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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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AS AULAS DE LÍNGUA INGLESA COMO ESPAÇO DE DIVERSIDADE CULTURAL

Indiana da Silva1 Elisa Prado Nascimento2

Resumo Este artigo tem como objetivo principal discutir brevemente os resultados de uma proposta de ensino para a disciplina de LE que contempla temas voltados a Diversidade Cultural que envolve os países que utilizam a língua inglesa para comunicar-se, seja como língua nativa, oficial, aditiva ou internacional. A relevância desta temática está em promover um estudo mais significativo para as aulas de língua inglesa, que desperte nos educandos maior interesse em aprendê-la, estimulando nos mesmos atitudes de questionamentos e discussão, de aceitação das diferenças e da valorização da própria cultura. Trata-se de um trabalho de pesquisa que oportunizou uma nova visão em relação às aulas de língua inglesa, atribuindo a elas maior legitimidade, considerando o contexto em que está inserida, bem como o despertar de uma postura crítica e evolutiva em relação ao ensino aprendizagem da mesma a partir da desconstrução de estereótipos e prática de interculturalidade. Palavras-chave: Língua Inglesa. Cultura. Diversidade. Interculturalidade. Identidade.

Introdução

O presente artigo é fruto de um trabalho realizado no Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), programa de formação continuada da

Secretária de Estado da Educação do Paraná (SEED), entre os anos de 2014 e

2015.

Nele contemplam-se as etapas os resultados de todo o processo de estudos e

práticas pedagógicas que desencadearam a elaboração de um Projeto de

Intervenção Pedagógica, o qual culminou no desenvolvimento de uma produção

didático-pedagógica, com atividades previstas para 32 horas aulas, aplicadas aos

alunos do 8°ano do Ensino Fundamental, do Colégio Estadual Olavo Bilac,

localizado no município de Cantagalo, PR, bem como o relato da experiência obtida

no Grupo de Trabalho em Rede (GTR), com professores de língua inglesa

vinculados à Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

1Profª PDE 2014; Indiana da Silva, Graduada em Letras Português/ Inglês. Pós Graduações em Pedagogia Escolar: Supervisão, Orientação E Administração, e Psicopedagogia Práticas Interventivas. Atua na rede pública estadual paranaense lecionando a disciplina de Língua Inglesa para o Ensino Básico. Atualmente é professora lotada no Colégio Estadual Olavo Bilac – Ensino Fundamental, Médio e Normal- Cantagalo, PR; E-mail: [email protected] 2Profª Elisa Prado Nascimento, orientadora PDE, Mestre em Letras pela UNICENTRO – Universidade Estadual do Centro Oeste e Professora do Departamento de Letras da mesma Universidade, atuando como professora do curso de Letras Inglês e Literaturas e Secretariado Executivo. E-mail: [email protected]

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Na produção didático-pedagógica, intitulada “As aulas de Língua Inglesa

como espaço de diversidade cultural”, foram abordados temas voltados à presença

do inglês no dia-a-dia e na cultura dos alunos, intencionando chamar a atenção para

a importância de aprendê-lo, bem como alguns aspectos referentes às culturas dos

países falantes da língua inglesa em suas especificidades, levando-os à percepção

das diferenças culturais, como forma de entendê-las. Assim, possibilitou-se a

utilização do conhecimento obtido para posicionar-se criticamente a respeito das

mesmas, desconstruindo estereótipos e destituindo-se de preconceitos, a partir do

exercício da interculturalidade. Essa é entendida como a possibilidade de levar ao

aluno o contato com outras culturas, e com isso adquirir condições de pensar sua

própria, relacionando-a à diversidade cultural em que está inserida. E ainda,

perceber a função da Língua Inglesa nesse intercâmbio cultural e a importância em

aprendê-la neste contexto atual.

Todo o projeto objetivou, em sua produção e aplicação, contemplar aspectos

voltados à diversidade cultural em relação aos países falantes da Língua Inglesa

como língua nativa, segunda língua ou língua estrangeira, na intenção de

contextualizar o ensino da mesma, oportunizando aos aprendizes possibilidades de

articular o ensino-aprendizagem desta língua ao contexto em que ela está inserida.

Nesse sentido, o aluno foi levado a entender a importância do aprendizado da

Língua Inglesa para sua inserção no mundo globalizado, uma vez que ela não se

apresenta mais vinculada à cultura de seus falantes nativos, mas reflete a cultura de

cada país que a utiliza como forma de comunicação internacional, atrelada ao

propósito de atribuir maior sentido ao ensino aprendizagem da língua inglesa

relacionando a contextos de estreita relação com a identidade dos educandos e sua

atuação no mundo. As DCEs - LEM (2008, p.55) postulam: “Todo o discurso está

vinculado à história e ao mundo social. Dessa forma, os sujeitos estão expostos e

atuam no mundo por meio do discurso e são afetados por eles”.

Reforça-se assim, a ideia do Inglês como língua de comunicação global, que se

reconstitui como parte da cultura de seus falantes nativos ou não-nativos, necessária

à construção da identidade enquanto ser social. Daí a importância de aprendê-lo e a

necessidade de atribuir sentido à sua aprendizagem, na tentativa de romper as

barreiras que o impedem de adquiri-lo, principalmente nas escolas públicas, que

atendem em sua maioria alunos menos favorecidos socialmente, com baixa

autoestima e desacreditados de seu potencial de aquisição dessa língua estrangeira.

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Fundamentação Teórica

A Língua Inglesa, nos ditames dos avanços tecnológicos e acesso às

informações advindas de um mundo dirigido sob a integração de saberes cada vez

mais acelerados, no sentido econômico, social, político e cultural, tem seu papel de

destaque por ser a língua que favorece este intercâmbio com outras culturas e

formas de constituição social. Segundo Motta-Roth (2003), a respeito das

considerações de Chouliaraki e Fairclough (1999)3:

Quando o conhecimento sobre uma prática torna-se parte significativa do nosso engajamento nessa prática, ele nos possibilita construir uma teoria local sobre essa dinâmica. Como consequência, adquirimos ‘reflexividade’, a capacidade de usar o conhecimento sobre esse processo, para alterá-lo e adaptá-lo a novos contextos. (p. 285, grifo do autor)

É necessário chamar a atenção para a necessidade de desmistificar a visão

de Língua Inglesa como língua estrangeira que carrega em si a cultura do outro, não

pertencendo à realidade do aluno e desenvolver no educando um melhor

entendimento a respeito da realidade que o cerca, de forma crítica e reflexiva.

Sarmento (2004) afirma:

O entendimento dos aspectos relacionados à cultura, principalmente as ‘pistas de contextualização’ (GUMPERZ, 1982) 4 são de fundamental importância para a realização de uma comunicação de sucesso entre pessoas pertencentes a diferentes comunidades linguísticas. A sensibilização do aprendiz para a cultura invisível de sua própria comunidade e para as de outras culturas é, no meu entender, uma necessidade para que tenhamos alunos competentes comunicativamente. p.8, grifo do autor).

E daí a indispensabilidade de estimular, em relação à Língua Inglesa, a

curiosidade do educando. Tal curiosidade é parte integrante da vida quando,

segundo Freire (1996), se apresenta como “inquietação indagadora, como inclinação

ao desvendamento de algo, como pergunta verbalizada ou não, como procura de

esclarecimento, como sinal de atenção que sugere alerta” (p. 32).

3 CHOULIARAKI, L. & N. FAIRCLOUGH. (1999). Discourse in late modernity: Rethinking critical discourse analysis. Edinburgh: Edinburgh University Press. 4GUMPERZ, J. J. (1982) Discourse strategies Cambridge: Cambridge University Press.

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A isso se deu a construção do projeto PDE desta autora, voltado à

necessidade de adaptação do homem moderno ao que chamamos diversidade de

ideias, advindas de diferentes modelos de sociedade, constituídos sob o foco de

suas identidades culturais que se misturam ao que chamamos de era da

globalização. Isto porque, no mundo atual, ater-se a uma cultura única é sujeitar-se

a um sério risco de alienação. Sarmento (2004), sobre as observações de Erickson

(1997)5, afirma:

[...] todas as pessoas são multiculturais, possuindo uma diversidade cultural. É impossível para indivíduos que crescem em uma sociedade complexa contemporânea não adquirirem vários tipos de cultura-ferramentas que podem ser usadas em diferentes ocasiões; ferramentas que, em parte, capacitam e limitam as atividades nas quais são usadas. (SARMENTO, 2004, p.7).

Dessa forma, fica pertinente o uso de artifícios para se estabelecer relações

entre essas pessoas em seu mundo. E aí entra o papel fundamental da linguagem

propriamente dita, ou aqui, mais especificamente, da língua inglesa, uma vez que é

ela que irá estabelecer este elo. Atentamos para a necessidade de se adequar o

ensino da Língua Inglesa às exigências da contemporaneidade. Rajagopalan (2003)

considera:

[...] nós, linguístas devemos, com urgência, rever muitos dos conceitos e das categorias com os quais estamos acostumados a trabalhar, no intuito de torná-los mais adequados às mudanças estonteantes, principalmente em nível social, geopolítico, e cultural, em curso neste início de milênio. (RAJAGOPALAN, 2003, p.25).

Nisso fundamenta-se a importância de trazer para a sala de aula conteúdos

que vão além dos conceitos isolados de gramática e vocabulário, agregando ao

ensino da Língua Inglesa o conjunto de significados que a mesma engloba no que

diz respeito à natureza de seus falantes. Remete-se aqui ao estudo dos aspectos

culturais que envolvem não apenas os países em que se utiliza a língua inglesa

como primeira língua, mas também os que a utilizam como língua estrangeira, no

sentido de proporcionar aos nossos educandos maiores condições de interagir com

o mundo que o cerca. Segundo Rajagopalan (2003):

5ERICKSON, F. (1997).Culture in society and in educational practice. In J. Banks & C. Banks (Eds.), Multicultural education: Issues and perspectives, 3rd ed. Boston: Allyn and Bacon, 30-60.

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O destronamento da famigerada figura do falante nativo, junto com sua suposta competência linguística, significa, no entender de Davies (1989:169 6 , a possibilidade de pensar em metas mais razoáveis e exequíveis no ensino de línguas estrangeiras. Significa, antes de mais nada, que o verdadeiro propósito do ensino de línguas estrangeiras é formar indivíduos capazes de interagir com pessoas de outras culturas e modos de pensar e agir. Significa transformar–se em cidadãos do mundo. (RAJAGOPALAN, 2003, p. 70).

No contexto do ensino de uma Língua Estrangeira, acima referido, o autor

ainda propõe “[...] investir cada vez mais em estratégias de ‘empowerment’ –

providenciar melhores condições para enfrentar o adversário em seu terreno, em vez

de esconder-se por trás de uma muralha de autoisolamento.” (2003, p.62, grifo do

autor). Por adversário, entende-se aqui o desconhecido.

Ou seja, não se pode estabelecer acordos de forma amigável se não se

conhece as intenções do outro e os motivos que o levam a acreditar em certas

coisas e não em outras. Para isso, é preciso conhecê-lo e entender-se com esse

outro, e o que proporciona isso é a linguagem. Rajagopalan em relação à linguagem

afirma que:

[...] é a possibilidade, ou reconhecimento da possibilidade de que seja possível comunicar-se com o outro que nos leva a afirmar que falamos a ‘ mesma língua’[...] é o interesse, a disposição, a vontade, para interagir com os nossos vizinhos que nos dá a certeza de que falamos a mesma língua. (RAJAGOPALAN, 2003, p.90, grifo do autor)

Tal interesse se estabelecerá a partir do diálogo com outras culturas, nos

termos das competências interculturais, que segundo Motta Roth(2002):

[...] são habilidades em sustentar a comunicação com o Outro que parte de sistemas de referências diferentes dos nossos. Esse tipo de competência nos possibilita vislumbrar como textos e contextos interagem dialeticamente de maneiras variadas em grupos sociais diferentes, de tal modo que possamos refrear a tendência em resistir ao diferente ou aderir ao estrangeiro sem qualquer criticidade. (MOTTA ROTH, 2002, p. 295).

Nesse intuito é que se desenvolveu este Projeto de Intervenção, buscando o

despertar da possibilidade de diálogo entre culturas, que permitirá aos seus

interlocutores, sob o prisma de uma visão crítica, reconstruir sua própria identidade,

6DAVIES, Alan. Communicative competence as language use. Applied Linguistics, vol.10, p. 157-170,

1989.

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a partir da troca de conhecimento levando em conta a bagagem cultural, advinda de

sua própria cultura. Sendo assim, para Rajagopalan (2003),

[...] acredita-se, em larga escala, que as identidades estão, todas elas, em permanente estado de transformação, de ebulição. Elas estão sendo constantemente reconstruídas. Em qualquer momento dado, as identidades estão sendo adaptadas e adequadas às novas circunstâncias que vão surgindo. A única forma de definir uma identidade é em oposição a outras identidades em jogo. (RAJAGOPALAN, 2003, p. 71).

Só há mudança de comportamento frente à aquisição de novos saberes. Ou

seja, pode-se desmistificar o conceito de cultura, por exemplo, quando se busca

conhecer as razões de sua existência. E, em se tratando da aprendizagem de uma

nova língua, pode-se considerar que esta “[...] deixa de lado suas supostas

neutralidade e transparência para adquirir uma carga ideológica intensa, e passa a

ser vista como um fenômeno carregado de significados culturais.” (PARANÁ, 2008,

p. 55)

Sob esse prisma, o ensino da Língua Inglesa deve ter seu foco na interação

entre os seus aprendizes, de forma que eles consigam atribuir sentido à sua

aprendizagem, como propósito comunicativo e de representação do mundo cultural

que o cerca. Como consequência, a aquisição de consciência crítica a respeito da

função da LI enquanto prática social e a compreensão da “[...] diversidade linguística

e cultural, bem como seus benefícios para o desenvolvimento cultural do país”.

(PARANÁ, 2008, p.56). Assim, de acordo com Gimenez (2008, p.1),

“Alternativamente podemos pensar que a aula de língua estrangeira possibilita uma

compreensão de cultura enquanto normas de interpretação de sentidos, que são,

inevitavelmente, historicamente situadas”.

Elucidando o fato de que a Língua Inglesa não pode mais ser vista como a

língua que carrega, em si, somente a cultura do seu falante nativo, mas a cultura de

todos os seus falantes é preciso que a interculturalidade seja praticada. Ou seja, faz-

se necessário a integração entre os povos, visando o acesso ao conhecimento de

sua realidade, para que esta seja respeitada em sua diversidade. Vale lembrar que o

respeito à diversidade, inclusive cultural é um fator explicitamente exigido pela

sociedade atual. Motta Roth (2003) considera:

Assim, ensinar língua estrangeira sob uma perspectiva intercultural pressupõe educar professores e alunos para analisarmos estereótipos

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culturais e vermos diferenças e conflitos como condições do mundo atual a partir de uma base paritária, ao invés de reforçar o mito do ‘falante nativo’. (MOTA ROTH, 2003, p. 286).

Em contrapartida ao descaso com a qual a aprendizagem da Língua Inglesa é

vista pelos alunos, e até mesmo por alguns professores de outras disciplinas, talvez

por falta de consciência dos significados em termos de formação para uma

cidadania crítica e atuante na sociedade, é que se dá a relevância de uma

abordagem mais abrangente de ensino, agora voltada às possíveis gamas de

conhecimento que a mesma pode proporcionar aos indivíduos que dela se utilizam

de forma crítica e consciente.

Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia, considera que: “é

pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a

próxima prática” (1996, p.39). E, tendo em vista a desmotivação acentuada que se

observa sobre o ensino-aprendizagem da Língua Inglesa nas escolas, resultante do

foco na reprodução descontextualizada de sua estrutura, fica clara a necessidade de

se pensar em novas práticas, de modo a constituir um ensino voltado mais à

formação do educando como um todo. Ao que Paulo Freire (1996) afirma:

Uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições necessárias em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se enquanto ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. (FREIRE, 1996, p. 41).

O fato é que o ensino-aprendizagem da Língua Inglesa precisa exercer sua

função de formar cidadãos com consciência crítica em relação a si mesmo e ao

outro, e é no contato com esse outro que se dará essa formação, proporcionada

pela troca de experiência e aquisição de conhecimento mútuo.

Aprender uma língua nessa perspectiva é aprender a significar nessa nova língua e isso implica entrar em relação com outros numa busca de experiências profundas, válidas, pessoalmente relevantes, capacitadoras de novas compreensões e mobilizadoras para ações subsequentes. Aprender LE assim é crescer numa matriz de relações interativas na língua-alvo que gradualmente se desestrangeiriza para quem a aprende. (ALMEIDA FILHO, 1993, p.15).

Nesse sentido, viabilizar ao educando um ensino aprendizagem que permite a

troca de experiências e o conhecimento de mundo é motivá-lo a apropriar-se dos

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conteúdos pertinentes à disciplina de Língua Inglesa, uma vez que o domínio destes

facilitará sua inserção no mundo atual, com condições maiores de participação

social. E daí a necessidade de ressignificar seus métodos e formas de abordagens

com vista a essa inserção. Sem deixar de considerar a afirmação de Paulo Freire,

(1996, p. 41): “A ascensão de nós mesmos não significa a exclusão dos outros”. Ou

seja, para comunicar-se com o outro, é preciso, antes de tudo, conhecê-lo, para

respeitá-lo em sua individualidade. Nisso reside o papel do educador no ensino-

aprendizagem da Língua Inglesa, de entender que:

[...] ensinar e aprender língua é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, indiferente do grau de proficiência atingido. (PARANÁ, 2008, p.55).

Sob esse enfoque, faz-se agora uma nova leitura sobre o propósito do ensino

da Língua Inglesa, o de abordá-la como objeto de auxílio para construção de

identidade, atribuindo mais sentido à sua aprendizagem, propondo conteúdos mais

significativos, como os voltados à diversidade cultural que envolve seus falantes.

Metodologia da Intervenção Pedagógica

O Projeto de Intervenção Pedagógica supracitado foi construído sob a

perspectiva da abordagem comunicativa, proposta pela DCEs de Língua

Estrangeira. Tal abordagem propõe o uso de conteúdos significativos que promovam

“experiências válidas de formação e crescimento intelectual” (ALMEIDA FILHO,

1993, p.37) do aprendiz.

Nesse sentido, foram propostas atividades que levaram os alunos a refletir

sobre a presença da língua inglesa no seu cotidiano e, por isso, presente em sua

cultura e participante da construção de sua identidade.

Partindo desse contexto, os alunos conheceram um pouco da cultura de

alguns países que tem a Língua Inglesa como língua materna, língua franca e língua

estrangeira, e assim entenderam o contexto cultural e particular de cada um,

deixando de lado o individualismo para atuar no coletivo, estabelecendo reflexões

críticas e embasando-se em diferentes visões, a partir da interação com outros

grupos e diferentes formas de vida. Ao ver na língua inglesa o passaporte para essa

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interação com o mundo, eles perceberam a importância de aprendê-la, e mais que

isso, sentiram gosto em aprender uma nova língua e, através dela, conhecer outras

formas de vivências.

Na busca pelo desenvolvimento das quatro habilidades (Reading, Writing,

Listening, Speaking), foram realizadas atividades de pesquisa, leitura e

compreensão de textos orais e escritos, materiais audiovisuais, exercícios diversos

envolvendo o tema proposto, e dinâmicas de grupo que, por sua vez, foram

enfatizadas de modo a promover o diálogo e a socialização dos aprendizes, a troca

de experiências, bem como a aprendizagem.

Os materiais de apoio utilizados foram: computador (laboratório de

informática) para pesquisa, projetor, aparelho de som, cartazes, livros, dentre outros.

A avaliação se deu a partir da realização das atividades propostas em sala de

aula, possibilitando, assim, a interação, mediação e evolução da aprendizagem de

forma a haver simultaneidade entre o ensinar e o aprender, conforme previsto nas

DCEs- LEM: “a avaliação deve possibilitar o trabalho com o novo, numa dimensão

criadora e criativa que envolva o ensino e a aprendizagem” (PARANÁ, 2008, p.31).

Assim, a avaliação adotada no Projeto pautou-se nas DCEs, que afirmam:

[...] o verdadeiro sentido da avaliação: acompanhar o desempenho no presente, orientar as possibilidades de desempenho futuro e mudar as práticas insuficientes, apontando novos caminhos para superar problemas e fazer emergir novas práticas educativas (LIMA, 20027, apud PARANÁ, 2008, p. 31.)

Diante da possibilidade de construção evolutiva da aprendizagem, foi possível

observar os resultados da intervenção no decorrer de todo o processo Assim, a

avaliação adotada em todo o trabalho foi a que se apresenta de maneira gradativa e

contínua.

Intervenção Pedagógica, GTR e Análise dos Resultados

Frente ao perfil que apresenta a nova geração de estudantes que hoje fazem

parte de nossa realidade enquanto educadores, advindos das transformações que

configuram a sociedade contemporânea e globalizada em que estão inseridos, o

ensino aprendizagem não pode mais ficar restrito a um pensamento único e limitado

7 LIMA, E. S. Avaliação na escola. São Paulo: Sobradinho 107, 2002.

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ao ditame de regras descontextualizadas que levam a um ensino desvinculado do

acesso às informações e conhecimento de mundo. Um ensino por vezes pautado na

visão estereotipada de que se aprende Inglês por imposição econômica dos Estados

Unidos, e que por isso não há sentido em aprender essa língua.

É emergente a necessidade de encontrar meios de mudar essa visão, sob o

risco de as aulas de língua inglesa tornarem-se cada vez mais obsoletas. Nesse

contexto, cabe aos professores oferecer aos alunos novas possibilidades de

aprendizagem voltadas à sua inserção social como cidadãos atuantes, capazes de

comunicar-se com outras realidades e entender outros valores.

É válida a afirmação de que “é preciso chegar aos nossos alunos, ao invés de

esperar que eles cheguem até nós” (RAJAGOPALAN, 2003, p. 11). É preciso, cada

vez mais, suscitar nos educandos o desejo de aprender, indo ao encontro de seus

anseios e preparando-os para a vida em sociedade.

Sob o viés dessa discussão surge a ideia de voltar o ensino da língua ao

contexto da diversidade cultural em que essa língua se insere. Essas ideias surgem

da necessidade de desenvolver em nossos educandos o gosto real pela

aprendizagem da língua inglesa, elevando sua autoestima e despertando-os para a

importância de aprendê-la, ao perceberem-se capaz de utilizá-la para comunicar-se

e conhecer outros mundos, outras culturas.

A produção didático-pedagógica referida neste artigo trata da presença do

inglês no vocabulário e cultura do aluno, da importância de aprendê-lo, além de

fazer apontamentos sobre sua origem e sua influência para o mundo global e

contemporâneo, ampliando, com isso, as discussões sobre aspectos culturais e

algumas especificidades dos países que utilizam inglês.

Para melhor organização da produção didático-pedagógica, optou-se pela

divisão da mesma em duas unidades, sendo a primeira intitulada “English All

Around”, e a segunda “Culture All Around”. Em ambas, houve a preocupação

constante em diversificar as atividades, buscando ofertar aos alunos várias

possibilidades de se aprender inglês de forma natural e dinâmica e, com isso,

desmistificar um conceito muito característico entre eles, de que as aulas de inglês

são chatas, sem sentido, maçantes, com conteúdos de difícil compreensão, entre

outras visões comuns com as quais os professores de inglês se deparam no dia-a-

dia.

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Ao iniciar a realização das atividades da produção didático-pedagógica, os

alunos responderam um questionário, no qual fizeram alguns apontamentos sobre o

ensino-aprendizagem da língua inglesa. Ao final de todo o trabalho com as

atividades, os mesmos responderam o questionário novamente. Foi possível

observar que as respostas foram bem mais completas e significativas neste segundo

momento, deixando claro que o conhecimento e as mudanças de comportamento

em relação ao ensino aprendizagem da língua inglesa foram significativos e

positivos após a aplicação do projeto.

Após o preenchimento do questionário, na segunda aula, os alunos

estudaram a música Samba do Approach (composição de Zeca Baleiro), onde

começaram a associação língua e cultura, uma vez que foi trabalhado o fato de esta

ser uma música brasileira, mas com vocábulos em inglês, o que explica a

possibilidade de aprender outra língua e utilizá-la no dia-a-dia, sem necessariamente

modificar gostos, hábitos ou costumes, sem menosprezar o estilo de vida e a cultura

própria, conforme objetivo, previsto para o projeto, de promover a valorização da

própria cultura através da contextualização das diversas culturas.

Em seguida passou-se ao estudo sobre Why it is important to learn English

(Porque é importante aprender inglês). A partir de frases que foram interpretadas e

socializadas com os colegas, os alunos contribuíam com opiniões sobre o assunto

em estudo, promovendo com isso a socialização de ideias e a absorção do

conteúdo. Já nesse momento, foi possível perceber uma mudança de postura dos

alunos em relação à aula, demonstrando maior envolvimento e entusiasmo em

aprender.

Outro fator de grande valia e que provocou um despertar para a

aprendizagem do inglês foi o passeio pela cidade a fim de encontrar palavras em

inglês em nosso meio. Foi muito interessante observar a fisionomia de espanto

diante de cada placa, de cada produto, das propagandas que os alunos

encontravam em inglês durante a atividade. Eles fotografavam e não se cansavam

de admirar. Ver os alunos percebendo o quanto o inglês já faz parte da sua cultura

foi muito compensatório e gratificante.

Conforme as considerações de Rajagopalan (2003, p.59), “Estamos vivendo

na era da informação – hoje somos o que sabemos. E a linguagem está no epicentro

deste verdadeiro abalo sísmico que está em curso na maneira de lidar com as

nossas vidas e nossas identidades”. Nesse contexto, foram realizadas também

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atividades referenciando o inglês na internet, fato já mais conhecido pelos alunos,

uma vez que são da geração da informática, ressaltando a importância do inglês

para o acesso a informação.

Após breve estudo sobre a origem da língua inglesa, os alunos tiveram

acesso à listagem dos países em que se usa o inglês, pesquisando em quais deles a

língua é falada como primeira língua, segunda língua ou língua internacional, bem

como a bandeira que representa cada um deles. Antes que se entrasse na questão

da diversidade cultural que os envolvem, entendeu-se necessário trabalhar o

conceito de cultura propriamente dito, levando os alunos, a partir destas reflexões, a

posicionarem-se criticamente, sendo capazes de formular seus próprios conceitos

de cultura.

A partir do entendimento do que é cultura, bem como sua importância na

construção de sua identidade, passou-se ao estudo dos aspectos culturais

relacionados aos países falantes da língua inglesa a partir de textos e atividades

diversificadas e dinâmicas. Possibilitou-se a comparação entre as culturas

estudadas, contracenando com a cultura dos alunos, de forma a promover a

interculturalidade.

Ao longo das aulas foi sempre reforçado que é preciso conhecer para

valorizar, respeitar para ser respeitado e entender a especificidade de cada país,

valorizando a cultura própria uma vez que uma não é melhor ou pior que a outra,

apenas diferente, e que é possível agregar à cultura de cada um o que se

considera relevante na cultura do outro. Entretanto, não é preciso necessariamente

mudar o próprio modo de ser por adquirir, ou conviver, com outra língua e sua

cultura. Além disso, é possível utilizá-la para ter acesso a outros mundos e ampliar

o conhecimento que se tem dele.

Entre os objetivos propostos na produção didático-pedagógica que

contempla este projeto PDE, está o de fornecer subsídios para que os alunos

compreendam as diferenças culturais como forma de enriquecer seu conceito de

cultura, compreendendo sua diversidade, a fim de promover a humanização,

sensibilização e respeito à identidade cultural de cada um, despertando com isso, o

desejo de aprender a língua inglesa sendo essa o veículo de acesso dos

educandos ao conhecimento do mundo. Tal objetivo foi alcançado no decorrer

desta implementação pedagógica onde percebeu-se ser possível tornar o ensino de

língua inglesa na escola pública uma ferramenta de promoção de cidadania.

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A cada texto compreendido, a cada atividade, via-se aumentar mais e mais o

interesse dos alunos pelas aulas, a compreensão da língua estava mais fácil a ponto

de festejarem quando, em contato com o texto sobre a cultura do Brasil.

conseguiram entender a mensagem do mesmo, o significado das palavras, sem o

auxílio do dicionário. Houve entre eles comentários do tipo: “Antes eu não gostava

de inglês. Agora estou entendendo o conteúdo. Faz sentido pra mim. É interessante”

e “Eu me esforço em entender o que está escrito porque descubro coisas novas

sobre as diferentes culturas...”

Ao pesquisar sobre sua própria cultura, também aconteceram descobertas

interessantes. Temos alunos das mais variadas etnias em sala de aula, e estes

agora se percebem diferentes um dos outros com hábitos nem sempre tão iguais,

uma vez que são herdados de seus ancestrais, mesmo que morando em um mesmo

país, convivendo em um mesmo grupo. Isso fez com que aumentasse o respeito

pelas diferenças culturais e a proximidade entre eles, bem como a valorização de

sua própria cultura.

Outro fato interessante foi a entrevista com os professores que já viajaram a

passeio ou moraram em outros países. O relato dos entrevistados avivou neles o

desejo de conhecer outros lugares, outras culturas. Fatos até então desconhecidos

pelos alunos foram relatados pelos palestrantes, e isso fez com que entendessem a

necessidade de conhecer, estudar, ouvir.

Entre os palestrantes, um professor de inglês e ex-aluno do Colégio em que o

projeto foi aplicado, um ex-seminarista que, com esforço e dedicação aos estudos,

realizou o sonho de viajar para outros países e morar nas Filipinas por dois anos e

outro professor universitário e proprietário de uma escola de Inglês. O primeiro

comentou sobre a dificuldade de se comunicar pela falta do inglês, pois chegou às

Filipinas sem saber a língua inglesa e isso tornou sua adaptação mais difícil. Ele

afirmou: “Quanto mais se sabe inglês, mais longe se vai”. Já o segundo salientou

que a oportunidade de conhecer outros países, outras culturas, deu-se “graças

unicamente aos seus estudos e domínio da língua inglesa”, que considera seu

passaporte para o mundo.

A vida destes jovens se aproxima muito da realidade de nossos alunos, e o

fato de terem estudado na mesma escola dos ouvintes deu a eles uma injeção de

ânimo, uma vez que se identificaram com suas histórias de vida, entendendo que

viajar, conhecer e relacionar-se com outras culturas é possível a qualquer pessoa

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que busca o conhecimento. Os educandos perceberam que os sonhos são possíveis

quando se acredita e dedica-se para sua realização.

O projeto como um todo levou os discentes a perceberem um mundo maior,

além do lugar onde moram. Todos são interioranos, moram em uma cidade de

pouco mais de doze mil habitantes, e quase nunca tem a oportunidade de viajar,

conhecer outros lugares e menos ainda outros países. Assim, levar para a sala de

aula um pouco que seja deste mundo ‘distante’, através de imagens, vídeos,

fotografia e experiências de pessoas que já viveram em outros lugares, representou

levar também ânimo, esperança, desejo de crescer e, acima de tudo, possibilidades

de realizar sonhos. Foi como viajar sem sair de casa.

À medida que a aplicação do projeto ia avançando mais se via a mudança de

postura dos alunos em relação às aulas, tornando-se mais dedicados e

participativos. Preocupavam-se em pesquisar em casa curiosidades culturais e

trazer para a sala de aula. A exemplo, o pai de um deles havia viajado para alguns

países da Europa a trabalho e disponibilizou fotos que retratavam a cultura desses

países para o filho trazer para a sala e dividir as novidades com os colegas, o que

contribuiu para o enriquecimento deste trabalho. Quando, diante da visão de alguém

tão próximo que, devido às exigências do seu trabalho, precisou estudar inglês para

relacionar-se comercialmente com outros países, os alunos perceberam ainda mais

a importância de dominar a língua em si, e o vasto mundo que se apresenta como

consequência, desse estudo. Comentavam: “Este senhor mora na mesma cidade

que nós, foi aluno como nós e hoje tem acesso a um mundo bem maior através do

inglês que aprendeu.”

Durante a aplicação do projeto foram propostas atividades que fugiam das

aulas monótonas e tradicionais do dia a dia dos alunos, entre elas, destaca-se a

dinâmica para fixação do conteúdo sobre as origens de algumas comidas e bebidas

que fazem parte dos nossos hábitos, mas muitas são de origem desconhecida.

Palavras referentes às comidas e bebidas de origem estrangeiras foram colocadas

em uma caixa que rodava entre os alunos ao som de uma música. Quando a música

parava, o aluno que estava com a caixa tirava uma palavra e respondia de que país

era originária. Percebeu-se, com essa ação, a importância de criar estratégias que

despertem de fato o interesse do aluno em aprender e deixem a aula de LE mais

atrativa e produtiva.

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Já a pesquisa realizada pelos alunos sobre suas origens oportunizou uma

aproximação maior entre eles, que adquiriram consciência de que a diversidade está

dentro da própria sala de aula e que este é o melhor lugar para se conhecer as

diferenças de culturas e aprender a respeitá-las. Foram descobertas interessantes.

Há alunos de descendência síria, grega, italiana, indígena, alemã, entre outras até

então ignoradas pelos colegas. O conhecimento do outro possibilitou estreitar os

laços de amizade entre o grupo.

A proposta para finalização do projeto de intervenção pedagógica foi a

apresentação de duas músicas que passam a mesma mensagem em diferentes

palavras: Together, de Bob Sinclair e Imagine, de John Lennon. Ambas foram

trabalhadas no intuído de desconstruir estereótipos e o preconceito em relação à

diversidade cultural que muitas vezes é motivo de conflitos entre os povos. As

músicas trazem uma mensagem de união, paz, igualdade e respeito às diferenças

culturais, sensibilizando o aprendiz para as possibilidades de um mundo melhor,

mais humano, onde as opiniões, valores e crenças são respeitados, onde a paz é

possível.

Vale ressaltar que os alunos sentiram-se entusiasmados em fazer parte deste

mundo como cidadãos portadores de cultura própria e capazes de assimilar a cultura

do outro através da linguagem. Foi nítido o entusiasmo em aprender a melodia da

música Imagine, que foi apresentada à comunidade escolar em momento oportuno.

Com isso os alunos demonstraram a possibilidade de aprender a língua e

contextualizar sua aprendizagem, produzindo sentido nas relações com o outro e no

contato com a língua em si, estabelecendo relações entre identidade, língua e

cultura, na prática da interculturalidade. Foi possível com esta atividade, partilhar

ideias com os demais membros da comunidade, socializar o aprendizado, e ainda

exercitar o uso da língua em si.

Ainda em relação às atividades propostas pelo PDE, desenvolveu-se o GTR,

que se constitui em um grupo de trabalho em rede oferecido aos professores da

rede pública do Paraná, que oportuniza a interação entre professores PDE e demais

professores da rede pública de ensino. Neste curso, foram compartilhadas

experiências relativas ao projeto relatado nesse artigo. Tal GTR foi composto por

três módulos. O primeiro tratou de um aprofundamento teórico sobre o tema de

pesquisa: diversidade cultural. O segundo promoveu a socialização e a reflexão das

produções elaboradas no Projeto de Intervenção Pedagógica e na Produção

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didático-pedagógica. O terceiro propiciou a análise da implementação do projeto de

intervenção, avaliando em que medida os procedimentos previstos são possíveis de

serem concretizados na realidade do ambiente educacional de cada professor

participante. Houve assim, uma intensa socialização de práticas pedagógicas.

Considerando o exposto, acrescido ao relato dos professores cursistas, é

possível afirmar que foi nítida e de grande valia a troca de experiências, de

sugestões, de contribuições, de indicações de leitura propostas pelos professores no

decorrer do GTR. Isso em muito colabora com a melhoria de nossa prática em sala

de aula, enquanto profissionais do ensino da língua inglesa, considerando que o

trabalho coletivo fortalece ideias e favorece o surgimento e aprimoramento das

mesmas.

As sugestões dadas pelos cursistas foram desde suporte teórico até ideias

novas para ampliar as atividades em relação ao tema proposto, aguçando o desejo

de buscar cada vez mais a melhoria do ensino-aprendizagem que se oferta na

escola.

Uma das sugestões interessantes que surgiram no GTR foi de os professores

de inglês se empenharem mais em reunir-se em suas escolas para produzir

atividades adequadas à realidade de seus alunos. Segundo uma professora, sobre a

produção didático-pedagógica, “As atividades visam criar um ambiente agradável e

efetivo de aprendizagem, um desafio aos dias de hoje”. Ainda, na fala de outra

participante, “realmente o projeto propõe e sugere diferentes atividades nas quais os

alunos desenvolvem a sua criticidade”.

Considerando as afirmações acima e as demais interações realizadas no

Grupo de Trabalho em Rede, acredita-se que o projeto tenha contribuído para a

prática pedagógica dos docentes que dele se apropriaram. As avaliações feitas

pelos professores participantes nos diários e fóruns foram um estímulo a mais para a

efetivação do projeto, além de reforçar o entendimento de que o tema abordado

favorece a aprendizagem e a aquisição da língua e sua função social. Segundo eles,

a forma que está organizada a produção didática colabora para que os alunos

sintam-se estimulados e capazes de conhecer e aprender a língua inglesa cada vez

mais.

Considerações Finais

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Não há como negar que cada vez mais estamos submersos em um mundo

onde limitar-se à aceitação de uma única cultura, uma única linguagem, é alienar-se

diante dele. Nesse espaço globalizado, há uma diversidade de culturas, que se

misturam e interagem entre si no exercício da interculturalidade, que é favorecido

pela linguagem, em especifico a língua inglesa, considerada hoje a língua de

intercâmbio cultural e de acesso ao conhecimento.

O trabalho com a diversidade cultural nas aulas de língua inglesa, proposto no

projeto de pesquisa relatado neste artigo, proporcionou o descortinamento de um

mundo até então ignorado por nossos alunos, considerando sua realidade. As

atividades propostas produziram conhecimento a respeito do tema e,

consequentemente, promoveram a conscientização do meio em que cada um

constrói sua própria identidade, pautada em inúmeras diferenciações a que

nomeamos cultura e as especificidades de cada indivíduo, desconstruindo

estereótipos.

Ao longo do trabalho, percebeu-se a evolução dos alunos e o despertar do

interesse pelas aulas de Língua Inglesa, que, com entusiasmo, conheceram as

diferenças culturais que circundam o mundo a que pertencem, e ainda perceberam a

presença do inglês em seu cotidiano, entendendo-o como parte de sua cultura e,

assim, prestaram mais atenção à presença do inglês ao seu redor, nos produtos,

nas marcas e na mídia, adquirindo condições de aceitar e entender a necessidade

de aprendê-lo.

Constatou-se, ainda, que práticas educativas diferenciadas, em consonância

às reais necessidades de aprendizagem dos alunos, que satisfazem sua curiosidade

em relação aos desafios sociais, suscitam no educando o desejo de aprender, sendo

uma ferramenta facilitadora do professor no alcance de seus objetivos de ensino.

Vê-se, nessa perspectiva de ensino, uma alternativa a mais que pode

contribuir para a formação social crítica e cultural de nossos educandos. É, acima de

tudo, uma possibilidade de contextualização para o ensino de línguas e uma

possibilidade de inserção social. Bem questionou Freire (1996, p. 76): “Como ser

educador, sobretudo numa perspectiva progressista, sem aprender, com maior ou

menor esforço a conviver com os diferentes?” A diversidade, de todas as espécies,

está cada vez mais presente em nosso meio e é necessário que se esteja preparado

para aprender e ensinar com ela. Nisso consolida-se a ideia de união, solidariedade

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e humanização, tão necessárias à prática pedagógica principalmente dos

professores de LI.

Ao término dessa experiência desafiadora proposta pelo PDE, cabe externar

que valeu a pena, pois foram dias de estudos extensos e intensos, interações com

docentes e discentes que em muito contribuíram na formação almejada.

Por fim, diante das dificuldades enfrentadas por todos no cotidiano em sala de

aula, espera-se que o trabalho apresentado represente um incentivo e uma opção a

mais para todos os docentes de Língua Inglesa que buscam uma aprendizagem

efetiva de seus educandos, e que o resultado seja o aumento significativo de alunos

dedicados e, acima de tudo, interessados nas aulas de Língua Inglesa.

Referências

ALMEIDA FILHO, J.C.P Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas. Campinas: Pontes, 1993.

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GIMENEZ, T. Eles comem cornflakes, nós comemos pão com manteiga: espaços para reflexão sobre cultura na aula de língua estrangeira. In: Encontro de Professores de Línguas Estrangeiras, 9, Londrina, 2002. Anais. Londrina. APLIEPAR, 2002. P. 107-114.

MOTTA-ROTH, D. (2003) Competências Comunicativas Interculturais no Ensino de Inglês como Língua Estrangeira. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, RS, p. 285-300.

PARANÁ, Diretrizes Curriculares para o Ensino de Língua Estrangeira Moderna. SEED – Secretária de Estado de Educação. Curitiba, 2008.

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SARMENTO, Simone. Ensino de Cultura na Aula de Língua Estrangeira. Revista Virtual de Estudos da Linguagem – Revel. V.2, n.2, março de 2004. Disponível em: http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_2_ensino_de_cultura_na_aula_de_lingua_estrangeira.pdf Acesso em 3 de maio de 2014.