Origem Do Conhecimento

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Origem do Conhecimento

Qual a origem do conhecimento: a razo ou a experincia?

Algumas respostas filosficas:

1. Racionalismo

Para o racionalismo a razo a fonte principal do conhecimento. O conhecimento sensvel considerado enganador. Por isso, as representaes da razo so as mais certas, e as nicas que podem conduzir ao conhecimento logicamente necessrio e universalmente vlido.

A razo capaz de conhecer a estrutura da realidade a partir de princpios puros da prpria razo. A ordenao lgica do mundo permite compreender a sua estrutura de forma dedutiva. O racionalismo segue, neste aspecto, o modelo matemtico de deduo a partir de um reduzido nmero de axiomas.

Os racionalistas partem do princpio que o sujeito cognoscente activo e, ao criar uma representao de qualquer objecto real, est a submete-lo s suas estruturas ideias.

Entre os filsofos que assumiram uma perspectiva racionalista do conhecimento, destacam-se Plato, Ren Descartes (1596-1650), Spinoza (1632 -1677) e Leibniz (1646-1716), partem do princpio que possumos ideias inatas e que a realidade uma construo da razo.

a) Descartes considerado o fundador do racionalismo moderno. As fases da sua filosofia podem ser resumidas da seguinte maneira:

- Objetivo: atingir verdades indiscutveis, deduzidas logicamente, a partir de uma evidncia irrefutvel.

- Dvida Metdica: Para atingir um conhecimento absoluto, tem que eliminar tudo o que seja susceptvel de dvida. Nesse sentido, comea por suspender todos os conhecimentos susceptveis de serem postos em causa. Descobre que todos os dados do sentidos o podem enganar.

- Primeira Evidncia. Ao pr tudo em dvida, e enquanto o faz, descobre que a nica coisa que resiste prpria duvida a razo. Esta seria a primeira verdade absoluta da filosofia. "Eu penso, logo existo" (cogito).

- Ideias inatas. Descobre ainda que possumos ideias, como a ideia de perfeio, que se impem razo como verdadeiras, mas que no derivam da experincia, nem foram por ns criadas. Atribui a sua criao a Deus (prova da existncia de Deus).

- Deus garantia da verdade. Sendo a bondade um dos atributos de Deus, certamente que Ele no nos engana, logo as ideias inatas so verdadeiras. Deus assim, a garantia da possibilidade do acesso verdade.

- Dualismo. Deduz uma diviso nas coisas:

Aquilo cuja existncia se revelou irrefutvel, corresponde res cogitans, isto , razo ("pensamento", "esprito", "alma" ou "entendimento"). Apresenta-se como inextensa e livre.

Aquilo cuja existncia e determinao levanta dvidas, corresponde res extensa, isto , ao mundo exterior (corpos fsicos). Os corpos so determinadas pela sua extenso, movimento, forma, tamanho, quantidade, lugar e tempo. O mundo fisico assim des-espiritualizado, pois est submetido s leis da fsica, mecnicas.

- Deduo. S com base nestas ideias claras e distintas, segundo Descartes, se poderia construir por deduo um conhecimento universal e necessrio.

Mais

2. Empirismo

Para o empirismo a experincia a fonte de todo o conhecimento, mas tambm o seu limite. Os empiristas negam a existncia de ideias inatas, como defendiam Plato e Descartes. A mente est vazia antes de receber qualquer tipo de informao proveniente dos sentidos. Todo o conhecimento sobre as coisas, mesmo aquele em que se elabora leis universais, provm da experincia, por isso mesmo, s vlido dentro dos limites do observvel.

Os empiristas reservam para a razo a funo de uma mera organizao de dados da experincia sensvel, sendo as ideias ou conceitos da razo simples cpias ou combinaes de dados provenientes da experincia.

Entre os filosfos que assumiram uma perspectiva empirista destacam-se John Locke (1632 -1704) e David Hume (1711-1776).

a ) Locke afirma que o conhecimento comea do particular para o geral, da impresses sensoriais para a razo. O esprito humano uma espcie de "tbua rasa" , onde se iro gravar as impresses provenientes do mundo exterior. No h ideias nem princpios inatos. Nenhum ser humano por mais genial que seja capaz de de construir ou inventar ideias, e nem sequer capaz de destruir as que existem. As ideias, quer sejam provenientes das sensaes, quer provenham da reflexo, tm sempre na experincia a sua origem. As ideias complexas no so mais do que combinaes realizadas pelo entendimento de ideias simples formadas a partir da recepo dos dados empricos. A experincia no apenas a origem de todas as ideias, mas tambm o seu limite.

b) Hume rejeita, como Locke o inatismo carteseano. As ideias so o resultado de uma reflexo das impresses (sensaes) recebidas das experincias sensveis. A imaginao permite-nos associar ideias simples entre si para formar ideias complexas.

Exemplo de ideias simples decorrentes das impresses: vermelho, tomates, macio.

Exemplo da formao de ideias complexas a partir de ideias simples: os tomates so vermelhos e macios.

Qualquer ideia tem assim origem em impresses sensoriais. As impresses no nos do a realidade, mas so a prpria realidade. Por isso podemos dizer que as mesmas so verdadeiras ou falsas. As ideias s so verdadeiras se procederam de impresses. Neste sentido, todas aquelas que no correspondam a impresses sensveis so falsas ou meras fices, como o caso das ideias de "substncia esprito", "causalidade", pois no correspondem a algo que exista.

Tipos de Conhecimento segundo Hume:

Distingue dois tipos de conhecimento:

1. Conhecimento resultante das relaes entre ideias. Nesta categoria inclui a aritmtica, a algebra e geometria. Estamos perante raciocnios demonstrativos, cujas concluses so independentes da realidade e se apresentam como necessrias.

2. Conhecimento resultante da relao entre factos. Estes raciocnios so indutivos, logo apenas provveis. Correspondem em geral a relaes de causa-efeito.

A Questo da Causalidade segundo Hume

Introduz um dado novo nas teses empiristas quando afirma que a identidade entre a ordem das coisas e a ordem das ideias resulta de hbitos mentais ou na crena que existe uma ligao necessria entre os fenmenos. A ligao causal entre os fenmenos no algo que possa ser observado. O que observamos uma sucesso cronolgica de fenmenos, em que uns so anteriores a outros.

Esta sucesso leva-nos a concluir que o acontecimento A foi causado pelo acontecimento B, mas o que efectivamente observamos foi que o primeiro se seguiu ao segundo. No observmos a relao causal entre os fenmenos. A ligao que estabelecemos, segundo Hume, resulta de um hbito.

Acreditamos que a natureza regida por leis invariveis de causa-efeito, mas tal no passa de uma iluso. Embora no passado uma dada sucesso de acontecimentos se possa ter verificado, nada nos garante que no futuro tal venha a acontecer. Apesar disso continuamos a afirm-lo como se fosse uma certeza absoluta. O nosso conhecimento est alicerado em crenas. Os fundamentos da cincia so deste modo de natureza psicolgica.

Esta critica ao conceito da causalidade ir ter profundas repercusses em filsofos posteriores, como I.Kant (1724-1804).

Cepticismo

Hume acaba por cair numa posio cptica sobre o conhecimento.

( 1 ) Estamos limitados pela experincia, e por consequncia tudo aquilo que no possa ser observado, no existe. O conhecimento da natureza deve fundar-se exclusivamente em impresses que dela temos. Desta premissa decorre o seu cepticismo: o homem no pode conhecer ou saber nada do universo. S conhece as suas prprias impresses ou ideias e as relaes que estabelece entre elas por hbito. Tudo o que o homem sabe, por discurso racional, acerca do universo se deve nica e exclusivamente crena, que um sentimento no racional. A razo est limitada no seu poder.

( 2 ) Questiona o princpio da causalidade em que se baseiam as cincias da natureza, pois no passa de uma crena.

(3 ) Questiona tambm os fundamentos lgicos da induo, ao afirmar que pelo facto de algo ter acontecido muitas vezes no passado, no significa que venha a acontecer no futuro. O futuro no existe e como tal no do domnio do conhecimento.

O debate histrico entre racionalistas e empiristas, em final do sculo XVIII, conduziu ao criticismo que procurou superar as limitaes de ambas as correntes filosficas.

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Racionalismo e Empirismo - Perspectiva Histrica

3. Criticismo

4.3.1. Kant (1724-1804). Todo o conhecimento inicia-se com a experincia, mas este organizado pelas estruturas a priori do sujeito. Segundo Kant o conhecimento a sntese do dado na nossa sensibilidade (fenmeno) e daquilo que o nosso entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento nunca pois, o conhecimento das coisas "em si", mas das coisas "em ns".

"O que podemos conhecer?" esta foi a questo inicial que orientou a sua investigao. Ao contrrio dos empiristas, afirmou que a mente humana no era uma "folha em branco", mas sim constituda por um conjunto de estruturas inatas que recebiam, filtravam, davam forma e interpretavam as impresses externas.

a) Sensibilidade

A sensibilidade uma faculdade que nos permite receber ou perceber objectos mediante impresses (sensaes) atravs dos sentidos externos. Estas impresses so percepcionadas no espao e no tempo, formas puras (vazias) que fazem parte das estruturas cognitivas inatas do sujeito. Elas so a condio indispensvel para que possamos ter acesso ao conhecimento sensvel (emprico).

b) Entendimento

O entendimento uma faculdade que nos permite dar forma, unificar e ordenar os dados recebidos da sensibilidade. Para produzir conhecimentos (juzos) utiliza 12 categorias (causa, substncia, etc), cuja funo estabelecer relaes entre fenmenos (julgamentos). Os juzos so pois operaes de interpretao e organizao dos dados sensoriais. O conhecimento resulta da aplicao destas categorias (conceitos puros) experincia.

Classificou os juzos em trs tipos:

- Juzos Analticos. Ex. "O tringulo tem trs lados". O predicado est contido sujeito. Trata-se de um juzo a priori, isto , no est dependente da experincia. Este tipo de juzo universal e necessrio.

- Juzos Sintticos. Ex."Os lisboetas medem mais do que 1,3 metros de altura". O predicado acrescenta elementos novos ao sujeito. Trata-se de um juzo a posteriori, pois assenta em dados da experincia e carece da mesma como comprova. Este tipo de juzo no universal, nem necessrio.

- Juzos Sintticos a priori (a sua principal inovao terica). Ex. "Uma recta a menor distncia entre dois pontos". Este juzo acrescenta algo de novo ao sujeito, mas no est dependente da experincia. Este tipo de juzo universal e necessrio.

c) Razo

A razo tem a funo de sintetizar os conhecimentos, dando-lhes uma unidade mais elevada. No trabalha sobre os conhecimentos sensoriais, mas sobre os juzos do entendimento. Elabora juzos dos juzos, produzindo "ideias" que ultrapassam os limites da experincia.

d) Fenmeno/Nmeno

A teoria do conhecimento de Kant estabelece uma clara distino entre "fenmeno" e "nmeno".

- O Fenmeno ("aquilo que se manifesta") corresponde realidade emprica, produzindo nos nosso sentidos impresses (sensaes). o limite de todo o conhecimento possvel. Kant neste ponto concorda com os empiristas.

- O Nmeno ("nomeno" ), isto , a "coisa em si mesma" corresponde aquilo que os nossos sentidos no percebem, a nossa estrutura inata apenas nos permite aceder aquilo que delas se manifesta aos sentidos (o fenmeno). impossvel, conhecer as coisas que esto para alm dos dados dos sentidos, como seja a alma, o mundo (como totalidade) ou Deus. A Metafsica impossvel como cincia. Embora no tenhamos a possibilidade de conhecer as coisas em si mesmas, podemos todavia atravs da razo tentar compreend-las.

Esta distino permitiu-lhe distinguir e delimitar os domnios da Cincia e os da Religio. A Cincia est confinada ao mundo fsico, experincia sensvel, cabendo-lhe produzir o conhecimento. A Religio foi remetida para uma dimenso supra-sensvel, o nmeno. No produz conhecimento, mas ajuda-nos a compreender o sentido da nossa existncia e do mundo.

f) Crtica

A teoria do conhecimento de Kant tem sido bastante contestada, num ponto central: a subjectividade do conhecimento.

No admite um conhecimento puramente objectiva, pois o mesmo est sempre condicionado pela subjectividade do sujeito. Todo o nosso conhecimento est partida condicionado pelas estruturas transcendentais (a priori), pelas intuies do espao e do tempo, as formas mentais das nossas categorias do entendimento. Unicamente conhecemos o que com estas "formas" se objectiva. Trata-se de uma profunda limitao que difcil de justificar e aceitar.

4.3.2. Perspectivas Contemporneas. Alguns filsofos contemporneos defendem que o conhecimento resulta de uma interaco entre o sujeito e a experincia. Entre eles, destaca-se Jean Piaget.

Piaget, como vimos, desenvolveu uma concepo construtivista do conhecimento. O conhecimento indissocivel da aco do sujeito. No pois uma simples registo feito pelo sujeito dos dados do mundo exterior. O sujeito apreende e interpreta o mundo atravs das suas estruturas cognitivas. Estas estruturas no so todavia inatas, mas so formadas pelo sujeito na sua aco. O conhecimento assim um processo de construo de estruturas que permitem ao sujeito apreender e interpretar a realidade.