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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

MEYRE MARTINS DE ASSIS

A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO SENSORIAL PARA APREENSÃO E REFLEXÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DISCIPLINAR

CURITIBA 2015

MEYRE MARTINS DE ASSIS

A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO SENSORIAL PARA APREENSÃO E REFLEXÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DISCIPLINAR

Artigo apresentado na conclusão do Plano Integrado de Formação Continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Orientador: Prof. Clóvis Wanzinack

CURITIBA 2015

A IMPORTÂNCIA DO ESPAÇO SENSORIAL PARA APREENSÃO E REFLEXÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO DISCIPLINAR Meyre Martins de Assis1

Prof. Clóvis Wanzinack2

RESUMO

O projeto sobre a utilização de Espaço Sensorial para apreensão e reflexão do conhecimento científico disciplinar visou por meio do pensamento interacionista ser humano/natureza, buscar alternativas para que o/a estudante explorar os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Com isso a escola pode assumir outros papeis, além das aulas teóricas em sala de aula baseadas no livro didático. Nesse espaço pode-se exercitar a fruição de sentidos, conhecimentos botânicos e medicinais, além de poderem praticar atividades lúdicas como meio de integração com o meio ambiente. Portanto, os objetivos do presente trabalho foi a construção de um Espaço Sensorial, bem como o seu uso pelos estudantes. A metodologia adotada foi composta por pesquisa bibliográfica, palestra, desenhos arquitetônicos com figuras geométricas realizadas pelos/a estudantes, material para a construção do espaço sensorial e atividades sensitivas. ABSTRACT The project on the use of Sensory Space apprehension and reflection aimed disciplinary scientific knowledge through interactional thinking human / nature, seek alternatives to the / a student exploit the knowledge acquired in the classroom. With that the school can take on other roles in addition to the lectures in the classroom based on the textbook. In this space we can work out the enjoyment of senses, botanical and medicinal knowledge, and can practice recreational activities as a means of integration with the environment. Therefore, the objectives of this work was to build a Sensory Area and its use by students. The methodology consisted of bibliographic research, lecture, architectural drawings with geometric figures made by / to students, material for building the sensory space and sensory activities.

1 Professora PDE/2014....

2 Professor da Universidade...

INTRODUÇÃO

A vida contemporânea nos grandes centros urbanos se afasta cada vez mais

das atrações do ambiente natural. O ser humano pouco conhece da natureza, pois

toda sua forma de sobrevivência está industrializada (BRUGGER, 1994, p. 31)

As discussões sobre meio ambiente se reduzem ao plantio de uma árvore na

escola, o que fazer com o lixo, mas de forma alguma se produz o contato com

elementos naturais. Os lares, em geral tem seus solos pavimentados, ou se mora

em apartamentos.

O ser humano para defender a natureza precisa descobrir não só a sua

importância para a vida no planeta Terra, ele tem que compreendê-la e senti-la o

que não se consegue em aulas de Ciências que discorrem sobre a problemática

planetária, porém não despertam o senso de responsabilidade e amor pela natureza.

As questões ambientais discutidas na escola pública se fixaram em princípios

da prática social, principalmente quanto ao lixo, a poluição ambiental, discorrendo

sobre as relações humanas com o ambiente que habita pela ótica da ciência de

acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná (2015). É neste sentido que se vê a

importância de se criar espaços na escola que despertem no ser humano a

sensibilidade, a criatividade e a curiosidade, para além da visão cientifica de tal

forma a envolver o ser humano.

Se a educação é parte do processo de humanização do indivíduo então se faz

necessário as associações de espaços, seja sala de aula, ou espaços livres como

parques, jardins dentre outros.

O objetivo do presente artigo é constatar a relevância da construção de um

espaço sensorial com a finalidade de permitir aos estudantes do Colégio Estadual

Amyntas de Barros, município de Pinhais, contato direto com a natureza no

ambiente escolar.

Assim, partiu-se da divulgação do projeto com o intuito de partilhar e discutir

o projeto PDE com a comunidade escolar, bem como a participação on-line do

Grupo de Trabalho em Rede (GTR/SEED).

O Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE é uma política pública de

Estado regulamentado pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010 que

estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação

básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a

produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola

pública paranaense (SEED, 2015). Após a aceitação do projeto, conforme

Orientação do Prof. Clóvis Wanzinack (UFPR), o segundo passo foi estabelecer

parceria com as turmas dos 9º anos, período matutino que tiveram participação ativa

na execução do projeto.

Com a criação do espaço sensorial é possível relatar algumas das ações que

se efetivaram na sua construção, tais como, a compreensão dos/ as estudantes

sobre a importância de um espaço sensorial para a aprendizagem de ciências; a

expressão criativa nas atividades manuais e o conhecimento de botânica quando na

plantação das flores e ervas margeada por pesquisas.

A DISCIPLINA DE CIÊNCIAS E A NATUREZA

Um dos desafios no Ensino de Ciências é o processo de produção do

conhecimento cientifico que possibilite discussões de como a ciência realmente

funciona no cotidiano. O/a estudante por meio das novas tecnologias na atualidade

tem acesso a informações sobre o conhecimento científico, porém reconstrói suas

definições a partir do conhecimento cotidiano, formando bases para a construção de

conhecimentos alternativos aplicando no cotidiano sem um alicerce científico.

Segundo (LOPES, 1999, p. 143),

Interpretar a ciência com os pressupostos da vida cotidiana é incorrer em erros, assim como é impossível, em cada ação cotidiana, tomarmos decisões científicas, ao invés de decidirmos com base na espontaneidade e no pragmatismo.

Portanto, a atividade cientifica requer um olhar de curiosidade sobre os fatos

do cotidiano que possam ser teorizados.

A teorização dos fatos fundamentados nos Conteúdos Estruturantes, vem

valorizar conhecimentos científicos das diferentes Ciências de referência – Biologia,

Física, Química, Geologia, Astronomia, entre outras. Por isso é essencial que a

metodologia de ensino deva promover inter-relações entre os conteúdos

selecionados, de modo a possibilitar o entendimento do objeto de estudo da

disciplina de Ciências.

O ensino de Ciências tem por característica a integração conceitual que

estabelece relações conceituais, interdisciplinares e contextuais, conforme consta

nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica da disciplina de Ciências dos anos

finais do ensino Fundamental da rede pública de ensino do Estado do Paraná

(DCEs). São cinco os conteúdos estruturantes fundamentados na história da ciência,

base estrutural de integração conceitual para a disciplina de Ciências no Ensino

Fundamental que são eles: Astronomia, Matéria, Sistemas Biológicos, Energia e

Biodiversidade.

Neste mesmo entendimento a referida DCE (SEED, 2009, p. 69). prevê que:

É importante que o professor tenha autonomia para fazer uso de diferentes abordagens, estratégias e recursos, de modo que o processo ensino-aprendizagem em Ciências resulte de uma rede de interações sociais entre estudantes, professores e o conhecimento científico escolar selecionado para o trabalho em um ano letivo.

Neste sentido, a docência ao construir seu planejamento anual tem a

possibilidade de criar situações extraclasse em espaços que permitam a exploração

do conhecimento científico em consonância ao senso comum que de tal forma

resultem em melhor nível de aprendizagem. E o conteúdo da disciplina de Ciências

para o 9º ano do Ensino Fundamental II favorece a prática extraclasse,

principalmente porque aborda temas do cotidiano do aluno na relação ambiental, a

exemplo, Terra e Universo; Vida e Ambiente (CANTO, 2012), de conteúdos que

permitem diversas atividades lúdicas no espaço sensorial.

O tema Terra e Universo trata do grande conjunto formado por astros que

giram em torno de uma estrela, no caso da Terra o Sol, fenômeno que despertou a

curiosidade humana e gerou a cada época da humanidade mitos e lendas, e estudos

científicos como a Astronomia.

A relação Vida e Ambiente pode ser discutida por diversas óticas a partir do

princípio de quanto a ação humana altera a natureza, segundo Rodrigues (1998, p.

17) “o homem alterou pela primeira vez a ação local da atmosfera e, portanto, o

clima, há sete ou nove mil anos, ao mudar a face da terra com a derrubada de

florestas”. Desde então, o homem foi aprimorando tecnologias e modificando seu

meio ambiente e na atualidade discute-se a artificialidade da vida em espaços

estéreis.

A artificialidade no cotidiano, no entanto, é a própria evolução das ciências e

difícil se torna desassocia-la do indivíduo o que gerou a deseducação ambiental,

como a produção de lixo tóxico com a utilização em massa de aparelhos eletrônicos.

E isto tornou-se também uma preocupação social na qual a escola se insere quando

trata do problema em seu currículo e adota material didático pertinente. Embora,

haja tal atenção com o meio ambiente não há, contudo, um novo layout de escola

que possa avançar na construção de um sujeito integrado aos movimentos

científicos transformadores.

Por isso, torna-se fundamental a compreensão do papel da escola na

sociedade e a necessidade de adequá-la às novas realidades, sem, contudo,

descartar o discurso pedagógico ambiental, mas inseri-lo de tal forma que o/a

estudante o veja como realidade e não uma matéria de prova ou simples ilustração

infográfica de livro didático. A exemplo disso é o lixo que se acumula numa sala de

aula, com a destruição de folhas de caderno rasgadas e até o pó de giz da lousa que

se acumula no estojo e ali permanece até o final das aulas. Mesmo que o fabricante

o denomine antialérgico este pó resseca a pele das mãos e causa danos

respiratórios a pessoas alérgicas, principalmente ao pó.

O discurso pedagógico ambiental por esta ótica não ultrapassa as fronteiras

da velha educação conservacionista que segundo Brugger (1994, p. 78) “o ambiental

deveria ser parte intrínseca da educação como um todo e não modalidade” e por isto

os temas do livro didático supracitado reproduzirão o discurso de preservação

ambiental a partir do lixo, agora lixo eletrônico.

A forma como se trata as questões ambientais na escola ainda estão no

nível de informação do que deve e o que não deve ser feito como um manual, por

exemplo informar quanto tempo demora a decomposição de material plástico na

natureza, mas o lixo produzido na sociedade é acondicionado em sacos plásticos.

Então, como esclarecer a/o estudante a importância da conservação ambiental se o

que observa em seu cotidiano demonstra a instabilidade planetária no universo.

Para Brugger (1994, p. 79) “o significado de formar envolve, pois, um

universo potencialmente mais amplo do que um mero treinamento”. Para a

separação de lixo em três categorias o ser humano recebe uma cartilha e

treinamento, que lhe passa instruções de como executar as tarefas, identificadas

com um determinado padrão utilitarista-unidimensional de pensamento-ação, mas

não recebe a formação ambiental, porque não há contexto reflexivo no ato de

separação, por exemplo, diminuir o consumo de produtos que se transformam em

lixo.

A escola é o espaço da educação formal que reproduz uma linguagem

cientificista, de forma a estabelecer limites com a informalidade educacional. No

caso da temática ambiental comentar sobre poluição ou separar lixo não caracteriza

exatamente formação, se não houver conhecimento dos componentes ambientais,

como reconhecer o aroma de uma erva da região, por exemplo a hortelã, salsinha,

comuns na alimentação brasileira. Neste sentido, estimular as pessoas a

exercitarem seus sentidos pode colaborar com uma nova forma de se pensar a

natureza.

É possível à escola colocar em prática os próprios ensinamentos sobre a

relação da sociedade com o ambiente que a circunda ao repensar sua forma de

atuação, sua estrutura física e de como a natureza nela está contida.

O modelo de escola que se tem na atualidade ainda espelha a realidade de

uma escola pública, fruto da Revolução Industrial, que necessitava de uma mão de

obra com um mínimo de conhecimento. Os prédios ainda representam verdadeiras

fortalezas e como disse Foucault (1987, p. 144) “os aparelhos escolares tinham

maior preocupação com a disciplina e, portanto, a arquitetura das salas obedecia a

uma estratégia de vigilância constante”. Assim, tradicionalmente, ainda existe escola

que mantém visor de vidro na porta da sala e a direção passa pelo corredor

“espiando” o andamento da aula.

A preocupação com a disciplina ao longo do tempo afastou da escola outras

formas de transmissão do conhecimento a não ser por aulas teóricas em sala de

aula fechada com um quadro de giz. Até porque o espaço não deveria apresentar

outros atrativos que desviassem a atenção dos educandos, principalmente no

tocante à expressão humana, tais como a sensibilidade, a criatividade e a própria

fantasia parte do imaginário humano.

Segundo Sternberg e Grigorenko (2003, p.35) “as pessoas precisam

perguntar a si mesmas quão bem elas conseguiriam funcionar nas condições em

que alguns alunos precisam funcionar”. É possivel que a aridez da sala de aula infira

sensações negativas em alguns alunos dificuldando seu rendimento e o professor

poderia avaliar se o ambiente por ele criado colabora com a ação ensino-

aprendizagem.

Na aula de Ciências é necessário mais do que a capacidade de memorizar

dados de um livro ou de resolver problemas prontos. Para Sternberg e Grigorenko

(2003, p.39) “a prática da ciência requer a capacidade de criar ideias significativas

que fazem diferença para o campo e, em última análise, para o mundo”

Por esta ótica houve uma preocupação do Ministério de Educação em

aparelhar os Colégios públicos com laboratórios de Ciências, contudo a não ser em

cursos profissionalizantes o laboratório de Ciencias possui um profissional

laboratorista. A ausência deste profissional dificulta o trabalho do professor que

assume duas funções simultaneas, além dos problemas de manutenção dos

equipamentos e produtos químicos, pois nao há verbas diretas para os laborátorios.

A ciência em laboratório tem por essência o cientificismo que demonstra

toda a sua evolução em pró do desenvolvimento da sociedade e possibilidades de

qualidade de vida, inclusive a existencia da escola é decorrente da necessidade de

disseminar ao maior numero de pessoas todo o conhecimento cientifico conquistado.

Porém, o desenvolvimento cientifico afastou o ser humano dos elementos que o

torna humano quando da integração ambiental. Por isso, o presente artigo tem a

finalidade prover a construção de um espaço sensorial com o intuito de permitir ao

educando momentos de aprendizagem, onde exporá sua sensibilidade, criatividade

e poderá refletir sobre os fatos que o cercam.

O ESPAÇO SENSORIAL

O que se sabe hoje sobre jardins e suas utilizações, revela que em cada

época o homem buscou alternativas diferentes para demonstrar sua relação com a

natureza. Assim, surgiram os jardins, que ao longo do tempo apresentaram

diferentes funções, variando de acordo com o momento histórico.

Jardim tem por significado, conforme cita Demattê (1999) vem da união

“gran” (proteger, defender) e “éden” (prazer, delícia) demonstra que eles surgiram

com o intuito de organizar a natureza em um mundo perfeito de acordo com a

idealização de cada povo e de cada época.

O surgimento do jardim sensorial está vinculado a políticas de inclusão do

cego na sociedade britânica da década de 70 do século XX. Na verdade, foi assim

idealizado e, a princípio, desvirtuado pelo poder público, menos preocupado com a

efetiva inclusão dos deficientes visuais do que em demonstrar que estavam

desenvolvendo algum tipo de política nesse sentido. Como tal, os primeiros jardins

sensoriais passaram a ser conhecidos como “jardins para cegos”, em oposição as

terapias de horticultura que eram desenvolvidas em hospitais e unidades de

reabilitação (jardimdecalateia, 2015).

No Espaço Sensorial, voltado para o trabalho acadêmico, é possível o

desenvolvimento de atividades lúdicas para estimular os sentidos, na percepção das

atividades promovendo a integração com o meio ambiente.

O fato é que o ser humano esteve sempre em contato com a natureza, agindo

sobre ela e usufruindo dela, desde a pré-história até o período contemporâneo. No

princípio, a construção de jardins era voltada ao luxo e depois para estimular os

sentidos, conforme afirmado por Sipinski e Hoffmann (2010). Nessa época também

já se conhecia e se utilizava de diversas plantas medicinais.

Nesse sentido, os jardins apresentam duas características fundamentais: os

jardins das delícias, criados para a fruição dos sentidos, e os jardins do saber,

voltados para o conhecimento botânico e propriedades medicinais das plantas. Tais

jardins, exemplos de dominação da natureza pelo ser humano, revelam o quanto

este buscou, ao longo do tempo, inferir no “caos” do ambiente natural (SIPINSKI e

HOFFMANN, 2010, p. 11).

Acariciar uma planta, contemplar com ternura um pôr-do-sol, cheirar o

perfume de uma folha de pitanga, de goiaba, de laranjeira ou de um cipreste, de um

eucalipto...são múltiplas formas de viver em relação permanente com esse planeta

generoso e compartilhar a vida com todos os que habitam ou o compõem

(GADOTTI, 2000, p.86).

O estímulo aos sentidos requer atividades sonoras, táteis, gustativas, visuais

e auditivas. Esse conjunto sensitivo compõe o Espaço Sensorial criado no Colégio

Estadual Amyntas de Barros, o que possibilitou ainda atendimento da Lei Brasileira

7.853, de 24/10/1989. Posto que o Colégio promove a inclusão de pessoas com

surdez, tendo professores especializados e intérpretes de LIBRAS. Essa lei dispõe

sobre o apoio às pessoas com alguma deficiência e sua integração social, obrigando

a inclusão de questões específicas sobre a parcela da população que possui

deficiência (RISTOW, 2008).

O estímulo na questão de aprendizagem faz sentido segundo Vygotsky (1989,

p.85) “quando um objeto neutro é incluído na situação e adquire a função de um

signo. Assim, a criança incorpora ativamente esses objetos neutros na tarefa de

solucionar o problema”. A prática do estimulo possibilita ao sujeito expor seu

repertório quando responde ao estímulo o que torna importante o aparelhamento do

espaço sensorial com objetos diversos, plantas dentre outros.

A partir deste conceito é possível determinar elementos que gerem estímulos

para os sentidos como segue:

Tato com as mãos - através das texturas das plantas; pedras em diversos

formatos geométricos. Sensibilidade com os pés- andar descalço; pisar em

marcadores no chão.

Audição- com os repuxos d’água; canto de pássaros.

Visão- através das cores exuberantes; obra de arte abstrata.

Olfato- com os aromas das espécies como frutas.

Paladar- sabor das ervas e frutas

Por meio da flora é possível experimentar as mais diversas texturas através

do tato. A exemplo, das folhas das roseiras, e as pétalas de rosas, um pequeno

jardim de rosas possibilita a mais variada textura pela forma de desenvolvimento.

Além de sua fragrância característica é cercada de simbolismo e significados, alguns

já conhecidos dos educandos o que os estimulará a novas investigações

(verdypaisagismo, 2015).

Ao adentrar em um espaço com som de água pode proporcionar uma

sensação de frescor ou mesmo estimular uma necessidade física, mas normalmente

remete à paz e prazer. Essas sensações são uteis ao educando quando lhe

possibilitam concentração em determinada atividade.

O conjunto que se delineia com flores, água, o piso empresta colorido ao

espaço sensorial que se complementa com móbiles representativos da arte abstrata

com a finalidade de aguçar a curiosidade de expectador e fazê-lo refletir sobre o que

vê e pensa.

Outro prazer a ser despertado é sentir e distinguir o aroma como fazem os

Cheff no preparo de um prato. As ervas e temperos exalam aromas especiais como

o alecrim ou a cebolinha e ainda geram sabor característico ao alimento.

As ervas fazem parte da cultura popular brasileira não só na cozinha, mas

como unguentos e chás terapêuticos, para gripes, dores musculares dentre outros, é

o encontro do senso comum e as ciências.

O espaço sensorial é uma oportunidade de a disciplina de Ciências

possibilitar ao educando o encontro com a natureza, não só com o discurso

protecionista e até numa visão histórica, em relatos de como era Planeta. O contato

ao desenvolver os sentidos humanos possibilita um novo tipo de experiência com as

plantas, com a água, para além da ideia de decoração é perceber a natureza como

essência da humanidade. O que também lhe possibilitará nos anos finais do ensino

fundamental desenvolver o raciocínio crítico, prospectivo e interpretativo das

questões socioambientais bem como a cidadania ambiental.

Por isso, o Espaço Sensorial estará sempre em transformação com o

exercício criativo do educando, participando das atividades com percepção cada vez

mais elaborada.

A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO SENSORIAL

A construção do Espaço Sensorial para fins pedagógicos no CE Amyntas de

Barros, seguiu o cronograma apresentado em Projeto PDE 2015, inicialmente

apresentado ao Prof. Dr. Clovis Wanzinack que o aprovou, possibilitando assim, a

sua discussão com a comunidade escolar que entendeu a validade pedagógica em

sua implementação no ambiente escolar.

O Colégio analisou o projeto e decidiu que o espaço adequado para sua

construção era o terreno situado atrás do segundo pavilhão, pois o solo plano já

possuía insumos para o plantio de flores e ervas. As atividades se iniciaram em

Apresentou-se o espaço físico para implementação do projeto aos alunos e a

programação dos desenhos arquitetônicos a serem feitos pelas turmas do 9º A e C.

As turmas iniciaram os trabalhos com a devida limpeza do espaço e a escolha

do desenho arquitetônico a ser implementado no Espaço físico, conforme planta

anexa.

Figura 1: Desenho arquitetônico

Com a delimitação do espaço as turmas fizeram as demarcações geométricas

planejadas que serviriam para o assentamento dos canteiros, do plantio das ervas

aromáticas e das plantas ornamentais. Em paralelo aos canteiros foi feito o plantio

de grama, criando assim um espaço para se caminhar descalço, em contraponto aos

canteiros. Uma equipe do 9º ano A se ocupou na pesquisa de dados e consequente

confecção e organização das Placas de Identificação dos vegetais fixadas nos

canteiros.

Os móbiles escolhidos pelas turmas foram os Sinos do Vento de acordo com

pesquisa realizada descobriram que os sons que emitem são simbólicos, geram

tranquilidade e energia no ambiente. Outro elemento que criaram foram as pegadas

de animais (cachorro e gato) em decalques sobre o cimento para o toque dos pés e

assim descobrir a quem pertence. A fonte de água foi construída com uma

mangueira ligada a torneira de jardim e a água passa por sobre pedras emitindo som

de queda d’agua, conforme demonstra as imagens.

No dia 19 de outubro do corrente ano inaugurou-se o Espaço Sensorial com a

execução de uma série de exercícios elaborados pelas turmas de 9º anos.

Figura 2: O Espaço Sensorial

METODOLOGIA

A releitura sobre a forma que se trata as questões ambientais no espaço

escolar foi possível constatar a necessidade de adequação do discurso de

preservação ambiental à prática em sala em aula.

Os fatos que envolvem o meio ambiente podem ser melhores observados e

sentidos em espaços livres, nas possibilidades de expressão sensorial, pois a

aprendizagem também é um ato emocional e não somente racional como apregoa o

pensamento cientificista.

A proposta de construção de um Espaço Sensorial no interior do

estabelecimento escolar permitiu a demonstração para a comunidade escolar da

importância dos recursos naturais para a efetivação da aprendizagem.

A estratégia utilizada para a efetivação do projeto foi possibilitar aos alunos

demonstrarem suas habilidades em cada atividade proposta. Para tanto, foi preciso

antes do início das atividades no Espaço Sensorial explanar sobre os sentidos

humanos.

A Palestra A construção do mundo por meio dos cinco sentidos foi proferida

Diretor do Departamento de Planejamento de Educação e Conservação Ambiental,

Francisco Somavilla, Prefeitura de Pinhais/PR, com o objetivo de enfatizar a

importância que representa o órgão sensitivo para o ser humano, mas também

como se dá o processo de entender e valorizar os cinco sentidos através dos

órgãos : olhos, boca, ouvidos, nariz e pele.

A dinâmica da palestra se concentrou na questão do processo de reflexão

por meio de um condutor específico e assim diferenciar as cinco sensações básicas:

contato, pressão, frio, calor, dor, odor.

As atividades sensoriais foram elaboradas com a mediação da professora da

disciplina de Ciências em interdisciplinaridade com professores de Artes na pintura dos

canteiros, com a equipe pedagógica, ajudando a confeccionar Sinos do vento e também

com sugestão nos plantios e canteiros. Houve um envolvimento coletivo além do previsto

com a interação provocada pela construção do espaço sensorial

entre estudantes das diferentes séries escolares, o que proporcionou o desenvolvimento

e potencialização das habilidades de cada um. As atividades ocorreram primeiro em

sala de aula e depois na prática no Espaço Sensorial e a metodologia das atividades

foi baseada no trabalho de pesquisa de Sternberg e Grigorenko (2003).

Atividade em sala: elaborar uma pergunta chave, cuja resposta possibilita

compreender e identificar o problema; alocar recursos para a tarefa, como a

demarcação de tempo para o exercício no espaço sensorial; selecionar o objeto para

a experiência contido no espaço; avaliar os resultados reais da experiência com o

previsto.

A turma foi dividida em equipes com quatro pessoas de forma que cada uma

recebeu como tarefa um dos sentidos.

Turma A: A sensibilidade das mãos – Tato

Pergunta base: O tato é uma forma de percepção do mundo? Como isto acontece?

Objeto: sino de vento, roseira

Ação: Tocar o sino de vento por 1 minuto a seguir tocar as folhas da roseira pelo

mesmo tempo.

Avaliação: Observar as reações da equipe e solicitar a resposta da pergunta.

Turma B: A sensibilidade do olfato

Pergunta-base: Por que há tanta variedade de cheiros?

Objeto: o cheiro não é um objeto discernível é sempre um “parece ser”.

Ação: descrever o cheiro da grama.

Avaliação: o perfume da grama é semelhante a que outro perfume?

Turma C: A sensibilidade do Audição

Pergunta-base: os fones de ouvido desviam a atenção?

Objeto: fones de ouvido, sons de agua e pássaros cantando.

Ação: colocar os fones de ouvido com som musical; após um minuto ainda com os

fones diferenciar o som da fonte e dos pássaros cantando.

Avaliação: quanto tempo levou para distinguir os sons.

Turma D: A sensibilidade da Visão

Pergunta-base: é possível relaxar ao observar a natureza?

Objeto: as flores

Ação: sentar frente as flores e observa-las.

Avaliação: perguntar ao grupo o quanto divagaram durante a observação.

Turma E: A sensibilidade do paladar

Pergunta-base: que gosto tem?

Objeto: maçã, salsinha

Ação: provar uma fatia de maçã e um ramo de salsinha

Avaliação: descrever os sabores se amargo, doce, azedo, etc.

As atividades descritas foram realizadas como experiência e demonstrada às

outras turmas, por isso houve a participação da Turma 9º ano A. O resultado foi

positivo, pois todos se envolveram com o projeto na realização de pesquisas sobre

os cinco sentidos. Em sala de aula fez-se um levantamento de satisfação da

atividade com exposição pelos alunos de suas impressões, conforme tabulação 80%

da turma achou satisfatório, os outros acharam que deveria haver mais objetos no

espaço sensorial ou não viram muito proveito na aditividade. Opiniões a serem

consideradas nas próximas atividades no espaço sensorial.

Neste primeiro exercício houve maior ênfase nos sentidos humanos com o

intuito de demonstrar à turma a importância de se ter melhor entrosamento com o

meio ambiente em benefício do próprio corpo humano, pois cada pessoa aprende a

avaliar sua potencialidade sensitiva.

O Espaço Sensorial por sua característica terapêutica poderá auxiliar a

comunidade escolar a compreender a diferença de interação com o meio ambiente,

sentir o frescor das plantas e o discurso de preservação ambiental limitado à

separação do lixo.

CONCLUSÃO

A construção do Espaço Sensorial no Colégio Amyntas de Barros assumiu um

papel de relevância educacional, pois deixa ser um espaço informal ao integrar um

ambiente educacional sem perder suas características de prazer, lazer e

contemplação.

Pode-se ressaltar que, para o/a professor esse espaço possibilitará o

desenvolvimento de metodologias inovadoras no processo de ensino e

aprendizagem, que transmita alegria e menos sisudez disciplinar. Posto que haverá

uma exposição diferenciada das pessoas na interação com o meio ambiente.

A atividade desenvolvida no Espaço Sensorial, envolvendo os cinco sentidos

teve o objetivo de despertar no participante um novo olhar para a natureza é

perceber-se como parte dela e ao destruí-la é também consumir-se aos poucos.

Os estudos das Ciências sobre a vida no planeta Terra têm por premissa a

sua origem espacial e sua constituição física. Ao mesmo tempo enaltece a ação

humana na transformação dos elementos que a constitui em benefício nem sempre

da humanidade.

A educação sobre as questões ambientais numa perspectiva mais aberta

segundo Brugger (1994, p. 102) “o conhecer para preservar ou o pensar

globalmente, agir localmente, poderão adquirir um sentido de fato ambiental”. É o

que se busca no trabalho com o Espaço Sensorial uma possibilidade de educar para

a vida e não para atender necessidades pontuais da sociedade capitalista.

BIBLIOGRAFIA

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