Orquestra - · PDF file3 Primeiras Sinfonias As obras do presente programa foram as primeiras...

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  • 14 Mai 201618:00 Sala Suggia

    1 PARTE

    Sergei Rachmaninoff Sinfonia de Juventude, em R menor (1891; c.13min.)

    Sergei Prokofieff Sinfonia n. 1 em R maior, Clssica (1917;c.14min.)

    1. Allegro2. Larghetto3. Gavota4. Finale

    2 PARTE

    Alfred Schnittke Sinfonia n. 1 (1969 74; c.60min.)

    1. Senza tempo. Moderato2. Allegretto3. Lento4. Lento. Allegro

    Tributo Alfred Schnittke IV

    Integral das Sinfonias de Prokofieff

    Cibermsica; 17:15

    Palestra pr concerto por Fernando C. Lapa

    Orquestra Sinfnica do Porto Casa da MsicaPedro Neves direco musical

  • A CASA DA MSICA MEMBRO DE

    Maestro Pedro Neves sobre o programa do concerto.

    https://vimeo.com/166076723

  • 3

    Primeiras Sinfonias

    As obras do presente programa foram as primeiras experincias de trs distintos compositores neste gnero musical. Realizadas em diferentes pocas e contextos, so tambm radicalmente diferentes nos propsitos, nos processos e no significado artstico. Poderemos resumir: a Sinfonia de Rachmaninoff uma obra de aprendizagem da sinfonia e da escrita orquestral; a Sinfonia clssica de Prokovieff uma primeira experincia nos domnios do neoclassicismo e da escrita para orquestra; e a Sinfonia de Schnittke mostra nos o nascimento de uma nova tcnica, numa construo eminentemente ps moderna, que o compositor designou precisamente por poliesttica.

    Tambm h poesia e lirismo em tudo isto, por mais inesperado e desconcertante que nos parea. Mas nestas obras cruzam se ainda diversos outros ambientes da mais fina ironia, de humor, de aspereza ou de acidez. Se ouvirmos com mais ateno, parece que a msica de um dos maiores compositores russos do sc. XX, Chostakovitch, se insinua por detrs de vrios momentos das obras destes compositores. No essencialmente pela linguagem musical cada um deles saboreando e cultivando os frutos do tempo mas sobretudo pela forma como lidam com esses ditos cruzamentos da expressividade quase romntica com a crueza e o cinismo de uma escrita frequentemente mordaz, cida e corrosiva.

    O programa com Prokofieff e Schnittke documenta tambm o nascimento de duas correntes que cruzam a msica do sculo XX: o neoclassicismo e o ps modernismo. Desde os incios do sc. XX assistimos ao progressivo desenvolvimento de uma linguagem neoclssica, marcando de forma impressiva a obra

    de diversos compositores. Bartk ou Britten so exemplos paradigmticos. Esta esttica, assente numa reciclagem de formas, tcnicas ou linguagens do passado, operada num novo contexto de abertura e modernidade (novos ambientes harmnicos, outras organizaes sonoras, novas elaboraes rtmicas, outros jogos orquestrais). O neoclassicismo apenas uma outra via e uma outra resposta, na busca de uma nova identidade e de uma nova msica. Nem sempre nos lembramos disso, mas J. S. Bach fizera o mesmo a partir da elaborao polifnica da msica renascentista. Muitas vezes a mais radical modernidade (seja l isso o que for) coexiste com a reutilizao de dados da msica do passado. Vejase a superlativa criao de Bartk, a Msica para cordas percusso e celesta, e a forma como rel as velhas estruturas da fuga ou da forma sonata, por exemplo. E no entanto, quantas obras se lhe podero comparar em todo o ltimo sculo de msica?

    A pureza estilstica absoluta algo impossvel de encontrar: as tcnicas, os processos, as linguagens cruzam se, contrapem se, misturam se, muitas vezes, em resultados sempre novos e imprevisveis. A evoluo da arte sempre foi um processo dinmico, onde o novo pressupe a tradio (nem que seja apenas para a contradizer ou subverter). Neste sentido nunca poderemos falar verdadeiramente de revoluo. Pode custar nos admiti lo, mas a margem de originalidade e de criao radical em cada obra sempre muito reduzida. Provavelmente isso acontece porque nenhum de ns foi capaz, at agora, de criar o mundo em seis dias

  • 4

    Sergei RachmaninoffONEG (RSSIA), 1 DE ABRIL DE 1873

    BEVERLY HILLS (EUA) , 28 DE MARO DE 1943

    Sinfonia de Juventude, em R menor

    Rachmaninoff uma das grandes figuras da msica russa do seu tempo. A sua obra e a sua carreira so do conhecimento do grande pblico e algumas das suas obras contam se entre as mais populares nas salas de concerto. O seu prestgio e popularidade como compositor e como pianista deveriam garantir lhe o lugar parte a que alguns artistas tm direito. Mas no foi sempre assim. Rachmaninoff, compositor, foi frequentemente mal julgado e maltratado pela crtica. Sobre ele pairou sempre a acusao de escrever uma msica de expresso romntica, ou seja, do passado, em tempo de mudanas e revolues.

    Mas voltemos ao princpio. Esta Sinfonia de Juventude, em R menor, no em rigor uma sinfonia, mas apenas o primeiro andamento de uma obra que poderia vir a slo, porque de facto nunca passou deste seu andamento inicial. Foi composta aos 18 anos, em 1891 (no mesmo ano em que nasceu Prokofieff). Como experincia de juventude, anterior s suas grandes obras sinfnicas (as suas 3 sinfonias ou os concertos para piano n. 2 ou n. 3), esta uma obra procura de identidade e de equilbrio. Tal como no seu primeiro concerto para piano e orquestra, tambm composto nesse mesmo ano, a escrita sinfnica ainda no tem aqui a mesma densidade e alcance ou a largueza da paleta expressiva que encontramos nas suas obras maiores.

    A Sinfonia de Juventude, em R menor, apenas foi editada em 1947, em Moscovo, quatro anos aps a sua morte. A estrutura

    deste andamento, que dura um pouco mais de 10 minutos, a de uma tradicional formasonata. As diversas seces em que se articula so muito claras, compreendendo: uma introduo lenta, aps a qual se sucede a tradicional exposio onde so apresentados os temas; um desenvolvimento clssico, construdo a partir de alguns traos mais salientes dos temas apresentados, com alguma intensificao de movimentos modulantes e de maior colorido harmnico; e uma reexposio, em traos largos repetindo a seco inicial.

    Curiosamente a sua Sinfonia n. 1, op. 13, em R menor (essa sim, completa, com 4 andamentos) tambm foi escrita na mesma tonalidade. Composta em 1895, foi estreada em 1897 em So Petersburgo, mas a sua estreia foi um rotundo fracasso, o que deixou Rachmaninoff muito deprimido e desanimado, tendo deixado de compor durante alguns anos. Mas as razes por que essa sua primeira sinfonia, op. 13, foi to mal recebida, porque muito mal interpretada (de acordo com relatos da poca), assentam tambm numa contradio: Rachmaninoff criou grande parte do seu prestgio junto do pblico pela sua excepcional qualidade de virtuoso do piano e por uma escrita de matriz romntica na esteira de Liszt ou de Tchaikovski. Mas essa sinfonia por vezes hesitante e imprecisa, com mudanas de direco inesperadas, com solues de colorido instrumental e orquestral muito menos convencionais, com um sentido dramtico muito forte (por todo o lado circula o clebre Dies Irae) essa sinfonia no de compreenso linear. Traz dentro de si projectos de experimentao e de mudana. Ou seja, este no parece ser o Rachmaninoff de que o pblico gosta. Mistrios

  • 5

    Sergei Prokofieff KRASNE, DONETSK (UCRNIA), 23 DE ABRIL DE 1891

    MOSCOVO (RSSIA), 5 DE MARO DE 1953

    Sinfonia n. 1, em R maior, Clssica

    Prokovieff um dos expoentes da msica russa e um dos grandes sinfonistas do seu tempo, tendo composto sete sinfonias, cada uma com a sua histria peculiar. A sua mais genial criao nestes domnios a 5 Sinfonia op. 100, em Si bemol menor, composta em 1944, em pleno tempo de guerra, como hino vida e liberdade. Bem diversa e curiosa contudo a sua primeira sinfonia, composta em 1916 17, pouco tempo antes da Revoluo Russa de Outubro de 1917 e pelo prprio Prokofieff intitulada de "sinfonia clssica".

    Na fase inicial da sua carreira musical, at Revoluo de Outubro de 1917, Prokofieff viveu, estudou e trabalhou na Rssia, em So Petersburgo. A granjeou fama de excntrico e rebelde, sobretudo no meio musical, compondo msica ousada e provocante para o gosto da poca. Tanto divertia e surpreendia os colegas do conservatrio como irritava e confundia os seus professores. Nestes precisos termos, compor uma sinfonia clssica, recuperando e reelaborando os dados da sinfonia do sc. XVIII, foi uma no menor ousadia, recebida com a mesma surpresa de sempre. Ou seja, quando se poderia adivinhar uma nova jogada politicamente incorrecta, num passo frente ou ao lado, Prokofieff surpreende tudo e todos com uma revisitao do passado. Mais ao gosto de Haydn do que de Mozart, diga se, num clima de grande jovialidade.

    A sinfonia compreende os habituais 4 andamentos, seguindo de perto o modelo que o sc. XVIII consagrou. Assim, o primeiro andamento

    Allegro tem a normal construo da formasonata; o segundo, Larghetto, na verdade um minueto delicado e sereno; o terceiro andamento uma breve Gavotte, que inclui na sua parte central uma melodia tradicional russa; e o ltimo andamento, Finale, uma espcie de rond que inclui elementos temticos do primeiro andamento, fechando a sinfonia com uma torrente de jovialidade, entusiasmo e claridade, em grande parte criados pela agilidade da escrita e pelo brilho da orquestrao. A comunicao imediata e total.

    A despeito da clareza e equilbrio da escrita, encontramos em muitos momentos desta obra diversas solues tonais mais abertas, jogando muitas vezes com movimentos imprevistos e com desfechos de frases verdadeiramente inesperados. Estes jeitos e trejeitos de cariz irnico e grotesco, por vezes mesmo desconcertantes e mordazes, so habituais na escrita de Prokofieff, e colocam no, neste preciso ponto, num patamar muito prximo do de Stravinski ou de Chostakovitch.

    Este retorno aos clssicos que tantos outros compositores motivar (veja se os casos de Stravinski ou Carl Orff, por exemplo), relendo e reciclando alguns dados das msicas do passado, luz de uma escrita mais moderna, est na origem do neoclassicis