OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · e a famosa pergunta “Por que tenho que...
Transcript of OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · e a famosa pergunta “Por que tenho que...
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Repensando aulas de leitura em língua inglesa com base no letramento crítico
Patrícia Marina Andrade Paulin1
Alessandra Coutinho Fernandes2
RESUMO Neste artigo, comento sobre o projeto de implementação pedagógica que desenvolvi
na Escola Estadual Professor Francisco Zardo, em Curitiba - PR, nas turmas do 3° ano do Ensino Médio, no ano de 2014, com o objetivo de verificar como a perspectiva do letramento crítico poderia contribuir para o ensino da língua inglesa em escolas públicas. O letramento crítico implica uma série de princípios educacionais para o desenvolvimento de práticas discursivas de construção de sentidos, que incluem uma consciência de como, por que e segundo os interesses de quem, textos em particular podem funcionar. No projeto que elaborei, enfatizei a necessidade de um trabalho de compreensão de textos e produção textual mais efetivos, a partir de um entendimento da linguagem como prática social. Ao buscar textos para desenvolver minha unidade temática, mantive meu foco no tema de bullying, por se tratar de um assunto presente na vida dos alunos. Com o auxílio de recursos midiáticos, variados estilos de textos tais como games, músicas e reportagens, desenvolvi e coloquei em prática algumas atividades que levam em consideração a formação crítica dos alunos enquanto cidadãos que vivem, agem e interagem na sociedade. Entre os resultados da implementação de meu projeto posso citar a capacidade dos alunos compreenderem o sentido dos textos trabalhados, sem a necessidade de tradução do texto. Além disso, os alunos puderem ampliar seus conhecimentos em língua inglesa e utilizá-los para buscar melhor compreender a sociedade onde estão inseridos. Palavras-chave: letramento crítico, ensino médio, bullying
ABSTRACT In this article, I comment about the project of pedagogical implementation developed in the State School Professor Francisco Zardo in Curitiba (Brazil), with students of in the 3rd year of high school, in 2014, with the goal of checking how the perspective of critical literacy could contribute to the teaching of English in public schools. Critical literacy involves a series of educational principles for the development of discursive practices of meaning construction, including an awareness of how, why and according to the interests of whom, specific texts may work. In the project I produced, I emphasized the need for a better understanding of texts based on an understanding of language as a social practice. Seeking to develop my texts thematic unit, I kept my focus on the theme of bullying, because of its effects on students’ lives. With the aid of media resources, varied styles of texts such as games, songs and stories I developed the pedagogical material I prepared taking into consideration the need to develop students’ critical attitude as citizens who live, act and interact in society. Among the results of the implementation of my project I can mention that my students began reading texts in English, no longer relying on the translation of the text to understand it. Moreover, my students improved their knowledge of English and used it to better understand the context in which they are inserted. Keywords: critical literacy, high school, bullying
1 Escola Estadual Professor Francisco Zardo, professora. 2 Universidade Federal do Paraná, professora
Introdução
Este artigo tem como objetivo comentar sobre o projeto que desenvolvi
como professora PDE, em 2013, e implementei em 2014. O PDE – Programa
de Desenvolvimento Educacional do estado do Paraná – busca promover a
formação continuada dos professores estaduais, proporcionando a esses
professores a oportunidade de retorno ao ambiente acadêmico. No PDE, os
professores são motivados a utilizar os conhecimentos adquiridos para fazer
uma interferência na escola em que atuam visando contribuir para a melhoria
de um aspecto pedagógico em particular.
Em uma pesquisa realizada em abril de 2013, com alunos do 3◦ ano do
Ensino Médio na Escola Estadual Professor Francisco Zardo, pude perceber
que muitas vezes eles não demonstram interesse em ler os textos em inglês
que são propostos – primeiramente, por não possuírem vocabulário suficiente
para compreender tais textos e, em segundo lugar, pelo fato de que os temas
abordados geralmente não fazem parte do cotidiano deles.
Sendo assim, partindo da premissa que é papel do professor
desenvolver um trabalho voltado às necessidades e interesses dos alunos, me
propus, com base em pressupostos do letramento crítico, a promover
experiências de leitura em língua inglesa que estimulassem o senso crítico dos
alunos e que os fizessem refletir sobre quem eles são, em que contexto estão
inseridos e qual papel exercem na sociedade.
Minha proposta foi ao encontro da crença de que o ensino de uma língua
estrangeira na escola precisa levar em consideração que dentro desse
contexto o currículo necessita voltar-se para a formação do aluno e para a
cidadania, visando superar visões utilitaristas que buscam apenas atingir fins
de decodificação. No projeto que desenvolvi durante o PDE, propus um
trabalho de leitura crítica, pois vivemos em uma sociedade em que a linguagem
assume um papel primordial, e os textos com os quais entramos em contato
cotidianamente, sejam eles verbais, imagéticos ou multimodais, são produtos
discursivos que constroem sujeitos, ideologias, crenças e valores.
Vivemos inseridos na “sociedade de informação”, somos diariamente
bombardeados por vários tipos de informações vindas de diversos meios de
comunicação como televisão, rádio, internet e jornais. Por isso, precisamos
estar atentos ao que realmente essas informações querem nos passar,
precisamos contribuir para que nossos alunos se tornem leitores críticos e
inteirados no processo ativo de sujeitos capazes de ler o mundo a sua volta –
considerando que ler não é simplesmente extrair dados de um determinado
texto, mas sim construir significados.
Neste momento em que a escola pública tem tido como principal objetivo
preparar os alunos para exercerem sua cidadania, precisamos de inovações no
ensino de língua inglesa que respondam a esta demanda. Como professora,
percebo que embora o número de alunos no Ensino Médio venha aumentado
significativamente, é também muito grande o número da evasão. Muitos são os
problemas ocorridos quanto ao não apropriamento de conhecimentos básicos;
e a famosa pergunta “Por que tenho que aprender inglês, se nem sei falar o
português, ou nunca viajarei para fora?”, precisa ser desmistificada.
Muitas vezes, nós professores, almejamos uma sala de aula com 100%
de alunos participantes e interessados; porém, muitas vezes não nos damos
conta de que cabe a nós inserirmos o maior número de alunos possível no
processo de ensino-aprendizagem, e para que isto ocorra os alunos precisam
perceber alguma relevância no que lhes está sendo ensinado. Desse modo, a
sala de aula deve ser um local propício para oportunizar vivências de
aprendizagem significativas, em que alunos e professores estabelecem
práticas de construção de sentidos. O letramento crítico, nesse contexto,
parece abrigar algumas das respostas para que possamos contribuir para um
ensino de línguas estrangeiras mais eficiente.
Fundamentação teórica
Ainda hoje há uma visão disseminada de que aprender uma língua
estrangeira significa estudar gramática, vocabulário ou saber se comunicar por
meio de algumas funções comunicativas. Entretanto, a sociedade atual é
caracterizada por mudanças rápidas, que direta ou indiretamente afetam a
forma como construímos conhecimento. Nossos alunos não se contentam mais
com “verdades absolutas” proferidas por seus professores.
É papel da escola contribuir para inserir os alunos em um mundo em
constante transformações, estimulando a criticidade e o poder de reflexão dos
mesmos. Nesse contexto, o letramento crítico se insere. Segundo Motta (2008,
p. 36), o “letramento crítico busca engajar o aluno em uma atividade crítica
através da linguagem, utilizando como estratégia o questionamento das
relações de poder, das representações presentes nos discursos e das
implicações que isto pode trazer para o indivíduo em sua vida e comunidade”.
Embora, conforme PennyCook (2003 apud EDMUNDO 2013, p. 36), haja
várias perspectivas teóricas que embasam o letramento crítico, todas requerem
uma abordagem ativa e desafiadora em relação à leitura e às práticas sociais.
O letramento crítico envolve análise e crítica da relação entre textos,
linguagem, poder, grupos sociais e práticas sociais.
Entende-se por letramento crítico uma série de princípios educacionais
para o desenvolvimento de práticas discursivas de construção de sentidos.
Práticas de letramento crítico incluem uma consciência de como, por que e
segundo os interesses de quem textos em particular podem funcionar. O
letramento crítico concebe a língua como discurso – concepção esta que está
em consonância com os estudos de Bakhtin (2006, p. 09), para quem os
enunciados são construídos historicamente e revelam as relações entre cultura,
poder e ideologia presentes nos contextos em que foram constituídos.
Conforme Bakhtin (ibid, p. 26 ), se concebermos a língua como discurso, a
tarefa de compreensão de um texto deve contemplar a relação entre esse texto
e o contexto que o gerou.
O entendimento de língua como discurso abre espaço para a
compreensão e a percepção do mundo a partir de diferentes perspectivas. Ao
utilizar essa concepção de língua, o letramento crítico propõe que os alunos se
percebam como sujeitos integrantes da sociedade e participantes ativos do
mundo. Nessa perspectiva, os alunos que aprendem uma língua estrangeira
não aprendem só a língua, eles também aprendem que o mundo se encontra
repleto de identidades diferentes das suas e que essas identidades também
precisam ser respeitadas em suas singularidades.
Por fim, tomar a língua como discurso também implica em vê-la como
espaço de representações de eventos do mundo e de pessoas. Os sentidos
não são pré-existentes nem independentes das interpretações que fazemos
das coisas; eles são construídos na cultura e na sociedade.
O discurso enquanto forma de prática social é um modo de ação sobre o
mundo e a sociedade. Assim sendo, o discurso deve ser tratado em sala de
aula como uma forma de perceber o mundo, construir sentidos e formar
identidades. Para isso, é preciso que se desenvolva um pensamento crítico
sobre o discurso que vá além da prática discursiva, ou seja, os processos de
produção, distribuição e consumo do texto; e realize um movimento dinâmico
de ruptura com o senso comum através do questionamento e da
problematização.
A escola é um espaço social, constituído por sujeitos históricos e
permeado por uma pluralidade de linguagens e objetivos conflitantes, onde se
criam e recriam conhecimentos, valores e significados. De acordo com (Jordão,
2011 apud Edmundo, 2013, p. 86), a sala de aula apresenta-se como um
ambiente social onde se estabelecem conflitos, a partir do encontro de
expectativas e objetivos diferentes, na tentativa de reconhecimento de
identidades pessoais e coletivas. Assim, quaisquer práticas de construção de
sentidos, inclusive a leitura e a escrita, nos possibilita construir entendimentos
das realidades com que nos deparamos.
No letramento crítico, o foco do ensino/aprendizagem de línguas está na
compreensão do mundo como plural. O professor deve ser capaz de perceber
a multiciplicidade de sentidos que ocorrem socialmente como positiva,
ensinando os alunos a construir sentidos novos a partir das diferentes e
variadas possibilidades que lhes apresenta o mundo, dentro e fora da sala de
aula. Desta forma ninguém pode ser dono absoluto da verdade, detentor
absoluto do conhecimento.
No trabalho com letramento critico, supõe-se que acontecerão conflitos
em sala de aula devido ao fato de cada aluno ter o seu conhecimento prévio.
Estes conflitos são entendidos como sendo oportunidades para a construção
de conhecimento, de aprendizado e de transformação de procedimentos
interpretativos e visões de mundo. Os problemas gerados por nós mesmos,
professores e alunos, precisam ser primeiramente reconhecidos, e então
explicitados e trabalhados constantemente, e mais do que encontrar soluções,
precisamos identificar os problemas.
O letramento crítico é uma abordagem pedagógica que visa a uma
leitura crítica de mundo, levando em consideração a realidade dos alunos, suas
crenças e suas ideologias, suas experiências, aspectos sociais, sabendo-se
que não há aquele que sabe mais que o outro, mas há o que sabe algo que
pode ser completado com o saber do próximo. Ellis (1997, p. 14) afirma que a
aquisição de uma segunda “língua se trata de um processo resultante de
muitos fatores concernentes ao aluno e ao contexto de aprendizagem”.
Portanto, para que haja o letramento critico em sala de aula, cabe ao professor
um planejamento mais atencioso em selecionar textos que permitam ao seu
aluno uma maior reflexão e compreensão do mesmo.
Atividades desenvolvidas durante o PDE
Durante os dois anos em que participei do PDE, a cada semestre, tive
diferentes focos. No primeiro semestre, tomando como ponto de partida o
desejo de trabalhar com uma perspectiva crítica em minhas aulas de língua
inglesa, elaborei meu Projeto de Intervenção Pedagógica. Nessa etapa,
busquei organizar as ideias e estratégias de ação de acordo como os objetivos
que buscava atingir. No segundo semestre, elaborei o material didático a ser
utilizado com os alunos do 3o ano do ensino Médio. No terceiro semestre,
paralelamente, à implementação de meu projeto, também coordenei um Grupo
de Trabalho em Rede – GTR, realizado totalmente a distancia na plataforma
Moodle, no portal dia-a-dia educação do paraná. Os GTRs são ofertados
anualmente aos professores da rede estadual, nas diversas disciplinas, com
uma caga horária de 64 horas por dois meses e meio.
Durante o GTR que coordenei, pude socializar meu Projeto de
Intervenção, o material didático que elaborei, e também o andamento da
implementação de meu Projeto de Intervenção. Em meu GTR, realizado de
março a maio de 2014, participaram 11 professoras de todo o estado do
Paraná, e a troca de experiências foi muito produtiva.
O GTR iniciou-se com a discussão sobre a escolha de materiais mais
apropriados para o 3º ano do ensino médio, e os professores expuseram suas
opiniões, e deram sugestões de novas atividades. No primeiro fórum,
discutimos como socializar a Produção Didático-pedagógica, possibilitando a
troca de ideias e dos fundamentos teóricos e metodológicos relacionados à
Produção. Os professores precisaram responder as seguintes perguntas:
a) Você a usaria em suas aulas?
b) Em sua avaliação, o público a que se destina terá facilidade de
compreensão e aprendizagem usando esta produção?
c) Em sua percepção, alguma proposta de atividade se destaca entre as
outras? Qual e por quê?
As professoras participantes apresentaram as mais diversas respostas,
um dos pontos levantados por uma das professoras foi que certamente o
projeto apresentado era totalmente aplicável e servia de pano de fundo para
discussões profundas a respeito do tema ‘Bullying’. A mesma professora
acrescentou também que as atividades propostas poderiam facilmente ser
utilizadas em sala de aula, e os professores poderiam complementá-las com
filmes, noticias de jornal, etc.
Uma outra professora sugeriu que fossem feitas pesquisas relacionadas
ao tema, trazendo dados e informações complementares sobre casos de
bullying no Brasil. Temos hoje um dia um tipo de bullying até mais grave: o
bullying virtual, que, frequentemente, está relacionado aos ambientes
escolares, onde os agressores e as vítimas de bullying estudam no mesmo
local.
Para uma terceira professora, o tema bullying foi de ao encontro da
realidade de nossas escolas. Segundo ela, é necessário trazê-lo para
discussão em sala de aula, buscando resgatar atitudes positivas para que haja
uma mudança de comportamento em nossos alunos, para que os mesmos
percebam que certas atitudes muitas vezes podem trazer consequências
irreversíveis na vida de uma pessoa.
Entre tantos comentários relevantes feitos pelas professoras participantes
do GTR, como um último ponto a título de ilustração aqui, cito que de acordo
com uma quarta professora a grande parte dos jovens hoje não preserva mais
os valores de respeito e de valorização pelos outros, valores esses que
deveriam ser agregados desde a infância e demonstrados diariamente em
todas as esferas sociais na qual ele está inserido.
Sobre a implementação do projeto
Meu projeto foi implementado em 3 turmas do terceiro ano do ensino
médio, do período matutino, da Escola Estadual Professor Francisco Zardo,
envolvendo cerca de 90 alunos. Durante a implementação, textos pré-
selecionados, a partir de um estudo de interesse dos alunos, foram trabalhados
não com foco na tradução, mas com foco na compreensão e na discussão dos
temas abordados.
Os textos selecionados foram provenientes da internet, de jornais, de
revistas e de filmes da mídia em geral, e tratavam de questões sociais
relevantes para a formação dos alunos. Os temas foram escolhidos com base
nas unidades didáticas do livro didático utilizado no Ensino Médio, na escola
estadual em que trabalho: UPGRADE, da Richmond. Durante o trabalho de
leitura, com base nos pressupostos do letramento crítico, os textos foram
abordados de forma a levar em consideração os pontos de vista dos alunos.
Esse trabalho provocou reflexões tanto sobre o papel da língua inglesa no
mundo globalizado quanto sobre o papel da ação dos professores de língua
inglesa no contexto da escola pública.
Para Marcuschi (2005, p. 03) a língua “não é forma nem função e sim
atividade significante e constitutiva”. Portanto, ao trabalhar a leitura de textos
com meus alunos a partir da perspectiva do letramento crítico, tive em mente
que o uso da linguagem como prática social – o que implica compreender a
linguagem como um modo de ação historicamente situado.
A escolha do tema bullying foi feita a partir de várias pesquisas sobre um
assunto que pudesse envolver os alunos, e o fenômeno bullying é, atualmente,
uma das formas mais recorrentes de violência na escola.
Iniciei a implementação de meu projeto apresentando imagens com
ações de bullying. As imagens foram apresentadas na TV pen drive. Em
seguida, fizemos uma pequena discussão sobre as mesmas, e, oralmente, os
alunos colocaram suas opiniões sobre o tema. Em uma segunda etapa, um
vídeo do Youtube, intitulado “anti-bullying awareness”, foi assistido no auditório
da escola. Inicialmente, apresentei a imagem da menina, apresentada no
vídeo, antes de ela ser vítima de bullying, e solicitei que os alunos a
descrevessem. As respostas apresentadas foram muito semelhantes, os
alunos comentaram que a menina estava feliz, os meninos comentaram que
ela era muito bonita.
Em seguida, dei continuidade ao vídeo, e estudamos as palavras e
expressões em inglês que são apresentadas para indicar que a menina passou
a ser vítima de bullying. Entre as palavras apresentadas no vídeo, havia
adjetivos como fat, stupid, loser, invisible, e expressões como text me, notice
me. Solicitei aos alunos que escrevessem, em seus cadernos, as palavras e
expressões que aparecem no vídeo, e oralmente as traduzimos. Com essa
atividade, pude perceber que quase todos os alunos já conheciam esse
vocabulário. No final dessa aula, solicitei aos alunos que, individualmente,
escrevessem sobre o que sentiram ao ver o vídeo e sobre o que pensam
sobre o ato de bullying.
Após os alunos já estarem inteirados com o tema bullying, partimos para
a leitura de e-mails originais de pessoas vítimas de bullying, os alunos
demonstraram mais confiança ao ler um texto em inglês, pois conheciam o
assunto ao qual aqueles e-mails se referiam.
Feito isso, utilizando imagens, trabalhamos com algumas expressões
relacionadas ao bullying. Trabalhamos com ações e expressões tais como:
leaving somebody, threatening, gossiping, kicking, pushing, teasing, name-
calling, saying mean words. Nesse momento, os alunos foram divididos em
grupos e cada grupo pesquisou sobre uma expressão específica, que,
posteriormente, foi explicada para o grande grupo, por meio de cartazes.
A atividade seguinte, trabalhou com textos autênticos, em que pessoas
pedem sugestões de como agir em relação aos casos de bullying que seus
filhos sofrem. Os alunos precisaram ler, compreender e dar sugestões para
cada situação; por isso, criamos um e-mail resposta, e no laboratório de
informática da escola, os alunos, em duplas, elaboraram e-mails em inglês com
soluções para os problemas enfrentados.
Os diferentes tipos de bullying também foram estudados, através de
textos que explicavam e exemplificavam que nos dias de hoje o bullying
através da internet, por redes sociais, ou até mesmo por mensagens no celular,
são frequentes, e seu efeito para as vítimas é tão prejudicial quanto o bullying
feito nas escolas.
Também trabalhamos com algumas músicas em inglês, que abordam o
tema de bullying. Por exemplo, o clipe da música ‘Numb’, da banda Link Park,
conta a história de uma garota que está tão triste com todo o preconceito que
sofre que se sente adormecida. A participação dos alunos foi ótima, porque
apesar de muitas das músicas serem conhecidas, eles agora conseguiram
perceber o seu significado e entender a mensagem.
Durante o desenvolvimento do projeto, a participação dos alunos foi
aumentado gradativamente conforme eles se apropriavam do tema e sentiam-
se mais confiantes com textos em inglês.
Para o encerramento do projeto, assistimos ao filme proposto no
material didático que produzi durante a terceira etapa do PDE: ‘Bang Bang
you are dead”. O filme, inspirado em fatos reais, tem como personagem
central, Trevor, um rapaz que, por ter sido vítima de bullying na escola, acaba
desenvolvendo um comportamento muito agressivo. Cansado de ser
hostilizado, ele chega ao ponto de ameaçar explodir o prédio escolar com uma
bomba de mentira. Após esse fato, ele sofre com a desconfiança de todos:
professores, alunos e pais de alunos.
Após o término do filme, fizemos uma discussão em um grande grupo e
a opinião dos alunos nesse momento já era muito mais madura e coerente
sobre o tema abordado. Além disso, o olhar dos alunos também havia se
tornado mais crítico em relação ao tema estudado.
A participação de alguns professores enriqueceu ainda mais o projeto.
Vejamos algumas considerações feitas pelo professor de filosofia de nossa
escola, que participou da aula em que trabalhei o filme ‘Bang Bang you are
dead’:
O excelente filme de 2002, baseado em fatos reais, retrata de maneira contundente a experiência de Trevor Adams com o bullying sofrido numa escola secundária americana. A violência nas escolas pode ser encarada como um reflexo das relações de poder exercidas na sociedade e demanda uma atenção especial por toda a comunidade escolar. O trabalho de pesquisa do PDE da professora Patrícia Paulin, vem preencher muitas lacunas vazias no ambiente escolar. Ela conduziu de maneira exemplar, um momento de reflexão e debates sobre a necessidade de uma tomada de posição contra os abusos cometidos na escola, em nome de uma “simples brincadeirinha”. O tamanho do dano provocado pelo bullying só pode ser medido quando ele provoca uma reação violenta por parte do agredido. Nesse caso, pode ser tarde demais. A agressão é retribuída na forma
de um assassinato dos agressores. São utilizados nesses casos, armas altamente letais que produzem a morte quase imediata, dependendo do tempo e espaço utilizados para executar a pretença “justiça”. A agressividade retratada no filme é relatada numa fala feita pelo protagonista como: “Jovens são mais cruéis que todos. Naturalmente cruéis.” Como então podemos entender esse fenômeno? Como podem jovens socialmente e mentalmente saudáveis produzirem uma humilhação tão grande em outro jovem a troco de uma mera demonstração de poder? Essas questões são feitas já há muito tempo pelos psicólogos, filósofos e sociólogos. Muita coisa foi pesquisada, mas, algumas perguntas ainda permanecem não respondidas. O desdobramento das questões do bullying são altamente relevante e merecem uma atenção especial de todos na escola. Mas como retratado no filme, um docente atento e bem informado pode fazer uma diferença substancial ao identificar padrões de humilhações de alguns alunos para com outros e a partir daí, partir para uma intervenção adequada.”.
Após esse trabalho de conscientização acerca do bullying que
implementei nas aulas de inglês, uma grande campanha iniciou-se na escola.
Essa campanha foi uma iniciativa dos próprios alunos dos 3os anos do Ensino
Médio. Eles começaram um trabalho de conscientizar os alunos menores onde
a prática de bullying está cada dia mais presente. Os alunos organizaram rodas
de conversa durante o horário do recreio, explicando o dano que um ato
inocente de uma brincadeira de criança pode fazer na vida de um adolescente.
Dessa forma, eles buscaram conscientizar os alunos menores que o bullying é
uma violência não só física, mas também psicológica. Eles também
apresentaram exemplos práticos de que muitas vezes brincadeiras ditas de
maneira inofensiva podem sim ser traumáticas. Assim, os alunos da educação
fundamental puderam ter a chance de rever suas atitudes.
Considerações finais
Como professora PDE na área de língua inglesa, tive a oportunidade de
refletir sobre minha prática pedagógica e buscar novos conhecimentos que
pudessem contribuir positivamente para o ensino/aprendizagem da língua
inglesa na escola pública em que trabalho. Ao implementar o projeto que
desenvolvi durante o PDE, percebi que houve um aumento no interesse dos
alunos em participar das aulas, tanto nas atividades propostas no material
didático que desenvolvi, como nas discussões e debates que o tema bullying
gerava. Outro aspecto positivo foi que os alunos puderam expor suas opiniões
e refletir sobre suas atitudes, e o diálogo professor-aluno se fez presente em
todas as atividades.
A implementação de meu projeto me fez perceber a importância de
desenvolver uma consciência crítica nos alunos; em outras palavras, a
importância de levar os alunos para além do pensamento ingênuo e do senso
comum. Ao longo das aulas, os alunos puderam ampliar suas perspectivas
fazendo conexões entre o tema discutido e a realidade vivenciada por eles, e
isso levou-os a repensar suas atitudes e comportamentos. Como professora,
esse trabalho me permitiu compreender a importância de adaptarmos nossas
formas de ensinar. Hoje, o papel do professor não é mais apenas o de
transmitir conhecimento, mas também envolve buscar diferentes modos de
ensinar, de acordo com a necessidade e interesse dos alunos.
Por meio da implementação pedagógica realizada, e dos depoimentos obtidos nos
debates realizados durante as aulas, pude observar que meus alunos da rede pública de
ensino demonstraram-se bastante receptivos à introdução da abordagem do letramento
crítico na disciplina de inglês. Eles reconheceram a necessidade do desenvolvimento da
reflexão crítica na formação do cidadão, e perceberam que a disciplina de língua inglesa
também pode colaborar na tarefa de formação de um cidadão crítico.
Referências
BAKHTIN, M. (V. N. Voloshinóv). Marxismo e filosofia da Linguagem. São
Paulo: Hucitec, 2006.
EDMUNDO, Eliana Santiago Gonçalves. Letramento Crítico no Ensino de Inglês na Escola Pública: planos e práticas nas tramas da pesquisa.
Campinas, SP: Pontes Editores, 2013.
ELLIS, R. Second Language Acquisition. Oxford University Press, 1997.
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. Tradução Laura Fraga de Almeida
Sampaio. São Paulo: Loyola, 2002.
JORDÃO, Clarissa Menezes et ali. O PIBID-UFPR nas aulas de inglês: divisor
de águas e formador de marés. Campinas, SP: Pontes Editora, 2013.
LIMA, Diógenes Cândido de. Inglês em escolas públicas não funciona: uma
questão, múltiplos olhares. São Paulo: Parábola Editorial, 2011.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de Texto: Como é e como se faz.
Recife: Editora Universitária da UFPE, 2009.
MAZA, Fernanda Thomaz. O papel do professor de língua estrangeira: uma
retrospectiva. In: CELANI, Maria Antonieta Alba. (Org.). Ensino de segunda língua: redescobrindo as origens. São Paulo: EDUC, 1997, p.87-105.
SLONJE, ROBERT & SMITH, PETER K. Journal of Psychology. Volume 49,
Issue 2, pages 147-154, April 2008.
VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987.