OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · (2009), Rosaflor and the Torta’s Moura...
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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE CONTOS MARAVILHOSOS: DA
SENSIBILIDADE À CRÍTICA
Neuza Maria Melchiotti Gonçalves – Professora PDE¹
Orientadora:Luizete Guimarães Barros²
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo proporcionar a prática da leitura crítica de contos
maravilhosos, a partir de uma experiência desenvolvida em sala de aula, em uma turma de
9° ano do ensino fundamental, tendo como análise e recepção os contos maravilhosos de
tradição oral e, sucessivamente, os contos recontados pelo autor contemporâneo Pedro
Bandeira, como: O fantástico mistério de Feiurinha (2009), Rosaflor e a Moura Torta (2010),
O Gato de Botas (2012), Chapeuzinho Vermelho e Lobo Mau (2012). A relevância desse
trabalho está voltada para uma leitura que venha contribuir teórica e metodologicamente
para uma ampliação nos conhecimentos relacionados ao ensino de literatura no contexto da
sala de aula. Este trabalho está embasado, teoricamente, em reflexões sobre o Gênero
Textual Conto Maravilhoso e na Leitura da Literatura, pautadas, especialmente, em
COELHO (1991,2000), KHÉDE (1986), LAJOLO (2005) e ZILBERMAN(1991). Com esse
trabalho foi possível perceber e constatar no comportamento dos alunos uma maior
receptividade e interesse pelas obras do gênero literário em questão - conto maravilhoso.
PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Gênero Textual; Conto Maravilhoso; Literatura.
ABSTRACT
The present article has aim in provide the practice in critical reading of wonderful tales developed from an experiment in a class in 9th grade of elementary school having as analysis and reception the wonderful tales from oral tradition. Successively, the recounted stories by the contemporary author Pedro Bandeira like: The Fantastic Feiurinha’s Mistery __________________________________________________________________________________________
¹Professora de Língua Portuguesa. Colégio Estadual Dirce de Aguiar Maia – Ensino Fundamental e Médio.
²Professora Drª Orientadora do Departamento de Letras Modernas da Universidade Estadual de Maringá – UEM.
(2009), Rosaflor and the Torta’s Moura (2010), Puss in Boots (2012), Little Red Hiding Hood and the Bad Wolf (2012). The relevancy of this article is focused for a reading that will contribute theoretical and methodologically for an expansion in knowledge related to the teaching of literature in classroom context. This work is grounded, theoretically, in reflections about textual genre like wonderful tales and in literature reading especially guided in COELHO (1991,2000), KHEDE (1986), LAJOLO (2005) and ZILBERMAN (1991). This work was possible perceive and find in students behavior a bigger receptivity and interest by works of literary genre wonderful tale.
KEYWORDS: Reading; Textual Genre; Wonderful Tale; Literature.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho intitulado “Leitura e Interpretação de Contos
Maravilhosos: Da Sensibilidade à Crítica” tem como objetivo despertar nos alunos o
gosto pela leitura de textos literários, em especial, os que pertencem ao gênero
“conto maravilhoso”. Por essa razão, pretendemos incentivar a leitura e análise de
alguns contos de fada, inicialmente, para que sejam comparados aos contos
maravilhosos, posteriormente. Outra proposta deste trabalho é analisar a recepção
dos contos maravilhosos recontados pelo autor contemporâneo Pedro Bandeira,
como: O fantástico Mistério de Feiurinha (2009), Rosaflor e a Moura Torta (2010), O
Gato de Botas (2012) e Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau (2012), para fomentar
o hábito de leitura em nossos alunos, já que temos a ambição de criação de leitores
autônomos que sejam capazes de ir além no processo inicial de decodificação e,
formar pessoas interessadas em literatura que sejam capazes de ler de maneira a
atribuir sentido aos mais diferentes gêneros textuais e literários.
Para justificar essa escolha, propõe-se um trabalho voltado para uma leitura
crítica que venha contribuir teórica e metodologicamente para uma ampliação nos
conhecimentos relacionados ao ensino da literatura no contexto da sala de aula. A
análise das leituras dar-se-á a partir do gênero textual “contos maravilhosos”, pelo
fato de que as narrativas de tradição maravilhosa continuam encantando crianças e
adultos, principalmente, por evidenciarem processos psíquicos e conflitos que
independem do tempo para existirem.
Como embasamento teórico, escolhemos ZILBERMAN (1991), autora que
reflete o caráter social da leitura, visando sua difusão e democratização. Assim,
como COELHO (2000), que aborda, historicamente, os contos de fadas e os contos
maravilhosos tradicionais (suas origens, suas características e seus principais
escritores). Temos ainda como referência a autora Marisa LAJOLO (2005) que
acrescenta que por meio da literatura se reconhecem os diferentes imaginários, as
diferentes sensibilidades e valores comportamentais. Para o cidadão exercer
plenamente sua cidadania é preciso, primeiramente, apossar-se da linguagem
literária, pois a leitura se faz necessária e essencial para quem quer ler jornais,
assinar contratos de trabalho, até mesmo para ler os anúncios de emprego, etc.
Essas são as condições que a sociedade moderna impõe ao cidadão, é preciso ler
muito e ser um usuário competente para desfrutar do maior trânsito social no mundo
contemporâneo, segundo nossa opinião e a veiculada pelos teóricos estudados
neste trabalho.
Considerando o percurso histórico da disciplina de língua portuguesa na
educação básica brasileira e, confrontando esse percurso com a situação de
analfabetismo funcional, de dificuldades de leitura compreensiva e de produção de
textos, apresentados pelos alunos – segundo o resultado de avaliações em larga
escala e de pesquisa acadêmicas, esta intervenção pretende sanar parte essa
carência. Essa é uma das razões pelas quais as Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa do Estado do Paraná requerem, neste momento histórico, novos
posicionamentos em relação às Práticas de ensino na construção de alternativas
para a emancipação do conhecimento do estudante letrado.
Diante desta realidade, o presente trabalho busca repensar práticas
pedagógicas, propondo uma experiência de leitura a partir dos contos maravilhosos,
que possibilite a motivação do aluno para uma leitura crítica, com o intuito de
desenvolver o hábito da leitura, possibilitar a ampliação do conhecimento, de modo
que venha permitir ao cidadão compreender melhor o presente e seu papel como
sujeito histórico, com vistas a atender às necessidades de bem viver no mundo
moderno.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A Prática da Leitura
No início do século passado, o Brasil registrava, como hábito de sua
população, baixo índice de leitura devido ao baixo consumo de material impresso, e
devido também à elevada taxa de analfabetismo.
Zilberman (1991) afirma que o consumo de material de leitura pelos
brasileiros sempre foi baixo, por razões de ordem econômica e cultural, como:
elevada taxa de analfabetismo, o reduzido poder aquisitivo, a ausência de uma
política cultural contínua e eficiente, a influência cada vez maior dos meios
audiovisuais de comunicação de massa. Esses fatores relacionados acabam
convertendo a leitura, não em um prazer, mas em uma obrigação, para a maioria da
população brasileira que vê a leitura como tarefa escolar cujos benefícios são
incompreensíveis.
Nessa medida, é preciso refletir sobre o caráter social da leitura com a
implantação de uma política pública continuada e que vise a sua difusão e
democratização. A escola e a prática da leitura é o princípio básico para a formação
do leitor. Contudo, para atingir as necessidades de efetivação da leitura, é
fundamental que a linguagem, os fatos linguísticos, e o texto em si evidenciem a
curiosidade e transformem em necessidade o esforço para alimentar o imaginário,
de maneira que possam desvendar os segredos do mundo através do que se lê e de
como se lê. Esse seria, digamos assim, o lado otimista e prazeroso da leitura.
Mesmo assim, podemos dizer que ler, realmente, não é tarefa fácil. Para
MARTINS (1994), não basta apenas decodificar os signos, é preciso considerar a
leitura como um processo de compreensão de expressões formais e simbólicas. O
ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressões do fazer
humano, caracterizando-se também como acontecimento histórico, e estabelecendo
uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido.
A leitura vai, portanto, além do texto, (seja ele qual for) e começa antes
do contato com ele. O leitor assume um papel atuante, deixa de ser
mero decodificador ou receptor passivo. E o contexto geral em que ele
atua, as pessoas com quem convive passam a ter influência apreciável
em seu desempenho na leitura. Isso porque o dar sentido a um texto
implica sempre levar em conta a situação desse fato e de seu leitor. E a
noção de texto aqui também é ampliada, não mais fica restrita ao que
está escrito, mas abre-se para englobar diferentes linguagens.
(MARTINS, 1994; p. 32/33)
Desse modo, a leitura se efetiva no ato da recepção, sendo uma atividade de
caráter individual, que depende de fatores linguísticos. É na dimensão dialógica que
a leitura deve ser experienciada. O reconhecimento das vozes sociais e das
ideologias presentes no discurso ajuda na construção do sentido de um texto e na
compreensão das relações de poder a ele inerentes, segundo a orientação das
Diretrizes Curriculares que reproduzimos a seguir.
Compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que
envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas,
pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo
busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua
formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o
constituem. (DIRETRIZES CURRICULARES, 2008; p. 56)
Assim, para LAJOLO (2005), numa sociedade como a nossa, ler é essencial.
E ela não é suficiente apenas para aqueles que almejam participar da produção
cultural mais sofisticada, dos requintes da ciência e da técnica, da filosofia e da arte
literária, mas para todos os que têm da escrita seu código oficial. A própria
sociedade de consumo faz muitos de seus apelos através da linguagem escrita.
Assim, no contexto de uma educação democrática, a leitura se faz necessária e
essencial para quem quer ou precisa ler jornais, assinar contratos de trabalho,
procurar emprego através de anúncios, etc. Mesmo à nossa revelia, essas
modalidades de leitura desfrutam de maior trânsito social e são, consequentemente,
responsáveis pelo exercício da cidadania no mundo moderno.
Dessa forma, segundo as Diretrizes Curriculares, praticar a leitura em
diferentes contextos requer que se compreendam as esferas discursivas em que os
textos são produzidos e circulam, bem como se reconheçam as intenções e os
interlocutores do discurso. Assim, no ato da leitura, um texto leva a outro texto,
orientando o leitor a participar da elaboração de significados, confrontando-o com o
próprio saber e com a sua experiência de vida.
LEITURA DA LITERATURA
A literatura como produção humana está intrinsecamente ligada à vida social.
Assim, a leitura literária é fundamental, pois como produto literário está sujeito a
modificações históricas, portanto, não pode ser apreensível somente em sua
constituição, mas em suas relações dialógicas com outros textos. Para tanto, de
acordo com LAJOLO, é na literatura que se constrói os diferentes imaginários.
É a literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os
diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e
comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e discute,
simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias . Por isso, a
literatura é importante no currículo escolar: o cidadão, para exercer
plenamente sua cidadania, precisa apossar-se da linguagem literária,
alfabetizar-se nela, tornar-se seu usuário competente, mesmo que
nunca vá escrever um livro: mas porque precisa ler muitos.
(LAJOLO,2005, p. 106)
Também, para LAJOLO (2005), cada leitor, na individualidade de sua vida, vai
entrelaçando o significado pessoal de suas leituras com os vários significados que,
ao longo da história de sua vida, este foi tomando. Por isso, essa autora classifica
como leitor maduro aquele que em contato com um texto novo faz convergir para o
significado deste o significado de todos os textos que leu.
Dessa forma, ZILBERMAN (1991) defende uma política pedagógica que
começa e termina com o tipo de relação que se estabelece com o livro. Isto é
acreditar no forte poder de ação intelectual do livro e torná-lo acessível a todos.
Para essa autora, o livro é o ponto de partida para uma ação cultural renovadora no
desenvolvimento cultural da civilização contemporânea.
Quanto ao ponto de chegada, este decorre do emprego do livro como agente
de discussão crítica. Com a oferta de bens culturais, há a abertura de horizontes
intelectuais e cognitivos, a leitura - e o livro - será efetivamente propulsora de uma
mudança do indivíduo em leitor. Do ponto de vista individual, tal passo se mostra
como o requisito primeiro para a atuação política numa sociedade democrática. Para
além desse fato, há a exigência, óbvia e irrestrita, de que a sociedade seja
autenticamente democrática. Enfim, a entidade que assegura essa integração e
participação democrática na sociedade é a escola.
GÊNEROS TEXTUAIS
A concepção assumida em Língua Portuguesa, de acordo com as Diretrizes
Curriculares, apresenta a linguagem como prática que se efetiva nas diferentes
instâncias sociais, tendo como conteúdo estruturante o discurso como prática social.
Nesse sentido, a organização do trabalho pedagógico pressupõe a reflexão sobre a
linguagem a partir de temáticas que exploram os diferentes gêneros discursivos e
tipos de textos, com o objetivo de analisar as práticas de linguagem que circulam na
sociedade. Sendo assim, o estudo dos gêneros textuais é bastante complexo, visto
que, as transformações do mundo moderno aceleram as informações, e é difícil que
o livro didático acompanhe a rapidez destas mudanças.
Para MARCUSHI (2005), a grande quantidade de gêneros existentes se faz
em decorrência dos que já existiam, e esse fenômeno acompanha as necessidades
e atividades socioculturais, bem como as invenções tecnológicas. Sendo assim, um
gênero não é completamente inédito. Os gêneros evoluem, transformam-se, surgem,
desaparecem, são absorvidos por outros. Os elementos estruturais mudam porque
muda a forma como a realidade é refletida e/ou refratada no gênero. As
transformações dos gêneros são elos em que um dá origem a outro. Essas
transformações dependem do desenvolvimento e da complexidade das esferas da
atividade humana, das novas motivações sociais e do embate das forças que se
empenham em manter as coisas iguais ou diferentes umas das outras.
Para tanto, é importante esclarecer que não se deve confundir gênero com
tipo textual. O tipo textual está ligado à sua estrutura composicional. De forma geral,
admite-se cinco tipos: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção. Ao
contrário dos gêneros textuais que são praticamente infinitos, visto que, são textos
orais e escritos produzidos por falantes de uma determinada língua em um momento
histórico.
Sobre isso, Luiz Antônio MARCUSHI ( 2005, p.19) explica que:
[...] uma simples observação histórica do surgimento dos gêneros revela
que, numa primeira fase, povos de cultura essencialmente oral
desenvolveram um conjunto limitado de gêneros. Após a invenção da
escrita alfabética por volta do século VII a. c., multiplicam-se os gêneros,
surgindo os típicos da escrita. Numa terceira fase, a partir do século XV,
os gêneros expandem-se com o florescimento da cultura impressa para,
na fase intermediária da industrialização iniciada no século XVIII, dar
início a uma grande ampliação. Hoje, em plena fase da denominada
cultura eletrônica, com o telefone, o gravador, o rádio, a TV e,
particularmente, o computador pessoal e sua aplicação mais notável, a
internet presenciamos uma explosão de novos gêneros e novas formas
de comunicação, tanto na oralidade como na escrita. (MARCUSCHI,
2005, P. 19)
O MARAVILHOSO NA LITERATURA
As narrativas maravilhosas sempre foram e continuam sendo um dos
elementos mais importantes na literatura destinadas às crianças, e também ao
público juvenil e adulto. Em meio a esse cenário pós-moderno, em face desse
acelerado processo de transformação tecnológica e científica, um contraponto aos
leitores, provavelmente carentes de vivências que lhes ativem a imaginação, as
narrativas fantásticas possibilitam novas possíveis formas de representação da
experiência humana. O maravilhoso, então, passa a fazer parte da literatura com
duas tendências poderosas e vivas, ora separadas, ora fundidas no realismo mágico
ou na ficção científica, tanto na literatura adulta como na infantil. Assim, o
maravilhoso é um dos gêneros narrativos, cuja origem remonta a tempos muito
pretéritos, ligados ao pensamento mágico. De acordo com COELHO, o maravilhoso
foi a fonte privilegiada de onde nasceu a literatura.
No início dos tempos, o maravilhoso foi a fonte misteriosa e privilegiada
de onde nasceu a literatura. Desse maravilhoso nasceram personagens
que possuem poderes sobrenaturais; deslocam-se, contrariando as leis
da gravidade; sofrem metamorfoses contínuas; defrontam-se com as
forças do bem e do mal, personificadas; sofrem profecias que se
cumprem; são beneficiadas com milagres; assistem a fenômenos que
desafiam as leis da lógica, etc. (COELHO, 2000, p. 172)
Ainda, segundo COELHO (2000), a forma do conto maravilhoso tem raízes
em narrativas orientais, difundidas pelos árabes, e cujo modelo mais completo é a
coletânea “As Mil e uma Noites”. O núcleo das aventuras é sempre de natureza
material, sensorial e social seguidos da busca da riqueza, a satisfação do corpo e a
conquista do poder, etc., tendo como exemplo “Aladim e a Lâmpada Maravilhosa”;
“Os Músicos de Bremen”; “O Gato de Botas”, etc. Em contrapartida, temos o conto
de fadas que é de natureza espiritual, ética e existencial. Originou-se entre os celtas,
com heróis e heroínas, cujas aventuras estavam ligadas ao sobrenatural, ao mistério
do além-vida e visavam à realização interior do ser humano.
Diferenciando os contos de fadas dos contos maravilhosos tradicionais
De acordo com COELHO(1991), os contos de fadas e os contos maravilhosos
provêm de fontes distintas, com uma problemática diversificada entre si. No entanto,
se confundem entre si por possuírem elementos pertencentes ao mundo imaginário
maravilhoso.
Os contos de fadas, havendo fadas ou não, são constituídos por elementos
do maravilhoso, tendo como eixo uma problemática existencial. A problemática
central gira em torno da realização do herói ou da heroína, na maioria das vezes,
isso está ligado à união homem-mulher. Há sempre um ideal a ser alcançado, um
obstáculo ou provas a serem vencidas pelo herói ou pela heroína, a fim de que
possam alcançar autorrealização existencial. No entanto, a busca da aventura é o
ponto de partida para um encantamento, ou uma metamorfose.
Os contos maravilhosos se desenvolvem, via de regra, em um ambiente
mágico, e tem como eixo gerador uma problemática social. O herói deseja se
realizar socioeconomicamente. O ponto de partida para a busca da aventura é a
miséria, ou a necessidade de sobrevivência.
Origem dos contos e seus representantes
Na França do século XVII, nasceram, historicamente, os contos clássicos
infantis, pela mão do erudito Charles Perrault. Apesar de serem vistos como contos
infantis, eles eram direcionados ao público adulto. Originalmente, eram transmitidos
oralmente de geração em geração. Ao recontar os contos, as pessoas modificavam-
nos, adaptando-os ao público ouvinte. Para isso, incorporavam às histórias o modo
de vida e de pensar da época e do lugar em que viviam.
A partir do século XIX, com os estudos sobre a literatura folclórica e popular,
descobriu-se que esses contos possuíam raízes na produção anônima e coletiva dos
povos. No entanto, às histórias contadas por Perrault, seguiram-se as dos Irmãos
Jacob e Wilhelm Grimm e as de Hans Christian Andersen. Esses autores dedicaram
anos de suas vidas recolhendo as histórias dos povos, para, mais tarde, registrá-las
em livros.
A publicação desses contos continua acontecendo no mundo inteiro. Muitos
são transformados em filmes ou peças de teatro e servem de inspiração para a
criação de outras histórias. Daí aparecerem em diferentes versões, isto é, narrativas
que apresentam semelhanças e diferenças em relação à narrativa original.
Assim, a história da menina que encontra o lobo mau na floresta tem o título
“O Chapeuzinho Vermelho”, na versão dos Irmãos Grimm, escritores alemães, “A
Capinha Vermelha”, na versão de Hans Christian Andersen, escritor dinamarquês, e
“Chapeuzinho Amarelo”, na recriação de Chico Buarque de Holanda, escritor
brasileiro de nosso tempo.
Nesse sentido, ao lermos os contos desses autores, comparando-os,
percebemos diferentes formas de visão do homem e da vida. Isso confirma a ideia
de que as mudanças pelas quais as sociedades passam, ao longo do tempo,
influenciam, de maneira direta, a arte, a literatura e os costumes.
COELHO (1991, p. 142) comenta:
Assim, a violência (patente ou latente dos contos de Perrault) cede
agora a um humanismo, onde se mescla o sentido do maravilhoso da
vida. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes
nessas histórias, o que predomina sempre é a esperança e a confiança
na vida.
Enfim, quando lemos os contos clássicos do gênero maravilhoso, percebemos
que em suas narrativas as personagens se apresentam como boas ou más, belas ou
feias, poderosas ou fracas, etc., facilitando o entendimento e a compreensão de
certos valores básicos da conduta humana e do convívio social.
Os personagens dos contos tradicionais
A literatura infantojuvenil possui, como gênero literário, uma tradição que vem
do século XVIII, oriunda da necessidade da classe burguesa, de sedimentar seus
valores utilitários a partir da infância, onde predominavam o cruzamento de
princípios, entre os judaico-cristão e os da vertente mítica da antiguidade greco-
latina.
Segundo KHÉDE,S.S. (1986), pode-se dizer que os contos de fadas, na
versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes, questões universais
como os conflitos de poder e a formação de valores, misturando realidade e fantasia
no clima do "Era uma vez...". Podemos dizer ainda, que os contos de fadas,
apoiados nos contos populares, surgiram da forma de produção e organização social
do pré-capitalismo, ligando sua base ao modo de produção capitalista, tendo como
exemplo: o industrial impiedoso, o comerciante avarento, o proprietário explorador, o
cidadão arruinado, entre outros.
Assim, Perrault foi denominado “Homero Burguês" pela propriedade com que
retratou a sociedade da época a partir da metamorfose de certos símbolos dos
contos populares, transformando monstros e animais por meio da atribuição de
poderes mágicos. As fadas eram o retrato das grandes damas que usavam roupas
de boa qualidade. No entanto, suas histórias são diretas e realistas e, nelas, o
maravilhoso ocupa lugar modesto.
Assim, “A Borralheira” é símbolo de personagem humilhada e maltratada. “O
Gato de Botas” é o pícaro, a tirar proveito da corrupção social. “O Pequeno Polegar”
é o anão astuto que vence gigantes bobos. Ou seja: seus personagens se armam
com atributos da inteligência e perspicácia para vencer a força bruta do poderoso
opressor.
Perrault utilizou, ainda, o confronto dualista entre bons e maus, feios e belos,
fracos e fortes, como exercício para criticar a corte. Já os Irmãos Grimm realizaram
em seus contos um trabalho filológico, escrevendo-os a partir de relatos dos
camponeses.
Hans Christian Andersen, filho de sapateiro, traz em seus contos as marcas
de sua própria vivência social, utilizando-se do maravilhoso com maior frequência.
Em seus contos, plantas, brinquedos e animais têm personalidade e perspectiva
humanas (“Soldadinho de Chumbo”, “O Patinho Feio”). Seus personagens revelam
humor e indiferença pelos valores éticos.
E foram felizes para sempre?
Nem sempre. Final feliz não é muito comum no mundo fantástico do escritor
dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-75), autor de contos famosos como "A
pequena sereia", "A pequena vendedora de fósforos", "O patinho feio",
"Polegarzinho", "O soldadinho de chumbo". "A pequena sereia", por exemplo, conta
a história de uma sereiazinha que vivia num castelo no fundo do mar. Ela queria
virar mortal e casar-se com um príncipe. Na versão de Walt Disney para o cinema, o
sonho da sereia se concretiza e, portanto, o final é feliz. Mas no conto original, o
príncipe rejeita a sereia e ela se transforma em espuma do mar.
Contos Maravilhosos recontados por Pedro Bandeira
Pedro Bandeira, nascido em 1942 na cidade de Santos, mudou-se para São
Paulo em 1961. Lá cursou ciências sociais e desenvolveu diversas atividades, do
teatro à publicidade e ao jornalismo. A partir de 1972, começou a publicar pequenas
histórias para crianças em publicações de banca. Com o passar do tempo passou a
dedicar-se totalmente à literatura para crianças e adolescentes, vindo a escrever
uma série de contos maravilhosos, como: “O fantástico mistério de Feiurinha”;
“Rosaflor e a Moura Torta”; “O Gato de Botas”; “Chapeuzinho e o Lobo Mau”, etc.
Pedro Bandeira sempre se considerou um eterno devedor, não só de
Monteiro Lobato, Charles Perrault, Jacob e Wilhelm Grimm, Hans Christian
Andersen, Esopo ou La Fontaine, mas principalmente das antigas contadoras de
histórias. As mulheres que não deixaram seus nomes para a história, mas que,
provavelmente analfabetas e muito pobres, usaram a imaginação para aquecer os
corações das crianças em noites geladas, quando o vento e os lobos uivavam lá fora
e quando a fome causada pela pobreza e pelo rigor do inverno impedia que o sono
viesse. Ainda de acordo com Pedro Bandeira, assim nasceu a literatura infantil, que
encanta crianças e adultos. A literatura infantil é a mais doce das artes, já que
significa vida e esperança.
Para tanto, BANDEIRA (2009), escreveu “O fantástico mistério de Feiurinha”,
que trata do desaparecimento de uma suposta princesa, chamada Feiurinha, e
promove um reencontro entre as principais princesas dos contos de fadas:
Cinderela, Branca de Neve, A Bela Adormecida, Rapumzel, Bela do Conto a Bela e
Fera, Rosaflor Della Moura Torta e Chapeuzinho Vermelho. Todas, com exceção de
Chapeuzinho Vermelho, se encontram grávidas e prestes a completarem 25 anos de
casadas com seus respectivos príncipes encantados...
Rosaflor e a Moura Torta é uma das histórias de antigamente, com uma
magia tão grande quanto a de Branca de Neve ou de Cinderela, recontada na
linguagem de Pedro Bandeira. Rosaflor era linda demais e conquistou o coração de
um príncipe, mas a terrível Moura Torta, uma bruxa invejosa, haveria de aparecer
para impedir a felicidade dos dois.
Chapeuzinho e o Lobo Mau conta a aventura de uma menina que já não era
mais criança, ganhou a tal capinha, sentiu-se mocinha e então achou-se grande o
suficiente para andar por caminhos diferentes dos que sua mãe recomendava...
O Gato de Botas, baseado no conto maravilhoso clássico do gato esperto que
calçava botas capazes de cobrir sete léguas é recontado por Pedro Bandeira.
Nessa recriação, o Gato de Botas é capaz de enfrentar e vencer o mais terrível dos
vilões, o horroroso Bruxo Milcaras, e corrigir uma injustiça das piores...
Pedro Bandeira comenta:
Eu nunca fui gato, mas quando pequeno, fraco e miúdo, acho que esse
conto maravilhoso me deu forças, mostrando que, se eu me esforçasse
bastante, minha cabecinha cheia de ideias poderia abrir para mim todas
as portas que eu quisesse atravessar, todos os caminhos que eu
quisesse percorrer, todos os obstáculos que eu quisesse ultrapassar.
Isso porque, neste mundo, o que vale é a inteligência, é a sabedoria, é o
conhecimento. Quem sabe pouco e quem lê pouco acaba dominado
pelos bruxos da vida, que sempre se apresentam com... mil caras!
Método Recepcional
Tendo por base um dos diversos ramos da teoria literária moderna, o método
de recepção tem como intuito a valorização da figura do leitor, uma vez que sua
base teórica defende a ideia do relativismo histórico e cultural, isto é, fundamenta a
obra literária dentro do processo histórico numa atitude participativa / interativa do
leitor com diferentes textos.
Assim, AGUIAR e BORDINI (1993) comentam que o leitor não é um mero
expectador da obra, e sim, elemento de produção, pois dialoga com o texto,
estabelecendo sentidos. Da relação entre diferentes tipos de textos e de leitores,
ocorrem as mais variadas leituras. O texto fornece pistas que o leitor deve segui-las,
mas também deixa algumas lacunas sem orientação; isso permite que o leitor se
utilize de sua criatividade para interagir com o texto. Assim, o texto é um cruzamento
de apreensões que se fizeram e se fazem dele nos vários contextos históricos em
que ocorreu e no que se apresenta hoje. Para tanto, no processo de recepção
textual ocorre a fusão de horizontes de expectativas do autor e do leitor.
No ato de produção / recepção, a fusão de horizontes de expectativas
se dá obrigatoriamente, uma vez que as expectativas do autor se
traduzem no texto e as do leitor são a ele transferidas. O texto se torna o
campo em que os dois horizontes podem identificar-se, ou estranhar-se.
(AGUIAR e BORDINI, 1993, p. 83)
Assim, ZILBERMAN ( 1982, p.103) faz uma relação de ordens de convenção
constitutivas do horizonte de expectativas através do qual o autor / leitor concebem e
interpretam a obra:
"- social, pois o indivíduo ocupa uma posição na hierarquia da
sociedade;
- intelectual, porque ele detém uma visão de mundo compatível, na
maior parte das vezes, com seu lugar no espectro social, mas que
atinge após completar o ciclo de sua educação formal;
- ideológica, correspondente aos valores circulantes no meio, de que se
imbui e dos quais não consegue fugir;
- linguística, pois emprega um certo padrão expressivo, mais ou menos
coincidente com a norma gramatical privilegiada, o que decorre tanto de
sua educação, como do espaço social em que transita;
- literário, proveniente das leituras que fez, de suas preferências e da
oferta artística que a tradição, a atualidade e os meios de comunicação,
incluindo-se aí a própria escola, lhe concedem".
Portanto, de acordo com AGUIAR e BORDINI (1993) quanto mais leituras o
indivíduo acumula, mais propenso está para a modificação de seus horizontes, bem
como quanto aos valores que orientam sua experiência de mundo. Assim sendo, o
processo de recepção se completa quando o leitor compara a obra com elementos
de sua cultura e seu tempo, preparando-o para novas leituras e incitando-o a refletir
e instaurar mudanças através de um processo contínuo.
RELATO DE IMPLEMENTAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁDICO-PEDAGÓGICA
As atividades de implementação da Produção Didático-Pedagógica se deram
pela utilização de material didático, com alunos do 9º ano do Ensino Fundamental,
do Colégio Estadual Dirce de Aguiar Maia, Rua Senador Accioly Filho, 197-Vila
Santa Isabel, Maringá- PR.
Para tanto, a abordagem das leituras e a realização das atividades propostas
se deram pela utilização de CADERNO TEMÁTICO/PEDAGÓGICO em forma de
oficinas. Ao todo são seis oficinas, das quais podemos nomeá-las em: Oficina 1 –
Revisitação dos Contos de Fadas Tradicionais: Do encantamento para realidade;
Oficina 2 – Contos Maravilhosos: Do Encantamento para realidade; Oficina 3 –
Leitura e análise dos Contos Maravilhosos recontados por Pedro Bandeira; Oficina 4
– Conhecendo o autor Pedro Bandeira e suas obras; Oficina 5 – Recontando os
Contos de Pedro Bandeira; Oficina 6 – Confecção e divulgação de um Livreto com
as produções dos alunos.
As atividades de execução e implementação da produção didático-
pedagógica tiveram início com a “revisitação” de alguns Contos Tradicionais e, ainda
os questionamentos sobre a história dos Contos de Fadas e Contos Maravilhosos.
Nessa etapa da oficina 1, os alunos realizaram atividades de reconhecimentos das
histórias por meio de alguns elementos característicos dos personagens, em que
também fizeram a leitura complementar sobre a “História dos Contos de Tradição
Oral”, elencando os primeiros registros dos Contos e seus autores. Após esse
momento, os alunos receberam os Contos “Cinderela” e “A Gata Borralheira” para a
leitura que aconteceu de forma coletiva. A seguir os alunos puderam realizar as
atividades de análise dos textos, estabelecendo as semelhanças e as diferenças
entre os dois contos. Ainda nessa etapa, os alunos receberam cópias de como se dá
a estrutura básica dos contos de fadas e contos maravilhosos, no qual realizaram a
atividade de identificação nos textos de como se apresenta o conflito, o
desenvolvimento, clímax, etc. Para finalizar esta oficina os alunos produziram um
conto, recontando a história a partir de uma das versões de CINDELRELA.
Na Oficina 2 – trabalhamos os contos “A Pequena Vendedora de Fósforos”,
versão de Hans Christian Andersen; “Irmãozinho e Irmãzinha” dos Irmãos Grimn; e
“Os Sapatinhos Vermelhos” de Hans Christian Andersen; em que foram feitas a
leitura e análise dos contos. Também nessa etapa, os alunos realizaram uma tarefa
de leitura dos contos com a família, no qual tiveram que realizar uma atividade
proposta com seus familiares, em que teriam que responder alguns
questionamentos sobre os contos lidos. O objetivo dessa atividade é fazer com que
os pais ou responsáveis participem da leitura dos contos com seus filhos.
Consequentemente, os alunos se mostraram muito receptivos e participaram
ativamente nas leituras e nas atividades propostas, de maneira diferente, portanto,
do que acontece normalmente no cotidiano da sala de aula. As atividades de leitura
contribuíram com grande relevância para a ampliação dos conhecimentos
relacionados ao gênero textual contos maravilhosos, pelo fato de que este tipo de
narrativa encanta crianças e adultos.
Na Oficina 3 – trabalhou-se a Leitura e Análise dos Contos Maravilhosos
Recontados pelo autor contemporâneo Pedro Bandeira. Para a realização dessa
etapa trabalhamos as obras, como: O Fantástico Mistério de Feiurinha; Rosaflor e a
Moura Torta; O Gato de Botas e Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau. Ao iniciar a
leitura dos livros literários citados anteriormente foi feita uma sondagem por meio de
questionários, que abordam questões referentes à leitura do livro. Após a leitura dos
livros literários do autor em questão foram trabalhadas situações a vida real
comparando-as com as leituras realizadas nos livros.
O livro “O fantástico mistério de Feiurinha” narra o desaparecimento de uma
suposta princesa, heroína dos contos de fadas. A partir da leitura analisa-se aqui,
que os padrões de beleza em cada época têm se alternado. O que é considerado
belo em um momento da história humana pode ser feio em outra. Porém, a beleza
não é vista como uma das maiores qualidades de uma pessoa, e sim as virtudes
demonstradas no comportamento.
No livro “Rosaflor e a Moura Torta” o papel do narrador é desempenhado pelo
rio. Rosaflor é uma bela jovem encantadora que nasce do poder mágico de uma
laranja às margens do rio. Nesse conto analisa-se que os meios de comunicação,
principalmente a TV e a Internet, cultuam certo padrão de beleza e menosprezam os
milhões de pessoas que não correspondem a ele. Nesse sentido, um grande número
de pessoas acaba sendo influenciada na atual sociedade pela busca intensa de
alcançar a beleza e a autoestima por meio das cirurgias plásticas.
O livro “O Gato de Botas” narra a história de um caçula de três irmãos que
recebe como herança de seu pai um gato muito esperto e ágil que transforma seu
amo em Marquês. Comparando a história apresentada no livro com a história da
vida real vimos que o gato usa da mentira e da esperteza para transformar seu amo
em outra pessoa - “O Marquês de Carabás” - e realizar seus desejos, que são
conquistar a amizade do rei e casar-se com sua filha. Na vida real essa atitude
constitui-se em crime de Falsa Identidade. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa
identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano
a outrem constitui-se em crime grave com pena de detenção, de acordo com o
código moral e legal vigente no Brasil, por exemplo.
No livro “Chapeuzinho Vermelho e o Lobo Mau”, analisa-se que a
desobediência de Chapeuzinho Vermelho em seguir o caminho desaconselhável
pela sua mãe custou-lhe a vida e também a de sua avó. Na vida real esse episódio
faz refletir que não devemos “dar ouvido” a todo tipo de gente. O lobo foi
interpretado pelos alunos como um homem de boa lábia que engana as meninas
jovens para se aproveitar delas. Quando perguntado sobre o que pensavam da
desobediência, declararam que o ideal é seguir os conselhos e orientações de seus
pais.
Dando continuidade, trabalhamos a Oficina 4 – que contou com uma pesquisa
sobre a bibliografia do autor Pedro Bandeira. Os alunos produziram relatos da vida
do autor e suas obras, destacando o que mais lhes chamou a atenção. Após fizeram
cartazes com fotos do autor e relatos que foram expostos no mural da escola. Com
isso percebe-se um maior interesse dos alunos ao procurar na biblioteca pelas obras
do autor Pedro Bandeira.
Na Oficina 5 - trabalhamos a escrita e reescrita dos contos, recontando um
dos contos de Pedro Bandeira. Nessa atividade, os alunos fizeram uma adaptação
do conto recontando-o e reconstruindo-o de acordo com a realidade dos dias atuais.
Para finalizar as atividades, na Oficina 6 – trabalhamos a Confecção e
Divulgação de um livreto com as produções dos alunos. A divulgação dos livretos
foram feitos na biblioteca, no qual a comunidade escolar pôde apreciar os trabalhos
dos contos recontados pelos alunos.
Enfim, este é um trabalho árduo, mas prazeroso que teve como proposta
trabalhar a leitura, estimulando o prazer de ler e criar, promovendo o debate crítico
por meio dos contos maravilhosos, que ao longo do desenvolvimento das atividades
apresentou-se bastante receptivo por parte dos alunos envolvidos no processo.
GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR – CONTRIBUIÇÕES DOS CURSISTAS
O Grupo de Trabalho em Rede – GTR é uma atividade obrigatória para os
professores que ingressam no PDE – Plano Integrado de Formação Continuada do
Programa de Desenvolvimento Educacional oferecido pela SEED – Secretaria de
Estado de Educação que tem como objetivo a formação continuada dos professores
da rede estadual de educação. O curso aparece no site do
diaadiaeducação.pr.gov.br, no ambiente virtual MOODLE . O professor PDE no
GTR é chamado de PROFESSOR-TUTOR e os participantes inscritos são os
CURSISTAS.
Todas as atividades do curso são referentes ao Projeto de Intervenção
Pedagógica e à Produção Didático-Pedagógica. Essa é uma oportunidade de troca
de experiências dos cursistas por meio de discussões e impressões. O objetivo é
contribuir e intervir no desenvolvimento das atividades propostas pelo professor
PDE, no qual cada participante expõe quais atividades foram realizadas em sua
escola e como foram realizadas.
Assim, de acordo com relatos dos cursistas do GTR, a importância da leitura
de contos maravilhosos na educação infantil e fundamental possibilitam a inserção
do aluno no mundo fantástico, no lúdico, estimulando a imaginação e a criatividade.
Os contos maravilhosos são narrativas que cativam pela magia, pelos seres
extraordinários como as fadas, monstros, bruxas, anões, princesas, castelos, etc.
Nesse sentido, os contos maravilhosos apresentam-se como uma ferramenta
eficiente para o professor estimular no aluno o gosto e o hábito pela leitura, a partir
de um trabalho bem desenvolvido, de modo que envolva o aluno a participar da
leitura e se torne um leitor reflexivo sobre o seu mundo.
Desta forma, podemos esperar que um texto literário pode renovar e
enriquecer os conhecimentos do aluno, uma vez que o leitor descobre a história do
momento em que foi escrita privilegiando o autor e obra, tornando-o um ser crítico,
ativo e consciente. A literatura está intrinsecamente ligada à vida social, revelando-
se dinâmica e em constante transformação, proveniente do diálogo existente entre
autor/obra/leitor.
Consequentemente, quando conseguimos estabelecer a relação da obra com
o contexto histórico em que foi produzida e o momento presente, conseguimos
mostrar para os nossos alunos as riquezas linguísticas, culturais, políticas, relações
sociais, enfim, tiramos a arte de seu isolamento e a revisitamos, num processo
crítico e consciente de análise da própria vida. Nas palavras de Solé (1998):
Ler é compreender e interpretar textos escritos de diversos tipos com diferentes intenções e objetivos contribuindo de forma decisiva para a autonomia das pessoas, na medida em que a leitura é um instrumento necessário para que nos manejemos com certas garantias em uma sociedade letrada. (SOLÉ, 1998, p. 18)
Nesse sentido, a escola é o lugar de compartilharmos conhecimentos, na qual
a criança e o adulto interagem numa relação social específica, a relação do ensino.
A criança no papel de aluno é colocada diante da tarefa de compreender as bases
dos conceitos sistematizados ou científicos; o professor é encarregado de orientá-la,
na qual é preciso aprender a ler na escola. Assim, de acordo com as Diretrizes
Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná (2008):
É tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes
práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a
finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola
desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos
letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade
letrada. (DIRETRIZES CURRICULARES DE LÍNGUA PORTUGUESA
DO ESTADO DO PERANÁ (2008, P. 48)
Com bases nas citações acima, na leitura proposta, e na prática em sala de
aula, é necessário que formemos usuários proficientes da língua, que encontrem
razões para estudar, e que se sintam seguros para escrever ou falar. Enfim, a leitura
é uma atividade que merece ter lugar destacado na prática escolar, portanto deve
ser ensinada por todos os professores, em todas as disciplinas escolares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse projeto de implementação contribuiu bastante com minha prática
pedagógica em sala de aula, sendo uma ferramenta a mais no meu trabalho e, ao
compartilhar com os alunos vimos que a literatura é uma das formas desenvolvidas
pelo homem para suprir sua necessidade de imaginação, ilusões e sonhos. A
literatura proporciona visões de se compreender a arte e as situações reais da vida
por conta das experiências vivenciadas na leitura. Ao ouvir uma história o imaginário
é acionado e, inconscientemente vem à tona as emoções provocadas pelos medos,
frustrações, amores, desejos e sentimentos variados, atingindo diretamente o
consciente.
Consequentemente, escutar e ler histórias é o início da aprendizagem para
ser um bom leitor, tendo um caminho infinito de descobertas e de compreensão do
mundo. Os contos de fadas e os contos maravilhosos conseguem deixar fluir o
imaginário, ativando a curiosidade, que prontamente é respondida no transcorrer da
leitura. É uma possibilidade de descobrir o mundo colossal dos conflitos, dos
impasses, das soluções que todos vivem e atravessam, de um jeito ou de outro, por
meio dos problemas que vão sendo encarados ou não, resolvidos ou não pelas
personagens de cada história.
Assim, os benefícios que a literatura promove em sua sociedade são
inúmeros como, o resgate da cidadania, o desenvolvimento do olhar crítico e
competências, a interação social, a ampliação de seus horizontes e de seu
vocabulário, além de profissionais capacitados e competentes. Portanto, a leitura
complementa o domínio da escrita e cabe ao professor e aos pais estimular o
pensar, o refletir, o participar e o agir destes indivíduos por meio da literatura,
aumentando seu conhecimento de mundo, sua criatividade e a capacidade para
ações coerentes.
Enfim, o trabalho foi bastante prazeroso, do qual se obteve excelentes
resultados com uma melhoria no nível de leitura e de escrita dos alunos, como
também no nível de argumentação. A capacidade dos alunos ficou evidenciada
quando da recriação das histórias lidas, recontada, por eles. Notou-se também, o
envolvimento dos alunos durante a implementação do projeto, gerando satisfação e
modificando as aulas de literatura.
9.REFERÊNCIAS:
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leitor: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.
BANDEIRA, Pedro. Chapeuzinho e o Lobo Mau. 3ª ed. - São Paulo: Moderna,
2012.
BANDEIRA, Pedro. O fantástico mistério de Feiurinha. 3ª ed.- São Paulo:
Moderna, 2009.
BANDEIRA, Pedro. O gato de botas. 2ª ed. - São Paulo: Moderna, 2012.
BANDEIRA, Pedro. Rosaflor e a Moura Torta. 3ª ed. - São Paulo: Moderna 2010.
CEREJA, Willian Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português Linguagens:
6º ano - Ensino Fundamental. 5ª ed. São Paulo, Atual, 2009.
COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil: Teoria, Análise, Didática. - 1ª ed. -
São Paulo: Moderna, 2000.
COELHO, Nelly Novaes. O Conto de Fadas. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
KHÉDE, Sonia Salomão. Personagens da Literatura Infanto-Juvenil. - São Paulo -
Editora Ática, 1986.
LAJOLO, Marisa. Do Mundo da Leitura para a Leitura de Mundo. 6ª ed. São
Paulo: Editora Ática, 2005.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Gêneros Textuais: In DIONÍSIO, Angela Paiva e
outros. Gêneros Textuais e Ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. - 19 ed. - São Paulo: Brasiliense, 1994
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Rede
Pública de Educação Básica - Língua Portuguesa, Curitiba, 2008.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. - 6ª ed. - Porto Alegre: ArtMed, 1998.
ZILBERMAN, Regina. A Leitura e o ensino de Literatura. 2ª ed. São Paulo:
Contexto, 1991.