Ortodontia e Fonoaudiologia Forma Função
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CEFACCENTRO DE ESPECIALIZAO EM FONOAUDIOLOGIA CLNICA
MOTRICIDADE ORAL
ORTODONTIA - ORTOPEDIA FACIAL E
FONOAUDIOLOGIAUMA RELAO DE FORMA E FUNO
ANDRA JNIA CANHETTI MEIRELLES
LONDRINA2000
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RESUMO
Essa pesquisa terica tem, como objetivo, estreitar os laos entre a
Ortodontia-Ortopedia Facial e a Fonoaudiologia, procurando verificar,
primeiramente, como os autores pesquisados relacionam forma e funo. Em
seguida, definir os limites anatmicos que interferem nas funes de respirao,
mastigao, deglutio e fala. Por fim, caracterizar as diversas malocluses e os
diferentes tipos de padres faciais, quanto aos aspectos funcionais geralmente
encontrados.
Conclui-se que fundamental tanto para o Ortodontista-Ortopedista Facial
quanto para o Fonoaudilogo ter uma viso mais global do quadro,
compreendendo essa inter-relao. Assim sendo, o Fonoaudilogo poder
entender se a funo avaliada est alterada ou adaptada forma presente. Por
outro lado, o Ortodontista-Ortopedista Facial poder concluir se a funo est
interferindo ou no naquela determinada forma. S a partir de um diagnstico
correto, possvel traar um plano de trabalho adequado e definir, melhor, o
prognstico, esclarecendo os limites presentes.
Destina-se essa pesquisa aos Ortodontistas-Ortopedistas Faciais, que
procuram compreender, cada vez mais, essa inter-relao. Porm acredita-se
que poder contribuir tambm para os demais profissionais atuantes nos
quadros de alteraes oromiofuncionais, como os Ortopedistas Funcionais dos
Maxilares e os Odontopediatras, alm do prprio Fonoaudilogo.
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ABSTRACT
This theoretical research aims to narrow the bonds between Orthodontics-
Facial Orthopedics and Speech Pathology, seeking to verify in the first place how
the researched authors relate form and function. In the second place, define the
anatomical limits that interfere in the functions of breathing, chewing, swallowing
and speech. And last, characterize the various malocclusions and the different
types of facial patterns, in regards to the functional aspects usually found.
It has been concluded that it is fundamental for the Orthodontist - Facial
Orthopedist, as well as for the Speech Pathologist to have a more global view of
the picture, understanding this interrelation. Thus, the Speech Pathologist can
understand if the evaluated function is altered or adapted to the present form. On
the other hand, the Orthodontist-Facial Orthopedist may conclude whether the
function is interfering or not in that specific form. Only after a correct diagnostic it is
possible to draw an adequate work plan and to better define the prognostic,
making the present limits clear.
This research is aimed at the Orthodontists-Facial Orthopedists who are
constantly trying to better understand their patients. It is also believed that it may
contribute to the other professionals who work with cases of oromyofunctional
alterations, such as Functional Orthopedists of the Jaw and Odontopediatricians,
as well as Speech Pathologists.
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Dedico essa pesquisa a Deus, que est acima
de tudo;
Aos meus Pais, pelo que sou;
Ao Neto, meu esposo, que eu tanto amo, pelo
constante apoio;
Ao Murilo e Mnica, meus queridos filhos,
pela compreenso.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo a Deus, o criador da humanidade;
orientadora Dra.Mirian Goldenberg, pelas orientaes to repletas de
carinho;
fonoaudiloga Patrcia Junqueira, pela ateno e sugestes;
Ao Ortodontista-Ortopedista Facial Dr. Lus Orbolato Rotta pelo apoio,
incentivo e esclarecimento de tantas dvidas; e ao Ortopedista Funcional
dos Maxilares Dr. Reinaldo Jos Antnio de Faria, pela bibliografia
cedida.
Ao professor de lngua Portuguesa Jos Zilvan Vidal da Silva, pela reviso
cuidadosa do texto;
Por fim, a minha secretria, Maria Snia dos S. Miele, pelo cuidado em
digitar todo o trabalho.
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Procurando a sabedoria, observei tudo o que
acontecia em toda a terra: uma atividade
contnua, dia e noite, sem parar. claro que
s Deus pode ver tudo e at o homem mais
sbio do mundo, se disser que sabe de tudo,
estar mentindo.
Eclesiastes 8.16
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SUMRIO
1- INTRODUO........................................................................................08
2- DISCUSSO TERICA........................................................................10
2.1- Relao forma e funo.................................................................10
2.2- Limites anatmicos para as funes estomatognticas ...........19
Mastigao............................................................................................19
Deglutio..............................................................................................24
Respirao.............................................................................................34
Fala..........................................................................................................40
2.3- Caractersticas funcionais geralmente encontradas nas diversas
malocluses e nos diferentes tipos faciais .................................................43
Segundo as relaes ntero-posteriores das arcadas dentria.......43
Classe I de ANGLE..........................................................................43
Classe II de ANGLE.........................................................................44
Classe III de ANGLE.........................................................................51
Segundo as relaes verticais das arcadas dentrias.......................54
Mordida aberta anterior...................................................................58
Mordida aberta lateral......................................................................58
Mordida profunda.............................................................................59
Segundo as relaes transversais das arcadas dentrias................60
Mordida cruzada posterior unilateral.............................................60
Segundo os tipos faciais........................................................................61
Mesofacial .......................................................................................61
Braquifacial......................................................................................62
Dolicofacial......................................................................................63
3- CONSIDERAES FINAIS.....................................................................66
4- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.......................................................69
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1- INTRODUO
Na ltima dcada, a Fonoaudiologia, em especial a rea de motricidade
oral, cresceu muito, tornou-se mais cientfica, realizando um trabalho mais
personalizado, e, dessa forma, conseguindo melhores resultados em menor
tempo. Todo esse avano ocorreu graas ao estudo de reas correlatas e, como
conseqncia, melhor compreenso das alteraes oromiofuncionais. O
Fonoaudilogo passou a ter uma viso mais ampla do quadro e, assim, a
relacionar forma e funo. Passou a compreender que, sem essa anlise, pode
estar fazendo um diagnstico totalmente distorcido, resultando em frustraes no
final do tratamento. A funo pode no estar alterada, e sim adaptada forma; e,
nesses casos, o trabalho funcional torna-se em vo (BIANCHINI,1993;
MARCHESAN, 1993; MARCHESAN, 1994 e MARCHESAN & JUNQUEIRA,
1997). Para o Fonoaudilogo, passou a ser necessrio determinar os limites
anatmicos presentes em cada funo; e, para o Ortodontista*, compreender as
alteraes ou adaptaes presentes em cada malocluso.
Mas quais so esses limites anatmicos que interferem nas funes
estomatognticas e, ainda, quais as alteraes ou adaptaes funcionais
predominantemente presentes em cada malocluso e nos diferentes tipos de
padres faciais?
O objetivo dessa monografia exatamente estreitar os laos entre a
Fonoaudiologia e a Ortodontia** procurando, primeiramente, compreender como
os autores pesquisados relacionam forma e funo; em seguida, estabelecer
os limites anatmicos, para a realizao das funes de respirao,
mastigao, deglutio e fala; e, por fim, caracterizar as diversas malocluses
e os diferentes tipos de padres faciais, quanto aos aspectos funcionais
* Leia-se sempre Ortodontista-Ortopedista Facial
** Leia-se sempre Ortodontia-Ortopedia Facial
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geralmente encontrados. No objetivo desse trabalho fazer do ltimo item um guia de
diagnstico, ou seja, partir do pressuposto de que todas as caractersticas aqui citadas,
necessariamente fazem parte do quadro clnico de cada malocluso ou padro facial. As
caractersticas descritas, aqui, constituem aspectos funcionais, que, geralmente, esto
presentes nos diferentes tipos de malocluso. Porm, devido a diversos fatores que interferem
nesse relacionamento, podem-se encontrar outras caractersticas. Por exemplo, um indivduo
portador de uma mordida aberta anterior poder apresentar: dificuldades em vedamento
labial, postura lingual protruda ou interdental, mastigao ineficiente e deglutio com
interposio lingual (BIANCHINI, 1993).
Busquei esse objetivo, por compreender que o trabalho da
Fonoaudiologia, em conjunto com a Ortodontia, , hoje, algo real e que pode dar
certo. Todavia no basta que os dois profissionais, bem como os demais que
interagem essa equipe (Mdicos, Fisioterapeutas e Psiclogos), faam seus
trabalhos, sem que haja conhecimento do trabalho paralelo. necessrio que se
saiba o que cada profissional pode fazer e quais os limites presentes em cada
caso. Estruturando esses conhecimentos, tem-se um resultado mais satisfatrio,
porque os encaminhamentos necessrios sero feitos em tempos oportunos,
assim como os tratamentos realizados nos momentos adequados.
A minha experincia em clnica fonoaudiolgica e os constantes contatos
com os profissionais da rea da Ortodontia motivaram-me a escrever sobre esse
assunto e a destinar esse trabalho a eles, que esto constantemente procurando
compreender melhor seus pacientes. Porm, acredita-se que poder contribuir
tambm para os demais profissionais atuantes nos quadros de alteraes
oromiofuncionais, como os Ortopedistas Funcionais dos Maxilares e os
Odontopediatras, alm do prprio Fonoaudilogo.
A metodologia utilizada constitui um embasamento terico sobre os
assuntos acima relacionados.
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2- DISCUSSO TERICA
2.1- RELAO FORMA E FUNO:
Para a compreenso dos limites anatmicos que interferem nas funes
estomatognticas, e das caractersticas funcionais nas diversas malocluses e
nos diferentes tipos faciais, faz-se necessrio, primeiramente, um estudo sobre a
inter-relao forma e funo.
Vrios autores procuram explicar essa relao e salientam sua
importncia, com o fim de se obter um diagnstico, tratamento e prognstico
corretos.
BIANCHINI (1993) considera que a obteno de xito na reeducao do
sistema estomatogntico depende, diretamente, do conhecimento prvio do seu
crescimento, desenvolvimento e, ainda, da relao entre suas estruturas.
Ao fazer o diagnstico, o profissional deve procurar ter uma viso holstica
do caso, compreendendo a relao causa-efeito. Deve discutir o momento ideal
para interveno e esclarecer os limites do trabalho. Pode-se citar, por exemplo,
a dificuldade em estabelecer um vedamento labial satisfatrio, devido a uma
modificao dos dentes incisivos, ou, ainda, em funo de uma alterao
esqueltica, como altura facial inferior aumentada. Nesses casos, o trabalho
fonoaudiolgico s deve ocorrer, aps a correo da forma pelo Ortodontista.
A autora considera importante observar as caractersticas craniofaciais,
como tipologia, e correlacion-las ao seu padro muscular. Quer dizer, relacionar
forma e funo, pois, para cada padro facial, esperado um padro musculardiferente.
Acredita, ainda, que o trabalho funcional, quando em idade e situao
oclusal favorveis, pode modificar posies dentrias e at produzir
modificaes sseas, sem o tratamento ortodntico.
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Da mesma forma, os Ortodontistas e Ortopedistas devem compreender a
ao da musculatura sobre as alteraes encontradas em seus pacientes.
Porque, segundo a teoria da matriz funcional, o osso influenciado, durante seu
crescimento, pelos tecidos moles. O tamanho e a forma do esqueleto craniofacial
dependem, tambm, dos estmulos provocados pelos tecidos a eles
relacionados, sendo, portanto, que as funes assumem um papel de grande
importncia no crescimento craniofacial (MOSS & SALENTIJN, 1969).
Ainda BIANCHINI (1993) lembra que o binmio forma e funo tem direta
relao com os fatores genticos e tambm de interferncias ambientais. E
explica que os problemas de ocluso dentria, alteraes esquelticas, tanto no
sentido vertical quanto sagital, as malformaes e os problemas respiratrios so
fatores limitantes do trabalho fonoaudiolgico. Constituem verdadeiras
dificuldades, pois as alteraes da forma levaro a adaptaes das funes.
A autora complementa que ainda se tem muito a pesquisar sobre a
interdependncia forma e funo e cabe a todos, que atuam nessa rea, essa
tarefa.
BUGALLO (1987) considera importante a avaliao sumria das funes
estomatognticas (respirao, fonao, deglutio e mastigao) antes, durante
e depois do tratamento ortodntico, porquanto essas funes, quando
equilibradas, asseguram a estabilidade das correes j efetuadas. No
obstante, lembra que existem outros fatores que interferem nos resultados
obtidos, e no somente as funes inadequadas.
SEGVIA (1977) refora essa inter-relao, relatando que o intercmbio
de conhecimentos entre os profissionais que atuam em equipe nos casos de
alteraes crnio-mandibulares obtm, como resultado, um melhor tratamento
para o paciente.
As autoras TOM, FARRET, JURACH (1996) explicam que um dos
problemas que um hbito geralmente tende a originar outro, que agrava o
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primeiro. Por exemplo, uma respirao bucal leva o paciente a deglutir
atipicamente, aumentando, por sua vez, o espao anterior e dificultando ainda
mais o vedamento labial, que, conseqentemente, agrava o problema da
respirao oral. Essa transferncia de hbitos comum e preciso interromper
esse crculo vicioso, para se obter xito no tratamento.
Por isto, as autoras continuam explicando que fcil entender por que a
troca de informao entre os profissionais que atuam nessa rea to
importante. O Fonoaudilogo deve informar o que se pode fazer dentro das
limitaes anatmicas presentes; e o Ortodontista deve informar o que se pode
ou no modificar e de que precisa, para obter um resultado satisfatrio.
Concordando com o que j foi exposto, AREIAS, VIEIRA, VIEIRA (1996)
tambm consideram de fundamental importncia estudar a relao existente
entre o desequilbrio da musculatura dos rgos fonoarticulatrios e as
alteraes dentofaciais.
MITRI & MARCHESAN (1987) entendem que, para que se possa adequar
as funes e posturas orais, diminuindo o nmero de casos de recidivas
ortodnticas, necessrio que o Ortodontista tenha conhecimento de como
identificar musculaturas alteradas. Dessa forma, podem encaminhar seus
pacientes para uma avaliao fonoaudiolgica. O Fonoaudilogo, por sua vez,
deve saber diagnosticar uma malocluso, que comea a se instalar e instruir,
motivar e encaminhar o paciente para uma avaliao ortodntica.
Portanto, segundo MITRI & MARCHESAN (1987), Fonoaudilogos e
Ortodontistas devem entender que a ao modeladora dos msculos sobre as
arcadas dentrias, quando bem equilibradas e harmoniosas, proporciona uma
boa ocluso. E, assim sendo, o conhecimento e senso crtico de cada
profissional define quando e como intervir em cada caso.
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So vrios os fatores que podem interferir no desenvolvimento normal da
musculatura orofacial, conforme explicam CANONGIA, COMEN, REGNIER
(1990):
O beb apresenta uma lngua aparentemente grande demais, que
permanece interposta entre os rebordos alveolares, pois sua cavidade oral ainda
pequena, para acomoda-l. Essa postura tem a funo de facilitar a deglutio
do pequeno ser, enquanto suga.
A mudana de postura assumida pelo beb medida que consegue
levantar sua cabea, permite um maior domnio dos lbios e lngua, bem como
um aumento da tonicidade dos msculos cervicais.
Crianas que, por diversos motivos, no so amamentadas esto mais
sujeitas ao aparecimento de distrbios da fala, da deglutio, alteraes nas
arcadas dentrias e problemas emocionais. freqente a incidncia desses
casos, porque a amamentao tem grande importncia no desenvolvimento dos
rgos fonoarticulatrios.
A alimentao artificial no permite uma boa coordenao dos lbios,
lngua, bochechas e mandbula. So vrios os fatores que interferem
negativamente durante essa ao. Por exemplo, o uso de bicos de mamadeira
longos, com furos grandes, alm de diminurem o esforo muscular, permitem
uma sada muito grande de lquido. Para controlar esse fluxo exagerado, a lngua
desenvolve um padro incorreto de deglutio, como mecanismo de defesa.
Observam-se, tambm, movimentos no sentido inverso da lngua, procurando
impedir a entrada total do bico dentro da cavidade oral.
Mais tarde, poder ocorrer o uso prolongado da alimentao pastosa. As
mes acreditam que, sendo mais fcil e ocorrendo de forma mais rpida, seus
filhos comero mais. Todavia essa prtica prejudica o crescimento e
desenvolvimento da cavidade oronasofaringeal da criana.
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As posturas corporais incorretas de igual forma interferem na perfeita
posio mandibular. Podem desencadear alteraes nas posies da lngua, dos
lbios e do vu palatino nas funes de mastigao, deglutio e fala. Posturas
corporais, como sentar-se de maneira incorreta, ao assistir televiso, escrever,
comer e deitar-se, apoiando as mos sob a mandbula, devem ser evitadas.
Os hbitos viciosos, como roer unhas, suco digital, de chupetas, entre
outros, tambm levam a posturas oromiofuncionais inadequadas e malocluso
dentria.
Segundo CANONGIA, COMEN, REGNIER (1990), a ao modeladora dos
msculos da regio orofacial mantm o equilbrio entre os tecidos moles e duros,
exercendo essa funo tanto em repouso como em atividade.
Em relao ao trabalho mioterpico, MARCHESAN (1993) esclarece que
mudou muito; que, durante anos, o Fonoaudilogo vem atuando com indivduos
que apresentam funes atpicas na motricidade oral. No obstante, muita coisa
foi deixada de lado. Os profissionais tentavam adequar as funes do indivduo,
independente de sua forma anatmica e de sua motivao para o trabalho.
A autora concorda que de fundamental importncia para o
Fonoaudilogo conhecer e compreender a inter-relao forma-funo, atravs de
estudos de reas correlatas. Dessa forma, deixa-se de ter uma viso estanque
do processo que est ocorrendo.
MARCHESAN (1994) acrescenta que o velho ditado cada caso um
caso, por muito tempo, foi esquecido na prtica teraputica dos
Fonoaudilogos. Porm, hoje, graas aos avanos da Fonoaudiologia, pode-se
pensar em cada caso e trat-lo, realmente, como sendo um caso. So muitos
os fatores que interferem e compem as diferentes relaes de forma e funo.
Dentro do possvel, deve-se identific-los, para se realizar um tratamento mais
personalizado e com resultados mais satisfatrios. Por exemplo, diante de uma
mordida aberta anterior, deve-se perguntar:
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- completa ou incompleta?
- ssea ou dentria?
- dentio decdua, mista ou definitiva?
- caninos em topo ou cruzados?
- presena ou no de hbitos de suco?
- indivduo normal, deficiente mental ou com problemas neurolgicos?
- fazendo ortodontia fixa, mvel, ortopedia ou desgastes seletivos?
- palato atrsico?
- respirao bucal?
- mordida cruzada unilateral?
- com ou sem documentao ortodntica?
- qual o tipo facial?
Aps tantas variveis, torna-se fcil compreender que a conduta
teraputica no pode ser a mesma nos diferentes casos de mordidas abertas.
MARCHESAN (1994) finaliza, explicando que, durante o crescimento, os
indivduos so influenciados pela gentica e tambm pelo meio ambiente em que
vivem. Ou seja, mesmo tendo uma gentica favorvel, o meio, sendo
desfavorvel, pode provocar modificaes desagradveis no desenvolvimento e
crescimento dos mesmos. Como exemplo, tm-se os hbitos nocivos e a prpria
respirao bucal.
Segundo JABUR (1994), h muito tempo se admite a importncia da inter-
relao entre a forma (estruturas anatmicas) e a funo (suco, mastigao,
deglutio, fonao e respirao). Portanto, h muito tempo, tem-se ouvido a
famosa questo: a forma que determina a funo ou a funo que determina a
forma ?
A mesma autora considera que o mais importante, nesse contexto, no
priorizar a forma ou a funo, e sim estabelecer a devida relao entre elas. E
concorda com os demais autores citados anteriormente que, para a reabilitao
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de uma funo, necessrio um meio bucal favorvel realizao dessa mesma
funo. A autora exemplifica os casos de malocluso tipo classe II, diviso
primeira de ANGLE, que iniciaram a reeducao funcional antes da correo da
forma. O trabalho tornou-se muito longo e levou, muitas vezes, ao desestmulo do
prprio paciente. Porm, nos casos em que a relao dos maxilares permitia um
vedamento labial, foi observada melhora significativa na funo.
Ainda JABUR (1994) relata que, nos casos de mordida cruzada unilateral,
o trabalho mioterpico no conseguiu mudar o padro mastigatrio, que se
apresentava unilateral, enquanto persistia a presena do cruzamento. Por outro
lado, casos em que priorizaram o tratamento ortodntico, foi observada mudana
de padro mastigatrio tornando-se bilateral de forma espontnea, em alguns
casos.
Em relao mordida aberta esqueletal, a autora tambm acredita que se
obtm melhores resultados, quando o trabalho mioterpico se inicia com a
mordida j quase fechada. Caso contrrio, alguns pacientes conseguem controlar
o padro correto da lngua apenas em situao voluntria, mas no a
automatizam.
No obstante, nos casos de mordida aberta dental, os melhores resultados
so obtidos, quando o tratamento ortodntico e mioterpico atuam juntos. Apesar
da fora exercida pelo aparelho, o Ortodontista pode ter dificuldades em fechar a
mordida. E ainda, se ele conseguir fechar, em poucas semanas, uma nova
mordida aberta se observar.
Em resumo, a autora acredita que o mais importante um diagnstico
preciso, compreendendo que forma e funo caminham juntas e, portanto, devem
ser avaliadas de forma global.
JUNQUEIRA (1994) observou, em seus estudos, que a mordida aberta
anterior, acompanhada de hbitos viciosos em crianas com dentio decdua,
comeou a fechar, quando iniciaram terapia fonoaudiolgica. Nesse trabalho,
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orientou-se a criana, quanto ao abandono do hbito vicioso. Tambm
importante considerar que os casos com bons resultados no apresentavam
mordidas cruzadas ou em topo.
Outras autoras, como DRAGONE, COLETA, BIANCHINI (1998), tambm
relatam que o trabalho fonoaudiolgico, paralelo ao trabalho ortodntico, vem
crescendo nos ltimos anos. E, por isto, torna-se necessrio que Fonoaudilogos
e Ortodontistas se estejam atualizando sobre os avanos das reas correlatas.
Elas explicam que, inicialmente, nenhum problema de recidiva no posicionamento
dentrio era relacionado a alteraes funcionais. Mais tarde, todos os problemas
eram relacionados alterao funcional, e cabia ao Fonoaudilogo resolver a
questo. Por fim, compreende-se melhor essa relao e sabe-se, hoje, que se
deve distinguir o que realmente alterao de funo e o que pode ser uma
adaptao dessa funo, frente a fatores, como tipo facial ou ocluso.
Portanto, o importante no supervalorizar nem fragmentar dados, pois
se pode ter uma viso distorcida do caso. A dificuldade de uma viso mais global
e de se fazerem encaminhamentos corretos no momento certo, segundo as
autoras, se deve ao fato de se terem poucos conhecimentos sobre a rea de
atuao dos colegas.
As mesmas autoras continuam explicando que as estruturas do sistema
estomatogntico agem em conjunto e, dessa forma, alteraes em qualquer parte
dessas estruturas podem levar a um desequilbrio de todo o sistema.
Esclarecem, tambm, que, muitas vezes, ocorrem adaptaes s estruturas
existentes, que, mesmo fugindo dos padres normais, so funcionais para
aquela situao e, sendo possvel, deve-se, sempre, fazer essa diferenciao.
PERIOTTO & CAMARGO (1998) tambm consideram fundamental que o
diagnstico, prognstico e tratamento sejam resolvidos em conjunto com a
equipe presente.
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Elas acreditam que, quando o Ortopedista coloca o aparelho ortopdico, o
Fonoaudilogo tem muito a contribuir, quanto adaptao, melhorando
problemas respiratrios, vedamento labial, incoordenao da deglutio e fala e
dificuldades da prpria fala.
Por fim, BIANCHINI (1993) resume que o crescimento e desenvolvimento
craniofacial influenciam, como tambm so influenciados pelas funes do
sistema estomatogntico. Ou seja, as alteraes funcionais, como as presentes
na mastigao e deglutio, tanto podem ser causas como conseqncia de
modificaes na harmonia dos elementos da face.
Portanto, todos os autores pesquisados enfatizam a importncia da inter-
relao entre a Ortodontia e a Fonoaudiologia, enquanto Forma e Funo, para
melhor compreenso do caso.
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2.2- LIMITES ANATMICOS PARA AS FUNES ESTOMATOGNTICAS:
MASTIGAO:
Como foi dito anteriormente, tanto o Ortodontista quanto o Fonoaudilogo
precisam compreender como forma e funo se interagem. Essa compreenso
permite diagnsticos mais adequados e, portanto, melhores condies para se
traar um plano de trabalho eficiente. Alm disso, torna-se possvel a
compreenso dos limites que o caso oferece, ponto esse essencial, quando se
fala em prognstico.
Para tanto, o presente trabalho estuda a funo mastigatria, sob o ponto
de vista de suas inter-relaes com as estruturas sseas e dentrias, ou seja, a
forma.
A mastigao corresponde, segundo TANIGUTE (1998), a um ato
fisiolgico e complexo, que envolve atividades neuromusculares e digestivas.
Dentre as funes do sistema estomatogntico, MARCHESAN (1993)
considera a mastigao a funo mais importante e que corresponde fase
inicial do processo digestivo. Tem, como objetivo, a degradao mecnica dos
alimentos, at se transformarem em partculas muito pequenas, que formaro o
bolo alimentar, graas ao misturadora da saliva.
MOLINA (1989) concorda com MARCHESAN, quanto ao principal objetivo
da mastigao; e complementa que tambm esta permite o desenvolvimento
normal dos ossos maxilares, alm de estar relacionada manuteno dos arcos
dentais.
A funo mastigatria, de acordo com BIANCHINI (1998), atua comoestmulo erupo dentria e ao aumento das dimenses dos arcos osteo-
dentrios. Portanto, uma modificao no padro mastigatrio pode alterar o
crescimento facial.
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JUNQUEIRA (1992) explica que a mastigao exerce importante papel no
crescimento facial, por funcionar como estmulo, possibilitando a maturao e
desenvolvimento da musculatura envolvida.
Ainda BIANCHINI (1998) afirma que a mastigao uma funo que se
difere das demais do sistema estomatogntico, por no ser inata, e sim uma
funo aprendida e dependente de muitos fatores.
Segundo a autora, primeiramente, ela s pode ser aprendida, a partir do
momento em que exista um espao intra-oral, permitindo a movimentao que a
funo exige. Esse espao propiciado pelo crescimento craniofacial. E a
amamentao assume um papel de destaque, porquanto um importante
estmulo a este crescimento.
A mastigao depende, tambm, de acordo com JUNQUEIRA (1992),
FRANCO (1998) e TANIGUTE (1998), da erupo dos primeiros dentes, alm da
maturao do sistema nervoso central, que ir controlar os movimentos.
Inicialmente, esses movimentos so irregulares e pouco coordenados, como
explica MOYERS (1993). Porm, quando a dentio decdua se completa, os
movimentos mandibulares vo-se tornando mais estveis.
Os proprioceptores presentes nas terminaes da articulao tmporo-
mandibular (A.T.M.) e na membrana periodontal da lngua, de toda mucosa oral e
dos msculos, oferecem a orientao sensorial necessria durante esse perodo
de aprendizagem. Por isto, importante que a criana, durante essa fase, receba
variados estmulos, atravs de uma alimentao com texturas diferentes.
ALTMAM et al (1993) descrevem que um dos fatores que interferem no
bom desenvolvimento e atuao da funo mastigatria o atraso na introduo
de slidos aos bebs.
PLANAS (1994) acredita que a alimentao civilizada satisfaz as
necessidades nutritivas da criana, porm no produz a exitao neural
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necessria para o desenvolvimento previsto geneticamente, surgindo, como
conseqncia, as malocluses.
MOLINA (1989) resume e complementa que mastigar uma funo
importante na preveno dos distrbios miofuncionais. A estimulao da
musculatura orofacial, iniciada pela suco, continuada, atravs da mastigao.
Uma mastigao adequada permite o desenvolvimento dos ossos maxilares, a
manuteno dos arcos, a estabilidade da ocluso e o equilbrio muscular e
funcional. E, desta forma, permite movimentos precisos e coordenados,
necessrios para a deglutio fisiolgica normal e a produo da fala.
No entanto, MARCHESAN (1998) realizou, recentemente, uma pesquisa
com crianas consideradas normais, quanto ocluso e funes
oromiofuncionais. Essas crianas apresentavam idade entre 04 anos e 07 meses
a 07 anos. O objetivo desse trabalho era conhecer, melhor, os hbitos
alimentares das mesmas, que no necessitavam de tratamento, e compar-los
com os hbitos dos pacientes com alteraes oclusais ou funcionais. A autora
questionou o aspecto alimentao, por ser considerado por vrios autores como
causa dos muitos problemas tratados por Ortodontistas e Fonoaudilogos. A
anlise dos resultados demonstrou que as preferncias e hbitos alimentares
dessas crianas no eram diferentes daquelas que procuraram tratamento.
Porm MOLINA (1989) e BIANCHINI (1998) alertam que, para que ocorra
um padro de mastigao bilateral, necessria a presena dos dentes e em
boa sade, equilbrio oclusal, ausncia de interferncias dentais ou contatos
prematuros, estabilidade e sade da A.T.M. e maturao neuromuscular.
Segundo os autores acima, alteraes na A.T.M., com presena de dor,
muitas vezes levam mastigao unilateral, que ocorre, na maioria das vezes, no
mesmo lado da A.T.M. afetada, pois o movimento condilar desse lado menos
traumtico.
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BIANCHINI (1993) explica que a m relao oclusal assume importante
papel nas alteraes da mastigao, uma vez que esta funo se torna viciosa,
buscando um padro alterado que se lhe adapte melhor. Por exemplo: casos de
alterao na linha de ocluso em um dos lados da arcada (canino, pr-molares e
molares cruzados) ocasionam uma mastigao unilateral, que direcionada para
este lado. Porm uma mastigao alterada tambm pode interferir no
estabelecimento de um bom padro oclusal. Por exemplo, em uma criana em
fase de crescimento com uma mastigao unilateral viciosa, pode-se observar
um crescimento mandibular maior do lado do balanceio e sua linha mdia se
desvia para o lado do trabalho. Nesses casos, a ocluso normal deve ser
restabelecida, para que se possa instalar um padro mastigatrio normal.
Concordando com BIANCHINI, MARCHESAN (1993) especifica que a
presena de falhas dentrias, prteses, cries, mordidas abertas anteriores ou
trocas de dentes podem modificar a forma com que o indivduo morde o alimento
e que as mordidas cruzadas ou abertas posteriores ou at mesmo presena de
cries, falhas dentrias ou hipotonia da musculatura lateral levam a uma
mastigao unilateral.
A mesma autora afirma, ainda, que o freio lingual curto tambm pode
dificultar a funo de mastigao.
De acordo com MOLINA (1989), alteraes no periodonto podem levar a
uma mastigao unilateral, como mecanismo adaptativo, para assegurar o
mnimo de trauma para essa estrutura. Alm de alteraes no periodonto, o autor
salienta outros fatores limitantes de uma mastigao bilateral, como: inflamao
pulpar; interferncias oclusais; prtese mal adaptada; apinhamento dental; trauma
oclusal; ausncia de dentes; inclinao dental, facilitando irritaes nas gengivas;
procedimentos dentais recentes; pequenas cirurgias e outros.
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DOUGLAS (1994) concorda com os demais autores e explica que o uso
de prtese gera menor fora mastigatria, levando o usurio seleo de
alimentos moles e de menor consistncia.
Portanto, se o paciente apresenta assimetria facial, JUNQUEIRA (1998)
explica que deve ser analisada sua mastigao, pois pode ser unilateral. Se a
mastigao for unilateral, deve-se identificar a possvel causa da alterao
mastigatria. Uma vez identificada, deve-se elimin-la, para tornar possvel o
trabalho mastigatrio. A autora concorda com os autores citados acima, no
tocante aos fatores que limitam a funo mastigatria bilateral.
Importante explicar, segundo PLANAS (1994), que, quando ocorre uma
mastigao unilateral, h uma excitao neural diferenciada, que tem, como
resposta, o maior desenvolvimento da mandbula no lado do balanceio e da
maxila no lado do trabalho. Explica, ainda, que um dos principais fatores que
interferem na mastigao bilateral e que desenvolvem uma mastigao unilateral
a diferena na dimenso vertical entre as hemiarcadas direita e esquerda. O
indivduo mastiga no lado que tem menor dimenso vertical.
BIANCHINI (1998) complementa que o padro unilateral de mastigao se
caracteriza por uma potncia muscular de um lado (trabalho) e musculatura
alongada com tnus rebaixado do outro lado (balanceio), podendo-se observar
certa assimetria muscular.
FRANCO (1998) esclarece que, para um padro mastigatrio satisfatrio,
necessrio que, primeiramente, os problemas dentais, periodontais ou de
ocluso sejam sanados.
Complementando, BIANCHINI (1998) alerta que, em alguns casos, a
mastigao se estabiliza sozinha, aps a correo da causa dentria. Para que
isto acontea, o tempo de acometimento e a qualidade neuromuscular so
determinantes.
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A mesma autora tambm esclarece que, segundo BIANCHINI (1995,1997),
as caractersticas na mastigao, de acordo com a tipologia facial, no devem
ser confundidas com mastigao alterada.
Finalizando, BIANCHINI (1998) considera importante que a conduta a ser
adotada, frente s alteraes de mastigao, deve ser definida em conjunto com
os demais profissionais atuantes no caso. Desta forma, oferece-se uma
hierarquia de trabalho, que favorece a evoluo do paciente. A funo
mastigatria s ser trabalhada, quando as condies morfolgicas o
permitirem.
Portanto, de acordo com os autores pesquisados, o Fonoaudilogo deve
verificar as estruturas sseas e dentrias durante a avaliao da funo
mastigatria. E o Ortodontista deve observar como a funo mastigatria est
sendo realizada, nos casos de desvio do crescimento facial. Somente atravs
dessas anlises se obtm diagnsticos corretos e se atua de forma adequada,
no momento oportuno.
DEGLUTIO:
Por muito tempo, a deglutio foi considerada a funo vil da maioria das
alteraes miofuncionais. Sabe-se, hoje, que ela tambm depende de outras
estruturas e funes. Portanto, pode apenas estar adaptada, e no atpica, como
sempre foi vista. Para melhor compreenso dessa funo, este trabalho aborda
as atipias da deglutio e o diagnstico diferencial entre atpica e adaptada.
A deglutio definida por TANIGUTE (1998) como uma seqncia
reflexa de contraes musculares ordenadas, com o objetivo de transportar o
bolo alimentar ou lquidos da cavidade oral at o estmago.
As contraes musculares, segundo MARCHESAN (1998), envolvem
msculos da respirao e do trato gastrointestinal. Explica, ainda, que, alm do
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objetivo de transportar o bolo alimentar, tambm realiza a limpeza do trato
respiratrio.
MARCHESAN (1993) complementa que ela pode servir, de igual forma, de
mecanismo protetor das vias areas superiores e do trato digestivo. Esse
mecanismo de proteo ocorre atravs do reflexo de tosse que se desencadeia,
quando partculas entram na laringe ou nas vias areas altas.
A funo de deglutio, conforme explicam TOM, FARRET, JURACH
(1996), envolve no apenas o ato de engolir mas tambm a apreenso do
alimento e a mastigao.
De acordo com TANIGUTE (1998), para que esse processo ocorra,
necessria a integridade neural do tronco enceflico. Pode-se observar, portanto,
a deglutio j na dcima segunda semana de vida intra-uterina, correspondendo
primeira funo a manifestar-se no feto.
Ao nascer, o padro de deglutio chamado de padro infantil ou
visceral, caracterizado pelo posicionamento lingual entre as gengivas e
contrao da musculatura facial, estabilizando a mandbula. Esse processo
estimulado pela relao sensorial entre lbios e lngua.
A mesma autora continua explicando que, para que ocorra o
amadurecimento dessa funo, necessrio o respeito hierarquia alimentar, ou
seja, mudana das consistncias alimentares oferecidas s crianas (lquido -
pastoso - slido). Segundo essa autora, o alimento constitui o principal estmulo
ao equilbrio das estruturas do sistema estomatogntico. a partir do
nascimento dos primeiros molares decduos que se iniciam os verdadeiros
movimentos mastigatrios e o incio da deglutio madura. Esse novo padro
caracteriza-se, por apresentar os dentes em ocluso, mandbula estabilizada
pelos msculos elevadores da mesma, a lngua tocando seu tero anterior acima
e atrs dos incisivos superiores, que permanecem unidos, em uma contrao
mnima.
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FERRAZ (1983) complementa, esclarecendo que a morfologia da
cavidade bucal um elemento que provoca grandes modificaes na forma de
deglutir; e a mudana da deglutio infantil para a adulta acontece, medida que
se modifica a morfologia bucal. Essa fase chamada de transitria e os
elementos determinantes so: maturao neuromuscular, troca de postura da
cabea, efeito da ao da gravidade sobre a mandbula, troca de alimentos
semi-slidos por slidos e o aparecimentos dos dentes.
Conforme foi dito anteriormente, durante a deglutio, os msculos entram
em jogo, formando um mecanismo sinrgico. AGUSTONI (1989) e MOYERS
(1993) explicam que, quando se observa uma quebra nessa sinergia, vrias
alteraes aparecem, desenvolvendo a chamada deglutio atpica ou
deglutio infantil.
Em relao s atipias descritas na literatura, MARCHESAN (1998)
esclarece que no apenas a projeo de lngua; cita, tambm: contrao de
periorbicular; atuao do masseter; contrao de mentalis; interposio do lbio
inferior; movimento de cabea e rudos, quando aparecem no momento em que
o paciente deglute; e resduos, aps a deglutio.
No que diz respeito interposio lingual, MOLINA (1989) explica que o
posicionamento da lngua, durante a deglutio adulta, est relacionado ao seu
prprio tamanho, comparado largura e comprimento do osso maxilar, forma
do palato duro, presena de overjet e da inclinao dos incisivos superiores no
sentido vestibulolingual. Portanto, o padro de deglutio atpica pode-se
estabelecer por uma adaptao da lngua anatomia bucal presente, a doenas
crnicas, adenide, amigdalite, rinite ou crescimento diminudo da maxila.
MARCHESAN (1998) esclarece que existe, na literatura, uma grande
controvrsia: se a mordida est aberta, porque a lngua se interpe, ao deglutir;
ou se a lngua se interpe, porque a mordida est aberta. A mesma autora
explica que a maioria dos autores acredita que a lngua se interpe, porque a
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mordida est aberta. De qualquer forma, sabe-se que, mesmo no sendo
considerada causa da mordida aberta, sua presena nesse espao fator
mantenedor e at agravante do quadro.
PROFFIT & MASON (1975) e MARCHESAN (1998) explicam que,
dificilmente, aparece uma mordida aberta apenas em funo da interposio
lingual na deglutio. Porm, se ocorrer um posicionamento lingual nesse local,
durante o repouso, h maior possibilidade de a lngua ser a causadora da
mordida aberta. Ou seja, geralmente a deglutio, por si s, no suficiente,
para causar uma malocluso. No entanto, o quadro muda, quando existe um
posicionamento inadequado e constante da lngua.
A presena de contrao da musculatura periorbicular, segundo
MARCHESAN (1998), seria uma conseqncia da projeo anterior de lngua.
Significa um reflexo natural, que procura evitar a projeo lingual e,
conseqentemente, a expulso do alimento a ser deglutido. Tambm pode ser
encontrado esse mecanismo, nos casos de tnus diminudo.
Em relao contrao do masseter, a mesma autora procura esclarecer
que a deglutio de diferentes alimentos determina maior ou menor contrao da
musculatura elevadora, em que o masseter est incluso. Porm, quando se trata
de lquido, no h, em geral, contrao dessa musculatura. medida que o bolo
se vai solidificando, pode-se observar a presena dessa contrao, que ser
maior, quanto mais slido ou maior for o bolo alimentar. Outro dado importante
que essa contrao no ocorre no momento exato da deglutio, e sim
momentos antes de ela ocorrer.
A caracterstica atpica de contrao do mentalis e interposio do lbio
inferior, segundo MARCHESAN (1998), acontece, com maior freqncia, em
indivduos classe II de ANGLE com overjet. O grande distanciamento antero-
posterior dificulta o vedamento, que acaba acontecendo entre lbio inferior e
incisivos superiores. Outro fator que interfere na deglutio quando o lbio
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superior est em posio de repouso acima do tero inferior dos incisivos
superiores. Nestes casos, fica fcil de se entender que, ao deglutir, o lbio
inferior compensa o superior, levando a uma contrao exagerada do mentalis.
Resumindo, a autora explica que a contrao do mentalis est sempre
associada com a interposio, contrao ou elevao exagerada do lbio
inferior. E o fator determinante que mais aparece, nesses casos, o overjet ou
sobressalincia.
MARCHESAN (1998) explica, ainda, que a deglutio com movimentos de
cabea est associada principalmente m mastigao. Quando a mastigao
ineficiente, deixa o bolo alimentar de maior tamanho, ou no homogneo,
tornando difcil sua passagem para a orofaringe. Nesse caso, o paciente leva a
cabea para trs, retificando o tubo por onde passa o alimento, possibilitando,
assim, a passagem do mesmo.
Os rudos que ocorrem durante a deglutio, segundo a mesma autora,
aparecem, pelo excesso de fora do dorso da lngua. Ocorre uma inverso do
apoio da ponta pelo dorso, que, geralmente, acontece, porque a ponta da lngua
est hipotnica e permanece baixa. Pode aparecer, tambm, nos casos de tero
inferior da face muito aumentado. A lngua assume um posicionamento de ponta
baixa e dorso alto, mantendo-se, assim, durante a deglutio e,
conseqentemente, aparecendo o rudo.
Finalmente, a ltima caracterstica de atipia encontrada na deglutio,
segundo MARCHESAN (1998), a presena de resduos, aps deglutir, que,
geralmente, aparecem, quando o bucinador est hipotnico ou hipofuncionante.
Desta forma, por falhas na sua atuao, o alimento cai no vestbulo durante a
mastigao e a permanece. Outro fator que interfere na formao de resduos
a diminuio da quantidade de saliva na boca. Essa alterao dificulta a
formao do bolo e, conseqentemente, sua deglutio. Porm a autora chama a
ateno, para que no se deixe de analisar a quantidade e o tipo de alimento
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colocado na boca. Existem alimentos muito secos (bolachas), que facilitam a
presena de resduos.
No entanto, MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997) salientam que todo
cuidado deve ser tomado, porque o sistema estomatogntico corresponde a um
conjunto de estruturas capazes de realizar funes, porm funes essas que se
adaptam s mudanas existentes. Portanto, o padro de deglutio encontrado
em indivduos portadores de malocluso compreensvel, frente s alteraes
encontradas em cada tipo de ocluso. As funes precisam adaptar-se, para que
possam ocorrer.
Quando se observam fatores que interferem, negativamente, sobre a
funo da deglutio, MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997) e MARCHESAN
(1998) explicam que se trata de deglutio adaptada, que difere da deglutio
atpica.
Na deglutio atpica, segundo as autoras, no existe nenhuma alterao
de forma presente na cavidade oral. Observa-se apenas alterao da funo de
deglutio, no sendo necessrio tratamento ortodntico, para correo de
ocluso. Somente com o trabalho fonoaudiolgico, podem-se criar possibilidades
de modificao do padro de deglutir. Isto difere da deglutio adaptada, pois,
nesses casos, a atipia encontrada conseqncia de algum outro problema
existente. Esse problema pode ser uma alterao da forma, por exemplo,
malocluso ou at mesmo de outra funo, como o caso da respirao bucal.
Observa-se que a lngua se adapta forma ou ao tipo facial existente ou ainda s
caractersticas das funes existentes, tornando-se impossvel deglutir de
maneira correta.
De acordo com ALTMANN (1994), as alergias, desvio de septo e
hipertrofia de adenide so fatores limitantes da respirao nasal,
desenvolvendo a respirao bucal e tambm modificaes na forma de deglutir.
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Outro dado importante o crescimento diferencial existente entre a lngua
e a cavidade bucal, durante a fase de dentio decdua. A lngua segue a curva
de crescimento dos tecidos de origem neural e, dessa forma, atinge o tamanho
mximo aos oito anos de idade, enquanto a mandbula apresenta um
crescimento mais lento e atinge seu plat entre os oito e doze anos de idade,
acompanhando o crescimento sseo na puberdade e ps-puberdade. Portanto,
lngua, maxila e mandbula s apresentaro uma relao de tamanho equilibrado,
ao se completar o crescimento sseo-muscular. E essa diferenciao resulta
numa posio mais anteriorizada da lngua nos primeiros anos de crescimento,
segundo PROFFIT & MASON (1975).
Finalmente, as autoras concluem que o importante no a discusso do
termo utilizado: atpica ou adaptada, e sim compreender, melhor, a relao forma
e funo, discutindo o melhor momento de interveno, para corrigir a projeo
lingual.
So vrios os fatores que limitam a funo de deglutio e que nela
interferem, segundo TANIGUTE (1998). A autora salienta as caractersticas
faciais, o tipo de ocluso e mordida, a idade do indivduo e a natureza do
alimento a ser deglutido.
Complementando TANIGUTE, JUNQUEIRA (1998) e MARCHESAN
(1998) explicam que crianas, na fase de dentio decdua e mista, podem
apresentar uma projeo de lngua durante a deglutio, considerada uma
pseudo-alterao, ou seja, algo transitrio, e no patolgico. As autoras
compreendem dessa forma, devido ao crescimento diferenciado entre a lngua e
a cavidade bucal.
Existe uma alta incidncia de deglutio atpica nos portadores de
malocluses, segundo MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997). Porm, se o tipo de
ocluso no permitir que a lngua permanea numa posio correta, no se tem
uma deglutio atpica, e sim adaptada, porque a funo se adaptou ao
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relacionamento morfolgico anormal. Muitas vezes, portanto, no possvel
reabilitar a funo antes do tratamento da malocluso.
Ainda as mesmas autoras explicam que a respirao bucal causa
alterao no posicionamento da lngua, para possibilitar a passagem do ar pelo
nariz. Portanto, a respirao deve ser diagnosticada e reabilitada antes da
deglutio.
JUNQUEIRA (1998) salienta, de igual forma, que a presena de amgdalas
palatinas aumentadas dificulta o posicionamento correto da lngua na deglutio
e, nesses casos, comum a projeo lingual.
Outro fator desfavorvel deglutio, de acordo com MARCHESAN &
JUNQUEIRA (1997) e MARCHESAN (1998), o hbito de suco por tempo
prolongado, principalmente suco digital. Esse hbito leva a lngua a um
posicionamento bastante baixo, que favorece sua projeo durante a deglutio.
De forma geral, MARCHESAN (1998) considera como fatores limitantes
da deglutio: alteraes respiratrias, trocas dentrias, diferentes tipos de
ocluso e de mordida, tipo esqueletal, tnus, propriocepo, reduo de espao
interno, hbitos orais mantidos por longo tempo, idade e tamanho da cavidade
oral e sua relao com o crescimento e desenvolvimento da lngua.
MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997) citam as malocluses em que
possvel observar alteraes no posicionamento lingual: mordida aberta anterior,
classe III de ANGLE e, ainda, nos casos de padro facial longo.
Explicam, outrossim, que no se pode deixar de investigar a postura da
cabea. Nos casos de alterao no posicionamento desta, seja para frente, para
trs ou para os lados, o posicionamento da lngua pode, tambm, estar alterado.
A presena de alteraes sseas com assimetrias, segundo as autoras,
pode propiciar um mal posicionamento lingual, devido alterao do espao
interno da cavidade bucal.
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O tnus outro fator que, quando alterado, permite modificar a posio da
lngua.
Hbitos e padres familiares tambm apresentam certa influncia sobre a
deglutio, de acordo com MARCHESAN (1997), uma vez que existe uma
tendncia natural das pessoas em imitarem outras. A observao de todos esses
aspectos importante, por indicar o melhor caminho que o programa teraputico
deve adotar para cada paciente individualmente.
BRAGA & MACHADO (1994) concordam com os autores citados
anteriormente e explicam que a deglutio uma funo que se realiza
diferentemente antes e aps o aparecimento dos dentes. Portanto, os dentes
assumem um papel importante na deglutio e, quando alterados, funcionam
como limites para realizao adequada dessa funo.
Para que os dentes permaneam em posies corretas e equilibradas, os
autores explicam que necessria uma perfeita harmonia entre as foras
externas e internas que atuam sobre eles. Ou seja, necessria uma atuao
adequada da musculatura das bochechas, dos lbios (externamente) e da lngua
(internamente).
MARCHESAN (1993) acrescenta, ainda, que o freio lingual curto pode
dificultar a realizao dessa funo. Palato estreito ou alto dificulta o acoplamento
da lngua. Lngua hipotnica leva ausncia de fora, para juntar o alimento e
para se acoplar contra o palato. Suco falha no permite a formao e
centralizao do bolo. Bochechas hipotnicas no colaboram na mastigao,
suco e formao do bolo alimentar.
Segundo TOM, FARRET, JURACH (1996), o desempenho dessa funo
depende diretamente das estruturas anatmicas: lbios, bochechas, dentes,
arcadas alveolares, mandbula, palato duro e mole, lngua, faringe e esfago; a
funo de deglutio est intimamente ligada postura de repouso da lngua, j
que a partir dela que a funo se realiza. Concordando com os demais autores,
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TOM, FARRET, JURACH (1996) ressaltam que a predisposio esqueltica da
face pode tornar difcil ou at impossvel o tratamento fonoaudiolgico,
constituindo, portanto, um fator limitante importante.
Em seu estudo, MEDEIROS (1992) relata que so muitos os efeitos
causados pelo uso incorreto e prolongado da mamadeira. Afirma que a projeo
lingual conseqncia desse hbito e que, ao protuir a lngua, a criana altera o
processo normal da deglutio.
HANSON & BARRET (1988), ao relacionarem os limites anatmicos e os
fatores que interferem na funo de deglutio, descrevem: permanncia do
padro de deglutio infantil; uso de bico de mamadeira inapropriado;
tendncias genticas em apresentar discrepncias na relao intermaxilares;
hbito de suco digital; dficit sensorial oral; hipertrofia de amgdalas e
adenide; arco palatal estreito; dentes anteriores inclinados para lingual e
mordidas cruzadas.
Portanto, MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997) salientam que, frente a um
caso de deglutio atpica, se deve olhar muito alm da projeo lingual. Deve-
se procurar identificar as possveis razes dessas alteraes e, dessa forma,
tratar das causas, e no da conseqncia, que corresponde projeo lingual.
Sendo assim, necessrio analisar os vrios aspectos que interferem nessa
funo.
MARCHESAN (1998) completa, explicando que o importante, quando o
trabalho exige uma equipe, se discutir qual profissional dever iniciar o
tratamento, ou se ser iniciado por mais de um. E, ainda, deixar claro ao paciente
o possvel prognstico com suas limitaes, quando existirem. O trabalho em
equipe exige que cada profissional conhea o papel dos outros elementos da
equipe e, ainda, quais as possibilidades e limitaes de seus parceiros de
trabalho.
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MARCHESAN & JUNQUEIRA (1997) consideram importante no s o
relacionamento forma e funo, quando esto discutindo o melhor momento de
iniciar um tratamento fonoaudiolgico. Elas ressaltam, tambm, a relao das
funes entre si. Ou seja, antes de se tratar a deglutio, necessrio tratar a
respirao, quando esta se apresenta alterada. O Fonoaudilogo pode, ento,
no iniciar o tratamento de deglutio nesse momento, porm de grande valia
ser para o paciente, se melhorar sua respirao.
Portanto, os autores pesquisados explicam que, quando se interrelaciona
forma e funo, se passa a ter uma nova viso do quadro. E sob essa anlise,
pode-se verificar se a funo est atpica ou adaptada, escolhendo, assim, o
melhor momento de se intervir.
RESPIRAO:
A respirao outra funo em que a equipe multidisciplinar est
presente. E, portanto, mais uma vez, a compreenso da inter-relao forma e
funo se faz necessria.
De acordo com MARCHESAN (1993) e TANIGUTE (1998), a respirao
uma funo vital ao organismo e tambm participa do processo da fonao. O
nariz o rgo responsvel pela entrada do ar. Porm no corresponde a um
condutor passivo. Ele exerce trs importantes funes: umidificao,
aquecimento do ar inspirado e proteo das vias areas superiores.
MARCHESAN (1993) continua explicando que a respirao nasal interfere
no desenvolvimento normal dos maxilares, na postura da mandbula, na posio
da lngua e na manuteno do espao rinofarngeo; e a respirao bucal ou mista
interferir negativamente em todos esses aspectos.
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Concordando com MARCHESAN, MOCELIN (1994) afirma que a
respirao bucal geralmente leva a alteraes na face, durante seu perodo de
crescimento.
Por isto e pelo fato de a face apresentar sua maior velocidade de
crescimento durante os 10 primeiros anos de vida, MOCELIN (1994) e
TANIGUTE (1998) acreditam que se deve propiciar as melhores condies
possveis durante esse perodo, para que o desenvolvimento ocorra de forma
harmoniosa.
Durante a respirao bucal, MARCHESAN & JUNQUEIRA (1993)
explicam que a lngua assume uma nova postura, garantindo a passagem do ar.
Porm, alm da mudana lingual, observado que a mandbula tambm vem
para baixo e para a frente, em conseqncia do posicionamento da lngua no
espao mandibular.
BIANCHINI (1993) complementa que ela interfere, inclusive, na postura de
cabea, na tentativa de facilitar e at permitir a respirao.
O novo posicionamento lingual, segundo MARCHESAN (1994), procura
proteger a orofaringe e as amgdalas, facilitar a entrada do ar e at fazer as
vezes do nariz, limpando, aquecendo e umidificando o ar. Porm, ao tomar uma
nova posio, a lngua, alm de deixar de cumprir o papel de modelar os arcos
dentrios, causa outros prejuzos, que dependem da nova posio que tomar:
- quando a lngua permanece com o dorso elevado e a ponta baixa, inibe o
crescimento mandibular e estimula o crescimento da parte anterior da maxila,
podendo resultar numa classe II de ANGLE. Pode, tambm, causar distoro na
emisso do fonema /s/, devido ao estreitamento entre o palato e o dorso da
lngua (elevado), dificultando a sada do ar.
- quando a lngua se posiciona totalmente rebaixada no soalho, estimula a
mandbula para a frente, causando o prognatismo.
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- Por fim, quando a lngua observada interposta entre as arcadas, pode causar
uma mordida aberta anterior.
Como conseqncia da respirao bucal, BIANCHINI (1993) relaciona
alguns fatores importantes: narinas estreitas e inclinadas para cima; microrrinia;
palato ogival; hipotonia dos msculos temporais; masseteres e bucinadores;
lngua baixa e hipotnica ou ainda alta, na tentativa de controlar a passagem
area; lbios abertos e hipotnicos; amgdalas volumosas; tonsila nasofarngea
aumentada; freqente otite mdia e/ou sinusite; ronco noturno; incontinncia
salivar; ocluso cruzada uni ou bilateral, devido atresia de palato duro;
crescimento facial predominantemente vertical; mordida aberta anterior e palato
mole orientado verticalmente.
Em sua anlise, KRAKAUER (1997) conclui que, para crianas maiores
de 08 anos, maior o nmero de alteraes posturais nos respiradores bucais.
MARCHESAN (1998) tambm relata vrios prejuzos causados pela
respirao bucal, como problemas oclusais, posturais e alteraes nas funes
estomatognticas.
Quando ocorre mudana no padro respiratrio, ou seja, naso-bucal ou
tambm chamado de misto, TANIGUTE (1998) salienta que necessrio
discrimin-lo em orgnico ou vicioso. Na respirao oral causada por fatores
orgnicos, pode-se encontrar desvio de septo, alergias, hipertrofia das
vegetaes adenoideana e/ou das amgdalas, ao passo que, no respirador bucal
vicioso, no h obstruo nasal.
SEGVIA (1977) concorda com TANIGUTE e complementa os fatores
limitantes de uma respirao nasal, salientando os seguintes aspectos: plipos
nasais, estreitamento do stio naso-farngeo associado a uma membrana nasal
inflamada e inflamao dos cornetos nasais.
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Dentre os fatores que causam a obstruo nasal, impedindo que a funo
seja exercida adequadamente, MOCELIN (1994) explica que a hipertrofia da
adenide a mais citada na literatura.
Quanto s demais causas da obstruo nasal, o mesmo autor concorda
com os fatores j descritos anteriormente e acrescenta: atresia de coana,
hematoma do septo nasal, fratura nasal, presena de corpos estranhos,
angiofibroma juvenil e rinite medicamentosa.
MOLINA (1989), BIANCHINI (1993) e ALTMANN (1994) tambm citam os
fatores orgnicos que impedem ou limitam a respirao nasal e esto de acordo
com os demais autores citados acima.
MARCHESAN (1994) tambm relaciona os fatores quanto a rinites,
alergias, bronquites e hipertrofia de amgdalas ou adenide.
Porm MARCHESAN (1998) cita algumas observaes vlidas aos
profissionais que procuram diagnsticar e tratar o respirador bucal. As narinas
(comunicao das fossas nasais com o meio externo) tm formatos diferentes e
algumas so mais estreitas, dificultando a entrada do ar. O ngulo nasolabial
(formado pela columela e narinas com o lbio superior) deve ser mais ou menos
de noventa graus no homem e at cento e cinco graus na mulher. Quando este
ngulo est muito fechado ou aberto, tambm dificulta a respirao nasal.
Continua explicando que, em relao hipertrofia das amgdalas,
necessrio entender que a lngua assume postura ntero-inferior, na tentativa de
aumentar o espao posterior e, dessa forma, facilitar a respirao. No entanto,
esse posicionamento faz com que a lngua se torne hipotnica e alargada,
causando, ainda, uma diminuio da presso interna no palato e aumento da
presso dos msculos periorais. Essa alterao de presso interna uma das
causas da atresia do arco superior.
A mesma autora salienta que, para melhores diagnsticos e prognsticos,
os respiradores bucais podem e devem ser divididos em alrgicos e no
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alrgicos. Os no alrgicos podem desenvolver uma respirao bucal por hbito,
por tnus alterado ou por alteraes anatmicas, que devem ser identificadas no
nariz, na faringe ou na boca. Deve-se, tambm, verificar as tendncias de
crescimento da face e ocluso. Crescimento mais vertical e ocluso tipo classe II
esqueletal tornam mais difcil o restabelecimento da respirao nasal.
Outro aspecto importante, segundo MARCHESAN (1998), entender que
a respirao nasal ocorre normalmente, com o vedamento labial. Porm esse
vedamento tambm pode ocorrer, atravs da lngua, em duas situaes. Na
primeira, o dorso da lngua entra em contato com o palato duro. Na outra
situao, a base da lngua contatua com o palato mole. Na ausncia de
selamento em algum desses pontos, tem-se uma respirao bucal; ou mista (que
mais freqente).
JUNQUEIRA (1998) concorda com MARCHESAN e afirma que, portanto,
a presena de lbios abertos no significa respirao bucal; necessria uma
avaliao das demais vlvulas que a lngua forma, para permitir a respirao
nasal. No entanto, nos casos com lbios abertos e mandbula tambm deprimida,
a respirao pode ser bucal ou mista.
A mesma autora explica que a alterao do tnus dos msculos que
elevam e mantm a mandbula na posio correta pode ser fator causal de uma
respirao bucal habitual.
JUNQUEIRA (1994) cita, ainda, a presena de mordida aberta anterior,
que dificulta o vedamento labial e, conseqetemente, facilita o desenvolvimento
da respirao nasal. fundamental a instalao de uma respirao nasal com
vedamento labial, para o fortalecimento da musculatura e o correto
posicionamento dentrio.
A presena de um freio lingual curto, segundo MARCHESAN (1993),
tambm pode posicionar a lngua na cavidade inferior e levar a uma postura de
boca entreaberta, facilitando o desenvolvimento da respirao bucal.
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Segundo MORESCA & FERES (1994), o desenvolvimento de uma
respirao bucal pode estar associado presena de hbitos viciosos de
suco.
Quando o caso exige a atuao de uma equipe de profissionais,
MARCHESAN (1998) esclarece que necessrio que toda a equipe saiba o que
cada um pode fazer, para ajudar o respirador bucal, compreendendo os limites
que esse trabalho oferece.
Por se tratar de alteraes de forma e funo, MARCHESAN (1998)
continua explicando que a equipe multidisciplinar pode, em muitos casos, apenas
minimizar os problemas apresentados, uma vez que estas alteraes dependem,
tambm, do tempo em que esto presentes no indivduo. Diante desse fato, o
diagnstico assim como o tratamento precoce evitam as conseqncias mais
difceis de serem resolvidas. O trabalho preventivo assume, portanto, o papel
mais importante e deve ser feito por todos os profissionais da rea de sade.
MARCHESAN & JUNQUEIRA (1993) complementam que, geralmente, a
mudana no padro respiratrio pode ser suficiente para posicionar a lngua de
forma adequada, sem a interveno direta com essa estrutura.
MOCELIN (1994) esclarece que responsabilidade de cada profissional
que atua nessa rea fazer a sua parte e os devidos encaminhamentos. Visto que,
muitas vezes, o tratamento isolado no resolve todo o problema. A gama de
alteraes decorrentes da respirao bucal no permite a omisso de um
tratamento adequado.
Portanto, os autores citados explicam como as alteraes orgnicas
podem modificar a respirao nasal. E que a instalao de uma respirao bucal
traz uma srie de adaptaes importantes. Sem a compreenso da inter-relao
forma e funo, dificilmente ser restabelecida a respirao nasal, que,
normalmente, envolve a atuao de uma equipe multidisciplinar.
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FALA:
Outra funo que, por muito tempo, foi tratada, sem se compreender sua
relao com a forma presente, a fala. Esse fato justifica os inmeros
insucessos, principalmente nos casos de sigmatismo (alteraes na emisso do
fonema /s/).
Segundo TANIGUTE (1998), a fala exercida atravs de rgos que
pertencem a outros sistemas do organismo, como o respiratrio e o digestivo.
MARCHESAN (1993) complementa que a produo de sons no rgo da
fonao se d pela interferncia da laringe, cavidade bucal e cavidade nasal. A
laringe corresponde parte principal, pois contm as pregas vocais que
produzem os sons. As cavidades supraglticas tm a funo de ressonadores. E
acrescenta-se, ainda, o parelho respiratrio, porque atravs do fluxo areo que
ocorre a vibrao dos tecidos capacitados a emitir os sons. Esse som produzido
inicialmente pelas pregas vocais articulado pelos rgos fonoarticulatrios,
determinando modificaes no som. A lngua corresponde ao principal rgo de
articulao, alm dos dentes, palato e mandbula.
A mesma autora continua explicando que os bebs se preparam para a
fala desde o nascimento. Aos seis meses de idade, iniciam os movimentos orais
propriamente ditos, de que necessitaro, para a produo da fala. A articulao
depende da posio e da mobilidade da lngua, presena e posio dos dentes,
mobilidade dos lbios e bochechas, bem como da posio da mandbula, que
promove o espao intra-oral adequado, permitindo a articulao fonmica e a
ressonncia.
CANONGIA, COMEN, REGNIER (1990) concordam com MARCHESAN e
afirmam que os fatores que interferem na emisso dos fonemas e contribuem
para os mesmos so: msculos faciais e labiais; lngua, que altera as
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caractersticas de ressonncia da cavidade oral e o vu palatino, separando as
cavidades oral e nasal.
O desenvolvimento da articulao dos sons da fala est ligado, segundo
TANIGUTE (1998), maturao do sistema miofuncional oral e s demais
funes neurovegetativas de respirao, suco, mastigao e deglutio. E,
para que ocorra toda essa maturao funcional, necessrio seguir a seqncia
correta na introduo dos alimentos das crianas. Ou seja, inicialmente, a
suco, atravs da amamentao; em seguida, oferecer alimentos pastosos; e,
por ltimo, os slidos, que permitiro a prtica da mastigao e o
amadurecimento do padro da deglutio.
Finalmente, no se pode deixar de esclarecer, segundo a mesma autora,
que qualquer alterao, no que diz respeito forma anatmica do indivduo, pode
interferir nas funes por ele exercidas.
SEGVIA (1977), concordando com TANIGUTE, relaciona a fonao com
as malocluses, principalmente nos casos de mordida aberta anterior.
Considera, ainda, que a dislalia (alterao na articulao) tambm pode estar
relacionada a fatores de ordem emocional.
Complementando os autores citados, JUNQUEIRA & GUILHERME (1996),
em sua pesquisa, citam as malocluses, mordida aberta anterior e overjet, como
as que mais favorecem o sigmatismo.
MOYERS (1991) descreve que, geralmente, a fala se adapta
malocluso.
Porm as autoras, JUNQUEIRA & GUILHERME (1996), deixam claro que
no se deve justificar a ocorrncia do sigmatismo unicamente pela presena da
malocluso. Outros fatores contribuem para a presena ou a ausncia do
sigmatismo. As autoras sugerem um estudo mais aprofundado a este respeito.
Em sua pesquisa, MOURA (1994) observou uma queda em o nmero de
crianas que apresentam ceceio anterior (projeo da lngua entre os dentes
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anteriores nos fonemas sibilantes /s/ e /z/), medida que crescem. Esses dados
podem ser explicados por vrios motivos que se devem levar em considerao.
Crianas com 03 anos apresentam grande incidncia de projeo lingual na fala,
nos fonemas /s/ e /z/, pois, muitas vezes, ainda apresentam o hbito de suco
e/ou alimentao pastosa. Interfere, tambm, o tratamento infantilizado que essas
crianas ainda recebem de seus familiares. A partir dos 04 anos, os hbitos
alimentares melhoram e ocorre um amadurecimento geral na vida da criana.
Outra questo a ser levantada, para se entender a diminuio do ceceio
anterior nas crianas nessa faixa etria, segundo a mesma autora, seria o prprio
crescimento craniofacial, que, at os 06 anos, bem visvel.
importante destacar, portanto, que, segundo JUNQUEIRA (1996), entre
os trs e oito anos de idade, o sigmatismo interdental considerado uma etapa
natural do desenvolvimento da criana.
Segundo BRAGA & MACHADO (1994), a grande maioria dos pacientes
com deglutio atpica apresentam desvios na articulao.
A fala pode, ainda, estar alterada, de acordo com MARCHESAN (1993),
devido a perdas precoces de dentes que levam anteriorizao da lngua, hbito
esse que, muitas vezes, pode ser controlado ou diminudo com uma simples
prtese. A presena de freio labial superior muito extenso pode causar
diastemas entre os incisivos centrais e tambm distores na fala. Por fim, a
autora apresenta o freio lingual curto como outro fator que limita a funo da
fonao.
Em relao conduta a se seguir, MOURA (1994) sugere que, frente s
crianas de 03 anos, se devem orientar os pais, quanto aos hbitos de suco e
alimentao, alm de suas atitudes em relao criana (infantilizao), e
acompanhar o caso com novas avaliaes.
A partir dos 04 anos, a avaliao deve ser mais cuidadosa, para que no
se inicie a terapia sem necessidade e no se peque em apenas orientar, quando
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o caso requer tratamento. O ceceio anterior pode ou no vir acompanhado de
mordida aberta anterior. A mordida aberta pode ou no vir acompanhada de
hbitos. Todos esses dados devem ser considerados.
Portanto, mais uma vez, faz-se necessria uma viso mais global do
quadro. Compreendendo a fase de desenvolvimento e as condies oclusais de
cada caso, pode-se decidir pelo melhor momento de se intervir, assegurando,
dessa forma, melhores resultados e em menor tempo.
2.3- CARACTERSTICAS FUNCIONAIS GERALMENTE ENCONTRADAS
NAS DIVERSAS MALOCLUSES E NOS DIFERENTES TIPOS FACIAIS
SEGUNDO AS RELAES NTERO-POSTERIORES DAS
ARCADAS DENTRIAS:
CLASSE I DE ANGLE:
Frente importncia de se ter uma viso holstica do caso, este estudo
procura verificar como os diferentes autores caracterizam, funcionalmente, a
cavidade oral, segundo a classificao de ANGLE. Dessa forma, o diagnstico
do Ortodontista torna-se mais completo, oferendo condies de se fazerem os
encaminhamentos necessrios nos momentos oportunos.
De acordo com MOYERS (1991), as malocluses classificadas como
classe I de ANGLE so caracterizadas, por apresentarem uma relao sagital
adequada entre as arcadas superior e inferior. Ou seja, a cspide
mesiovestibular do primeiro molar permanente superior contatua com o sulco
mesiovestibular do primeiro molar permanente inferior.
PETRELLI (1994) complementa que as anomalias encontradas nesta
classe so apenas de posio dentria. Podem ser quanto forma, nmero e
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posio dos dentes, bem como mordidas abertas, profundas, cruzadas ou
biprotruses.
Em relao s caractersticas funcionais, BIANCHINI (1993) e MOYERS
(1991) descrevem que os lbios e lngua podem manter-se na postura normal,
com bom equilbrio muscular e funcional.
CARDOSO, GIELLOW, MATTOS (1998) complementam explicando que o
dorso da lngua permanece elevado, acompanhando todo o palato e seu tero
anterior repousa na face palatina dos incisivos superiores, podendo ou no
tocar na face lingual dos incisivos inferiores.
Os mesmos autores observam que, aps a deglutio e um ciclo
respiratrio, a lngua se posiciona habitualmente prxima aos incisivos e ao
palato, de forma que o tero anterior esteja sempre mais baixo que o dorso.
Portanto, de acordo com autores pesquisados, na classe I de ANGLE
que se encontram condies mais favorveis adequada realizao das
funes.
CLASSE II DE ANGLE:
A classe II difere-se da classe I de ANGLE em vrios aspectos. Este
estudo procura verificar como os autores pesquisados a caracterizam
funcionalmente.
Conforme MOYERS (1991) explica, a classe II de ANGLE apresenta a
cspide mesiovestibular do primeiro molar permanente superior articulando
depois do sulco mesiovestibular do primeiro molar permanente inferior.O mesmo autor complementa que essa classe composta por duas
divises:
- Diviso 1 - caracterizada, por apresentar os molares em classe II e os
incisivos superiores em inclinao normal ou muito vestibularizados.
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- Diviso 2 - tambm caracterizada, por apresentar os molares em classe
II; porm, os incisivos centrais superiores encontram-se em palatoverso e os
incisivos laterais superiores, em inclinao vestibular. Ainda podem ser
encontrados os incisivos centrais e os laterais superiores em posio para
palatino, enquanto os caninos se encontram em inclinao vestibular.
PETRELLI (1994) acrescenta que, quando a classe II ocorre apenas de um
lado da arcada dentria, classificada como uma subdiviso.
Portanto, a classe II apresenta duas divises que tambm se diferem entre
si. objetivo do presente estudo compreender as caractersticas funcionais em
cada diviso.
- CLASSE II - DIVISO 1
Abordando a classe II - diviso 1 de ANGLE, este trabalho procura
descrever as seguintes caractersticas funcionais: tnus e postura labial;
musculatura peribucal; posicionamento lingual; mastigao; deglutio;
respirao e fala.
BIANCHINI (1993) explica que, em indivduos portadores de classe II -
diviso 1 de ANGLE, geralmente se observam alteraes labiais, caracterizadas
por lbio superior em hipofuno e, algumas vezes, incompetente. Lbio inferior
retrovertido, ocluindo com os incisivos superiores e com hipertonia de mentalis.
PETRELLI (1994) concorda com BIANCHINI, afirmando que a musculatura
peribucal pode apresentar-se com hipotonia de lbio superior, porm afirma
hipertonia de lbio inferior.FERRAZ (1983) e MOYERS (1991), concordando com BIANCHINI e
PETRELLI, tambm explicam que o lbio superior se apresenta hipotnico.
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De acordo com MARCHESAN (1993,1998), o lbio superior pode
apresentar-se encurtado, devido projeo da pr-maxila; e esse distanciamento
no sentido ntero-posterior explica a dificuldade no vedamento labial.
Ainda MARCHESAN (1994) esclarece que o selamento labial pode tornar-
se impossvel, dependendo do quanto existe de alterao ssea. Ela concorda
com que a tonicidade dos lbios pode estar alterada. Porm acredita que o
superior geralmente est hipertnico, e no hipo, como os demais autores
afirmam. Explica, tambm, que o inferior pode apresentar-se hipo ou hipertnico,
dependendo de se ele tem ou no ao durante a deglutio. Uma vez que a
deglutio, nesses tipos de malocluso, pode ser feita, com interposio do lbio
inferior atrs e com apoio dos incisivos superiores.
PRABHU & MUNSHI (1995) explicam que, nesse tipo de classe, a
musculatura perioral perde a fora, e no se ope fora lingual.
Para JABUR (1994), a presena dos incisivos superiores,
freqentemente em lbio-verso, que dificulta, ainda mais, o vedamento labial.
Em relao ao msculo mentalis, MARCHESAN (1994) explica que ele
pode apresentar-se hipertenso, quando h hipotonia do lbio inferior, procurando
compens-lo.
Conforme MOYERS (1991) afirma, o perfil retrognata e a excessiva
sobressalincia presentes nos indivduos classe II - diviso 1 fazem com que a
musculatura se adapte, desenvolvendo padres anormais de contrao. O
msculo
mentoniano apresenta uma excessiva contrao, procurando elevar o orbicular
dos lbios, para tentar promover o vedamento labial. A hipertenso do lbio
inferior ir produzir o selamento bucal, contactuando com as faces linguais dos
incisivos superiores. J que o lbio superior permanece em hipofuno.
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Em relao postura da lngua em repouso, assumida nos casos de
classe II - diviso 1, PETRELLI (1994) afirma que a lngua no toca na regio
palatina, quando em repouso.
J MOYERS (1991) descreve que a lngua pode estar posicionada
anteriormente, com duas variaes: uma, em que a lngua est retrada, com a
ponta afastada dos dentes anteriores; outra, com a ponta entre os incisivos.
MARCHESAN (1993) e JABUR (1994) explicam que o posicionamento
lingual, na papila, se torna difcil, pois o palato duro pode estar estreitado.
Outros autores, como CARDOSO, GIELLOW, MATTOS (1998), sustentam
que o dorso da lngua permanece mais elevado que o tero anterior, que se
apresenta retrado, no tocando em nenhuma estrutura. Acreditam que esse
posicionamento habitual assumido pela lngua, por dois fatores: o primeiro,
devido prpria interferncia entre a relao ssea e lngua; e o segundo,
porque o dorso elevado formar uma barreira, protegendo as vias areas
inferiores. Ele diminui a velocidade do ar e promove certo aquecimento, funes
exercidas pelo nariz. Portanto, a lngua assume uma funo compensatria.
(PETRELLI, 1994).
Durante a mastigao, BIANCHINI (1998) explica que comum observar
um deslize mandibular anterior, para aumentar o espao funcional.
MARCHESAN (1994) afirma que a funo mastigatria se faz geralmente
com o dorso da lngua, enquanto a ponta permanece baixa, devido ao prprio
posicionamento que ela assume em repouso.
A deglutio, nos indivduos classe II de ANGLE, com presena de overjet,
segundo MARCHESAN (1998) e SEGVIA (1977), ocorre com contrao do
mentalis e interposio de lbio inferior. Este fato se deve ao prprio
distanciamento, no sentido ntero-posterior, entre maxila e mandbula.
FERRAZ (1983) complementa que o nmero de deglutio em indivduos
com classe II - diviso 1 maior e que, nessa malocluso, se observa projeo
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anterior da ponta da lngua, alm da retrao do lbio inferior, durante a
deglutio.
Deve-se observar, tambm, segundo BIANCHINI (1993) e CARDOSO,
GIELLOW, MATTOS (1998), que esse tipo de malocluso pode estar associado
respirao bucal e suco de dedo.
PETRELLI (1994) e MORESCA & FERES (1994) tambm concordam
com algum tipo de hbito vicioso (suco digital ou chupeta), associado a este
tipo de malocluso e que a respirao pode ser bucal.
As modificaes presentes na respirao, segundo JABUR (1994),
podem ocorrer, devido prpria dificuldade no vedamento labial.
Em relao fala, nos casos de classe II - diviso 1, SEGVIA (1997)
descreve a participao do lbio inferior contra os incisivos superiores.
MARCHESAN (1993) tambm afirma que alteraes na fala podem estar
presentes nesses casos. A autora especifica que a fala pode apresentar
alteraes nos fonemas bilabiais /p/, /b/, e /m/, que passam a ser emitidos com o
lbio inferior em contato com os incisivos superiores, conforme SEGVIA
descreveu.
Por fim, MOLINA (1989) acrescenta que esses pacientes geralmente
terminam com disfuno crnica da A.T.M.. Essa alterao ocorre, devido ao
overjet acentuado, que estimula uma mastigao lateral e anterior e,
conseqentemente, alterao no disco articular.
Portanto, conforme explicam os autores pesquisados, indivduos
portadores de classe II - diviso 1 de ANGLE apresentam caractersticas
funcionais compreensveis e inerentes forma presente.
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- CLASSE II - DIVISO 2
Este estudo procura descrever, tambm, as caractersticas funcionais
geralmente encontradas nos casos de classe II - diviso 2 de ANGLE, segundo
os autores pesquisados.
MOYERS (1991) e BIANCHINI (1993) explicam que, diferentemente da
classe II - diviso 1, nos indivduos portadores de classe II - diviso 2, a
musculatura labial pode estar normal, ocorrendo mais facilmente o vedamento
dos lbios.
PETRELLI (1994) concorda com MOYERS e BIANCHINI que, nesses
casos, a musculatura peribucal normalmente se encontra dentro dos limites de
normalidade, mas explica que tambm se pode observar, em alguns casos, a
hipertonicidade do lbio inferior.
De acordo com BIANCHINI (1993), no caso de classe II - diviso 1, se o
lbio inferior estiver localizado alto, em relao ao processo alveolar da regio de
incisivos superiores, pode-se chegar situao de classe II - diviso 2, devido
fora contnua, embora pequena, desse lbio inclinando os incisivos superiores
para lingual.
Quanto aos indivduos classe II esquelticas, BIANCHINI (1993) explica
que se podem caracteriz-los de trs formas:
- protruso maxilar e mandbula normal;
- retrognatismo mandibular e maxila normal;
- retrognatismo mandibular e maxilar.
Nas duas primeiras formas, observa-se, segundo a mesma autora: lbio
superior em hipofuno, devido discrepncia ssea; lbio inferior retrovertido,
ocluindo com os incisivos superiores; hipertonia de mentalis, para auxiliar no
vedamento labial; lngua em uma posio mais elevada e anteriorizada, devido
retruso e inclinao mandibular; deslize mandibular anterior, durante as funes
-
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neurovegetativas, procurando aumentar o espao intrabucal; dificuldade de
ocluso labial durante a mastigao, impedindo a atuao normal dos msculos
orbicular e bucinadores; alterao da postura da cabea; deglutio com
projeo mandibular anterior, interposio de lngua e hipertenso da
musculatura perioral; fala com distores, principalmente nos fonemas bilaterais
(p-b-m), cuja ocluso labial realizada pelo contato do lbio inferior com os
incisivos superiores, ou nos fonemas sibilantes (s-z), que apresentam deslize
mandibular e projeo de lngua sobre os rebordos das arcadas.
CARDOSO, GIELLOW, MATTOS (1998) tambm esto de acordo com os
achados e explicam que, nos indivduos classe II - diviso 2, de ANGLE, que
apresentam mandbula retrada em relao maxila, se observa inclinao
lingual dos incisivos, devido fora labial. As mesmas autoras explicam que a
lngua se mantm habitualmente elevada, tocando no tero superior dos incisivos
superiores, nos casos em que no h queixa de obstrues assistemticas da
respirao nasal. J nos casos com perodos de obstrues nasais
assistemticas, a lngua mantm-se habitualmente mais baixa, sendo que o tero
anterior toca os incisivos inferiores .
MARCHESAN (1994) complementa que a prpria discrepncia entre as
bases sseas dificulta a postura lingual. Esta costuma ser de dorso alto e ponta
baixa.
Afirma, ainda, que os indivduos classe II tendem a elevar a cabea,
procurando aumentar o queixo. Talvez isto ocorra, devido ao reduzido tamanho
da mandbula.
Na terceira forma, ou s