OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · já deficitário de infraestrutura, os problemas...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

LEITURA DE IMAGENS: ESPAÇO DE (DES)ENCONTROS PESSOAIS, SOCIAIS E LITERÁRIOS

1Marinês Pelanda

2Dr. Fábio de Carvalho Massa- UFPR

RESUMO: Este artigo é resultado da intervenção pedagógica na escola do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE 2013. É um relato da aplicação do projeto na escola Estadual Guilherme Pereira Neto, localizada no Município de Curitiba-PR, com os Professores de Língua Portuguesa, dando sequência, também, aos alunos dos 9ºs anos do Ensino Fundamental, com ênfase na temática - Leitura de imagens: espaço de (des)encontros pessoais, sociais e literários. As imagens de proposição são: Des/coberto(a), “Nós” de Ismael Nery, Dominação X Identidade, nesta ordem, sendo a primeira e a terceira de própria autoria. Teve como objetivo ampliar conhecimento e possibilidades de leitura oportunizando aos professores e aos alunos uma reflexão investigativa mais aprofundada sobre estas imagens nas mais variadas formas de leitura aparente ou subjacente. Com base nesta perspectiva discutiu-se a relevância de atentar para uma sociedade na qual se vale consideravelmente de uma expressiva comunicação visual. O trabalho foi desenvolvido com os professores dos 9ºs anos do Ensino Fundamental e em sequência, estes com os seus alunos, iniciando-se com a apresentação de uma imagem em cada semana de trabalho, evocando o poder de leitura imagética e a sua significação conotada e obtusa, relatando e escrevendo sobre as suas diferentes formas de linguagem. Palavras-chave: Leitura; literatura; semiótica.

INTRODUÇÃO

A contextualização histórica é a base para o entendimento de toda e qualquer

concepção, seja em que campo for. Assim a necessidade de apresentar algumas

características da realidade escolar vivida pela Instituição de Ensino, na qual foi

implementado o Projeto de Intervenção Pedagógica dentro do Programa de

Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná torna-se importante.

A escola se localiza no bairro Campo do Santana, a 23 km de distância do

centro de Curitiba, possui pouco mais de 7 mil habitantes, menos de 0,5% da

população da capital, por este motivo, há pouco interesse de grandes redes

comerciais em se instalarem no local, o que gera desemprego e baixa renda. Era um

bairro ocupado por chácaras e sítios de imigrantes e com o decorrer da história não

puderam mais pagar os impostos exigidos pela Prefeitura Municipal. Com isso foram

obrigados a vender ou serem indenizados para assentamentos populares.

Esta nova população é oriunda de outras localidades, sejam bairros ou

mesmo cidades diferentes, que acabaram na região por causa da instalação de um

1 Aluna do PDE. Graduada em Língua Portuguesa e Especialista em Psicopedagogia.

2 Doutor em Literatura pela UFSC. Professor adjunto I do Curso de Licenciatura em Linguagem e Comunicação

da UFPR Litoral

grande número de moradias populares, que não foram acompanhadas de uma

infraestrutura urbana adequada. É perceptível um aumento no número de jovens na

meia-idade e de idosos, o que demonstra uma ocorrência de instabilidade familiar,

pois os responsáveis pelos alunos se deslocam para o trabalho no centro da cidade

de Curitiba ou localidades não menos distantes, deixando seus filhos aos cuidados

de avós ou unicamente das escolas.

Isto é preocupante porque, além de causar um provável inchaço demográfico,

já deficitário de infraestrutura, os problemas certamente se multiplicarão, caso não

haja investimento público no bairro a fim de manter a população na localidade e criar

um desenvolvimento.A acessibilidade aos locais de lazer é difícil, pois são

inteiramente dependentes de transporte público. Apenas 50% da população

considerada ativa encontra-se ocupada, o restante padece do desemprego ou

sobrevive da economia informal.

Em relação à educação formal, grande parte são alfabetizados funcionais,

mas a maioria não concluiu o Ensino Fundamental, o que impacta diretamente no

rendimento e acompanhamento escolar dos alunos. A comunidade escolar é

composta por famílias de baixa renda e muitos dependentes de programas sociais,

além de não apresentarem ciência da devida importância que se deve dar à

educação de seus filhos, haja vista a baixíssima participação em sua vida escolar

apesar dos grandes esforços da administração da escola.

Nesse sentido a Escola Estadual Guilherme Pereira Neto, tem buscado uma

melhoria no que diz respeito à leitura deste contexto.A proposição de Freire,

referencial teórico do Projeto Político Pedagógico da instituição Escolar em questão,

propõe uma reflexão à criação de uma sociedade ideal quando é aquela que tende a

ser,

...menos perversa, menos discriminatória, menos racista, menos machista que esta. Uma sociedade mais aberta, que sirva aos interesses das classes populares sempre desprotegidas e minimizadas e não apenas aos interesses dos ricos, dos afortunados, dos chamados ‘bem nascidos. (FREIRE, maio de 1991, apud Gadotti, 1996, p. 103).

Ainda, seguindo a mesma linha de atuação, ele considera que,

A existência humana não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com queos homens transformam o mundo. Existir humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta problematizado aos

sujeitos pronunciantes, a exigir deles novo pronunciar. Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. (FREIRE, 1987, p.78)

Vê-se portanto que esta instituição escolar encontra muitas dificuldades

estruturais, econômicas e sociais para acompanhar e conseguir alcançar a evolução

dos tempos em termos educacionais, pois os sujeitos necessitam inicialmente

desenvolver o sentido de pertença social numa dimensão maior do que a escola e a

comunidade próxima. Esta questão precisará ser trabalhada não só como fator de

sobrevivência, mas de efetivo sujeito participante na construção de um espaço

pedagógico maior.

A educação sistematizada, como propõe o Projeto Político Pedagógico de

cada escola, deve estimular a capacidade crítica e reflexiva dos professores,

concomitantemente com os alunos e comunidade escolar, para analisar, refletir e,

consequentemente, transformar informação em conhecimento, pois tanto a escola

quanto a família são mediadoras na formação das crianças e jovens. Daí a

proposição: antes da leitura de algum livro como material didático-pedagógico, ler

imagens cotidianas com a finalidade de chamar a atenção destes alunos e estender

a sua reflexão ao contexto familiar e comunitário.

Coube então a questão: que ações pedagógicas poderiam ajudar os alunos a

interessar-se pela leitura e, consequentemente, escreverem melhor sobre esta

realidade?

Iniciou-se então, com a proposição de que a “Leitura de imagens: espaço de

(des)encontros pessoais, sociais e literários”, poderia vir a ser um fator mobilizador

como contribuição na leitura, escrita e descoberta de um sujeito capaz de intervir na

comunidade em que vive.

Em reunião com a Equipe Pedagógica, Direção Geral e Auxiliar, Professores

e funcionários em geral, por unanimidade, apontaram todas estas dificuldades.

Durante esta discussão, percebeu-se que toda a equipe da escola estava

empenhada em colaborar com o desenvolvimento deste projeto pelo qual esperava-

se que viesse a minimizar ou melhorar, a longo prazo, significativamente, o problema

acima apontado.

A partir destas considerações foi elaborado este projeto que foi desenvolvido

na referida escola para o grupo de professores de Língua Portuguesa mais

especificamente na área de leitura, compreensão e interpretação e teve duração de

seis meses de implementação; primeiramente atendendo os alunos do 9º ano do

Ensino Fundamental, mas pretendendo que venha a dar continuidade como ação

pedagógica permanente, pela afixação de um Mural no pátio da Escola para dar

continuidade semanalmente com novos e atualizados focos de discussão em

conformidade com as propostas pedagógicas regulamentadas pela instituição

escolar, bem como os fatos decorrentes das imprevisibilidades que vierem a ocorrer

e que poderão ser discutidas.

As práticas da leitura e escrita são atividades muito complexas e vão além

das interpretações de símbolos gráficos ou códigos de escrita. É necessário que o

leitor interprete o material lido, fazendo uma interligação entre o que leu e o que

conhece do assunto. Como o poder evocativo de uma imagem não é o mesmo para

todos, são experiências e contextos próprios; cada pessoa recebe de forma

diferente. Ao desempenhar um trabalho de leitura de imagem, é preciso ter em

mente que as atividades de compreensão escolhidas são de fundamental relevância,

pois conduz o leitor à produção de sentidos. Infelizmente, para alguns professores

que atuam na área de ensino da Língua Portuguesa, a ação de ler imagem não é

vista como um processo dinâmico, interativo, chegando a se assemelhar mais a um

ato passivo, desprovido de condições de suscitar significados, fazendo com que o

leitor não seja capaz de agir como sujeito crítico através de imagens propostas.

Nesse aspecto a passividade toma conta do leitor e ele somente vê

literalmente a simbolização e flutua na superficialidade dos textos e contextos,

ignorando toda natureza inserida, seja ela política, cultural, social, bem como a

contribuição e atribuição de significados que transcendem a tudo o que está sendo

manejado através de símbolos.

Dessa forma o leitor é impossibilitado de compreender, ressignificar a

realidade em seu entorno. Para formar leitores autônomos é imprescindível que os

educadores se utilizem de uma gama de estratégias para subsidiar a leitura de

imagens. Assim professores e alunos adquirem uma nova forma de ler, dentro de

seus limites de conhecimento em relação aos vários aspectos envolvidos,

estabelecendo correlações entre fatos e imagens, construindo novas ideias a partir

do que vê e lê literalmente e o que vê e lê conotativamente, com o propósito

instigador de ensino de encaminhamento metodológico, o leitor passa a ser visto

como sujeito ativo, porque cabe a ele não só a tarefa de descobrir o significado da

leitura, mas inferir sentidos a partir de sua interação com o texto.

Nesse sentido, a intervenção pedagógica proposta aos professores de Língua

Portuguesa e Literaturas e aos alunos subsequentemente, buscou primeiramente,

conhecer, investigar e explorar o contexto histórico vivido pelos alunos, mas não

refletidos por estes sujeitos.

A busca pela valorização da integridade pessoal perpassa pela identificação

do eu primeiramente. Não se trata de uma posição individualista e sim de uma

construção de identidade pessoal, para posteriormente, a inserção destas

identidades em um grupo ou comunidade.

A Escola Estadual Guilherme Pereira Neto vinha desenvolvendo suas

atividades com bastante comprometimento, no entanto, havia ainda a necessidade

de uma colaboração no sentido de oferecer aos alunos condições de desenvolverem

as aptidões para a literatura, como pré-requisito às séries subsequentes da

educação sistematizada, mas mais especificamente à leitura e à escrita com

produção de textos, uma vez que, através dos índices do IDEB – 3.8 em 2012,

comprovou-se esta carência, e também com as reuniões com os profissionais da

escola de que os alunos precisavam de um reforço maior nesse sentido. Buscou-se

assim, como fator de comunicabilidade, mesmo que primitiva, considerando os

primórdios da humanidade, a leitura de imagens, pois ela é uma das forma pré-

anunciadoras da escrita e, consequentemente o que nelas se possa ler uma forma

de expressão, um reflexo de toda a sua história.

Diante de uma civilização de imagem e sobretudo uma civilização do clichê,

cuja explicação pode referir-se na ocultação, distorção, manipulação, alerta, de

caráter educacional ou de investigação, a proposição do projeto pode ser de certa

forma pertinente. No caso desta intervenção pedagógica, as imagens propostas

objetivaram como meio de descortinar a realidade e não a sua ocultação. Com o

desenvolvimento das atividades pôde-se levantar hipóteses de que sempre há

interesse em “esconder algo na imagem”, este algo não é mais do que o seu próprio

caráter de persuasão.

Relacionado com as ideias acima é necessário um alerta para a necessidade

de analisar a dimensão numérica do trânsito das imagens, capazes de condicionar o

comportamento humano. Necessário também é fazer a análise da comunicação e

funcionamento dos discursos visuais, evitando a proliferação dessa espécie

contemporânea que é o cego vidente.

1. ESTRATÉGIAS DE IMPLEMENTAÇÃO

As três imagens propostas foram intencionalmente sequenciadas,

primeiramente trabalhadas o eu a partir da observação do outro, em seguida o nós

como sujeito de expressão literária, como historicidade individual e social e por fim o

aluno dentro de seu contexto pessoal, social e literário.

As questões propostas para cada imagem indicaram uma condução dos

trabalhos, fazendo com que as respostas gerassem novas fontes para novos

questionamentos. Esta flexibilidade pressupõe uma exploração de variadas formas

de leitura, pode conduzir às subjacências inerentes e possíveis, ou até mesmo,

improváveis que vierem a surgir, dinamizando o desenvolvimento das atividades.

Encomendou-se a uma marcenaria, um mural, em material MDF, medindo 80

cm de altura, 60 cm de largura e 7 cm de profundidade, intitulado como “Imagem da

Semana”, pintado com as cores vermelho, verde e amarelo, por entender que estas

já estão internalizadas pelas pessoas, tendo em vista estarem relacionadas à

sinalização de trânsito, caracterizando assim uma postura de parar diante do que se

vê, prestar atenção, fazendo uma leitura da imageme seguir adiante, depois de

explorar várias formas de construção linguística mental e verbal.

Figura 1: Mural

1.1. DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES

Foi explicado aos professores que se está trabalhando com a linguagem não

verbal, portanto é importante não comentar as impressões que se fizerem apresentar

no decorrer do desenvolvimento das atividades. Foram convidados todos os

Professores de todas as disciplinas, para irem até o pátio da escola e durante 5

minutos procurar ver todas as formas de imagens encontradas. Retornaram à sala

de encontro e cada um deles colocou uma máscara que fora confeccionada para

cada Professor(a) envolvido(a) no processo, bem como, em sequência, para cada

aluno dos 9ºs anos do Ensino Fundamental.

Em seguida, foi solicitado aos professores para que, com a máscara, vissem

com os olhos da mente as imagens no pátio da escola, esclarecendo que se tratava

de um processo cognitivo de abstração, de leitura com os olhos da mente – 5

segundos. Retiraram a máscara. Cada professor escreveu num papel pré-

determinado uma “palavra chave” em relação a uma das imagens, aquela que

imediatamente lhe veio em mente. Pontuou-se: 42 professores viram a 1ª imagem -

postada no mural da escola e 12 professores não. Salientou-se que mesmo que não

a tenham percebido, revelava a importância dos diferentes focos de percepção e

interesse em relação à proposição e que isto não diminuía e nem descaracterizava o

objetivo do projeto; pelo contrário, mostrava a diversificação de temas que poderiam

ser explorados, embora no caso, tenha sido expressiva a percepção. Foi afixada a

mesma imagem dentro da sala para reflexão silenciosa – 5 minutos.

Ao implementar o projeto, a mediação caracterizou-se por relacionar a prática

com os apontamentos teórico-científicos em relação à leitura, literatura e escrita de

cada uma das imagens como assim se apresenta no decorrer do desenvolvimento

das três atividades.

Como o material didático-pedagógico são as imagens, foi preciso entender

primeiro, como elas se apresentam e de que forma as vemos e lemos. Nesse

sentido a compreensão do processo é de extrema relevância. Fez-se necessário

assistir o vídeo sobre Semiótica com a Professora Lúcia Santaella:

http://www.youtube.com/watch?v=SJb4fkhL-Uw&list=PL2A8cPTuW-cir9ZyJVGjX-JEqv0apYM_4

Após esta atividade passou-se a discutir como os signos dentro do espaço

escolar em estudo se apresentaram e como eles individualmente refletiram os

nossos princípios e crenças. Salientou-se que a interdisciplinaridade, Literatura,

fatos históricos, o dia a dia da escola, os temas sobre racismo, sexualidade,

preconceitos, vários e tantos outros temas abordados no PPP, podem fazer parte da

proposta. Até este momento todo o corpo docente da escola fez parte da

implementação do projeto para fins de tomada de conhecimento de que, como fora

sugerido no início, poderia ser extensivo às demais disciplinas da matriz curricular.

A partir daí foi dada continuidade às atividades, somente com os professores

de Língua Portuguesa dos 9ºs anos e estes aos seus respectivos alunos, tendo em

vista que, em cada uma das imagens o tema é bem específico: literatura, leitura e

escrita.A partir desta etapa de implementação é importante esclarecer os

apontamentos que se fizeram presentes na elaboração, construção e coleta de

dados de divulgação. Para cada imagem trabalhada, buscou-se referenciais teórico-

científicos para subsidiar estes saberes em relação às construções elaboradas,

fazendo uso das terminologias: Letras Pp, para a Professora proponente do Projeto,

letra P, acrescida de algarismos sequenciais estabelecendo uma certa ordem para

as apresentações dos apontamentos dos professores, a letra A para os alunos,

também seguida de algarismos, letra G acompanhada de números sequenciais

quando a proposição realizou-se em grupo, determinando assim um número

representativo para fundamentar este trabalho.

Para os Professores de Língua Portuguesa foi proposta a leitura de cada uma

das imagens da seguinte forma: Leitura pragmática, analógica e onírica, ou ainda,

outras formas de construção com o objetivo de dar vazão às suas leituras.

Para os alunos a proposição foi realizada com o objetivo de dar a maior

amplitude possível de leituras sobre as imagens sem sequer tentar dividir, analisar,

simplesmente deixar fluir os seus pareceres diante das linhas de condução da

implementação.

Para maior compreensão do campo demonstrativo em relação à leitura das

imagens, faz-se necessário referenciar a classificação dos signos. Segundo

configura Charles Sanders Peirce, subsidiadas com a apresentação do vídeo pela

Professora Lucia Santaella, supramencionado em espaço oportuno neste trabalho, o

signo pode ser visto em relação a si mesmo, em relação ao objeto a que se refere e

em relação ao interpretante. As atividades, construções, reconstruções que se

seguem limitaram-se no campo do signo em relação ao objeto tão somente, fator

este que determinará a divisão em ícone – imagem mental, pintura, tendo uma

semelhança nativa, ainda primitiva, com o objeto. Índice – uma escala mais

graduada, uma operação mental mais elaborada, um pronome demonstrativo,

quando dirige a atenção para um objeto por meio de um impulso, aqui cabe pontuar

a condução dos questionamentos em cada imagem, frente ao objeto, e por fim o

símbolo – um substantivo, um conto, uma poesia, um outro signo construído.

1.1.1. CONSTRUÇÃO DE TEXTOS E CONTEXTOS

Um dos meios de organização dos conteúdos próprios dos homens é o

campo imaginário (ideias, emoções, percepções, modos de ver e sentir o mundo), de

onde se alimenta e retira os elementos que serão reelaborados pela atividade deste

sujeito de modo a constituir com eles um produto original e criativo.

Pp: Ao construir esta primeira imagem me detive diante de uma peça de roupa num

manequim na vitrine de uma loja. Passei a imaginar, ler e agora, implementando este projeto, a

possibilidade de construir uma personagem: quem seria a pessoa que a vestisse?

A partir desta ideia percebe-se o quanto os sujeitos estão diante de dados

imagéticos que poderão contextualizar fatos históricos individuais e coletivos que

poderão ou não influenciar uma sociedade por inteiro ou um núcleo bem menor, mas

de igual importância, e ainda mais, dar vazão à construção literária nas suas mais

variadas formas de expressão como contos, poesias, pinturas, esculturas, romances.

Se na rua pode-se perceber este espaço, deve-se atentar então para a escola

que é um espaço mais que privilegiado para a reflexão, construção de

conhecimentos e aprendizagens de vida; exemplificando: valores, caráter,

diversidades culturais, estigmas pessoais e sociais entre outros. Isso implica um

processo distinto e de um trabalho planejado por professores, equipe pedagógica e

também com os alunos; uma maneira mais disciplinada, mais organizada de pensar,

analisar, avaliar, focar os objetivos que se pretende alcançar socialmente e aqueles

propostos pelo Projeto Político Pedagógico da escola.

Este processo de planejar só tende a crescer à medida que avançam os

níveis de escolaridade e de inter-racionalidade. O cotidiano é significativo por ser o

meio no qual temos que viver, tomar decisões, gerir conflitos diários com objetivo

primeiro, o de sobrevivência, continuadamente o de inserção social como um todo, e

não como classes, ou fragmentos sociais.

O Projeto Político Pedagógico tem como preocupação integrar alunos, professores, funcionários e comunidade, auxiliando assim na melhoria do desenvolvimento social, sempre voltado a cidadania e ao trabalho, dando aos alunos de nossa Escola segurança e condições para continuidade de seus estudos. A Escola não pode ser estática. Ela deve estar sujeita a transformações. É de suma importância em nossa sociedade, já que é através dela que os alunos aprendem se relacionar de maneira seletiva e crítica, dentro de um universo de informações a que tem acesso no seu dia-a-dia. (PPP 2012 da Escola Estadual Guilherme Pereira Neto,)

Quando a familiaridade com a temática se fizer presente, acredita-se que as

significações serão automaticamente aprofundadas, pois tem-se um aluno vendo,

lendo e escrevendo sobre os mais vários assuntos.

Nesse sentido SAES, afirma que,

...se aquilo que imagino pode ser expresso na linguagem em que todos me entendem (e não que não é privada), mesmo que eu diga que aquilo que imagino está diante da minha mente, terei de exteriorizar, comunicar, relatar ou descrever aquilo que estou imaginando. E então, fatalmente, terei de utilizar sinais linguísticos para fazer isso. (SAES, 2010, p. 52).

Aponta-se então, a oportunidade de se construir contextos e expressá-los de

forma mais amiúde que puder ou deixar com que a leitura mental daquele que ler

flua em toda a sua potencialidade.

Vale destacar também nesta discussão que,

“As crenças que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro, determinam o modo como nos sentimos: o que e como as pessoas pensam afeta profundamente o seu bem-estar emocional“( Beck e Kuyken, 2003)

Assim sendo, todo o entorno dos sujeitos os envolve incondicionalmente,

seguem-se regras por convenção, por consciência organizacional ou meramente

por imitação sem qualquer questionamento.

1ª IMAGEM/FIGURA PROPOSTA

Figura 2: (Des)coberto(a)

O que mais lhe chamou a atenção? Por quê? Como é seu rosto? Como se chama?

Por que está separada a palavra des/coberto(a)? Por que o uso desta palavra na

imagem? O que ela representa? Quem está coberto ou coberta? O quer dizer o

prefixo des?- Por que uma parte preto e branco e outra colorida? O que é uma

descoberta? Algumas pessoas usam roupas assim, por quê? Você conhece

alguém que vive coberto(a)? Se tirarmos o capuz como seria essa pessoa? Onde

mora? Com quem vive? Escreva uma palavra que traduza a imagem. Com esta

palavra forme um pequeno texto sobre a imagem. Vamos agora formar grupos por

semelhanças quanto a análise e conclusões efetuadas diante da imagem.

Cada grupo formado escreverá sobre a pessoa a imagem, fundamentando a sua

percepção, análise e conclusão. Proposição de um grande debate sobre a imagem

concluindo com um texto.

P1: 3Pragmático: A Imagem é constituída de um compartimento semelhante aos que se utilizam para

guardar artefatos contra incêndio. Na parte superior do seu umbral está a seguinte frase: IMAGEM DA SEMANA. Dentro do compartimento está uma figura impressa com uma moldura amarela, onde consta o que seria uma pessoa com uma capa e encapuzada. Sua capa contém listras formando uma estampa xadrez e uma flor no braço direito. No meio da figura se tem o que parece ser uma palavra de composta, des/cobert(a). Analógico: Na figura, o capuz mexe com o sensível e orienta a interpretação em vários sentidos: de um tom mais pueril (um mago, uma figura misteriosa encapuzada), até um tom mais dramático (alguém que se esconde por um algum delito ou por alguma deformidade). A palavra decomposta corrobora ou mesmo até, orienta a interpretação nesse sentido. O fato de estar em um compartimento que faz alusão a artefatos de segurança atenta para uma utilidade. O raciocínio mais lógico aliado à frase contida no umbral, diria que é uma representação útil em determinado momento. Onírico: Um dia de frio, onde uma criança se esconde em uma coberta para assistir um filme medieval. A vergonha por andar na rua com trajes estigmatizados. P6 – Através da 1ª imagem intitulada Des coberto (a) é possível fazer uma análise pragmática do ponto de vista que a figura do agasalho é unissex, colorida, com capuz, mas trata-se de uma peça que de certa forma não faz meu estilo. Contudo, indo além do pragmatismo, analogicamente e numa visão onírica, o agasalho incita, a meu ver, a uma peça de vestuário jovial, de tendência mais masculina do que feminina, lembrando um estilo por quem gosta de ambientes com musica funk, rap, ou seja, numa análise pessoal, me lembra uma reunião em baile ou feste que dura ate tarde da noite e, portanto, mesmo em clima de verão, é necessário se previnir da temperatura que, normalmente, cai madrugada adentro, se agasalhando. E o que nos leva a obter um parecer sobre uma roupa é a importância que as pessoas dão, cada vez mais, as aparências, dessa forma, é interessante este tipo de abordagem em sala de aula, para tentarmos talvez levar aos nossos alunos a compreensão de que uma vestimenta traz informações sobre que a usa, porém, a partir disso podemos mostrar aos nossos alunos que a roupa não é mais importante do que nossas atitudes.

Pp : Figura 3 Figura 6: "Sentidos" tela à óleo

3 O uso da expressão “pragmático(a)” foi utilizada neste trabalho como descrição de uma visão literal,

por parte de cada um dos agentes que fizeram parte de todo o processo, em relação a cada uma das imagens de proposição sem qualquer alusão a outra forma de significação ou linha de estudo.

Poesia : (Des)coberta(o)

Gente aparente? Nome coberto? Descoberto?

Um Berto? Humberto?

Berta? Roberta?

Então descoberta? Eu?

Você? Ele, Ela?

Nós? Quando? Onde? Por onde? Se

esconde? Expus!

Com ou sem capuz! Está aberta...

Então (des)coberta?

Diante das construções apresentadas pode-se apontar a diversidade de

expressão de conceitos frente às realidades vividas pelos protagonistas. Neste

sentido,

“... podemos falar em informação como valor que consiste na riqueza de

escolhas possíveis, individuável ao nível da mensagem-significante; informação que só se reduz quando a mensagem-significante, reportada a determinados léxicos, transforma-se em mensagem-significado, e portanto, em escolha definitiva realizado pelo destinatário.” (ECO; 2001p. 47)

Embora separáveis, os estágios sígnicos cognitivamente, ditados por Peirce

em seus estudos, vê-se uma sobreposição destas fases quando reconstruídas pelos

sujeitos. Foi proposta aos professores esta forma de análise e verificou-se que

mesmo ao conduzir para esta divisão, surgiram analogias quando sugeridas uma

organização mental pragmática. Ficou evidente que para alcançar tal compreensão é

necessário ter uma certa familiaridade em apresentações como o trabalho propõe.

Cabe aqui destacar a importância do professor, mediador das ações, condutor do

processo de leitura a aplicabilidade de variadas formas de compreensão como

sendo a leitura de imagens, um encontro com o leitor com a forma e estas podem

ser infinitas, múltiplas, pessoais e sempre nova e diversa. Toda vez que se vê e lê

um signo o processo de interpretação reabre-se, mesmo aquilo que se leu num

primeiro encontro tenha se conservado, pode e é mudado em função de uma nova

contextualização histórica pessoal e coletiva.

Em relação às construções dos alunos percebe-se o quanto os aspectos

culturais e referenciais em relação ao seu cotidiano faz-se presente. O contexto mais

importante da imagem é a linguagem verbal, e quando escrita legitima a sua leitura.

Entende-se então que os sujeitos diante de um objeto, ícone, conduzidos, em caso

específico pela mediação proposta, sequencialmente, sofrem uma semiose cognitiva

em índice e o tornam como símbolo, algo representativo, mas particular, individual.

Os registros que se seguem exteriorizam estas complexidades de percepções diante

da imagem proposta:

G1: Patrick o psicopata

O nome dele é Patrick tem 17 anos, tem 1,77 de altura, mora em São Paulo.

Ele é um psicopata que tem sérios problemas de alta-mutilação gosta muito de matar pessoas. a mãe

dele não liga acha normal Ele é assim por causa do pai que se suicidou quando ele tinha apenas 7

anos. Ele já passou por vários médicos mais naum consigui resolver os problemas mentais dele ele é

um menino depressivio e muito timido ele não aceita o relacionamento da mãe com outro homem e

pretende matá-lo. Suas características são cabelo preto liso jogado nos olhos, olhos verdes, e bem

branquinho.

G2: Marco

Mora em uma casa classe alta, tem uma filha patricinha, ele é empresário de olhos verdes, alto

moreno, sua finha usa roupas curtas e de marca seu nome é Larisa, seu pai leva uma vida corrida,

teve um tempo que levou uma vida escura com problemas de drogas e coisa e taus...Sua filha veio de

uma casa com uma mulher, de periferia com problemas sérios de saúde, sua gravidez foi muito de

risco e ele teve uma depresão terrível com medicamentos controlados... sua tragetória de vida foi

muito triste...achou que queria morrer...mais quem cuidaria da filha deles já que sua mulher teria que

escolher entre a filha ou ela...

G3: Moreno dos olhos verdes, alto introncado mais magro, veio do interior de Londrina, com muitas

tatuagens, jeito descolado de alargadores. Pervertido, preso quando ainda jovem, em 20-10. Preso

depois de fazer um assalto no banco. Fez muitas pessoas reféns , mais um individuo sem pensar no

que fazia reagiu foi onde ele atirou e feriu o homem...ficou três anos na cadeia e agora depois de tudo

que aconteceu quer mudar de vida, resolveu fazer o que é serto e tentar se livrar dos vícios. Vai

tentar recuperar o tempo perdido, e sente vergonha do que fez, vergonha da pessoa ruim que ela foi,

mais ele ainda quer se vingar de quem ele axa que o entregou.

Seu nome Carlos Andrade, sua vida muito pertubada mais esta disposto a mudar.

G4:

Mulher boa

A vida de uma mulher boa Ela é uma mulher tao boa responsável e gentil e também sempre gosta de

crianças pequena, ela é uma pessoa sonhadora e com muitos planos para o futuro, e nunca

disrespeitou uma pessoa. Ela trabalha num restaurante de segunda a sexta e no intervalo ela estuda

no Colegio Guilherme Pereira Neto, de noite e todos os finais de semana trabalha de Professora, ele

tem cabelos meio vermelhos e olho azul inteligente e pensativa, peso de vez em quando ela era

bagunsera muito.

G5: Nós chegamo a conclusão de que está pessoa pode ser um menino feio, com rosto cheio de

marcas. Ou não gosta que os outros o vejam por que se acha feio. Gosta de ficar em casa, dentro do

seu quarto trancado. Sem ter amigos para conversas. Ele é alto moreno dos olhos verdes, do cabelo

marron escuro.

É um menino muito estiloso também! Mas não demonstrava, isso mas eu acredito que um dia ele irá

ter amigos e poder ser um menino feliz.

G6: O mistério

A imagem demonstra o que podemos sentir. Os sentimentos de todos quando, olham a imagem é de

medo, a nossa opinião é que a imagem representa uma mulher muito estranha. Descobrir o local

onde mora é meio difícil. Achamos que ela mora na favela. Com um capuz na cara parece que ela

anda com medo. Achamos que ela tem cabelos claros deve ter uns 1.62 de altura é polaca com

alguma cicatriz no rosto, bom isso é só o que pensamos.

Diante das construções apresentadas fica evidente o que Plaza pressupõe:

“O pensamento pode existir na mente como signo em estado de formulação, entretanto, para ser conhecido, precisa ser extrojetado por meio da linguagem. Só assim pode ser socializado. Pensamento e linguagem são atividades inseparáveis: o pensamento influencia a linguagem e esta incide o pensamento.” (PLAZA 2010, p. 19)

1.2. A IMAGEM NA LITERATURA E NA ARTE

A literatura está vinculada à sociedade em que se origina, assim como todo

tipo de arte, pois o artista não consegue ser indiferente à realidade. A obra literária é

resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e sociedade, porque através

de suas obras o artista transmite seus sentimentos e ideias do mundo, levando seu

leitor à reflexão e até mesmo à mudança de posição perante a realidade, assim a

literatura auxilia no processo de transformação social.

É um lugar de memória e formação na construção de valores, permite crescer

no conhecimento da língua na sua vertente estética e a inscrição em práticas de

cidadania. Reduto do bom uso da língua, a literatura, neste contexto, transforma-se

em lugar propício à aprendizagem, herança comum a todos os falantes.

Assim sendo, o contato com a literatura deverá ser oportunizado desde cedo

e que o grau de dificuldade dos textos de abordagem também deverá acompanhar o

desenvolvimento cognitivo do sujeito. Fazer do contato com a literatura um ato

natural, levá-los a um lugar de privilégio numa escola de massas, fazer ver que a

literatura interessa a todos, porque fala do homem como autor de sua história e as

expressa de variadas formas. Estes são alguns dos objetivos que devem mover as

nossas práticas pedagógicas,também podendo assumir formas de crítica à realidade

circundante e de denúncia social, transformando-se em uma literatura engajada,

servindo a uma causa político-ideológica.

A literatura tem como suporte principal a língua e para que cumpra a sua

eficácia comunicativa é indispensável que aconteça uma interação com a leitura,

entendida como um processo, um encontro de fases entre texto e leitor, uma

progressão na construção de sentidos, a leitura literária terá de contar em sede

escolar com a presença mediadora do professor. A ele competirá reavivar os

saberes já adquiridos pelo aluno e reativá-los na construção dos sentidos do texto.

Convém destacar a formar de pensar de Buisson:

‘A melhor escola não é aquela onde mais se aprende, mais onde se melhor

compreende; é aquela onde tudo passa a ser matéria de intuição sensível, intelectual ou moral. O sinal característico do verdadeiro progresso nas escolas é fazer gradualmente diminuir a parte dos exercícios de pura memória e áridas abstrações, aumentar, ao contrário, aqueles dos sentidos, do julgamento, da observação externa e interna.” (Buisson, Viena, 1875p.117) (Tradução livre)

Pode-se dizer que o texto literário conduz o leitor a mundos imaginários,

causando prazer aos sentidos e à sensibilidade do homem.

Ao se desempenhar um trabalho de leitura de imagem, é preciso ter em

mente que as atividades de compreensão escolhidas são de fundamental relevância,

pois conduz o leitor à produção de sentidos. Infelizmente, para alguns professores

que atuam na área de ensino de Língua Portuguesa, a ação de ler imagem não é

vista como um processo dinâmico e interativo, chegando a se assemelhar mais a um

ato passivo, desprovido de condições de suscitar significados, fazendo com que o

leitor não seja capaz de agir como sujeito crítico através de imagens propostas.

Nesse aspecto a passividade toma conta do leitor e ele somente vê

literalmente a simbolização e flutua na superficialidade, dos textos e contextos,

ignorando toda a natureza inserida, seja ela política, cultural, social, bem como, a

contribuição e atribuição de significados que transcendem a tudo o que está sendo

manejado através dos símbolos. Dessa forma o leitor é impossibilitado de

compreender, resignificar a realidade em seu entorno. Britto em seu parecer sobre

toda esta contextualização apresenta muito bem quando diz que,

“...o modo de ser e de pensar que o estudante traz é, por si só, marca de

subjetividade e, como tal, deve ser reconhecida como legítima. Sujeito imerso numa realidade social concreta, ele tem sua linguagem, cultura e concepções de mundo carregadas de valores ideológicos e fortemente marcadas por suas experiências.” (Britto, 2003, p. 194).

Para formar leitores autônomos é imprescindível que os educadores se

utilizem de uma gama de estratégias, para subsidiar a leitura de imagens. Assim,

presume-se que o educando adquira uma amplitude máxima, dentro de seus limites

de conhecimento, em relação aos vários aspectos envolvidos, estabelecendo

correlações entre fatos e imagens, construindo novas ideias a partir do que vê e lê. É

fundamental fazer deste ato de ver e ler, uma atividade pensante, prazerosa ou não

e não mera visualização dos temas sugeridos. É preciso recriar, reconstruir, refazer

a história lida na imagem como a própria história e também como consequência, um

sujeito transformador de mundos.

Se uma imagem, de natureza vária, seja ela um quadro pintado, ou de uma

construção de várias imagens interpostas ou não, quando trabalhado, não

proporcionar um salto de qualidade ao leitor para uma visão de mundo, tanto no

aspecto social, quanto no cotidiano do leitor, a leitura perde sua validade.

Dessa forma, com o propósito instigador de ensino de encaminhamento

metodológico o leitor passa a ser visto como sujeito ativo, porque cabe a ele não só

a tarefa de se descobrir como significante da leitura, mas inferir sentidos a partir de

sua interação como o mesmo. A subjetividade encontrada em imagens pode ser

expressa de várias formas, na arte, na escrita, na composição de ambas as formas e

muitas vezes de maneira chocante aos olhos de quem a vê e não a lê.

A deformação expressionista que em alguns artistas chega a ser agressiva e ofensiva, não é deformação ótica: é determinada por fatores subjetivos (a intencionalidade com que se aborda a realidade presente) e objetivos (a identificação da imagem com uma matéria resistente. (ARGAN, 1996, p. 240).

Pp: Ao escolher a imagem da tela “Nós” de Ismael Nery, percebemos o quanto ela tem a dizer sobre

as relações humanas.A linguagem da imagem em sua intersecção de cabeças de pessoas nos leva a

pensar sobre a necessidade que temos de nos relacionarmos com os demais. O homem é um ser

que não nasceu para viver só, dependemos uns dos outros. Faz parte de nossa essencialidade o

acolhimento, a compreensão, a fusão de ideias para construção e um bem comum em todas as áreas

de conhecimento e disseminá-las para a vivência num mundo melhor. Um outro ponto de destaque

bastante instigador são os olhares em várias direções, o que concorre para a construção de aceitação

ou não de pontos de vista diferenciados mas de igual importância, e que indicam a busca de uma

conduta pessoal para uma outra de consenso comum.

Todas as características encontradas na investigação, exploração da leitura

da imagem são de inigualável importância, pois podem expressar constituições

significativas, códigos semi-simbólicos e simbólicos propriamente ditos

(SANTAELLA, 2012), como foram supracitados.

2ª IMAGEM/FIGURA PROPOSTA

Figura 4: “Nós” Ismael Nery

Qual a primeira leitura que se faz da imagem? Por que o título “Nós”? Vamos

conhecer um breve histórico sobre o artista Ismael Nery, para contextualizar a sua

forma de expressar-se:

“Ismael Nery foi um pintor brasileiro de influência surrealista. Não foi só artista como homem de

vanguarda: desenhista, pintor e arquiteto, filósofo e poeta, teve uma vida breve e intensa, entremeada de acontecimentos trágicos que marcariam profundamente sua obra: perdeu o pai aos 9 anos e o irmão aos 18, fatos que transformaram sua mãe em uma figura perturbada. Nery Sempre se auto-nomeou filósofo devido ao seu modo de pensar e pintar suas obras, pois para ele era muito mais do que apenas pintar, era expressar a realidade, sua modalidade de pintura era somente de pintar pessoas em seus cotidianos, e isso foi o que destacou o artista dos outros de sua época. Sua temática era uma só: a busca da identidade. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica. A relação entre as partes claras e as partes escuras é bastante marcada. A partir de 1930, é constatada sua tuberculose e isso se reflete em suas pinturas. Suas figuras se tornam engraçadas, aparecem com as vísceras abertas. Os personagens surgem em cenários vazios, nitidamente influenciados pela pintura metafísica italiana. Os personagens agora são flagelados e feridos. O trabalho incorpora o tema da morte. Ismael não resiste e morre, vitimado pela tuberculose, em 6 de abril de 1934, num mosteiro franciscano”

Depois de conhecê-lo um pouco, que impressões passamos a ter dele e de nós mesmos? Quais relações de sua existência ele expressou em sua obra “Nós”? De que forma podemos ler e escrever sobre nós? Imaginem que vocês são artistas! Expressem- se através de um desenho, uma imagem, uma figura que representaria os seus sentimentos. Por exemplo: ansiedades, projetos, sonhos, raivas, amor, ódio, etc. Intitulem as suas respectivas obras e escrevam palavras chaves que as identifiquem. Construam frases que argumentam suas construções literárias.

Pela mediação da proposta, vê-se a diversidade de expressões e ou

impressões verbalizadas pelos agentes, pois o que uma obra de arte expressa,

antes de tudo, é mero sentimento do ponto de vista do espectador, o que não quer

dizer que seja o mesmo do autor do signo, objeto, intentou expressar, muito embora,

com base nas particularidades do tempo histórico e de sua história pessoal venha a

apontar algumas características, mas ainda distante de uma tradução real.

P3 ao fazer a escolha da segunda imagem para uma leitura de forma

pragmática, analógica e onírica como fora proposto, discorre que,

“ A obra, “Nós”, do artista Ismael Nery, nos estimula, como a professora Marines mesmo sugere, uma investigação, a qual nos traz diversas ideias e hipóteses a partir desta imagem. De acordo com o projeto, (páginas 34 e 35), reconhecemos as obras deste artista da seguinte forma: “Sua temática era uma só: a busca da identidade. Ele trata, basicamente, da figura humana, idealizada, a serviço de uma figuração simbólica”. Esta é apenas uma frase da contextualização realizada pela professora sobre este artista, entretanto, ela é significativa e profundamente oportuna para compreendermos esta imagem. Primeiramente, visualizamos de uma forma Pragmática, a representação de algumas pessoas que as quais não possuem muitos detalhes, nem muitas fisionomias, mas compreendemos como seres humanos. São utilizadas cores muito semelhantes, opacas, sem brilho, e não podemos citar em que lugar elas estariam.

Ressalta-se aqui uma analogia posta, não mais uma análise de forma

pragmática por não ser pessoas o que de fato se apresenta, apenas uma figura.

Vale-se também de um complemento na leitura efetuada: a dificuldade de

distanciamento da própria identidade no ato de ler uma imagem, uma figura, um

ícone, muito embora seja imposta, conduzida ou ainda se tenha o intento de assim

fazê-lo.

Em um segundo momento, analogicamente, podemos dizer que esta imagem nos traz a ideia, de insegurança, incerteza, duvida, inquietação. Podemos nos perguntar: quem seriam estas pessoas? Porque elas não possuem fisionomias, estão inacabadas? O que o artista quer dizer? Talvez seja a representação da sociedade, pois, somos iguais na estrutura física, mas possuímos características individuais, pensamentos, sentimentos, enfim cada ser humano, possui seus diferenciais. Ou talvez, seja a falta de coragem do ser humano, de se assumir da forma que é, não usando mascaras ou se fazendo ser algo que realmente não é.

Como já mencionei o artista busca por representar uma identidade humana, todavia, cabe a cada um de nós sabermos ou analisarmos a identidade que cada um de nos trás consigo mesmo. Enfim de uma forma onírica, esta imagem me remete sensações de inquietação, desconforto, insegurança, angustia, tristeza, de algo incerto ou talvez de pessoas perdidas, isoladas. Talvez a falta de cor, ajude a transmitir estas sensações, além disso a forma geometrizada contribui para que o incerto prevaleça e esta ideia do inacabado, ou da falta da forma definida auxilia para que possamos ter uma diversidade de ideias e opiniões sobre a mesma figura.”, P4 – 2ª imagem “Pragmática: Vejo imagens sobrepostas de uma mesma pessoa, cujo rosto comum e inexpressivo, não indica nenhuma identidade específica (homem, mulher, jovem, velho, etc.), pode ser qualquer ser humano. A tonalidade cinza e escura contribui ainda mais para uma generalização do ser, ou seja, um indivíduo qualquer. Analógica: Numa segunda leitura, a sobreposição em 3D, transforma-se o um em várias pessoas interligadas entre si. O “eu” unindo-se ao “nós”. O individual unindo-se ao coletivo. Parece que o autor quis nos passar a ideia de que o indivíduo para se firmar como ser, não pode estar isolado, precisa viver em sociedade, unir-se com outros para formar seres pensantes, para se ter vez e voz. Sozinho ninguém é nada. Onírica: O indivíduo está perdido e sente o desejo de se encontrar. De se autoafirmar como ser humano; a busca do elo perdido do seu eu com o mundo que o cerca que ele já nem sabe mais quem é, devido ao bombardeio de informações projetado pela globalização. Talvez o querer ser o outro para se completar.”

Para uma leitura é primeiramente importante enfatizar que o leitor ideal é

aquele que busca, que compreende que o segredo, ou um dos segredos de um

texto, uma obra de arte, é o seu vazio.

Figura 5: Grupo de Professores - Análise da realidade

Nas atividades propostas como expressar-se artisticamente, observou-se uma

divisão nestes variados signos, talvez um “gostar de” e “não gostar de”, pois

aparecem figuras e desejos de comunicabilidade que fundamentam esta

representação e que são vistos na mídia passando a ser seus signos cotidianos.

Nesta composição frente a realidade vivida, nota-se a presença sígnica, de

celebridades, animais, comida, linhas midiáticas. Fator de presença marcante é a

representação da violência e aceitação passiva ou não do feito. Percepção de uma

realidade em que surgem super-heróis, bandidos, palavras soltas em meio aos

livros, o que pode evidenciar um distanciamento do que está escrito por outras

pessoas, autores, em detrimento ao que os professores e alunos querem ler; um

desconforto diante do que se apresenta como leitura propositiva. Ainda, nota-se um

encantamento por comportamentos ditos e estigmatizados socialmente como

rebeldia.

Esta atividade não estava prevista, mas por iniciativa da Professora da

disciplina de Arte, corroborou com o projeto. Compôs um painel junto aos seus

alunos das três primeiras séries do ensino médio, concomitantemente com o

conteúdo que vinha sendo trabalhado – figuras geométricas. De posse de algumas

folhas de diversos jornais, os alunos leram as notícias, e em grupo, foram

transportando a leitura codificada para imagens que as representassem, usando as

formas geométricas e as sobrepuseram respectivamente. Foi uma atividade de

inversão à proposição do projeto.

Consolida-se assim a afirmação de Eco (2007), quando diz que podemos falar

em informação como valor que consiste na riqueza de escolhas possíveis,

individuável ao nível da mensagem-significante.

1.3. CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA ATRAVÉS DA LEITURA DE IMAGENS

Nesta terceira imagem que trata do tema – domínio, dependência, o intento é

revelar a existência de uma possível crise identitária que se inaugura na

modernidade em que se vive, conectando-se diretamente à vida consumista e ao

não conhecimento de si mesmo, pois as escolhas individuais estão orientadas à

satisfação das necessidades pessoais e consequentemente se converte o sujeito a

uma mercadoria também. Os indivíduos capturados por tal dinamismo social

experimentam grande ansiedade porque percebem que suas escolhas têm um

impacto significativo sobre a percepção que os outros têm sobre sua pessoa e mais,

a necessidade de sua inserção a um determinado grupo, principalmente nesta faixa

etária, a qual esta necessidade é inegavelmente determinante.

Neste processo, um exemplo extraído do trabalho de Anderson (2002), é de

extrema significação: “uma calça jeans rasgada com buracos no joelho pode ser

jogada no lixo por uma pessoa e ser preciosa peça de vestuário para outra, e muitos

outros exemplos se seguem”. Por isso, cabe aqui destacar que “Todo o processo de

construção da identidade requer uma nova história ou que a história seja relida para

fazer falar o que foi silenciado sob um determinado grupo.” (PAIVA;SOARES, 2008).

As implicações psicossociais desta visão de mundo podem ser percebidas

quando se analisa um processo de mundialização, não importando a dimensão do

mesmo, ou seja, o mundo individualizado e ou globalizado. Percebe-se uma

tendência a um padrão civilizatório, como se todos fossem seriados de acordo com

que é proposto pelos grupos, maiores ou menores, como já mencionado.

Deste modo vemos se instalar uma forma de sociabilidade marcada tanto pelo

narcisismo como pela necessidade de aceitação social. Os indivíduos buscam seu

eu não mais em seu interior, mas no consumo, na aparência e no desempenho

social.(STALER, 2002, p. 90). O indivíduo considerado pela imprensa midiática,

hipermoderno, parece enredado numa busca ansiosa pela auto-afirmação. As

pessoas dependentes vivem escutando ou falando mais ou menos assim: “É

verdade, vi na televisão”, “Veja quanto custa!.”, Você viu tal artista usando tal roupa,

que lindo(a)?”, “Eu quero aquele tênis..”. Não têm capacidade de análise dos

“porquês”; são uma espécie de teledirigidos ou influenciados por grupos e não

distinguem o bem do mal. Quando se fala em bem ou mal, não se quer aqui

direcionar a uma padronização social e sim a uma reflexão se estas atitudes lhes

farão bem nos sentidos mais amplos possíveis, como por exemplo, o aspecto

financeiro, ou um mal imediato ou posterior quando se questiona o uso de drogas.

Outra linha de dependência, que não a droga do consumismo, vem a droga,

propriamente dita. Esta se instala e é de difícil dominação. Talvez utópica,

demagógica, mas a autonomia, o conhecimento, a escolha, faz-se necessária. Paulo

Freire contribui com os fatos mencionados quando propõe o redimensionamento da

instituição escolar.

“Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, se adivinha, a escola que apaixonadamente diz sim à vida “(FREIRE apud Padilha, 1995, p. 95)

Para analisar ou ler uma imagem devemos diferenciar claramente dois níveis

fundamentais, a denotação e conotação.

O nível denotativo refere uma enumeração e descrição dos objetos num

determinado contexto e espaço.

O nível conotativo refere-se à análise das mensagens ocultas numa imagem,

e na forma como a informação aparece escondida ou reforçada. É composta por

todos os elementos observáveis: desde a menor unidade de análise, como o ponto

ou a linha até os objetos de volume variável e materiais diferentes.

“A imagem, captada imediatamente por uma metalinguagem interior, que é a língua, não conheceria, realmente, nenhum estado denotado; só existiria socialmente se imersa, pelo menos, em sua primeira conotação, a conotação das línguas;” (BARTHES, 1990, p. 22)

Na mesma perspectiva, Barthes aponta para uma conotação perceptiva, que

são as hipóteses que se pode levantar quando se observa uma imagem, mas ainda

em um estágio particular, ou seja, cada sujeito as vê, tão somente. Relacionando

aos fundamentos de Peirce, seria o objeto. Uma conotação cognitiva, seria quando

este sujeito lê a imagem considerando seu próprio mundo; lembrando que essa

leitura ainda é primeira, primitiva. Em Peirce é o índice. Uma terceira leitura seria a

conotação ideológica, aquela que vem acrescida de valores, ética, razões

individuais, uma leitura mais imponente, modificadora de opiniões, fundamentadas.

Neste estágio, encontraremos o “símbolo”, segundo os estudos de Peirce.

Seguindo ainda os pressupostos de Barthes, a imagem literalé denotada, ea

imagem simbólica é conotada. O que é evidente, literal, sem adentrar em

significações, somente como o objeto em si (Peirce), teríamos o que propõe Barthes,

como o “óbvio”,e em contrapartida, a partir do índice e do estágio alcançado com a

leitura da imagem, símbolo (Peirce), teríamos em Barthes o que ele considera

obtuso. Para ele, o sentido de obtuso do ser humano é aquele que perturba, instiga,

expressa o interior de seu ser, mas de forma que pode ser explícita através de

imagens. “O sentido obtuso parece desdobrar suas asas fora da cultura, do saber,

da informação leva ao infinito da linguagem.” (BARTHES, 1990, p. 47- 48)

O poder evocativo de uma imagem não é o mesmo para todos, em linha de

conta, estão experiências e contextos próprios a cada pessoa que receberá de

forma diferente.

Nesse mesmo sentido complementa Schlichta que,

...embora os meios de comunicação apresentem uma falsa idéia de participação e de comunicação e de que é “naturalmente fácil” ler a leitura realizada por um aluno com conhecimento precário dos códigos de construção da imagem é de caráter mais emotivo que cognitivo. Aliás a sensibilidade estética não é um atributo inato ao sujeito, nem o senso estético é uma qualidade natural ao objeto, consequentemente a formação dos sentidos humanos se configura como uma das principais tarefas da escola, sobretudo, no âmbito do ensino de artes... a grande maioria não consegue compreender e interpretar os significados das imagens para além do que se apresenta de imediato...a leitura de uma imagem, enquanto prática humana, requer um campo de conhecimentos interdisciplinares , tanto históricos e antropológicos quanto estéticos, que consubstanciem a aprendizagem de estratégias de interpretação das imagens. (SCHLICHTA, 2006. P. 359).

Ainda, em Hernandez,

As imagens são mediadoras de valores culturais e contêm metáforas nascidas da necessidade social de construir significados. Reconhecer essas metáforas e seu valor em diferentes culturas, assim como estabelecer as possibilidades de produzir outras, é uma das finalidades da educação para a compreensão da cultura visual (HERNANDEZ, 2000, p. 133)

Vigotsky aponta para uma necessidade mais aprofundada em relação à

dinâmica das conexões construídas a partir de uma unidade para um campo maior

em relação a observação da realidade na qual nos encontramos:

A análise por unidades aponta a via para a resolução destes problemas de importância vital. Ela demonstra que existe um sistema dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem, mostra que todas as ideias contém, transmutada, uma atitude afetiva para com a porção de realidade a que cada uma delas se refere. Permite-nos, além disso, seguir passo a passo a trajetórias entre as necessidades e os impulsos de uma pessoa e a direção específica tomada pelos seus pensamentos, e o caminho inverso, dos seus pensamentos ao seu comportamento e à sua atividade. (Vigotsky 2002, p.10),

É preciso considerar que, nas séries iniciais, a capacidade de observação,

reconhecimento, abstração é bem menor quando comparada às séries finais.

Vigotsky, em sua obra “Pensamento e Linguagem”, cita a fundamentação de

Piaget, em relação ao amadurecimento físico e intelectual de uma criança em

relação a construção do seu pensamento:

Para transmitir aos outros, a criança teria que ser capaz de adotar os seus pontos de vista. “Poder-se-ia dizer que o adulto pensa socialmente. mesmo quando se encontra só, ao passo que as crianças com menos de sete anos pensam e falam egocentricamente, mesmo em sociedade com os outros” (Vigotsky 2002, p.4),

Portanto no estágio em que se encontram os alunos sujeitos à implementação

deste projeto, é o momento de começar o processo de abstração, cuja compreensão

envolve procedimentos mais elaborados, é necessário buscar formas de ler mais

densas, articuladas, experimentadas, investigadas, construindo indagações sobre as

coisas, o mundo, a vida, um modo de capturar representativamente um objeto de

estudo qualquer, utilizando recursos, que não mais concretos, mas que estimulem a

abstração, como intuição, contemplação, classificação, mensuração, analogia,

dialogia e observação empírica.

3ª IMAGEM/FIGURA PROPOSTA

Figura 6: Dominação X Identidade

O que a imagem apresenta? Quem são estes sujeitos? O que é ser consumista? Por que o consumismo também é uma droga? Qual a contribuição da televisão, internet, shoppings na sua vida? Como você escolhe as suas roupas, programas de televisão, programas de final de semana? Você se deixa levar pelo julgamento de outras pessoas? O que você poderia dizer sobre seu comportamento do ponto de vista fora de si mesmo?

Os professores que escolheram a terceira imagem para uma proposição de

leitura o fizeram de modo que ao se deparem com o ícone, imediatamente

construíram uma analogia às suas crenças, ou ainda às suas formas de

posicionamento social diante do mundo, já mostrando as simbologias internalizadas

consciente ou inconscientemente, muito embora, a atividade propunha uma forma

de leitura em separado, pragmaticamente, analogicamente e oniricamente. Viu-se

portanto, que diante de um ícone, o sistema cognitivo, quando não bem elaborado,

entra em ação, de forma a mostrar o que realmente se pensa culturalmente. Assim

temos dados coletados que fundamentam esta fala.

P7 - A imagem escolhida foi Dominação X Identidade, através do mundo em que vivemos, podemos ver que há uma exploração muito grande do visual, que querendo ou não há intenções de quem as criam usando da psicologia, persuasão, enfim tudo que possa a vir instigar o telespectador. Na perspectiva aqui apresentada pela visão pragmática o que vejo são vastas tentações que vivemos no dia a dia e se não tivermos auto controle, as quais despertam desejo. Já na analogia dos que me é apresentado, há muitas pessoas que se deixam dominar pelo que veem sem se perguntas, eu preciso disso? é necessário? Vai me prejudicar? Posso passar sem? Infinitas perguntas podem ocorrer, porém há os que se deixam levar por impulsos, pela moda, para agradar alguém, talvez por

problemas psicológicos, por tantas questões que envolvem o ser humano. P5 - Terceira imagem dominação x identidade Aparecem cores claras, o preto e o cinza apenas para o contorno dos desenhos. É possível observar a imagem de uma pessoa com aparência jovem que se destaca dos outros objetos que compõem a totalidade da imagem pelo seu tamanho maior e contorno escuro, fazendo um questionamento sobre a dominação, em um contexto com muitas imagens caracterizando o consumismo, como: peças de vestuário e alguns acessórios, aparelhos eletrônicos (tv. , computador) e bebida alcoólica e outros. A imagem mostra a influência que sofremos da mídia, amigos, enfim da sociedade que apresenta modelos e os impõem. No entanto, o alerta que a imagem proporciona é o questionamento sobre a dominação que, principalmente, jovens sofrem e acabam aderindo como forma de ser aceito pelo grupo. Imagem muito bem pensada para trabalharmos com nossos alunos adolescentes, pois é necessário oportunizarmos esses momentos que levam à reflexão e melhor prática social.

Em relação à produção construída pelos alunos, percebe-se que eles têm

posicionamentos frente aos ícones apresentados, mas que simbolicamente nem

sempre faz-se prevalecer, ou seja, diante do ícone apresentado, somente depois de

uma condução conseguem perceber os detalhes, para então, construir

simbolicamente uma produção. A busca pelas respostas é a elaboração,

propriamente dita, de um símbolo.

A1: Pessoas consumistas. A maioria é assim porque não pode ver nada nas lojas que quer comprar

essas pessoas estão sendo dominadas por esse vicio tem vários vícios de bebidas, cigarros, roupas eletrodomésticos bijuterias etc. Isso tudo e mais um pouco que vicio. As pessoas principalmente crianças que não pode comprar nas lojas com seus pais.

A2: Eu como consumidora acho que me controlo bastante, não compro tudo o que vejo, nem tudo

me faz bem, compro aquilo que eu gosto que me faz bem e não me importo para que os outros falam tem muitas pessoas que são exageradas compram tudo o que veem pela frente, outras vivem de aparência com tênis de marca, eu compro so aquilo que cabe no meu bolso pra não ficar devendo muito.

A3: O bonequinho está confuso sobre a dominação que as coisas tem sobre nós que quando passa

nas emissoras em geral uma propaganda as pessoas vão todas querer comprar e não comprao só uma coisa. Eu não me visto porque tá na moda e nem so porque ta barato e mais uma coisa boa que eu não quero me parecer com as pessoas.

A4: Quem domina quem?

As pessoas estão consumindo sem ser preciso e isso nos acabam nos dominando, quando menos imaginamos estamos completamente dominados por tudo. Compramos roupas, celulares, tênis, bolsas, computadores e muito mais. Mas depois nos perguntamos vamos precisar usar tudo isso? É necessário? Não precisamos de nada disso mas somos realmente dominados.

A5: A gente não deve ser levado pelas outras pessoas a gente tem que ter opinião própria não

devemos consumir exageradamente por produtos e nem vícios. Temos que ter opinião própria e comprar somente o necessário, obrigado fui tchau.

2. IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

As atividades contribuíram para apontar a relevância da investigação mais

aprofundada das imagens que, cotidianamente, nos são impostas através dos vários

meios de comunicação. O nível de motivação e de participação dos professores e

dos alunos foi suficiente como fator motivador proposto no início como objetivo

maior. As discussões demonstraram que a grande maioria dos alunos internalizou o

espírito da atividade e do conteúdo. Os comentários que fizeram posteriormente à

implementação dão conta de que ficaram mais atentos quanto à importância do

posicionamento crítico, da abrangência da importância da leitura de imagens Ao

executar o projeto, em todas as suas fases, os professores perceberam que estavam

analisando valores, ideologias, rituais e relações de poder do contexto social onde

vivem, observaram que a associação das imagens pode, em muitas situações,

resolver ambiguidades, mas que a imagem é autônoma em seu significado, podendo

perfeitamente apontar tendenciosidades, criar metáforas e estabelecer humor.

Notaram que tanto o contexto no qual a imagem se insere, quanto o

conhecimento de mundo do espectador mostram-se essenciais para uma percepção

mais acurada da mensagem pretendida (conscientemente ou não) pelo autor da

imagem. Tiveram consciência de que nunca mais passariam incólumes por uma

imagem novamente; nunca mais veriam uma imagem de forma passiva e

desengajada, compreenderam ainda a importância da discussão coletiva para

alcançar posições individuais mais firmes, aproveitaram a oportunidade de

questionar a credibilidade de fontes, ao comparar, contrastar um mesmo fato

divulgado em fontes diferentes e refletir sobre o grupo dominante dentro do qual a

imagem foi produzida e concluíram que, o que e quem foi omitido, muitas vezes

mostrou-se mais importante e essencial do que o que foi explicitamente dito ou

sugerido, bem como puderam inferir as razões para tal, conforme um dos relatos

P1: Desde aquele dia, eu agora estou ‘lendo tudo’: gestos, pessoas, comportamentos, imagens, etc.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos apontar algumas implicações pedagógicas relativas ao uso do texto

visual em sala de aula. Elas são desencadeadoras e fortalecedoras de motivação e

estimulação. A proposta de comunicação lúdica, através de leitura de imagens atrai

a atenção do aluno, ajuda na reflexão crítica, associa facilmente escola e mundo

real, pressupõe aprendizagem e engajamento social e funciona como um jogo no

qual de descobre cores, formas, linhas, ângulos, focos, luz, sombra, podendo levar

também a descobrir visões de mundo complexas e sutis, foco da implementação.

Com relação à facilitação de uma postura crítica utilizando o texto visual, a

proposição de (re)construir com o aluno o que se “vê” e “lê”, criticamente, imagens é

uma experiência transformadora, pois oportuniza a abertura de janelas para o

mundo e cria uma infinidade de oportunidades de participação e fortalecimento de

sua identidade como cidadão. Pode-se apontar como sugestão de extrema

relevância o trabalho ainda a ser desenvolvido em relação à construção textual,

propriamente dita, pois o processo instigador nas leituras de imagens se fez

presente de maneira bastante sustentável.

REFERÊNCIAS:

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