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____________________________Prof a . Dr a . Patrícia Bulegon Brondani (@patyqmc) https://patyqmc.paginas.ufsc.br/ 1 As reações de substituição nucleofílica acílica ocorrem, geralmente, em compostos carbonilados possuidores de um grupo que pode servir como grupo abandonador (GA). Compostos que possuem essa característica, possuem um heteroátomo ligado a carbonila e, são os chamados derivados de ácidos carboxílicos. Os derivados de ácidos carboxílicos também possuem a carbonila como sítio eletrofílico. Sua reatividade varia de acordo com o grupo contendo o heteroátomo ligado à carbonila. Para melhor entender o comportamento destes compostos é importante conhecer a estrutura e, ponderar sobre a eletrofilicidade do grupo carbonila e habilidade do grupo abandonador em cada caso. R OH O Ácido Carboxílico R OR' O Éster R O O Anidrido de ácido R' O R Cl O Cloreto de acila ou cloreto de ácido R Br O Brometo de acila ou brometo de ácido Haletos de Acila R NH 2 O Amidas R NHR' O R NR' 2 O

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1

As reações de substituição nucleofílica acílica ocorrem,

geralmente, em compostos carbonilados possuidores de um grupo que

pode servir como grupo abandonador (GA). Compostos que possuem

essa característica, possuem um heteroátomo ligado a carbonila e, são

os chamados derivados de ácidos carboxílicos.

Os derivados de ácidos carboxílicos também possuem a carbonila

como sítio eletrofílico. Sua reatividade varia de acordo com o grupo

contendo o heteroátomo ligado à carbonila. Para melhor entender o

comportamento destes compostos é importante conhecer a estrutura e,

ponderar sobre a eletrofilicidade do grupo carbonila e habilidade do

grupo abandonador em cada caso.

R OH

O

Ácido Carboxílico

R OR'

O

Éster

R O

O

Anidrido de ácido

R'

O

R Cl

O

Cloreto de acilaou cloreto de ácido

R Br

O

Brometo de acilaou brometo de ácido

Haletos de Acila

R NH2

O

Amidas

R NHR'

O

R NR'2

O

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A ordem geral de reatividade (eletrofilicidade) para

compostos carbonílicos (incluindo cetonas e aldeídos) pode ser

observada abaixo:

O grupo funcional ácido carboxílico (COOH) e os grupos funcionais

relacionados, como ésteres e amidas, são comumente encontrados na

estrutura de diversas biomoléculas essenciais à vida, de produtos

bioativos e de intermediários sintéticos muito utilizados em síntese

orgânica. Os haletos de acila, são muito reativos e não são encontrados

na natureza, sendo preparados antes de seu uso.

Em geral, quando existem grupos doadores de elétrons ligados a

carbonila, a eletrofilicidade diminui, ou seja, a reatividade frente a

nucleófilos diminui. Já, quando existem grupos retiradores de elétrons a

reatividade aumenta.

A Teoria do Orbital Molecular explica este aumento da

reatividade na presença de grupos retiradores pela diminuição da

energia do LUMO que é o orbital molecular p* da C=O. Como a

reatividade depende da diferença de energia entre HOMO do nucleófilo e

LUMO do eletrófilo, com a diminuição da energia do LUMO ocorre o

aumento da reatividade.

O mecanismo da reação de substituição nucleofílica acílica

ocorre como mostrado abaixo.

R OH

O

Ácidos Carboxílicos

R OR'

O

Ésteres

R O

O

Anidridos de ácido

R'

O

R Cl

O

Cloretos de acila

R H

O

Amidas

R NR'2

O> > > R R

O> ~ > > R O

O

Aldeídos Cetonas Carboxilatos

Reatividade Similar

Base conjugada de ácidos carboxílicos

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Quando um nucleófilo ataca o LUMO da C=O (OMp*), a ligação p

entre carbono e oxigênio se quebra e, um intermediário é formado. O

nucleófilo ataca o carbono formando uma nova ligação C-Nu. O carbono é

atacado, pois como foi visto anteriormente (material sobre adição

nucleofílica à carbonila) o orbital p* da C=O (LUMO) é mais pronunciado

nesse átomo, para compensar a maior participação do oxigênio no

orbital p ligante. Além disso, a diferença de eletronegatividade polariza

a ligação em favor do oxigênio, deixando uma carga parcial positiva no

carbono.

O intermediário formado por esse ataque é tetraédrico, ou seja, o

carbono passa de sp2 a sp3. Geralmente, um composto contendo um Csp3

ligado a um oxigênio será instável se este carbono estiver também

ligado a outro átomo eletronegativo. O intermediário tetraédrico é

instável, pois ambos Y e Nu são eletronegativos. O par de elétrons do

oxigênio reconstitui a ligação p C=O e, Y- ou Nu- é expelido com o par de

elétrons da ligação.

Quando Nu- é menos básico que Y-, o Nu- sai como grupo

abandonador, retornando ao reagente, ou seja, nenhum produto novo é

formado. Quando Y- é menos básico que Nu-, Y- sai como grupo

abandonador e um novo produto é formado.Quando a basicidade das

duas espécies for similar, a reação é um equilíbrio!

Outro ponto a ser observado é a carga do nucleófilo. Em reações

com ânions (nucleófilos carregados negativamente) o intermediário

tetraédrico fica com carga negativa no oxigênio da carbonila (como

mostrado no esquema acima). Esse tipo de reação, ocorre mais

rapidamente, pois o nucleófilo negativo é mais reativo.

R Y

O

Nu

Csp2

R

O

YNu

Csp3

R Nu

O

Csp2

Y

Etapa 1: adição do nucleófilo

Etapa 2: eliminação do grupo abandonador

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Em reações com nucleófilos neutros, o nucleófilo é mais fraco e,

geralmente, ocorre a necessidade de ativar-se a carboxila, protonando-a

em meio ácido. A protonação deixa a espécie mais eletrofílica.

1. Reações de Ácidos Carboxílicos

A substituição nucleofílica em ácidos carboxílicos, deve ocorrer

com o composto na sua forma ácida. A desprotonação, que ocorre em

meio básico, levaria ao carboxilato, que é uma espécie fracamente

nucleofílica.

Quando o nucleófilo é íon haleto ou carboxilato, a reação não

ocorre, pois estas espécies são melhores grupos abandonadores do que o

OH. Portanto, não há formação de cloretos de ácidos através da

utilização simples de um íon cloreto, nem de anidridos através da

utilização de um carboxilato como nucleófilo.

Y

OH

NuHYNuHHO

Nu neutro: necessita meio ácido

intermediário tetraédrico protonado

H

Nu

OHYH

Y sai com o H+

Nu

O

Controle do pH(Adição de base)

OH

O

Deve ser mantido ácido para ser eletrofílico

xO

O

Carboxilato(base conjugada)pouco eletrofílico

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No entanto, ácidos reagem com álcoois levando a ésteres,

segundo o mecanismo abaixo. Excesso de álcool desloca o equilíbrio para

a formação do éster, bem como a retirada de água, que sai como grupo

abandonador. A retirada de água pode ser realizada pela utilização de

sulfatos, peneiras moleculares ou Dean-Stark. As condições reacionais

devem ter meio ácido. O meio ácido tem função de catálise e de realizar

a manutenção da forma ácida do ácido carboxílico.

g-Hidroxiácidos ciclizam rapidamente em um processo

intramolecular, pois há um nucleófilo e um eletrófilo na mesma

molécula. Essa reação é entropicamente favorecida, caso o ciclo

formado seja estável.

OH

O

O

O

+ HClCl

O+ H2O

Não ocorre

OH

O O

O

O+ H2O

Não ocorre

OH

OH

OH

OH

CH3OH

OCH3

OHHO

H

excesso de álcoolNesse momento, o CH3OH

seria o melhor GA.Isso é um equilíbrio e o

prototropismo pode ocorrer.

OCH3

OH2HO

Agora água é melhor GA

OCH3

OHOCH3

OH2O

A retirada de água pode auxiliar o deslocamento do equilíbrio.

Prototropismo

-H

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Ácidos carboxílicos não reagem com aminas, para formar

amiDas, pois a basicidade das aminas os desprotonem, levando ao

carboxilato. O carboxilato é pouco eletrofílico e reage somente com

nucleófilos muito fortes. Nem mesmo em ácidos fortes esta reação

ocorre, pois protonaria a amina levando a sua inativação como

nucleófilo.

2. Reações de Ésteres

Ésteres contendo diferentes grupos OR podem ter reatividade

diferenciadas. Grupos OR onde R possui possibilidade de deslocalização

de carga negativa são bases mais fracas e, melhores grupos

abandonadores, sendo mais reativos para substituição acílica.

Similarmente ao que ocorre com ácidos carboxílicos, ésteres não

reagem com íons cloreto nem carboxilato para levar a cloretos de ácidos

ou anidridos, respectivamente.

No entanto, ésteres reagem com água para levar a ácidos

carboxílicos, em meio ácido ou básico.

OHOH

O

H2SO4(cat.)

O O

95%

+ H2O

O

OH NH2

O

O H3N

O

OH NH3

O

O NH4

O

OPhMais reativo do que

O

OMe

Acetato de Fenila Acetato de Metila

PhOH (pKa = 10) MeOH (pKa = 15,5)

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Em uma hidrólise catalisada por ácido a primeira etapa é a

protonação do oxigênio da carbonila. Esse átomo é protonado, porque é

o que tem maior densidade eletrônica. Na segunda etapa, a água ataca,

levando a um intermediário tetraédrico protonado, que está em

equilíbrio com a forma não protonada. Ambos OH ou OR podem estar

protonados, pois tem basicidade similar. A quantidade de cada

intermediário depende do pH da solução e dos valores de pKa dos

intermediários protonados. Quando o primeiro intermediário colapsa,

ele expele água, que é a base mais fraca (mais fraca que RO-), formando

o éster novamente. Quando o segundo intermediário colapsa, expele

ROH que é base mais fraca do que HO-, formando o ácido carboxílico. O

excesso de água dirige o equilíbrio para a formação do ácido carboxílico.

A hidrólise de ésteres também pode ser acelerada por

utilização de soluções básicas. Neste caso, o íon hidróxido formado no

meio básico acelera as etapas lentas da reação, pois é mais nucleofílico

do que a água. A última etapa, que é a formação do carboxilato, é uma

reação irreversível, pois esta espécie não é uma espécie eletrofílica.

Portanto, a hidrólise em meio básico, ao contrário do que ocorre em

meio ácido, não é reversível.

O íon hidróxido é consumido na reação e é, portanto, um reagente

e não um catalisador (hidrólise promovida por hidróxido).

OMe

OH

OMe

OH

H2O

OHOMeHO

HNesse momento, o H2O

seria o melhor GA.Isso é um equilíbrio e o

prototropismo pode ocorrer.

OHOHMeHO

Agora HOMe é melhor GA

OH

OHOH

OHOMe

A retirada de metanol pode auxiliar o deslocamento do equilíbrio.

Prototropismo

excesso de água pode deslocar o equilíbrio

-H

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A hidrólise ácida de ésteres contendo um grupo alquila terciário

em sua estrutura ocorre através de um mecanismo um pouco diferente

e, de maneira mais rápida. Ocorre uma SN1 na parte alquílica terciária.

Um éster pode ainda reagir com um álcool contendo grupo R

diferente, em meio ácido ou básico para levar a reações de

transesterificação. Esta reação é um equilíbrio. Novamente, excesso do

álcool no meio reacional desloca o equilíbrio para o produto.

Um ponto importante a ser destacado, é que tanto a hidrólise

quanto a transesterificação podem ser catalisadas por ácido. O meio

ácido acelera as etapas lentas: formação do intermediário tetraédrico e

seu colapso.

O

OMe-OH

O

OMeOH

HO- H2O

OH

OMeOH

Quanto mais básico estiver o meio, menor é a concentração dess espécie

O

OH CH3O-

O

O CH3OH

O

O+H+ OH

O

Meio ácido: protonação da carbonila.

SN1 OH

OPrimeira etapa da SN1:

formação do carbocátion.

H2O

Segunda etapa da SN1: Ataque do solvente como nucleófilo.

H2O- H+

HO

Ph

O

OMeEtOH

HClPh

O

OEtMeOH

Benzoato de metila Benzoato de etila

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Similarmente, transesterificações e esterificações podem ser

aceleradas por RO-, criado em meio básico.

A reação de ésteres com aminas é rápida, pois aminas são bem

nucleofílicas. Forman-se amiDas. A reação está deslocada no sentido do

produto, já que o grupo amina é pior grupo abandonador.

Esta metodologia não pode ser catalisada por ácido, pois isto

diminuiria a nucleofilicidade da amina utilizada como reagente, através

de protonação. Pode-se acelerar a reação pelo uso de excesso de amina e

destilação do álcool formado como sub-produto.

3. Reações de amidas

As amidas não são muito reativas e não reagem com íons

halogênio, íons carboxilatos e álcoois, pois todas estas espécies são

melhores grupos abandonadores do que aminas. Com água, reagem

somente aquecendo e na presença de ácido.

A protonação em meio ácido leva a protonação do oxigênio da

carbonila e não do nitrogênio, mesmo este sendo, geralmente, mais

básico. Isso ocorre, porque os pares de elétrons do nitrogênio estão

comprometidos com a deslocalização.

Ph

O

OMeEtOH

EtO-

Ph

O

OEtMeOH

Excesso

Ph

O

OMeEtNH2 Ph

O

NHEtMeOH

Excesso

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O mecanismo reacional é similar ao que já foi visto. Ocorre o

ataque do nucleófilo e a formação do intermediário tetraédrico e, após, a

formação do produto.

O intermediário pode estar protonado no oxigênio ou no

nitrogênio. A protonação do nitrogênio é favorecida, pois NH2 é base

mais forte. Dentre os dois possíveis grupos abandonadores para o

intermediário favorecido, HO- ou NH3, a amônia é base mais fraca e é

expelida formando o ácido carboxílico. Como NH3 ainda é básico e o H do

ácido carboxílico é acido, ocorre desprotonação levando ao carboxilato

prevenindo a reação reversa.

O

N

O

N

O par de elétrons do nitrogênio está comprometido.

O

N

H

XO

N H

deslocalização não é possível nessa espécie (N sp3)

Não ocorre a protonação no nitrogênio!

O

N

H

OH

N

OH

N

Protonação no oxigênio da carbonila

Deslocalização permanece possível!

NH2

OH

NH2

OH

H2O

OHNH2HO

HOHNH3HO

OH

OH

OH

O-HNH3

Prototropismo

excesso de água pode deslocar o equilíbrio

O

O+NH4

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4. Reações com cloretos de acila

Cloretos de acila ou cloretos de ácido são muito reativos. Estes

compostos reagem com carboxilato formando anidridos, com álcoois

formando ésteres, com água levando a ácidos carboxílicos e com

aminas formando amidas. Isso ocorre porque o Cl- é melhor grupo

abandonador em todos os casos.

O mecanismo é mesmo citado até então. Um exemplo, pode ser

observado abaixo, onde ocorre a produção de um éster por reação do

cloreto de acila com um álcool.

Com aminas, o HCl, formado como sub-produto, protona a amina

sem reagir. Cada equivalente que reage gera 1 equivalente de HCl que

protona 1 equivalente de amina. Esse fato desativa a amina como

nucleófilo, e geraria somente 50% de conversão ao produto. Com isso, é

necessário a utilização do dobro de amina no meio ou, a presença de

uma amina terciária (que age como base). Aminas terciárias não

formam produto estável de substituição nucleofílica acílica, pois

levariam a produto carregado no nitrogênio e ainda mais eletrofílico.

O

Cl MeOHO

ClMeOH

O

ClMeO

-H+O

OMeHCl

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5. Reações com Anidrido de ácido

Os anidridos de ácido não reagem com cloretos, pois o Cl- é

melhor grupo abandonador do que o carboxilato. No entanto, reagem

com água, álcoois e aminas, formando ácidos carboxílicos, ésteres e

amidas, respectivamente.

Levam sempre ao produto principal (ácido carboxílico, ésteres ou

amida) e um ácido carboxílico ou um carboxilato (no caso de reação com

aminas). Excesso de amina é necessário para formação de amida, já que

o ácido carboxílico, formado como sub-produto, protona a amina e a

desativa como nucleófilo (similar ao que ocorre com HCl).

O

Cl NH3

O

NH2HCl

NH3NH4 Cl

O

Cl MeNH2

O

NHMe HClNH3

NH3CH3 Cl

50% de conversão

50% de conversão

Solução:

Ph

O

Cl 2(MeNH2) Ph

O

NHMe NH3CH3 Cl

Ph

O

Cl MeNH2 Ph

O

NHMe ClN

Piridina

NH

O

O EtOHO

OEt

O O

OH

O

O H2OO

OH

O O

OHou 2

O

OH

O

O 2(MeNH2)O

NHMe

O O

O NH3Me

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Reações com anidridos não simétricos, dependem do melhor

grupo abandonador. No entanto, não é usual utilizar anidridos não

simétricos, pois levam a misturas.

6. Formação de Cloretos de Acila a partir de Ácidos Carboxílicos

Apesar de não reagir com o íon cloreto formando um cloreto de

ácido, caso o OH seja transformado em um bom grupo abandonador

(melhor do que Cl-), ácidos podem levar aos derivados cloretos. Isso

poderia acontecer em meio ácido, o que levaria a protonação levando a

eliminação de água. No entanto, o HCl não consegue sozinho

transformar ácidos em cloretos de ácidos. Por isso, geralmente, estas

reações são realizadas na presença de cloreto de tionila (SOCl2) ou

pentacloreto de fósforo (PCl5).

O SOCl2 é um líquido volátil com cheiro forte e, é eletrofílico no

átomo de enxofre. Esta espécie é ataca por ácidos carboxílicos levando a

uma espécie altamente eletrofílica e instável. A protonação do

intermediário pelo HCl formado na reação, faz com esse seja reativo

suficiente para reagir com o fraco nucleófilo Cl-. O intermediário

tetraédrico é transformado em cloreto de acila, dióxido de enxofre e

HCl. Esta etapa é irreversível, pois SO2 e HCl são gases perdidos na

reação.

O pentacloreto de fósforo é utilizado de maneira semelhante.

O

OH Cl SO

Cl

OH

O SO

Cl

Cl

O

O SO

ClCl

H O

Cl HCl SO2

Voláteis

O

OH

OH

O PCl4

Cl

O

O P ClCl

H O

ClClPCl4

ClCl

ClO PCl3 HCl

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7. Resumo das reações em derivados de ácidos carboxílicos

8. Como produzir uma cetona a partir de derivados de ácidos

carboxílicos: Reações com Organometálicos

Os derivados de ácidos carboxílicos, por serem eletrofílicos,

também reagem com organometálicos. A diferença é que a reação é uma

substituição, gerando a troca do grupo contendo heteroátomo (grupo

abandonador) pelo grupo orgânico do organometálico. O produto,

portanto, é uma cetona. Mas a cetona formada é mais reativa (mais

eletrofílica) do que a maioria dos derivados de ácidos carboxílicos e, na

sequência, o organometálico do meio reage com ela em adição à

carbonila. Com ésteres, por exemplo, o álcool é obtido como produto

principal.

R OH

O

Ácidos carboxílicos

H2OÁcido ou base

R1OH, H+

Ácido somente (manter o ácido carboxílico protonado)

R OR1

O

R Cl

O

O R1

OO

R NHR2

O

Mais reativo

Menos reativo

R1COO-

R1OH

NH2R2

Cloretos de Acila

Anidridos

Ésteres

Amidas

H2O

H2O

SOCl2 ouPCl5

R1OH

NH2R2

H2OÁcidos fortes

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A solução seria utilizar um cloreto de ácido como material de

partida, pois esse grupo funcional é mais eletrofílico do que cetonas e

aldeídos. Somente em caso de excesso de organometálico no meio a

reação continuaria até o correspondente álcool. Caso contrário, pode-se

controlar para ser obtida a cetona.

Outra alternativa é fazer um intermediário tetraédrico

suficientemente estável para não se transformar em cetona. Dessa

forma o intermediário não é reativo frente a nucleófilos. A cetona

somente é formada quando a reação é isolada e o nucleófilo destruído. A

reação de um ácido carboxílico com um organolítio, leva primeiro ao

carboxilato de lítio, ou seja, a base conjugada do ácido carboxílico. Essa

espécie é pouco eletrofílica, mas o organolítio no meio é suficientemente

nucleofílico para reagir (carboxilato só reagirá com nucleófilos muito

fortes). O produto é um diânion tetraédrico. Após o tratamento com

água, o oxigênio é protonado e leva a cetona. A água também destrói

qualquer organolítio que esteja sem reagir, não havendo possibilidade

de novo ataque nucleofílico.

OMe

O

BrMg Me

Não é um equilíbrio, pois o grupo alquila não é um grupo abandonador.

Somente -OMe pode sair comogrupo abandonador.

OMe

O

Me Me

O

BrMg MeCetona é mais

eletrofílica que éster(adição à carbonila)

Me

O

Me Me

OH

Me

Álcool secundário

MgBr Cl

O O

OMe

Composto multifuncional: cloreto mais reativo do que o éster, reage com o nucleófilo.

O O

OMe

Cloreto é ainda mais reativo que a cetona formada, o organometálico

prefere reagir com o cloreto.

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Abaixo podem ser observadas reações de organometálicos com

ésteres, cloretos de ácidos ou ácidos carboxílicos, de maneira resumida:

9. Reduções de derivados de ácidos carboxílicos

Ácidos carboxílicos, ésteres e cloretos de ácido são normalmente

reduzidos aos álcoois primários correspondentes, sendo que, sob

condições especiais, o aldeído intermediário pode ser obtido. Quando

aminas são reduzidas, obtêm-se normalmente bons rendimentos das

aminas correspondentes (não para em imina).

R O

O

Li Me

LiR O

O

HMeLi

*Reação ácido-base é a primeira a ocorrer;

* Organometálicos são nucleófilos e bases fortes.

R O

O

Me

Li

LiIntermediário tetraédrico estável em condições anidras e apróticas

H2OTratamento final da reação: só

então é adicionado solvente prótico

R OH

OH

Me R OH2

O

Me R Me

O

Cetona

OR

O R1LiR1

OH

R1

Cl

O R1Li

R1

O R1LiR1

OH

R1

OH

O R1LiO- Li+

O R1LiO-Li+

O-Li+

R1

Tratamento em meio aquoso

R1

O

Éster Álcool

Cloreto de Acila Cetona Álcool

Forma a cetona que é mais reativa e reage até o álcool terciário.

Forma a cetona (menos reativa do que o cloreto). Pode controlar para parar na cetona. Em caso de excesso de organometálico, pode levar ao álcool

terciário.

Ácido Carboxílico Carboxilato Cetona

Primeira reação é abstração do H ácido, formando o carboxilato. Este só reage, pois o nucleófilo é muito forte. Leva ao composto tetraédrico que só é transformado em

cetona após o tratamento em meio aquoso e destruição do organometálico.

REAÇÕES COM ORGANOMETÁLICOS

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https://patyqmc.paginas.ufsc.br/

17

A redução de ésteres com hidretos pode parar no aldeído, mas só

com reagentes especiais como, por exemplo, DIBAL-H, um redutor mais

fraco. Utilizando-se LiAlH4, que é muito reativo, não para em aldeído.

Reage com o aldeído formado levando ao álcool correspondente.

Para ácidos carboxílicos o DIBAL-H provoca a desprotonação,

levando ao carboxilato. Nesse caso, o reagente não é nucleofílico o

suficiente para continuar a reação. A única opção é usar LiAlH4, mais

forte, e levar ao álcool correspondente.

R X

O

X = OH, OR, Cl

RedutorR H

ORedutor

R H

OH

HAldeído

(Sob condições especiais pode parar aqui)Álcool

primário

R NR2

O

R = H, Alquila, arila

RedutorR NR2Aminas

HH

Redução de Ésteres e Cloretos de Ácido para o correspondente aldeído: DIBAL-H

O

OCH3Éster

1. DIBAL-H, -780C

2. H2O

O

HAldeído

O

ClCloreto de Ácido

1. DIBAL-H, -780C

2. H2O

O

HAldeído

DIBAL-H permite a adição somente de um hidreto. Isto ocorre por que a troca de substituintes por grupos R no LiAlH4 diminui a reatividade deste reagente.

AlH

DIBAL-H

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18

Similarmente, as amidas são reduzidas a aminas.

10. Bibliografia

Material baseado ou retirado de:

O

O

H H AlH3

Li

O

OAlH3

H2

O

O AlH H

HO

O AlH2

O

H

H

Aldeído

LiAlH4O

H HOH

Álcool

H3O+

Tratamento final

N

O

H H AlH3

Li

NMe

OAlH3

H2

NMe

O AlH H

HNMe

O AlH2

NMe

H

H

Imina

LiAlH4NMe

H HNHMe

Amina

H3O+

Tratamento final

Me

Segunda adição de hidreto