OS 25 ANOS DOS CARMELITAS DA PROVÍNCIA GERMANIAE … · 2011-08-28 · em 1950. Com isso naquela...

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Frei Joaquim Knoblauch, O. Carm. OS 25 ANOS DOS CARMELITAS DA PROVÍNCIA GERMANIAE SUPERIORIS NO BRASIL TRADUÇÃO e NOTAS: Frei Wilmar Santin, O. Carm.

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Frei Joaquim Knoblauch, O. Carm.

OS 25 ANOS DOS CARMELITAS

DA PROVÍNCIA GERMANIAE SUPERIORIS

NO BRASIL

TRADUÇÃO e NOTAS: Frei Wilmar Santin, O. Carm.

Frei Joaquim Knoblauch, O.Carm.

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PREFÁCIO Nos estatutos da nossa Província art. 106 lê-se: "Através do trabalho pastoral dos nossos confrades no Comissariado brasileiro a Província manifesta sua responsabilidade de cristianização do mundo". Esta declaração da Província foi feita em 1973. Frei Ulrico Goevert antecipou este compromisso, quando ele no dia 1º de setembro de 1951, portanto há 25 anos, celebrou a primeira missa em Paranavaí. No dia seguinte foi empossado como pároco na paróquia erigida em 1950. Com isso naquela hora foi lançada a raiz do nosso Comissariado. Não foi muita ousadia de Frei Ulrico assumir sozinho uma paróquia maior do que algumas dioceses da Alemanha? Uma paróquia, à qual pertenciam mais ou menos 50 localidades (cidades) espalhadas numa grande região. Somente em algumas havia uma capela. Aquilo que foi exigido nos primeiros anos dos nossos padres, tanto física como psiquicamente, não está escrito. Frei Ulrico havia morado alguns anos no Norte do Brasil, mas tudo aquilo que os nossos padres jovens, que foram ao Brasil nos primeiros anos, tiveram que passar é digno de reconhecimento e admiração. Mas talvez alguém se pergunte se nós carmelitas somos chamados principalmente para tais extremas atividades. Para responder a esta pergunta nós devemos ir ao mais profundo mistério do Carmelo, ou seja, ao seu carisma. Como se sabe o lema do Carmelo diz: "Deus vive e eu estou em sua presença". E os dizeres do escudo da Ordem: "Eu me consumo de zelo pelo Senhor Deus dos Exércitos". Esse estar na presença de Deus, ser livre e vazio (aberto) para Deus tem como conseqüência viver para Deus e o consumir-se (arder-se) por Deus. O zelo por Deus leva o carmelita a estar em todo lugar onde a Igreja precisa dele. Assim acontece com a Ordem desde que deixou seu berço no Oriente e entrou no movimento dos mendicantes, engajando-se em todos os trabalhos pastorais e não só porque pertencia aos mendicantes, mas por causa da sua espiritualidade, portanto a partir do mais profundo do seu ser. O consumir-se pelo Deus, o Senhor dos Exércitos, pode acontecer na solidão, na pura contemplação, como é o caso com nossas irmãs da Segunda Ordem, ou também na vida ativa e na pastoral. Por isso não é de se admirar que desde o final da Idade Média os carmelitas trabalharam em todas as áreas da pastoral, e desde que há trabalho missionário tenham atuado nas mais variadas regiões de missão. Os nossos confrades do Comissariado brasileiro portanto estão trilhando "as pegadas dos nossos pais", seguem a tradição carmelitana e reafirmam-se como filhos do grande Profeta Elias, quando, "consumindo-se de zelo pelo Senhor dos Exércitos", realizam um trabalho pioneiro na construção do Reino de Deus na América Latina. Como provincial quero agradecer do fundo do coração a todos os confrades, que já trabalharam e ainda estão trabalhando no Brasil, pelo primoroso êxito missionário alcançado durante este um quarto de século. No entanto, não podemos falar da grandiosa obra no Brasil sem salientar o pessoal engajamento do nosso Frei Burkard Lippert. Nas minhas duas longas visitas ao Brasil pude me convencer do admirável esforço dos nossos padres no Comissariado. Mas não reduzirei o merecimento deles se digo que todas as grandes construções não teriam sido feitas sem a ajuda do nosso Frei Burkard como procurador das missões. Por isso desejo também agradecer-lhe neste momento pelo seu silencioso trabalho. Que Maria, a Padroeira do Brasil, continue abençoando nossos confrades do Comissariado, seus trabalhos e todo o povo e seu país. Bamberg, 1º de setembro de 1976. P. Joseph Kotschner, O. Carm.

Provincial

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OS 25 ANOS DOS CARMELITAS DA PROVÍNCIA GERMANIAE SUPERIORIS NO BRASIL Frei Joaquim Knoblauch, O. Carm. Em 1864 os padres carmelitas alemães Cyrillus Knoll e Franz Xaver Huber foram do convento de Straubing para a América e lançaram ali a pedra fundamental de uma das mais florescentes províncias da nossa Ordem, a Província do Puríssimo Coração de Maria dos Estados Unidos. No dia 14/02/1936 outra vez um padre da Província Germaniae Superioris tomou em Hamburgo o navio com a finalidade de ir para o Novo Mundo. Desta vez o objetivo era a América do Sul, mais especificamente o Brasil. Estava por detrás desta viagem o desejo pessoal de Frei Ulrico Goevert trabalhar nas missões? Ou a Província sentia-se, naqueles tempos difíceis do "Terceiro Reich", forte o suficiente para assumir um novo campo de trabalho no longínquo Brasil? Isto tanto faz (Isto pouco importa). O fato é que primeiramente Frei Ulrico foi "emprestado" à Província Pernambucana. Durante 15 anos trabalhou no Norte do Brasil e na maior parte do tempo como mestre de noviços. Mas ele teve a oportunidade suficiente para saciar sua sede de trabalhar nas missões. É verdade que seu trabalho não foi de converter índios pagãos a Cristo. Mas o trabalho entre os (no meio dos) pagãos batizados certamente não é muito diferente do que uma missão entre os verdadeiros pagãos no que se refere às dificuldades e sacrifícios exigidos. Enquanto realizava uma visita no ano passado a Pernambuco, ao escritor destas páginas foi dito: "Frei Ulrico fez em 15 anos penitência pelos pecados de toda a sua vida". Só em 1951 ele tornou-se "independente" por decisão da direção da Província e com isso pôde tornar-se o fundador do Comissariado da Província Carmelitana Germaniae Superioris no Brasil. O escrito que segue quer dar algumas pinceladas sobre as origens e o desenvolvimento do Comissariado.

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1) NOS PASSOS DOS PAIS Em 1580 (1), portanto já 80 anos após o descobrimento do Brasil por Pedro Alves Cabral, os carmelitas chegaram no Norte do país. Fundaram o primeiro convento em Olinda. Ao lado de outras Ordens os carmelitas colaboraram exemplarmente na cristianização e colonização do país nos primeiros séculos da história brasileira. No meu entender não se pode falar de verdadeira missão "ad gentes", pois a ação deles se concentrou mais no atendimento aos imigrantes portugueses do que na conversão da população pagã nativa. Os carmelitas acompanharam a marcha da conquista do país e da fundação das cidades. Já em 1586 há um convento dos carmelitas em São Salvador da Bahia. Em 1590 aconteceu a fundação de um convento no Rio de Janeiro e em 1596 em São Paulo (2). Além disso há vários conventos no Norte e Nordeste do país. A cidade de Manaus, no coração da Amazônia, por exemplo, nos seus primórdios foi um posto missionário dos carmelitas. Assim Frei Ulrico, ao assumir no dia 2 de setembro de 1951 a paróquia de Paranavaí no extremo noroeste do Estado do Paraná, deu continuidade à antiga tradição dos carmelitas neste país. Também esta região era mata virgem. Sua exploração e muito rápida povoação, provocada pela "Febre do Café", aconteceu logo nos anos seguintes à última guerra mundial. Derivadas do vizinho Estado de São Paulo, as plantações de café rapidamente cobriram grandíssimas extensões de terras. As super colheitas nos primeiros anos transformaram o Norte do Paraná num verdadeiro Eldorado do café. De todos os cantos do Brasil chegaram colonos. Dos Estados sulinos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul se puseram a caminhos grupos inteiros de uma mesma região e fundaram na nova terra próprias povoações. Assim, por exemplo, surgiu Graciosa. Neste caso tratou-se de catarinenses de origem alemã, que ainda hoje são pelo menos 90% dos moradores. Novas povoações surgiram em todo lugar como cogumelos do chão. Com o tempo desenvolveram-se as cidades de Maringá e Paranavaí como que cidades polos da região. Paranavaí tornou-se paróquia em 1950 e pertencia na época da chegada de Frei Ulrico à diocese de Jacarezinho. As seguintes localidades, que hoje são paróquias, pertenciam à paróquia de Paranavaí: Nova Esperança, Alto Paraná, Sumaré, São João do Caiuá, Santo Antonio do Caiuá, Graciosa, Tamboara, São Carlos do Ivaí, Paraíso do Norte, Guairaçá, Terra Rica, Nova Londrina, Marilena, Porto Rico, Diamante do Norte, Loanda, Santa Cruz do Monte Castelo, Querência do Norte, Santa Isabel do Ivaí e Planaltina. Além disso deve-se adicionar uma não pequena lista de pequenos distritos, que hoje são ainda capelas das suas respectivas paróquias. O número de habitantes continuou crescendo nestes 25 anos. Isto trouxe rapidamente efeitos decisivos. Pode-se dizer que o bispo de Jacarezinho, dom Geraldo de Proença Sigaud SVD, foi bem- 1 O texto original apresenta a data 1582, mas como os carmelitas chegaram no Brasil em janeiro de 1580 optamos por colocar a data correta. Cf. Smet, Joaquín, "Los Carmelitas", vol. III, BAC, Madrid, 1991, p. 17. 2 Há quem afirme que os carmelitas já chegaram em São Paulo em 1594. Inclusive os carmelitas de São Paulo comemoraram o 4º centenário de fundação em 1994. O historiador Smet diz que foi em 1596 (op. cit. p. 19).

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intencionado em relação aos carmelitas ao confiar a nós o trabalho pastoral de toda aquela região para sempre. Devido ao rápido desenvolvimento econômico e demográfico era absolutamente necessário enviar logo mais padres ao Brasil. Se a nossa província naquela época tivesse tomado a decisão de enviar mais gente para o Comissariado, ou melhor dizendo, se tivesse confrades suficiente para enviar, hoje a maior parte da atual diocese de Paranavaí estaria em nossas mãos e o primeiro bispo desta diocese certamente seria um carmelita. Mas isso não aconteceu. Por isso o bispo teve que forçosamente dar as novas paróquia criadas a outros padres. Quando então em 1956 a paróquia de Paranavaí com toda a região passou a pertencer à recém criada diocese de Maringá, a nossa situação complicou-se (agravou-se ainda mais). O bispo de Maringá não era nada favorável (simpático) aos religiosos. Por isso era impensável a aceitação de uma nova paróquia em sua diocese. Assim de tudo aquilo que era a paróquia de Paranavaí no tempo da fundação só ficou para o Comissariado as paróquias São Sebastião de Paranavaí e a de Graciosa. 2) QUEM QUER IR PARA O BRASIL? Agora vamos demonstrar o que a Província, apesar de suas dificuldades (carências), fez pelo Comissariado em relação ao envio de pessoal. Quem quer ir para o Brasil? Esta pergunta muito cedo foi feita pelos superiores da Província e encontrou eco. Já na primavera de 1952 aconteceu na igreja dos carmelitas de Bamberg o primeiro envio missionário. Frei Henrique Wunderlich (3) e o clérigo Frei Willibrord Kaese foram enviados como os primeiros ajudantes de Frei Ulrico no Brasil. Entretanto Frei Henrique retornou para a Alemanha depois de 5 anos. Como sinais de sua passagem pelo Brasil encontram-se ainda hoje o enorme crucifixo na nossa igreja de Paranavaí e várias outras esculturas. Frei Willibrord logo cedo deixou a Ordem no Brasil. Um ano mais tarde Frei Boaventura Einberger decidiu mudar de ares, apesar dos seus 49 anos. Com ele viajaram sua cunhada, que era viúva, e os 3 filhos dela. Frei Boaventura chegou em Paranavaí no dia 08 de março de 1953 e algumas semanas depois mudou-se para Graciosa. Na época Graciosa ainda não era paróquia. Ali ele tornou-se o precursor e o construtor do nosso seminário. No outono de 1954 mais 2 padres foram enviados ao Brasil: Frei Burkard Lippert e Frei Alberto Först. Infelizmente um ano e meio mais tarde Frei Burkard teve que retornar para a Alemanha por causa de problemas de saúde. Dois anos depois foi a vez de Frei Bruno Doepgen realizar sua viagem sobre o oceano. Foi seguido por Frei Matias Warneke em 1958 (4). Então o Comissariado teve que esperar 3 anos até que o próximo

3 Seu nome de era Hartwig. 4 No texto original está 1968. Trata-se de um erro de digitação. Frei Matias saiu de Bamberg dia 21/4/58. Foi de trem até Roma. Ali permaneceu o dia 27/4, quando foi para Gênova para tomar o navio com destino ao Brasil (Cf. Karmelstimmen, ano 25 pp. 209-214). Dia 12/5 chegou no Rio e em Paranavaí, dia 17/5 (Cf. Karmelstimmen, ano 25, pp. 272-274)

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reforço fosse enviado. Só na primavera de 1961 Frei Rafael Mainka foi transferido para o Brasil (5). Um ano mais tarde aconteceu o mesmo com Frei Joaquim Knoblauch (6). Em 1963 (7) foi a vez de Frei Jerônimo Brodka. A ele seguiu em 1965 Frei Justino Stampfer (8). Em 1966 Frei Afonso Pflaum (9) se ofereceu para trabalhar as missões, pois era necessário alguém substituir o Frei Rafael que estava muito doente. Um ano após Frei Timóteo Schorn foi para o Brasil. Dois anos mais tarde ele retornou para a Alemanha. Em dezembro de 1968 aconteceu a chegada de Frei Agostinho Wolf (10), que havia sido ordenado um ano antes. Como último reforço da Alemanha chegou Frei Paulo Pollmann (11) no dia 4 de novembro de 1971. É necessário mencionar também neste momento uma outra tentativa dos superiores da Província em melhorar a situação pessoal no Comissariado. Já em 1952 decidiu-se enviar 3 clérigos (12) para o Brasil. Eles deviam estudar Filosofia e Teologia com os carmelitas de São Paulo e depois estariam à disposição do Comissariado. Infelizmente esta tentativa não deu certo. Um deixou a Ordem pouco tempo depois. Os outros dois retornaram para a Alemanha, mas também não são mais carmelitas. Uma outra experiência neste sentido não foi feita. No espaço de 19 anos a Província portanto liberou ao todo 15 padres (13) e 4 clérigos para o Comissariado. Três padres retornaram para a Alemanha. Frei Rafael, aos 36 anos, morreu no dia 8 de dezembro de 1970 em Londrina. Ele participava de um cursilho e teve um enfarte quando se preparava para viajar. Ele foi o primeiro a encontrar o seu último descanso na cripta sob o altar-mor da nossa igreja de Paranavaí.

5 Frei Rafael saiu de Bamberg dia 27/3/61 e tomou o navio para o Brasil dia 30/3 em Gênova (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 35 - 2/3/61).

6 A celebração do seu envio missionário foi realizada dia 11/3/62. Partiu de Gênova dia 13/5 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 39 - 10/4/62). 7 Foi em 1963 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 44 - 6/9/1963).

8 Seu envio missionário foi feito dia 2/5. Tomou o navio em Hamburgo dia 5/5 e chegou em Santos dia 26/5 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 52 - 5/4/64).

9 A celebração do envio missionário foi realizada dia 23/10. Partiu de Hamburgo dia 2/11 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 64 - 23/9/66)

10 O envio missionário foi realizado dia 17/11. Partiu de Hamburgo com o navio “Pasteur” dia 20/11 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 77 - 4/11/68).

11 Seu envio missionário aconteceu no dia 3 de outubro, que na época era a data da festa de Santa Teresinha, a padroeira das missões (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 98 - 15/7/71). A previsão era de que ele partiria dia 13/10, mas partiu dia 15/10 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 100 - 15/1071). 12 Os 3 clérigos que foram para São Paulo são: Sebald Dörsch, Beda Fritsch e Hugo Stumpf. Cf. nota 62 do livro "Minha viagem à região missionário de Paranavaí" de Jacobus Beck, Livraria Nossa Senhora do Carmo, Paranavaí, 1990, p. 36. 13 O texto original diz que foram 14 os padres carmelitas enviados ao Brasil, mas contando também o Frei Ulrico foram 15 padres.

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3) O CONVENTO DA PARÓQUIA DE PARANAVAÍ O bispo de Jacarezinho confiou no dia 2 de setembro de 1951 ao Frei Ulrico a paróquia de Paranavaí para os cuidados pastorais. O trabalho pastoral - sem dúvida no sentido mais amplo - foi sempre até hoje a principal atividade da comunidade de Paranavaí. Descrever os trabalhos dos nossos padres durante esses 25 anos nos seus pormenores seria muito fatigoso. Numa rápida olhada poderia-se dividir os trabalhos pastorais realizados em todo o tempo em 2 períodos. O primeiro período, de 1951 até mais ou menos 1965, merece com razão ser chamando de "Tempo dos pioneiros". Este é caracterizado pelas chamadas "desobrigas". Isto é, faz-se aquilo que se pode fazer! Ou melhor dizendo, é-se obrigado a contentar-se a fazer tudo aquilo que é necessário. Assim pastoralmente são confiadas mais de 30 localidades a um só padre. Diante de uma tal responsabilidade ele tem duas possibilidades. Poderia dizer: é simplesmente impossível cuidar de tudo. Por isso vou me concentrar principalmente na sede da paróquia e farei aqui todo o trabalho! Ou então a segunda possibilidade: trabalhar sob o lema "algo é melhor do que nada!" Isto significaria: naturalmente não posso cuidar de todas as localidades como deveria e como eu mesmo gostaria. Por isso farei só o mais urgente em todo o lugar. Isto na verdade não é o ideal, mas neste caso pelo menos ninguém fica sem um certo acompanhamento pastoral. Pela última possibilidade decidiram-se Frei Ulrico e seus ajudantes nos primeiros anos. Devia-se evidentemente começar por Paranavaí mesmo. Paranavaí tornou-se paróquia em 1950. Até esta data toda a grande região da paróquia de Paranavaí pertencia à paróquia de Mandaguari, que ficava mais ou menos 100km distante. Quando no dia 1º de setembro de 1951 Frei Ulrico com o provincial do josefinos chegou em Paranavaí para no dia seguinte assumir a paróquia, encontrou uma pequena igreja em reforma e sem a luz do Santíssimo. O povo estava acostumado a ter a Santa Missa só de vez em quando. Muitos lamentavam aquela situação e por isso sentiram na presença permanente do padre como uma verdadeira bênção. Outros pelo contrário sentiam-se até muito bem do jeito que estavam e tiveram que só lentamente acostumar-se que para ser cristão é necessário algo a mais do que ser batizado. E pelo menos 99% eram batizados. Trava-se na verdade exclusivamente de colonos entre os paroquianos, que também só alguns anos antes tinham chegado das mais variadas regiões do Brasil. Neste país a tão importante "fotografia do batizado" normalmente estava entre as coisas da mudança. De mais a mais tratava-se de pessoas com o espírito de pioneiros. Não tinham deixado sua terra natal por causa de pressões externas, mas simplesmente porque queriam enriquecer-se muito e o mais rápido possível na nova terra. Que com isso em muitos casos houvesse conflito entre o religioso e o material, não é de se admirar. No dia 9 de setembro de 1951 a igrejinha tem um novo telhado e o Salvador no tabernáculo. Agora pode-se ir portanto a diante! Na igreja matriz mesmo só há regularmente aos domingos missa com instrução religiosa. Além disso há muitos, muitos batizados. Uma grande porcentagem das crianças batizadas nos primeiros anos,

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entretanto, só foi levada para igreja mais uma vez. Na verdade foi para as exéquias. A mortalidade infantil é extremamente alta. Nos novos cemitérios prevalecem as covas das crianças em relação às dos adultos. Durante a semana vai-se para as capelas. Rapidamente espalhou-se a notícia de que em Paranavaí havia um pároco fixo. Procura-se por ele. "Padre, quando o senhor vai para nossa cidade?" - "Onde vocês moram?" - "Só 20, 30, 50, 70, 90km daqui!" - "Ótimo, então qualquer dia vocês venham me buscar". O pároco não tinha carro e não havia linhas de ônibus como hoje. Normalmente nos distritos ou cidades não havia um recinto próprio para a celebração da missa. O pároco celebrava numa varanda de uma casa ou sob a sombra de uma árvore. Antes da despedida a temida pergunta: "Padre, quando o senhor virá outra vez?" Frei Ulrico sempre esperava esta pergunta. Sua resposta muitas vezes foi: "Isso depende de vocês. Se vocês querem que eu retorne, devem construir uma igreja ou capela. Quando a igreja estiver pronta, é só ir me buscar!". Que muitas comunidades construíram bem cedo uma igrejinha, deve-se a esta tática do Frei Ulrico. No total em toda a região nestes 25 anos foram construídas 54 igreja e capelas por nossos padres. Em algumas tiveram que até mesmo colocar as próprias mãos. O trabalho pastoral foi intensificado em muitas comunidades das capelas após a chegada do primeiros padres da Alemanha. Algumas vezes no ano o pároco enviava seus capelães às capelas. As coisas aconteciam de seguinte maneira: de acordo com um plano previamente elaborado visitavam um certo número de capelas, uma depois da outra. Nesta fase já eram felizes proprietários de um jipe. Ao chegarem a primeira coisa a fazer era procurar um alojamento. Isto era um problema muitas vezes. Não havia luz, água e sanitário. Além disso havia de vez em quando pulgas e outros bichinhos aos montes. - Frei Alberto até hoje é alérgico a pulgas! - Muitas vezes Frei Henrique e Frei Alberto tiveram que passar a noite no jipe. Então ia-se para o trabalho. Passavam normalmente 3 dias em cada capela. Celebravam missa, batizavam, batizavam, batizavam... e faziam casamentos, ou ainda resolviam até mesmo problemas civis. No entremeio um dos padres dava um curso intensivo de preparação para a Primeira Comunhão. Estas "crianças da Primeira Comunhão" em parte já tinham comungado pelo menos umas 20 vezes e agora faziam a "Primeira Comunhão", porque queriam casar! Também os mortos, que tinham sido enterrados sem a bênção eclesial, esperavam ainda pela bênção. No final dos 3 dias de missão normalmente acontecia a missa com a Primeira Comunhão. E então ia-se adiante até a próxima capela, onde tudo se repetia. Fazendo este tipo de trabalho os capelães rodavam algumas semanas pela região! Nos primeiros anos esta era a única possibilidade, "em todo lugar fazer pelo menos um pouco"! Assim aconteceu até mais ou menos 1955/56. Nesta época aconteceram as primeiras grandes divisões da paróquia. Somente em 1955 sete capelas foram elevadas à condição de paróquia, recebendo um próprio pároco. Como se chegou a isto? As comunidades cresceram tanto nestes anos - sobretudo por causa da contínua imigração -, que o bispo viu-se obrigado a tomar este caminho. Além disso naqueles tempos era relativamente fácil para um bispo do Norte do Paraná receber padres. Sempre apareciam

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"padres ambulantes" que procuravam uma "boa" paróquia. Em muitos casos eram ex-religiosos. O Norte do Paraná vivia naquela época um enorme desenvolvimento econômico por causa dos cafezais. Naturalmente dom Geraldo teria dado com muito gosto todas essas paróquias aos carmelitas. Pelos motivos já conhecidos infelizmente isto não foi possível. É bom que se diga que aquilo que restava da paróquia ainda era muito grande e que o número de fiéis era ainda tão numeroso que se estava ainda muito longe de se dar um ideal acompanhamento. A cidade de Paranavaí - pode-se dizer sem exagero - crescia diariamente. Também nas redondezas a população crescia continuamente. Até a metade dos anos 60 se derrubou a mata para se plantar café. A plantação de café requer muita mão de obra e tudo deve ser feito manualmente. Por isso chegaram rapidamente levas e mais levas de trabalhadores, principalmente do pobre Norte do país. Entretanto agora pelo menos pode ser dado na maioria das comunidades das capelas um regular acompanhamento pastoral no sentido que o padre aparece ao menos uma vez por mês em determinado domingo ou sábado. Até a mais distante capela de Paranavaí eram e são ainda hoje mais ou menos 50km. Isso já mostra algo do tamanho da paróquia. Que nestas condições até mesmo na igreja matriz e ainda mais nas capelas deve-se contentar com o mínimo é evidente. Pense-se por exemplo nas aulas de Primeira Comunhão. Nas capelas procura e encontra-se leigos voluntários que assumem bem ou mal a preparação da Primeira Comunhão. Na maioria dos casos estes leigos catequistas tem mais boa vontade do que conhecimento. Em geral estas pessoas não receberam uma formação religiosa além da recebida na Primeira Comunhão. Na matriz o pároco mesmo entrava em ação. Frei Ulrico tinha o seu próprio método. Quando o número dos candidatos à Primeira Comunhão era muito grande e que por isso não havia sala para caber todos, as aulas eram dadas na própria igreja. A Igreja ficava completamente cheia. O pároco ficava na frete em cima de uma cadeira ou mesa com um microfone na mão. Então tudo era feito da seguinte maneira: falar e repetir! Falar e repetir! ou seja, o pároco dizia uma frase e a criançada repetia em coro. Repetia-se até que as crianças aprendessem de cor. Desta maneira ensinava-se os 10 mandamentos, os 5 pontos da confissão, etc, etc. Naturalmente pode-se ter uma opinião contrária a este método. Mas havia naquelas condições outra possibilidade de ensinar pelo menos o essencial às crianças? Assim aquilo que se martelou desta maneira na cabeça, não se esquece fácil. Antes da Primeira Comunhão havia então a temida prova. O candidato que não tinha aprendido nada, deveria tentar outra vez a sorte no ano seguinte ou no próximo curso. Não dava para simplesmente resolver o problema com aulas de religião nas escolas, pois escolas como tal era algo muito raro no primeiros anos. Escolas públicas simplesmente não havia. Para resolver a situação Frei Ulrico fundou uma escola paroquial. Aliás já logo após a sua chegada construiu por própria conta uma escola para carentes. Pelo menos assim um bom número de crianças puderam ter o prazer de ler, escrever e somar. Em 1956/57 foi construída finalmente com o apoio da comunidade uma escola relativamente grande. Esta escola existe até hoje. É chamada desde alguns anos de "Colégio Nossa Senhora do Carmo". Começou como escola primária oficial. Mais tarde

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passou a ter também o ginásio. Hoje além do ginásio tem também o nível colegial, isto é, um curso de 3 anos antes da faculdade. Entretanto, provavelmente a escola fechará as portas no final deste ano. No momento as leis em relação às escolas particulares são de tal maneira que só poderão funcionar se tiverem um número de alunos expressivamente grande. O que não é o nosso caso. Aproximadamente 1,5km da matriz no Jardim São Jorge foi construída uma igreja. Evidentemente é de madeira. Em todos os domingos se celebra missa ali. Durante a semana a igreja serve como sala de aula de uma escola. Ali foi construída uma parede móvel e assim foi possível ter duas salas de aula. Isto aconteceu até 1965. Isto é suficiente para o período do "tempo dos pioneiros". Agora nos ateremos ao segundo período. Este é caracterizado mais pela consolidação e sistematização. A imigração do povo dos primeiros anos terminou. Ao contrário, várias localidades ficaram até mesmo com menos população. Isto teve como causa principalmente os problemas econômicos. Toda a região não se mostrou mais tão própria para a plantação de café, como se pensava no início. É verdade que no Norte do Paraná não "cai" geada todo ano, mas pelo menos de vez em quando "cai". Numa noite com 4° negativos já é suficiente para acabar com um ano de esperança no cafezal. Este temido risco levou à transformação de muitas fazendas em pastagens (14). Sempre se comerá carne. Por isso não há dificuldades para vendê-la. Mas a transformação em pastagens teve como conseqüência uma diminuição drástica da mão de obra. Muitas, muitíssimas famílias de "bóias-frias" (trabalhadores rurais volantes) viram-se novamente obrigadas a mudar. Lamentavelmente todos estes fatos contribuíram de qualquer modo em relação a normalização da pastoral. Tudo se transformou. Também o ensino público melhorou muito. O número e analfabetos tem diminuído continuamente por causa da obrigatoriedade escolar para as crianças. Também a implantação do Concílio teve conseqüências positivas para a normalização da pastoral com o engajamento dos leigos. Esta participação dos leigos foi motivada principalmente por causa dos novos movimentos leigos. Entre os adultos sem dúvida o movimento de cursilho ocupa o primeiro lugar. Nos tempos passados na maioria das paróquias o pároco tinha dificuldades de encontrar homens que eventualmente se comprometessem em fazer um leitura na missa. Agora pode acontecer que de vez em quando falte trabalho para os tantos voluntários que se oferecem. Pode-se dizer sem exagero que, sob o ponto de vista da colaboração dos leigos, a nossa paróquia de Paranavaí é a mais importante dentro da diocese. Que as coisas estejam assim bem, sem dúvida os maiores méritos são do atual pároco Frei Alberto Först. Sem querer diminuir o merecimento dos outros padres, deve-se dizer que

14 Além do problema das geadas, deve-se acrescentar que o governo federal na década de 60 pagou para se arrancar café. Também apareceram os problemas da ferrugem e da nematóide. Mas o grande problema mesmo foi o preço baixo. Por isso se o preço do café tivesse continuado compensando a produção, mesmo com as geadas, o incentivo do governo para que se erradicasse os cafezais, ferrugem, nematóide, etc, o agricultor teria continuado plantando café.

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ele achou o jeito de como conduzir os leigos desta maneira sadia e principalmente colocando-os a serviço da pastoral paroquial e diocesana. A expressão "pastoral diocesana" está bem empregada. Desde 1968 Paranavaí é diocese. A nossa igreja São Sebastião tornou-se pró-catedral. O atual pároco é vigário geral. Já por estes motivos (fatos) a nossa paróquia passou a ocupar um lugar de destaque. Mas isto exigiu dos nossos padres também mais empenho (trabalho). Sob a coordenação do Frei Alberto a diocese construiu um centro pastoral e social dentro da nossa paróquia. Os mais variados cursos e encontros diocesanos são quase que automaticamente organizados pelos nossos padres em Paranavaí e alguns também em Graciosa. A propósito no nosso seminário de Graciosa foram realizados durante alguns anos cursilhos e T.L.C. (cursilho para jovens). Aqui deve-se ainda citar que Frei Jerônimo Brodka já há alguns anos fundou um grupo escoteiro e o dirige até hoje. Se acima se falava que o território pastoral dos nossos padres estava sempre diminuindo, agora deve-se mencionar que no correr dos anos eles poderiam ter assumido novas paróquias em Paranavaí. Mas enquanto Paranavaí continuou pertencendo à diocese de Maringá, não se podia nem pensar em receber novas paróquias nesta diocese. Por isto bispos de outras dioceses convidaram-nos para ir às suas dioceses. Assim o Comissariado assumiu no dia 23 de janeiro de 1967 a grande paróquia de Cidade Gaúcha na diocese de Campo Mourão. Como pároco foi enviado Frei Bruno Doepgen. Em dezembro do mesmo ano também Frei Justino Stampfer foi transferido para lá. Algum tempo depois ele assumiu a comunidade de Tapira, que era capela de Gaúcha. Pastoralmente falando esta divisão era muito necessária. Três anos depois Tapira tornou-se paróquia. Frei Justino ficou como primeiro pároco. Igualmente em 1967, e mais precisamente no dia 10 de dezembro, o Comissariado assumiu a paróquia Nossa Senhora da Conceição na capital do Estado Curitiba. Construir, construir, construir... Quem já viveu na diáspora, talvez por própria experiência sabe o que significa uma igreja para a pastoral. Quando o provisório dura muito tempo, a pastoral sofre. Pode ser interessante às vezes celebrar uma missa numa sala de aula ou num armazém ou ainda sob a sombra de uma árvore. Mas uma comunidade só se forma e cresce se ela tiver uma igreja. Por isto deve-se ter em mente o projeto de se construir uma casa de Deus desde o primeiro momento. Isto não quer dizer que é só para o Senhor deve estar presente lá no tabernáculo. É certo que se um tal recinto deve ter Deus como morador, deve ser feito de acordo com o seu mais expressivo objetivo. Aqui no Brasil diz-se que simplesmente que deve ser "bonito". Sobre o que significa este "bonito", pode-se discutir muito. Mas o brasileiro quer (pensa) assim. Darei um exemplo. Em Curitiba sem dúvida moram dezenas de milhares de pessoas nas favelas. Por favela entende-se barracos feitos com restos de tábuas, cobertos com papelão e lata velha. Ninguém pode pensar que essas pessoas, sobretudo quando vão à igreja, preferem uma igreja nas mesmas condições de suas "habitações", ao invés de uma casa de Deus bonita. Pelo menos na

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igreja querem se sentir bem. Ao menos uma vez por semana, mesmo que só seja por uma hora, querem estar numa casa, como aquela que imaginam para si todos os dias da semana. Por isso desde a hora no nascimento do comissariado a construção de igrejas foi uma das principais preocupações dos nossos padres. Frei Ulrico conta ainda hoje, cheio de emoção, quando no dia 9 de setembro de 1951 acendeu a luzinha do Santíssimo na igrejinha de Paranavaí (15). Era realmente só uma igrejinha. Por isso devia-se já bem cedo pensar numa nova construção. Também devia ser de madeira, isto é, suas paredes são de tábuas. Madeira havia em abundância naquela época. Na maioria dos casos só custava ir buscar a torra no mato e depois mandar serrá-la. De acordo com os planos de Frei Ulrico e Frei Henrique foi construída uma igreja com 3 naves dentro de um ano. Era uma imponente obra de 45m de comprimento por 18m de largura. Até mesmo uma torre foi acrescentada. No dia 3 de outubro de 1953 a igreja foi benzida (16). A paróquia inteira estava orgulhosa com a sua nova igreja e os padres do mesmo modo. Os cinco altares foram esculpidos pelo Frei Henrique. Para o altar-mor esculpiu o já mencionado e muito admirado crucifixo em tamanho maior que o natural. Também havia um coro para órgão - entretanto sem órgão -, um púlpito e uma capela de batismo. Enfim, havia tudo o que uma igreja precisa. Em toda a região a matriz de Paranavaí era e ficou a maior igreja de madeira. Durante doze anos serviu à comunidade como casa de Deus. Sendo depois substituída por uma nova construção. Hoje ainda serve na sua forma original como salão de festas e de outros eventos. Paranavaí cresceu e tomou a aparência de uma cidade. As primitivas casas de madeira foram sendo substituídas gradativamente por grandes construções. As ruas foram asfaltadas. A população da zona urbana aumentou para aproximadamente 30.000. Por isso foi necessário pensar seriamente na construção de uma nova matriz. Desta vez deveria ser algo mais definitivo e também vistoso. Por acaso encontrou-se o arquiteto dr. Carlos Kögl. Como alemão-húngaro ele teve que abandonar a sua pátria após a última guerra mundial. Migrou para o Brasil, mais precisamente para São Paulo. Juntamente com seu colega húngaro Eugênio Szylagi foi incumbido de fazer o projeto da nova construção. As medidas da nova igreja são: 60m de comprimento, 24m de largura e 9m de altura no interno. Em outubro de 1960 foi colocada a pedra fundamental. Demorou 5 anos até que se pudesse mudar na nova casa de Deus. Considerando o tamanho da obra e principalmente o modo como foi financiada, deve-se admirar que tenha ficado pronta em tão pouco tempo. É certo que nos anos 1952/53 era relativamente fácil construir uma igreja, mas agora parecia uma verdadeira aventura tal empreendimento. Principalmente porque não se sabia até onde o dinheiro daria (quanto custaria). É claro que quase todos os paroquianos estavam entusiasmados com a idéia de uma nova e bela igreja. E deste 15 Sobre esta experiência de Frei Ulrico veja em seu livro "História e memórias de Paranavaí", p. 18. 16 Maiores detalhes sobre a construção desta igreja são encontrados no livro do Frei Ulrico "História e memórias de Paranavaí", pp. 43-47. Veja também "As aventuras de 3 missionários alemães em Paranavaí", <http://br.geocities.com/wilmarsantin/NTMP.pdf>

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entusiasmo chegou sobretudo no começo também uma espontânea disposição em colaborar. Assim podia-se pelo menos começar. No Brasil se diz que diante de um tal empreendimento, basta só começar. O povo quer ver algo. Só então está disposto a dar continuidade na colaboração. Do Frei Ulrico provém a sentença: "dinheiro é que nem orelha de freira. Está aí! (Existe! ou Está escondido!) Só se deve encontrá-lo!" Criativamente deviam os padres responsáveis, Frei Ulrico na vanguarda, entrar em ação para "encontrar" o dinheiro necessário. A maior parte do financiamento foi levantada através das famosas festas da igreja e campanhas. Muitíssimas vezes os padres de Paranavaí naqueles anos percorreram toda a paróquia fazendo campanhas de café, algodão, gado, de dinheiro... Assim as coisas foram adiante. Isso pode soar até mesmo como algo romântico. Quanta fatiga, quanto suor e às vezes até mesmo humilhação estão colocadas por trás daquela realidade! (construção!) Durante semanas e mais semanas o padre se punha a caminho de manhã bem cedo até tarde da noite para ir de sítio em sítio, de fazenda em fazenda, de porta em porta pedindo ajuda. Quem gosta de pedir? Apesar dos padres não terem trabalhado como pedreiros ou carpinteiros, pode-se dizer com muita razão que a igreja foi também construída com o suor deles. Finalmente na festa de Cristo Rei de 1965 foi inaugurada. Apesar do piso não estar pronto e ainda faltarem os bancos e mais algumas coisas, pôde-se mudar. Na abertura da festa foi levado o Santíssimo, acompanhado pelas imagens dos santos, em procissão à nova igreja. Isso foi só a primeira parte. O momento de descansar ainda não havia chegado. O revestimento do piso devia ser feito. O povo neste tempo estava cansado. O preço do material de construção subia enormemente de preço todos os dias. Era necessário novamente se ter um bom motivo (boa razão) para estimular o fervor dos paroquianos. E este motivo apareceu. Em 11 de março de 1968 foi erigida a diocese de Paranavaí e nomeado seu primeiro bispo. É o monsenhor Benjamin de Sousa Gomes, padre da diocese de Sorocaba, Estado de São Paulo. Na catedral de Sorocaba, dia 9 de junho de 1968 ele foi ordenado bispo e no dia 7 de julho foi empossado em nossa igreja matriz. "Católicos de Paranavaí, vocês querem deixar o bispo tomar posse numa igreja que nem piso tem?" Assim perguntou o pároco aos fiéis. Isso não queriam, por isso meterem a mão no bolso outra vez e o piso, feito com mármore brasileiro, logo ficou pronto. Inicialmente por não ter uma própria casa, o bispo morou durante 2 anos no nosso convento. Nos primeiros anos da década de 70 a igreja finalmente foi rebocada por fora. Agora só falta um altar definitivo, com isto a principal igreja matriz da diocese e do Comissariado poderá ser consagrada. Não é só o SENHOR que precisa de uma casa. Também seus "servos" não podem morar ao ar livre mesmo no Brasil. Quando Frei Ulrico chegou em Paranavaí em 1951, além da igrejinha encontrou uma "casa paroquial". Era uma casa de madeira subdividida em 4 pequenos quartos. Para os primeiros tempos foi suficiente. Em outubro do mesmo ano chegou o irmão leigo Estanislau de Souza, proveniente da Província Carmelitana Pernambucana. Quando então no começo de 1952 chegou o primeiro

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reforço (17) da Alemanha, a casinha ficou lotada. Por isso foi construído o primeiro convento em Paranavaí. Era uma simples construção de madeira com 21m de comprimento. Havia 6 quartos, a portaria e instalações sanitárias. Uma varanda coberta acompanhava toda a extensão do convento. Não havia forro nos quartos. Avistava-se as telhas e podia-se conversar com o vizinho do quarto ao lado, pois o som passava através da abertura que havia em cima entre a parede e o telhado. Só mais tarde é que os quartos foram forrados. A mobília na maior parte foi feita pelo Frei Henrique. Em 1954 o convento foi ampliado com quarto de hóspede, refeitório e cozinha. Esta ampliação, no entanto, já foi feita com tijolos. Quando finalmente se construiu a nova igreja de alvenaria, pôde-se também construir um novo e definitivo convento. Da Província chegou o dinheiro necessário. Outra vez de acordo com o projeto dos arquitetos Kögl e Szylagi, de 1964 ao fim de 1965 foi levantado um espaçoso convento. Está junto à igreja numa posição de ângulo reto. O novo convento contém, fora as instalações necessárias e os quartos dos padres, a secretaria paroquial e duas grandes salas de reuniões. Durante o tempo em que o bispo morou no convento, em uma das salas funcionou a cúria da diocese. Hoje há ali uma livraria. Esta é propriedade do convento e é administrada pelos próprios padres. Como já foi mencionado em outro lugar, em 1971 surgiu a necessidade de se alojar em Paranavaí os seminaristas que concluíam o ginásio (18). Inicialmente eles moraram na parte de madeira do antigo convento. Entretanto este já tinha quase 20 anos e oferecia poucas condições para se morar. Assim viu-se novamente a necessidade de se construir. Após a Província ter assumido o financiamento da construção, em maio de 1973 foi colocada a pedra fundamental. Esta nova ala está construída junto ao convento e em paralelo com a igreja, formando um "U". Desta maneira temos entre a igreja, o convento e o seminário um pátio fechado. Já no dia 12 de agosto de 1974 pôde ser realizada a bênção festiva do seminário pelo bispo local. A espaçosa capela serve também como oratório dos padres. Com isso, por enquanto pelo menos, não é mais necessário se construir em Paranavaí. Isto pode ser a indicação do fim das construções de conventos no Comissariado feitos exclusivamente com dinheiro alemão. Mas também é um indiscutível testemunho do engajamento (empenho) da Província pelas missões no Brasil.

17 Frei Henrique Wunderlich e Frei Willibrord. 18 A necessidade surgiu com o fechamento do Seminário de Itu, que pertencia aos carmelitas da Província de São Paulo. Já em 1967 dois jovens (Sebastião Cerizza e Jaime Rasweiler) estudaram o 1º ano do colegial em Paranavaí. Em 1968 provisoriamente uma turma foi estudar em Curitiba, morando na Vila Fanny. Em 1969 começou oficialmente a funcionar o seminário de Paranavaí com uma turma de 9 seminaristas (Antonio Aparecido Diniz, Carlos Sanches Gonçalves, Celito Rasweiller, Francisco Schmoeller, Joaquim Pereira Alves, José Daufenback, Pedro Valério Back, Sinderlei Armando Zattoni e Wilmar Santin). Frei Rafael Mainka foi o primeiro diretor. Nos primeiros anos os seminaristas estudavam o curso clássico no Colégio Estadual de Paranavaí. Quando foi iniciado o curso colegial na escola paroquial, passaram a freqüentar este curso.

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4) O "SEMINÁRIO DA MATA VIRGEM” Com este nome ficou conhecido por muitos anos na província o seminário de Graciosa. Se se entender mata virgem de maneira relativa, ou seja, simplesmente como uma mata nativa, o nome pode continuar sendo usado, pois ainda há mata natural nos dois lados do seminário. A localização do seminário no meio da natureza dá-lhe até mesmo um encanto especial. Isto é avaliado (apreciado) pelos visitantes e naturalmente muito mais pelos seminaristas. A história do seminário de Graciosa será apresentada de maneira breve. Durante a sua primeira viagem ao Brasil em fevereiro de 1952, o provincial da época, P. Jacobus Beck, teve uma agradável surpresa numa das capelas de Paranavaí (19). Ele foi saudado em língua alemã por pessoas loiras e de estatura alta. Graciosa, assim se chamava e se chama o vilarejo distante 18km de Paranavaí, já existia há 5 anos. Trata-se de uma colônia de brasileiros de origem alemã oriundos do Estado de Santa Catarina. Seus antepassados emigraram há mais ou menos 100 anos da Westfália e em parte também da região de Hunsrück para o Brasil. Os colonos de Graciosa saíram de Santa Catarina por causa do café para também no Norte do Paraná fundarem uma nova pátria. No início tiveram, como seus antepassados 100 anos antes, que desbravar a selva - isto é, derrubar as árvores e então fazer queimadas -, construir casa, esperar pelas primeiras colheitas e acostumar-se com o clima quente. Além da peculiar coragem, eles trouxeram de Santa Catarina duas coisas importantes: a verdadeira fé católica e a língua alemã. Nos primeiros anos da década de 50 o alemão ainda era a língua falada em Graciosa. Por isso não é para se admirar, que eles na primeira oportunidade pedissem um padre, que "falasse alemão para morar com eles". E para que o pedido deles fosse atendido, fizeram uma proposta. "Se o senhor nos enviar um padre alemão, daremos o terreno para um seminário e além disso prometemos ajudar na construção do mesmo". Com estas condições logo se chegou a uma acordo. No entanto tiveram que esperar ainda um ano inteiro para ter seu próprio pastor. No dia 8 de março de 1953 Frei Boaventura chegou em Paranavaí (20). Já duas semanas depois ele mudou para Graciosa. Provisoriamente morou numa casa ao lado da igreja. Assim chegou o momento do povo de Graciosa cumprir a sua promessa. Aqui deve-se citar os nomes das famílias que doaram terreno. São: Gregório Selhorst 5 alqueires, João Eising 4 alqueires, Clemente Selhorst e Leopoldo Meurer 2 alqueires cada, e Humberto e Aloísio Selhorst 1 alqueire cada. 1 alqueire equivale a mais ou menos 2,5 hectares. Por meio de troca foi possível unir os terrenos num só local. Todo o terreno estava coberto por uma densa mata. Havia no local uma pequena, mas permanente mina d'água. Logo se fez o projeto. Frei Boaventura ficou encarregado da construção do seminário. Apesar de 19 Um relato desta viagem está publicado no livro "Minha viagem à região missionária de Paranavaí”, publicado pela Livraria Nossa Senhora do Carmo de Paranavaí. 20 Chegou na verdade em Santos neste dia.

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que naquela época não havia em Graciosa uma casa sequer de tijolos, decidiu-se que a construção do seminário seria de alvenaria. Isso foi até mesmo o motivo para se iniciar uma olaria em Graciosa. Manualmente foram fabricados nesta olaria todos os tijolos para o seminário. No começo do Ano Mariano, portanto no dia 8 de dezembro de 1953, foi colocada a pedra fundamental do "Seminário Imaculada Conceição dos Padres Carmelitas". A obra começou. Cada semana um grupo de voluntários da paróquia trabalhava na obra. Isso naturalmente foi uma ajuda inestimável. Em compensação havia muitas dificuldades. Um problema daquele tempo ainda era conseguir material de construção, principalmente cal e cimento. É evidente que se podia já comprar estas coisas em Paranavaí. Mas o dinheiro era curto. Se fosse possível pagar com madeira... Mas quem em Paranavaí queria madeira? O que se fez? Algumas vezes carregou-se sem rodeios um caminhão com preciosa madeira do mato do seminário e foi-se com a carga até Curitiba. Ali a madeira tinha preço. Entre Paranavaí e Curitiba a distância era de 500km. Eram 500km de estrada de chão! Em Curitiba se comprava cimento e cal com o dinheiro da venda da madeira e então se retornava. Uma semelhante viagem, que nunca se fazia sem aventura e incidentes, durava pelo menos 7 dias. Apesar de todas as dificuldades, no início do ano escolar em março de 1955 foram iniciadas as aulas para alunos externos. Primeiramente tratou-se mais de um curso de preparação ao ginásio (21). Como acontece muitas vezes com semelhantes empreendimentos, infelizmente o entusiasmo inicial pela construção do seminário logo desapareceu. Com isso começou a faltar material, mas sobretudo o dinheiro necessário. A província na ocasião não estava em condições de investir como o fez nas futuras construções do Comissariado. Assim as obras se estenderam por muito tempo. Só no início do ano letivo de 1959 o seminário pôde abrir suas portas também para alunos internos. Naquela ocasião o seminário foi registrado como ginásio oficial no Estado. Frei Boaventura era o diretor do seminário e da escola. Como ele era o único padre no seminário, as aulas eram dadas sobretudo por professores de Paranavaí. Ele mesmo só dava aulas de religião e matemática. Naquela época conseguiu-se irmãs para cuidar da cozinha e da casa. Eram irmãs da Congregação das Carmelitas Missionárias de Santa Teresinha do Menino Jesus. Esta Congregação foi fundada por um carmelita holandês em Roma. Para Frei Boaventura o trabalho no seminário era uma ocupação a mais, pois oficialmente era o responsável pela comunidade de Graciosa. Um reforço ali era mais do que necessário. Neste sentido Frei Matias Warneke foi transferido para lá em janeiro de 1960. A ele foi confiada a direção do seminário. O número dos seminaristas cresceu rapidamente nos anos seguintes. Assim por exemplo no início do ano letivo de 1963 havia no seminário mais de 90 meninos-adolescentes entre 10 e 16 anos. As perspectivas de futuro, portanto, eram muito boas. Por isso após se conversar com a direção da província decidiu-se no Comissariado por uma ampliação do seminário. O projeto outra vez foi feito no escritório dos arquitetos Kögl-Szylagi. Na primavera de 1962 começou-se com as 21 Era o chamado curso de admissão. Naquele tempo para se entrar no ginásio era necessário fazer um pequeno exame de admissão.

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obras. No andar térreo foram construídas 5 salas de aulas, a diretoria, sala de visitas e instalações sanitárias para os alunos. No andar de cima foram construídas as instalações de moradia dos padres. Também em parte se reformou e se ampliou a ala já existente. O total comando das obras esteve nas mãos do competente Frei Alberto Först. Durante as suas primeiras férias na Alemanha em 1963, Frei Matias se empenhou bastante para conseguir os recursos econômicos suficientes para o acabamento da obra. Já no início do ano escolar de 1963 as salas de aula precariamente foram utilizadas. Ainda não havia janelas e portas, mas isso não era tão ruim assim por causa do clima brasileiro. Nas férias de julho os trabalhos foram feitos de maneira intensiva. No dia 8 de dezembro de 1963 a casa estava pronta e foi benzida pelo comissário Frei Alberto Först. O seminário enfim estava pronto. As salas de aula e sobretudo a construção como um todo foram consideradas como ótimas sob o ponto de vista técnico. Também em relação aos padres houve transferências no seminário no decorrer dos anos. Depois do Frei Matias Warneke, na primavera de 1961 Frei Rafael Mainka foi transferido para o seminário, logo após a sua chegada da Alemanha. Sua facilidade em aprender línguas logo ficou conhecida e provocava admiração geral. Até seu grave adoecimento em 1966, ele trabalhou no seminário não só como "temido professor" (22), mas também como prefeito com exemplar zelo e total doação de si. No dia 26 de agosto de 1963 igualmente Frei Joaquim Knoblauch foi transferido de Paranavaí para o Graciosa. Visto que nesta época trabalhava no seminário um jovem japonês, nosso futuro Frei Teodoro Miyamura, tivemos de agosto de 1963 até o começo de 1965 o maior provimento pessoal do seminário até hoje. A primeira transferência de um padre do seminário aconteceu em janeiro de 1965. Frei Matias Warneke foi nomeado comissário e com isso assumiu a paróquia de Paranavaí. Em seu lugar como diretor do seminário foi colocado Frei Joaquim. Frei Jerônimo foi transferido de Paranavaí para Graciosa nesta época. Nos últimos anos da década de 60 houve uma diminuição relativa das entradas de alunos no seminário. O principal motivo foi o seguinte: em quase todas as cidades da região foram abertas escolas ginasiais do Estado. Até então para muitos jovens o entrar no seminário era a única possibilidade de se fazer o ginásio. Com a abertura das escolas estaduais a situação mudou. De mais a mais o estudo num ginásio estadual é gratuito, enquanto que no seminário naturalmente deve-se pagar uma mensalidade. Assim as turmas escolares do seminário foram se tornando cada vez menores. Por fim vimo-nos forçados por motivos financeiros a fechar o ginásio do seminário. O primeiro passo foi transferir as turmas da 3ª e 4ª série para o ginásio de Graciosa. Depois no fim do ano escolar de 1971 a escola do seminário foi definitivamente fechada. Esta decisão foi lamentada por muitos pais. Sabia-se muito bem que o nosso ginásio tinha um nível escolar superior ao das escolas públicas. Os alunos, que se transferiam da nossa escola para um ginásio estatal, podiam ali nos primeiros anos dormir durante as aulas! O seminário como tal continua funcionando. O número de seminaristas nos últimos anos tem oscilado entre 40 e 50. 22 Dava aulas principalmente de latim e grego.

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Em relação aos padres do seminário aconteceram muitas mudanças. Assim por exemplo, Frei Jerônimo após um ano de permanência no seminário retornou a Paranavaí. Frei Rafael adoeceu no início de 1966 e não pôde trabalhar durante o ano todo. No seu lugar chegou Frei Afonso Pflaum no fim daquele ano. Mas já em dezembro de 1968 foi transferido para Curitiba como pároco. Seu substituto no seminário, Frei Agostinho Wolf, chegou no início de 1969. Em janeiro de 1971 Frei Agostinho assumiu a paróquia de Graciosa e continuou como prefeito do seminário. Isto significava que o seminário e a paróquia seriam atendidos somente pelos dois padres restantes no seminário (23). O capítulo do Comissariado de 1973 promoveu também outras mudanças no seminário. Frei Joaquim, que desde 1963 trabalhava no seminário e a partir janeiro de 1965 como diretor, foi transferido para Curitiba para ser mestre de noviços e dos clérigos. A direção do seminário foi assumida por Frei Agostinho Wolf. Como pároco e prefeito chegou Frei Afonso Pflaum de Curitiba. O ano escolar de 1976 começou só com 31 seminaristas. Destes, 13 freqüentam o ginásio de Graciosa no período noturno. São em geral jovens um pouco mais maduros, que quando crianças não estudaram e agora não têm os recursos financeiros necessários para só estudar. Eles trabalham no período da manhã na chácara do seminário como forma de pagamentos da mensalidade. Estudam à tarde e à noite, das 19 às 22h, freqüentam a escola. O primeiro desta turma de "vocações tardias" terminou desta forma o ginásio no fim do ano passado e desde o início do ano escolar de 1976 encontra-se no seminário de Paranavaí. Mais quatro deste grupo concluirão neste ano o ginásio com o estudo feito à noite. Financeiramente o seminário sozinho nunca pôde se manter. Sempre foi ajudado pelo comissariado e respetivamente pela província-mãe. Olhando de maneira global o futuro do seminário não parece dos melhores, mas há sombras de esperança. 5) A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS DE GRACIOSA O nosso seminário foi construído em Graciosa porque o povo de Graciosa deu o terreno para este fim. A doação foi feita porque prometemos um padre para trabalhar ali. A pastoral da paróquia de Graciosa até hoje está confiada aos carmelitas. As linhas seguintes discorrerão sobre esta paróquia. Como já foi dito, Graciosa recebeu no início de 1953 o seu próprio padre na pessoa de Frei Boaventura. Naquela época Graciosa era uma capela de Paranavaí. Era uma das poucas comunidades que já tinha uma igreja quando Frei Ulrico chegou. Esta igreja estava no centro da povoação e era de madeira, como todas as casas. O vilarejo

23 Eram Frei Joaquim e Frei Agostinho. Havia ainda o Frei Boaventura, mas já era velho e não tinha mais condições de trabalhar.

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não era grande. O povo de Graciosa mora em grande parte nos seus sítios, como seus antepassados na Westfália. Alguns estão a alguns quilômetros de distância do povoado. Só aos domingos e nas sextas-feiras do Coração de Jesus via-se realmente todos que pertenciam à comunidade! Ali Frei Boaventura tornou-se o guia espiritual. No começo ele encontrou uma grande facilidade, pois quase todos os seus paroquianos, ou pelo menos aqueles que freqüentavam a matriz, falavam alemão. Assim havia uma ponte de comunicação. A maior parte deles, porém, falava o dialeto da Westfália. E este pelo menos para um alemão do Sul é quase uma língua estrangeira como o português. O trabalho na comunidade também foi facilitado porque os fiéis em Santa Catarina receberam uma regular assistência pastoral. Também lá tiveram na maioria dos casos padres alemães. O regular acompanhamento pastoral através de um padre alemão ajudou o próprio povo até mesmo a se adaptar na nova terra. Principalmente também porque se tratava de um tão bom padre como nosso Frei Boaventura! No começo pertenciam a Graciosa mais algumas capelas. As mais importantes eram Monte Carmelo - hoje Quatro Marcos -, e Vinte Oito - hoje Mandiocaba. Havia também as capelinhas em Santa Mônica e em outras duas fazendas. Nas fazendas o trabalho pastoral era muito difícil. Ali trabalhavam quase que só assalariados, que em sua maioria provinha do Norte do Brasil. O seguinte acontecimento pode ilustrar um pouco a situação nestas fazendas. Nos primeiros anos da década de 60 chegou também na nossa região as doações de alimentos da Caritas norte-americana. Os católicos norte-americanos enviaram navios inteiros completamente lotados de farinha, leite em pó e óleo de cozinha. Nas fazendas de tempo em tempo após a missa a distribuição do leite era feita pessoalmente pelo pároco. O povo naturalmente logo fez diferença entre "missa com leite" e a "sem leite". O efeito: nas missas "com leite" a capela ficava cheia até o último lugar. Nas missas "sem leite" o padre rezava com os banco quase vazios! Até Frei Boaventura receber um velho jipe, a locomoção dentro da paróquia era um verdadeiro problema. O padre tinha só um cavalo e um carrinho. Sobre o cavalo do padre, o povo de Graciosa até hoje conta histórias. Trava-se de um animal muito esperto e que conhecia muito bem dono que tinha. Da igreja até o seminário a distância é de 1km. Entretanto todo o trecho é subida. Frei Boaventura levava 15 minutos para percorrer o caminho a pé. Quando ia a cavalo, a viagem demorava às vezes mais de meia hora! É que o cavalo só ia adiante quando tinha vontade. Sempre parava na beira da estrada para pastar. Assim quando o pároco tinha pressa de chegar em casa, já na primeira parada que o cavalo fazia para pastar, devia apear, pegar na rédea e depois puxá-lo morro acima. No dia 9 de agosto de 1960 a comunidade de Graciosa foi elevada à condição de paróquia. O seu primeiro pároco evidentemente foi o Frei Boaventura. Nos bons e maus momentos ele conduziu a paróquia até janeiro de 1965. Seu sucessor foi Frei Ulrico, nascido na Westfália, como a maioria dos seus paroquianos. Quando 5 anos mais tarde Frei Ulrico foi transferido de Graciosa, nas palavras de despedida disse: "Nós em geral nos entendemos muito bem. Se aqui e ali houve qualquer caso (desentendimento), só aconteceu porque vocês têm a mesma cabeça dura da Westfália como eu". Que ele

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tenha sido uma cruz para seus paroquianos certamente não aconteceu muitas vezes. Senão como ele poderia ter conseguido fazer o que fez em tão pouco tempo? Frei Ulrico sempre teve prazer em construir igreja! E Graciosa necessitava urgentemente de uma nova igreja. A velha igreja de madeira era muito pequena e estava quase caindo. Também o projeto desta nova igreja foi feito pelos arquitetos Kögl-Szylagi de São Paulo. A forma (planta) da igreja é um triângulo. Como torre da igreja foi levantada uma alta cruz de cimento no ângulo oposto à entrada. A construção foi feita num ritmo acelerado. Só foram contratados alguns pedreiros profissionais. Todo serviço que não exigia mão de obra especializada foi feito por colonos voluntários da paróquia. Depois de um pouco mais de um ano a igreja pôde no dia 26 de novembro de 1966 ser benzida. Dois anos mais tarde a paróquia comprou um carrilhão de 3 sinos. Os 3 novos sinos e também o velho foram instalados entre a cruz e a igreja num lugar já previamente planejado para isto. Graciosa pode gabar-se de ter sido a primeira matriz da diocese que instalou mais de um sino e que além disso eram acionados eletricamente. Ao terminar completamente a obra em 1969, Frei Ulrico com alegria pediu ao bispo de Paranavaí para consagrar a igreja. Quando a matriz estava pronta, foram construídas também novas igreja de alvenaria nas capelas de Quatro Marcos e Mandiocaba. A igreja de Mandiocaba é dedicada ao Sagrado Coração de Jesus e a de Quatro Marcos a Nossa Senhora do Carmo. Em janeiro de 1971 Frei Ulrico foi transferido para Paranavaí. No seu lugar como pároco foi nomeado Frei Agostinho Wolf. Não lhe foram concedidos nem bem 3 anos para ser o pastor do bom rebanho de Graciosa. Nessa época estavam surgindo os novos movimentos de leigos. Movimento Familiar Cristão, Cursilho e T.L.C. foram introduzidos na paróquia por sua iniciativa e foram muito bem recebidos. Ele, junto com a sua paróquia, estava planejando a construção de um salão paroquial, quando teve que puxar o freio de mão. Era preciso que ele trabalhasse no seminário. Frei Afonso Pflaum tornou-se seu sucessor. Ele conseguiu unir as forças para construir o já planejado salão paroquial. O projeto desta vez foi feito pelo nosso Frei Justino Stampfer. O salão já vem sendo utilizado há algum tempo, apesar de internamente ainda faltarem algumas coisas. Naturalmente que em todos estes anos também os outros padres do seminário sempre colaboraram no trabalho pastoral, tanto na matriz como nas capelas. O povo de Graciosa em geral soube reconhecer muito bem este trabalho desinteressado dos carmelitas e também sempre correspondeu honrosamente. Isto foi e é manifestado ainda hoje nas chamadas festas do seminário. Uma vez por ano é realizada uma grande festa com churrasco, galinha assada, muita cerveja e leilão de gado. O lucro é para o seminário. Nesta ocasião são consumidos 2 bois, mais ou menos 150 galinhas, mais de 100 bolos, etc. Tudo é doado pelo povo. Além disso não se deve esquecer as entre 20 e 30 cabeças de gado e um semelhante número de porcos que são leiloados vivos. Mais do que uma vez aconteceu que um colono arrematou por um bom preço um animal que ele mesmo havia doado.

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Só que ali há também um sombra em meio a tantas luzes: até agora não temos uma vocação sequer da paróquia de Graciosa. No momento há uma esperança! José Renato Preuss de Graciosa provavelmente no próximo ano será nosso noviço (24). 6) OLHAR PARA O FUTURO Missão no sentido cristão ultimamente vem sendo vista como serviço. Este serviço, através de atividades missionárias, deve ser prestado até que a igreja local seja capaz de caminhar com os próprios pés. Este princípio vale também para o trabalho dos carmelitas da Província Germaniae Superioris no Brasil. No Comissariado praticamente desde o primeiro dia teve-se como meta alcançar a independência pessoal. O maior testemunho disto é a fundação do seminário em Graciosa. Entretanto o seminário de Graciosa só serve para seminaristas dos 4 anos do curso ginasial. De acordo com o sistema escolar brasileiro entre o ginásio e a universidade há ainda um outro curso de 3 anos. A introdução deste curso no nosso seminário não foi possível por vários motivos. Mas também não nos pareceu necessário. E de mais a mais apareceu-nos uma solução muito mais simples. Exatamente como nossa província em 1922, a Província dos Carmelitas do Rio de Janeiro se tornou nossa madrinha. Esta província se desenvolveu muito de pressa e estava nas décadas de 50 e 60 entre as maiores da nossa Ordem. Em 1960 ela possuía dois bons seminários, um noviciado e um próprio curso de Filosofia e Teologia. O que ficava então mais perto do que uma colaboração com a Província do Rio em relação às vocações? Assim em 1964 os dois primeiros seminaristas do nosso seminário foram para o seminário dos carmelitas em Itu, no Estado de São Paulo. Outros 3 foram no ano seguinte. Igualmente em fevereiro de 1965 o Akira Miyamura, que alguns anos trabalhou no seminário de Graciosa como professor e prefeito, iniciou com o nome de Frei Teodoro o noviciado da Província do Rio como noviço do Comissariado. Em 1966 Antonio Ferraz Júnior vai como nosso noviço para o noviciado em Mogi das Cruzes. Tudo corria muito bem. Repentinamente, porém, vimo-nos obrigados a mudar nossos planos. No começo de 1967 a Província do Rio fechou os seminários de Itu e Contagem e também o noviciado. Naquele momento um bom conselho era precioso. Caminhar com as próprias pernas era a única alternativa. Nesta época os Freis Antonio Ferraz e Enedino Caetano Pereira estudavam Filosofia na casa de estudos dos carmelitas em Belo Horizonte. Frei Teodoro Miyamura já tinha feito os votos em 1966 (25), mas no dia 28 de fevereiro de

24 José Renato iniciou o noviciado em Curitiba no dia 15/1/1977 (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 146 - 1/1/1977), mas desistiu no dia 30/11/77). Junto com ele iniciaram e concluíram o noviciado: Afonso Julci Klein, Romualdo Borges de Macedo e João Batista Prieto, este a partir de junho. 25 O texto original apresenta a data 1965, que na verdade foi o ano do noviciado, como se pode ver logo acima. Ele fez votos no dia 23/1/66 nas mãos do Pe. Geral Kilian Healy (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 61 - 12/4/66).

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1967 morreu após uma operação do coração em São Paulo. Assim aconteceu que o então comissário, Frei Matias Warneke, em julho de 1967 entrou em contato com o arcebispo de Curitiba. Nós queríamos abrir em Curitiba uma própria casa de estudos. O arcebispo se mostrou muito amável. Entretanto exigiu que nós assumíssemos também uma paróquia na capital do Estado. Ele ofereceu a recém criada Paróquia Nossa Senhora da Conceição na Vila Fanny. O Comissariado aceitou e já no dia 10 de dezembro do mesmo ano Frei Rafael Mainka foi empossado como primeiro pároco pelo arcebispo dom Manoel Silveira D'Elboux. Não havia uma casa paroquial propriamente dita. Nos fundos da igreja existia, no entanto, algumas salas vazias. Estas foram transformadas provisoriamente em casa paroquial e seminário. Em março de 1968 moravam ali o pároco e 7 seminaristas (26). O "seminário" era praticamente só uma sala. Ali eles viviam, estudavam e dormiam. Também os dois estudantes de Filosofia foram transferidos de Belo Horizonte para Curitiba. A alarmante falta de condições obrigou que se fizesse uma nova construção o mais rápido possível. Sobretudo devia-se pensar com toda seriedade num próprio noviciado. Não sem dificuldades conseguiu-se comprar duas datas vizinhas ao terreno da igreja. Após a província ter assumido o financiamento, imediatamente se começou a construção. Um ano foi o tempo que se levou para aprontar o nosso primeiro convento em Curitiba. É uma boa casa com 13 quartos e com todas as instalações comunitárias que são necessárias. Na festa de Santa Teresa de Ávila de 1970 o convento recebeu a bênção eclesial. A casa tinha acabado de ficar pronta. De Roma neste tempo já tinha chegado a licença para canonicamente funcionar ali o noviciado. No dia 1º de fevereiro de 1971 o provincial P. Joseph Kotschner, que estava visitando o Comissariado, pôde fazer a vestição de 5 noviços brasileiros (27). O primeiro mestre de noviços do Comissariado foi Frei Afonso Pflaum. Dos 5 noviços, 4 fizeram os votos simples (28) no dia 2 de fevereiro de 1972. Em 1972 tivemos 3 noviços (29). Em 1973 não houve candidatos ao noviciado. Mas no ano seguinte tivemos novamente 5 noviços (30). Desde 1974 Frei Joaquim Knoblauch é

26 Os seminaristas eram: Clério Back, Deomar Miguel Bremm, Ivo Siebert, Jaime Rasweiller, José Alcir Formighieri, Norberto Hobold, Valmício Luiz. O texto original diz que eram 8 seminaristas, mas pelos nomes e pela informação dada pelo boletim da Província (Cf. Mitteilungen für unser Provinz, nº 75 - 27/5/68) vê-se que realmente eram 7. 27 Eram: Deomar Miguel Bremm, Estanislau José de Souza, Jaime Rasweiller, Norberto Hobold e Valmício Luiz. 28 Jaime Rasweiller deixou o noviciado no final de 1971. 29 Carlos Sanches Gonçalves, Francisco Schmoeller e Wilmar Santin. Os 3 eram da primeira turma do seminário de Paranavaí. Francisco Schmoeller deixou o noviciado no final do ano. Carlos e Wilmar professaram. Carlos antes de fazer os votos perpétuos deixou a Ordem. Wilmar foi ordenado sacerdote dia 8/12/79. 30 Bernardo Kava, Célio Aleixo Rückl, Irineu Miguel da Silva, Felipe (João Batista) Pimenta e Paulo (Geovanilzo) Mendes. Bernardo e Irineu saíram durante o noviciado e os outros 3 professaram no dia 2/2/75. Dois anos mais tarde o Frei Felipe deixou a Ordem. Aleixo foi ordenado dia 14/12/80 e Paulo, dia 5/9/81.

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o mestre de noviços. Em 1975 o noviciado começou outra vez com 5 noviços (31). Em 1976 receberam o hábito 3 noviços (32). Também para o estudo de Filosofia e Teologia foi encontrada uma solução após várias tentativas (33). Na Universidade Católica foi iniciado um curso de Filosofia em 3 anos para seminaristas. Também nossos clérigos estudam ali. Para o estudo de Teologia eles estudam no Studium Theologicum dos claretianos. Neste ano de 1976 nós temos no Comissariado 7 estudantes de Filosofia (34). Com razão pergunta-se sobre os resultados dos esforços realizados até agora na promoção das vocações brasileiras (nativas). No dia 8 de dezembro de 1971 tivemos as primeiras ordenações: Frei Antonio Ferraz Júnior e Frei Enedino Caetano Pereira. Frei Enedino no entanto só foi ordenado como carmelita da Ordem Terceira. Presumivelmente ainda este ano (1976) ele fará votos perpétuos na Ordem Primeira e assim pertencerá definitivamente ao Comissariado. Infelizmente Frei Antonio deixou a Ordem dois anos após a ordenação. Atualmente ele trabalha como padre diocesano no diocese de Paranavaí. Como já foi dito, em outubro de 1951 chegou um irmão leigo da Província Pernambucana para ajudar Frei Ulrico em Paranavaí. Era o Frei Estanislau de Souza (35). Antes de fazer votos perpétuos ele deixou a Ordem. Mas alguns anos mais tarde ele

31 Adelmo Classen, Gentil Lima, José Filomeno dos Santos Filho, Josué Ghizoni e Marcos Mertens. O Adelmo saiu durante o noviciado. Os outros professaram em 16/1/76. O Marcos deixou a Ordem quando estudava o primeiro ano de Teologia em 1979. Gentil e Josué foram ordenados no dia 11/12/82. 32 Antonio Babeto Spinelli, Batista Bernardes do Nascimento e Hilário José Zotti. Os 3 professaram. O Hilário deixou a Ordem dois anos mais tarde e o Batista em 1980, quando estudava o primeiro ano de Teologia. Antonio Babeto chegou a ser ordenado em 1983, mas em 1990 pediu laicização. 33 Frei Antonio Ferraz e Frei Enedino concluíram a Filosofia no curso interno dos franciscanos em Curitiba, no segundo semestre de 1967. No ano seguinte os franciscanos transferiram o curso para Petrópolis, por isso devia-se buscar outra alternativa. A primeira que apareceu foi de Frei Fidelis Wering, O.F.M, dar um curso particular para Estanislau José de Souza e Jaime Rasweiller, antes dos dois entrarem no noviciado. Isto aconteceu em 1970. No início de 1972 surgiu outra alternativa: o Instituto de Teologia de Curitiba (ITC), que funcionava no Colégio Bom Jesus dos franciscanos abriu um curso filosófico, chamado pré-teológico. Neste curso fizeram a Filosofia em 2 anos os Freis: Deomar Miguel Bremm, Norberto Hobold e Valmício Luiz, no anos 1972/73. Este curso só funcionou com uma turma e depois foi fechado. Uma terceira alternativa teve que ser buscada. Frei Carlos Sanches Gonçalves e Frei Wilmar Santin estudaram a Filosofia na Universidade Federal do Paraná (1973-76). Depois optou-se pelo curso na Universidade Católica porque era exclusivo para seminaristas e era em 3 anos, enquanto que o curso da Federal era em 4. Quanto ao estudo da Teologia a primeira tentativa foi a de se estudar no ITC. Ali fizeram a Teologia completa os Freis Antonio Ferraz e Enedino. Frei Estanislau estudou ali em 1972. Depois foi obrigado a ir para o Studium Theologicum. O ITC fechou as portas, apesar de ser uma excelente escola teológica, quando os bispos de Santa Catarina resolveram fundar um próprio curso teológico em Florianópolis, retirando assim seus estudantes de Curitiba, deixando o ITC com um número insuficiente de alunos para poder funcionar. 34 Eram: Frei Wilmar no último ano, Freis Aleixo e Paulo no 2º e Freis Filomeno, Gentil, Josué e Marcos no 1º. 35 Seu nome de batismo era: Agripino José de Souza. Era natural de Gravatá, PE. Sobre Frei Estanislau pode-se ler mais no livro de Frei Ulrico "História e memórias de Paranavaí", pp. 19-24.

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pediu para entrar no Comissariado. Em 1971 fez parte do nosso primeiro grupo de noviços. Por já ter estudado a Filosofia antes noviciado, pôde iniciar o curso de Teologia imediatamente após ter feito os primeiros votos. No dias 16 de março de 1975 foi ordenado sacerdote em Paranavaí aos 50 anos de idade. Aqui é necessário mencionar também o caso de Bernardo Rech, cujos pais moravam em Graciosa. Num seminário diocesano de Santa Catarina ele estudou Filosofia e uma parte da Teologia. Sob o acompanhamento dos nossos padres ele se preparou em Paranavaí para a ordenação sacerdotal. Esta aconteceu no dia 18 de dezembro de 1955 em Paranavaí através da imposição das mãos de dom Geraldo Proença Sigaud. Padre Bernardo queria ser carmelita. Como ele falava muito bem alemão, foi enviado em abril de 1956 para fazer o noviciado em Straubing (36). Após os votos simples retornou ao Brasil. Infelizmente também ele logo deixou a Ordem e assumiu a paróquia de Santa Isabel do Ivaí. Já em Straubing ele foi submetido a uma operação do estômago, mas a doença voltou logo. No dia 8 de dezembro de 1961 morreu vitimado pelo câncer no estômago. 7) PROVÍNCIA: COMISSARIADO - COMISSARIADO: PROVÍNCIA Rezam as Constituições da nossa Ordem que um comissariado provincial é parte integrante da província. A direção de província é, portanto, responsável também pelo bem-estar do comissariado. Mas acontece que no nosso caso já em termos geográficos há entre a província e o comissariado não somente países, mas todo um oceano. Isso causa uma evidente separação. Esta separação exige por sua vez uma certa autonomia administrativa do comissariado. A administração da província é da responsabilidade do provincial e dos definidores. Mas nestes 25 anos de existência do comissariado nenhum dos definidores em exercício chegou a conhecer pessoalmente esta parte da província, entende-se o comissariado. Esta constatação não é feita para se condenar, mas para demonstrar um pouco a problemática e as dificuldades, que podem surgir devido a esta nossa situação sem acompanhamento. Sobre a relação entre província e comissariado e vice-versa vai-se discorrer um pouco neste capítulo. Do ponto de vista do comissariado em geral deve-se qualificar o relacionamento da província com o comissariado como bom ou até mesmo como muito bom. Sobre o engajamento pessoal da província em favor do comissariado já foi relatado acima. A província neste ponto fez tudo o que era possível. A norma era que os voluntários fossem para o Brasil. Na falta destes, a direção da província teve a coragem de fazer transferências para o Brasil. Mas sempre aconteceu após um prévio acordo com o respectivo candidato previsto. Aquilo que a província fez em termos financeiros pelo

36 Em Straubing fizeram o noviciado todos os padres carmelitas alemães que vieram para o Brasil, com exceção de Frei Agostinho e Frei Paulo Pollmann. Este fizeram em Springiersbach.

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comissariado, deve ser absolutamente citado. Nos primeiros anos a província foi muito reservada neste ponto. Também havia a limitação de que todo o empreendimento ainda não estava claro. Mas olhando de maneira global, nestes 25 anos de existência do comissariado a ajuda financeira da província foi considerável. Primeiramente deve ser dito que todas as grandes construções no comissariado - exceto as igreja - foram financiadas pela província. Para isto no correr dos anos foram enviadas grandes somas de dinheiro da província ao comissariado. Assim por exemplo, a província enviou ao comissariado no triênio 1970-73 a soma de 460.000,00 marcos alemães e no triênio 1973-76 a soma subiu para 550.203,26. Mas nestes números não está contado o dinheiro que nossos missionários pediram durante suas férias na Alemanha através de pregações, palestras, etc e que pessoalmente trouxeram consigo para as missões. O que se fez com o dinheiro no comissariado? Em parte serviu para comprar terrenos. Graças aos donativos da província hoje o comissariado é proprietário de uma fazenda de 275 hectares. Naturalmente também todos os conventos e seminários estão em terrenos próprios. O comissariado possui no momento 6 carros. A compra e a conservação destes veículos são custeadas pela província. Uma grande parte do dinheiro, que chega da província, é destinada às nossas casas de estudo, sobretudo para o noviciado e clericado em Curitiba. Tão ou mais necessário e valioso no que se refere à ligação entre província e comissariado é o contato fraterno. É certo que este contato fica limitado por causa da enorme distância. Que por exemplo um confrade da província possa passar suas férias anuais no comissariado, não é possível por causa do alto custo da viagem. Assim o contato pessoal do lado da província ficou limitado às visitas dos provinciais. Para ilustrar escreveremos uma relação destas visitas. O primeiro a visitar o comissariado foi o P. Jacobus Beck do início de fevereiro ao início de março de 1952. No dia 24 de maio de 1955 viajou para o Brasil P. Adalbert Deckert, que tinha sido eleito provincial em 1952. Em 1958 P. Gundekar Hatzold tornou-se provincial. Já no dia 8 de fevereiro do ano seguinte iniciou sua viagem ao Brasil para durante um mês visitar o comissariado. Seu sucessor, P. Heribert Kümmer, visitou duas vezes o comissariado durante o seu tempo de provincialado. Sua primeira viagem ao Brasil durou de 30 de dezembro de 1964 até 10 de fevereiro de 1965. Uma segunda vez ele se encontrou entre os confrades do comissariado em fevereiro/março de 1969. Na sua companhia desta vez estava o antigo "brasileiro" P. Burkard Lippert, que desde o seu retorno do Brasil para a Alemanha trabalha como eficiente procurador das missões, continuando a trabalhar desta forma pelo comissariado. Também P. Joseph Kotschner, provincial desde 1970, já visitou o comissariado por duas vezes. Sua primeira viagem ao Brasil durou de 31 de janeiro até 28 de março de 1971. No dia 23 de setembro de 1974 encontrava-se uma segunda vez no Brasil. Desta vez ele permaneceu no comissariado durante 9 semanas. Destas, 3 semanas passou em Curitiba, 2 semanas tanto em Paranavaí como em Graciosa e 1 semana em Cidade Gaúcha e Tapira. É claro que todas essas visitas tinham como primeiro objetivo um caráter oficial. Os provinciais vinham para realizar as obrigatórias visitas canônicas. Mas o mais importante no entanto era o contato pessoal com os confrades desta parte da província.

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Neste tempo do P. Joseph Kotschner há também o importante contato com os jovens carmelitas brasileiros. Os confrades no Brasil sempre viram nestas visitas um reconhecimento pelo trabalho realizado e um estímulo para continuarem perseverando. Estes contatos também sem dúvida contribuíram para eliminar eventuais tensões ou pelo menos para amenizá-las. E tais tensões naturalmente existiram. Até 1965 praticamente todas as questões do comissariado, como transferências e nomeações, eram decididas pelo capítulo da província em Bamberg. Após o capítulo provincial de 1964 aconteceu que a grande maioria dos padres do comissariado não ficou suficientemente esclarecida com as decisões tomadas pelo capítulo em relação ao comissariado. As dúvidas foram apresentadas de maneira muito clara à direção da província juntamente com um pedido para que fossem anuladas todas as decisões e para que toda a questão fosse resolvida no próprio comissariado. Foi uma pequena "revolução palaciana". O então provincial aceitou o pedido. Durante a sua visita em janeiro de 1965 resolveu-se toda a questão com calma e em geral se encontrou soluções pacíficas. A paz no comissariado foi novamente restabelecida e renovada a relação de confiança entre a província e o comissariado. Até agora foi falado sobre o contato entre província e comissariado, agora deve-se dizer também algo sobre o contato na direção contrária. As ligações com a província sempre foram cultivadas conscientemente pelos confrades do comissariado. Isto aconteceu principalmente através das regulares visitas à Alemanha. Até 3 anos atrás cada confrade alemão do comissariado tinha o direito de a cada 5 anos passar 3 meses de férias na Alemanha. No momento há a possibilidade de se ir para a terra natal a cada 3 anos. Neste caso o confrade pode permanecer dois meses na Alemanha e deve - para ganhar tempo - ir e voltar de avião (37). Naturalmente esta ida para a Alemanha é em primeiro lugar para se visitar os parentes. Em segundo lugar aproveita-se para se pedir ajuda para o trabalho no Brasil. Além disso também cada um dedica um tempo para os contatos com os confrades da província. Dessa maneira os confrades na Alemanha podem de primeira mão se informarem a respeito do comissariado. De outro lado os confrades do comissariado têm também a oportunidade de se inteirarem da situação e dos problemas que a província está vivendo. Muito claramente estes encontros pessoais contribuem para evitar um possível distanciamento (desinteresse) entre os irmãos de cá e de lá. Deverá passar ainda muito tempo até que o nosso comissariado no Brasil possa se tornar uma província autônoma. Até lá só se pode desejar que o bom relacionamento entre ambas as partes da província continue assim e que se possível melhore ainda mais. Isto é importante também sob o ponto de vista dos confrades brasileiros que pertencem ao comissariado. 37 Até este tempo a viagem de navio era mais barata e podia-se levar muita bagagem, por isso era mais utilizada. Pouco tempo depois a situação se inverteu e ficava mais barato utilizar avião. Hoje nem se pensa mais em se ir de navio.

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8) DO ONTEM PARA O HOJE - DOMINGO, 29 DE AGOSTO DE 1976 O primeiro "ontem" na história do nosso comissariado é o dia 29 de agosto de 1951. Foi o dia quando dom Geraldo Proença Sigaud, bispo de Jacarezinho, conduziu o nosso Frei Ulrico até uma mapa de sua diocese e ali com o dedo contornou uma enorme região dizendo: "Isso que estou mostrando ao senhor é uma paróquia só. O senhor quer esta paróquia para a sua Ordem?" Sem hesitar, Frei Ulrico disse que sim. Isso é o histórico motivo pelo qual nós festejamos o jubileu dos 25 anos do comissariado no dia 29 de agosto de 1976. Mas havia também um motivo prático. O dia 29 de agosto deste ano era o 5º domingo do mês. Como o mês normalmente só tem quatro domingos, no 5º domingo nunca se planeja ir para as capelas. Um 5º domingo no mês vale por isso para os nossos padres como um domingo "mais livres". Um jubileu pode ser comemorado de várias maneiras. Pode acontecer num íntimo recinto familiar ou junto com hóspedes convidados. No nosso caso não sei propriamente o que devo dizer... Foi celebrado num íntimo recinto familiar com alguns convidados. Só que nosso íntimo recinto familiar abrangia aproximadamente 2.500 pessoas! Naturalmente este número não deu-se por causa de uma "milagrosa multiplicação dos carmelitas", mas porque queríamos comemorar o "sim" dado 25 anos antes. "Sim, nós carmelitas queremos ser os pastores desta paróquia", disse Frei Ulrico a dom Geraldo. Portanto era justo que a festa fosse realizada junto com os fiéis confiados a nós. Primeiro convidamos o povo para se alegrar conosco, porque um dos nossos clérigos teve a coragem de responder um grande SIM ao chamado de Deus. Durante a missa transmitida pelo rádio às 8h30 o nosso Frei Wilmar Santin emitiu seus votos solenes. Frei Ulrico o batizou, quando era ainda nenezinho no dia 26 de fevereiro de 1953 em Nova Londrina - na época ainda era capela de Paranavaí. Como o menino no batismo já tinha 4 meses, a sua mãe podia estar presente. E porque uma mãe, principalmente em ocasiões tão festivas, está sempre atenta ao que acontece com seu filho, a sua mãe sabe ainda hoje com segurança contar a seguinte história: durante o batismo o pequeno Wilmar agarrou a estola do padre e começou a dar puxões. Por isso Frei Ulrico profetizou: "Este menino vai ser um padre como eu!" Será que esta "profecia" não estimulou a boa mãe para oferecer a Deus este menino entre os seus 5 filhos (38)...? Os votos foram recebido por dom Eliseu Gomes de Oliveira, bispo de Caetité, Estado da Bahia. Ele foi noviço do Frei Ulrico em Pernambuco. Dom Eliseu em 1968 foi nomeado bispo auxiliar de Maceió e desde 1974 é bispo de Caetité. Só 25 anos de história e já tanta "história"...! O povo participou ativamente da celebração. Muitos pensaram que fosse uma ordenação sacerdotal. Também não era para menos, pois além de não se ter dado maiores esclarecimentos e a celebração foi presidida por um bispo, um jovem frade ficou 38 Dona Ester Maria Santin, casada com Arlindo Santin, é mãe de 9 filhos (Valdir, Valdomiro, Vani, Wilmar, Vitalino, Vilma, Marli, Valter e Viviane).

Frei Joaquim Knoblauch, O.Carm.

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de pé falando e respondendo ao bispo, até mesmo durante algum tempo ficou prostrado no chão, enquanto o coral cantava a ladainha de Todos os Santos... Só podia ser uma ordenação sacerdotal! Os votos perpétuos de Frei Wilmar foi um grande presente que Deus nos deu justamente neste dia. Presente muito simbólico para o povo, para os carmelitas e para a Igreja. Finalmente um do meio deles, um que nasceu naquela região, um que deve seu chamado de Deus aos carmelitas. Mais claramente ficou evidente a solidariedade dos fiéis de Paranavaí com seus padres na grande celebração à noite. Em torno de 2.500 pessoas superlotavam toda a igreja, quando às 19h30 foi iniciada a missa solene com uma grande procissão de entrada. Na frente da fila estavam nossos clérigos vestidos com a capa branca, atrás 12 padres e por último os dois bispos, dom Benjamin de Sousa Gomes de Paranavaí e o já mencionado bispo carmelita dom Eliseu. Numa eletrizante homilia marcada pelo verdadeiro temperamento brasileiro, dom Eliseu recordou aos carmelitas a necessidade de como verdadeiros filhos do Profeta Elias servirem de mediadores no mundo daquilo que o próprio mundo precisa: exemplo e auxílio para uma nova opção radical pelo Deus único e verdadeiro, ou seja aquilo que Elias fez no Monte Carmelo! Dom Eliseu também não economizou palavras de agradecimentos ao seu antigo mestre de noviços Frei Ulrico, o qual com palavras e exemplos soube tão bem introduzi-lo na vida carmelitana. Dom Eliseu é bispo numa diocese que passa por muitas dificuldades. Sua diocese não tem nem 20 padres. Muitas vezes manifestou-nos a sua admiração: "O que vocês fizeram para que o povo chegue até vocês?" O presidente da celebração foi o bispo diocesano de Paranavaí. Ele tem consciência de que é na sua diocese o sucessor dos carmelitas. Como em todas as missas na nossa igreja ele não deixou - e desta vez de maneira especial - de fazer menção ao nosso Frei Rafael Mainka, que diretamente de baixo do altar-mor tem a sua sepultura. Para o bom dom Benjamin cada vez esta memória é mais um "memento sanctorum" (momento dos santos) do que "memento mortuorum" (momento dos mortos). Em torno de 1.000 fiéis receberam o Corpo de Cristo durante a missa. Até o final desta celebração festiva o povo era nosso convidado. Depois a situação se inverteu. Os líderes da Paróquia São Sebastião convidaram os carmelitas para um banquete no grande salão do centro comunitário diocesano, que foi construído e no momento é administrado pelo vigário geral Frei Alberto Först. Fora os carmelitas, foram convidadas pessoas de todas as camadas. Havia um total aproximado de 150 pessoas, entre as quais naturalmente estavam alguns "figurões" da cidade. O senhor prefeito e seu antecessor, funcionários públicos, médicos, advogados, representantes de todas as associações católicas e dona Maria Mallmann, que por muito anos foi a cozinheira dos padres que falava alemão. Quando o escritor destas páginas no dia 2 de junho de 1962 chegou um pouco antes do almoço em Paranavaí, havia sobre a mesa "Klöße" (39) como prato de boas vindas. 39 Uma comida típica da região de Bamberg.

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O advogado Athos Budó fez o discurso oficial, no qual enalteceu os grandes serviços prestados pelos carmelitas alemães à cidade e ao povo de Paranavaí. "Também pelo esforço e trabalho dos carmelitas Paranavaí tornou-se o que é hoje: uma cidade não só em ascensão econômica, mas também um cidade onde está estampada a mensagem de Cristo, que foi pregada durante 25 anos pelos padres carmelitas alemães". Dom Benjamin é um orador nato e gosta de falar! Seu discurso durante o jantar merece o predicado de "clássico". Sua alocução teve como ponto culminante a afirmação: "Eu tenho a melhor diocese de todo o Brasil e isso graças aos carmelitas!" Mais do que isso não pode ser dito... Se todos esses elogios foram aqui registrados, de modo algum o foram para servir de auto-incensação. Mas é porque, naquela situação por detrás dos superlativos usados de maneira tão natural e sincera, nós sentimos fortemente que, com a graça de Deus, conseguimos dar ao povo católico de Paranavaí e região aquilo que só um padre e religioso podia dar. Que Deus nos ajude para que não diminuamos o nosso zelo e para que mais do que até agora, a exemplo do nosso Profeta Elias e da sublime Padroeira da nossa Ordem, procuremos realizar o ideal do Carmelo e com isso dos carmelitas: "Deus vive e nós estamos a seu serviço". Os comissários no Brasil durante os 25 anos 1951 - 1955 = Frei Ulrico Goevert - superior das missões 1955 - 1958 = Frei Ulrico Goevert 1958 - 1964 = Frei Alberto Först 1964 - 1970 = Frei Matias Warneke 1970 - 1976 = Frei Alberto Först 1976 - 1982 = Frei Joaquim Knoblauch 1982 - 1988 = Frei Bruno Doepgen 1988 - 1990 = Frei Afonso Pflaum 1990 - 1996 = Frei Wilmar Santin 1996 - 2002 = Frei Josué Ghizoni 2002 - = Frei Edmilson Borges de Carvalho

Frei Joaquim Knoblauch, O.Carm.

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ÍNDICE PREFÁCIO ............................................................................................................................... 02 OS 25 ANOS DOS CARMELITAS DA PROVÍNCIA GERMANIAE SUPERIORIS NO BRASIL ........................... 03 1) NOS PASSOS DOS PAIS ................................................................................................... 04 2) QUEM QUER IR PARA O BRASIL? ................................................................................... 05 3) O CONVENTO DA PARÓQUIA DE PARANAVAÍ .............................................................. 07 4) O "SEMINÁRIO DA MATA VIRGEM” ................................................................................. 15 5) A PARÓQUIA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS DE GRACIOSA ................................ 18 6) OLHAR PARA O FUTURO .................................................................................................. 21 7) PROVÍNCIA: COMISSARIADO - COMISSARIADO: PROVÍNCIA ................................. 24 8) DO ONTEM PARA O HOJE - DOMINGO, 29 DE AGOSTO DE 1976 ............................ 27