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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE GABRIELA SARAIVA RESENDE E SILVA OS CONFLITOS ENTRE EL SALVADOR E HONDURAS E A GUERRA DO FUTEBOL Belo Horizonte 2014

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE

GABRIELA SARAIVA RESENDE E SILVA

OS CONFLITOS ENTRE EL SALVADOR E HONDURAS E A GUERRA DO FUTEBOL

Belo Horizonte 2014

GABRIELA SARAIVA RESENDE E SILVA

OS CONFLITOS ENTRE EL SALVADOR E HONDURAS E A GUERRA DO FUTEBOL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário de Belo Horizonte, à obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais. Orientadora: Daniela Paiva de A. Pacheco

Belo Horizonte 2014

Meus sinceros agradecimentos a minha

orientadora, Daniela Paiva, por todo o

conhecimento compartilhado durante a realização

desse trabalho e aos professores que guiaram

nossos caminhos até aqui.

RESUMO

El Salvador e Honduras são Estados que, desde o período da independência, se

enfrentaram por problemas de cunho territorial, migratório, econômico e político. Até

a década de 1960, várias foram as tentativas de resolver, de forma pacífica, as

controvérsias que surgiram entre os países, porém não se obteve sucesso. Em julho

de 1969, após disputarem uma vaga para a Copa do Mundo de 1970, El Salvador e

Honduras iniciaram um conflito que ficou conhecido como a Guerra do Futebol, cujo

resultado foi a morte de aproximadamente duas mil pessoas, principalmente civis. À

luz da teoria construtivista de Alexander Wendt, a autora busca fazer uma análise do

histórico de conflitos que ambos os Estados enfrentaram anteriormente à Guerra do

Futebol. Posteriormente, busca entender a importância do futebol como elemento da

identidade e cultura de El Salvador e Honduras, a sua importância na eclosão da

Guerra do Futebol e quais foram os resultados, para ambos os Estados, da guerra

em questão.

Palavras-chave: Identidade. Cultura. Conflito. Construtivismo. Futebol.

ABSTRACT

El Salvador and Honduras are States that, since the independence period, fought for

territorial, migration, economic and political issues. Until the 1960 decade, there were

many attempts to try to solve, in a pacific way, the controversies that existed between

the countries, even though they were not successful. In July 1969, after disputing for

a place in the 1970 World Cup, El Salvador and Honduras started a conflict known as

the Soccer War, which resulted in the death of approximately two thousand people,

mainly civilians. Based on Alexander Wendt’s constructivist theory, the author wills to

analyze the conflicts history that both States faced before the Soccer War.

Subsequently, yarns to understand the importance of soccer as an identity and

culture element of El Salvador and Honduras, it’s importance to the outbreak of the

Soccer War and which were the results, for both States, of the war in question.

Key words: Identity. Culture. Conflict. Constructivism. Soccer.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Dados demográficos: El Salvador em comparação a outros Estados da

América Central .........................................................................................................17

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa de ponto de disputa fronteiriça entre El Salvador e Honduras .......16

Figura 2 – Slogan pró-guerra impresso em Honduras contra os salvadorenhos ......31

LISTA DE SIGLAS

ANACH – Asociación Nacional de Campesinos Hondureños

CIDH – Comissão Interamericana de Direitos Humanos

FENAGH - Federación Nacional de Agricultores y Ganaderos de Honduras

FIFA - Fédération Internationale de Football Association

INA – Instituto Agrário Nacional

MCCA – Mercado Comum Centro-Americano

ODECA – Organização dos Estados Centro-Americanos

OEA – Organização dos Estados Americanos

ONU – Organização das Nações Unidas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO - AS CARACTERÍSTICAS DOS CONFLITOS ENTRE EL SALVADOR E HONDURAS E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ........................... 9

1.OS CONFLITOS ANTERIORES À GUERRA DO FUTEBOL ................................. 14

1.1 As questões territoriais ........................................................................................ 14

1.2 A situação econômica e política nas décadas de 1950-60 .................................. 19

2. A GUERRA DO FUTEBOL .................................................................................... 23

2.1 Futebol como identidade cultural ......................................................................... 24

2.2 O estopim para o conflito e a Guerra do Futebol ................................................. 26

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 35

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 39

9

INTRODUÇÃO - AS CARACTERÍSTICAS DOS CONFLITOS ENTRE EL

SALVADOR E HONDURAS E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

A história do futebol aponta diversos momentos em que ele se tornou um elemento

minimizador de problemas entre identidades diferentes. Podemos tomar como

exemplo os árabes e os israelenses, povos que ocupam o mesmo território, que

encontraram no esporte um ponto para tornar menos complicada a convivência entre

eles (LEITE, 2010).

Por outro lado, há partidas de futebol consideradas como estopins para grandes

desentendimentos, como o jogo entre Estrela Vermelha de Belgrado1 e Dínamo

Zagreb2, visto como o início do processo de independência da Croácia (VENTURA e

JUWER, 2011). Após a separação as rivalidades permaneceram, mas dentro de

cada país (ALMEIDA, 2012).

O esporte tem, cada vez mais, se relacionado com as questões de nacionalismo e

identidade, tornando-se parte da cultura, da política e da economia dos mais

diversos países do mundo (AGOSTINO, 2002). Na América Latina, em específico, o

esporte parece ter ganhado dimensões ainda maiores, sendo muito mais do que

apenas uma prática de diversão, servindo até de inspiração para a literatura (RINKE,

2007).

O que será observado durante este trabalho é que em Honduras e El Salvador essa

realidade não foi diferente, tendo problemas de cunho geopolítico e histórico

transbordado para dentro dos campos de futebol durante as eliminatórias para a

Copa do Mundo de 1970, momento conhecido como a “Guerra do Futebol” ou

“Guerra das Cem Horas” (KAPUSCINSKI, 2008).

Como referencial teórico deste trabalho, utilizaremos o construtivismo, teoria que foi

introduzida às relações internacionais em 1989, por Nicholas Onuf, em seu livro

1 Segundo o site oficial da equipe, o Estrela Vermelha Futebol Clube foi fundado em 4 de março de 1945,em Belgrado, Sérvia. Disponível em <http://www.crvenazvezdafk.com/en.html>. Acesso em 8 de novembro de 2014. 2 Segundo o site oficial da equipe, o GNK Dinamo Zagreb foi fundado em 26 de abril de 1945, em Zagreb, Croácia. Disponível em <http://gnkdinamo.hr/>. Acesso em 8 de novembro e 2014.

10

“World of Our Making – Rules and Rule in Social Theory and International Relations”.

Porém, nos basearemos nas publicações de Alexander Wendt, uma vez que o autor

reforçou a importância dos conceitos de identidade e de cultura para as Relações

Internacionais, considerando-os tão importantes quanto às esferas políticas e

econômicas (WENDT, 1999).

De modo geral, o construtivismo surgiu como uma resposta às teorias dominantes

que negligenciavam temas de cunho social, inerentes às relações internacionais,

como a influência da relação de identidade e cultura na formação do interesse

nacional e nas tomadas de decisão do Estado – principalmente a vertente de Wendt

(1992). Em suma, “o principal objetivo do construtivismo é, portanto, fornecer

explicações tanto teóricas quanto empíricas de instituições sociais e da mudança

social com o auxílio do efeito combinado de agentes e estruturas sociais.” (ADLER,

1999, p. 210).

O principal debate no seio da teoria é de natureza ontológica/epistemológica: a

questão é mais sobre a natureza do estudo, o que envolve tanto as relações

internacionais, quanto outras ciências sociais. Nas relações internacionais, o debate

se refere aos agentes e estruturas e em que medida as ações de um constrange ou

limita as ações do outro, o que Nogueira e Messari (2005) chamam de antecedência

ontológica: quem tem precedência em relação ao outro.

Os construtivistas negam a antecedência ontológica, para eles agentes e estruturas

são co-construídos, ou seja, a construção tanto do “mundo lá fora” quanto do saber

que se constrói a partir dele é fruto da interação entre os agentes e as estruturas

sociais (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). Para Adler (1999), tanto em relação à

ontologia quanto à epistemologia, o construtivismo se coloca no meio termo entre o

materialismo e o idealismo, e a agência individual e a estrutura social.

Outras duas premissas que são comuns a muitos construtivistas dizem respeito à

anarquia como uma estrutura que define a disciplina de Relações Internacionais

(regras e normas que norteiam as relações internacionais se tornam objeto de uma

disciplina) e a outra, decorrente desta, é que a anarquia internacional é socialmente

construída em um processo permanente, o que permite a contínua possibilidade de

mudança (NOGUEIRA; MESSARI, 2005).

11

Em seu artigo “Anarchy is What States Make of It” (1992), Wendt deixa claro que seu

objetivo, enquanto autor construtivista, era criar uma ponte entre as tradições

teóricas dominantes. Essa ponte reside no fato de que, apesar de seus argumentos

serem apoiados na Teoria Social, ele não abre mão do caráter científico de sua

produção.

Para Wendt, o “mundo lá fora” é uma construção social, considerando-o como

produto das ideias e dos valores dos agentes que o constroem. Os valores que

guiam as ações dos agentes devem ser analisados de maneira endógena, senão a

teoria é incompleta (WENDT, 1992). Sua proposta de trazer as explicações sobre a

formação das ideias e dos valores dos agentes para a análise parte de seu interesse

em completar ou suprir as deficiências das teorias tradicionais (NOGUEIRA;

MESSARI, 2005).

Wendt acredita na premissa da co-construção e no fato de se tratar de um processo

contínuo e permanente, assim como a maioria dos construtivistas o fazem. Quanto

às instituições, Wendt afirma que é a eficiência futura das instituições que deve

governar seu desenho institucional e não seu passado. Em seus artigos, ele trata de

reforçar a negação da antecedência ontológica, porém, defende a centralidade dos

Estados nas relações internacionais, apesar de não os considerar atores únicos. Ele

deixa claro que as relações internacionais revelam a importância tanto dos agentes

quanto da estrutura na qual eles estão inseridos (WENDT, 1992). Por seu

posicionamento quanto à importância dos Estados, a vertente teórica de Wendt é

tida como um construtivismo centrado no Estado3.

Wendt concorda que a anarquia é uma construção social, argumentando que esta

não é uma lógica una e fixa, que enquanto construção, ela é o que os Estados

fazem dela. A anarquia pode ser revertida em conflito ou em cooperação de acordo

com os interesses dos Estados. O teórico afirma a existência de três culturas

anárquicas: a hobbesiana, caracterizada pela cultura da inimizade; a lockeana, que

é uma cultura de rivalidade, competição; e a kantiana, que é uma cultura de

3 Segundo Nogueira e Messari (2005), o estadocentrismo da teoria de Wendt era criticado pelos pós-positivistas, mas considerado a força de sua contribuição no ponto de vista das teorias dominantes.

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amizade, o que significaria que os Estados têm uma predisposição positiva em

relação a outros.

Para Wendt, a cultura pode ser internalizada em três níveis: 1) internalização pela

força (Estados sucumbem à anarquia por motivos de poder e sobrevivência); 2)

internalização por interesses (há um preço a ser pago por aderir ou não a cultura

anárquica); e 3) a internalização por legitimidade (não se cogita outra possibilidade a

não ser a amizade entre os agentes) (NOGUEIRA; MESSARI, 2005). Wendt defende

que é possível a interação entre todos os três tipos de cultura anárquica com os três

níveis de internalização, porém é um tanto quanto contraditório pensar em cultura

kantiana e a internalização pela força.

O conceito apresentado por Wendt é preciso, porém flexível o suficiente para

permitir as transformações e adaptações que, por ventura, ocorram no processo de

interação agente-estrutura. Seu principal argumento quanto à importância do

conceito de identidade reside no fato de que, segundo ele, as identidades são

responsáveis pela formação do interesse nacional que regem as ações dos Estados.

Segundo Wendt (1992), para que o Estado atue no sistema internacional é

necessário que ele defina seu interesse nacional e, para isso, é preciso definir as

identidades que estão em sua origem. Isso não significa que ambos, tanto os

interesses quanto as identidades, não sejam passíveis de mudança.

Neste trabalho, daremos foco à cultura anárquica hobbesiana, devido ao

distanciamento entre El Salvador e Honduras e a relação de antítese que

construíram, cultura essa que teria sido internalizada pelo interesse. O cenário

anárquico faz com que os conflitos entre os dois Estados perdurem e que a

inimizade seja cada vez mais evidente e duradoura.

A contribuição de Wendt e sua visão sobre a importância da identidade para a

relação com os Estados nos leva a entender os motivos pelos quais El Salvador e

Honduras passaram, durante anos, em conflitos territoriais, políticos e como a

Guerra do Futebol se deu no ano de 1969. A disputa entre terras, a luta da

população hondurenha pela reforma agrária e a atitude dos salvadorenhos de

bloquear suas fronteiras foram fatores que se acumularam ao longo do tempo e

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acabaram por reforçar o nacionalismo e a identidade em ambos os lados; o agente

construía sua estrutura tomando como medida o outro.

Logo, o que se pode perceber a partir da contribuição de Wendt é que, apesar de o

conceito de identidade não ser tão amplamente aceito entre os construtivistas, ele

não pode deixar de fazer parte da teoria de Relações Internacionais.

O presente trabalho está estruturado em duas partes, sendo que no primeiro

capítulo, explica-se sobre a rivalidade entre El Salvador e Honduras anteriormente à

Guerra do Futebol e os elementos que teriam sido os reais motivos para a existência

de conflitos. Preocupa-se em esclarecer porque as questões territoriais, de

migração, econômicas e políticas são problemas entre os dois países baseando-se

nas teorias construtivistas.

No segundo capítulo, ressaltamos, a partir da ótica construtivista, a importância do

futebol como elemento da identidade cultural de El Salvador e Honduras e o porquê

o episódio das eliminatórias da Copa do Mundo de 1969 foi o estopim para o início

de uma guerra.

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1. OS CONFLITOS ANTERIORES À GUERRA DO FUTEBOL

A Guerra do Futebol não foi, de fato, o primeiro dos conflitos existentes entre El

Salvador e Honduras. Segundo Hamann (2003), as tensões entre esses Estados

tiveram início em 1821, ainda no processo de independência, ou seja, quando

ambos eram colônias da Espanha. Ficando El Salvador com a menor porção

territorial entre os Estados que se formaram a partir da divisão da Capitania-Geral da

Guatemala, houve diversas tentativas ao longo da história de aumentar suas linhas

territoriais, gerando uma briga, principalmente com Honduras, para que a situação

fosse revista.

Para além dos problemas territoriais, o presente capítulo trata, também, do grande

fluxo de imigrações e dos cerca de trezentos mil colonos salvadorenhos que tinham

estabelecido sua vida em Honduras (SUE-MONTGOMERY; WADE, 2006). Além

disso, a interdependência econômica entre os dois países e a situação política em

que se encontravam durante as décadas de 1950 e 1960 foram grandes geradores

de divergência entre os Estados.

1.1 As questões territoriais

Os problemas territoriais entre El Salvador e Honduras se iniciam ainda no período

da independência. Por diversos momentos, o poder Executivo de cada Estado

adotou mecanismos pacíficos de solução de controvérsias, como a negociação e a

arbitragem, além de assinar compromissos para tentar solucionar os problemas que

surgiam entre as cidades fronteiriças (HAMMAN, 2003).

Várias Convenções foram criadas nos anos de 1869 a 1962, sendo cada país

representado por delegações, com presença de profissionais especializados em

Direito e Agronomia, além de Ministros das Relações Exteriores. Porém, em

nenhuma delas obteve-se sucesso na resolução dos problemas por falta de

consenso entre as partes. A ratificação acabava esbarrando em um dos atores

políticos: ora o poder Executivo não concordava com essas decisões, ora o

15

Legislativo impedia que o trabalho das comissões fosse concretizado pelos Estados

“sob o argumento de que violariam o interesse nacional” (HAMMAN, 2003, p.34).

Segundo Wendt (1999), “o conceito de Interesse Nacional refere-se aos requisitos

de reprodução ou de segurança dos complexos Estado-Sociedade” (WENDT, 1999,

pg. 242, tradução nossa).”4. Ele ainda ressalta que, basicamente, existem quatro

tipos de interesse nacional: a sobrevivência física, a autonomia, o bem-estar

econômico e a auto-estima coletiva. Analisando de acordo com a teoria

construtivista, a atitude do legislativo pode ser justificada pela identidade que foi

construída e definida por cada um dos Estados à medida que interagiam um com o

outro, uma vez que esta é a responsável pela formação do interesse nacional.

A Convenção Bonilla-Veslasco, assinada, em 1895, pelos chefes de delegação

general Manuel Bonilla, de Honduras, e J. Jesús de Velasco, de El Salvador, foi a

que se acreditava que traria maiores resultados e levaria a uma possível resolução

das pequenas disputas territoriais que vinham acontecendo, pois prevê a

composição de uma comissão mista e de um grupo de árbitros caso o trabalho

conclusivo da comissão não venha a ser colocado em prática (HAMMAN, 2003,

p.32).

Porém, mesmo após a assinatura dessa, as comissões formadas não conseguiram

chegar a uma conclusão. Por duas vezes, em 1916 e em 1918, Honduras tentou

chegar a um acordo, a parte salvadorenha insistia em não querer prolongar os

debates ou em ratificar as decisões tomadas.

A falta de solução prolongava os problemas fronteiriços entre cidades de El Salvador

e Honduras, como na região do Golfo da Fonseca, Dolores, Nahuaterique,

Tepangüisir, Goascorán e Ocotepeque, que permaneciam em conflito (WILLIANS,

2009, p. 129). O problema perdurou por tanto tempo que, em 1986, a Corte

Internacional de Justiça recebia uma solicitação das duas partes para abrir o

contencioso de “Diferença Fronteiriça Terrestre, Insular e Marítima” 5, cujo parecer,

emitido em 1992, auxiliava na divisão das fronteiras em pontos questionados pelos

4 “The concept of national interests refers to the reproduction requirements or security of State-society complexes” (WENDT, 1999, pg. 242, tradução nossa). 5 INTERNACIONAL COURT OF JUSTICE. Land, Island and Maritime Frontier Dispute (El Salvador/Honduras: Nicaragua intervening). Disponível em: <http://www.icj-

cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&code=sh&case=75&k=0e&p3=0>. Acesso em datas variadas, entre mar./out.. 2014. Sentença de 11 de setembro de 1992, p.351.

16

Estados e, principalmente, buscava solucionar divergências quanto às ilhas do Golfo

da Fonseca e da região do rio Goascorán (BRANT; GODINHO, 2006, p.72).

Agravante a essa situação, estavam os problemas de migração de salvadorenses à

Honduras, principalmente a partir da década de 1940, época em que por toda a

América Central iniciaram-se movimentos de busca a uma vida em que não fossem

beneficiados economicamente apenas os mais ricos e de novas oportunidades

(FOSTER, 2007, p.206). Segundo Batista e Parreira,

A migração é o movimento de entrada de pessoas, com ânimo permanente, de um país para outro, ocorrendo geralmente por iniciativa própria, tendo como objetivo diversos motivos, como melhores condições de vida e de trabalho. Esse deslocamento pode também ocorrer por motivos alheios à vontade dos imigrantes (BATISTA; PARREIRA, 2013, p. 376)

O problema da migração de salvadorenhos perpassa não somente pelos problemas

territoriais, mas também na busca de melhores condições de vida uma vez que

Honduras prosperava no setor agrícola e oferecia oportunidades de trabalho, e para

Figura 1 – Mapa de ponto de disputa fronteiriça entre El Salvador e Honduras

Fonte: Google Maps (adaptado), novembro de 2014. A área mostra parte da fronteira entre El Salvador e Honduras, com destaque para o Golfo da Fonseca e a cidade de Goascorán, grifadas em vermelho.

fugir dos grandes problemas políticos que surgiram (HAMMAN, 2003, p. 56)

seção, abordaremos apenas as questões territoriais que influenciavam a migração,

sendo que as demais

esclarecimentos quanto

Com uma área menor que a de

cada vez mais. Segundo

habitantes por quilômetro quadrado e uma distribuição de terras desigual, a situação

hondurenha era de 20 habitantes por quilômetro quadrado, o que acaba sendo mais

um motivo para os salvadorenses optarem pela emigração.

Segundo Foster (2007), a quantidade de salvadorenhos em Honduras chegou a

representar 10% da força de trabalho presente no país. O

(1974) e Thomas P. Anderson (1981)

Centroamericanos de 1969, que consta que

salvadorenhos em Honduras foram por razões econômicas,

citados, 51,5% estavam desempregados no momento em que deixaram El Salvador.

6 Segundo Hamman (2003), o território de Honduras era de 112.088 km², enquanto El Salvador tinha apenas 21.160 km².

Dados demográficos: El Salvador em comparação a outros Estados da América Central

Fonte: GERSTEIN, Jorge Arieh. El conflicto entre Honduras y El Salvador: análises de sus causas. Revista Foro Internacional, México, v. XI, n. 4(44), p. 552jun., 1971.

grandes problemas políticos que surgiram (HAMMAN, 2003, p. 56)

, abordaremos apenas as questões territoriais que influenciavam a migração,

demais questões serão tratadas na próxima seção

esclarecimentos quanto à situação econômica e política de El Salvador e Honduras.

área menor que a de Honduras6, El Salvador via sua população crescer

cada vez mais. Segundo Gerstein (1971), enquanto El Salvador tinha mais de 150

habitantes por quilômetro quadrado e uma distribuição de terras desigual, a situação

habitantes por quilômetro quadrado, o que acaba sendo mais

um motivo para os salvadorenses optarem pela emigração.

Segundo Foster (2007), a quantidade de salvadorenhos em Honduras chegou a

representar 10% da força de trabalho presente no país. Os autor

(1974) e Thomas P. Anderson (1981) ainda citam um relatório do

de 1969, que consta que 95% de todos os imigrantes

salvadorenhos em Honduras foram por razões econômicas,

estavam desempregados no momento em que deixaram El Salvador.

Segundo Hamman (2003), o território de Honduras era de 112.088 km², enquanto El Salvador tinha

Tabela 1

demográficos: El Salvador em comparação a outros Estados da

Fonte: GERSTEIN, Jorge Arieh. El conflicto entre Honduras y El Salvador: análises de sus causas. Revista Foro Internacional, México, v. XI, n. 4(44), p. 552

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grandes problemas políticos que surgiram (HAMMAN, 2003, p. 56). Nesta

, abordaremos apenas as questões territoriais que influenciavam a migração,

a seção, junto aos

situação econômica e política de El Salvador e Honduras.

Salvador via sua população crescer

Salvador tinha mais de 150

habitantes por quilômetro quadrado e uma distribuição de terras desigual, a situação

habitantes por quilômetro quadrado, o que acaba sendo mais

Segundo Foster (2007), a quantidade de salvadorenhos em Honduras chegou a

autores Eddy E. Jiménez

citam um relatório do Estudios

de todos os imigrantes

sendo que desses

estavam desempregados no momento em que deixaram El Salvador.

Segundo Hamman (2003), o território de Honduras era de 112.088 km², enquanto El Salvador tinha

demográficos: El Salvador em comparação a outros Estados da

Fonte: GERSTEIN, Jorge Arieh. El conflicto entre Honduras y El Salvador: análises de sus causas. Revista Foro Internacional, México, v. XI, n. 4(44), p. 552-568, abr.-

18

Porém, essa presença incomodava hondurenhos, que reivindicavam a reforma

agrária e a retirada dos imigrantes de El Salvador, não só dos postos de trabalho,

mas, também, da terra que ocupavam, pois estariam tirando oportunidades da

população de Honduras e levando à redução salarial de muitos deles7.

Dos cerca de trezentos mil salvadorenhos que viviam na região hondurenha, vários

destes “já estavam na segunda geração e a maioria tinha tido sucesso na

exploração da terra em suas pequenas glebas” (SUE-MONTGOMERY; WADE,

2006, p.40). Entretanto, segundo Saez (1980), muitos deles ainda viviam em

condições ilegais8.

É possível observar, nesse ponto, a cultura Hobbesiana da anarquia e a construção

de inimizade que Wendt destaca em seu livro Social Theory of International Politics

(1999): o Estado de Honduras começa a ver nos salvadorenhos um inimigo que

precisa ser combatido devido à lógica de “kill or be killed”. Para o autor, basta o

Outro se sentir ameaçado para que ele o considere como inimigo, sendo “real” ou

não a ameaça9.

Segundo Willians (2009), em 1960, 1965 e 1967, tropas de Honduras chegaram a

confrontar diretamente os donos de fazendas para que não incentivassem a ida de

cidadãos de El Salvador para trabalhar em suas terras. Para Hobbes, o homem era

egoísta, capaz de qualquer coisa em busca da sua própria sobrevivência; essa

lógica se reproduz nos atores internacionais, segundo Wendt (1999), o que justifica

a atitude hondurenha.

Em 1965, os dois Estados assinaram o Tratado sobre Migrações, na tentativa de

encontrar uma solução para o problema por meio da legalização dos salvadorenhos

presentes em Honduras e o fim da expulsão destes.

7 “En repetidas ocasiones durante las décadas de 1950 y de 1960 inmigrantes salvadoreños, en números variables, habían sido detenidos y expulsados del teritorio hondureño por agentes del Estado.” (PINEDA, 2012, p. 54) 8 Durante a pesquisa, não foram encontrados dados exatos de quantos salvadorenses ilegais viviam em El Salvador. A maioria dos autores ressalta que esse valor era muito alto e que as práticas de Honduras para coibir a entrada de salvadorenses no país iam contra os tratados firmados entre os dois países em 1960 e 1968, que buscavam regular a entrada e saída de imigrantes (GERSTEIN, 1971, p. 558-559). 9 Em seu livro, Wendt enfatiza: “Some enemies are ‘real’, in that the Other really does existentially threaten the Self, as the Nazis did the Jews, and others are ‘chimeras’, as the Jews were to the Nazis.” (WENDT, 1999, p. 261)

19

El Tratado concluido preveía el fin de las expulsiones de los nacionales de un país que se encontraba sobre territorio del otro, y la distribución gratuita de cartas de identidad que legalizaran la situación de los emigrantes; em contrapartida, los gobernantes se comprometían a controlar los movimientos de población proponiéndose pedir a los futuros emigrantes la constitución de un verdadero dosier de estado civil sin el cual ellos no sabrían prevalcrar los derechos reconocidos en su nuevo estado10 (SAEZ, 1980, p. 730)

Porém, em 1969, o então presidente de Honduras Oswaldo Lopéz Arellano

expulsou, mais uma vez, centenas de salvadorenhos do país e recusou a renovar o

Tratado. Além disso, “criou uma lei especial que proibia os salvadorenhos de adquirir

terras” (RINKE, 2007, p.92), o que aumentou a instabilidade nas relações entre El

Salvador e Honduras.

Segundo Thomas P. Anderson (1988), em todo o ano de 1969, mais de 80 mil

salvadorenhos saíram de Honduras, seja expulsos ou por vontade própria, sem

contar com os dados dos milhares de mortos durante a Guerra do Futebol.

1.2 A situação econômica e política nas décadas de 1950-60

Segundo Hamman (2003), a proximidade entre El Salvador e Honduras, durante um

bom tempo, não foi somente quanto ao posicionamento geográfico: apesar dos

conflitos, nas regiões fronteiriças as moedas de ambos os países circulavam

livremente, havia salvadorenses ocupando cargos políticos em Honduras devido a

constantes fraudes nas eleições. Porém, o cenário político e econômico que se

construiu ao longo das décadas de 1950 e 1960 acirraram a inimizade entre os dois

países, reforçando todos os problemas territoriais e de migração citados na seção

anterior.

A economia salvadorenha era pautada na agricultura, com foco na exportação de

café, chegando a ser um dos maiores produtores à época (ROUQUIÉ, 1971, p.

1298). Os grandes fazendeiros também investiam na produção de algodão e, com o

tempo, conseguiram transformar o produto em outra referência de exportação.

10 O Tratado concluído previa o fim das expulsões dos nacionais de um país que se encontrava sobre o território do outro, e a distribuição gratuita de carteiras de identidade que legalizaram a situação dos emigrantes; em contrapartida, os governantes se comprometiam a controlar os movimentos populacionais propondo pedir aos futuros emigrantes a constituição de um verdadeiro dossiê de estado civil sem o qual eles não saberiam prevalcrar os direitos reconhecidos em seu novo Estado. (SAEZ, 1980, p.730, tradução nossa)

20

O grande problema no Estado era a distribuição de renda e de terras: enquanto os

produtores eram detentores de latifúndios, os camponeses eram obrigados a

oferecer mão de obra barata para conseguir um espaço para morar e viver da

agricultura de subsistência (SAEZ, 1980).

Apenas no final da década de 1950 e, principalmente, a partir do ano de 1961, com

a abertura do espaço político salvadorense, a economia começou a tomar outros

rumos, devido à expansão industrial financiada por capital estrangeiro, que vinha de

países como Estados Unidos, Japão e alguns outros da Europa (HAMMAN, 2003).

Porém, o que parecia ser positivo para a população salvadorense, acabou se

tornando um caos: devido à industrialização e a urbanização, elevou-se o êxodo

rural, houve um boom no crescimento populacional e, junto a eles, a pobreza e o

descaso por parte do governo. A população tinha medo da instauração de novas

revoltas internas como a de 193211, tendo muitos optado por sair do país em busca

de melhores condições (HAMMAN, 2003).

Em Honduras, o carro-chefe da economia era a produção de bananas e minerais,

que atraia investimentos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos – as

empresas que ali se instalavam buscavam estar de “braços dados” com o governo

para não enfrentarem grandes problemas e conseguirem incentivos fiscais para

permanecerem no país. Além disso, a forte e consolidada cultura da banana

precisava de mão de obra, levando salvadorenses e outros latino-americanos a

migrar para Honduras em busca de trabalho (ANDERSON, 1981).

Os hondurenhos também passaram por problemas de distribuição de terra, porém a

situação não era tão grave quanto em El Salvador, já que em 1961 o governo de

Honduras fundou o Instituto Nacional Agrário (INA), que ainda, atualmente, realiza

“esfuerzos en beneficio de los campesinos y ha sido instrumento para agilizar la

distribución de la tierra” 12. E mesmo com a presença de muitas indústrias da

banana, grande parte da população ainda vivia na zona rural13.

11 Depois dos problemas em 1931 com a crise do café, a expropriação de pequenos camponeses e a eleição de Arturo Araújo em El Salvador, os militares dão um golpe de Estado e, de forma violenta, tentam controlar os camponeses que pediam as suas terras de volta e melhorias, resultando na morte de, segundo Hamman (2003), entre 18 e 40 mil pessoas. 12 “Esforços em benefício dos camponeses e tem sido um instrumento para agilizar a distribuição da terra”. INA. Site Oficial – Quienes Somos. Disponível em

21

Economicamente, El Salvador e Honduras se encontravam interligados muitas

vezes, principalmente depois da criação do Mercado Comum Centro-Americano

(MCCA) entre 1958 e 1962, composto, também, pela Costa Rica, Guatemala e

Nicarágua14. Segundo Hamman (2003), a criação do MCCA em 1962 foi um dos

principais motivos da interdependência econômica que se formou na América

Central.

Porém, o MCCA não gerou grandes vantagens para Honduras, devido à enorme

quantidade de regras que eram impostas tanto para importação, quanto para a

exportação. O déficit da balança comercial hondurenha chegou a US$ 17 milhões e

suas relações com os Estados Unidos se enfraqueceram (ROUQUIÉ, 1971, p.

1308).

El Salvador, por sua vez, conseguiu favorecer-se nesse cenário, ganhando maior

apoio norte-americano15 e melhorando as condições da economia estatal. Quando

os hondurenhos perceberam essa situação, logo se revoltaram ainda mais contra

aqueles salvadorenhos que estavam dentro do território e aumentou-se o desejo de

retirá-los de suas terras, já que eles começaram a ter que competir por terra e

trabalho. (HAMMAN, 2003, p.36-37).

Pode-se observar, nesse ponto, o que Wendt (1999) reforça sobre a identidade: ela

é construída a partir da interação entre os agentes. Os hondurenhos passam a

reforçar sua identidade nacional ao perceber que os salvadorenhos poderiam ser

uma ameaça à sua sobrevivência, criando um ambiente de rivalidade com estes.

Politicamente, os dois Estados viviam situações de instabilidade e insatisfação por

parte da população mais pobre, uma vez que os governos se voltavam muito mais

para o interesse das elites, além das grandes fraudes nos processos de eleição e

<http://www.ina.hn/temporal/quienes_historia.php>. Acesso em 8 de novembro de 2014. Dentre alguns benefícios que o INA leva aos camponeses está agilizar o processo de alocação de terras, gerar mecanismos transparentes e participativos no mercado de terras e executar um projeto de reforma agrária integral. 13 Segundo James Rowles (1980), 80% dos 2,5 milhões de habitantes de Honduras eram habitantes da zona rural em 1969. 14 Sugere-se a leitura de ALEIXO, José Carlos Brandi. Mercado Comum Americano. R. Inf. legisl. Brasilia: a. 21 n. 81 jan./mar.1984 15 Segundo Hamman (2003), 59,9% de todos os produtos importados por El Salvador eram provenientes dos Estados Unidos em 1953, além de ser grande exportador de café e algodão para o país. Vilas (2012) ainda lembra que na década de 1960, os Estados Unidos iniciou uma política de aproximação de países ditatoriais da América Latina, de forma a ter controle sobre esses países e impedir que eles se tornassem uma ameaça, assim como a Revolução Cubana.

22

dos golpes de Estado16. Em El Salvador, por exemplo, os militares que regeram o

país durante a década de 1950 pouco fizeram da reforma agrária como uma

promessa.

(...) esses regimes se comprometeram a promover várias reformas econômicas e sociais sem, entretanto, jamais terem atenuado as enormes desigualdades existentes no país ou sequer terem ferido os interesses das oligarquias (SUE-MONTGOMERY; WADE, 2006, p. 32).

E mesmo com a virada de década, a política desses Estados não teve grandes

mudanças no sentido de beneficiar a classe trabalhadora e camponesa. A relação

do governo com as indústrias e a oligarquia era de dependência, já que elas eram as

detentoras das riquezas e movimentavam a economia estatal; desse modo, tinham

influencia direta na tomada de decisão dos governantes.

Um exemplo disso é a Lei de Reforma Agrária Hondurenha, de 1962, que, segundo

Bologna (1971), era clara quanto ao fato de que apenas hondurenhos poderiam ser

detentores de terra no Estado. Porém, as empresas norte-americanas impediam que

essa Lei fosse de fato aplicada, para que eles não fossem expulsos, caso se

cumprisse o estabelecido no artigo 68.117: “Tem capacidade para obter a doação de

uma parcela de terra os camponeses que reúnam os seguintes requisitos: 1) ser

hondurenhos por nascimento (...)”.

Essa mesma lei foi utilizada, em 1969, como justificativa para a expulsão dos

milhares de salvadorenhos do território de Honduras, mas não expulsava as

empresas e nem descartava o investimento dos Estados Unidos no país.

A revolta contra os salvadorenhos não era somente da população camponesa, que

formou a Asociación Nacional de Campesinos Hondureños (ANACH), na década de

1950, para defender seus interesses e retirar os trabalhadores de El Salvador dos

postos de trabalho, mas também dos latifundiários e das empresas do setor da

banana, que queriam fora do país todos os salvadorenhos que tinham, de alguma

forma, prosperado dentro do território.

16 Segundo Anderson (1981), houve um golpe de Estado em El Salvador em 1931, retirando o presidente Arturo Araújo, que acabara de ser eleito, para a entrada de militares. Em Honduras, o golpe aconteceu em outubro de 1963, retirando o então presidente Ramón Villeda Morales para a entrada do coronel Osvaldo López Arellano. Quanto as fraudes, Hamman (2003) sinaliza que elas aconteciam em regiões mais frágeis, próximas à fronteira entre os dois países, em que cidadãos de El Salvador eram eleitos para cargos em Honduras. 17 HAMMAN, 2003, p. 48, nota 66

23

A questão é que esses latifundiários, além de lutar contra os salvadorenhos, faziam

também campanhas contra a ANACH e, em 1966, fundou a Federación Nacional de

Agricultores y Ganaderos de Honduras (FENAGH), que pressionava o governo de

López Arellano a não fazer a reforma agrária e manter as posses das grandes

quantidades de terra como já estavam (ANDERSON, 1981).

“The Mancha Brava, a group of ‘shock troops’ composed largely of public employees,

‘authorized to attack and kill’ enemies of López Arellano government”18

(ANDERSON, 1981, p. 62). O grupo surgiu nas áreas rurais e era organizado pelo

Partido Nacional, a favor do presidente militar, sendo um dos principais responsáveis

pelas mortes de salvadorenhos, o que leva a entender que o governo acabou

cedendo a todas as pressões internas.

Os grupos acima apresentados e a postura governamental de apoio a repressão aos

salvadorenhos, podem ser apontados, junto aos problemas econômicos, territoriais e

de imigração como um dos responsáveis por levar os dois países a um alto nível de

desconfiança e inimizado, tornando as partidas eliminatórias para a Copa do Mundo

de Futebol apenas um estopim para a Guerra do Futebol.

2. A GUERRA DO FUTEBOL

Como pudemos observar, El Salvador e Honduras passavam por desafios territoriais

e socioeconômicos que dificultavam tanto o relacionamento desses no âmbito

internacional, quanto domesticamente, com sua população.

Neste capítulo, buscaremos compreender qual a importância do futebol para a

construção da identidade cultural de El Salvador e Honduras e, posteriormente,

analisarmos o conflito que ocorreu após as partidas das Eliminatórias da Copa do

Mundo de 1970 e os desdobramentos da Guerra do Futebol.

18 “A Mancha Brava, um grupo de ‘tropa de choque’, composta amplamente por funcionários públicos, autorizada para atacar e matar inimigos do governador López Arellano” (ANDERSON, 1981, p. 62, tradução nossa)

24

2.1 Futebol como identidade cultural

A teoria construtivista de Alexander Wendt, abordada na introdução deste trabalho,

entende que a identidade é algo fundamental aos Estados, já que ela é responsável

por conduzir a escolha da estrutura de preferências e interesses. Wendt (1999)

ainda lembra que essa identidade é construída a partir da relação com o outro.

Para o autor, o que dá forma a esses interesses e à identidade são a cultura e o

conhecimento compartilhado, sendo este "um conhecimento que é comum e

conectado entre indivíduos" (WENDT, 1999).

O futebol faz parte da cultura dos povos há muitos anos, tendo registros de

civilizações muito antigas, inclusive na América Central, praticarem variáveis desse

esporte com bola (GIULIANOTTI, 1999). O futebol moderno surgiu na Inglaterra, em

1863, e, desde então, tem conquistado os mais variados públicos por todo o mundo.

Football's international diffusion during the late nineteenth and early twentieth century occurred when most nations in Europe and Latin America were negotiating their borders and formulating their cultural identities. (GIULIANOTTI, 1999, p. 23) 19.

Esse esporte, inclusive, teria sido importante nos períodos entre guerras como forma

de reforçar a questão do nacionalismo, que teve seu apogeu no período de 1918 a

1950 (HOBSBAWN, 2004). A relação entre o futebol e o nacionalismo se reforçou

ainda mais a partir da criação da Copa do Mundo, competição organizada pela

Fédération Internationale de Football Association (FIFA), em que países do mundo

inteiro disputam o título de melhor seleção.

Logo que os ingleses trouxeram o futebol para a América Latina, as primeiras ligas

de futebol começaram a ser criadas, principalmente na Argentina e no Chile, com

um rápido desenvolvimento de técnicas próprias, mesmo que ainda baseados no

jeito inglês de jogar. À medida que os times iam crescendo e as seleções nacionais

se formando, iniciaram-se as comparações com os times da Europa, e os latino-

americanos começavam a competir no mesmo nível que aqueles que praticavam o

esporte há mais tempo (RINKE, 2007).

19 A difusão internacional de futebol, durante o final do século XIX e início do século XX, ocorreu quando a maioria dos países na Europa e América Latina estavam negociando suas fronteiras e formulando suas identidades culturais (GIUALINOTTI, 1966, p. 23, tradução nossa)

25

Com a popularização do esporte e com a crescente onda de urbanização do século

XX, governos latino-americanos passaram a utilizar do futebol como propaganda

nacionalista, à favor de suas políticas, inclusive no Brasil, com Getúlio Vargas

(CARRARA, 2012).

Joseph L. Arbena (1988) ainda ressalta a influência do esporte nas relações sociais,

no processo de construção da identidade cultural da América Latina e da

massificação do esporte. Segundo ele, apesar de ter iniciado como um esporte

elitista e de, muitas vezes, marcar a forte desigualdade social na região, o futebol

conseguiu se democratizar aos poucos e romper as barreiras entre classes sociais,

sendo uma forma de amenizar e esquecer-se dos problemas vividos por aqueles

instantes em que se jogava a bola.

Segundo Rinke (2007), estudiosos chegaram à conclusão de que o futebol seria

importante e faz parte das culturas latino-americanas e de outras regiões do mundo

por quatro motivos principais: a facilidade e simplicidade das regras e condições de

jogo; a ênfase nos ideais de masculinidade; o entusiasmo e a emoção que são

provocadas e, por fim, o comportamento coletivo que este provoca através de seus

rituais, como as cores de camisa, os hinos e bandeiras.

No livro “A Guerra do Futebol”, Kapuscinski (2008) reforça que, na América Latina,

“a fronteira entre o futebol e política é extremamente tênue” e exemplifica com

diversos casos na região, em que partidas de futebol transbordavam para outras

questões além das culturais, como a utilização da vitória do Brasil na Copa do

Mundo no México, em 1970, para reforçar a presença dos militares no poder.

Longe de ser apolítico, o futebol serviu em diferentes contextos tanto contra os poderes opressivos, quanto como veículo para ações revolucionárias. Das origens modernas à globalização, (...) o jogo serviu desde os ditadores mais sanguinários, passando pelos políticos mais oportunitas, até os ideais mais nobres em busca da liberdade. (AGOSTINO, 2002, p. 267)

Em El Salvador, o futebol teria tido início na cidade de Santa Ana em 26 de julho de

1899 e apenas em 1921, a Seleção Salvadorenha de Futebol jogou pela primeira

vez em nível internacional. A partir de então, passou a disputar competições na

26

América Central e Caribe, mostrando grande habilidade técnica sobre times como o

México20.

Quanto a Honduras, não há registros oficiais sobre quando o esporte começou a ser

propagado no país. Desde 1951, o futebol no país era controlado pela Federación

Deportiva Extraescolar de Honduras, que foi se tornar a Federación Nacional de

Futbol de Honduras apenas em 198021.

O país também participou de competições importantes em nível internacional, mas

sem grandes destaques. Ainda hoje, o futebol hondurenho é considero como reflexo

da pobreza e das péssimas condições locais, com apenas alguns jogadores de

destaque22.

O fato é que, assim como aconteceu em grande parte da América Latina, toda a

inimizade entre El Salvador e Honduras, relacionada muito mais às questões

socioeconômicas, políticas e territoriais se misturou a algo que fazia parte da cultura

de ambos os países, o futebol. E, naquele momento, uma partida importante e

decisiva para os dois países era um estopim para algo muito maior (BOLOGNA,

1971).

2.2 O estopim para o conflito e a Guerra do Futebol

Segundo Eduarda Hamman (2003), uma série de conflitos na fronteira entre

Honduras e El Salvador em 1967, associados a todos os problemas econômicos,

políticos e demográficos agravavam a tensão, tornando a solução de controvérsias e

a diplomacia cada vez mais difícil.

El Salvador e Honduras se viam, no sistema internacional, cada vez mais, como

inimigos. Exemplo disso é que, no início de 1969, o governo hondurenho se recusou

a renovar o Tratado Bilateral sobre Imigração (HAMMAN, 2003) e mais

20 FEDERACIÓN Salvadoreña de Futbol. Disponível em <http://www.fesfut.org.sv/historia.php>. Acesso em 8 de agosto de 2014. 21 FEDERACIÓN Hondureña de Futbol. Disponível em <http://fenafuth.org/pres/>. Acesso em 8 de agosto de 2014. 22 VAVEL. Honduras: onde o futebol explica a sociedade. Disponível em <http://www.vavel.com/br/futebol-internacional/356010-honduras-onde-o-futebol-explica-a-sociedade.html>. Acesso em 8 de agosto de 2014.

27

salvadorenses foram expulsos ou optaram por sair de Honduras, com medo de

possíveis repressões.

As partidas para as Eliminatórias da Copa do Mundo haviam sido agendadas para

junho de 1969 e a imprensa local de ambos os países contribuía para acirrar a

rivalidade entre os dois, divulgando notícias e informações muitas vezes mentirosas

e tendenciosas (KAPUSCINSKI, 2008).

Anderson (1981) ressalta que, naquela época, os jornais impressos eram de

extrema importância na América Central, já que, ao contrário dos Estados Unidos,

havia pouquíssimos televisores, ficando os jornais como o principal meio de

propaganda e o que tinha maior credibilidade.

A mídia foi considerada a culpada por superdimensionar a maioria dos problemas

entre El Salvador e Honduras não só durante os dias que aconteceram as partidas,

mas por diversos momentos da história dos dois países (BRAGA, 2011). Segundo

Gerstein (1971), “los medios de prensa y radiodifusión en ambos países ayudaron a

la creación de un nacionalismo inconsistente, dirigido contra el país vecino.”23

Os próprios representantes dos governos salvadorense e hondurenho recorriam aos

meios de comunicação, principalmente ao rádio, para convocar o povo a defender

sua pátria, principalmente na região de fronteira entre os dois países. O presidente

de El Salvador disse que era necessário “salvaguardar a todo custo a soberania, a

integração territorial e a honra de El Salvador” (AGOSTINO, 2002, p. 193).

Outro exemplo é dado por Anderson (1981), que cita o quanto a imprensa

hondurenha fazia questão de publicar sobre os ataques aos seus cidadãos.

Segundo o autor, a imprensa deu grande ênfase a um ataque ao hondurenho Elias

Molina Meza, que teve fotos de seu nariz sangrando divulgadas por todas as

páginas de jornais. Enquanto isso, o periódico El Cronista destacava que mulheres

estavam sendo agredidas e violentadas por salvadorenhos.

23 “Os meios de imprensa e radiodifusão em ambos países ajudaram na criação de um nacionalismo inconsistente, dirigido contra o país vizinho.” (GERSTEIN, 1971, p. 565, tradução nossa)

28

Quando a Organização dos Estados Americanos (OEA) se reuniu pela primeira vez,

já com o conflito tendo iniciado24, um dos principais pedidos feitos foi que a imprensa

suspendesse suas publicações tendenciosas sobre o conflito, de forma a cessar o

ódio entre os cidadãos de Honduras e El Salvador (SAEZ, 1980).

O primeiro jogo das Eliminatórias aconteceu no dia 8 de junho de 1969, em

Tegucigalpa, capital hondurenha. Durante toda a noite, hondurenhos ficaram na

porta do hotel onde se hospedava a Seleção Salvadorenha, atrapalhando o

descanso dos jogadores.

“O hotel foi cercado por uma multidão que atirava pdras nas janelas dos quartos dos jogadores e batia em tampores de lata ou em tonéis vazios. (...) Aquilo durou a noite toda, para que o time adversário, insone, nervoso e cansado, perdesse a partida do dia seguinte” (KAPUSCINSKI, 2008, p.194)

A partida terminou em 1x0 para Honduras, que marcou seu gol durante a

prorrogação o que resultou em muita festa no país, mas em grande decepção em El

Salvador25.

Por causa da derrota, uma torcedora salvadorenha suicidou-se, o que causou uma

grande mistura de sentimentos na população: enquanto alguns se comoviam com as

notícias e o funeral exibido pela mídia, em outros aumentava o desejo de vingar-se

dos hondurenhos (AGOSTINO, 2002). Segundo Kapuscinski (2008), o jornal El

Nacional de El Salvador noticiava que “a jovem não suportou ver seu país posto de

joelhos”. O clima para a partida seguinte tornava-se, então, cada vez menos

amistoso

No dia 15 de junho, os jogadores hondurenhos que foram à El Salvador para

disputar a segunda partida foram recepcionados de maneira completamente hostil.

Além de perturbarem o sono deles a ponto de terem que ser removidos do hotel, os

salvadorenhos jogaram ovos podres e, para chegar ao estádio, a Seleção de

Honduras teve que ser escoltada e levada em carros blindados (BRAGA, 2011). O

resultado da partida foi 3x0 para a equipe de El Salvador.

As the Hondurans headed back to their own country, a number of their cars traveling through smaller Salvadoran towns were hit by rocks. Windshields

24

“Em Washington, ainda na manhã do dia 15, (...) os Estados-Membro da OEA se reúnem para obter o cessar-fogo e a retirada das tropas.” (HAMMAN, 2003, p. 87-88) 25 “However, the point was made in overtime, and Salvadorans felt they had been cheated. This became practically a point of national honor.” (MALLIN, 1970)

29

were smashed. Salvadoran President Fidel Sanchez Hernandez deplored the acts of violence and blamed ‘communist and subversive elements.’ [...] For three days, Salvadoran stores and shops selling Salvadoran goods were attacked in Tegucigalpa and San Pedro Sula, the attacks spreading into interior areas. A flow of refugees began moving into Salvador, sometimes as many as 1400 per day. (MALLIN, 1970, s.p.) 26

Como todos os embates acontecendo entre os cidadãos hondurenhos e

salvadorenses, o governo de El Salvador começou a tomar algumas medidas para

proteger o seu povo. Foram enviadas cartas diplomáticas à Honduras, além de uma

denúncia junto a Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Organização das

Nações Unidas (ONU) quanto a um “genocídio ocorrido contra os seus nacionais e

requerendo a visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)” 27

(HAMMAN, 2003).

No dia anterior à terceira e última partida, que aconteceria no dia 27 de junho, El

Salvador cortou suas relações diplomáticas com Honduras e as fronteiras do país

foram fechadas (HAMMAN, 2003). A FIFA tinha mudado o local da partida para a

Cidade do México, buscando evitar possíveis problemas às seleções de Honduras e

El Salvador.

Segundo Gilberto Agostino (2002), cerca de 15.000 torcedores salvadorenhos

compareceram ao Estádio Asteca para assistir ao jogo que decidiria qual das duas

seleções estaria na Copa do Mundo de 1970. Mais uma vez, a partida foi levada à

prorrogação e El Salvador venceu Honduras por 3x2, ficando com a vaga para o

mundial.

As partidas e a influência da mídia teriam sido, enfim, o estopim para o conflito de

cem horas que estaria por vir. Nos dias seguintes, a Mancha Branca voltou a atacar

salvadorenhos que estavam em Honduras.

26 Enquanto os hondurenhos voltavam ao seu país, uma série de seus carros que viajam pelas cidades salvadorenhas menores foram atingidos por pedras. Pára-brisas foram quebrados. O presidente salvadorenho Fidel Sanchez Hernandez lamentou os atos de violência e responsabilizou "comunista e elementos subversivos." [...] Durante três dias, lojas de salvadorenhos e lojas que vendem produtos salvadorenhos foram atacados em Tegucigalpa e San Pedro Sula, com os ataques se espalhando para áreas interiores. Um fluxo de refugiados começou a mover-se em Salvador, às vezes até 1400 por dia. (MALLIN, 1970, s.p., tradução nossa) 27 O genocídio ao qual o governo de El Salvador se refere seriam a série de assassinatos de salvadorenses após a segunda partida entre El Salvador e Honduras pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1970.

30

A tentativa de mediação do conflito por parte da Nicarágua, Costa Rica e

Guatemala, que se deu de forma diplomática e deveria tomar decisões baseando-se

na Carta da Organização de Estados Centro-Americanos28 (ODECA), mostrava-se

falha, já que o governo de Honduras mantinha suas ameaças aos salvadorenhos,

mesmo após reconhecer a mediação como legítima (HAMMAN, 2003).

El fracaso de los intentos de mediación ante la firme posición de una de las partes volvió a poner de relieve la debilidad de los medios con que contaba la propia estructura centroamericana para enfrentarse a problemas de este tipo. (SAEZ, 1980, p.743) 29

O governo de El Salvador também considerava a mediação falha, ressaltando que

os Estados não eram obrigados a seguir nenhuma determinação dada por aquele

grupo, já que processos de caráter voluntário podem ser aprovados ou não pelo

Estado (DUARTE, 2003).

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) organizou duas

subcomissões para irem a El Salvador e Honduras, a fim de investigar os

acontecimentos ocorridos durante as duas partidas, sendo estas à pedido de

Honduras. (HAMMAN, 2003)

Porém, mesmo com a presença da CIDH e com a intervenção de organismos

internacionais, as tropas salvadorenhas se posicionaram. Segundo Anderson (1981),

os militares de El Salvador teriam feito um reconhecimento aéreo no território do

inimigo, Honduras, e um dos seus aviões chegou a ser abatido por hondurenhos. A

essa altura, o próprio governo salvadorenho dizia que todas as tentativas de

mediação teriam sido falhas e que precisariam agir para defender-se.

No dia 14 de julho de 1969 inicia-se o conflito armado entre El Salvador e Honduras.

Na tentativa de cercar o território hondurenho, tanto a Aeronáutica quanto o Exército

salvadorenhos iniciaram seus ataques. Durante três dias, os ataques de ambas as

partes aconteceram de forma intensa, porém a falta de recursos, combustíveis e

munições fizeram que, aos poucos, houvesse uma diminuição (HAMMAN, 2003).

28 Organizacion de Estados Centroamericanos. Carta de San Salvador. San Salvador, 14 de outubro de 1951. Disponível em <http://www.internationaldemocracywatch.org/index.php/central-american-integration-system-treaties-and-protocols/230-carta-de-la-organizacion-de-estados-centroamericanos-odeca>. Acesso em 4 de novembro de 2014. 29 O fracasso das tentativas de mediação ante a firma posição de uma das partes voltou a colocar em destaque a debilidade dos meios com que contava a própria estrutura centroamericana para enfrentar problemas deste tipo.(SAEZ, 1980, p.743, tradução nossa)

31

O correspondente de uma agência de notícias estatal polonesa, Ryszard

Kapuscinski, esteve em El Salvador durante a Guerra do Futebol e, em seu livro de

mesmo nome, relata alguns dos momentos do conflito que ele acompanhou.

Fiquei petrificado. O que eu mais temia era cair nas mãos dos salvadorenhos, pois significaria morte certa. Tratava-se de um exército cruel, cedo de ódio e que, no calor da batalha, costumava fuzilar todos que lhes caiam nas mãos. Pelo menos era o que eu imaginava, alimentado pela propaganda hondurenha. (KAPUSCINSKI, 2008, p. 215)

Um dos exemplos da propaganda de ódio hondurenha é dado por Gerstein (1971),

que cita o título da reportagem divulgada pelo jornal El Cronista, em 17 de junho de

1969, que dizia “Limpieza de salvadoreños em diez poblados fel Yoro”, dando um

sentido de benefício à expulsão de salvadorenhos do país, o que é mais um

exemplo da forte influencia midiática para agravar as tensões que haviam entre os

dois países.

Além disso, mensagens de repúdio aos migrantes de El Salvador e apoio à

intervenção feita pelo exército eram elaboradas pelos cidadãos e espalhadas por

toda Honduras. As críticas dos cartazes eram voltadas não só para os

salvadorenhos, mas também para as possíveis falhas da atuação da OEA na

intervenção do conflito, o que reforçava a inimizade e a cultura anárquica

hobbesiana.

Figura 2 – Slogan pró-guerra impresso em Honduras contra os salvadorenhos

Fonte: http://www.historiadehonduras.hn/Historia/Independiente/la_guerra_del_14_de_julio_de_1969.htm

32

Segundo Kapuscinski (2008), durante a guerra havia intensos tiroteios em áreas

bem específicas, principalmente próximo a uma grande floresta, ambiente que os

salvadorenhos conheciam e usavam a seu favor contra os hondurenhos. O futebol

teria ajudado a “aumentar ainda mais o chauvinismo e a histeria patriótica,

elementos indispensáveis para desencadear uma guerra” (KAPUSCINSKI, 2008,

p.221).

Simultaneamente ao conflito, a Organização dos Estados Americanos (OEA), a

Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a comissão formada no

âmbito da Organização dos Estados Centroamericanos (ODECA), fizeram reuniões

para buscar, junto aos Estados, uma solução para o caso e um cessar-fogo que

viesse a acontecer o quanto antes, evitando ainda mais mortes e transtornos para

salvadorenhos e hondurenhos.

Porém, os próprios governos dos dois países dificultam o diálogo ao desobedecer a

recomendações dadas, continuarem atacando uns aos outros e fazendo troca de

acusações (HAMMAM, 2003). Essa postura é considerada típica de inimigos que,

como ressalta Lehmann (2003), “não limitará espontaneamente sua violência contra

o Self”, mantendo a sua postura pessimista quanto a um futuro.

Apenas no dia 29 de julho houve o cessar-fogo entre Honduras e El Salvador, que

terminou de retirar suas tropas do território inimigo somente no dia 03 de agosto

(BOLOGNA, 1978). O fim do conflito se deu após muitas discussões no âmbito da

OEA entre os delegados de El Salvador e Honduras, já que a cada reunião, uma das

partes discordava daquilo que as comissões tentavam propor.

Somente após a elaboração de três projetos de resolução por parte do Órgão de

Consulta da OEA, que ameaçavam El Salvador à sanções, é que o país optou pelo

fim dos ataques a Honduras (HAMMAN, 2003).

Em busca de evitar novos confrontos, ameaças e investigar os possíveis crimes

contra os direitos humanos, a CIDH manteve-se no território dos dois países até o

final de outubro de 1969. Porém, os governos de El Salvador e Honduras pouco

contribuíram para as investigações, sendo que os mesmos não teriam adotado as

recomendações da Comissão (HAMMAN, 2003).

33

É nesse momento que é possível observar que a cultura anárquica hobbesiana foi

internalizada pelo interesse. Segundo Wendt (1999), o ator segue a norma por ela

ser vantajosa e quando ele percebe que os custos já estão muitos altos, o ator age

de outra maneira.

Os números fornecidos por Alan Rouquié (1971) sobre a quantidade de pessoas

mortas na Guerra do Futebol mostram a dimensão da tensão e do nível de

inimizade, que seguiria a lógica do “kill or be killed” que existia entre os dois países:

apenas durante os quatro dias, cerca de duas mil pessoas morreram, sendo a

maioria civis.

O fim da Guerra do Futebol entre El Salvador e Honduras não trouxe consigo uma

resolução para os problemas enfrentados. Segundo Richter (1980), Honduras optou

pelo distanciamento do Mercado Comum Centro-Americano devido às desavenças

com El Salvador e, posteriormente, a uma suspensão de 22 anos das atividades, o

que teria mantido o país como um dos mais pobres da América Latina.

O retorno de salvadorenhos para seu país fez com que surgissem ainda mais

dificuldades econômicas para El Salvador e novas para Honduras, que perdia mão

de obra30. Como ressaltado por Anderson (1981), a guerra serviu para trazer ainda

mais problemas com a produção de alimentos e levou a um grande esgotamento,

gerando um grande custo às duas nações.

Nem mesmo a vaga para a Copa do Mundo de Futebol, estopim da guerra, trouxe

algum retorno para o time que pode ir ao México disputar o campeonato. A seleção

de El Salvador chegou tão mal e desgastada para as partidas, que foi eliminada na

primeira fase, com derrota em todos os jogos (AGOSTINO, 2002).

Um Tratado de Paz foi assinado, no âmbito da ONU, no ano de 198031, que era uma

busca de solução dos problemas de migração, da reestruturação de uma relação

entre os dois países e de um compromisso para solucionar as disputas de fronteiras,

30 ROUQUIÉ, Alain. Honduras-El Salvador, la guerre de centheures: uncas de ‘désintégration’ régionale. 1971, p. 1295. 31 Organização das Nações Unidas. General Peace Treaty between the Republics of El Salvador and Honduras. Disponível em <http://peacemaker.un.org/elsalvador-honduras-peace-treaty80>. Acesso em 8 de outubro de 2014.

34

tendo essa questão sido levada à Corte Internacional de Justiça em 1986 para

resolução32.

Segundo Hamman (2003), a intervenção da OEA teria levado apenas uma solução

imediata para o fim da Guerra do Futebol, mas muito faltou para chegar até um fim

do conflito como um todo, já que os tratados que oficializavam o fim das disputas

entre os dois países levaram quase 20 anos para serem estabelecidos.

Atualmente, as relações entre Honduras e El Salvador ainda são marcadas por

algumas tensões devido à região do Golfo da Fonseca33. A notícia mais recente

sobre problemas na região é de 2013, devido à compra de aviões de guerra por El

Salvador. Permanece, portanto, o Estado de Guerra endêmico citado por Wendt

(1999), e El Salvador continua se equipando militarmente, mesmo sem a evidência

de uma possível guerra.

32 INTERNACIONAL COURT OF JUSTICE. Land, Island and Maritime Frontier Dispute (El Salvador/Honduras: Nicaragua intervening). Disponível em: <http://www.icj-

cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3&code=sh&case=75&k=0e&p3=0>. Acesso em datas variadas, entre mar./out.. 2014. 33 MELENDÉZ, José. Honduras vê ameaça na compra de aviões de guerra por El Salvador. Disponível em <http://elpais.com/m/internacional/2013/11/08/actualidad/1383944778_843656.html>. Acesso em 15 de outubro de 2014.

35

CONCLUSÃO

Desde que o ser humano passou a se organizar em grupos, a guerra fazia parte do

cotidiano destes. Enquanto a agricultura não foi desenvolvida, a disputa por

alimentos era um motivo crucial para que surgisse algum tipo de conflito.

Com passar dos séculos, o surgimento de técnicas como a organização em

infantarias e cavalarias, a utilização de armas e de tecnologias, como o ferro e o

aço, passaram a ser determinantes para definir os conflitos e fortalecer os povos.

Essa evolução trouxe consigo algumas incertezas para os Estados, sendo que

alguns deles passaram a viver em um ambiente de cultura hobbesiana que, segundo

Wendt (1999), é baseada na inimizade. Nas relações entre Honduras e El Salvador,

essa cultura prevalece de tal forma que, mesmo com outros antecedentes, apenas

um elemento que faz parte da identidade cultural dos dois países foi o suficiente

para se tornar estopim para um enfrentamento: o futebol.

O presente trabalho teve em vista três pontos principais de orientação: o primeiro,

baseado nas disputas territoriais entre Honduras e El Salvador; o segundo, nas

diferentes reações da população hondurenha e salvadorense quanto aos problemas

que se instauravam; e a terceira, do papel do futebol e dos jogos das eliminatórias

da Copa do Mundo FIFA de 1970 no conflito.

Inicia-se, portanto, com o mapeamento das causas que, inicialmente, teriam gerado

a relação de antítese entre El Salvador e Honduras desde o período da

independência e que, futuramente, acarretariam na Guerra do Futebol. Identificou-

se que um dos principais motivos seriam as questões territoriais, uma vez que os

problemas fronteiriços entre os dois países foram, por muito tempo, motivo de

discussão em diversas convenções organizadas pelos Chefes de Estado e técnicos

que pudessem solucionar de forma devida. Porém, dificilmente chegava-se em

alguma concordância e, por isso, perduravam os conflitos entre as cidades que

estavam na fronteira.

Agravante a essa situação estava a questão migratória de salvadorenses para

Honduras, principalmente a partir da década de 1940, em que houve um boom de

36

migrantes indo ao país vizinho em busca de melhores condições de vida e

oportunidades de trabalho.

Outros dois problemas eram de cunho econômico e político, devido à instabilidade

nos dois países durante as décadas de 1950 e 1960. Honduras e El Salvador

apresentavam algumas similaridades quanto a problemas relacionados à distribuição

de terras e a uma série de governos que não cumpriam com promessas de uma

reforma agrária efetiva.

Até meados da década de 1960, Honduras tinha um forte potencial agrícola, com

alta produção de bananas e diversas empresas norte-americanas instaladas em seu

território, o que gerava muitas oportunidades de emprego. El Salvador passava por

grandes problemas de concentração de terras e dinheiro na mão de grandes

latifundiários, o que fazia com que os cidadãos salvadorenhos fossem a Honduras,

muitos de forma ilegal, para conseguir sustentar suas famílias.

A chegada em massa de salvadorenhos à Honduras incomodava os cidadãos locais,

que tinham a população de El Salvador como inimiga pelos conflitos por fronteiras.

Agravante à essa situação, Honduras teve problemas econômicos após a criação do

Mercado Comum Centro-Americano entre 1958 e 1962, que dificultou a exportação

de seus produtos e, consequentemente, gerou problemas para a economia. Os

hondurenhos começavam, a partir de então, a enxergar os salvadorenhos como um

problema, já que estes estariam ocupando empregos e terras que deveriam estar

nas mãos dos nacionais de Honduras.

Esses problemas foram analisados à luz da teoria construtivista, elaborada por

Alexander Wendt, que auxilia a explicar sobre a importância da identidade na

relação entre os Estados e o quanto o ambiente anárquico, de cultura hobbesiana,

fez com que surgisse uma inimizade entre El Salvador e Honduras e que, a longo

prazo, provocou um conflito de dimensão muito maior do que aqueles que existiam

entre os dois países: a Guerra do Futebol, que matou milhares de salvadorenhos e

hondurenhos.

Apesar de o futebol ser um elemento que faz parte da identidade cultural de ambos

os países, ele foi o grande estopim para o conflito. Presente oficialmente na vida dos

salvadorenhos desde 1899 e controlado, pela primeira vez em Honduras a partir de

37

1951, sempre foi considerado como de grande importância não só nos dois países,

mas em diversos outros da América Latina, inclusive se misturando a questões

políticas, como ocorrido no Brasil na época da ditadura da década de 1960 a 1980.

A disputa pela vaga na Copa do Mundo FIFA de 1970, principal competição de

futebol desde a sua criação, acirrou a inimizade entre os dois países. A classificação

seria não só motivo de orgulho para uma das partes, mas também uma maneira de

demonstrar que um seria superior ao outro até mesmo no esporte.

A percepção do Outro como inimigo se tornou, de maneira ainda mais forte, parte da

identidade dos dois Estados durante as partidas em junho de 1969 e a postura

agressiva e tendenciosa da mídia teve papel primordial nessa questão. O seu poder

de influência e persuasão, principalmente dos jornais impressos, era grande a ponto

de parte de a população acreditar fielmente em tudo o que estava descrito e se

motivar à atacar os cidadãos do país vizinho que estavam em seu território.

A atitude de El Salvador, ao resolver atacar Honduras depois de ver seus cidadãos

sendo mortos violentamente, corrobora a teoria de Wendt (1999) que diz que a

identidade é construída a partir da interação entre os agentes: ao ver no Outro uma

ameaça a seu território e a seus cidadãos, El Salvador também reforça sua

identidade nacional, assim como os cidadãos hondurenhos fizeram quando se

sentiram ameaçados pela presença dos salvadorenhos.

O fracasso inicial das tentativas de mediação do conflito por parte da ODECA, da

OEA e da CIDH revelaram o grande problema que essas organizações ainda

enfrentam, que é fazer com que os Estados, de fato, acatem as decisões tomadas

no âmbito das mesmas.

Como apontado por Hamman (2003), ao final do caso, a OEA conseguiu posicionar-

se de forma mais dura com El Salvador, ameaçando a aplicação de sanções, o que

a levou a atingir importante papel na resolução imediata da Guerra do Futebol.

Porém, o necessário é que houvesse a resolução integral de todo o conflito, que

perdura na região há séculos. Para que isso ocorra, é necessário que El Salvador e

Honduras mudem sua postura no sistema internacional, optando por seguir, no

mínimo, uma cultura anárquica lockeana.

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Existe uma possibilidade de que a relação entre os Estados migre para essa cultura,

em que eles deixariam de adotar uma posição de inimigos e passariam a ter uma

postura de rivais, com um nível de tolerância maior (WENDT, 1999), já que os

construtivistas acreditam na possibilidade da anarquia passar por processos de

mudança, como citado por Nogueira e Messari (2005).

Esse é um processo lento, tanto por causa da desconfiança que ainda existe entre

os dois países, quanto por seus sérios problemas políticos enfrentados

internamente, mas que viria acontecendo com esforços de El Salvador e Honduras,

como o de assinar o Tratado de Paz em 1980, optar por levar seu caso de questões

fronteiriças à Corte Internacional de Justiça e, recentemente, as parcerias para

promover um maior fluxo comercial, de desenvolvimento e turismo na região do

Golfo da Fonseca34.

34 AQUILAR, Jimena. El Salvador, Nicarágua y Honduras firmaron acuerdo sobre golfo de Fonseca. Disponível em <http://www.laprensagrafica.com/2014/08/26/el-salvador-nicaragua-y-honduras-firmaron-acuerdo-sobre-golfo-de-fonseca>. Acesso em 6 de novembro de 2014.

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