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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
TRABALHO E LAZER DOS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIOREGULAR DO COLÉGIO MÁXIMO ATÍLIO ASINELLI – CURITIBA –
PARANÁ1
Claudiney Cornélio Sayde2
Marcelo Silva da Silva3
RESUMO – Este artigo apresenta os resultados da implementação do projeto de intervençãopedagógica realizado no C. E. Máximo Atílio Asinelli, localizado no bairro do Uberaba, Curitiba/PR,com os alunos do Ensino Médio Regular da manhã, com o objetivo de conhecer mais sobre essesjovens, qual o percentual deles que já trabalham, como utilizam seu tempo disponível para o lazer,além de procurar mostrar perspectivas de continuidade do estudo após o término do Ensino Médio.Nesse projeto, utilizamos diferentes ferramentas metodológicas, desde atividades desenvolvidas nasaulas de EF, como também criação de um grupo fechado no Facebook para registrar locais de lazerdo bairro do Uberaba, questionário on-line do Google Drive, coletando informações sobre o lazer etrabalho do grupo de estudantes. A partir da implementação podemos perceber que o jovemestudante busca conquistar espaço e independência, onde o trabalho se constitui de forma marcanteneste período da vida. O lazer para estes jovens, ocupa um tempo representativo, refletindo asatividades comuns a esta geração. Com as atividades desenvolvidas podemos dialogar com osestudantes sobre conceitos que muitas vezes não estavam evidentes para eles, fazendo-oscompreender que o lazer é essencial na vida das pessoas, relacionando atividades, espaços epolíticas nas áreas do lazer e do trabalho.Palavras chave: Lazer. Trabalho. Adolescente.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é apresentar os resultados do projeto de intervenção
didática realizada com os alunos do Ensino Médio Regular do C.E. Máximo Atílio
Asinelli, localizado no bairro do Uberaba, Curitiba – Paraná. O mesmo foi aplicado
1 Registro o meu enorme agradecimento ao meu orientador deste artigo, professor Doutor MarceloSilva da Silva por sua dedicação, apoio e compromisso com a Educação, a professora SoleideMaria Vieira pela revisão dos textos.
2 Professor da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Licenciado em Educação Física pelaUniversidade Federal do Paraná (UFPR), e especialista em Magistério de 1º e 2º Grau –Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Curitiba – e-mail: [email protected]
3 Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – Setor Litoral. Licenciado emEducação Física e Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Doutorem Educação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) – e-mail:[email protected]
com todos os alunos do Ensino Médio regular, 1º, 2º e 3º anos, do período da
manhã, totalizando 157 alunos de ambos os sexos. O objetivo principal é identificar
o percentual de alunos desta amostragem, que trabalham, tanto formalmente, como
informalmente, os que realizam estágio, na modalidade menor aprendiz e as
atividades de lazer que o grupo de alunos pesquisados realiza em seu tempo
disponível. Buscou-se também trabalhar o conceito de lazer, locais e práticas de
lazer, alicerçadas nas produções teóricas da Educação Física. Identificar em sua
comunidade, locais de lazer, públicos e privados, também apontar ações futuras
para que esses alunos, trabalhadores do ensino médio, regular da manhã, sejam
“percebidos” pelo sistema educacional do estado do Paraná, com políticas mais
efetivas e de assessoramento a este grupo específico.
Ao atingirem a idade de 14 anos, segundo a Lei n° 10097/2000 (Lei do Menor
Aprendiz ou Lei da Aprendizagem), muitos jovens estão aptos para exercer um
estágio em empresas, lojas, comércios, indústrias e outros, com a finalidade de ter o
primeiro contato com o mundo do trabalho. Conforme cita a lei no seu Art. 403 – “É
proibido qualquer trabalho a menores de dezesseis anos de idade, salvo na
condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos." Esse jovem, por diversas
necessidades (financeiras, de afirmação social), começa a exercer um trabalho com
remuneração e, ao mesmo tempo, continua sua formação estudantil. O jovem
participa de várias atividades sociais em grupo ou individuais, proporcionando sua
interação social. Nessa nova caminhada, o lazer começa a fazer parte mais intensa
de sua vida, seja através de atividades culturais, como cinemas, teatros, festas,
shows, seja com atividades esportivas, seja como atividades de lutas, danças,
jardinagem, artesanato, leituras, que lhes interessam e proporcionam prazer.
Sou professor concursado no estado do Paraná, trabalhando com a Educação
Física escolar desde 1994. De 2000 até a presente data, trabalho com os anos
inicias do ensino fundamental (6º e 7º anos) e com o Ensino Médio Regular (1º, 2º e
3º anos), notei nesse período, principalmente no ensino médio, que os alunos
vivenciam seu lazer, muitos já trabalhando e as dificuldades desses em conseguir
conciliar, o trabalho, o lazer e sua vida acadêmica. Infelizmente muitos alunos,
apresentam um excessivo aumento de faltas, alguns abandonam o estudo, mudam
de turno, ou privilegiam o trabalho e “esquecem” sua formação estudantil, com
decréscimo da qualidade dessa formação.
Por conta dessas observações acima mencionadas surgiu o projeto prevendo
três momentos: planejamento, implementação e reflexão/sistematização final, que
escrevo nesse artigo da seguinte forma: uma breve revisão teórica sobre o tema do
adolescente, trabalho, lazer e a relação da educação física nesse contexto, e as
ações teórico-práticas desse projeto.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1 ADOLESCENTE E O TRABALHO
Para o adolescente, este ser em formação passando por diversas mudanças
física, psicológica e sociais, tem ainda que construir sua participação no mundo,
buscar caminhos para a realização de sonhos, porém, em muitos casos esse
processo se inicia com um distanciamento dos adultos mais próximos, então surge o
trabalho possibilitando uma oportunidade de encontrar um espaço social
independente e também como aumento da renda familiar. Ser adolescente, neste
século de mudanças comportamentais, traz as marcas de um mundo histórico e em
constante renovação, como diz Novaes (2006, p.119):
Ainda assim a condição juvenil – como etapa da vida que se situa entre aproteção socialmente exigida para a infância e a emancipação esperada navida adulta – tem suas especificidades. Isso porque a experiência geracionalé inédita, já que a juventude é vivenciada em diferentes contextos históricos,e a história não se repete. Desta forma, para pensar a condição juvenilcontemporânea, devemos que considerar a rapidez e as características dasmudanças no mundo de hoje.
Esse jovem ingressa no universo do trabalho e de preferência deve continuar
seus estudos, buscando, uma formação cultural que possibilite ampliar sua visão de
mundo, construindo assim sua cidadania, mas a realidade é bem diferente, quando o
jovem é admitido no mundo do trabalho, as dificuldades para continuar estudando se
apresentam e muitos cessam seus estudos temporariamente ou em definitivo. No
Brasil aos 13 anos de idade, 97% frequentam a escola, caindo para 74% aos 17
anos e depois para 53% aos 18 anos (21% em 1 ano). Já em relação aos jovens que
trabalham, observa-se o inverso, com 13 anos 10% trabalham, passando para 37%
aos 17 anos e atingindo 54% aos 18 anos.(NERI, 2008, p.35)
Percebe-se que o trabalho se insere com força na adolescência, por vários
motivos, e que em uma situação ideal não deveria ocorrer até que este jovem
concluísse o ensino médio. No estado do Paraná, jovens de 14 e 15 anos da zona
urbana, 13,7% trabalham e aos 16 e 17 anos 34,5% trabalham, ou seja, no final da
idade que estes jovens deveriam concluir o ensino médio, mais de 1/3 trabalha.
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) 2010). Mas a realidade
econômica, impele estes jovens ao trabalho com consequências muitas vezes não
benéficas na sua vida estudantil, como relata Oliveira4 et al.(2001, citado por Rizzo e
Chamon, 2010):
o trabalho precoce geralmente promove efeitos negativos nodesenvolvimento físico e educacional, impedindo o jovem de dedicar-se àsatividades extracurriculares, como atividades lúdicas e sociais próprias daidade, trazendo isolamento dos jovens entre seus pares e familiares, esendo responsável pelo atraso escolar. Esses danos são de difícil reparaçãoporque há um tempo certo para vivenciar as várias etapas da formação daadolescência.
O adolescente estudante trabalhador do Ensino Médio Regular, tem seu
tempo disponível prejudicado, pelas suas novas demandas de utilização do tempo.
Primeiro o tempo da escola, no caso de manhã e depois o tempo do trabalho, a
tarde e a noite, sobrando para o seu lazer um tempo que muitas vezes é o do fim de
semana, quando não está trabalhando.
2.2 O QUE É LAZER E TIPOS DE LAZER
O Lazer é um conceito que vem se transformando no processo histórico da
humanidade. A princípio o lazer tem uma forte ligação com a revolução industrial e o
nascimento do trabalho moderno, trabalho com suas características próprias e que
trazia como seu apêndice o lazer, que começou a ser mencionado e teve seu
espaço de convivência com o trabalho.
Nesse período histórico, durante a revolução industrial, os trabalhadores que
tinham uma jornada de trabalho de até 80 horas semanais, através de sua
organização e luta, conseguiram reduzi-la para 8 horas de trabalho diário, sobrando
4 OLIVEIRA, Denise C. et al. Futuro e liberdade: o trabalho e a instituição escolar nas representações
sociais de adolescentes. Revista Estudos de Psicologia, Natal, v. 6, n. 2, p. 245-258, 2001.Disponível em: <www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-77462010000300004&lang=pt>.Acesso em: 03/06/2013
tempo para o lazer, como bem aponta Marinho5 et al.(1955, citado por Gomes, 2008)
A recreação na vida adulta encontra as suas origens nos movimentostrabalhistas que simbolizavam a revolta contra a escravização econômica. Aluta contra as longas jornadas de trabalho, que, muitas vezes, chegavamaté quatorze horas de labor cotidiano, assinala o seu clímax no séculopassado [século 19], quando, pelas estreitas e pedregosas ruas daInglaterra, a voz uníssona dos trabalhadores assim se fazia ouvir:
eight hours to work,
eight hours to play,
eight hours to sleep
eight shillings a day
A conquista pelas oito horas de trabalho, propicia o surgimento do lazer na
contemporaneidade, lazer este que se reveste de inúmeros significados, conforme a
sociedade, a época histórica, e os valores compartilhados pelas pessoas. Dentro
deste pequeno contexto histórico cito a definição de lazer do professor Marcellino
(1995, p.17)
O lazer é por mim entendido como a cultura – compreendida no seu sentidomais amplo – vivenciada (praticada ou fruída) no “tempo disponível”. Éfundamental, como traço definidor, o caráter “desinteressado” dessavivência. Não se busca, pelo menos basicamente, outra recompensa alémda satisfação provocada pela situação. A “disponibilidade de tempo significapossibilidade de opção pela atividade prática ou contemplativa”(idem 1990,p.31). Essa cultura vivenciada no “tempo disponível” não é considerada emcontraposição, mas em estreita ligação com o trabalho e com as demaisesferas da vida social, combinando os aspectos tempo e atividade. (ibid,p.16)
O lazer se consolida no século 20, principalmente pela luta dos trabalhadores,
como relata Marcelllino (2002, p.60): “A História tem demonstrado que a conquista
crescente do tempo de lazer é uma vitória dos trabalhadores em suas reivindicações
e lutas.” Esta conquista, e o desenvolvimento cultural e tecnológico, ampliam o
campo do lazer, este passa a ser uma opção na vida das pessoas e nos últimos
anos, com o acesso as novas tecnologias, melhora econômica da população
brasileira, este lazer está mais presente, acessível e em casos específicos, mais
barato economicamente.
O mundo, com as novas tecnologias, as tecnologias da informação, está
constantemente mudando, as pessoas tem mais acesso a informação, nunca se
produziu tanto como na última década, tanto material, como imaterialmente. O lazer
não ficou a parte deste processo, nos últimos anos, sua oferta aumentou, se
5 MARINHO, I. et al. Curso de fundamentos e técnica da recreação. Rio de Janeiro: Baptista de Souza, 1955.
expandiu em inúmeras atividades que proporcionam satisfação a inúmeros grupos
de pessoas.
Marcellino (2002, p.18) divide essas atividades em áreas, sendo: “A
classificação mais aceita é que distingue seis áreas fundamentais: os interesses
artísticos, os intelectuais, os físicos, os manuais, os turísticos e os sociais.”
2.3 CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR PARA O LAZER
O conteúdo específico do lazer na escola, ocorre como elemento articulador
dos conteúdos das disciplinas escolares do nosso currículo e no caso específico da
Educação Física, como mencionado nas DCE – EF (2008, p.54):
Os elementos articuladores alargam a compreensão das práticas corporais,indicam múltiplas possibilidades de intervenção pedagógica em situaçõesque surgem no cotidiano escolar. São, ao mesmo tempo, fins e meios doprocesso de ensino/aprendizagem, pois devem transitar pelos ConteúdosEstruturantes e específicos de modo a articulá-los o tempo todo.
Pelo seu caráter de uma atividade na área cultural realizada no tempo
disponível e de maneira desinteressada, sua realização na escola é de difícil
execução, pois os tempos e a característica funcional da escola, criam poucos
espaços para que o lazer se efetive. Esta prática do lazer na escola poderá ocorrer
no contraturno escolar ou em outros momentos em que estes alunos não cumprem
com suas obrigações escolares.
O lazer tem um potencial educativo muito grande, pois a pessoa quando
vivência uma atividade de lazer, o faz por livre vontade e porque lhe proporciona
prazer. Dentro das várias áreas de interesse, a pessoa vai apropriar-se de
conhecimentos na sua prática do lazer, como quando lê um livro, ou quando assiste
uma peça de teatro, ou quando faz artesanato ou bricolagem, entre outros
momentos de lazer. É consenso na área educacional do duplo sentido educacional
do lazer, o lazer como veículo educacional (educação pelo lazer) e o lazer como
objeto de educação (educação para o lazer). No caso específico da escola, o campo
mais fértil é o lazer como objeto de educação, pois como veículo tal qual verificamos
acima, no espaço escolar é muito limitado e de difícil execução. Marcellino (1987,
p.58-59) diz com propriedade:
Trata-se de um posicionamento baseado em duas constatações: a primeira,que o lazer é um veículo privilegiado de educação; e a segunda, que para a
prática positiva das atividades de lazer é necessário o aprendizado, oestímulo, a iniciação, que possibilitem a passagem de níveis menoselaborados, simples, para níveis mais elaborados, complexos, comenriquecimento do espírito crítico, na prática ou na observação. Verifica-se,assim, um duplo processo educativo- o lazer como veículo e como objeto deeducação.
A Educação Física pode contribuir com mais ênfase, na perspectiva do lazer
como objeto de educação, educar para o lazer, criando espaços e momentos e
estratégias de discussão com os alunos e comunidade escolar, ampliando o
conhecimento deste público sobre o lazer e como efetivá-lo na busca de prazer,
conhecimento e se possível com qualidade.
2.4 O ADOLESCENTE E O LAZER
O adolescente é uma categoria que não pode ser caracterizada como
homogênea, ao contrário traz perfis distintos, que reflete uma sociedade
heterogênea e multicultural, manifesta-se de variadas maneiras e expressa-se de
diferentes formas nas diversas esferas da sua vida, principalmente, no lazer.
Uma pequena amostra desta diversidade é descrita abaixo pelas atividades
principais de lazer do jovem brasileiro: (a) atividades de entretenimento – 45% (sair
com os amigos, namorar, passear, sair para dançar, ir ao shopping center), (b)
atividades dentro de casa – 22% (televisão, música, descansar), (c) atividades
esportivas – 18% (futebol, ciclismo, atletismo, academia), (d) visita a parentes e
amigos – 6%, (e) tempo da religião, rezar – 5%, (f) atividade cultural – 4% (leitura,
cinema, museu). (BRENNER; DAYRELL; CARRANO, 2008, p. 34-35)
Apesar de ser uma pesquisa recente, da 1ª década de 2000, algumas
atividades de lazer que são significativas para os jovens de hoje, como a internet, os
jogos de computador e as redes sociais, embora não sejam citadas; merecem um
estudo atual que as contemple.
3. METODOLOGIA
O presente estudo, caracterizou-se como uma pesquisa-ação, no sentido
descrito por Franco (2005) “é o mergulho na práxis do grupo social em estudo, do
qual se extraem as perspectivas latentes, o oculto, o não familiar que sustentam as
práticas, sendo as mudanças negociadas e geridas no coletivo.”
Para efetivar esta pesquisa-ação, utilizamos os seguintes encaminhamentos:
apresentação expositiva, aulas expositivas, coleta de dados através de questionário,
trabalho em equipe com o Facebook, trabalho de entrevista, cartazes, aula prática.
O trabalho ocorreu no 1º semestre de 2014, em 6 turmas do Ensino Médio
regular da manhã, composta por duas turmas do 1º ano, duas turmas do 2º ano e
duas turmas do 3º ano, totalizando 157 alunos.
Neste sentido, a aplicação do projeto objetivou abordar o conceito de lazer
com os alunos, espaços de lazer no bairro Uberaba e Jardim das Américas, simular
espaços de lazer no colégio, coletar informações através de um questionário on-line
sobre suas atividades de lazer no tempo disponível, se trabalhavam e se o trabalho
afetava sua vida acadêmica. Também demostrar através de pesquisas e dados
estatísticos, a importância da continuidade do estudo após o ensino médio,
agregando renda através da sua formação acadêmica.
4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 IMPLEMENTAÇÃO
A implementação do projeto no colégio, envolveu várias ações, em setores
distintos deste. A primeira ação ocorreu em agosto de 2013, com uma apresentação
com auxílio de uma exibição de slides para os professores e funcionários do colégio,
das intenções e das etapas do projeto, sendo bem recebido pelos demais
componentes do colégio.
A segunda ação envolveu todas as turmas do Ensino Médio Regular, onde
novamente com o auxílio de uma projeção de slides, focamos informações teóricas
sobre o lazer, formas de lazer, espaços de lazer, história do lazer e importância do
lazer na atualidade.
A terceira ação consiste na aplicação de um questionário on-line, questionário
realizado no Google Drive, que pode ser acessado neste endereço eletrônico:
https://docs.google.com/forms/d/1DUlmeOOZQz0vFX8zJWjGvFiUSOiEUMaKVUI9jf-
aaiU/edit
Para esta atividade, em novembro de 2013, agendou-se uma aula com os
terceiros anos do Ensino Médio Regular para aplicar o questionário e fazer um teste
do sistema, uma aplicação piloto. Nesta ocasião não foi possível realizar a tarefa,
pois os computadores do Paraná Digital, não carregaram o programa do
questionário. Para realizar a atividade com as seis turmas do Ensino Médio, primeiro
coletei os endereços eletrônicos de todos os alunos, aqui encontrei minha primeira
dificuldade, onde na ocasião de escrever seus endereços, alguns eram de difícil
compreensão, apresentando erros, que foram sanados no processo. Alguns alunos
não possuem endereço eletrônico, onde tivemos que fazer com que esses alunos
obtivessem um endereço para realizar a atividade. Depois desse processo, fomos ao
laboratório e novamente, os computadores não carregaram o questionário. Tentamos
pela terceira vez e mais uma vez o sistema não carregou um simples questionário,
sendo frustrante e prejudicando a aplicação mais ágil da tarefa. Partimos para uma
segunda alternativa, que foi mandar diretamente para os alunos o questionário, que
funcionou, mas acarretou uma demora por um grupo de alunos em respondê-lo. Na
intenção inicial, no laboratório, em uma aula, todos os presentes responderiam; já
mandando para seus endereços eletrônicos, muitos demoraram a responder,
acarretando um trabalho a mais para a execução da pesquisa.
No final do processo, 157 alunos responderam o questionário, onde
verificamos os seguintes resultados:
RESULTADOS DO QUESTIONÁRIO:
Da amostra de 157 alunos, 85 (54%) são do sexo feminino e 72 (46%) do
sexo masculino, divididos nessas faixas etárias: de 13 a 15 anos – 65 alunos(41%),
de 16 a 18 anos – 88 alunos(56%) e com mais de 18 anos – 4 alunos(3%).
O questionário também nos mostrou que 61(39%) alunos exerciam um
trabalho/estágio, divididos em 34(22%) alunos na atividade formal e 27(17%) alunos
na atividade informal, e o restante, 96(61%) que não trabalham ou fazem estágio.
Observa-se que 39% dos alunos do Ensino Médio Regular da manhã,
trabalham (formalmente, ou informalmente, ou fazem estágio), um percentual
surpreendente, não esperava um número elevado como este, com o grupo de
alunos da manhã. Fica bem próximo ao levantamento no estado do Paraná: jovens
de 14 e 15 anos da zona urbana, 13,7% trabalham e aos 16 e 17 anos 34,5%
trabalham, ou seja, no final da idade que estes jovens deveriam concluir o ensino
médio, mais de 1/3 trabalha. (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
2010).
O questionário também coletou as principais atividades de lazer desses
estudantes, que eles realizam pelo menos uma vez por semana:
Tabela 1 – Atividades de Lazer dos estudantes do Ensino Médio
ATIVIDADE DE LAZER TOTAL %
ESPORTES 67 42,7
LUTAS 11 7,0
ATLETISMO 10 6,4
ESPORTES RADICAIS 29 18,5
ESCUTAR MÚSICA 105 66,9
LEITURA DE LIVROS 59 37,6
CAMINHADAS 42 26,8
IR AO CINEMA 51 32,5
SHOWS DE MÚSICA 17 10,8
SAIR COM AMIGOS, BARES, PASSEIOS 49 31,2
IR AO LOCAL RELIGIOSO 46 29,3
DANÇAR 32 20,4
ASSISTIR TV 89 56,7
ARTESANATO 5 3,2
CUIDAR DE ANIMAIS 28 17,8
TOCAR UM INSTRUMENTO 20 12,7
NAMORAR, PAQUERAR 57 36,3
INTERNET (REDES SOCIAIS) 99 63,1
MUSCULAÇÃO 13 8,3
GINÁSTICA DE ACADEMIA 4 2,5
VÍDEO GAME 53 33,8
IR AO SHOPPING 71 45,2
PINTAR, DESENHAR 18 11,5
TEATRO, MUSEUS 7 4,5
ESTUDAR, PESQUISAR 63 40,1
NADA 4 2,5
OUTROS 3 1,9
Fonte: Questionário Google Drive: Trabalho e Lazer - Estudantes do Ensino Médio
Nessa questão, essas atividades de lazer se destacaram: escutar música,
internet (redes sociais), assistir TV, ir ao shopping e esportes, compondo o grupo de
maior participação.
Outra pergunta feita aos alunos foi o tempo que utiliza por dia em média para
seu lazer, obtendo o resultado abaixo:
Tabela 2 – Tempo de Lazer por dia
TEMPO DE LAZER TOTAL %
- 1 h 9 6
+ 1 à 2h 35 22
+ 2 à 3h 35 22
+ 3 à 4h 27 17
+ 4 à 5h 17 11
+ 5 à 6h 12 8
+ 6h 22 14
Fonte: Questionário Google Drive: Trabalho e Lazer - Estudantes do Ensino Médio
A próxima questão aborda quais os motivos de estudar e trabalhar, obtendo:
Tabela 3 – Motivos de trabalhar e estudar
MOTIVO TOTAL %
Trabalho para melhorar a rendade minha família, auxiliar nasdespesas da família.
8 13
Trabalho para meu rendimento,ganhar um valor financeiro, paraminhas despesas (roupas,eletrônicos, tênis, outros).
33 54
Trabalho para crescimentopessoal, novas experiências,conhecimentos.
17 28
Outros 3 5
Fonte: Questionário Google Drive: Trabalho e Lazer - Estudantes do Ensino Médio
Considerando somente os alunos que trabalham ou fazem estágio, nos
mostra que 54% dos alunos, trabalham para seu rendimento pessoal, começo de
uma independência em relação aos responsáveis, e 28% para adquirir crescimento
pessoal, novas experiências, e somente 13%, para auxiliar na renda familiar,
indicando a princípio que a maioria (82%) poderia só estudar e postergar sua
entrada no mercado de trabalho.
Na última questão do questionário, perguntamos se o trabalho interfere nos
estudos(desempenho, aprendizado) no colégio, dos 58 alunos que trabalham ou
fazem estágio, 20(34%) responderam que sim interfere, e 38(66%) responderam que
não interfere nos seus estudos.
Nessa resposta, 1/3 dos alunos que trabalham ou fazem estágio, declaram
que o seu trabalho/estágio interfere em seus estudos, sua vida acadêmica,
denotando muitas vezes em reprovação, evasão escolar ou mudança de turno
matutino para o noturno.
A quarta ação realizou-se com os alunos de 2º Ano do Ensino Médio, com a
proposta de levantar locais de lazer do bairro do Uberaba. Para esta ação, criamos
um grupo fechado no Facebook (Locais de Lazer do Uberaba de Cima), com 55
membros, onde os alunos do 2º Ano, formaram duplas e deviam, postar 3 locais de
lazer do bairro. A grande maioria dos alunos possui celular com câmera fotográfica,
e utiliza o Facebook. As fotos devem conter o endereço, se são locais públicos ou
privados. Nesta atividade foram fotografados pelos grupos de alunos, 55 locais de
lazer do bairro do Uberaba e também do bairro Jardim das Américas, pois o colégio
que é localizado no Uberaba, mas fica próximo a divisa do bairro Jardim das
Américas.
A quinta ação foi realizada com os alunos do 1º Ano do Ensino Médio, onde
estes alunos individualmente, coletaram informações através de um questionário
(apêndice 1) de uma pessoa mais idosa e de uma pessoa mais nova, atividades de
lazer que elas realizavam ou realizam ainda. Após esta etapa foram formados
grupos de 4 a 5 alunos, onde eles fizeram o levantamento destas atividades de lazer
e produziram um cartaz, com fotos, desenhos, ilustrações comparando as atividades
de lazer das pessoas mais velhas e das mais novas.
A sexta ação foi feita com todas as turmas do Ensino Médio, onde na quadra
coberta do colégio, na quadra de voleibol e nos espaços do pátio, simulou-se locais
de lazer e uma aula de lazer. Nessa atividade, separamos os locais em espaços:
espaço esportivo (quadra coberta e quadra de voleibol), espaço de jogos (espaço
localizado ao lado da quadra de voleibol), espaço cultural (arquibancada), espaço
musical (arquibancada). A atividade foi desenvolvida em dois momentos, no dia das
08h até as 10h participaram as turmas do 2º Ano e 3º Ano, totalizando 4 turmas e
das 10h20 até 11h45, as turmas do 1º ano, totalizando 2 turmas. As atividades
desenvolvidas nesta manhã foram: futsal masculino e feminino, voleibol,
basquetebol, slackline, tênis de mesa, xadrez, dominó, badminton, leituras de
revistas, livros, gibis, tocar violão, cantar, café comunitário. A atividade foi livre, os
espaços armados e os alunos nesse período de tempo faziam o que desejavam. A
resposta foi positiva, pois fui cobrado em diversas ocasiões depois de realizá-la para
repetir esta atividade.
A sétima ação do projeto, uma aula teórica, com análise de duas tabelas de
Impactos Trabalhistas da Educação – 1-Ciclo de Formação e 2-Período Anual
(Anexo 1), onde em grupos de 4 a 5 alunos, eles analisaram as tabelas e chegaram
a conclusões sobre a importância de sua continuidade dos estudos após o Ensino
Médio.
A oitava e última ação do projeto, foi uma conclusão geral sobre todas as
etapas do projeto, em um grande grupo por turma, foi discutido as principais etapas
do projeto, com pontos positivos, negativos e sugestões.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo demostrou algumas metodologias didáticas com uma
possibilidade grande de engajamento dos alunos do Ensino Médio Regular. O grupo
criado no Facebook, apresentou uma dinâmica de fácil metodologia, com bons
resultados por parte do produto de trabalho dos alunos, sendo uma atividade
promissora a ser desenvolvida nessa faixa etária. Também o questionário do Google
Drive, foi uma ferramenta acessível e que trouxe dados importantes ao trabalho.
A aula simulando o lazer, foi muito interessante, sendo mais um espaço de
socialização entre as turmas do colégio.
Algumas metodologias devem obter uma revisão, aperfeiçoamento, pois só na
prática identificamos falhas que deverão ser corrigidas. (Facebook, simulação de
espaços de lazer, questionário Google Drive)
Quanto a relação do trabalho adolescente do C.E. Máximo Atílio Asinelli, o
que se verifica nessa comunidade é o grande percentual de jovens que iniciam sua
vida, no mundo do trabalho/estágio, nem sempre tendo a necessidade do trabalho
em si.
Um ponto negativo foi a impossibilidade tecnológica de utilizar o laboratório de
informática para aplicar o questionário do Google Drive, constatando infelizmente a
inoperabilidade dessa ferramenta que não cumpriu com o mínimo necessário para
realizar a tarefa.
Finalizando, somente um estudo longitudinal trará respostas efetivas para as
múltiplas questões levantadas nessa pesquisa. É necessário um conjunto de
políticas públicas (federais, estaduais) e da participação efetiva da sociedade para
viabilizar que os jovens se dediquem a sua formação acadêmica e busquem menos
o mundo do trabalho, ampliando suas opções de lazer e a qualidade de sua
formação estudantil e do seu lazer.
REFERÊNCIAS
BRASIL.Lei da Aprendizagem. n 10.097/2000, Brasília, DF, 19 dez. 2000. Disponívelem: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2010.097 -2000?OpenDocument> Acesso em 28/4/2013.
BRENNER, A. K.; DAYRELL, J.; CARRANO, P. Um olhar sobre o jovem no Brasil. In:Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Oswaldo Cruz. Juventude brasileira:culturas do lazer e do tempo livre. Brasília: Editora do Ministério da Saúde. 2008.
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APÊNDICE 1
QUESTIONÁRIO – ATIVIDADES DE LAZER
NOME DO PARENTE MAIS VELHO: ______________________________________
PARENTESCO: ______________________________________________________
CITE 3 ATIVIDADES DE LAZER QUE REALIZAVAM EM SUA INFÂNCIA/JUVENTUDE?
1.__________________________________________________________________
2.__________________________________________________________________
3.__________________________________________________________________
NOME DO PARENTE MAIS NOVO (12 à 25 anos): __________________________
PARENTESCO: ______________________________________________________CITE 3 ATIVIDADES DE LAZER QUE REALIZAVAM OU REALIZAM?
1.__________________________________________________________________
2.__________________________________________________________________
3.__________________________________________________________________
SUGESTÕES DE ATIVIDADES DE LAZER
Esportes (futebol, futsal, voleibol, basquetebol, outro)Lutas (M.M.A, Jiu-jitsu, capoeira, judô, karatê, boxe, outra)Esportes radicais (skate, patins, surf, alpinismo, bike bmx, outro)Escutar música Leitura de livros, revistas, gibisCaminhadasIr ao cinemaShows de músicaSair com amigos para passeio, baresIr ao seu local religiosoDançarAssistir TVArtesanatoCuidar de animais, plantasTocar um instrumento musicalNamorar, paquerarInternet (redes sociais) MusculaçãoGinástica de acadêmiaEstudar, pesquisar (casa, biblioteca, internet) Jogar videogameIr ao shopping centerPintar, desenharTeatro, museusEstudar, pesquisar (casa, biblioteca, internet)
ANEXO 1
Tabela – Impactos Trabalhistas da Educação – Ciclo de Formação
Nível+Alto Cursado Taxa deOcupação
Salário JornadaSemanal
Salário-hora
Analfabetos 59,85 392,14 37,81 2,42
Fundamental 63,62 604,22 40,38 3,49
Médio 68,44 847,41 41,35 4,78
Superior 78,69 1728,15 38,11 10,58
Pós-Graduação 86,39 3469,40 39,13 20,69
Fonte:CPS/IBRE/FGV a partir de microdados da PNDA/IBGE
Tabela – Impactos Trabalhistas da Educação – Período anual
Anos de EstudosCompletos
Taxa de Ocupação SalárioTrabalho Principal
Jornada Semanal Salário-Hora
ed_0 59,85 392,14 37,81 2,42
ed_1 65,72 417,48 38,59 2,52
ed_2 64,86 451,27 38,45 2,74
ed_3 65,48 509,52 39,03 3,05
ed_4 66,00 611,75 40,20 3,55
ed_5 65,67 582,60 40,89 3,32
ed_6 60,16 586,53 40,70 3,36
ed_7 58,56 612,33 40,65 3,51
ed_8 62,20 717,11 41,45 4,04
ed_9 53,13 566,04 39,02 3,38
ed_10 56,67 637,33 40,08 3,71
ed_11 73,29 910,09 41,83 5,08
ed_12 71,35 1083,35 38,45 6,57
ed_13 74,42 1293,94 38,40 7,86
ed_14 77,73 1413,62 36,92 8,93
ed_15 83,58 2194,54 38,29 13,37
ed_16 85,40 3247,41 39,81 19,03
ed_17 86,55 3451,84 37,61 21,42
ed_18 90,73 4454,69 38,06 27,31
Fonte:CPS/IBRE/FGV a partir de microdados da PNDA/IBGE