OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · Autor: Fábio de Oliveira Cardoso...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013

Título: As músicas de Martinho da Vila (1972 a 1994) e o ensino de história e cultura afro-brasileira

Autor: Fábio de Oliveira Cardoso

Disciplina/Área: História

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira Ensino Fundamental e Médio. Localização: Rua Libertador San Martin, nº 1046, Conjunto Guaiapó, Maringá – Paraná, CEP: 87.047-416, Fone: (44) 3268-5215

Município da escola: Maringá

Núcleo Regional de Educação: Maringá

Professor Orientador: Profª Drª. Vanda Fortuna Serafim

Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Maringá (UEM)

Relação Interdisciplinar: Não há

Resumo:

Esta Unidade Didática objetiva propiciar estudos aprofundados sobre o uso de novas fontes para o ensino da história e cultura afro-brasileira, por meio das músicas de Martinho da Vila (1972 a 1994), para alunos (as) de 9º ano do Colégio Estadual Tânia Varella Ferreira E. F. M, como forma de atender a demanda da Lei n. 10.639/2003, quanto à obrigatoriedade do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana na escola. Para tanto será utilizado um roteiro nas análises temáticas das seguintes fontes musicais: Jubiabá, O Caveira, Festa de Umbanda, Casa de bamba, Nas águas de Amaralina e Semba dos ancestrais. Cabe destacar da linguagem musical elementos simbólicos das religiões de matriz africana, resultado do hibridismo cultural na formação da sociedade Brasileira, com base no aporte teórico de Peter Burke, Marcos Napolitano e Reginaldo Prandi entre outros.

Palavras-chave: História; Cultura afro-brasileira; Martinho da Vila; Fontes musicais.

Formato do Material Didático: Unidade Didática

Público:

Alunos e alunas de uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental.

AS MÚSICAS DE MARTINHO DA VILA (1972 A 1994) E O ENSINO DE HISTÓRIA

E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

1. Apresentação

“Historiadores trabalham com fontes” (PINSKY, 2008, p. 7-8). Esta afirmação

que abre a apresentação da obra Fontes Históricas, nos leva a repensar os limites

da pesquisa e do ensino de História. Seria possível ensinar História sem fazer

referência a fontes? E ao fazê-lo, estariam produzindo um conhecimento científico

válido? Ao abrir mão do uso das fontes, o que legitimaria o discurso do professor de

História em relação a qualquer outra discurso?

Entendemos que o ensino da História não deve ser desvinculado do uso e/ou

apresentação das fontes históricas. Nós nos apropriamos delas por meio de

abordagens específicas, métodos diferentes, técnicas variadas, os quais se referem

às técnicas utilizadas pelos pesquisadores em seu contato com os documentos, os

vestígios e os testemunhos do passado humano. Fontes têm historicidade conforme

nos indica Pinsky, “documentos que "falavam" com os historiadores positivistas

talvez hoje apenas murmurem, enquanto outros que dormiam silenciosos querem se

fazer ouvir. “E que dizer da História oral, das fontes audiovisuais, de uso tão

recente?” (PINSKY, 2008, p.8).

Historicamente, foi de fundamental importância, a publicação, em 1974, da

obra de Jacques LeGoff e Pierre Nora, traduzida no Brasil em três volumes, com o

título História: Novos Problemas; Novas abordagens; Novos objetos que divulgou

trabalhos de historiadores contemporâneos preocupados com novos problemas,

objetos e abordagens da Nova História, conforme indicou Maria de Lourdes Janotti

(2008). Os editores reconheciam as afinidades com os Annales, mas chamavam a

atenção para o caráter diversificado dos artigos sem nenhuma ortodoxia:

O que obriga a história a se redefinir é, de imediato, a consciência pelos historiadores do relativismo de sua ciência. A história não é o absoluto dos historiadores do passado, providencialistas ou positivistas, mas o produto de uma situação histórica. [...] O campo que ela ocupava sozinha, como sistema de explicação das sociedades pelo tempo, encontra-se invadido por outras ciências com fronteiras mal definidas que correm o risco de absorvê-la e dissolvê-la. [...] O mais seguro sistema de explicação histórica encontram-se colocados em questão por essa dilatação do campo da história. A mais global e a mais coerente das visões sintéticas da história -

no duplo sentido da palavra o marxismo, sofre o assalto das novas ciências humanas. A história social se prolonga na história das representações sociais, das ideologias, das mentalidades. Aí descobre um jogo complexo de interações e deslocamento que torna impossível um recurso simplista às noções de infra e superestrutura. [...] Finalmente, a provocação mais grave lançada à história tradicional é, sem dúvida, aquela esboçada pela nova concepção de história contemporânea, que é procurada através das noções de história imediata ou de história do presente, a qual, ao recusar reduzir o presente a um passado incoativo, coloca em questão a definição tradicionalmente aceita da história como ciência do passado (LEGOFF e NORA. Apud: JANOTTI, 2008, p. 14-15).

É justamente essa reformulação da história que nos permite articular os

intuitos deste trabalho. O uso de novas fontes, agora voltadas ao Ensino da História,

para pensarmos uma problemática, relativamente nova, no âmbito da preocupação

historiográfica que é a história e cultura afro-brasileira; novos problemas, à medida

que as manifestações culturais e crenças religiosas afro-brasileira, apesar de terem

despertado o interesse das ciências sociais e da medicina desde o século XIX, no

Brasil, surge a partir da década de 1970 como problemática historiográfica; novas

abordagens, a medida que uma historiográfica tradicional voltada apenas aos

documentos escritos e uma história factual, pouco acrescentaria a essa discussão; e

consequentemente, novos objetos, considerando que este não se constitui a revelia

das fontes, aportes teóricos e do sujeito pesquisador.

Exposto isto e por entender que as músicas sempre exerceram um grande

fascínio sobre as pessoas de diferentes lugares do planeta, nossa proposta consiste

em utilizar fontes musicais no ensino de história e cultura afro-brasileira,

especialmente as crenças religiosas, por meio de algumas das músicas de Martinho

da Vila (1972 a 1994).

2. Conhecendo as Leis do ensino: 10.639/2003 e a 11.645/2008.

A Lei n. 10.639/2003 determinou a obrigatoriedade do ensino da história e

cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas brasileiras e propôs novas

diretrizes curriculares para ensinar a história e cultura afro-brasileira como integrante

na formação da sociedade brasileira, na qual os afro-brasileiros possam a ser vistos

com sujeitos históricos, que contribuíram com conhecimento cultural e intelectual a

ser socializado a partir da música, dança e das religiões de matrizes africanas.

Com o passar dos anos, essa Lei sofreu pequena alteração em sua redação

por força da Lei n. 11.645/2008, quando acrescentou-se, o ensino de história e

cultura indígena como obrigatório nos estabelecimento de ensino fundamental e

médio de todo Brasil e mantiveram-se o restante da redação da Lei 10.639/2003.

Por tanto, essas duas Leis tornou obrigatório o ensino da história e cultura

afro-brasileira e africana e indígena em todas as escolas brasileiras, tendo o

professor ou a professora o desafio de buscar novos estudos a cerca destas

temáticas para continuar ensinando.

Você pode ler e analisar o que dizem estas leis nos seguintes documentos:

LEI N. 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003.

LEI N. 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008.

Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. "Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1

o O conteúdo programático a que se refere

o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. § 2

o Os conteúdos referentes à História e

Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras (Extraido de: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003 /L10.639.htm>. Acesso em: 20 fev. 2013).

Altera a Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. “Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1

o O conteúdo programático a que se refere

este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2

o Os conteúdos referentes à história e cultura

afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras (NR) (Extraído de: <http://www.planalto.gov.br/ccivil 03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm>. Acesso em: 09 de set. 2013).

ATIVIDADE

Você já tinha ouvido falar sobre essas Leis? O quê?

Como você entendeu estas duas Leis?

Qual alteração sofreu a Lei n.10.639/2003?

3. A história de Martinho da Vila

Para o estudo dessa Unidade Didática é importante conhecer um pouco da

história de vida do cantor Martinho da Vila e algumas de suas composições e

interpretações, bem como os vocabulários e os personagens que aparecem nas

letras de seis músicas suas, que serão estudadas a partir dos temas e contextos dos

quais estão inseridas.

Neste sentido, Martinho José Ferreira nasceu em Duas Barras, Rio de

Janeiro, em 12 de fevereiro de 1938. E é um dos artistas que melhor representa a

cultura afro-brasileira por meio de suas músicas na modalidade da Música Popular

Brasileira – MPB, no gênero de samba, o qual mantém a percussão tradicional do

samba e de maneira irônica compõe as temáticas das letras das músicas que canta,

retratando também a vida e o cotidiano dos pobres nas cidades grandes.

Além disso, é notável a ideia de identidade e pertencimento do artista

Martinho da Vila com a cultura afro-brasileira, e sua preocupação em divulgar essa

cultura por meio das letras das músicas de samba que compõe e canta repleto de

expressões que remetem ao universo simbólico das religiões de matriz africana.

Vejamos um pouco mais sobre a história de Martinho da Vila, por meio da

biografia fornecida em seu site oficial.

Martinho José Ferreira nasceu em Duas Barras, Rio de Janeiro, em 12 de fevereiro de 1938. Filho de lavradores da Fazenda do Cedro Grande, veio para o Rio de Janeiro com apenas 4 anos. Cidadão carioca criado na Serra dos Pretos Forros, sua primeira profissão foi como Auxiliar de Químico Industrial, função aprendida no curso intensivo do SENAI. Um pouco mais tarde, enquanto servia o exército como Sargento Burocrata, cursou a Escola de Instrução Especializada, tornando-se escrevente e contador, profissões que abandonou em 1970, quando deu baixa para se tornar cantor profissional. Pai de oito filhos e avô de sete netos, Martinho conservou o estado civil de solteiro até conhecer a jovem Clediomar Corrêa Liscano, que é conhecida como Cléo. O seu enlace com Cléo, 33 anos mais jovem, foi realizado em ato civil na sua Fazenda Cedro Grande no dia 13 de maio de 1993. O compositor surgiu para o grande público no III Festival da Record, em 1967, quando concorreu com o partido alto Menina Moça e no ano seguinte, na quarta edição do mesmo festival, lançando o clássico samba Casa de Bamba. Sua carreira de cantor profissional iniciou-se no início de 1969 quando lançou o LP intitulado Martinho da Vila, que foi o maior sucesso do Brasil em execução e vendagem, com grandes sucessos como Casa de Bamba e O Pequeno Burguês e outras que se tornaram clássicos - Quem é Do Mar Não Enjoa, Iaiá do Cais Dourado e Tom Maior. Logo tornou-se um dos mais respeitados artistas brasileiros além de um dos maiores vendedores de disco no Brasil, sendo o primeiro sambista a ultrapassar a marca de um milhão de cópias com o CD “Tá delícia, Tá

gostoso” lançado em 1995. Toda essa história está no rico acervo em sua cidade natal, Duas Barras. Entre os títulos guardados estão os de Cidadão Carioca, Cidadão benemérito do Estado do Rio de Janeiro, Comendador da República em grau de oficial, a Comenda da Ordem do Mérito Cultural e as comendas mineira Tiradentes e JK. Sua vida de sambista (ritmista, passista, compositor, puxador de samba enredo, presidente de ala e administrador) começou na extinta Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato. Ingressou e passou a dedicar-se de corpo e alma à Escola do Bairro de Noel em 1965 e a história da Unidos de Vila Isabel se confunde com a de Martinho que passou a seu chamado de o Da Vila. Por várias vezes esteve à frente da agremiação da qual é o Presidente de Honra. Os sambas de enredo mais consagrados da escola são de sua autoria. Também criou vários enredos para desfiles, dentre os quais Kizomba, a Festa da Raça que está entre os mais memoráveis da história dos carnavais e garantiu para a Vila, em 1988, seu consagrado título de Campeã do Centenário da Abolição da Escravatura e colaborou em outros temas, entre os quais o Soy Loco Por Ti América, elaborado em parceria com os carnavalescos Alexandre Louzada e Alex Varela, que deu a Vila o título máximo do carnaval de 2006. Nacionalmente conhecido como sambista, Martinho da Vila é um legítimo representante da MPB, com várias composições gravadas do exterior e considerado por muitos críticos como o melhor cantor do Brasil, interpretando músicas dos mais variados ritmos. Tem uma grande ligação com a música erudita e idealizou, em parceria como Maestro Leonardo Bruno o Concerto Negro, espetáculo sinfônico que enfoca a participação da cultura negra na música erudita, participou do projeto Clássicos do Samba sob a regência do saudoso Maestro Sílvio Barbato. Além de compositor e cantor, é escritor autor de 10 livros (Adaptado de: FERREIRA; ZFM. Martinho da Vila site oficial: biografia. Disponível em:

<http://www.martinhodavila.com.br/biografia.htm>. Acesso em: 10 set. 2013).

Atentando a preocupação e atuação de Martinho da Vila com e para o

Movimento negro e o resgate de uma história e cultura afro-brasileira, podemos

destacar três projetos realizados pelo cantor e também apresentados em seu site

oficial1: “Martinho e Angola”, “Kizomba” e “Concerto Negro”.

O primeiro deles, “Martinho e Angola”, foi resultado de uma primeira viagem

feita pelo cantor na década de 1970 a Angola, ainda no início de sua carreira,

tornando-se uma espécie de Embaixador Cultural, em uma época que o país

africano não era representado por uma embaixada no Brasil. Várias apresentações

musicais foram realizadas em Angola. Uma delas, conhecida como projeto

“Kalunga”, reuniu, no início dos anos 80, uma seleção de artistas brasileiros, como

Dorival Caymmi, João Nogueira e Clara Nunes, para realizar apresentações em

regiões diversas do país. Posteriormente, houve uma inversão do projeto e Martinho

elaborou o “Canto Livre de Angola”, trazendo ao Brasil a música angolana. Foram

realizados shows no Rio, São Paulo e Salvador.

O segundo projeto “Kizomba” consistiu na organização dos Encontros

Internacionais de Arte Negra. Reunindo pessoas de representatividade política e

artística como a senadora Benedita da Silva, Antônio Pitanga, Milton Gonçalves e

Jorge Coutinho, foram promovidos eventos de arte e cultura negra, e, também,

1 As informações sobre os três projetos foram retirados de: FERREIRA; ZFM. Martinho da Vila site

oficial: negritude. Disponível em: <http://www.martinhodavila.com.br/mov_negros.htm>. Acesso em: 21 nov. 2013.

prestou-se assessoria a artistas e personalidades africanas que vinham ao Brasil.

Este projeto foi realizado de 1984 a 1990.

O terceiro projeto, por fim, o “Concerto Negro” enfoca a cultura negra na

música erudita. A proposta nasceu em 1988, ano em que o cantor e compositor

Martinho da Vila, junto com o maestro Leonardo Bruno, atuaram num projeto de

integração clássico-popular e resolveram dar continuidade ao concerto que mostra a

participação do negro na música erudita, já tendo sido apresentado no Palácio das

Artes, em Belo Horizonte, na Sala Cecília Meireles, RJ, na Igreja de Nossa Senhora

do Rosário, em Diamantina, MG e em setembro de 2000 o “Concerto Negro” foi

apresentado no Teatro Municipal do RJ – Uma celebração da Cidadania.

ATIVIDADE

Anote da história de vida de Martinho da Vila os fatos que mais lhe chamaram a

atenção.

Em grupos de três alunos ou alunas vamos ao laboratório de informática, para

pesquisar na Internet, notícias e fotos sobre o cantor.

Com orientação do professor (a) confeccione cartazes com os dados coletados,

para expor na sala.

4. O hibridismo cultural afro-brasileiro nas músicas de Martinho da Vila

(1972 a 1994)

O processo de formação da nação brasileira ocorreu principalmente pela

composição social e étnico-racial dos diferentes povos e culturas, entre elas:

indígenas, europeias e africanas, cujo encontro das culturas desencadeou na

formação de uma nova cultura brasileira e híbrida, por meio da adaptação e

acomodação imposta pela realidade local no processo de colonização.

Assim, esses povos sofreram um processo de hibridização em que

mantiveram parte de suas culturas de origens e assimilaram outros elementos da

cultura estrangeira, no caso da cultura afro-brasileira e indígena na forma de

resistência ao colonizador europeu.

Exemplos da cultura afro-brasileira podem ser identificados em algumas

práticas híbridas religiosas como demonstra o historiador Peter Burke:

Esta situação pode ser comparada àquela dos escravos africanos nas Américas, que às vezes aparentemente se adequavam ao cristianismo, principalmente as primeiras gerações de escravos, ao mesmo tempo em que mantinham suas crenças tradicionais. [...] A invocação a Santa Bárbara pode ter sido “para inglês ver”. No entanto, o que começou como um mecanismo consciente de defesa se desenvolveu com o passar dos séculos e se transformou em uma religião híbrida (2010, p. 67-68).

Outros exemplos podem ser percebidos na música e na linguagem do povo

brasileiro, o que torna relevante historicamente às representações híbridas culturais

do simbolismo religioso afro-brasileiro constituído pela participação desta população

e enfatizada nas músicas de Martinho da Vila (1972 a 1994).

Nesse sentido o historiador Peter Burke lembra:

Exemplos de hibridismo cultural podem se encontrados em toda parte, não apenas em todo o globo como na maioria dos domínios da cultura-religiões sincréticas, filosofias ecléticas, línguas e culinárias mistas e estilos híbridos na arquitetura ou na música (2010, p. 23).

Para esta finalidade serão utilizadas seis músicas selecionadas no gênero de

samba como novas fontes no ensino de história e cultura afro-brasileira por meio das

músicas de Martinho da Vila (1972 a 1994) como forma de ciência das letras e

compreensão nos ritmos de samba.

ATIVIDADE

Conceituar hibridismo cultural no universo da cultura afro-brasileira.

Discuta com os colegas e faça suas anotações sobre as diversas formas de

manifestações híbridas afro-brasileiras, tais como roupa, comida, penteados,

crenças religiosas, folclore e musicalidade.

5. O uso de novas fontes no ensino de história e cultura afro-brasileira por

meio das músicas de Martinho da Vila (1972 a 1994)

Com base nos estudos do sociólogo Reginado Prandi (1990), é a partir da

contracultura e da efervescência dos anos 60, que a sociedade brasileira, por meio

de intelectuais e artistas, buscou suas origens e encontrou referência na cultura

negra, voltando-se para a Bahia ou África.

Dessa maneira, muitas músicas ganharam a mídia eletrônica no sudeste

referindo-se a Iemanjá, a Umbanda, os orixás e o Candomblé, as quais tiveram

maior aceitação pelas classes médias a princípio, depois se difundiram por todas as

classes sociais. Neste sentido argumenta o sociólogo, “são anos de produção de

uma nova forma de cantar que elementos da cultura do Candomblé vão se firmando

com legitimidade nas classes médias consumidoras do que se produz de mais

avançado no país” (PRANDI,1990, p. 68).

Portanto, a elaboração do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola para

essa Unidade Didática, fundamentou-se, a princípio, com o acesso no ano de 2013 à

pesquisa publicada On Line pelo sociólogo Reginaldo Prandi: “Orixás na Música

Popular Brasileira”, o qual selecionou 761 letras da Música Popular Brasileira –

MPB, que fazem menção aos orixás e aspectos das religiões afro-brasileiras dentre

outros.

Para tanto, o estudo da Música Popular Brasileira - MPB no gênero de samba,

em sua forma híbrida agrega nos estilos musicais elementos da cultura africana e

afro-brasileira na composição das canções, que seguem acompanhadas de uma

linguagem musical e ritmo constituído de identidades negras, transmitidas por várias

gerações pela oralidade cantada nas letras musicais, o que contribui para

pensamento da cultura produzida pela sociedade brasileira.

Desse modo, as contribuições da historiadora Mariana Villaça, ajuda

entender melhor a definição da canção:

Um complexo conjunto composto pelos elementos musicais por excelência: harmonia, ritmo, melodia, arranjo, instrumentação – e por uma série de quatros elementos que compõem sua forma: a interpretação e os signos visuais que formam a imagem do intérprete, a performance, envolvida, os efeitos timbrísticos e os recursos sonoros utilizados na gravação [...] a estes elementos acrescenta-se a à letra da canção e toda a sua complexidade estrutural, à medida que qualquer signo linguístico, associado a um determinado signo musical, ganha outra conotação semântica, que extrapola o universo da compreensão da linguagem literária (VILLAÇA, 1999 apud NAPOLITANO, 2011, p. 258).

Com isso, embasados em novos conhecimentos extraídos da linguagem

musical, alunos e alunas terão mais autonomia para pensarem sua própria

identidade, baseada na empatia histórica do respeito à diversidade cultural dos

próprios colegas.

ATIVIDADE

Argumente como o samba agrega estilos híbridos.

6. A música e o estudo da história

No Brasil, a área de Estudos Literários e as Ciências Sociais consagraram

certas formas de analisar a canção ainda nos anos 1970 que acabaram

influenciando os primeiros trabalhos historiográficos. Enquanto os Estudos Literários

destacou o parâmetro poético da canção - a "letra"- como foco privilegiado de

análise; a Sociologia enfatizou o estudo dos atores sociais envolvidos na criação,

produção e consumo da música. Nesse sentido, em trabalhos de análise histórica

por meio da canção, a "letra" pode funcionar como simulacro de um documento

escrito, crónica de época ou tentativa de crítica social feita por um autor, sendo

analisada em sua significação puramente verbal, com alguns elementos de análise

poética (NAPOLITANO, 2008).

A crítica e preocupação de Marcos Napolitano (2008) é válida, especialmente,

quando consideramos, conforme indica o próprio autor, que

Vivemos em um mundo dominado por imagens e sons obtidos "diretamente" da realidade, seja pela encenação ficcional, seja pelo registro documental, por meio de aparatos técnicos cada vez mais sofisticados. E tudo pode ser visto pelos meios de comunicações e representado pelo cinema, com um grau de realismo impressionante. Cada vez mais, tudo é dado a ver e a ouvir, fatos importantes e banais, pessoas públicas e influentes ou anônimas e comuns. Esse fenômeno, já secular, não pode passar despercebido pelos historiadores, principalmente para aqueles especializados em História do século XX (NAPOLITANO, 2008, p.236).

Considerando, então, que as fontes audiovisuais e musicais ganham

crescentemente espaço na pesquisa histórica, torna-se necessário uma proposta

teórica e metodológica para trabalhar com tais fontes. Do ponto de vista

metodológico, indicada Napolitano (2008) são vistas pelos historiadores como fontes

primárias novas, desafiadoras, mas seu estatuto é paradoxal. De um lado, os

registros sonoros em geral são considerados por alguns, tradicional e erroneamente,

testemunhos quase diretos e objetivos da história, de alto poder ilustrativo,

sobretudo quando possuem um caráter estritamente documental, qual seja, o

registro direto de eventos e personagens históricos. E de outro lado, as fontes

audiovisuais de natureza assumidamente artística são percebidas muitas vezes sob

o estigma da subjetividade absoluta, impressões estéticas de fatos sociais objetivos

que lhes são exteriores (NAPOLITANO, 2008).

Em virtude das questões levantadas por Napolitano (2008) ao pensarmos em

trabalhar a música para o Ensino da História e Cultura afro-brasileira, organizamos

um “roteiro para a análise da música” que será utilizado com todas as músicas

trabalhadas em sala. Por meio deste roteiro, buscar-se-á conhecer, primeiro, os

dados técnicos da música; em segundo lugar, as características musicais voltadas

tanto a sonoridade quanto a letra; e, por fim, os aspectos históricos da música.

O gênero de samba selecionado contam com a participação, autoria,

adaptação e interpretação das seis músicas do cantor Martinho da Vila (1972 a

1994), as quais na sua linguagem musical serão problematizadas e contextualizadas

a partir de temas explorados em sala de aula como fontes históricas na sua

diversidade cultural hibrida e étnica afro-brasileira, remetendo ao universo simbólico

das religiões de matriz africana do Candomblé e da Umbanda entre outras.

ATIVIDADE

Comente como as fontes audiovisuais e musicais são vistas pelos historiadores e

dê sua opinião sobre o assunto.

a. Conversando sobre o conhecimento prévio.

Você gosta de ouvir quais tipos de músicas? Se for possível anote o nome do

cantor da música.

O que tem levado você a ouvir estas músicas?

Anote algumas mensagens que você percebeu nas letras dessas músicas que

ouve?

Você conhece alguma música que faz referência a representações religiosas?

Quais?

b. Introduzindo as músicas

Convidar os alunos a ouvirem as músicas selecionadas de Martinho da Vila,

com os olhos fechados, prestando mais atenção ao ritmo do que a letra e pedir para

que expressem, por meio de um texto escrito, as sensações e percepções que lhe

vem a mente ao ouvirem o som. A que a música lhes remete? O som é agradável?

Já ouviu alguma destas músicas anteriormente?

Fonte 1: Jubiabá

Na música Jubiabá de autoria e interpretação de Martinho da Vila, no ano de

1972, apresenta em sua letra musical a personagem de um homem que vive o

dilema entre o olho do bem e do mal, também conhecido popularmente como “olho

gordo”. Este homem recorre ao mito da magia pelo “feitiço” do caboclo Jubiabá para

desfazer a crença do “mau-olhado”, do olho que tudo seca. Ele procura mudar o

destino de sua vida trazendo a “negra” de volta.

Às vezes as pessoas recolhem a forças divinas para resolvermos seus

problemas e mudarem os rumos de suas vidas como procura demonstrar a letra

dessa música.

Fonte 1: Jubiabá De: Martinho da Vila Intérprete: Martinho da Vila Disco: Batuque na cozinha Gravadora: RCA Victor Ano: 1972 O homem tem dois olhares Um encherga e outro vê Tem o olho da maldade E o olho daqui é tarde

Documento 1:

Veja ao filme: Kiriku e a Feiticeira (dublado em

português). Sinopse: Kiriku é um garoto pequeno, mas muito inteligente e com dons especiais, que nasceu com a missão de salvar sua aldeia. A cruel feiticeira Karabá secou a fonte d´aguá do lugar onde Kiriku mora com amigos e parentes e, possivelmente, comeu o pai e os tios do menino. Encontrando amigos e seres fantásticos pelo caminho, Kiriku vai resolver a situação. História baseada em uma

Tem que ter olho bem grande Pra poder sobreviver Jubiabá, ô Jubiabá Faz o feitiço bem feito Pra minha nega voltar Jubiabá, ô Jubiabá [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 187-188. Disponível em: <www.Fflch.usp.br/sócio lógia/prandi/orixampb.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2013.)

lenda da África Ocidental. Informações Técnicas: Título original: Kirikou et la sorcière País de origem: França / Bélgica / Luxemburgo

Gênero: Animação

Classificação etária: Livre

Tempo de duração: 71 minutos

Ano de lançamento: 1998

Direção: Michel Ocelot

(Extraído de: <http://www.filmesdoyoutube.net/assi stir-kiriku-e-a-feiticeira-youtube/# >. Acesso em: 13 set. 2013).

Fonte 2 : O Caveira

Nessa música O Caveira de autoria e interpretação de Martinho da Vila no

ano de 1973, procura explicar a situação financeira e social que vivia trabalhador na

cidade grande quando chegava o final do mês, o qual recebia as cobranças das

dívidas como: o “aluguel atrasado” e o “condomínio” a ser pago. Soma-se a isso o

“cansaço” do “trabalho” pesado e mal remunerado em que o salário não dava para

pagar as despesas mensais de sua casa. Nesse sentido O Caveira de maneira

simbólica no cotidiano do trabalhador pobre é representado pelos cobradores: do

“aluguel”, do “condomínio”, das “promissórias” vencidas e pelo “Senhoril”, pois são

esses sujeitos que sempre cercam seus caminhos.

Nesse desabafo com sua companheira “nêga”, nota-se as relações do

hibridismo cultural estabelecidas entre a cultura religiosa afro-brasileira nas

entidades da Umbanda como O Caveira e a crença nos santos do catolicismo: “São

Benedito” e “Nossa Senhora” os quais pedem para ajuda-los a melhorar de vida.

Desse modo a música busca retratar a vida de muitos trabalhadores dessa

época, preocupados com suas contas que vencem no final do mês como: a luz, a

água, o “aluguel”, o telefone, o “condomínio” e nem sempre o salário conseguia ser

suficiente para sanar essas despesas.

Fonte 2 : O Caveira De: Martinho da Vila Intérprete: Martinho da Vila Disco: Origens

Documento 2: Exu – Entidade que representa o bem e o mal. Algumas vezes é identificado com o diabo. Sua imagem de cerimônia representa um homem com pés de bode e

Gravadora: RCA Victor Ano: 1973. Ai nêga, nêga, nêga Tão cansado, irritado Ao sair do meu trabalho Encontrei com o Caveira O Caveira, nêga, o Caveira Empunhando a ? Que venceu na quarta-feira O Caveira, o Caveira, o Caveira [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 286-287. Disponível em: <www.fflch. usp.br/sóciológia/prandi/orixampb.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2013.)

orelhas pontiagudas, segurando às vezes um tridente, vestido quase sempre com capa preta ou vermelha e usando cartola. Outras vezes são homens de peito nu. Os exus, quando estão no terreiro, dizem palavrões e fazem gestos obscenos, dão gritos lancinantes e gargalhadas estridentes. Sua figura é ambígua, pois, podendo fazer o bem e o mal, tornam-se perigosos e poderosos. A relação dos homens com os exus é quase sempre um risco, pois eles podem trapacear seus filhos, dizendo uma coisa e fazendo outra. Os exus são os donos das encruzilhadas e do cemitério, onde são depositadas as oferendas. Exu caveira – Exu da falange do cemitério. Sua imagem é representada por um esqueleto ou apenas por uma caveira (MAGGIE, 2001, p.144). Sugestão: assistir ao documentário Exu a Boca que tudo come. Sinopse: Filmado na Feira de São Joaquim com direção de Liana Cunha e Samanta Pamponet. O vídeo mostra a presença e influência do órixa na vida dos baianos. Tempo de duração 5 min. e 2 seg. (Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=PcKhHUvQ8 y4>. Acesso: 19 nov. 2013.)

Fonte 3: Festa de Umbanda

A música Festa de Umbanda de adaptação e interpretação de Martinho da

Vila no ano de 1974 começa estabelecendo uma relação hibrida entre as

celebrações religiosas do catolicismo representada pelo “sino da igrejinha” e o

cantar do “galo”, num paralelo com a “gira” que recebe o ancestral africano do

“caboclo” na cerimônia religiosa de “Umbanda” na qual o “filho de Zambi”, pede a

proteção a “Ogum” o combatente, a “Nanã” que controla a vida e a morte e a “São

Benedito” pra livra-lo de alguma mal ou enfermidade, que nesse caso faz referência

ao tratamento feito com as ervas extraído das “matas da Jurema”, ação bastante

comum entres as camada sociais menos favorecida para cuidar da saúde.

Nota-se nessa música a relação intima da “Umbanda” com o meio ambiente

referindo-se a elementos das florestas como: “matas da Jurema” e “Samambaia”, o

que constitui-se para essa cultura religiosa afro-brasileira uma necessidade da

preservação dessas “matas” onde são realizados seus cultos e são extraídas as

ervas consideradas medicinais utilizadas por várias pessoas desse segmento

religioso.

Fonte 3: Festa de Umbanda De: Martinho da Vila (adaptação) Intérprete: Martinho da Vila

Texto 1: A “tradução” de Ogum, Xangô ou Iemanjá para seus equivalentes

Disco: Canta canta, minha gente Gravadora: RCA Victor Ano:1974 O sino da igrejinha Faz Belém blem blam O galo já cantou Seu tranca rua Que é dono da Gira Oi corre Gira Que Ogum mandou Tem pena dele Benedito tenha dó Ele é filho de Zambi Ô São Benedito tenha dó [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 153-154. Disponível em: <www.Fflch.usp.br/ sóciológia/prandi/orixampb.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2013.)

católicos, São Miguel, Santa Bárbara ou a Virgem Maria, permitiu aos cultos africanos sobreviverem disfarçados entre os escravos no Novo Mundo (BURKE, 2010, p. 67). Você também poderá ver trechos do filme: O pagador de promessas. Sinopse: filme dirigido por Anselmo Duarte, no ano de 1962, o qual foi baseado na peça teatral “O pagador de promessas” de Dias Gomes. Tempo de duração 1 h. e 31 min, 43 seg. (Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?fe ature=player_detailpage&v=u7j0Jkq 2eeg>. Acesso em: 27 nov. 2013.)

Fonte 4: Casa de bamba

Na música Casa de bamba de autoria e interpretação de Martinho da Vila no

ano de 1983, retrata o espaço de vivência das pessoas e suas experiências no

cotidiano da “Casa”, bem como relações sociais dessas pessoas que nela convivem

de maneira entrelaçada ao universo religioso da Casa de bamba.

Percebe-se na letra da música que os membros da “Casa” reúnem-se para

socializar seus problemas e seus sentimentos, os quais são colocados na cerimônia

religiosa. Diante disso, nota-se a participação das pessoas na celebração cantando,

dançando e partilhando a comida e a bebida.

Identifica-se, também o hibridismo cultural entre o fazer “macumba” e as

rezas para os santos católicos: “São Benedito”, “Nossa Senhora” e “Santo Onofre”,

que são realizadas no mesmo espaço da “Casa”.

Fonte 4: Casa de bamba De: Martinho da Vila Intérprete: Martinho da Vila Disco: História da MPB - Série Grandes Compositores Gravadora fabricante/Selo: Abril Cultural Ano: 1983 Na minha casa todo mundo é bamba Todo mundo bebe, todo mundo samba Não se fala do alheio nem se liga pra Candinha

Documento 3: As organizações espaciais das comunidades de terreiro congregam o espaço público e o privado. A disposição das casas – espaço doméstico, cotidiano, ordinário – em volta do terreiro, e o terreiro – espaço sagrado, do coletivo, da celebração da vida – ao centro demonstram bem a visão orgânica do povo-de-santo. O espaço privado – mas que está institucionalizado no espaço público –- e o público –- a dimensão da comunidade,

Na minha casa ninguém liga pra intriga Todo mundo xinga, todo mundo briga Macumba lá na minha casa Tem galinha preta, azeite de dendê [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 97. Disponível em: <www.Fflch.usp.br/sóciológia/pra ndi/orixampb.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2013.)

interagem organicamente, e se confundem, por exemplo, nos momentos em que no terreiro não se está realizando algum ritual, ele serve como espaço recreativo para as crianças, como reunião da comunidade para resolver assuntos domésticos etc. Em toda roça de candomblé o espaço-mato é considerado o lugar mais importante. Lá vivem os orixás. Lá eles serão alimentados (OLIVEIRA, 2006, p. 106).

Fonte 5: Nas águas de Amaralina

A música Nas águas de Amaralina de autoria de Martinho da Vila e Nelson

Rufino e interpretação de Martinho da Vila no ano de 1994, relata a história de uma

pessoa que vai até o “mar de Amaralina” para fazer suas oferendas de “perfumes e

flores” para a “mãe menina” como é chamada “Janaína” a rainha das águas e em

troca pede vingança de um “desamor”, com a promessa de voltar a essa águas

quando seu pedido fosse atendido. Mas ela recebe a mensagem de “um velho” que

é interpretada como sua “sina”, para esqueceu esse grande amor.

Assim, essa música procura demonstrar a importância de elementos da

natureza para o universo religioso afro-brasileiro como as “águas do mar de

Amaralina”, referindo-se ao “mar” localizado em um bairro de classe média na cidade

de Salvador na Bahia, o qual é utilizado na realização de cerimônias religiosas afro-

brasileiras.

Fonte 5: Nas águas de Amaralina De: Martinho da Vila e Nelson Rufino Intérprete: Martinho da Vila Disco: Semba dos ancestrais Ano: 1994 Fui pras águas do mar de Amaralina Com mágoas demais em cima Dos meus sonhos juntei perfumes e flores Desejos, temores Prometi novamente voltar pras águas Se a força do mar Me vingasse as mágoas [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-

Documento 4: A Festa de Iemanjá é a mais africana das festas baianas, é muito tênue o sicretismo com Nossa Sra da Piedade, ou Nossa Sra do Rosário, referências de outras épocas que não mais são consideradas. Festa de origem incerta, entretanto, em especial em relação à data de 02 de fevereiro cuja motivação para a escolha continua desconhecida. Hoje a festa é celebrada no Rio Vermelho, distante dos locais onde nasceu o culto original: Dique do Tororó, Amoreira em Itaparica e Itapagipe. Lá o Pai de Santo, Ataré, reunia os maiorais dos terreiros de Candomblé da Bahia para homenagear a Rainha das Águas. “presentes todos os país de terreiro que trajavam roupas de brim de linho branco e chapéu Chile, ostentavam relógio e comprido correntão de ouro Pôrto”; assim descreveu Manoel Querino. A Rainha das Águas não é apenas Iemanjá. Mas também Janaina, Princesa do Mar, Princesa do Aioká, Sereia do Mar, Oloxum, Dona

brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 267-268. Disponível em: <www.Fflch. usp.br/sóciológia/prandi/orixampb.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2013.)

Maria, Rainha do Mar, Sereia Mukumã, Inaê, Marabô, Dandalunda, dentre outras denominações que o cronista e Diretor dos Diários Asociados, Odorico Tavares, colheu na década de 60. Festa, em todo caso, que mantém o seu ritual original com as oferendas do povo e os pedidos à Iemanjá depositadas nos balaios, e no meio da tarde o cortejo pelo mar, tal vez não com a mesma solenidade de outrora, mas certamente com a mesma devoção (CADENA, 2013. Disponível em: <http://www.ibahia .com/a/blogs/memoriasdabahia/2013/01/24/festa-de-iema nja-o-culto-a-rainha-dasaguas-em-salvador-da-bahia/>. A cesso em: 19 set. 2013).

Fonte 6: Semba dos ancestrais

Em Semba dos ancestrais, música de autoria de Martinho da Vila e Rosinha

de Valença e interpretação de Martinho da Vila no ano de 1994, busca representar

simbolicamente o rito da chegada do ancestral africano de “Luanda”, em que

estabelece o “transe” como elo de ligação entre a mente da pessoa na comunicação

com a ancestralidade africana. Prática essa que assemelha-se as manifestações

religiosas afro-brasileiras.

Fonte 6: Semba dos ancestrais De: Martinho da Vila e Rosinha de Valença Intérprete: Martinho da Vila Disco: Semba dos ancestrais Ano: 1994 Se teu corpo se arrepiar Se sentires também o sangue ferver E a cabeça viajar E mesmo assim estiveres num grande astral [...] (PRANDI, Reginaldo. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. p. 391. Disponível em: <www.Fflch.usp. br/sociologia/prandi/ orixampb.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2013.)

Documento 5: Os ancestrais, portanto, é a referência cultural maior para orientar as ações do grupo. Com uma visão que “cruza dimensões”, o ancestral detém a memória do grupo e é seu principal arquiteto na construção de uma vida comunitária saudável. Os ancestrais e a natureza estão para a comunidade assim como o leito para as águas do rio. São seus “guias”, sua “visão”; sua sabedoria e direção. A comunidade, por sua vez, alimentará os ancestrais com iguarias da terra e da água. Ancestral é natureza divinizada! (OLIVEIRA, 2007, p. 266).

7. Roteiro para as análises musicais em sala de aula

Para às abordagens com as fontes musicais de Martinho da Vila (1972 a 1994) se utilizará de um roteiro geral para fazer as análises de todas as músicas, que contém: Identificação da música; análise da letra e música e relações históricas. Este roteiro foi elaborado e adaptado com base nas considerações realizada no texto “Linguagem e canção: uma proposta para o ensino de história”, que destaca os

procedimentos no uso do documento-canção, resumidamente da seguinte forma: a) análise da letra; b) análise da música; c) síntese – letra/música; d) historicização da obra/documento (Baseado em: NAPOLITANO; AMARAL; BORJA, set.86/fev.87. p.184-185).

a. Identificação da música

Nome da música:

Nome do autor:

Ano:

b. Análise da letra e música

Com atenção ouça a música.

Você já conhecia essa música? De onde?

Leia individualmente a letra da música, depois cante acompanhado o tocar da

música.

Anote o gênero musical a qual pertence.

Descreva os instrumentos que acompanham.

Comente sobre a harmonia da melodia.

Há uma repetição de versos e o emprego de rimas? Como isso aparece na

música?

Comente sobre o tema da música.

Qual a mensagem traz a música?

Quais são as relações de conflito que apresenta?

Destaque os elementos da história e cultura afro-brasileira que aparecem na letra

da música e faça suas anotações.

De que maneira refere-se a elementos das religiões de matriz africana?

Anote o significado de uma estrofe que mais chamou a sua atenção e faça em

folha de papel A4 uma ilustração representativa para expor para os colegas.

Grife e anotar as palavras desconhecidos para você e em grupo de três pesquise

na Internet o significado. Depois confeccione cartazes elaborando frases usando

essas palavras e exponha para os demais colegas.

c. Relações históricas

Faça um quadro e registre as diferenças e semelhanças entre a fonte musical e

os demais documentos que estão apresentados ao lado da música.

Busque na Internet o contexto político e social da época em que a música foi

produzida e faça suas considerações.

Produza uma pequena narrativa histórica argumentando sobre os novos

conhecimentos adquiridos a respeito do tema da música.

Referências

ALVES. Nancy. Pequena história do samba. Ao chiado brasileiro. p.1-19. Em:

<http://aochiadobrasileiro.webs.com/AgradecimentosHistoriasEtc/HistoriadoSamba/Historiadosamba.htm>. Acesso em: 10 abr. 2013.

BRASIL. Lei n. 10.639 de 09 de janeiro de 2003. Altera a Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e cultura Afro-Brasileira”, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília,

DF, 10 jan. 2003. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/ 2003/L10.639.htm>. Acesso em: 20 fev. 2013.

BRASIL. LEI Nº 11.645, DE 10 MARÇO DE 2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 11 mar. 2008. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/ l11645. htm>. Acesso em: 09 de set. 2013.

BURKE, Peter. Hibridismo cultural. Tradução Leila Souza Mendes. São Leopoldo:

Unisinos, 2010. 116 p. (Col. Aldus 18). Disponível em: <http://www.mediafire. com/?mbgmzcxubl1dt>. Acesso em: 18 abr. 2013.

CADENA, Nelson. Festa de Iemanjá. O culto à Rainha das Águas em Salvador da Bahia. Memórias da Bahia, 2013. Disponível em: <http://www.ibahia.com/a/blogs

/memoriasdabahia/2013/01/24/festa-de-iemanja-o-culto-a-rainha-dasaguas-em-salva dor-da-bahia/>. Acesso em: 19 set. 2013.

FERREIRA, Cléo; ZFM. Matinho da Vila site oficial: biografia. Em: <http://www.

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______. Matinho da Vila site oficial: negritude. <http://www.martinhodavila.com.br/

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FONSECA, Selva Guimarães. Didática e prática de ensino de história:

experiências, reflexões e aprendizados. Campinas: Papirus, 2003. p. 117-251. (Col. magistério: formação e trabalho pedagógico).

JANOTTI, Maria de Lourdes. O livro Fontes históricas como fonte. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006. p. 09 - 22.

MAGGIE, Yvonne. Glossário. In: ______. Guerra de Orixá: um estudo de ritual e conflito 3. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor LTDA. 2001. p.144.

NAPOLITANO, Marcos Francisco d’ E.; AMARAL, Maria Cecília; BORJA, Wagner C. Linguagem e canção: uma proposta para o ensino de história. Revista Brasileira de história, S. Paulo, v. 7, n. 13, p.177-188, set.86/fev.87. NAPOLITANO, Marcos. Fontes audiovisuais: a história depois do papel. In: PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Fontes históricas. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011. p.

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OLIVEIRA, David Eduardo de. Cosmovisão africana no Brasil: elementos para

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______. Filosofia da ancestralidade: corpo de mito na filosofia da educação

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PINSKY, Carla Bassanezi. Apresentação. In: PINSKY, Carla Bassanezi (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2006. p. 07-08.

PRANDI, Reginaldo. Modernidade com feitiçaria: candomblé e umbanda no Brasil do século XX. Tempo social: revista de sociologia da USP, S. Paulo, v.2(1), p. 49-74, 1º sem. 1990.

PRANDI, Reginaldo. Nas canções do rádio. In: ______. Segredos guardados: orixás na alma brasileira. São Paulo: Companhia da Letras, 2005. Cap. 9.

______. Orixás na música popular brasileira. Diretório de 761 letras da MPB com

referência a orixás e outros elementos das religiões afro-brasileiras: período de 1902 a 2000. 449 p. Disponível em: <www.fflch.usp.br/sóciológia/prandi/orixampb.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2013.

Sugestões de sites para assistir vídeos/filmes temáticos

Exu a Boca que tudo come. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch? v=PcKhHUvQ 8y4>. Acesso: 19 nov. 2013.

kiriku e a Feiticeira. Disponível em: <http://www.filmesdoyoutube.net/assistir-kiriku-

e-a-feiticeira-youtube/#_>. Acesso em: 13 set. 2013.

O pagador de promessas. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?

feature=player_detailpage&v=u7j0Jkq2eeg>. Acesso em: 27 nov. 2013.

Sugestões de sites para ouvir as músicas temáticas

Casa de Bamba. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/martinho-da-vila/casa-de-bamba.html>. Acesso em: 12 set.2013.

Festa de Umbanda. Disponível em: <http://letras.mus.br/martinho-da-vila/287371 /#sele coes/287371/>. Acesso em: 12 set. 2013.

Jubiabá. Disponivel em:<http://letras.mus.br/martinho-da-vila/287388/#selecoes/28 7388/>. Acesso em: 12 set. 2013.

Nas águas de Amaralina. Disponível em: <http://letras.mus.br/martinho-da-vila/311 194/>. Acesso em: 12 set. 2013.

O Caveira. Disponível em: <http://letras.mus.br/martinho-da-vila/287423/>. Acesso em: 12 set. 2013.

Semba dos ancestrais. Disponível em: <http://musica.com.br/artistas/martinho-da-vila/m/samba-dosancestrais/letra.html>. Acesso em: 12 set. 2013.