadro 5);

A – área da seção de saída (m²);

g – aceleração da gravidade (m/s²);

H – diferença de nível entre a superfície do reservatório e a linha de centro da

seção de saída do tubo (m).

Quadro 5: Valores de Cd para condutos circulares de concreto com entrada arredondada.

D(m) L(m)

0,15 0,30 0,45 0,60 0,75 0,90

3 0,77 0,86 0,89 0,91 0,92 0,92

6 0,66 0,79 0,84 0,87 0,89 0,90

9 0,59 0,73 0,80 0,83 0,86 0,87

12 0,54 0,68 0,76 0,80 0,83 0,85

15 0,49 0,65 0,73 0,77 0,81 0,83

18 0,46 0,61 0,70 0,75 0,79 0,81

21 0,44 0,59 0,67 0,73 0,77 0,79

24 0,41 0,56 0,65 0,71 0,75 0,78

27 0,39 0,54 0,63 0,69 0,73 0,76

30 0,38 0,52 0,61 0,67 0,71 0,74

33 0,36 0,50 0,59 0,65 0,70 0,73

36 0,35 0,49 0,58 0,64 0,68 0,71

39 0,34 0,47 0,56 0,62 0,67 0,70

42 0,33 0,46 0,55 0,61 0,66 0,69

Fonte: adaptado de Porto, 2006.

Caso 2: no caso do orifício não afogado, considera-se a fórmula de Manning

(Equação 29) para canais com escoamento permanente e uniforme para o cálculo da

vazão de saída.

𝑄 =𝐴.𝑅ℎ2/3.√𝐼𝑜

𝑛 (29)

Onde:

63

Q – vazão de saída (m³/s);

n – coeficiente de rugosidade de Manning (Tabela 9);

A – área da seção de saída (m²);

Rh – raio hidráulico (m);

Io – declividade (m/m).

2.4.2.2.2 Vertedores

Porto (2006) cita que, vertedores são dispositivos utilizados para medir e/ou

controlar a vazão em escoamento por canais (condutos livres abertos). Trata-se de

um orifício de grandes dimensões no qual foi suprimida a aresta do topo, portanto a

parte superior da veia líquida, na passagem pela estrutura, se faz em contato com a

pressão atmosférica.

O vertedor a ser utilizado no reservatório será do tipo retangular sem

contrações laterais. A vazão de saída do vertedor retangular é definida pela Equação

30.

𝑄 = 𝐶. 𝐿. ℎ3/2 (30)

Onde:

Q – vazão de saída (m³/s);

C – coeficiente de vazão (Equação 31);

L – largura da soleira;

h – carga de trabalho(m).

O coeficiente de vazão C será calculado pela Equação 32:

𝐶 = 2,215. (ℎ

ℎ𝑑)

0,148

(32)

Onde:

C – coeficiente de vazão;

h - carga de trabalho (m) ;

64

hd – carga de projeto.

65

3 METODOLOGIA

3.1 ANÁLISE DA ÁREA A SER ESTUDADA

O empreendimento utilizado para realização do estudo situa-se na cidade de

Frederico Westphalen-RS, entre os bairros Itapagé e Fátima e está em construção. O

loteamento levará o nome de “Loteamento Aomar Pigatto”, e terá uma área de

62.500,00 m². A Construtora Marcos Lima Construções e Incorporações é a

responsável pela execução da obra. Nas Figuras 20 e 21 são mostradas a localização

do loteamento no estado do RS, e uma imagem de satélite da área em questão, com

a projeção da obra, respectivamente.

Figura 20: Localização do loteamento em estudo.

Fonte: Basso, 2013.

Figura 21: Imagem da projeção do loteamento.

66

Fonte: Google Earth apud Basso, 2013.

No loteamento haverão 88 lotes, estes totalizando uma área de 37.961,36 m²

(60,74%). As áreas comuns, como ruas, passeios e área verde ocuparão 19.797,41

m² (31,68%). E a área de preservação permanente (APP) será de 4.741,23 m²

(7,59%).

A área verde ficará localizada próxima ao Arroio Lajeado Boa Esperança, que

faz divisa com o terreno do loteamento.

O solo predominante no local é composto por argilas residuais de coloração

vermelha, e a vegetação rasteira.

Na Figura 22 é demonstrada a disposição dos lotes e o perfil do terreno natural,

através de uma projeção em 3D.

Figura 22: Imagem 3D do loteamento “Aomar Pigatto”.

67

Fonte: Basso, 2013.

Anteriormente a realização do presente trabalho, o loteamento em questão já

havia sido dimensionado considerando-se diferentes métodos de drenagem

sustentável. Basso (2013), dimensionou a rede considerando a utilização de

trincheiras de infiltração, enquanto que Kipper (2015), projetou a rede a partir da

utilização de microrreservatórios de detenção instalados dentro dos lotes.

3.2 CRITÉRIOS DE PROJETO

Anteriormente ao dimensionamento final do sistema de drenagem do

loteamento em estudo, precisou-se compreender melhor alguns conceitos hidráulicos

e hidrológicos. Por isto ao longo deste item serão justificados e apresentados os

parâmetros necessários.

O dimensionamento foi realizado para duas soluções de drenagem: na

primeira, dimensionou-se uma rede de drenagem considerando um sistema de

drenagem tradicional; enquanto que para a segunda foi dimensionada um reservatório

de detenção, ou seja, um sistema compensatório de drenagem.

Para realização do dimensionamento das redes foram adotadas as

metodologias descritas a partir do item 2.2 da revisão bibliográfica do presente

trabalho. Deve-se salientar que a rede tradicional foi projetada com o método racional

e equação de Manning, entretanto, estes métodos não podem ser utilizados para

dimensionar armazenamento em reservatórios. Desta forma, dimensionou-se a bacia

de detenção considerando a bacia hidrográfica de contribuição pelo método SCS de

forma concentrada, ou seja, não se simulam os condutos, somente a contribuição da

bacia.

68

4 RESULTADOS

4.1 DIMENSIONAMENTO DA REDE DE MICRODRENAGEM

4.1.1 Parâmetros iniciais de projeto

Para o dimensionamento da rede de drenagem, foi necessário realizar-se uma

coleta de dados, características e parâmetros da bacia hidrográfica do loteamento

estudado, seguem abaixo:

1. Classificação da Bacia: definiu-se como bacia de pequeno porte, pois sua

área é de 0,0625 km² e esta é menor do que 2,5 km²;

2. Tempo de Retorno: adotou-se tempo de retorno de 2 anos, pois esta é uma

obra de microdenagem à nível residencial;

3. Tempo de Concentração: definiu-se tempo de concentração inicial igual a

10 minutos. Durante os trechos, o tempo de concentração calculou-se como

a soma do tempo de concentração inicial e do tempo de percurso na galeria;

4. Chuva de Projeto: calculou-se com a curva IDF definida na metodologia do

presente trabalho. Esta apresenta os seguintes parâmetros: a = 1076,22; b

= 0,1348; c = 9,11; d = 0,7609. Além de tempo de retorno de 2 anos e tempo

de concentração de 10 min. No Quadro 6 é demonstrado o cálculo;

5. Vazão de Projeto: como a bacia é de pequeno porte, utilizou-se o método

Racional para cálculo da vazão de projeto;

6. Coeficiente C do Método Racional: definiu-se a partir da média ponderada

demonstrado no Quadro 7;

Quadro 6: Obtenção da chuva de projeto.

69

Curva IDF Tempo (min)

Precipitação (mm/h)

a 1076,22 1 203,219205

b 0,1348 2 189,145527

c 9,11 3 177,139544

d 0,7609 4 166,761585

Tr (anos) 2 5 157,690234

Tc (min) 10 6 149,684755

7 142,561057

8 136,175811

9 130,415663

10 125,189713

Fonte: o Próprio Autor.

Quadro 7: Obtenção do coeficiente C do método racional.

Coeficiente C do Loteamento

% Área Uso do Solo Coeficiente

60,74 Lotes 0,80

23,12 Ruas/Passeios 0,95

8,56 Área Verde 0,25

7,59 APP 0,25

Coeficiente C Ponderado 0,744

Fonte: o Próprio Autor.

4.1.2 Sarjetas, bocas de bobo e galerias

Em ambos os dimensionamentos (tradicional ou sustentável), optou-se pela

utilização de sarjetas de dimensões padrão nos dois lados da via em toda extensão

do loteamento. Definiu-se altura da sarjeta igual a 15 cm, declividade longitudinal de

3% e coeficiente n de rugosidade do pavimento igual 0,017. No trecho entre os PV16

e PV18 houve a necessidade de realizar-se rebaixamento de 30 cm do greide à

jusante, a fim de atingir-se a velocidade mínima de 0,075 m/s. A planilha de cálculo e

dados utilizados encontram-se no Anexo A.

O dimensionamento das bocas de lobo também foi realizado da mesma forma

para os métodos tradicional e sustentável. Escolheram-se bocas de lobo do tipo

grelha. Definiu-se que estas ficariam dispostas nos dois lados das ruas, a montante

dos cruzamentos e afastada 20 cm do meio-fio, permitindo, assim, considerar-se todo

o perímetro da boca de lobo contribuinte para o esgotamento da água superficial.

70

Padronizaram-se as dimensões em 1,00m x 0,30m, excetuando as bocas de lobo

entre os PV2 e PV3, que necessitaram comprimento de 1,20m. A planilha de cálculo

e os dados utilizados encontram-se no Anexo B.

Para o dimensionamento das galerias seguiu-se o passo-a-passo da Tabela

10. Houve uma pequena diferença no traçado das galerias do método convencional e

sustentável: no método tradicional definiu-se apenas uma saída em direção ao Arroio

Boa Esperança, enquanto que, no dimensionamento sustentável, dividiu-se o traçado

em dois, com a intenção do reservatório de detenção receber vazões similares em

ambos os lados. Deve-se salientar que as redes foram dimensionadas a fim de

apresentar, em todos os seus trechos, velocidades finais entre 0,6 m/s e 5,0 m/s.

Nos Apêndices A e B são apresentados os traçados da rede para o método

tradicional e sustentável, respectivamente. As planilhas de dimensionamento das

galerias são mostradas nos Anexos C e D.

4.2 DIMENSIONAMENTO DA BACIA DE DETENÇÃO ON-LINE

4.2.1 Hietograma de projeto

Como base para cálculo da chuva de projeto utilizou-se a curva IDF da Bacia

“U100” situada em Iraí-RS, definida por Villar Sampaio (2011). Esta bacia foi escolhida

como base, pois é próxima da bacia do estudo que não possui parâmetros definidos.

Esta apresenta os seguintes parâmetros: a = 1076,22; b = 0,1348; c = 9,11; d = 0,7.

Além destes critérios, necessitou-se a definição da quantidade de intervalos de tempo,

dos seus tamanhos e do tempo de retorno. Definiram-se 1440 intervalos de tempo de

1 minuto cada, ou seja, 24 horas de precipitação, estabeleceram-se estes parâmetros

a fim de detalhar-se ao máximo a precipitação.

Embora reservatórios de detenção sejam, normalmente, dimensionados para

tempos de retorno de 10 anos ou mais, relativamente à importância da obra, definiu-

se um tempo de retorno de 2 anos para a obra em estudo. Adotou-se este tempo de

retorno a fim de, após o dimensionamento da bacia, realizar-se uma comparação de

custos com os dimensionamentos das trincheiras de infiltração, realizado por Basso

(2013), e microrreservatórios nos lotes, realizado por Kipper (2016).

71

No Gráfico 1 são apresentados os 20 maiores dados de precipitação calculados

com a equação IDF e demais parâmetros definidos anteriormente. Estes foram

reorganizados conforme o Método dos Blocos Alternados.

Gráfico 1: Precipitação rearranjada pelo método dos blocos alternados.

Fonte: o próprio autor.

4.2.2 Obtenção dos hidrogramas

Para definir-se o volume do reservatório de detenção é necessário que sejam

calculados os hidrogramas de pré e pós urbanização da bacia em estudo. Para isto,

deve-se, primeiramente, aplicar o Método CN do Soil Conservation Service (SCS)

para cálculo das precipitações efetivas. Fixaram-se dois diferentes coeficientes CN,

um de pré-urbanização e um de pós-urbanização. Estabelece-se este coeficiente

utilizando os fatores apresentados no Quadro 5.

Nos Quadros 8 e 9 são apresentados os coeficientes CN para a situação de

pré e pós-urbanização, respectivamente.

Quadro 8: CN de pré-urbanização.

0,00

0,25

0,50

0,75

1,00

1,25

1,50

1,75

2,00

2,25

2,50

2,75

3,00

3,25

3,50

711 712 713 714 715 716 717 718 719 720 721 722 723 724 725 726 727 728 729 730

Pre

cip

itação (

mm

)

Tempo (minutos)

72

CN - Pré-urbanização

Cobertura do Solo % CN A x CN

Floresta Densa 100,00% 66 66,00

Fonte: o próprio autor.

Quadro 9: CN de pós-urbanização.

CN - Pós-urbanização

Cobertura do Solo % CN A x CN

Lotes 60,74% 92 55,88

Áreas Comuns 31,68% 90 28,51

APPs 7,59% 66 5,01

CN ponderado 89,40

Fonte: o próprio autor.

Após a aplicação das Equações 15, 16 e 17 para os coeficientes CN definidos,

calcularam-se os intervalos de tempo em que a precipitação passa escoar

superficialmente na bacia do loteamento. Na bacia não urbanizada, o escoamento

superficial começou aos 658 minutos de precipitação, enquanto que, para a bacia pós-

urbanização, isto passou a ocorrer a partir dos 269 minutos de chuva. Além disto, o

escoamento superficial calculado após 24 horas de precipitação foi muito maior na

bacia urbanizada, passou de aproximados 33,70 mm, para 82,09 mm. Estes

resultados evidenciam que a impermeabilização do solo, realizada pela ação humana,

aumenta consideravelmente a possibilidade de alagamentos.

Nos Quadros 10 e 11 são apresentados dados de precipitação efetiva

acumulada, isto é, a parte da chuva que escoou superficialmente, em diferentes

intervalos de tempo.

Quadro 10: Escoamento superficial na bacia pré-urbanizada.

73

Tempo (min)

P. Efetiva Acumulada

(mm)

1 0,000000

100 0,000000

269 0,000000

500 0,000000

659 0,000396

900 23,866255

1220 30,724867

1440 33,703507

Fonte: o próprio autor.

Quadro 11: Escoamento superficial na bacia pós-urbanização.

Tempo (min)

P. Efetiva Acumulada

(mm)

1 0,000000

100 0,000000

269 0,000018

500 1,756017

659 8,223599

900 66,711106

1220 77,569103

1440 82,087821

Fonte: o próprio autor.

Após o cálculo das precipitações efetivas, houve a necessidade de avaliar-se a

propagação das mesmas dentro da bacia, para isto utilizou-se o Método do

Hidrograma Unitário Triangular (HUT).

Calcularam-se os hidrogramas unitários triangulares de pré e pós-urbanização.

Conforme definiu-se previamente, adotou-se tempo de concentração de 10 minutos

na bacia após a urbanização. A impermeabilização dos solos faz com que o tempo de

concentração de uma bacia seja menor, portanto, adotou-se um tempo de

concentração de 20 minutos para a bacia não urbanizada.

Os hidrogramas foram calculados a partir das Equações 18, 19, 20 e 21. Nos

Gráficos 2 e 3 são apresentados os hidrogramas unitários triangulares.

74

Gráfico 2: Hidrograma unitário triangular - pré-urbanização.

Fonte: o próprio autor.

Gráfico 3: Hidrograma unitário triangular – pós-urbanização.

Fonte: o próprio autor.

Com os dados de precipitação efetiva e de propagação do hidrograma unitário

triangular realizou-se a convolução. A resposta da convolução é o hidrograma gerado

pela precipitação de 24 horas com 2 anos de tempo de retorno na bacia (Gráfico 4).

0,000

0,0050,010

0,0150,020

0,025

0,030

0,0350,040

0,0450,050

0,055

0,0600,065

0,070

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10111213141516171819202122232425262728293031323334

Vaz

ão (

m³/

s.m

m)

Tempo (minutos)

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

0,12

0,14

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Vaz

ão (

m³/

s.m

m

Tempo (minutos)

75

Gráfico 4: Hidrogramas resultantes de pré e pós-urbanização.

Fonte: o próprio autor.

Ao analisar-se os dados dos hidrogramas resultantes pode-se afirmar que, com

a impermeabilização dos solos da bacia os picos de vazão passaram a ser maiores.

Antes da urbanização o pico de vazão era de, aproximadamente, 0,49 m³/s e ocorria

aos 742 minutos. Após a urbanização, além deste pico de vazão ter aumentado para,

aproximadamente, 1,78 m³/s, foi adiantado para 726 minutos.

4.2.3 Volume do reservatório de detenção on-line

Reservatórios de detenção são dimensionados a fim de que, após sua

instalação, o hidrograma da bacia em estudo passe a ter um pico de vazão

aproximado à vazão máxima antes de ocorrer a urbanização. Portanto, definiu-se a

vazão de pico de 0,49 m³/s como a vazão limite para o dimensionamento do

reservatório.

Para a obtenção do hidrograma, após a instalação da bacia de detenção,

utilizou-se o Método de Puls. Para aplicação deste método definem-se cotas e

volumes de reservatório e os dispositivos de saída. Apenas após diversas simulações

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

2,00

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (minutos)

Pré-urbanização Pós-urbanização

76

de cotas, volumes e dispositivos de saída chegou-se a uma vazão de saída próxima

a vazão de pico no período não urbanizado.

Definiu-se que os taludes do reservatório seriam 1:1,25. Para calcular-se a

relação de taludes deve-se realizar um estudo detalhado do solo. Nos Quadros 12 e

13 são apresentadas, respectivamente, as dimensões e relação cota-volume do

reservatório.

Quadro 12: Dimensões reservatório de detenção.

Dimensões

Comprimento Topo (m) 100

Comprimento Base (m) 96

Largura Topo (m) 15

Largura Fundo (m) 13

Altura (m) 1,5

Fonte: o próprio autor.

Quadro 13: Relação cota/volume do reservatório.

Cota Atingida

(m)

Volume Atingido (10^6m³)

1,50 0,002252585

1,25 0,001870910

1,00 0,001491728

0,75 0,001115046

0,50 0,000740864

0,25 0,000369182

Fonte: o próprio autor.

Definiu-se que, durante os períodos de estiagem, o reservatório de detenção

utilizar-se-ia para lazer. Para isto, dimensionou-se dois campos de futebol para 5

jogadores em cada time. Adotaram-se as dimensões 37 x 12 metros.

Estabeleceu-se que haveriam duas estruturas de saída no reservatório. A

primeira, um orifício descarregador de fundo, considerado como um tubo curto quando

afogado, e como um canal de escoamento permanente uniforme, quando não

77

afogado. No Quadro 14 são apresentados os coeficiente e dimensões do orifício. Os

coeficientes de vazão e de rugosidade de Manning foram adotados conforme o

Quadro 5 e Tabela 1, respectivamente.

Quadro 14: Coeficientes e dimensões do orifício.

Orifício Descarregador de Fundo

Coeficiente de Vazão 0,65

Coeficiente de Manning 0,013

Comprimento 15 (m)

Diâmetro 0,3 (m)

Área da Seção 0,07068375 (m²)

Declividade 0,001 (m/m)

Raio Hidráulico 0,075 (m)

Fonte: o próprio autor.

A segunda estrutura escolhida foi um vertedor retangular sem contrações

laterais. Usualmente, vertedores são dimensionados para tempos de retorno entre 50

e 500 anos, devido a sua importância, entretanto, o presente trabalho possui intuito

comparativo com demais métodos de drenagem no loteamento estudado, portanto

dimensionou-se para um tempo de retorno de 2 anos. No Quadro 15 são apresentados

os coeficientes e dimensões do vertedor adotado.

Quadro 15: Coeficientes e dimensões do vertedor.

Vertedor Retangular

Coeficiente de Vazão 1,5 (m)

Cota Máxima 1,5 (m)

Cota da Soleira 1,3 (m)

Altura 0,2 (m)

Largura da Soleira 1,9 (m)

Fonte: o próprio autor.

No Gráfico 5 é apresentado o novo hidrograma da bacia utilizando o

reservatório de detenção. No Gráfico 6 é realizada a comparação entre os

78

hidrogramas de pré-urbanização, pós-urbanização sem reservatório e pós

urbanização com reservatório.

Gráfico 5: Hidrograma da bacia utilizando o reservatório de detenção.

Fonte: o próprio autor.

Gráfico 6: Comparação dos hidrogramas gerados.

Fonte: o próprio autor.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.0001.1001.2001.3001.4001.500

Vazão (

m³/

s)

Tempo (minutos)

Bacia de Detenção

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

1,80

2,00

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.0001.1001.2001.3001.4001.500

Vazão (

m³/

s)

Tempo (minutos)

Pré-urbanização Pós-urbanização Bacia de Detenção

79

Ao analisar-se o Gráfico 6 é possível perceber-se que com a instalação do

reservatório de detenção, o hidrograma da bacia voltou aos padrões de pré-

urbanização. No Apêndice C é apresentado um croqui do reservatório de detenção.

4.3 ORÇAMENTOS

Orçaram-se os itens com base nos preços estimados pelas tabelas SINAPI

(Sistema Nacional de Preços e Insumos, da Caixa Econômica Federal) e SICRO 2

(Sistema de Custos Rodoviários, do DNIT) e a partir de pesquisas de preço.

Estabeleceu-se como data-base para o orçamento o mês de janeiro de 2016, visto

que a última atualização de preços realizada pelo DNIT foi neste mês. Considerou-se,

também, um BDI de 25%, que é a bonificação de despesas indiretas e engloba gastos

com administração central, risco, seguro, entre outros.

Montaram-se dois orçamentos. O primeiro, para uma rede de drenagem

tradicional, utilizando como estruturas de drenagem apenas as sarjetas, bocas de lobo

e galerias. No Anexo E é apresentado este orçamento. O segundo orçamento

realizou-se considerando a rede de drenagem com um sistema compensatório, no

caso, a bacia de detenção, além das sarjetas, bocas de lobo e galerias, este

orçamento é mostrado no Anexo F.

A rede de drenagem dimensionada pelo método tradicional apresentou um

custo de R$546.094,86, enquanto que, a rede de galerias, em conjunto com uma bacia

de detenção, apresentou custo total de R$634.585,71, sendo, portanto, a rede

sustentável 16,20% mais cara. Embora a rede com o reservatório de detenção seja

mais custosa, ela ainda possui diversas vantagens, como: a recarga do lençol freático,

o amortecimento do pico de vazão no arroio Boa Esperança, espaço de lazer que

poderá ser utilizado nos períodos não chuvosos do ano, entre outras.

Antes de comparar-se os custos dos dimensionamentos do presente trabalho

com os dimensionamentos realizados por Basso (2013) e Kipper (2015), é necessário

ajustar os preços a partir da inflação acumulada durante o período. Segundo Kipper

(2015), os orçamentos foram realizados com a data-base de setembro de 2014. A

inflação acumulada entre esta data e janeiro de 2016, data-base do presente trabalho,

foi de 13,17%.

80

Além disto, faz-se necessário frisar que Basso (2013) e Kipper (2015) utilizaram

diferentes parâmetros em seus orçamentos. Há variações, por exemplo, nos

coeficientes de Manning adotados, nos tipos de tubulações e poços de visitas, nos

coeficientes C, utilizado no Método Racional, entre outros. Tais diferenças podem

impactar em maiores ou menores custos.

A rede sustentável com trincheiras de infiltração, dimensionada por Basso

(2013) e com custo atualizado para setembro de 2014 por Kipper (2015) custava,

nesta data, R$ 445.169,60. Ao atualizar-se este preço pela inflação acumulada e

aplicando o BDI, chega-se a um custo total de R$629.478,05, apenas R$4.837,66

mais barato com relação a rede sustentável dimensionada no presente trabalho. Não

se pode afirmar com certeza qual dos métodos é realmente o menos custoso, devido

algumas diferenças nos parâmetros de projeto.

A rede sustentável com microrreservatórios de detenção, dimensionada por

Kipper (2015), em setembro de 2014, custava R$528.197,34. Ao aplicar-se o BDI e a

inflação acumulada, obteve-se um custo total atualizado de R$747.201,16.

Apresentando-se, portanto, R$112.615,45 maior caro do que o sistema com uma

bacia de detenção. Mesmo considerando que foram utilizados diferentes parâmetros,

tal diferença de custo deixa claro que ao menos financeiramente o reservatório de

detenção é uma melhor opção do que microrreservatórios de detenção em cada lote.

81

5 CONCLUSÃO

O crescimento desorganizado das cidades brasileiras torna-se mais

preocupante a cada dia. O aumento do escoamento superficial vem causando perdas

econômicas, humanas e ambientais. Por estes motivos, medidas de drenagem

sustentáveis e de baixo impacto vêm ganhando mais atenção no Brasil.

Ao analisar-se os resultados obtidos, conclui-se que o método de drenagem

sustentável definido para o loteamento em questão (reservatório de detenção on-line),

é viável economicamente ao compararmos com as trincheiras de infiltração de Basso

(2013) e com os microrreservatórios de detenção de Kipper (2015).

Embora o sistema o sistema de drenagem com a bacia de detenção seja mais

oneroso comparado ao sistema tradicional, é justificável a sua utilização, visto um

melhor funcionamento da rede, uma melhor recarga dos lençóis freáticos e um

amortecimento no pico de vazão sobre o Arroio Boa Esperança.

É importante salientar-se, também, que, embora o custo econômico direto para

o empreendedor de uma rede tradicional seja menor, se levado conta que

eventualmente a Fundação Estadual de Preservação Ambiental (FEPAM) ou

Prefeitura podem cobrar pelas obras a serem realizadas no arroio no qual será

lançada a drenagem acrescida pelo condomínio, certamente ficará mais caro do que

a utilização do reservatório de detenção para controle da drenagem.

Pode-se ressaltar que ainda cabem estudos de implantação de outras formas

de drenagem compensatória, como poços de infiltração, bacias de detenção off-line e

pavimentos permeáveis, por exemplo.

Por fim, baseando-se pelo comparativo desenvolvido durante o trabalho, a rede

de drenagem com a bacia de detenção dimensionada, além de cumprir seu objetivo

de amortecer a vazão de pico, também não é excessivamente mais onerosa com

relação a rede tradicional de drenagem, podendo até, em certos casos, ser mais

barata. Desta forma, sua implantação é justificável.

82

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, M. B.; NASCIMENTO, N. O.; BARRAUD, S. Técnicas Compensatória sem Drenagem Urbana. 1º Edição. - Porto Alegre: ABRH, 2005.

BARBOSA, V. L.; NASCIMENTO JÚNIOR, A.F. Expansão urbana: alguns aspectos da Degradação sócio-ambiental em áreas de fundo de vale na cidade de Bauru-SP. FÓRUMAMBIENTAL DA ALTA PAULISTA, IN: Periódico Eletrônico do Fórum Ambiental da AltaPaulista, v. 3, p.1827-1847, 2007.

BASSO, F. Análise das Vantagens e Desvantagens entre Sistemas de Drenaem Tradicional e Sistemas Compensatórios. Santa Maria, 2013

CADORE, R. Análise da Eficiência de Bacias de Detenção para Controle Sustentável da Drenagem Urbana num Empreendimento Típico de Santa Maria. Santa Maria, 2013 CANHOLI, A. P. Drenagem Urbana e Controle de Enchentes, São Paulo, 2005. CANHOLI, A. P. Drenagem Urbana e Controle de Enchentes, 2. ed, São Paulo, 2014. CONCREMAT. PDDrU- Plano Diretor de Drenagem Urbana da Prefeitura Municipal Teresina (PI). Teresina, 2010.

CONCREMAT, Plano Diretor de Drenagem Urbana de Manaus, manual de projeto. Manaus, 2011.

DAEE/CETESB. Drenagem Urbana. Segunda Edição, São Paulo (SP).1980.

DEP/IPH – Departamento de Esgotos e Águas Pluviais de Porto Alegre, Plano Diretor de Drenagem Urbana de Porto Alegre, Manual de Drenagem Urbana Volume VI. Porto Alegre, 2005. IBGE. Censo Demográfico 2010. Disponível no site: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm. Acesso em 10 de abril de 2016.

KIPPER, A. Drenagem Urbana: Comparativo de custos no dimensionamento utilizando

sistemas de drenagem tradicional (higienista), e compensatatória com

microrreservatórios. Santa Maria, 2015.

83

LIMA - QUEIROZ, J. C.; BALABRAM, P. R.; BAPTISTA, M. B. A urbanização e alguns de seus impactos na cidade de Belo Horizonte. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos,15., 2003, Curitiba.Anais... Curitiba : ABRH, 2003. 15 p. (Anais em CD). MARTINS, J. R. S. Obras de Macrodrenagem. In: Tucci,C.E.M.; Porto, R.L.L.; Barros, M.T.

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PORTO, R. M. Hidráulica Básica. 4. ed. São Carlos (SP), 2006. SAMPAIO, M. V. Espacialização dos Coeficientes das Equações das Chuvas Intensas em Bacias Hidrográficas do RS. Editora da UFSM, 2011.

SILVEIRA, André L.L., Ciclo hidrológico e bacia hidrográfica. In Hidrologia Ciência e Aplicação. Cap2, Editora UFRGS. Porto Alegre, 2004.

TUCCI, C. E. M Drenagem Urbana disponível no site http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252003000400020, 2003.

TUCCI, C. E. M. (org.) Hidrologia: ciência e aplicação. 2 ed. Porto Alegre: Ed. Da UFRGS, 1997.

84

ANEXO A: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS SARJETAS.

85

ANEXO B: PLANILHA DIMENSIONAMENTO DAS BOCAS DE LOBO.

86

ANEXO C: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS GALERIAS NA REDE TRADICIONAL.

87

ANEXO D: PLANILHA DE DIMENSIONAMENTO DAS GALERIAS NA REDE SUSTENTÁVEL.

88

ANEXO E: ORÇAMENTO PARA A REDE DE DRENAGEM TRADICIONAL.

89

ANEXO F: ORÇAMENTO PARA A REDE SUSTENTÁVEL DE DRENAGEM.

90

APÊNDICE A: TRAÇADO DA REDE TRADICIONAL.

91

APÊNDICE B: TRAÇADO DA REDE SUSTENTÁVEL.

92

APÊNDICE C: CROQUI DO RESERVATÓRIO DE DETENÇÃO.