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OS CENTENÁRIOS

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OS CENTENÁRIOSCRÔNICA PARA CEARENSES... NA

TERCEIRA IDADE)

Desde o final do ano de 1993, o Brasil, (ou melhor: São Paulo), está comemorando com muito estardalhaço o centenário de Mário de Andrade dando excessivo destaque através da mídia ao MODERNISMO na poesia brasileira. Até o Eduardo Campos, aqui em Fortaleza, embarcou nessa canoa com suas crônicas no DIÁRIO DO NORDESTE, tecendo um montão de elogios ao Mário e falando da intimidade que sempre houve entre ambos. (Que tipo de intimidade, e em que grau? Precisamos saber dessa história tintim por tintim.)

A palavra de ordem desse movimento em 1922 era, principalmente, um NÃO ao convencionalismo e aos moldes estrangeiros. "Fora com os parnasianistas! Fora com a temática importada! Fora com os assuntos helênicos! Fora com a retórica! Fora com a sintaxe portuguesa! Fora com as influências francesas! Fora!!!”

Mário de Andrade, Oswald de Andrade (aquele dos muitos casamentos, inclusive, um deles com a Pagu) e outros nomes engrossaram as hostes do movimento modernista paulista de 1922. Mas, qual o motivo de todo esse faniquito sobre o Mário de Andrade? Apenas por ser o Brasil, hoje, uma autêntica MACUNAÍMA? Ou existe outro motivo por baixo dos panos? Quem foi verdadeiramente esse

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Mário de Andrade?

Ao que se sabe uma bichona paulista internacional. Até foi reverenciado com nome de mictório (O Mariozinho) no centro da cidade de São Paulo, onde costumava fazer o "trotoir". Vivia numa boa, vez por outra pegava um transatlântico "pras oropa" - acabando por se instalar em Paris - e, em lá chegando, dava mais do que chuchu na cerca.

Por outro lado, também no mesmo ano de 1993, foi comemorado de modo mais discreto o centenário do SIMBOLISMO como movimento oficial no pais. O Prof. Wellington de Almeida Santos, decano de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio de Janeiro, declarou ao GLOBO que já está passando da hora de se reavaliar os diversos movimentos literários do país. O Simbolismo, do ponto de vista da realização artística, defende ele, “tem muita coisa a ser recuperada do que propriamente o Modernismo”.

Nas pegadas dessa “recuperação”, posicionou-se em tempo hábil a Casa de Cultura Juvenal Galeno, em Fortaleza (Ceará), quando decidiu promover a imagem de seu poeta-título, editando toda a sua magnífica obra em dois lindos compêndios: CANTO AO AMOR e LOUVOR À JANGADA, sob a coordenação de Henriqueta Galeno, filha de Juvenal, e poetisa de peso no cenáculo cearense.

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Juvenal Galeno, poeta simbolista e, ao contrário do Mário de Andrade, “macho pra cara ... mba!” é um grande vulto da história das artes no Ceará. Teve sua memória cultuada em Fortaleza através de uma Avenida, de um Grupo Escolar, uma Lagoa, e mais recentemente um Favelão - todos levam seu nome.

Em tempo: ele nada tem a ver com aquele "médico-galeno" da velha Crestomatia do Curso Primário:

"Um galeno foi à caça, Encontrou um passarinho. Espera lá que eu te curo. E matou o coitadinho."

Juvenal Galeno, em estatura um verdadeiro "tampinha do narigão", (no bom sentido, é claro!), como simbolista pautou sua exuberância poética pela simplicidade. Assim, ao concatenar em dois volumes toda a sua poesia, Henriqueta, muito inteligentemente, reergueu a imagem de seu pai, poeta-mor, que dedicou toda a·sua pujança amorosa à terra natal, à natureza nordestina, ao sertanejo, ao povão.

Cada compêndio foi impresso com 200 páginas. Nas primeiras 199 páginas de cada um deles foram destacados comentários diversos, impressões, louvainhas ao poeta maior por parte dos intelectuais seus contemporâneos ou mesmo admiradores, num registro para as futuras gerações do quanto ele era estimado e reverenciado na comunidade dos

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homens de letras de seu estado natal. Finalmente, na du-cen-té-si-ma página, atente para o detalhe: na ducentésima página somente, de forma grandeloquente, é apresentada sua obra poética completa.

No CANTO AO AMOR, o cajueiro foi escolhido pelo bardo para simbolizar todo o seu sentimento. Trata-se de uma árvore de grande porte, galhos muito abertos e frondosa sombra. Na época do fruto, toda ela fica colorida pelos cajus, entre sua folhagem espessa de um verde forte. O caju é consumido como fruta, como suco, como várias espécies de doces, como rapadura e também como complemento da cozinha regional, substituindo a batatinha, a cenoura, e outros mais em ensopados. A sua castanha é por demais apreciada e, em verdade, ela é que é o fruto, por assim dizer, sendo o caju em si considerado como seu apêndice secundário.

No entanto, a humildade do vate fixou o cajueiro-anão, raquítico, cultivado mais como raridade e exemplo exótico de contraste ao cajueiro tradicional, para, através dele, ser enaltecido e perpetuado todo o simbolismo do amor deste "pequeno grande poeta" ao torrão natal, ao cajueiro que, com seus frutos abençoados, constituiu-se num sustentátulo da sobrevivência do nordestino, e a tudo o mais que ele simboliza no contexto de vida do Ceará.

Indo diretamente à ducentésima página de CANTO AO AMOR lê-se:

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(Início) “CAJUEIRO PEQUENINO, CARREGADINHO DE FLOR, EU TAMBÉM SOU PEQUENINO, CARREGADINHO DE AMOR.”

(Fim)

Numa entrevista ao monumental CAIO CID do CORREIO DO CEARÁ, o poetinha Juvenal Galeno justificou a tendência globalizante do simbolismo poético no sentido de “resumificar”, de sintetizar o texto.

E acrescentou: “Se eu tivesse escrito OS LUSÍADAS, ou mesmo a ILÍADA, o teria feito em 30 estrofes, no máximo. No passado, escrevia-se MUITO TEXTO sobre POUCO TEMA, enquanto que o SIMBOLISMO, nos tempos atuais, reverteu essa tendência: hoje, escreve-se UM NADINHA acerca de TUDO". Dai, fica explicado seus poemas serem o que são.

No segundo tomo de suas OBRAS COMPLETAS - LOUVOR À JANGADA - ele cantou a saga da jangada, obviamente. Seguindo a vertente do conciso, com uma só cajadada o vate acertou vários coelhos. Porque quem louva a jangada, enaltece o jangadeiro - figura de Dragão do Mar, baluarte da abolição da escravatura no estado, da abertura dos portos no Ceará, movimento precursor da abertura dos portos no Brasil. É de fato uma homenagem ao bravo jangadeiro que enfrenta os estos do mar (como diria

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Eça de Queiroz) com destemor e com bravura inaudita em defesa de sua cachacinha de cada dia e, também, do pirãozinho com peixe para a "mulér" e sua "meia-dúzia" de vinte "bruguelos"; isto, sem contar aqueles anjinhos que o Todo Poderoso levou em boa hora para a Glória dos céus, por antecipação.

(Início)

“DIZEI-ME LINDA JANGADA, QUE VENTOS QUEREIS LEVAR? DE DIA, VENTOS DE TERRA: DE NOITE, VENTOS DO MAR." (Fim)

Na obra deste poeta, o que há de mais dramático é a sua capacidade de cantar o amor, de louvar a tenacidade do homem do mar, enfim, de exaltar toda a glória de uma raça de modo singelo e resumido. Fala-se que o poeta só é grande se sofrer. E ele sofreu toda a miséria das secas, toda a fome dessa gente pobre, nômade, e toda a frustração de não poder ter dado um BASTA em todo esse sofrimento. Portanto, foi um "PEQUENO GRANDE". No governo municipal do prefeito Vicente Fialho, em Fortaleza, organizou-se mais uma justa homenagem ao "Pequeno Grande", como era carinhosamente chamado na roda de admiradores. A Prefeitura mandou restaurar e inaugurou em seu nome uma praça na Aldeota (bairro nobre da cidade)

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entre a Escola Normal Justiniano de Serpa e o Colégio da Imaculada Conceição. Recebeu a denominação de "Praça do Pequeno Grande". E o povo reconhecido extrapolou, passando a chamar um templo católico centenário existente nessa praça, pegado ao Colégio da Imaculada, como "Igreja do Pequeno Grande".

A cerimônia de inauguração teve, como é praxe, palanque instalado para as autoridades e convidados especiais. Houve muito discurso, banda de música e, no final, a apresentação ao público da estátua do bardo em tamanho natural, em um pedestal erguido bem no centro da praça. Sua obra poética foi eternizada em bronze no concreto do pedestal. Acontece que, segundo opiniões diversas, o escultor exagerou nas dimensões do nariz do vate. Que o mesmo era grande, sabiam-no. Mas, o escultor exagerou um pouco nesse particular. O fato deu origem a comentários sarcásticos, tais como: “A fama de 'Pequeno Grande' resulta dele ser tão pequeno com um nariz tão grande".

A imprensa, como não poderia deixar de ser, também exagerou nas entrevistas. E, os entrevistados exageraram em suas declarações. Artur Eduardo Benevides, da Academia Cearense de Letras, eleito" substituto de Carlos Luz, o príncipe dos poetas cearenses, caprichando na retórica, falou assim de Juvenal Galeno para os repórteres: “A assimilação experimental cronológica indutiva, caracteriza sua obra, um autêntico kabuki sacramental barroco- simbolista.

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Num efeito atomizado, ela demonstra que a dialética poética pós-aristotélica não nega os valores da ética estóica patrista”. Fran Martins, do Pen-Clube Cearense, para não ficar atrás, acrescentou que: "Ela é um segmento sequencial contínuo de transparência linear reflexiva. Performance factual imética de conotação atemporal“. Raquel de Queiroz, recém-chegada da Europa, especificamente dos países nórdicos, quase sussurrando, declarou: "Mais parece uma reverberação da tradição mítica tribal, com invocação de lendas primitivas propiciatórias visigóticas”. E, por sua vez, o prefeito Vicente Fialho, meio encabulado, confessou que não entendia de poesia, era apenas um "tocador de obras". No entanto, em sua fraca opinião de leigo no assunto, "0 bardo retratou em sua poesia uma moral idealista numa gestalt epicurista de razão utópica platônica". Rogaciano Leite, poeta popular repentista, com coluna diária na primeira página do jornal O ESTADO, escrita versificada sob o titulo COMENTÁRIO DO DIA, mandou sua brasa: "Nariz, nariz, e nariz Nariz que Newton não quis Traçar a diagonal. Nariz que se o cálculo não erra, Posto entre o Sol e a Terra Faria eclipse total."

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Stênio Azevedo, jornalista dos Diários Associados, ligado à divulgação dos concursos de MISS no estado, (inclusive, lançou um livro sobre a trajetória delas no cenário brasileiro), tendo a tiracolo Arionice Marichongas, mais conhecida como Nicinha, Miss Ceará, lamentou para o repórter: “Que o concurso para MISS andava sendo um tanto esvaziado no Brasil de hoje. Pois, não ficaria surpreso, se num futuro próximo, o Concurso de Miss Brasil passasse a ser realizado na Bolívia”.

Por outro lado, Jáder de Carvalho, figura mítica dos pleitos comunistas no estado, ferino, proprietário do DEMOCRATA, tribuna denunciadora do apadrinhamento político existente em toda e qualquer ação governamental, cobriu o evento em seu jornal, não sem antes afirmar que tudo aquilo se tratava de uma dança convencional da vaidade, uma enganação, uma mixórdia!

Mas nem tudo é alegria na vida. Machado de Assis, em Esaú e Jacó, menciona que “na felicidade presente há sempre uma gota da baba de Caim”. Juvenal Galeno, segundo depoimento de Jáder de Carvalho em seu jornal, não teve registradas suas últimas palavras, como todos os grandes vultos da História merecem. Ele se encontrava moribundo em seu leito de morte, (por sinal, uma rede), sua filha dileta Henriqueta a seu lado, lápis e caderno a mão para anotar suas últimas palavras, quando de repente ele fala: “Rriqueta! Traz o pinico! ... “

E morreu !...

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Aliás, por falar em Henriqueta Galeno, lembro-me de ter sido ela protagonista de um desastre editorial no O POVO, no dia da inauguração da estátua de Iracema na Praia do Mucuripe. Ora, conforme ensina qualquer lusitano, o inesperado somente acontece quando menos se espera. Porque "o esperado" seria que o monumento à "virgem dos lábios de mel" fosse erguido na Praia de Iracema. Dai a imprensa ter baixado o sarrafo na Prefeitura com o início das obras da estátua na Praia do Mucuripe. A distância entre as duas praias é da ordem de seis quilômetros.

O porta-voz da Prefeitura deu uma coletiva para explicar que tal distância era desprezível. José de Alencar havia presenciado a bela índia, após seu banho de mar matinal, canela fina e pé ligeiro, dar uma "esticadinha" até a BICA DO IPÚ, distante apenas 400 quilômetros de Fortaleza, para "tirar o sal da pele", encher a moringa com água para o português Soares Moreno, seu maridão, e ... Pernas pra que te quero, regressar a tempo de preparar o almoço do gajo e amamentar o Caubi, filho do casal.

Voltando à inauguração da estátua de Iracema no Mucuripe, a data coincidiu com a abertura da sede praiana da Casa de Cultura Juvenal Galeno, próximo dali. O POVO deu cobertura a um e outro eventos. Só que "bolou as trocas" na publicação das fotos em sua primeira página. A foto de Iracema (vestida de penas) saiu com a legenda: "Henriqueta Galeno no Mucuripe". A foto de Henriqueta (de terninho):

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"Iracema no Mucuriipe". Deu o maior bode. A edição do jornal foi toda recolhida já nas bancas.

Ah! Meu Ceará!...