OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 1 Professor de Educação Física da Rede...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE FRANCISCO BELTRÃO
ARISTIDES RAVANELLI
JOGO DO XADREZ : UM INSTRUMENTO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM
Foto: acervo pessoal
SALGADO FILHO – PR
2014
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE FRANCISCO BELTRÃO
ARISTIDES RAVANELLI
JOGO DO XADREZ : UM INSTRUMENTO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM
Artigo Científico apresentado à SEED/SUED, como requisito para obtenção do título de Professor PDE, área de concurso: Educação Física.
Orientador: Prof. Dr. Luís Sérgio Peres
SALGADO FILHO – PR
2014
JOGO DO XADREZ: UM INSTRUMENTO FACILITADOR DA APRENDIZAGEM
Autor: Aristides Ravanelli1
Orientador: Dr. Luís Sérgio Peres2
RESUMO: Através deste artigo buscou-se indicar algumas situações vivenciadas na escola pública no Estado do Paraná, dentre elas a falta de concentração que causam muitos transtornos na vida dos estudantes e sérias preocupações aos educadores. Pretendemos através do xadrez modificar atitudes, tornando os educandos mais calmos e interessados, melhorando o nível de aprendizagem escolar de forma interdisciplinar, principalmente aquelas que exigem maior raciocínio lógico, não deixando também de abordar o xadrez como uma forma de lazer e um esporte de competição. Desta maneira foram propostas diferentes atividades para serem realizadas pelos alunos durante todo o processo da aplicação deste projeto, algumas atividades inclusive realizadas de forma interdisciplinar. A turma na qual realizamos a pesquisa foi o sexto ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Padre Anchieta no Município de Salgado Filho PR. Constatamos que os resultados obtidos foram de grande importância, pois conseguimos atingir aos objetivos propostos onde observamos grandes mudanças no interesse e na participação dos alunos bem como, alunos mais calmos e atentos na sala de aula. Como conclusão final, acredita-se que se faz necessário trabalhar o xadrez não só nas aulas de Educação Física, mas em outras disciplinas, nas salas de recursos, ou no contra turno escolar, pois o xadrez é um jogo que pode divertir e distrair. É um esporte e portanto é competitivo, mas acima de tudo é um instrumento que sendo bem utilizado e compreendido será mais um colaborador na vida dos estudantes, ajudando para uma melhor formação integral das pessoas.
PALAVRAS-CHAVE: Jogo, Aprendizagem, Concentração, interdisciplinaridade.
INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas vivenciados nas escolas e relatados através de
estudos por pesquisadores e também relatados em reuniões pedagógicas quando
se discute o desenvolvimento intelectual dos alunos na escola, esta relacionado com
a aprendizagem destes junto aos conteúdos desenvolvidos pelos docentes.
1 Professor de Educação Física da Rede Estadual de Ensino do Paraná, pertencente ao Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE/2013
2 Professor do Curso de Educação Física da Unioeste – Universidade Estadual do Oeste do Paraná –
Campus de M.C. Rondon PR, Orientador.
Conteúdos estes que condizem com o crescimento do aluno de forma geral,
junto ao rol de disciplinas apresentadas na escola, sendo de certa forma analisado
na via interdisciplinar, onde envolve todo o desenvolvimento intelectual do aluno e
não exclusivamente a parte motora relacionada a Educação Física.
Assim, como professor pertencente ao grupo do Programa de Desenvolvi -
mento Educacional – PDE na área da Educação Física e pretendendo desenvolver
estudos para verificar esta importante área que é a aprendizagem dos alunos junto
ao seu período escolar, traçou-se como tema do estudo desenvolver analises junto
aos Conteúdos da Educação Física e o Cotidiano Escolar.
Atualmente percebemos cada vez mais, a preocupação dos profissionais
da educação quanto aos problemas que envolvem o ensino aprendizagem na
escola. Vários são os estudos e inúmeros são os projetos que tratam deste tema, ou
seja, existe uma grande preocupação e interesse de que as crianças, uma vez
presentes na escola, aprendam conteúdos. Também são inúmeros os recursos
utilizados hoje no intuito de atrair os alunos a permanecerem no espaço escolar e
serem bem sucedidos.
Neste sentido, percebemos que o jogo, presente nas atividades escolares, é
um bom atrativo para as crianças estarem motivadas na busca pela aprendizagem,
podendo ser um forte aliado para que o professor melhor desenvolva seu trabalho.
Freire (apud PIAGET, 2009: p. 30-31) coloca que, “sendo dos 7 aos 11 anos que
ocorre o período das operações concretas e é marcado pelo início da cooperação e
do raciocínio lógico, é neste período que o jogo de regras se constitui como uma
atividade do ser socializado, prolongando-se por toda a vida”.
Percebe-se então que esta é uma fase que os jogos podem ser facilmente
introduzidos para a criança e que existe uma relação muito importante entre jogo e a
educação e bons resultados podemos obter.
Nesta perspectiva, temos notado que a prática do xadrez tem se
popularizado, ou seja, vem sendo cada vez mais praticado, não sendo mais um jogo
somente de uma minoria como era antigamente, e também não somente um jogo
voltado para intelectuais, mas um jogo para todos.
Assim, nos últimos anos no Estado do Paraná, ocorreu um vínculo maior
entre o xadrez e a educação, onde diversos cursos e seminários de aperfeiçoamento
ocorreram no intuito de se implantar o xadrez nas escolas públicas do Estado. Por
outro lado nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná estão previstos nos
conteúdos básicos os jogos de tabuleiro e assim entendemos que o xadrez esteja
inserido, portanto é conteúdo. Nesta perspectiva temos notado que a prática do
xadrez vem se popularizando, ou vinculado a disciplina de Educação Física.
No entanto, muitas vezes o xadrez é deixado de lado por alguns profissionais
que não o utilizam como um meio pedagógico ou só o fazem nos dias de chuva para
distrair os alunos em momentos de lazer, desconhecendo assim seus benefícios.
Isto é facilmente entendido, pois para nós profissionais da área é mais cômodo,
tendo em vista que a bola, torna-se instrumento motivacional para os alunos e assim
desenvolvemos atividades de prática corporal nos esportes, jogos e ginástica. Como
descrito anteriormente, o xadrez está diretamente ligado a disciplina de Educação
Física, porém como um jogo de raciocínio lógico, de estratégia, de previsão do
pensamento, de concentração, de inteligência e organização, está também
exercendo relações com outras disciplinas curriculares como a matemática, a
história, a arte, as línguas, e outras disciplinas afins, exercendo assim um papel
interdisciplinar.
É possível descrever inúmeros benefícios da utilização do xadrez como um
instrumento pedagógico presente na escola passando pelos aspectos cognitivos,
psicológicos e psicopedagógicos.
Neste sentido, propomos através de uma Unidade Didática, pautada em
Santos (2012) e Tirado e Silva (1999), desenvolvida com os alunos do sexto ano
matutino do Colégio Estadual Padre Anchieta. Turma esta formada inicialmente por
20 alunos. Proposta esta também apresentada aos cursistas do GTR, turma 2014.
“O jogo do xadrez: um instrumento facilitador da aprendizagem”, entendendo que
possa melhorar a formação acadêmica dos alunos oferecendo-lhes condições de
atingirem um pensamento cognitivo avançado, podendo a partir do aprendizado e da
prática do jogo do xadrez ter um melhor desempenho na escola, podendo assim
estar melhorando a concentração, a atenção, aprimorar-se também na matemática,
nas linguagens, na história, nas artes e demais disciplinas curriculares, uma vez que
os níveis de entendimento que o jogo oferece são variados. Assim também poder
oferecer através do jogo oportunidades de as crianças poderem socializar-se com
outros alunos, nos encontros com outros enxadristas, nos festivais e torneios
escolares.
DESENVOLVIMENTO
Neste estudo buscaremos aprofundar o conhecimento voltado ao xadrez sob
o enfoque de diversos autores que abordam o xadrez nos seus diferentes aspectos,
procurando assim entender o jogo através de sua história, origens e evolução, o
xadrez pedagógico, o xadrez como ciência e arte, o xadrez esporte e jogo.
Assim, ao abordarmos a história da evolução do xadrez conforme estudos de
Blanco apud Locateli (2011, p.7) “sendo o xadrez um jogo de tabuleiro, pela
evidência escrita, pictórica, escultura e de figuras avaliadas por arqueólogos e
historiadores, sendo provável que seus ancestrais se recordem até 40 séculos antes
de Cristo”. Uma das hipóteses é que se originou no Egito em torno de 1500 anos de
nossa época, se caracterizava como “jogo de reis e rei dos jogos”.
Lasker apud Locateli (2011, p.7) destaca ainda que “o xadrez tem contribuído
há mais de 50 anos com desenvolvimento da informática, a computação, a
psicologia cognitiva, com a inteligência e a Teoria dos jogos entre outra disciplinas
do conhecimento humano”. Nos aspectos da educação existem grandes evidências
que provam os benefícios trazidos pelo xadrez nas escolas.
Desta forma percebemos alguns conhecimentos evidenciados em períodos
históricos recentes que produzem e estimulam as diferentes habilidades e
capacidades melhorando a atenção, concentração e raciocínio, ajudando a atingir
níveis de inteligência mais avançado.
A autora acima citada coloca ainda sobre um jogo que conta a lenda de um
homem chamado Sissa, de uma região do norte da Índia, cujo jogo representava
uma guerra e pedia como recompensa ao rei um grão de trigo para a primeira casa
do tabuleiro, dois para a segunda, quatro para a terceira, sempre dobrando a
quantidade da casa anterior. Isto foi contado inúmeras vezes tornando-se enfim em
uma lenda muito conhecida no mundo do xadrez.
Ainda Locateli, (2011, P.8) coloca que Murray, em sua obra “uma história do
xadrez”, livro de mais de 900 páginas, afirma que o xadrez foi inventado na Índia a
570 d.C. e era chamado chaturanga, sendo anterior ao xadrez persa (chatrang), ao
xadrez Árabe (shatranj), ao xadrez chinês (xiangqi), ao xadrez japonês (shogi) e a
todos os xadrezes. Esta obra tornou-se referência no mundo enxadrístico, sendo
muito estudada e reproduzida.
Desta maneira é possível que os estudos de Murray estejam mais próximos
do que seja a real história do xadrez, sendo mesmo o chaturanga o provável
antessessor do xadrez atual. Porém não se pode descartar possíveis e novos
estudos que venham a contradizer estes estudos.
O xadrez surge como esporte pelos anos de 1850, sendo disputado em 1851
o primeiro internacional, neste período surge também os primeiros enxadristas
profissionais. A primeira disputa oficial pelo título de campeão mundial ocorreu em
1886 entre Steinz e Zukertort. Com o final da primeira guerra mundial houve novas,
surgindo então o xadrez hipermoderno.
Na atualidade o duelo do homem é com as máquinas, sendo que o surgimento
dos primeiros computadores ocorreu em 1950, logo foram desenvolvidos programas
voltados para o xadrez, sendo que em 1974 foi disputado o primeiro campeonato
mundial exclusivo para computadores. Em 1997, o supercomputador Deep Blue
venceu Kasparov o então campeão mundial.
Segundo dados obtidos na enciclopédia Barsa nº 14 (p.467) O xadrez no
Brasil existe desde 1808, sendo trazido por D.João VI em trabalho impresso com
autoria de Lucena. Há registros de que o primeiro torneio oficial tenha ocorrido em
1880. Aqui o xadrez é reconhecido oficialmente pela confederação brasileira de
xadrez. Henrique Costa Mecking foi o primeiro brasileiro de nome reconhecido
internacionalmente sendo campeão brasileiro nos anos de 1967 e de 1974 a 1979.
De acordo com Locateli (2011, p. 8-9) “O Brasil sempre teve bons e
talentosos jogadores em nível mundial. Segundo estudos da autora o jogo chegou
ao Brasil em 1500, quando foi descoberto por parte dos portugueses. O primeiro
jogador brasileiro de destaque foi Caldas Viana, que em 1883 ganhou vários
torneios no Brasil”
Com relação a abordagens pedagógicas, o xadrez tem sido tema em vários
debates no âmbito educacional nos últimos tempos, tendo assim alguns estudos
voltados exclusivamente à pedagogia do xadrez e as implicações e os resultados
que ele poderá trazer no seio da escola. Porém, Santos (2012), em estudos recentes
coloca que a bibliografia técnica sobre o xadrez é muito ampla, o que não ocorre
com a produção teórico-empírica, ainda carente de estudos aprofundados que
venham a auxiliar na aprendizagem no trabalho dos professores.
De qualquer forma Sá apud Tirado e Silva (1999 p.123 ) afirma “que mesmo
nas condições de adversidades existem meios que favorecem o uso do xadrez como
instrumento pedagógico nas escolas públicas até mesmo podendo ser utilizado para
erradicar a evasão escolar”.
As condições adversas descritas aqui se relacionam com as obras ou estudos
que ainda são carentes, ou seja, é pouco o material pedagógico existente bem
como, também percebemos no próprio interesse e na procura pelo xadrez como
prática. Colocamos aqui como experiências vivenciadas no interior da escola. O que
ocorre é que muitas vezes alguns alunos por não dominarem o jogo ou os termos do
jogo acabam ficando excluídos.
Desta maneira, Santos (2012) coloca que para uma tarefa ser considerada
“escolar” é preciso que satisfaça o princípio da universalidade, sendo apresentada
para toda a turma, ou para todos os alunos daquele ano, ou para toda a escola.
Devendo inclusive dar mais atenção, àqueles com dificuldades na aprendizagem os
quais viriam a serem os maiores beneficiados por esta prática.
Piaget in Munari (2010) afirma que:
O jogo é um caso típico das condutas negligenciadas pela escola tradicional, dado o fato de parecerem destituídas de significado funcional. Para a pedagogia corrente, é apenas um descaso ou o desgaste de um excedente de energia.( MUNARI, 2010, p. 98)
Neste sentido, acreditamos que o jogo é necessário e presente na vida da
criança e por ela muito valorizado em todas as fases de seu desenvolvimento.
Sendo o xadrez considerado um jogo de regras que estimula a mente, faz raciocinar,
desenvolve a memória e a paciência, ajudando a interpretar melhor e a
desenvolver aspectos cognitivos mais avançados podendo ser um instrumento
pedagógico importante no aprendizado escolar.
Santos (2012) acrescenta ainda acerca do jogo de xadrez, que criaram-se
alguns mitos, e o mais famoso é de que “para se jogar Xadrez precisa ser um gênio,
ou um “cdf” ou um “nerd” (linguajar utilizado hoje entre os adolescentes). Isto é um
engano, que pode distanciar esta prática lúdica por parte dos alunos.
Partindo desta colocação, entendemos que se faz necessário buscar novas
formas de aprendizagem que venham a atender a todos os alunos de uma mesma
turma, ou de uma mesma série, ou escola. Assim, ao aplicar o xadrez para uma
turma de alunos, por exemplo, é normal que tenhamos alunos que se destaquem e
outros que terão dificuldades na aprendizagem, sendo necessário que de uma
maneira articulada entre os alunos com facilidade e o professor ajudem e deem
suporte aos demais para que não ocorra aquilo que colocamos anteriormente, a
desistência da aprendizagem.
O Xadrez também é reconhecido mundialmente como ciência e arte, onde
Becker (2006) coloca que:
O jogo de xadrez é um esporte individual. É ainda, uma arte: pode criar beleza - em partidas e problemas: Que produz, no enxadrista, a emoção estética. E como responde a regras, leis e situações, cuja pesquisa e estudo norteiam os jogadores e lhes dão maior domínio no jogo – o xadrez é, também, uma ciência. (BECKER, 2006, p. 9)
Desta maneira podemos entender o uso do xadrez nas diferentes
possibilidades de ações no interior da escola, explorando inúmeras variações,
manifestações e criatividade de quem o pratica. Podemos observar, por exemplo, a
incrível sensação de satisfação estética quando da realização de uma jogada de
combinação. Assim, também a lógica existente que ocorre nas fases de uma
partida, ou seja, abertura, meio-jogo e final.
O dicionário escolar conhecido como Aurélio Buarque de Holanda mostra que
Ciência é:
Conhecimento: saber que se adquire pela leitura e mediação; instrumentação, erudição, sabedoria. Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos, e um método próprio, soma de conhecimentos práticos que servem a um determinado fim. (HOLANDA, 2005, p.204 - 205)
Analisando estes fatores e significados, sabendo através de estudos aqui já
descritos, que o xadrez data de longos anos, o que gerou conhecimentos próprios
especializados e sistematizados, um exemplo prático disso é a “notação” das
partidas, registro que perdura através dos tempos e pode ser estudada e analisada
gerando conhecimento que pode se perpetuar, servindo de pesquisas para estudos
futuros.
Ferreira, (1986, p.176) cita que a “arte é a capacidade que tem o homem de
pôr em prática uma ideia, valendo-se da faculdade de dominar a matéria”. O xadrez
é visto também no campo da matemática, pelas questões relacionadas aos fatores
de raciocínio lógico e concentração, que fazem manter esta relação e isto nos
parece verdadeiro.
Porém, para os enxadristas e amantes deste jogo, o fato da realização de
muitas jogadas combinadas, sensações sentidas podem ser comparadas as
sentidas na música e na poesia. Diante disso, Silva (2004) coloca que é notório que
no xadrez, na música e na matemática são percebidas crianças prodígio, Sendo
comparadas estas três áreas à pintura, a escultura e a literatura. Percebe-se que na
escultura e na literatura a pouca experiência de vida não é suficiente para compor
algo com valor estético.
Assim, na abertura, no meio-jogo, e na final o jogo de xadrez esta dotado de
muita lógica, porém somente a lógica não é o suficiente, devido ao grande número
de possibilidades que se fazem presentes em cada momento de se pensar um lance
e prever o lance adversário.
Outra abordagem também referente ao xadrez é a sua colocação como
esporte e jogo, onde Paschoal (2005, p.379) define que esporte é “a prática
metódica de exercícios físicos. É ainda, exercício praticado com método, regras
específicas, individuais ou em equipes”.
Neste aspecto entendemos que é possível termos diferentes visões e
opiniões quanto o xadrez ser ou não um esporte, pois se analisarmos a relação
xadrez, exercício físico veremos que é praticamente nula esta relação, pois o xadrez
é praticado de maneira estática, sentado, com pouco movimento. Mas por outro lado
se observarmos na organização das regras, sabendo que são determinadas
internacionalmente e que o xadrez está presente em diversas disputas oficiais,
sendo inclusive vinculada ao COB (Comitê Olímpico Brasileiro) poderia chegar à
conclusão contrária. Porém, não queremos aqui criar polêmica com relação a isto,
mas sim, fazer entender que existem fortes vínculos entre xadrez e esporte.
Fugikawa et al (2006, P. 62) cita que “o jogo existe desde a pré-história, nas
mais variadas formas, como forma de manifestação da cultura dos povos. O jogo se
caracteriza pela espontaneidade, flexibilidade, descompromisso, criatividade e
praticado sem regras rígidas”. Desta forma podemos perceber aqui diferenças entre
esporte e jogo, onde devemos levar em conta a presença de ambos no interior da
escola. O que se faz necessário é diferenciar a sua aplicabilidade e o momento que
cada um poderá fazer parte na vida dos alunos.
O xadrez como esporte tem sua importância e seus benefícios dentro do
esporte escolar. O jogo, por sua vez, tem uma aplicabilidade com termos mais
pedagógicos, tendo funções menos rígidas e satisfazer a melhor formação
acadêmica das crianças, bem como atender a todos os alunos, uma vez que no
esporte o atendimento se dá aos que melhor se sobressaem.
PROCEDIMENTO METODOLOGICO
O referido projeto é evidenciado como exploratório descritivo, tendo como
metas principais a serem atingidas as de examinar os benefícios que os alunos
desta turma terão através da aprendizagem do xadrez e também de apresentar aos
alunos uma aprendizagem mais pedagógica menos voltada para a competição.
A população para este estudo foi composta por todos os alunos do ensino
fundamental matutino do Colégio Estadual Padre Anchieta no município de Salgado
Filho Paraná, núcleo de Francisco Beltrão. A amostra foi verificada por todos os
alunos de uma turma do sexto ano do ensino fundamental do período matutino.
Inicialmente o projeto foi apresentado para os professores no intuito de
mostrar os objetivos e as metas a serem atingidas com o projeto. Em seguida foi
apresentado aos alunos que farão parte do projeto os benefícios que poderão
adquirir e a forma como serão desenvolvidas as atividades e o tempo de duração do
projeto.
O desenvolvimento das atividades deu-se principalmente na sala de aula da
própria turma, no laboratório de informática e no ginásio de esportes da escola. As
atividades foram desenvolvidas durante as aulas de Educação Física sendo duas
horas aula semanais em um período de dezesseis semanas, perfazendo um total de
trinta e duas horas aula.
Utilizamos como material de apoio: livros que abordam o xadrez, tabuleiro
mural, jogos de peças de xadrez e tabuleiros, tabuleiro e jogo de peças gigante
computadores com internet, TV pen drive.
A seguir foram abordados os conteúdos desenvolvidos no decorrer do projeto:
conhecimento histórico, origens e lendas do xadrez; jogos pré-enxadrísticos;
tabuleiro, conhecer o espaço do jogo (direções, nomenclatura das casas); peças:
suas funções e movimento; linguagens do xadrez: xeque, xeque mate, rei afogado;
notação das partidas; captura de peças; os movimentos especiais do xadrez: roque,
an passant e promoção; captura de peças; o valor relativo das peças; os casos de
empate; desenvolvimento de partidas e análise das mesmas; combinações de
jogadas; fases de uma partida: abertura, meio-jogo e final; estudo de estratégias;
miniaturas.
Finalizando o projeto realizamos juntamente com os alunos um festival de
integração com jogos de partidas vivas, jogos de xadrez gigante e partidas
simultâneas.
Utilizamos como critérios para avaliação do projeto: observações na
participação dos alunos nas atividades propostas, nas intervenções realizadas, no
interesse, nos trabalhos, relatos orais e escritos, e através das observações ao
praticar jogos, através de um parecer dos professores das disciplinas relacionando o
nível de aprendizagem visto por estes até o momento relacionado a turma e sua
disciplina, sendo estes dados catalogados verificando que ocorreu melhorias na
aprendizagem por parte dos alunos.
Foram disponibilizadas também aulas de recuperação de estudos em período
de contra turno aos alunos com dificuldades na aprendizagem e no entendimento
do jogo.
Utilizamos pareceres dos professores de Arte, Matemática e Geografia,
identificando antes e depois da aplicação do projeto se houve melhoria na
aprendizagem e no nível de concentração dos alunos.
Para a aplicação deste projeto tivemos a autorização de nosso Núcleo
Regional de Educação bem como da direção da Escola na qual aplicamos as
atividades, assim como a ciência dos pais onde constamos da importância dos filhos
estarem participando ativamente na efetivação das atividades referentes ao projeto.
Apresentamos o projeto aos professores em reunião pedagógica, no qual
buscamos demonstrar a importância no ensino aprendizagem que isto poderá ter na
vida escolar destas crianças. Também foi apresentada toda uma sequência
pedagógica na qual seriam aplicadas as atividades, desde o xadrez na antiguidade,
sua invenção, a história, suas lendas, os movimentos básicos, as jogadas e a
relação que podemos fazer entre o jogo do xadrez e a vida.
RESULTADOS
Para dar inicio a implementação de nosso projeto com a referida turma,
aplicamos um questionário junto aos alunos, servindo como um parâmetro e
entendermos como estaria o conhecimento dos mesmos com relação ao xadrez.
Apresentamos a turma, a importância de participar, aprender e praticar o jogo tanto
na vida escolar como na vida cotidiana. Os alunos tiveram a oportunidade de assistir
filmes que contam a história do xadrez, ler a obra de Cardo. A história do Xadrez
(2000), e contar a história através de relatos, desenhos e mímicas, uma vez que a
história assistida e lida possui uma relação com guerras e batalhas.
Em seguida apresentamos o tabuleiro, suas medidas, o número de casas e
juntamente com a professora de Matemática foram a confeccionados os tabuleiros
em cartolina com suas medidas oficiais e em seguida coloridos pelos alunos. Dando
sequência levamos ao conhecimento dos alunos as peças do jogo, onde tivemos
ajuda da professora de Arte para a confecção das mesmas, para o qual utilizamos
papelão, onde utilizamos moldes e recortamos todas as peças. Como base
utilizamos gesso colocado em copinhos de café que após ficar duro foi retirado,
deixando a peça pronta.
Dando sequência a aplicação do projeto passamos a ensinar os movimentos
básicos de cada uma das peças do xadrez e as capturas, começando pelo Rei que é
a peça mais importante do jogo, a Dama que é a mais poderosa, as Torres, os
Bispos, os Cavalos e por fim os peões. Nesta fase utilizamos como material de apoio
a obra de Tirado e Silva. Meu primeiro livro de xadrez (1999).
Em seguida apresentamos e ensinamos aos alunos os Jogos pré-
enxadrísticos como uma forma de proporcionar uma aprendizagem mais lúdica e
gravar mais facilmente os movimentos e as capturas. Os jogos pré-enxadrísticos
aplicados foram “Cavalos contra peões”, “O quadrado mágico”, “Sanduíche”,
“Batalha naval”, Desafio da damas”, “Batalha de peões”. Porém o que percebi e
pelos relatos dos próprios alunos é que o que mais gostaram de praticar foi o “Jogo
da velha” e o “Jogo dos quatro cavalos”. Como material de apoio nesta atividade
utilizamos a apostila Paraná Secretaria de Estado da Educação, Básico em xadrez
coordenador Jaime Sunye (2001).
Utilizando tabuleiros e jogos de peças passamos a trabalhar com o jogo
propriamente dito, abordando as fases do jogo, sendo: abertura, meio-jogo e final,
aproveitando também para expor as regras básicas do xadrez. Nesta fase foram
realizados jogos individuais e em duplas procurando instigar os alunos a analisar
cada lance, cada partida, os erros e os acertos que levam a vencer ou perder uma
partida de xadrez e comparar com a vida cotidiana.
Na reta final da aplicação do nosso projeto os alunos foram levados a sala de
informática onde puderam jogar primeiro entre si, ou seja contra o próprio
computador. Percebemos que com esta atividade os alunos conseguiram entender e
respeitar algumas regras básicas no qual muitos alunos tinham dificuldades de
entender, como Rei afogado, o Roque, lance ilegal. Buscamos também nesta etapa
praticar jogos pela internet onde os alunos puderam jogar em clubes virtuais,
experiência que segundo relatos, nenhum aluno havia tido antes. Percebemos que
esta atividade disciplina mais o aluno para o jogo tanto no respeito ao tempo para
realizar o lance não apressando seu oponente, bem como as regras que devem ser
respeitadas pelos participantes.
Para finalizar nosso projeto realizamos um festival de xadrez onde
participaram os alunos da turma do sexto ano, alunos de outras turmas e pais de
alunos. Durante o festival os alunos puderam expor seus trabalhos, as produções,
textos, a confecção dos tabuleiros e das peças e praticar jogos entre si de jogos pré-
enxadrísticos, partidas simultâneas e jogos com peças gigantes. Utilizamos para a
realização do festival o ginásio de esportes da escola.
Após a realização de todas as atividades percebemos através das notas dos
alunos participantes do referido projeto obtiveram melhores notas. Uma melhora
significativa quanto ao raciocínio lógico matemático, atenção e na concentração e
mais empenho na tarefas escolares. Isto pode ser observado também nos relatos
dos professores, direção e equipe pedagógica.
Relato da direção da escola
Foi muito boa a aplicação da proposta pedagógica do professor Aristides,
notou-se que todos os alunos se dedicaram e se empenharam com dedicação e
responsabilidade no desenvolvimento das atividades propostas do professor. Ao
acompanhar as atividades, percebeu-se o esforço dos alunos em aprender com o
ambiente criado em torno da proposta, sendo assim aplicada com muito êxito.
Aplicando-se o projeto com os estudos no laboratório de informática, confecção das
peças do jogo de xadrez, tornou-se muito atrativo para os alunos. A integração entre
os alunos na produção deste material, possibilitou a interdisciplinaridade, uma vez
que os professores de Arte e Matemática participaram e ajudaram o professor na
produção desses materiais. Outro ponto importante é a integração entre escolas
uma vez que o projeto está se expandindo para outro município vizinho sendo
apresentado na semana cultural. Assim parabeniza-se o professor pela iniciativa e
espera-se que o professor possa aplicar este projeto em outras turmas da escola.
Relato da professora pedagoga:
Foi notória e visível a dedicação e empenho na aplicação do projeto do
Professor Aristides, Jogo do Xadrez: Um instrumento facilitador da aprendizagem,
na turma do 6º ano matutino. Pudemos acompanhar e perceber que com atividades
aplicadas, os alunos se esforçaram em aprender e com o bom ambiente criado em
torno da proposta, o êxito do projeto. Da maneira como os conteúdos foram
abordados com estudos nos computadores, leitura de livros, através de pinturas e
desenhos, tornou-se mais atrativo para os alunos. Importante também foi a
integração entre os alunos na produção de materiais e a possibilidade da aplicação
do projeto de forma interdisciplinar, uma vez que os professores de Arte e
Matemática participaram e ajudaram o professor na produção de materiais. Outro
ponto importante é a integração entre escolas uma vez que o projeto está se
expandindo para outro município vizinho sendo apresentado na semana cultural.
Assim queremos parabenizar o professor pela iniciativa e dizer que esperamos que
o professor possa aplicar este projeto em outras turmas da escola.
Relato da professora de Arte:
Colega Aristides, seu projeto, Jogo do Xadrez, nos proporcionou um auxilio
maior principalmente a aqueles alunos com dificuldades na concentração. Percebi
que os alunos estão mais atentos e centrados nas atividades corriqueiras. Após a
realização do projeto de xadrez os alunos tem buscado realizar as atividades
artísticas com mais empenho e interesse, nas explicações também houve uma
diminuição naquelas chamadas conversas paralelas melhorando o ambiente de
estudos na sala de aula. Muitos alunos com dificuldades que antes nem tentavam
realizar as atividades, hoje estão se esforçando para fazer, de modo que o projeto
veio a contribuir como um todo para melhoria da turma do sexto ano e também de
toda a escola. Congratulações professor, espero que sempre consiga ser este
educador que é.
Relato da professora de Geografia:
Com toda certeza o projeto do Professor Aristides vem a colaborar com a
melhoria de toda a escola. Na minha disciplina percebi os alunos mais dedicados e
atenciosos. Gostei muito da metodologia diferenciada que utilizou fazendo-os
produzir materiais (tabuleiros e as peças de xadrez), acredito que teremos
excelentes resultados com a turma e com as demais que virão, pois o projeto não
pode parar. Por isso quero lhe dar os parabéns pela iniciativa e pelo ótimo
desempenho na aplicação do xadrez na escola.
Relato da professora de Matemática:
Colega Aristides, com a aplicação de seu projeto percebi algumas mudanças
relacionadas a minha disciplina (a temida Matemática), a concentração, organização
e no uso dos instrumentos de medidas. Os mesmos tem desenvolvido exercícios
com mais rapidez e nas provas o número de acertos na resolução de problemas tem
aumentado significativamente de maneira que todos tiveram ganhos com este
projeto. Parabéns, continue nos auxiliando no ensino aprendizagem.
Através dos resultados obtidos pelas notas dos alunos participantes ao
finalizar esta aplicação, na melhor participação dos alunos nas atividades escolares,
nos relatos apresentados pelos colegas professores da turma e pelo que pude sentir
de melhor em todo o decorrer do processo e ao final da aplicação, acredito que
tenha sido de grande importância para a melhoria dos alunos e para toda a escola
em todos os aspectos, bem como relevante para a escola pública do Paraná.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos dizer que o jogo (qualquer que seja ele), é negado por muitos na
Escola, ou seja, desvalorizado, utilizado em muitas circunstâncias “só para divertir”.
Porém citado por vários autores como muito importante para o desenvolvimento
integral da criança. Acreditamos que, se bem planejado e aplicado, o jogo seja um
componente muito importante que venha auxiliar no desenvolvimento da criança e
ao ser humano integralmente.
De acordo com aquilo que pude vivenciar durante todo o processo de
aplicação do projeto “Jogo do xadrez: Um instrumento facilitador da aprendizagem”,
percebi que é possível elaborar e desenvolver projetos que possam melhorar o
pensamento lógico e a concentração, aspectos primordiais para os estudantes nesta
fase escolar.
Analisando todas estas premissas e buscando dar continuidade a este
projeto, acreditamos que se faz necessário trabalhar o xadrez não só nas aulas de
Educação Física, mas em outras disciplinas, nas salas de recursos, ou em contra
turno escolar.
Podemos desta maneira concluir, que o xadrez é um jogo que pode divertir e
distrair. É um esporte e portanto é competitivo, mas acima de tudo é um instrumento
que sendo bem utilizado e compreendido será mais um colaborador na vida dos
estudantes, ajudando para uma melhor formação integral das pessoas.
ANEXOS:
Para complementar este trabalho e poder registrar a implementação estou
anexando algumas fotos que vem demonstrar algumas das atividades realizadas no
decorrer das aulas. Apresentamos aqui alguns dos trabalhos realizados pelos
alunos.
Cartazes sobre a história do xadrez produzidos pelos alunos
Produção dos tabuleiros com a ajuda da professora de Matemática da turma.
Peças produzidas com papelão e base de gesso. A atividade teve a colaboração da
professora de Arte da Escola.
Alunos durante a prática do jogo de xadrez.
Alunos praticando aulas online.
Alunos praticando o jogo com xadrez gigante, participação de pais e comunidade.
REFERÊNCIAS
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CEGALLA, D. P. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. 1ª edição. Companhia Editora Nacional. 2005.
CARDO, H. A história do xadrez. Editora Salamandra. Rio de Janeiro, 2000.
FREIRE, J. B.. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da educação física. São Paulo: Editora Scipione.2009.
FERREIRA, A. B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2. Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
MUNARI, A.. Jean Piaget. Coleção educadores MEC, 2010. MURRAY, H.. A história do xadrez, 1913. Disponível em: httpwww. wikipé dia.org/wiki/ hist ória_do_xadrez . Acesso em 13 mai 2013.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Educação Física Ensino Médio. Vários autores. – Curitiba: Governo do Estado do Paraná, 2006.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Física para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Curitiba: Governo do Estado do Paraná/Superintendência da Educação, 2008.
LOCATELI, M. H.. Xadrez na escola: Ferramenta pedagógica na melhoria do rendimento escolar através de uma abordagem interdisciplinar. Santo Antônio do Sudoeste – PR. 2011.
SANTOS, F. L. B. Xadrez Escolar: Uma abordagem psicopedagógica. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda. 2012.
SETERS, F. V. Manual Prático de Xadrez. São Paulo: Hemus-Livraria e editora. 2005.
TIRADO, A. C. S. B.; SILVA, W. da. Meu primeiro livro de xadrez: curso para escolares. Curitiba: Expoente, 1999.