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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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Autor: Ademir Lucchetti

Disciplina/Área: Educação Física

Escola de Implementação

do Projeto e sua localização:

Colégio Estadual José de Anchieta

Município da escola: Borrazópolis

Núcleo Regional de Educação: Apucarana

Resumo:

O artigo trata de uma reflexão sobre a importância do Tênis de Campo como um conteúdo possível para a Educação Física escolar, fundamentada na crítica da economia política. Sendo o Tênis de Campo pouco praticado nas escolas devido a varias questões, como: os professores não terem o acesso a este conteúdo na sua formação acadêmica, o preconceito de que este seria um esporte de elite e a falta da estrutura física e material oficial chegamos ao problema: por que o Tênis de Campo não é praticado nas escolas? Assim, foi delimitado o objetivo geral: desenvolver o ensino do conteúdo Esporte nas aulas de Educação Física a partir do tratamento pedagógico do Tênis de Campo; e os específicos: investigar e ensinar a história do Tênis de Campo; sistematizar e aplicar uma unidade didática relativa ao esporte Tênis de Campo; compreender criticamente o Tênis de Campo em suas determinações econômicas, políticas, sociais e pedagógicas; discutir as possibilidades de formação humana, biológica e cultural presentes no Tênis de Campo. Possibilitou-se aos alunos, através de aulas práticas, a iniciação e aprimoramento dos fundamentos deste esporte; e por meio de aulas teóricas, compreender a situação histórica do tênis, inserida num contexto social e econômico, discutindo diferentes formas de organização social; por meio de um campeonato interno à classe, obter noções de organização desportiva. Houve a participação de todos os alunos, ficando evidente a ótima aceitação e participação. Conclui-se que é viável desenvolver esta proposta, criando uma atitude de análise cientifica do capitalismo e orientada pela emancipação humana.

Palavras-chave: Tênis de Campo; Classes sociais; Emancipação Humana.

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TÊNIS DE CAMPO, HISTÓRIA E SOCIEDADE: uma abordagem

crítica nas aulas de Educação Física

Autor: Ademir Lucchetti1

Orientador: Fernando Pereira Cândido2

RESUMO

O artigo trata de uma reflexão sobre a importância do Tênis de Campo como um conteúdo possível para a Educação Física escolar, fundamentada na crítica da economia política. Sendo o Tênis de Campo pouco praticado nas escolas devido a varias questões, como: os professores não terem o acesso a este conteúdo na sua formação acadêmica, o preconceito de que este seria um esporte de elite e a falta da estrutura física e material oficial, chegamos ao problema: por que o Tênis de Campo não é praticado nas escolas? Assim, foi delimitado o objetivo geral: desenvolver o ensino do conteúdo Esporte nas aulas de Educação Física a partir do tratamento pedagógico do Tênis de Campo; e os específicos: investigar e ensinar a história do Tênis de Campo; sistematizar e aplicar uma unidade didática relativa ao esporte Tênis de Campo; compreender criticamente o Tênis de Campo em suas determinações econômicas, políticas, sociais e pedagógicas; discutir as possibilidades de formação humana, biológica e cultural presentes no Tênis de Campo. Possibilitou-se aos alunos, através de aulas práticas, a iniciação e aprimoramento dos fundamentos deste esporte; por meio de aulas teóricas, compreender a situação histórica do tênis, inserida num contexto social e econômico, discutindo diferentes formas de organização social; por meio de um campeonato interno à classe, obter noções de organização desportiva. Houve a participação de todos os alunos, ficando evidente a ótima aceitação e participação. Conclui-se que é viável desenvolver esta proposta, criando uma atitude de análise cientifica do capitalismo e orientada pela emancipação humana. Palavras-chave: Tênis de Campo; Classes sociais; Emancipação Humana.

1 Graduado em Educação Física pela FAFICLA, Professor PDE/Pr. Docente da Disciplina de

Educação Física do Colégio Estadual José de Anchieta de Borrazópolis - Paraná. 2 Mestre em Educação, Professor do Departamento de Estudos do Movimento Humano do

Centro de Educação Física e Esporte da Universidade Estadual de Londrina.

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1 Introdução

Neste artigo temos em vista tratar o Tênis de Campo nas aulas de

Educação Física como um conteúdo que possibilitará ao aluno refletir a

respeito do mundo em que vive, tendo condições de elaborar uma reflexão

articulada sobre as determinações econômicas, políticas, sociais e

pedagógicas relacionadas ao seu desenvolvimento humano e que delimitam

sua apropriação da cultura corporal em geral, e do Esporte em específico.

Também, intenta-se possibilitar sua formação e desenvolvimento quanto as

suas dimensões biológica e cultural.

Inicialmente, as preocupações que levaram a abordar tal tema de

ensino na Educação Física constituíram-se considerando as problemáticas que

envolvem o Tênis de Campo na Escola, tais como: a) Muitos professores de

Educação Física não têm acesso ao conhecimento do Tênis de Campo na sua

formação inicial; b) Professores e alunos pensam que o Tênis de Campo é de

difícil prática e acessibilidade, que os materiais esportivos não podem ser

adaptados visando à iniciação e vivência prática deste conteúdo; c) Mediante a

falta da quadra específica para o tênis não se identifica a possibilidade de

adaptar a quadra polivalente que permita aos alunos a prática do Tênis de

Campo; d) Na minha própria formação acadêmica e depois durante minha

experiência profissional, constatei que não tive nenhum estudo relativo ao

Tênis de Campo e muito menos a prática do esporte. Também observei,

durante o tempo em que atuo como professor no ensino regular e em

escolinhas de treinamento esportivo, que meus colegas de profissão não têm

acesso ao conhecimento específico desta modalidade; e) A falta de material

esportivo oficial do Tênis de Campo também se torna um entrave, juntamente

com a falta de estrutura física das escolas, para o seu ensino; f) O Tênis de

Campo é um esporte identificado como uma atividade da elite, pois

normalmente se conhece o mesmo com as características do esporte de alto

rendimento mostrado pela televisão em competições oficiais.

O professor de Educação Física é o responsável no processo ensino e

aprendizagem por orientar as atividades educativas, seja reproduzindo sem

questionamentos, ou pretendendo a emancipação dos alunos considerando o

contexto social e político. Dessa forma, durante as aulas as intervenções foram

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feitas tentando proporcionar aos estudantes o conhecimento científico que as

aulas de Educação Física podem ter como base.

Para exercer esse relevante papel educacional é necessário o domínio

do conteúdo específico que será transmitido e fará com que o educando reflita

e analise de forma contínua o processo de produção da existência humana.

Assim poderemos cumprir com rigor a nossa função social de professor de

Educação Física, contribuindo para uma transformação social positiva da

humanidade na direção de um mundo mais justo.

Para que isto aconteça, o ensino deve se guiar pela busca de uma

sociedade verdadeiramente livre, cada vez mais humana, com sujeitos

emancipados, isto é, indivíduos que participem ativamente do processo de

produção e controle da riqueza social. Assim, por meio de uma abordagem

metodológica historicizada e crítica, se pretende constatar na Educação Física

que qualquer indivíduo pode se apropriar de uma determinada produção

humana, o Tênis de Campo, e que o Esporte, na sua dimensão de jogo, pode

ser modificado pelo jogador de forma a atender as necessidades das pessoas

e não da instituição em que o jogo se converteu.

Com os estudos realizados no PDE, me deparei com problemas mais

amplos que motivaram a intervenção. No texto de Taffarel (1995) encontramos

questões como:

[...] formações econômicas que vão das primitivas sociedades tribais pré-capitalistas, até a forma mais adiantada do capitalismo imperialista, forma que busca sua hegemonia à custa da devastação do planeta e seus ecossistemas- natureza, social, psíquico. Segundo Hobsbawm (1992, p.144) ―[...] um mundo onde há desigualdades tão impressionantes e sempre crescentes não poderá se manter estável por muito tempo‖. Este momento histórico exige, de nossa parte, enquanto professores, educadores e cientistas, a responsabilidade de conhecermos e reconhecermos as possibilidades humanas de explicar e interferir nessa realidade.

Dessa forma, identifiquei a necessidade de difundir a prática do Tênis

de Campo e das demais modalidades esportivas, abordadas a partir da filosofia

ou da concepção do materialismo histórico de Karl Marx, de forma que o

Esporte, o Tênis de Campo e a Educação Física não fossem pensados em si

mesmos, mas enquanto construções históricas. Assim, o problema final

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formulado para o projeto foi: por que o Tênis de Campo não é praticado nas

escolas?

Frente a isto, se estabeleceu como objetivo geral: desenvolver o ensino

do conteúdo Esporte nas aulas de Educação Física a partir do tratamento

pedagógico do Tênis de Campo. Dada esta meta, chegou-se aos objetivos

específicos: a) Investigar e ensinar a história do Tênis de Campo de forma

dialética; b) Sistematizar e aplicar uma unidade didática relativa ao esporte

Tênis de Campo; c) Compreender criticamente o Tênis de Campo em suas

determinações econômicas, políticas, sociais e pedagógicas;

d) Discutir as possibilidades de formação humana, biológica e cultural

presentes no Tênis de Campo.

A Educação Física é importante para a sociedade, pois contribui para a

formação e o desenvolvimento humano utilizando como conhecimento

pedagógico a cultura corporal. Os alunos da rede pública, em minha realidade,

não tiveram a oportunidade de aprender esta modalidade esportiva, o Tênis de

Campo, pois ela é vista como um esporte para ricos, de difícil acesso devido ao

alto custo dos materiais e à falta de estrutura física nas escolas para sua

introdução. Até onde conhecemos, esta modalidade é ensinada/praticada em

poucas escolas públicas do Paraná, apesar de ser encontrada como conteúdo

nas Diretrizes Curriculares Estaduais de Educação Física (PARANÁ, 2008). As

Diretrizes (Idem, Ibidem) destacam a utilização de diversos esportes e

alternativas para os conteúdos na prática pedagógica dos professores, porém

ressaltam que mudar os conteúdos pode gerar uma sensação de desconforto,

uma vez que nos deparamos com o novo, com o não experimentado, com

aquilo que não é esquemático, articulando o novo ao velho, o tradicional ao

inovador, sem ferir as práticas e experiências de todos os envolvidos no

processo de formação.

Quando uma proposta esportiva é inserida em determinada escola, não se deve prescindir da referência da cultura escolar de sua inserção. O Tênis está inserido na busca de uma adequação que o popularize como um jogo e que dê preponderância aos benefícios sociais do lazer, ampliando assim a perspectiva de inclusão social na cultura escolar (DIAS; RODRIGUES, 2009, apud SOUZA; MARTINS JÚNIOR, 2010, p.1).

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O Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE veio para tentar

solucionar estes problemas ou ausências nas nossas escolas, fomentando

mais reflexões e práticas de forma que professor e aluno se situem mais

criticamente e entendam o mundo que os rodeia.

2 Educação: emancipação humana ou reprodução do capitalismo

Esta é uma proposta diferente de abordagem do Tênis de Campo.

Além dos fundamentos técnicos e táticos do desenvolvimento das habilidades

de jogar e das adaptações de cunho físico e material que possibilitem a sua

prática, buscamos uma compreensão histórica do que é o Esporte em sua

relação com a sociedade, a economia e a cultura, discutindo escolhas e

posições políticas e suas consequências para formação humana do aluno.

Nesse sentido, esclarecemos no primeiro momento o que entendemos por

educação.

Baseamo-nos em Tonet (2005) para afirmar que a natureza essencial

da atividade educativa consiste em propiciar ao indivíduo a apropriação de

conhecimentos, habilidades, valores, comportamentos, etc. que se constituem

em patrimônio acumulado e decantado ao longo da história da humanidade,

contribuindo, assim, para que o indivíduo se construa como membro do gênero

humano e se torne apto a reagir face ao novo de um modo que contribua para

a reprodução do ser social. Além disso, todo este conjunto de elementos que

constituem o patrimônio da humanidade não é um todo homogêneo e acabado

e muito menos neutro. É um vasto e complexo campo, sempre em processo,

do qual, a cada momento e a partir de determinados fundamentos, valores e

objetivos, são selecionados, via políticas educacionais, currículos, programas,

métodos e outras atividades. É aqui onde se faz sentir o peso das questões

político-ideológico.

Este autor faz uma discussão, considerando a natureza da educação

em geral, e o papel que ela cumpre nas sociedades de classes, a respeito da

diferença entre formar um cidadão e formar um homem para a liberdade.

Conforme seu entendimento, devemos levar o aluno a não só se emancipar

politicamente, que é a legitimação da cidadania que visa a dar continuidade ao

capitalismo, onde há uma democracia balizada pelo poder econômico (as

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pessoas são tratadas de forma diferente, apesar de serem iguais no plano

formal, pois eles não são donos de sua liberdade). Já a emancipação humana

visa à formação de um ser humano com liberdade plena, que seja dono de

seus atos e de sua atividade de trabalho, devendo ser ―colocada claramente

como fim maior de uma atividade educativa da perspectiva do trabalho‖ (Idem,

Ibidem, p. 13). A cidadania e a democracia são essencialmente limitadas e,

conforme o autor, ficam no plano da emancipação política. Assim, superar as

desigualdades de forma real necessita ir além da igualdade formal dada por

meio do direito, implica em socializar os meios de produção e acabar com o

domínio do trabalho, da atividade humana por uma pequena parcela ou classe

social.

Mello (2009) confirma esta posição, pois, conforme a autora:

Marx havia compreendido que o cidadão moderno é, por excelência, a expressão jurídica e política mais plena dos indivíduos na sociedade burguesa e, por conseguinte, a personalização de uma sociedade fundada na propriedade privada dos meios e instrumentos de produção. Em termos sistêmicos, isso não está em contradição com a existência dos não proprietários privados dos referidos meios, pois na condição de cidadãos livres e iguais, não havendo ninguém subordinado a outro por laços de servidão ou escravidão, todos estão dotados da liberdade política e econômica para tornarem-se proprietários. [...] a essência social dualista e irreconciliável que contrapõe o ―homem‖ ao ―cidadão‖ não se constitui em anomalia para o funcionamento da sociedade burguesa. Ao contrário, ela é expressão política e jurídica dessa forma social, cuja igualdade formal busca conformar a desigualdade social real que se constitui no seu fundamento (p.157).

Conforme Tonet (Ibidem), em uma sociedade de classes os interesses

das classes dominantes serão sempre o polo determinante da estruturação da

educação. O que significa que ela será configurada de modo a impedir

qualquer ruptura com a ordem social, a educação sempre terá um caráter

predominantemente conservador. No campo da educação é também onde se

trava uma incessante luta, pois a hegemonia está nas mãos da classe

dominante, o que não significa que todo o processo seja harmônico e sem

interesses contrários que se chocam. Todavia, o autor explica que qualquer

outra proposta, no campo contra hegemônico, sempre terá um caráter muito

limitado. E dentro da atual sociedade é impossível estruturar uma educação

emancipadora, haja vista que o objetivo último desta educação dominante e

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conservadora não é a realização plena dos indivíduos, mas sim garantir e

perpetuar o poder hegemônico. Ao afirmar isto Tonet não está pregando o

imobilismo ou a desistência da luta por uma educação de qualidade para a

classe trabalhadora. Pelo contrário, ele elabora alguns requisitos para uma

atividade educativa emancipadora que serão apresentadas e discutidas a

frente.

Tomando esta perspectiva como guia, foi pensada e implementada a

intervenção pedagógica no contexto do PDE que se deu no Colégio Estadual

José de Anchieta do Município de Borrazópolis, Núcleo Regional de Educação

de Apucarana. A turma foi um 2º ano do ensino médio noturno, na qual quase

todos os alunos são trabalhadores - de 20 alunos 16 trabalham. O caderno

temático utilizado, forma da produção didática, foi elaborado em quatro

unidades: 1ª unidade - Evolução da Economia Politica; 2ª unidade - Classes

Sociais; 3ª Unidade - Sistema de Organização Social e Política; 4ª Unidade -

Histórico e prática do Tênis de Campo. O cronograma previu 32 aulas,

realizadas no 1º trimestre e início do 2º trimestre do ano de 2014. Após a

apresentação da proposta à equipe pedagógica, aos docentes e aos alunos a

intervenção pedagógica teve início.

Na 1ª unidade se iniciou com: a) Evolução da Economia Politica,

baseada fundamentalmente em Neto e Braz (2008), expusemos a proposta do

Tênis de Campo nas aulas de Educação Física visando que os estudantes

refletissem e analisassem este esporte, relacionando-o com alguns elementos

da introdução à economia política. No tema: b) Comunidades primitivas foi

apresentado a organização social baseada na comunidade primitiva - a

domesticação de animais, surgimento da agricultura, as comunidades deixando

o nomadismo e vinculando-se a um determinado território/ sedentarismo. O

tema: c) O Escravismo – mostra a sucessão das comunidades primitivas, a

escravização e exploração dos homens a partir da produção excedente.

Mesmo com todos os seus horrores o escravismo significou um passo adiante

na história da humanidade: introduzindo a propriedade privada dos meios

fundamentais de produção e exploração do homem pelo homem e diversificou

a produção de bens (NETO; BRAZ, 2008).

Ainda a 1ª unidade conta com o quarto momento: d) Feudalismo,

elucidando que o feudo pertencia a um nobre (senhor), que sujeitava os

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produtores (servos) a trabalharem nas terras aráveis. Dos grandes produtores

e comerciantes nasceriam os elementos que derrotariam os senhores feudais.

Viria aí a Revolução da Burguesia (Idem, Ibidem). Este é o momento

correspondente à emancipação política, anteriormente discutida e que

determinou a formação do homem moderno, da qual a Educação Física

participa ativamente. No momento: e) Formação do Estado Absolutista foi

elucidada, conforme os mesmos autores, que para combater as mobilizações

camponesas deu-se origem o estado absolutista que também reduziu o poder

dos nobres e concentrou o poder nas mãos do rei. O Estado absolutista, com

poder estatal composto de exército permanente, a polícia, a burocracia, o clero

e a magistratura, procedentes dos tempos da monarquia absoluta, serviram à

nascente burguesia como uma arma poderosa em suas lutas contra o

feudalismo. Em seguida apresentamos: f) Revolução Burguesa, que tratou de

remover o Estado Absolutista que já não atendia e não acompanhava a

evolução de uma produção cada vez mais capitalista. Enterrado o feudalismo,

abre-se o século XIX com o Estado criado pela burguesia triunfante, nasce o

Estado Burguês (NETO; BRAZ, 2008).

A apresentação dos fundamentos da economia política numa

perspectiva crítica como caminho para estudo do Tênis de Campo e do Esporte

na Educação Física nos levou ao: g) Modo de produção capitalista, para o qual

é obrigatório a discussão da produção de mercadorias. Seguindo Neto e Braz

(ibidem) vimos que no capitalismo o conjunto da produção de mercadorias não

obedece a nenhum planejamento e opera anarquicamente. Essa anarquia é

acentuada pela concorrência entre os produtores, cada qual interessado em

obter mais lucro. Trata-se de uma produção que não dispõe de mecanismos de

regulação capazes de permitir ao homem um controle consciente daquilo que

deve ser produzido nem do modo como seu trabalho deve ser repartido. Na

superação desta forma de produção encontra-se a chave daquilo que,

acompanhado Tonet (2005), chamamos de emancipação humana real. No

momento: h) Modo de Produção Capitalista – Exploração do trabalho,

explicamos que o modo de produção capitalista, que sucedeu o modo de

produção feudal, hoje é dominante em escala mundial. Desde a sua

consolidação, na passagem do século XVIII ao XIX, teve a concorrência de

experiências de caráter socialista. Atualmente não se confronta com nenhum

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desafio externo: ―impera na economia das sociedades mais desenvolvidas

(centrais) e vigora nas economias das sociedades menos desenvolvidas

(periféricas)‖. Em ―poucas palavras na entrada do século XXI, o Modo de

Produção Capitalista é dominante em todos os quadrantes do mundo‖ (NETO;

BRAZ, 2008, p.95). E é determinante definir que o Modo de Produção

Capitalista se consolida às custas da exploração do trabalhador. O ―capitalista

extrai da jornada de trabalho do trabalhador um excedente (a mais-valia, fonte

de seu lucro)‖, ele se apropria (expropriação, extração ou extorsão) deste

excedente, que deveria ser pago ao trabalhador e ―é nessa relação de

exploração que se funda o modo de produção capitalista‖ (Idem, Ibidem,

p.101).

O conhecimento do processo histórico real e da natureza do campo

específico da educação, indicados por Tonet (2005) na luta pela emancipação

humana, nos leva a discutir as classes sociais constituintes do capitalismo,

assunto tratado durante a intervenção na escola com a temática do Tênis de

Campo.

3 O Tênis de Campo na sociedade de classes

Acredito que foi possível despertar o aluno para a possibilidade desta

prática esportiva como opção de lazer no tempo livre, propiciando uma vida

mais ativa e mais saudável, melhorando a qualidade de vida dos alunos tanto

no aspecto físico como no intelectual. O Tênis de Campo está inserido num

contexto social e econômico que precisa de muito estudo e reflexão, pois este

esporte, como todos os demais, é tido como fenômeno cultural que vem

assumindo contornos cada vez mais globais, fazendo-se presente no cotidiano

de significativa parcela da sociedade. ―Diante de tamanha popularidade, a

experiência e a fruição do esporte são manejadas a fim de adquirir formas

próprias para sua inserção no modo de produção capitalista contemporâneo‖

(GAWRYSZEWSKI; PENA, 2009, p.1). Os alunos devem adquirir

conhecimentos relevantes a respeito do mundo em que está inserido e o

porquê a sociedade funcionar desta maneira, ou seja; entender por que há

tanta desigualdade social, no Brasil e no Mundo, e que este é um problema que

afeta a maioria dos países, mas que afeta principalmente os países periféricos

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do capitalismo. A distribuição desigual da renda traz inúmeros problemas como

a má formação educacional, a falta de políticas públicas que favoreçam as

populações mais necessitadas e a falta de investimentos em áreas sociais,

educacionais e de segurança, que por sua corroboram para as desigualdades

sociais.

A desigualdade social é inerente ao capitalismo, faz parte da natureza

desta sociedade produzir riqueza e miséria ao mesmo tempo. Conforme

explicado por Peet (1975, p.3) a ―desigualdade social é muito útil, pois serve de

estímulo aos assalariados para se esforçarem cada vez mais, particularmente

em um país de alto nível aquisitivo e consumista como os Estados Unidos‖,

entre a população a ―imensa maioria das pessoas está agarrada numa luta sem

fim para ganhar o suficiente, de modo a consumir de alguma maneira uma

quantia e ao ritmo‖ dos grupos superiores. A desigualdade é assim ―altamente

funcional, porquanto assegura que se realize, inclusive, um trabalho mais

desagradável e pesado e apressa ao máximo a força de trabalho‖, a

desigualdade é funcional, pois, ―enquanto os "desiguais" creem que haja uma

possibilidade de poder alcançar um nível de consumo parecido com os das

classes altas‖ os mantém interessados em produzir mais e mais.

Analisando a sociedade a partir da crítica do capital podemos

desvendar porque o Tênis de Campo é pouco praticado e porque este esporte

normalmente só é conhecido pela televisão. Nos eventos de Tênis de Campo

televisionados, normalmente grandes campeonatos, nota-se que o público é

seletivamente composto por pessoas de alto poder aquisitivo. É necessário

discutir porque em uma sociedade onde a maioria da população é dominada

pelos donos dos meios de produção se tem a impressão que somente os

poderosos economicamente podem praticar um esporte como o tênis.

Nesse sentido, afirmamos que as expressões que compõem uma cultura esportiva – representada pelas diversas modalidades do esporte, pelas atividades da cultura corporal, pelos grandes eventos esportivos mundiais e a sua ampla cobertura pela mídia, sobretudo, televisiva – têm colaborado para a lógica de reprodução da forma capital (GAWRYSZEWSKI; PENA, 2009, p.1).

O avançado processo de mercantilização capitalista vem com a

pretensão de escamotear e negar as contradições inerentes ao capitalismo e

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que resultam no processo de lutas das classes sociais, o esporte assimila e

contribui no processo de produção e reprodução de um capitalismo

avassalador e expansionista (Idem, Ibidem).

Na história dos esportes vemos que alguns esportes nasceram

elitizados e se popularizaram mais tarde. Verificar em que momento e por que

motivos isso ocorre poderá nos ajudar a fundamentar o que é necessário para

popularizar o Tênis de Campo nas escolas.

É necessário possibilitar ao aluno compreender a situação histórica da

Educação Física, do Tênis de Campo e a sua própria realidade histórica para

que ele entenda porque ele não tem acesso ao Tênis de Campo ao passo que

as crianças e jovens de outras classes sociais têm acesso ao esporte. Temos

que levá-los a refletir porque eles praticam o Tênis de Campo com raquetes

adaptadas e os outros estão com raquetes oficiais e apropriadas para a prática

do esporte. Também levá-los a discutir questões relativas às políticas públicas

brasileiras relativas ao Esporte e Lazer no país. E com isto a uma reflexão que

possibilite compreender as raízes históricas da situação de miséria em que vive

boa parte da população.

Na 2ª – Unidade: Classes Sociais - em uma visão Marxista, de forma

bastante simplificada expusemos o que é classe social. Foi proposta uma

pesquisa aos alunos tratando das questões: a- A que classe social você

pertence? b- Quais são as classes sociais existentes em nossa cidade? c-

Explique o que é classe social na Idade Média; d- Explique o que é classe

social no capitalismo moderno; e- Quais são os tipos de classes sociais no

Brasil? Após a entrega das pesquisas, cada um explicou a que classe social

pertencia e, em equipes de cinco alunos, fizeram as apresentações das

questões acima mencionadas, sendo aberto aos outros alunos intervir e

questionar.

Conforme Neto e Braz (2009), entendemos que as classes sociais na

sociedade capitalista podem ser assim entendidas:

Nas sociedades onde existe a propriedade privada dos meios de produção fundamentais, a situação dos membros da sociedade depende da sua posição diante desses meios; a propriedade privada dos meios de produção fundamentais divide-os em dois grupos com interesses antagônicos: os proprietários e os não-proprietários dos meios de produção

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fundamentais – em síntese, na propriedade privada está a raiz das classes sociais (NETO; BRAZ, 2008, p.60).

Assim, em que pense as frações ou cortes no interior destas classes,

onde se encontram gerentes, administradores, supervisores, executores etc.,

as classes sociais fundamentais desta sociedade são: burguesia e proletariado.

Não desconsideramos também que elas convivem com elementos

remanescentes da nobreza, clero, escravos, etc.

Na 3ª Unidade: Sistema de Organização Social, Econômico e Político,

tivemos o estudo dos itens: - O que é Capitalismo? - O que é Socialismo? - O

que é Comunismo? Para este item foi organizado um debate entre os alunos

com os seguintes temas: a- qual sistema de organização é melhor? b- quais os

países que já vivenciaram o comunismo? c- cite países socialistas.

A 4ª Unidade: Histórico e Prática do Tênis de Campo, deu continuidade

a está lógica de estudos do Tênis de Campo com o conteúdo específico

tratando da história do Tênis de Campo no mundo e no Brasil. A problemática

desta modalidade como um esporte de elite foi mais uma vez levantada.

Assim como a maioria dos países, no fim do século XIX segundo Falk e

Pereira (2009), o Brasil conheceu o tênis por intermédio dos imigrantes

ingleses, geralmente engenheiros, comerciantes e diplomatas, que vieram para

atuar no processo de urbanização de São Paulo e Rio de Janeiro. Eles não

trouxeram somente uma bola de futebol, veio também na bagagem a caixa

criada e comercializada por Wingfield, ―onde constavam livros de regras,

raquetes, bolas e rede‖ (TELES E SALVE, 2005, apud FALK; PEREIRA, 2009,

p.2). Se este esporte desembarcou aqui no mesmo período que o futebol, por

que o Tênis de Campo é conhecido como um esporte de elite? Falk e Pereira

(2009) contam que a nobreza e a realeza praticavam este esporte no

continente europeu e depois, com a vinda dos engenheiros e diplomatas, que

introduziram este esporte para o Brasil, nota-se que passou a fazer parte das

práticas das classes abastadas. Este esporte começou a ser praticado em

clubes particulares - que são pagos - e estes clubes, eram e eram frequentados

pelos extratos superiores das classes sociais. O tênis:

[...] ainda é considerado um esporte de elite, sendo restrito a uma pequena parcela da população brasileira de maior poder aquisitivo. A falta de instalações públicas associadas à ausência da disciplina de Tênis de Campo na maior parte das

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universidades e faculdades brasileiras, tem dificultado a disseminação desta modalidade uma vez que, a escassez de profissionais capacitados tem ausentado o tênis do ambiente escolar, deixando de atender uma enorme parcela da população (CORTELA et.al., 2012, p.217).

Além do problema citado, temos o baixo poder aquisitivo de nossa

população e também a falta de uma política pública de popularização do

esporte, como foi feito com o voleibol, por exemplo, como um dos muitos

entraves que impossibilitam ao Tênis de Campo de ser massificado. Esta

modalidade esportiva pode se constituir como uma opção de lazer à população,

considerando que:

Procedimentos de facilitação para seu acesso e desmistificação devem ser utilizados, mostrando imagens mais comuns de movimentos simples de um praticante, com estruturas de oportunidades e fácil acesso para a democracia da prática e a garantia de manutenção constante destes valores através de práticas com o objetivo de acompanhamento destas mudanças sociais (STUCCHI, 2004, p. 66).

Assim, no Caderno Pedagógico, além dos textos introdutórios de crítica

da economia política, dos aspectos históricos do Tênis de Campo no Brasil e

no mundo, foi abordado durante a intervenção: aulas prática tratando da

fundamentação técnica que possibilitasse a prática da modalidade; o ensino

das regras básicas; as dimensões e tipos de quadra de jogo, bem como suas

adaptações; o material necessário para a prática do jogo (raquete, bolinha,

rede e demarcações da quadra de jogo); a linguagem básica do esporte que

vem do inglês. Para finalizar a proposta foi realizado um campeonato de tênis

com os alunos da turma de aplicação.

Esta competição envolveu a aprendizagem do Esporte para uma

prática eficiente do jogo de Tênis de Campo, buscando desmistificar este

esporte mediante a participação do aluno em uma competição que envolveu a

sala toda. Os alunos constataram que qualquer indivíduo pode se apropriar

desta produção humana - Esporte/Tênis de Campo.

Conforme a Confederação Brasileira de Tênis (2008, pág. 50, apud

SOUZA; MARTINS JUNIOR, 2010, p.2):

O mini-tênis é ideal para ensinar o tênis nos colégios, pois é um elemento chave para popularizar o tênis em todo mundo em nível de base, oferecendo uma oportunidade para atrair

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novos participantes, descobrir novos talentos, e se fixar como um esporte que pode ser praticado por grande parte da população brasileira. Além de servir como introdução ao tênis em todas as idades, possibilita o aprendizado de habilidades aprendidas no mini-tênis que poderão ser utilizadas no futuro quando transferidas para a quadra grande.

A quadra de Tênis de Campo: foi feita uma explanação aos alunos

sobre o tamanho e as medidas de uma quadra oficial; cada um desenhou uma

quadra oficial em seu caderno. 2º momento- Fomos para a quadra

poliesportiva, montamos as mini quadras para se praticar o Tênis de Campo,

sendo necessário executar as seguintes alterações: utilizar as duas traves da

quadra poliesportiva, para se amarrar os cabos de aço ou cordas das redes de

Tênis de Campo; utilizei uma rede oficial e também uma rede de vôlei, ás

quais atravessei a quadra de trave a trave; para demarcar as mini-quadras, o

que deu melhor resultado foi fita crepe para fazer as linhas demarcatórias (

pode ser feito com giz ou tinta), foi possível montar quatro mini quadras. As

redes ficaram a uma altura de 90 cm do chão.

-Material de jogo- Equipamentos oficiais e adaptados- Após os alunos

conhecerem e prepararem a quadra adaptada mostrei a eles todos os materiais

oficias e adaptados, começando pelas raquetes oficiais (03 raquetes oficiais) e

cujo valor varia de R$ 100,00 a R$ 5.000,00 reais e a diferença para a raquete

adaptada, que é feita na marcenaria (fábrica de móveis) de material

compensado (MDF e MDP) e que custa em torno de R$ 8,00 reais cada.

-Bolas de Tênis de Campo - usamos as bolas oficiais, pois as bolas

que custavam em torno de R$ 1,99 não tinham resistência nem durabilidade.

As bolas oficiais, que geralmente compro em promoções e custam em torno de

R$ 23,00 a R$ 30,00 reais a quantia de três bolas.

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Fig.1: 4 Mini-quadras adaptadas na quadra poliesportiva (Elaborado pelo autor)

RAQUETE ADAPTADA DE MADEIRA

- Quanto aos vestuários: mostrei aos alunos a importância de

realizarem as aulas com uma roupa adequada (tênis, meias, shorts ou calções

e camiseta) e foi uma ótima oportunidade para fazer a comparação da roupa e

calçados que usavam com as roupas de grifes famosas e de empresas

transnacionais (Nike, Adidas, Puma, Asics, Diadora) que investem cifras

milionárias, para aumentar seus rendimentos e dar continuidade e acelerar o

processo de lucro; cada vez mais se aproveitarem de uma sociedade altamente

consumista). Acerca desta questão se organizou um debate com os alunos

partindo da seguinte reflexão: de acordo com PRONI, 1998 (apud SILVA, 2013,

p.15) as transnacionais se aproveitaram da vinculação entre atleta e marcas

esportivas empresariais, e:

[...] realizaram o desenvolvimento de produtos (vestuários e calçados esportivos) com o aval de atletas e entidades de

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várias partes do mundo, buscando ampliar seus mercados. E de fato tem conseguido, pois, por exemplo, a campanha da Nike, em 1996, na tentativa de ampliar seus mercados na Ásia, Europa, e América do sul, gastou cerca de US$ 100 milhões com patrocínios de atletas e entidades esportivas, fazendo com que suas vendas globais alcançassem a casa dos US$ 5 bilhões de dólares.

Tipos de piso: Quadra Sintética, Quadra de Grama, Quadra de saibro.

Visualizamos todos os tipos de piso de quadra e relacionamos com as

competições internacionais que são feitas durante a temporada dos grandes

torneios. Fizemos a relação do tipo de piso com o torneio em questão: Quadra

sintética (quadra rápida): US Open; Quadra de Saibro (quadra mais lenta):

Roland Garros na França; e Quadra de grama (quadra mais veloz): com o

torneio mais tradicional e famoso que é o de Wimbledon na Inglaterra.

Fundamentos do Tênis de Campo: o Tênis de Campo, assim como as

demais modalidades esportivas, tem uma execução de movimentos próprios, o

que torna necessário o treinamento de diversos fundamentos práticos para que

haja uma verdadeira eficácia na aprendizagem individual de cada gesto

utilizado, para uma boa prática do jogo: saque, saque adaptado, backhand,

forehand, drive, drop shot, lob ou balão, slice, smash, topspin, voleio.

Para o ensino das regras básicas do Tênis de Campo se procedeu da

seguinte maneira: no inicio das aulas práticas deixei os alunos jogarem

aleatoriamente, sem regras, e aos poucos, na medida em que ocorreram os

jogos, eles foram reconhecendo e se familiarizando com a quadra, a raquete, a

bola, a altura da rede e algumas regras iniciais, somente para controle do jogo.

Após a 2ª aula, foram colocadas as regras oficiais e algumas regras que tem

que ser adaptadas.

Como o Tênis tem origem inglesa, foram derivados e trazidos muitos

termos da sua linguagem específica, os quais são semelhantes aos

fundamentos já mencionados. Após a aprendizagem dos fundamentos básicos,

s regras e a linguagem do Tênis de Campo, realizei com os alunos da classe

um campeonato interno, no masculino e no feminino, com os mesmos fazendo

toda a organização da tabela, horários, dias, sequência de jogos e os sistema

de disputa. O campeonato foi realizado em dois grupos, todos jogando ou no

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masculino ou no feminino, com premiação de medalhas aos 4 primeiros

colocados de cada gênero.

Considerações finais

Abordamos o Tênis de Campo considerando a possibilidade de sua

prática continuada pelo aluno visando o seu lazer e a sua saúde, mas também

a contribuição que este pode dar na crítica à estrutura social capitalista ao

discutirmos os equipamentos, adaptações e o fato de os espaços formais

disponíveis estarem somente em espaços privados – clubes – , bem como a

conformação ideológica por meio do esporte, que estabelece a divulgação

somente dos esportes massificados nos canais abertos assim como a

destinação de espaços públicos voltados e instrumentalizados somente para as

práticas dos esportes massificados.

Os conteúdos ensinados nas aulas de educação física foram

abordados mediante uma práxis transformadora, aliando a prática à teoria e

vice-versa, conectando os processos educativos e formativos do ser humano,

objetivando um sujeito mais culto, informado, crítico e ético.

A base de nossa reflexão sobre educação foi a diferença entre formar

para a cidadania, presente em grande parte das abordagens críticas do

Esporte na escola, limitada pela emancipação política, e a luta pela

emancipação humana, orientada pela libertação real do trabalho, da própria

atividade humana. Assim, nas considerações finais destacam-se os requisitos

indicados por Tonet (2009) para as atividades educativas emancipadoras.

Segundo o autor algumas questões devem ser respondidas: em que

consiste uma atividade educativa emancipadora? Ou seja, quais seriam os

requisitos, na presente situação histórica marcada pela crise estrutural do

capital, para uma atividade educativa que pretendesse contribuir para a

emancipação humana? E quais seriam esses requisitos, nesta situação

histórica concreta e visível de crise estrutural do capital, em que essa forma de

sociabilidade já não tem mais como oferecer alternativas dignas para a

humanidade (TONET, 2005)?

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O primeiro requisito é o conhecimento sólido e profundo da

emancipação humana, que é o fim possível que o ser humano pretende

atingir. Isto porque os conteúdos selecionados em livros, textos e programas,

obedecem a determinados concepções dominantes (Idem, Ibidem). Para o

ensino do Esporte na Educação Física, considerando este requisito, se

questiona: quem teria mais acesso e em quais condições ao Tênis de Campo:

o cidadão ou o homem emancipado? O primeiro terá de forma parcial, desigual

e adaptado-condicionada pela pobreza, o homem emancipado pode ter acesso

igualmente e no mais alto patamar existente para a prática deste esporte.

Um segundo requisito é o conhecimento do processo histórico real,

em suas dimensões universais e particulares. Pois o processo educativo se

desenvolve em um mundo historicamente determinado em situações concretas.

É necessário conhecer o processo histórico humano e a realidade do mundo

atual, a lógica do capitalismo e a crise que assolam o mundo hoje (Idem,

Ibidem). A respeito deste requisito, devemos explicar a história do Esporte aos

alunos em termos nacionais e mundiais, pois seu desenvolvimento é bastante

elucidativo da cultura e da moral capitalista, considerando que este se

constituiu na sociedade capitalista consolidada. A categoria da singularidade

pode ser tratada como o Tênis de Campo no município de Borrazópolis. A

particularidade pode ser entendida como o Tênis de Campo no Brasil e,

finalmente, a universalidade como o Tênis de Campo no mundo capitalista que

deve ser entendido para que o aluno conheça concretamente o Tênis de

Campo.

Um terceiro requisito está no conhecimento da natureza essencial

do campo especifico da educação. Este conhecimento é necessário para

evitar que se atribua à educação responsabilidades que não lhe são próprias,

como por exemplo, promover a transformação do mundo ou então diminuir

demais as suas possibilidades, concebendo-a com um simples instrumento de

reprodução da ordem social atual (Idem, Ibidem). A respeito deste requisito

podemos pensar no significado real da apropriação do Tênis de Campo pelos

alunos, e até onde isso pode contribuir na perspectiva de superação desta

sociedade.

Um quarto requisito consiste no domínio dos conteúdos específicos

próprios de cada área do saber. Sem esse domínio de nada adiantaria, para as

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classes populares, que o educador tivesse uma posição política favorável a

elas, pois a efetiva emancipação da humanidade implica a apropriação do que

há de mais avançado em termos do saber e de técnica produzidos até hoje

(TONET, 2005). A partir disso temos a preocupação de que o aluno

aprenda/desenvolva questões essenciais não só ao conteúdo Esporte, mas a

todos os conteúdos da Educação Física: a técnica, a tática, as regras, o

condicionamento físico necessário ao desenvolvimento da atividade, o

conteúdo expressivo, a história, as relações políticas, econômicas, culturais,

biológicas, psicológicas e outras.

Um quinto e último requisito para um a prática educativa emancipadora

encontra-se na articulação da atividade educativa com as lutas

desenvolvidas pelas classes subalternas, especialmente com as lutas

daqueles que ocupam posições decisivas na estrutura produtiva. Certamente

não cabe à educação liderar a construção de uma nova sociedade. Contudo

ela pode dar uma contribuição importante na medida em que desperte e

fundamente as consciências para a necessidade de uma transformação

revolucionária e, ao mesmo tempo, transmita o que de mais avançado existe

em termos de conhecimento (Idem, Ibidem). Sobre esta relação o Tênis de

Campo traz elementos ricos de discussão e ação. Desde as problemáticas

propostas no projeto a respeito do caráter de classe no acesso a este esporte e

na sua idealização como distintivo de classe, a luta política pelo acesso e

democratização desta construção humana pode ser articulada a outras lutas

encampadas pela classe trabalhadora.

Referências

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