OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · abertura para o compartilhamento das ideias,...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

BLOGS E OS PROCESSOS DE HIPERTEXTUALIDADE: uma sala de aula pelas

vias do ciberespaço

Nilton Sérgio RECH1

Beatriz Helena DAL MOLIN2

Resumo: A proposta é refletir sobre o uso das tecnologias no espaço escolar, empregando

blogs como interfaces de comunicação, de leitura e escrita e com potencial interativo, considerando um novo usuário leitor. Assim, serão importantes reflexões, neste artigo, sobre os conceitos de hipertexto, hipertextualidade e ciberespaço, além de termos como territorialização e desterritorialização, sendo que os pressupostos estão embasados principalmente na prática da interatividade, da produção e publicação, nos processos de leitura hipertextual e escrita digital. Palavras-chave: escrita digital, hipertexto, ciberespaço, desterritorialização. Introdução

No contexto contemporâneo, com as tecnologias digitais em redes, há

numerosas possibilidades de informações disponíveis que agregadas a conceitos e

a objetivos que se deseja atingir redundam na produção de conhecimentos.

Ampliam-se as fronteiras do texto, que estará acessível em todo lugar, além do autor

poder retomar discursos e reestruturá-los para novas produções hipertextuais com

sentido ampliado e novodigital (TCD, de agora em diante).

Os Blogs são exemplos dessa situação, pois, possibilitam, demonstrar,

dinamizar e diversificar os espaços da sala de aula, promovendo a construção

coletiva do conhecimento e das interações, expondo pontos importantes como

1 Professor de Língua Portuguesa e PDE 2013/2014. Graduado em Letras pela Universidade de

Marechal Cândido Rondon – PR UNIOESTE. 2 Professora orientadora DAL MOLIN, Helena Beatriz - Pós-Doutora do Programa de Pós-Graduação

em Engenharia e Gestão do Conhecimento/ Área de Mídia e Conhecimento/ Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Membro do grupo de pesquisa PCEADIS/Cnpq/UFSC, do grupo Confluências da Ficção, História e Memória na Literatura, Linguagem, Cultura e Ensino, PECLA. Pesquisas em Educação, Cultura. Linguagem e Arte / Unioeste, Núcleo de Complexidade e Cognição (Antigo Núcleo de Ecoergonomia) UFSC. Professora no Colegiado de Letras e no Programa de Pós-Graduação mestrado e doutorado em Letras_Linguagem e Sociedade da UNIOESTE-Paraná. Coordenadora do Projeto Estudo, concepção e produção de recursos educacionais impressos e digitais - Unioeste e instituições parceiras. Cascavel – PR, e-mail: [email protected]

abertura para o compartilhamento das ideias, sugestões, na busca da construção e

troca de experiências e flexibilidade e registro na construção dos percursos dos

processos de leitura e escrita. Nesta perspectiva, considera-se que o papel do

professor é do orientador, ou seja, o mediador que anima e entusiasma o fazer

pedagógico durante suas aulas de leitura e escrita, mas também enquanto conjunto

de ações da comunidade escolar.

Outros aspectos importantes são os dispositivos hipertextuais que têm o

intuito de potencializar a leitura, e as redes digitais que permitem desterritorializar o

texto, modificando as fronteiras e quebrando os limites.

É, assim, um momento privilegiado para, na ocasião mesma em que essas

novas práticas de leitura e de escrita estão sendo introduzidas, captar o

estado ou condição que estão instituindo: um momento privilegiado para

identificar se as práticas de leitura e de escrita digitais, o letramento na

cibercultura, conduzem a um estado ou condição diferente daquele a que

conduzem as práticas de leitura e de escrita (SOARES, 2002).

É chamar então para as possibilidades que as tecnologias permitem no

sentido de ampliar os discursos, com produções publicadas e o letramento3 no

ciberespaço.

O Hipertexto e a Ciberespaço

Com a disseminação das tecnologias, em especial a internet, as conexões e

acessos melhorados e facilitados, escrever e ler na Web se tornou atividade comum,

necessária e, muitas vezes, prazerosa. Além disso, o uso de links que oportunizam a

busca de novas informações dá os caminhos para os internautas irem ao que

desejam.

Vale ressaltar então o hipertexto como a possibilidade para ampliar as

leituras, realizar as conexões dos textos com outros textos, imagens, vídeos, ou

seja, são ligações para novos conhecimentos mediados pela tecnologia digital.

Em Lévy (1999, p. 33) este conceito de hipertexto torna-se bem definido:

3 Magda Soares, no artigo Novas Práticas de Leitura e Escrita concebe o letramento como o estado

ou condição de quem exerce as práticas sociais de leitura e de escrita, de quem participa de eventos em que a escrita é parte integrante da interação entre pessoas e do processo de interpretação dessa interação.

Tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser palavras, páginas, gráficos, ou partes de um gráfico, seqüências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar um hipertexto significa, portanto desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicado quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira.

É fundamental considerar que utilizar as tecnologias do ciberespaço

proporciona ao internauta investigar e ter novas experiências, novos registros e

outros olhares. As possibilidades de leituras de jornais, revistas, artigos, com

contribuições notórias para as pesquisas, as participações nas comunidades virtuais,

as comunicações instantâneas, o falar e se posicionar com alcances imediatos, são

alguns exemplos de como os espaços virtuais encantam e são eficazes na expansão

dos horizontes e na difusão das ideias.

O ciberespaço é o novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. O termo especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo (LÉVY, 1999, p. 17).

Qual será então o papel do professor frente às modalidades de escrita do

ciberespaço? Talvez repensar novas práticas que possam permitir mais interações,

com tempo para os educandos apresentarem suas vozes, seus discursos e, em

consequência, as interações nos espaços virtuais.

Um fazer pedagógico que articula os textos com imagens, vídeos, cores,

símbolos, movimentos, num espaço educacional hipertextual e com novas relações

entre os sujeitos envolvidos. Será uma das portas, um caminho? Uma prática atenta

às novas tecnologias e possibilidades de espaços interativos, do ir para além sala de

aula “fechada”, do quadro e do giz para a proximidade com os interesses midiáticos

dos estudantes?

Um mundo virtual, no sentido amplo, é um universo de possíveis, calculáveis a partir de um modelo digital. Ao interagir com o mundo virtual, os usuários o exploram e o atualizam simultaneamente. Quando as interações podem enriquecer ou modificar o modelo, o mundo virtual torna-se um vetor de inteligência e criação coletivas (LÉVY, 1999, p. 75).

Também está claro que a tecnologia por si não é salvadora do processo

educacional, mas contribui significativamente caso seja articulado com um saber

pedagógico que favoreça no aprender dos envolvidos.

Dal Molin (2003, p. 31) considera que: os educadores necessitam discutir e

reelaborar outro fazer para a escola, levando em conta que o mundo se modifica

com os processos tecnológicos e comunicacionais.

Compreender que com o uso da tecnologia, em específico o uso da Internet,

dos espaços virtuais, dos blogs, há novas práticas do ler e escrever, pois se pode

acrescentar, argumentar, alterar e comungar os discursos de forma mais agregado,

já que se publica e têm-se leitores que poderão contribuir com novas ideias. Permite

ainda avançar nos espaços de pesquisa, com agilidade, colaboração, velocidade,

flexibilidade e interatividade.

Na era da tecnologia, os princípios fundamentais da Aprendência são a flexibilidade, a integração e o compartilhamento das idéias e saberes. Em face disso, um dos papéis do educador é ajudar e orientar os aprendentes a interpretar e selecionar a enorme gama de informações e de fontes disponíveis, dentro daquilo que representará a essência de seu contexto vivencial e, como eterno aprendente, comungar da vitalidade, da curiosidade, do desafio, das descobertas e experimentos que seus educandos-aprendentes lhe propiciem, efetivando a troca de experiências que tanto enriquecem a vivência educativa. (DAL MOLIN, 2003, p. 35)

Cabe ao professor oportunizar atividades utilizando a internet para que os

educandos exercitem e se lancem na Web, que sirvam de apoio para novas escritas,

do ler e escrever virtual, enfim uma inclusão digital de forma séria, com práticas que

efetivam produções significativas, conhecimento aprofundado, além da busca de

novos saberes para capacitar cidadãos críticos e atuantes.

Desterritorialização

A utilização dos espaços virtuais modifica o jeito de dar aula, permite aos

professores terem novos espaços de discussões, alterando o domínio do fazer

docente e, assim, ampliando para novos territórios. Deleuze, em seu livro “Mil

Platôs4”, afirma e conceitua:

4 O que é Mil platôs? Como se organiza? Como um tratado de filosofia, após a ruptura, quando o

filósofo, o grande nômade, resolveu desertar a filosofia dos códigos, dos territórios e dos Estados, a filosofia do comentário. São zonas de intensidade contínua.

Todas as multiplicidades são planas, uma vez que elas preenchem, ocupam

todas as suas dimensões: falar-se-á então de um plano de consistência das

multiplicidades, se bem que este "plano" seja de dimensões crescentes

segundo o número de conexões que se estabelecem nele. As

multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de

desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se

conectarem às outras (DELEUZE, 1995, v1, p. 16-17).

Para a busca de novos territórios há de se ter o desejo de agir, vontade e

disposição para a busca de novos locais, saindo da zona de tranquilidade. É um

movimento, segundo Deleuze, de desterritorialização e reterritorialização, com

outros espaços de criação, de autoria e com outros afetos. Ir a um novo território é

se aventurar, disposto a quebrar barreiras, com possibilidades de criatividade e

novos ideais.

Num livro, como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou segmentaridade, estratos, territorialidades, mas também linhas de fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação. As velocidades comparadas de escoamento, conforme estas linhas, acarretam fenômenos de retardamento relativo, de viscosidade ou, ao contrário, de precipitação e de ruptura (DELEUZE, 1995, v1, p. 11).

Os estudantes necessitam de novos espaços, fora da sala de aula, que

propiciem novas descobertas, favorecendo novas subjetividades. É fundamental

proporcionar um ambiente de estímulos, instigar e proferir os porquês, com

oportunidades para motivar na escola outros sentidos para a leitura e a escrita.

A educação é o território, mas pode ser sedutora quando proporciona a

busca de novos conhecimentos, do intercâmbio de relações, favorecendo as

produções coletivas, promovendo novos impulsos para com o uso de outros espaços

de Aprendência, mas também pode bloquear os desejos se for uma proposta

fechada, com tecnologia que não atende e não favorece a prática, principalmente

quando se poda a participação. Para tanto, os ambiente virtuais devem ser espaços

abertos para autoria, com linguagem atraente e visual que favoreça as participações.

Outra situação é ter material de apoio com qualidade a fim de se ter espaços

de discussão coletiva para a produção de novos conhecimentos, estudantes que

conectam e se interconectam, numa multiplicidade de afetos e desejos, de ideias e

sugestões.

Um agenciamento é precisamente este crescimento das dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões. Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas (DELEUZE, 1995, v1, p. 17).

Assim, muito importante o planejar e organizar o espaço que servirá de linha

de partida para um novo território a ser aberto às participações, colaborações,

produções e publicações, fomentando as discussões e analises, como foi o caso de

nosso projeto de intervenção na escola cujo resultado além de outros interessantes

oportunizou a participação dos estudantes no território virtual do ciberespaço, cuja

demarcação inicial denomina-se Do texto ao Hipertexto, alocado no endereço

eletrônico indicado nesta nota5, com mais de hum mil e seiscentas visualizações,

centenas de interlocuções e interações registradas em forma de post ou comentários

O fazer pedagógico

Os estudantes necessitam de novos espaços, fora da sala de aula, que

propiciem novas descobertas, favorecendo novas subjetividades. Por isso, esta

prática proporcionou um ambiente de estímulos, com o intuito de instigar e proferir

os porquês, com oportunidades para motivar na escola outros sentidos para a leitura

e a escrita.

A proposta partiu da publicação de um blog como suporte para materiais,

links, textos de opinião e outros recursos para marcar as características desse

gênero. O endereço é: cibernovosolhares.blogspot.com

A Web é atraente para nossos estudantes e os blogs permitem articulam

textos com imagens, sons, vídeos e links. Tudo isso é motivador, pois amplia as

possibilidades dos discursos, do falar com os outros. Os blogs são de rápida difusão

das informações na internet, instrumentos versáteis para retratar e apresentar

relatos, fatos e notícias. Sob esse aspecto, é importante a escola oportunizar o uso

das mídias disponíveis, inserir os educandos nesse meio, oferecendo práticas que

promovam a inclusão e aprendizagem significativa.

5 http://cibernovosolhares.blogspot.com.br/

Weblogs ou logs são páginas pessoais da web que, à semelhança de diários on-line, tornaram possível a todos publicar na rede. Por ser a publicação on-line centralizada no usuário e nos conteúdos, e não programação ou no design gráfico, os blogs multiplicaram o leque de opções dos internautas de levar para a rede conteúdos próprios sem intermediários, atualizados e de grande visibilidade para os pesquisadores (ORIHUELA, 2007, p. 2)

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Entende-se, assim, o blog como uma ferramenta educacional de comunicação

e interação, que promove e contribui para o processo de ensino- aprendizagem, com

usuários em condições de pesquisar e navegar em busca de saberes no

aprimoramento dos aspectos sociais, culturais e intelectuais, além de educadores

capazes de interagir com as novas tecnologias, propiciando aos estudantes a

inclusão no meio digital.

Como a escola possui internet banda larga e laboratório de informática,

tornou-se possível realizar a prática do uso dos blogs, com os estudantes,

construindo e atualizando seus espaços, podendo atrair o reconhecimento e a

consideração pela escola. É uma estratégia importante, já que também é uma forma

de se “abrir para o mundo” às atividades escolares e o contato dos estudantes com

o cotidiano da vida, em frequente integração e inserção comunitária.

O material didático usado para implementação foi divido em vários momentos

que foram seguidos para criação, elaboração e atualização dos blogs dos

estudantes. Eles tiveram a oportunidade de conhecer, navegar em vários blogs e

produzir os seus espaços de divulgação acerca da temática cidadania.

Primeiramente, apresentou-se a proposta para a comunidade escolar, para a

equipe de professores, direção, agentes I e II e equipe pedagógica. A apresentação

foi feita em slides, com a explicação do Projeto, qual é a proposta, quais

encaminhamentos, os pressupostos teóricos, além dos objetivos e das justificativas.

Importante ressaltar que o Colégio como um todo precisa saber das ações

realizadas, quais as contribuições, possibilidades, sugestões, entre outras situações.

Também, apresentou-se a proposta para o Conselho escolar, a fim de ter ciência do

trabalho a ser realizado.

Já o segundo momento foi de explanações aos estudantes, considerações

sobre o fazer pedagógico, por meio de explicações e tira-dúvidas das ações a serem

implementadas. Um fator que chama a atenção é que poucos estudantes já tinham

blogs publicados, aproximadamente quatro estudantes em universo de 60. 6 Capítulo 1 do livro Blogs: revolucionando os meios de comunicação. Blogs e blogosfera: o meio e a

comunidade. Por José Luis Orihuela.

Com o uso da TV Multimídia e alguns slides (imagens em jpg), a proposta do

material didático do PDE foi apresentada para os estudantes dos 1º anos, turmas A

e B, turno matutino, considerando os objetivos, as justificativas, o que é o Projeto

PDE e sua importância, bem como os encaminhamentos para a proposta. Os

estudantes, na maioria, prestaram atenção a esta etapa importante, pois permite ao

educando compreender e ter o todo da programação das atividades de

implementação.

Em seguida, para melhor compreensão do uso das tecnologias no exercício

da comunicação, foram entregues textos enumerados (pequenas citações) aos

educandos que em grupos fizeram leitura e discussão e após houve espaço para

socializar as expectativas e as possíveis considerações. Os textos abordavam

diferentes temáticas, como: conceitos de blog, escrita hipertextual, a importância das

tecnologias, facilidades ou não com a Web, entre outros temas. Os alunos formaram

grupos de três a quatro alunos para leitura, compreensão e troca de experiências.

Nesta ação, percebeu-se algumas dificuldades de entendimento em termos como

hipertexto, ciberespaço, o que realmente é um blog, inserção social, blog como

instrumento de ensino e aprendizagem, a língua como forma de poder para o

cidadão, como se dá a diagramação dos blogs. Neste momento, foi necessário

ajudá-los para melhor compreender tais conceitos. Após, os alunos apresentaram

suas considerações aos demais e ao final de cada apresentação foram elencados

alguns aspectos. Essa ação é importante, ainda mais que a maioria dos alunos não

tinha blogs publicados.

O terceiro momento foi o inicio das discussões da temática cidadania, com o

intuito de oferecer suporte para os assuntos que estariam presentes nos blogs. Os

estudantes assistiram ao vídeo do CQC, disponível no Youtube, que trata da

Honestidade. Foram feitas análises e os estudantes refletiram sobre as cenas

apresentadas. Perceberam, por exemplo, que de certa forma atos corruptos estão

em cada um e que precisamos tomar atitudes mais responsáveis. A mudança não é

rápida, mas foram bem oportunas as colocações e as reflexões acerca da temática.

Foi um ponto de partida para que os alunos pudessem ter caminhos possíveis para

colocar os seus relatos nos comentários e post dos blogs.

É importante considerar que nos espaços virtuais abrem-se as possibilidades

da publicação de textos, do lançar propostas e sugestões, de publicar links para

diversos sites relacionados, tornando-se um canal de comunicação e expressão, na

busca do envolvimento dos sujeitos com as práticas apresentadas. Muda-se assim a

maneira de aprender, pois a comunicação se dará no espaço virtual,

disponibilizando conteúdos em diferentes locais da web, promovendo o trabalhar

com múltiplas linguagens e com autonomia na construção da sua aprendizagem.

Castells apresenta bem essa situação, expondo as informações:

O surgimento de um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado

pelo seu alcance global, integração de todos os meio de comunicação e

interatividade potencial está mudando e mudará para sempre nossa cultura.

Contudo surge a questão das condições, características e efeitos reais

dessa mudança (CASTELLS, 1999, p. 354).

Para tanto as novas tecnologias solicitam dos educadores novas condutas, e

para que elas se tornem aliadas é necessário assimilar e ter conhecimento de tais

ferramentas para servirem de apoio, para que o professor possa então desenvolver

metodologias adequadas, propiciando uma postura crítica no escrever. Assim, no

ensino da língua materna a internet, no caso indicado o uso dos blogs, pode

estimular e motivar os estudantes para novas possibilidades de produções

escolares.

O quarto momento foi o de levar os estudantes ao laboratório de informática

para ambientar-se com as ferramentas disponíveis e realizar imersão tecnológica

nos blogs e sites. São as pesquisas importantes em diversos blogs para observar e

verificar quais são recursos que aparecem na maioria dos blogs.

Os estudantes se mostraram “agitados” para entender o que seria feito, como

proceder para organizar as diversas ações, e o papel do professor é o de orientador,

atento as dificuldades e um facilitador do processo ensino e aprendizagem.

Outro aspecto a se considerar é que para criar os blogs faz-se necessário ter

email. Assim, em sequência, organizou-se a etapa de criação dos emails para os

alunos que ainda não tinham. As dificuldades aparecem, mas em ambiente

colaborativo, todos ajudam a todos.

Houve sucesso na criação dos emails, como os estudantes esquecem

facilmente as senhas e alguns tiveram que criar novamente seus emails.

Dando sequência ao proposto, buscou-se pela retomada das leituras do

documento “regimento escolar”, os itens dos direitos e deveres dos estudantes e

docentes. Esta ação foi com o intuito de dar suporte para o trabalho com a temática

cidadania, a fim dos estudantes apresentarem nos blogs as considerações.

Como o colégio adotou este ano o momento da leitura, um projeto em que

uma vez por semana os estudantes têm 20 minutos destinados para tal finalidade.

Uma das ações foi a de ler e discutir os direitos e deveres no tempo destinado ao

projeto de leitura do colégio, o que colaborou para que os alunos revissem e

repensasse o que pode e deve ser feito ou não.

Já o sexto momento da proposta didática foi o de levar os estudantes dos 1º

anos ao laboratório de informática, para que pudessem compreender, analisar,

aprofundar e assimilar as características de um blog: para que serve, com é, as

múltiplas possibilidades, as ferramentas possíveis, entre outros aspectos. Para

tanto, os estudantes tiveram uma lista de apoio (sites) para conhecerem alguns

blogs educacionais.

Nas Diretrizes de Tecnologias Educacionais do Estado do Paraná, o uso das

tecnologias “deve ser apoiado numa filosofia de aprendizagem que proporcione aos

estudantes oportunidades de interação e, principalmente, a construção do

conhecimento” e o professor será o mediador desse processo (SEED, 2010, p. 11).

A mediação do professor, assim, nas diversas atividades propostas com o uso

das tecnologias é muito importante, estabelecendo relações, saber o porquê, como e

para que estudar determinados assuntos.

Na relação do professor mediador do aluno com o conhecimento, Libâneo

afirma:

A mediação do professor consiste em problematizar, perguntar, dialogar, ouvir os alunos, ensiná-los a argumentar, abrir-lhes espaço para expressar seus pensamentos, sentimentos, desejos, de modo que tragam para a aula sua realidade vivida (LIBÂNEO, 2009, p. 13).

Ressalta-se então que a escola precisa permitir aos educandos fazerem

ações diferenciadas, apresentar alternativas pedagógicas, promover experiências

ricas, com sujeitos autores, ativos, saindo da passividade. Sabe-se que as

dificuldades existem e que não podem ser sanadas em um “passe de mágica”, mas

é muito importante que ações sejam implementadas e aconteçam, e que o professor

cumpra com a melhoria na capacidade do bem produzir textos, discursos, relatos,

escritos e estes próximos da realidade dos estudantes.

Segundo Coscarelli (2003), com as novas tecnologias as pessoas têm escrito

muito.

Além disso, a forma de produção de textos mudou. Por exemplo estou aqui escrevendo e checando informações em arquivos, em sites, no dicionário eletrônico, etc. O ato de deletar, recortar, copiar, colar muda a forma de pensar a redação. Fazer essas operações é mais fácil e rápido do que desmanchar com borracha ou corretivo ou digitar várias vezes o mesmo texto (COSCARELLI, 2003, p. 72).

A cada novo encontro no laboratório de informática, sucediam-se as ações

acerca da elaboração dos blogs, da ampliação do uso dos recursos de um blog. Na

hora da criação, é necessário o auxílio e a colaboração de todos, com momentos

cooperativos e colaborativos, para que os estudantes elaborem o seu espaço na

internet. É muito importante incentivar as trocas de informação, a ajuda mútua,

favorecendo as relações de reciprocidade a fim de minimizar as dificuldades na

construção do blog.

Esta etapa foi muito interessante, já que os estudantes tiveram que prestar

muita atenção para seguir os passos de criação e inserir os primeiros recursos.

Houve participação efetiva, vontade e dedicação para construir os blogs. As

dificuldades e dúvidas eram tiradas com o professor e com os colegas que estavam

ao lado. Foram momentos importantes para potencializar os conhecimentos,

desempenhos e habilidades. Além disso, uma nova forma de organização, de ter um

espaço de produção e divulgação, do criar e recriar e de garantir uma qualidade

visual para os textos/depoimentos.

Outro aspecto é a importância da busca, da pesquisa, para compreender e

explorar, interagir e colaborar para com o mundo virtual da aprendizagem. É a busca

de recursos que estarão nos blogs. Após criar o seu espaço na internet, ou seja, ter

um domínio (endereço) para o seu blog, é importante saber o que inserir, o que será

colocado, ou seja, o internauta estará inserindo dados, textos, imagens, vídeos,

enfim recursos possíveis para assim “alimentar” e dar “cara” a sua página. A

divulgação também se torna importante e algumas redes sociais podem ser usadas

para tal ação.

A maioria dos estudantes ficou fascinada com as aulas de língua portuguesa

no laboratório de informática, com as possibilidades de manusear o computador

para outras finalidades e acessando os blogs dos colegas e do projeto

cibernovosolhares.blogspot.com Alguns estudantes com mais facilidade e rapidez e

outros com dificuldades, mas há sempre a possibilidade de auxílio, colaboração de

alguém para compreender e navegar.

Em algumas circunstâncias, os estudantes acessaram o blog do projeto para

a busca e interação com os assuntos ali postados e fizeram os comentários

pertinentes ao postar e interagir. Nesta ação, alguns conseguiram de imediato

realizar, mas outros não conseguiram postar. Ocorreram erros em algumas

máquinas, não permitindo postar comentários. Mas, eles tinham tempo para interagir

e, aos poucos, puderam se ajustar da melhor forma para como melhor proceder.

Destacam-se aqui alguns comentários publicados na página:

“Gostei muito de fazer esse trabalho, com ele podemos aprender melhor sobre a cidadania . Beeem Lokooo !” nayelen fonseca. “Esse trabalho foi muito bom, uma ótima experiência.” elienaire silva. “Sou Gabriel Pappis, do 1°A. Sobre a construção do blog acho uma atividade diferente e divertida. É importante relacionar produção textual com recursos da internet.” “Sou Valdirene, do 1ºB. Estou realizando o trabalho de construção de blog com o professor Nilton. É diferente e estou aprendendo alguns comandos. Nunca tinha realizado esta atividade. Legal.”

Apesar de algumas dificuldades com computadores que às vezes não

permitiam uma conexão mais rápida ou bloqueavam a inserção de certos recursos

para o blog, o projeto ia acontecendo e as superações também iam cedendo lugar

às atividades de adaptação, organização, preparo e vontade em atualizar os blogs. E

a escrita na internet tem este poder de transformação, já que permite postar, alterar,

apagar, inserir, tornando-a bem dinâmica.

Os blogs podem ser caracterizados, portanto, em uma relação temporal síncrona, ou seja, constituída na simultaneidade temporal entre o que é escrito e o que é veiculado na rede. As marcações do dia e da hora exata do evento textual, indicadas de modo automático pelo programa, apontam para um duplo caráter na atividade de reformulação dessa escrita. Ao mesmo tempo em que o texto do blog é eternizado porque materializado pelos suportes (da escrita, da internet), ele é, também, extremamente fugaz, porque é prontamente substituído ou apagado do espaço de sua circulação (MARCUSHI & XAVIER, 2010, p. 142).

Segundo Marcushi e Xavier (2010, p. 144) a internet proporciona a quem

escreve estar em contato com o outro e também da possibilidade de se ter das

páginas hipertextuais, por meio de links, favorecendo novas práticas,

desencadeando em um mundo textual sem fronteiras.

O oitavo momento foi o trabalho na sala de aula com o texto “Só de

Sacanagem” de Elisa Lucinda. O texto foi apresentado em forma de vídeo, com o

uso do recurso TV multimídia que as salas têm. No vídeo, Ana Carolina, é

apresentada com ênfase o texto de Elisa Lucinda e chamou muita atenção dos

estudantes. O vídeo de Ana Carolina foi apresentado duas vezes para que eles

pudessem entender bem a fala e o que transmitia o texto de Elisa Lucinda Só de

Sacanagem. Após discussão, interação acerca das questões propostas, ficou melhor

para entender quais eram as ideias presentes.

Após a conclusão das discussões, foram formados grupos para elaborar

cartazes acerca da temática trabalhada (por meio de desenhos, imagens, recortes,

colagem, pintura...) para apresentar para a classe e depois expor em um site para

que os demais estudantes pudessem ler e apreciar.

Os estudantes produziram os cartazes que estão publicados na página

(www.cibernovosolhares.blogspot.com) e nos blogs dos alunos. Esta prática

pedagógica foi dinâmica e bem diferente. Esta ação também teve o intuito de

fortalecer as discussões para a temática da cidadania, promover e disseminar as

obrigações e direitos de um cidadão, despertando para reflexões voltadas para o

contexto em que cidadão está inserido, no entendimento da gestão dos recursos

públicos, da valorização do patrimônio escolar, incentivando e fortalecendo o bom

comportamento.

Alguns comentários postados pelos estudantes:

“Sou Tamares, do 1B. Realizamos (Valdirene, Angélica e eu) a produção do cartaz nas aulas de Língua Portuguesa. O assunto foi Cidadania e conseguimos realizar a atividade. Foi tranquilo e iremos postar o cartaz no blog”. “Esse trabalho dos cartazes foi muito interessante, principalmente o trabalho do texto ''Só de Sacanagem''. Em Produção de cartazes. Jeciely”

Estudantes responsáveis pelos atos, com o bem estar, zelosos no que diz

respeito aos espaços escolares. E as publicações no meio virtual, em especial os

blogs, serão apoio na educação para a cidadania, um processo em construção do

coletivo, da valorização e do respeito.

Apesar de a promoção da cidadania estar presente em vários artigos da Carta Magna, é notório o desconhecimento dos direitos e deveres por parte da população. Diariamente, por exemplo, a mídia estampa práticas de corrupção associadas à “coisa pública”, comportamento advindo de alguns traços culturais que acabaram por conformar nossa identidade, o já aclamado “jeitinho brasileiro”, revelando a necessidade de maior controle social (PNEF, 2009, p. 35).

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7 PNEF – Programa Nacional de Educação Fiscal.

As ações continuaram com os acessos e atualizações dos blogs no espaço

colégio, em específico laboratório de informática ou com o uso do celular de quem

tinha conexão à internet, ou ainda em casa, para aqueles que foram inserindo novos

comentários, postagens acerca do que pretendiam postar nos blogs.

Em relação à temática da cidadania, vale o destaque para alguns comentários

postados nos blogs pelos estudantes.

Muitas pessoas nos dias de hoje acham dinheiro ou algo importante e não devolvem para o dono e quem acha e devolve é considerado ''burro'' por devolver para o dono. Uma ação que deveria ser normal nos dias de hoje esta ficando cada vez mais raro em Tachar os honestos de "burros" Rauan Schumacher Ritzel Menos rapidez. Quem pratica a gentileza não tem má vontade, não é indiferente e sim é cuidadosa, distinta e delicada. ATT: Arielly em Gentileza Todos nós devemos ser gentil com o próximo pois gentileza gera gentileza. Sendo humilde com todos a sua volta você só terá gentileza de volta, sendo calmo no trânsito ajuda bastante pois assim não terá mais muitos acidentes. att: Analina e Camila Precisamos de melhorias na sociedade, (atos) começando melhorias na sua própria casa, e nossos políticos, assim teremos melhorias na população. luiz weber No primeiro parágrafo fala de um garoto de 11 anos e sua honestidade ao localizar uma bolsa com dinheiro, que não o pertencia. O menino devolveu a bolsa para a dona. Como o jornalismo distorce as coisas, e as pessoas quando veem erros e criticam, mas quando essas pessoas estão erradas não existe erro. No segundo parágrafo, observamos que na hora de julgar os políticos somos inocentes mas quando surge uma oportunidade de cortar caminho e facilitarmos a nossa vida não existem limites. No último parágrafo fala de uma miopia que está presente em todo texto. Agradeço. Isadora Brezolin e Mariana Teixeira A gentileza é algo essencial para nosso dia a dia, seja dentro de casa, na escola ou no trabalho, pois através do respeito e da solidariedade que passamos a imagem do tipo de pessoa que somos. Att:Vanessa Fiorentin

Foi um momento importante para ampliar, apreciar o que é relevante e o que

possível fazer para que o seu blog seja mais eficaz e lúdico. É a produção,

elaboração e reelaboração das páginas, com postar novos textos, links, imagens,

vídeos, entre outros recursos possíveis.

Uma última ação a se considerar e apresentar foi o trabalho na sala de aula

com o texto “O nascimento de um cidadão” de Moacyr Scliar e a música “Pacato

Cidadão” do grupo Skank, com tempos para leitura e reflexão e, em seguida, o

desafio de produção de uma paródia ou poesia para ser inserida no seu respectivo

blog.

Considerações Finais

Os estudos relatados são importantes para fomentar reflexões acerca de um

novo ambiente que, por suas características, exige um comportamento diferente. É

um novo lugar para a produção de conhecimento: o ciberespaço.

É também ampliar as fronteiras do texto, multiplicar as produções e

pesquisas do real para virtual, sem rigidez, com flexibilidade para os processos de

desterritorialização.

Salienta-se ainda o ciberespaço como suporte interativo de apoio às

atividades, de um processo de Aprendência para práticas expressivas e funcionais,

em que o professor poderá usufruir da tecnologia para promover e perfazer

caminhos por páginas, links associados aos hipertextos, com a Web sendo um lugar

produtivo em prol do aperfeiçoamento da leitura e escrita dos estudantes.

Referências

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