OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · literário escolhido é o da literatura...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

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1. FICHA DE IDENTIFICAÇÃO

PRODUÇÃO DIDÁTICO–PEDAGÓGICA - TURMA - PDE/2013

Título: O Ensino de Literatura pautado na estética da recepção

Autor Rosimery Favareto Gugel

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Escola de

Implementação do

Projeto

Colégio Estadual Luiz Augusto Morais Rego – Ensino Fundamental, Médio e Profissional

Município da escola Toledo

Núcleo Regional de

Educação

Toledo

Professor Orientador Cleiser Schenatto Lângaro

Instituição de Ensino

Superior

Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste

Relação Interdisciplinar

Resumo Considerando a importância da leitura e consequentemente

da literatura para a formação do ser humano, este trabalho

pretende abordar estratégias que contemplem o estudo da

literatura formadora e humanizadora, tendo como

pressupostos a Estética da Recepção e o Método

Recepcional. Para tanto, faz-se a proposta de

estudo/análise/interpretação das seguintes obras base: O

operário em construção de Vinícius de Moraes, Construção

de Chico Buarque de Hollanda e Morte e vida severina de

João Cabral de Melo Neto. Como obras de apoio serão

utilizadas a canção Morte e vida severina de Chico Buarque

de Hollanda, o filme de mesmo nome, produzido por Zelito

Viana em 1977 e o desenho animado homônimo

disponibilizado pela TV Escola, além de outros a serem

apresentados no decorrer do trabalho. A escolha das obras

justifica-se pela intertextualidade possível entre as mesmas,

pela profundidade histórico/crítico/social bem como pelo

valor estético presente em todas.

Palavras-chave Literatura; Estética da Recepção; leitura; formação do leitor

Formato do Material Didático-Pedagógico

Caderno pedagógico com seis unidades didáticas

Público Alvo

Alunos do 3° ano “A”, do período matutino do local de

implementação

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2. APRESENTAÇÃO

A presente Produção Didático-Pedagógica, no formato de Caderno

Pedagógico, está dividida em seis Unidades Didáticas, tendo como público alvo

os alunos do 3º ano do Ensino Médio, matutino, do Colégio Estadual Luiz Augusto

Morais Rego – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, município de Toledo.

Esta proposta de trabalho visa à reflexão sobre a formação do leitor,

segundo pressupostos da Estética da Recepção, refletindo sobre estratégias para

despertar e desenvolver no educando o prazer pela leitura literária proposta pelo

currículo escolar.

Busca-se aprimorar no educando, com a utilização do Método

Recepcional, a capacidade de leitura do texto literário a fim de que ultrapasse seu

horizonte de expectativas (zona de conforto), questionando suas preferências e

escolhas anteriores e ampliando, dessa forma, sua visão de mundo, além do

senso estético, é o objetivo principal desta produção.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Considerando a importância da leitura e consequentemente da literatura

para a formação do ser humano, este trabalho propõe o uso de metodologias que

contemplem o estudo da literatura formadora e humanizadora, tendo sempre

como referência as três funções exercidas pela literatura, segundo Candido

(1972), em A literatura e a formação do homem, quais sejam: a função

psicológica que é a necessidade que o ser humano tem de fantasiar, de viver o

imaginário; a função formadora, quando atua como instrumento ideológico e de

formação do homem, e a função social que diz respeito à identificação do leitor e

de seu universo na obra literária.

A metodologia mais comumente utilizada nas aulas de literatura

contempla um estudo compartimentado, fechado, que obedece a uma cronologia

rígida de produção literária em Portugal e no Brasil. Mas será isso ensinar

literatura? Será que literatura se ensina? Por que ensinar literatura?

Estudar literatura não se resume a assimilar a historiografia literária, além

disso, o texto literário não deve servir apenas como pretexto para questões de

análise do contexto de produção ou de linguística da Língua Portuguesa, ou seja,

o texto não deve ser desculpa pretexto. A literatura tem valor em si.

Jouve (2012) observa diversos motivos e justificativas para o

estudo/ensino da literatura. Para ele o “confronto” com os livros deixa o ser

humano mais rico, pois abre um leque de possibilidades que anteriormente não

era percebido, fazendo com que compreenda que a realidade dos diversos

momentos pode ser diferente da maneira como foi vista, registrada, analisada.

Ainda para Jouve (2012, p. 162) “os estudos literários também favorecem

o espírito crítico”. Isto acontece ao possibilitar a percepção da distância entre o

contexto de produção e o de recepção. Além disso, é através do contato com as

obras literárias que a capacidade de análise e de reflexão é solicitada e reforçada.

Este contato com a literatura possibilita, ainda, ao ser humano, o estatuto de

sujeito livre, favorecendo a liberdade de juízo, já que a compreensão dos textos,

apesar de todas as interferências sabidas, é muito particular.

4

Tendo em vista as afirmativas de Jouve faz-se a proposta de

estudo/análise/interpretação das seguintes obras base: O operário em construção

de Vinícius de Moraes, Construção de Chico Buarque de Hollanda e Morte e vida

severina de João Cabral de Melo Neto. Como obras de apoio serão utilizadas a

canção Morte e vida severina de Chico Buarque de Hollanda, o filme de mesmo

nome, produzido por Zelito Viana em 1977 e o desenho animado homônimo

disponibilizado pela TV Escola. Serão também veiculados os vídeos Vida maria e

Vida maria – O recomeço, ambos a disposição no Youtube. Como

contextualização do texto Morte e vida severina será apresentado ainda o

documentário editora Alfaguara para comemorar o relançamento da obra do poeta

João Cabral de Melo Neto. Ainda, como facilitador da compreensão da produção

artística no período de ditadura militar no Brasil, será apresentado o curta

Enquanto a tristeza não vem.

A escolha das obras justifica-se pela intertextualidade possível entre as

mesmas, fenômeno importante para os estudos literários, pela profundidade

histórico/crítico/social bem como pelo valor estético presente em todas. O nicho

literário escolhido é o da literatura engajada, de denúncia e crítica social, a

literatura do oprimido.

Como já foi dito, como proposta metodológica iremos utilizar os

pressupostos da Estética da Recepção e os passos elencados por Bordini e

Aguiar no Método Recepcional.

Hans Robert Jauss, segundo Zilberman (1989, p. 5), é o nome mais

associado mundialmente à Estética da Recepção. Para Jauss, ainda segundo a

autora, o ensino de literatura tinha que ser revisto, já que o método tradicional

então utilizado (e utilizado até hoje por muitos) contemplava somente a obra e o

autor, deixando de lado o leitor.

Zilberman em Estética da Recepção e História da Literatura (1989) aponta

a inovação trazida por Jauss ao mudar o foco para o leitor, receptor do texto

literário, e ator principal já que é através dele que a obra, que não é

autossuficiente, passa a ter novos sentidos.

[...] a estética da recepção apresenta-se como uma teoria em que a investigação muda de foco: do texto enquanto estrutura imutável, ele passa para o leitor, o “Terceiro Estado”, conforme

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Jauss designa, seguidamente marginalizado, porém não menos importante, já que é condição da vitalidade da literatura enquanto

instituição social. (ZILBERMAN, 1989, p. 10-11)

Jauss (apud ZILBERMAN, 1989), asseverava que a obra não deveria ser

vista somente como parte da história cronológica, pois isso não significa ver a arte

na história. Para que isso ocorra é necessário considerar o horizonte que a obra

tinha no período histórico em que foi produzida, sua função social, sua ação no

tempo.

[...] o conceito de historicidade da teoria Recepcional é o de

relação de sistemas e eventos comparados num aqui-e-agora

específico: a obra é um cruzamento de apreensões que se fizeram

e se fazem dela nos vários contextos históricos em que ela

ocorreu e no que agora é estudada. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p.

81)

A proposta da Estética da Recepção, conforme Zilberman (1989), foi mais

abrangente, contrariou as concepções teóricas, contrapondo-se a elas e ao

mesmo tempo apropriando-se de suas contribuições:

Jauss (1994) concebe a relação entre leitor e literatura baseando-se no caráter estético e histórico da mesma. O valor estético, para o autor, pode ser comprovado por meio da comparação com outras leituras; o valor histórico, através da compreensão da recepção de uma obra a partir de sua publicação, assim como pela recepção do público ao longo do tempo. (COSTA, 2011, s/p)

É importante reconhecer que cada leitor, ou grupo social de leitores tem

horizontes de expectativas próprios. Zilberman apud Bordini e Aguiar (1993, p.83)

aponta os seguintes fatores como os que compõem o horizonte de expectativas

do leitor: social, intelectual, ideológico, linguístico e literário.

Nenhum leitor está raso, vazio, no ato da leitura. Detêm conhecimentos,

ideias, noções, conceitos e pré-conceitos, expectativas sobre a leitura a ser

realizada.

Se a obra corrobora o sistema de valores e normas do leitor, o horizonte de expectativas desse permanece inalterado e sua posição psicológica é de conforto. [...] Por outro lado, obras literárias que desafiem a compreensão, por se afastarem do que é esperado e admissível pelo leitor, freqüentemente o repelem, ao exigirem um esforço de interação demasiado conflitivo com seu

sistema de valores vitais. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 84)

6

Assim, entende-se o porquê do afastamento dos educandos em relação à

leitura de obras canônicas: ainda não estão preparados para elas. Ana Maria

Machado em Bom de Ouvido, apresentação do livro Comédias para se Ler na

Escola (2001), de Luis Fernando Verissimo, trata de forma simples e

esclarecedora esta questão. Segundo Machado (2001, p.10-11) há variáveis para

que o jovem não leia. Entre elas está a falta de “fôlego de leitura do sujeito”

quando ao observar a quantidade de folhas, o tamanho da letra e a falta de

ilustração, desiste da leitura achando que não vai dar conta, que não terá “fôlego”

para vencer a empreitada. Há também, para a escritora, “o medo de não ter

musculatura para ler”, ou seja, medo “de não aguentar a força do que está escrito,

não entender umas palavras, não perceber o que o autor quer dizer e ficar se

achando um burro”. (MACHADO, 2001, p.11)

É preciso que o professor, antes de propor uma obra que se distancie

muito do horizonte de expectativas do educando, perceba se este está aberto,

preparado para recebê-la, se já tem os conhecimentos prévios necessários para

analisar a obra e sua historicidade e para compará-la com outras já lidas, do

contrário o efeito será inverso ao esperado e os medos virão à tona: “O primeiro

passo para a formação do hábito da leitura é a oferta de livros próximos à

realidade do leitor, que levantem questões significativas para ele.” (BORDINI;

AGUIAR, 1993, p. 18)

A ampliação do horizonte de expectativas deve acontecer de forma

gradativa, caso a distância entre leitor e obra seja muito grande o primeiro se

frustra, não aceitando a ampliação. O mesmo acontecerá se as propostas de

leituras somente reproduzirem o horizonte já existente, não causando ao leitor

nenhuma estranheza.

Outra questão de muita relevância apontada por Bordini e Aguiar (1993,

p.84) é que “quanto mais leituras o indivíduo acumula, maior a propensão para a

modificação de seus horizontes, porque a excessiva confirmação de suas

expectativas produz monotonia, que a obra „difícil‟ pode quebrar”. A quantidade de

leituras indicadas também é importante, pois o excesso de um tipo de literatura

deixa o leitor exausto e desejando leituras mais elaboradas e desafiantes.

7

É possível observar a importância do Método na medida em que os

leitores conseguem fazer leituras mais críticas e se tornam mais receptivos a

novos e diferentes textos. Os leitores passam a questionar o que estão lendo

tendo por base seu horizonte de expectativas quando conseguem transformá-lo e

estendê-lo.

Esta é a função humanizada da literatura, tão bem relatada por Candido

(1972, p.806) “ela não corrompe nem edifica, portanto; mas, trazendo livremente

em si o que chamamos o bem e o que chamamos o mal, humaniza em sentido

profundo, porque faz viver”.

O Método Recepcional no ensino de literatura vê o leitor como sujeito

ativo de sua história e História, pois o coloca em constante debate consigo

mesmo, com seus colegas, professores, comunidade.

Faz-se importante retomar os 5 passos do Método Recepcional de Bordini

e Aguiar:

1- Determinação do horizonte de expectativas: nesta etapa o professor

deve, de alguma forma, diagnosticar as expectativas dos alunos. Para tanto pode

valer-se de diversas técnicas/métodos, como conversas, questionários, debates,

etc.

2- Atendimento do horizonte de expectativas: este é o segundo

momento do Método Recepcional. Aqui o professor oportunizará que os

educandos tenham contato com textos que venham ao encontro de seus anseios,

tanto com relação ao objeto quanto às estratégias de ensino que devem ser

organizadas com metodologias já conhecidas dos alunos.

3- Rompimento do horizonte de expectativas: nesta etapa pretende-se

quebrar, romper com as certezas e gostos dos alunos. No entanto esta ruptura

tem que ser sutil, abarcando, radicalmente, somente uma ou duas características

dos textos apresentados no atendimento (tema ou tratamento ou estrutura ou

gênero ou linguagem, etc.). O importante é que algumas características se

mantenham.

4- Questionamento do horizonte de expectativas: esta fase é o

resultado das reflexões, realizadas pelos educandos, sobre lei tura e vida,

8

resultantes das duas etapas anteriores. Devem perceber quais textos exigiram

mais reflexão e consequentemente quais trouxeram maior satisfação.

Este é o momento de os alunos verificarem que conhecimentos

escolares ou vivências pessoais, em qualquer nível, do religioso

ao político, proporcionaram a eles facilidade de entendimento do

texto e/ou abriram-lhes caminhos para atacar os problemas

encontrados. (BORDINI; AGUIAR, 1993, p. 90)

5- Ampliação do horizonte de expectativas: neste “último” momento os

educando devem perceber que literatura não é somente arte e tarefa de escola, é

também parte integrante da vida humana, refletindo as relações sociais de cada

período, bem como a maneira como eles veem o mundo e nele atuam e são, por

ele, influenciados. É o momento de reanalisarem suas expectativas iniciais e se

reposicionarem quanto as mesmas. Agora estará, de acordo com o Método

Recepcional, pronto para novas leituras textuais e de mundo.

E o Método continua, flui em espiral sempre levando a classe mais

adiante em suas leituras e reflexões.

É importante salientar: *** Ensina-se mais pelo exemplo do que pela teoria. Portanto professor, leia. Leia solitariamente, leia com seus alunos, leia jornais, livros, crônicas, bulas de remédio. Leia os clássicos, leia os canônicos. Leia. *** Apresente textos de diversos suportes: jornais, revistas, livros, internet, vídeos, teatros. Com quanto mais formas textuais, orais e escritas, o aluno tiver contato mais preparado estará para ler a vida que se lhe apresenta. *** Contextualize!!! Ouve-se muito que a Estética da Recepção não trabalha o contexto de produção, a historiografia da obra. Não é isso. É que este não deve ser o fim, o objetivo das aulas de literatura, e sim um dos passos que levam à compreensão e ao gosto pela obra.

9

4. CADERNO PEDAGÓGICO

"E não há melhor resposta que o espetáculo da vida:

vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida, ver a fábrica que ela mesma,

teimosamente, se fabrica, vê-la brotar como há pouco em nova vida explodida;

mesmo quando é assim pequena a explosão, como a ocorrida;

mesmo quando é uma explosão como a de há pouco, franzina;

mesmo quando é a explosão de uma vida severina."

(João Cabral de Melo Neto em Morte e vida severina)

10

Primeira Unidade

Professor (a):

Para ter acesso à determinação do horizonte de expectativas será

utilizado como instrumento os atemporais Cadernos de Recordação ou

Cadernos de perguntas e respostas ou, ainda, Cadernos de Enquetes,1 sendo

as perguntas direcionadas, principalmente, às preferências musicais e

literárias dos educandos, embora para ser mais real sejam abordados temas

comuns neste tipo de material (amor, relacionamentos, amizade), mesmo

porque estas informações permitirão uma visualização do perfil desta turma

de alunos, como veem a sociedade, como agem na mesma. Com esta abordagem

será possível perceber o que gostam de ler e ouvir.

Serão distribuídos, na sala de aula três Cadernos de Recordação, cada

um contendo espaço para a apresentação do aluno e questões a serem

respondidas por este. As questões abrangerão aquelas usualmente constantes

neste tipo de material além de outras abordadas especificamente com a

finalidade diagnóstica aqui proposta. Os cadernos circularão entre os alunos

por mais ou menos duas semanas, período no qual todos ou a maioria destes

devem responder às três enquetes. Ao final deste prazo o professor recolherá

os cadernos e fará a tabulação dos dados, no período de uma semana, para a

formulação da próxima unidade.

É importante destacar a relevância de o professor também responder

as questões.

1 Como as três nomenclaturas são encontradas a partir deste pontos nos referiremos a este material como

Caderno de Recordação.

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Atividade 1

Sugestão de perguntas possíveis para o Caderno de Recordação:

CA

DE

RN

O 1

Apresente-se: nome completo e idade 1. Qual o assunto predileto de sua turma/seus amigos? 2. Este assunto preferido de sua turma/seus amigos é também o seu. Caso a resposta

seja NÃO, do que gostaria de falar? 3. Que estilo de pessoa mais chama a sua atenção? 4. Qual a sua música favorita? Seu interprete ou banda? 5. Qual é o filme de sua vida? 6. Qual foi o seu maior mico? 7. O que deixa você muito bravo? 8. Qual a sua maior qualidade e o pior defeito? 9. Gosta de ler? O quê? 10. Qual foi o último livro que você leu? 11. Que livro você mais gostou? 12. Quando estudava no ensino fundamental você lia mais ou menos do que agora? Por

quê? 13. Caso lembre cite o trecho de livro, conto, ou poesia que mais marcou você. Se não

conseguir lembrar exatamente o que dizia apenas relate o sentido geral. Não se esqueça de mencionar de que obra é.

CA

DE

RN

O 2

Apresente-se: nome completo e idade

1. Se tivesse que ficar isolado em uma ilha deserta por muito tempo e pudesse levar 3

coisas (não seres vivos). O que seria? (lembrando: não há fontes de energia, wi fi ou

possibilidade de comunicação com o continente).

2. Se pudesse ser um personagem de um filme ou novela ou livro, qual seria?

3. Que presente gostaria de ganhar?

4. Você costuma dar livros de presente?

5. Costuma ganhar livros de presente? Caso sim, de quem?

6. Qual seu programa de televisão favorito?

7. O que você mais gosta de fazer?

8. Você frequenta bibliotecas regularmente? O que normalmente vai fazer lá?

9. Qual profissão quer seguir? Por quê?

10. Se você pudesse ter poderes mágicos, qual escolheria?

11. O que você carrega na mochila, bolsa ou bolso todos os dias?

12. Se você pudesse escolher o dia perfeito como o faria?

13. Gosta de piercing ou tatuagem? Usa/tem ou usaria/colocaria?

12

CA

DE

RN

O 3

Apresente-se: nome completo e idade

1. Escreva uma frase que você gosta muito:

2. O que você faz para melhorar o mundo?

3. O que você gostaria de pedir a/ao presidente da república?

4. Se soubesse que o mundo acabaria amanhã, o que você faria hoje?

5. Você se lembra de suas primeiras experiências com a leitura? Quando foi? Como foi?

Alguém fez parte desta experiência? Quem?

6. Qual seu site preferido?

7. Qual sua revista predileta?

8. Qual sua matéria escolar preferida?

9. Qual sua opinião sobre as drogas?

10. Você já morou em cidade grande (maior que Toledo). Quais vantagens e desvantagens

você percebe entre cidades maiores e menores (do tamanho de Toledo ou menor)?

Mesmo que não tenha morado em cidades maiores exponha sua opinião sobre as

vantagens e desvantagens.

11. O que você pensa da afirmativa: “Toda história tem, ao menos, dois lados”.

12. Como você imagina que vai estar daqui a 10 anos?

13. Deixe uma mensagem para a posteridade.

Obs.: Durante o período de circulação dos Cadernos de Recordação será dado prosseguimento ao planejamento previsto para o ano letivo.

13

SEGUNDA Unidade

Professor (a):

O próximo procedimento é o atendimento do horizonte de

expectativas diagnosticado com os Cadernos de Recordação, oferecendo as

leituras e as canções que os agradam, conforme preceitos da Estética da

Recepção, de forma a demonstrar que ler, assim como ouvir música, é

agradável, e refutar a ideia, comprovada por Martha (2008), de que muitos

educandos ficam entediados nas aulas de leitura literária.

O segundo módulo será apresentada em forma de suplemento já que

não pode ser elaborado antes do diagnóstico, pois apresentará, de acordo com

as preferências detectadas, letras de músicas, trechos de livros, contos,

sinopses e recortes de filmes elencados pelos educandos.

De professor para professor:

Após o levantamento dos gostos musicais e literários dos alunos, além de seus

interesses mais prementes, o professor deverá providenciar textos, excertos de

redes sociais, recortes de filmes, clips musicais, capítulos de livros, matérias

jornalísticas para serem ouvidos, lidos, analisados, comparados pelos

estudantes.

Uma possibilidade interessante é convidar um “Contador de Histórias” para

apresentar um livro, um conto, uma poesia, uma crônica, de forma a despertar os

educandos para a literatura, partindo de sua realidade, ou ainda um

cantor/compositor das redondezas para mostrar seu trabalho.

Caso o professor tenha habilidade e/ou talento, pode ele mesmo ser o Contador

ou o Cantor.

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TERCEIRA Unidade

Professor (a):

Na sequência, de acordo com o Método Recepcional, a proposta é

romper o horizonte de expectativas já determinado através do diagnóstico

realizado na primeira unidade e atendido na segunda etapa.

Romper, segundo o Dicionário Aurélio, significa, entre outras coisas,

“Dar princípio a, começar/Despontar, mostrar-se/Surgir, brotar”. E são

exatamente estas as definições possíveis a esta etapa do Método Recepcional,

iniciar uma nova fase, possibilitar que um novo gosto estético e crítico

desponte, permitir que surja, que brote uma nova consciência.

Para tanto será iniciada a leitura e interpretação do histórico e

atemporal poema O operário em construção de Vinícius de Moraes.

De professor para professor:

Neste momento faz-se necessário retomar com a turma alguns conceitos antes de

dar prosseguimento às atividades. Na sequência há algumas sugestões, no

entanto, cada turma é única e, portanto, as necessidades podem diferir fazendo

com que mais ou menos conceitos sejam apresentados ou retomados.

CONCEITUANDO

Gêneros textuais: Os gêneros são enunciados orais ou escritos que atendem a

um propósito comunicativo. Ao escrevermos ou falarmos levamos em

consideração os gêneros do discurso, ou seja, “todos os nossos enunciados

dispões de uma forma padrão e relativamente estável de estruturação de um

todo.” (BAKHTIN, 1992, p. 301, 302).

Sendo assim, ao anotarmos uma receita culinária, por exemplo, já temos em

mente a maneira como a mesma deve ser montada. (1: Nome do prato, 2:

Ingredientes e suas quantidades e 3: Modo de Fazer)

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Os gêneros textuais são incontáveis, podemos citar, além da receita culinária, e-

mail, anúncio, bula de remédio, piada, conto, resumo, etc.

Neste caderno pedagógico abordaremos os gêneros musicais e poema.

Ao contrário do que perpassa o senso comum, música e poema não formam um

único gênero, são o que KOCH e ELIAS (2006, p.114) chamam de hibridização ou

intertextualidade entre gêneros: “é o fenômeno segundo o qual um gênero pode

assumir a forma de outro gênero, tendo em vista o propósito de comunicação.” As

diferenças então, estão relacionadas com a natureza, o objetivo, a forma de

apresentação, o público-alvo, etc. Além disso, as Esferas Sociais de Circulação

de ambos são diferentes: enquanto a música circula numa Esfera Cotidiana,

podendo a letra circular também pela Literária/Artística o poema o faz somente na

Esfera Literária/Artística. (adaptado de BARBOSA, 2001 apud DCE, 2008, p. 100)

Poema e Poesia: Um questionamento bastante comum é se poema e poesia são

a mesma coisa ou qual a diferença entre ambos. Uma das possíveis

diferenciações é deixar ao Poema a parte mais estrutural do texto, os versos,

estrofes, rimas, métrica, aliteração, assonância, etc., enquanto a Poesia

compreenderia o sentimento, o uso artístico das palavras (do Poema) para

salientar o estado da alma. Sendo assim um texto pode ser poético, embora não

seja um poema.

CONTEXTUALIZADO AUTOR E OBRA

O poema O operário em construção foi escrito entre 1949 e 1956, período

posterior ao final da 2ª Guerra Mundial, por Vinicius de Moraes.

A intensificação do processo de industrialização de cidades como São

Paulo e Rio de Janeiro, que se tornam grandes centros urbanos, com todos os

problemas iminentes de que o crescimento vertiginoso e não programado traz:

16

surgimento de mais e grandes favelas e consequente falta de estrutura básica

(saneamento, saúde, educação, transporte, segurança) para todos.

Os retirantes da seca são a massa que, ao mesmo tempo, faz verter os

problemas (a estrutura acima citada) e a solução para a indústria e a construção

civil tão em alta: a mão de obra barata.2

Imagem 1 - Vinicius de Moraes

Fonte: Portal Dia a Dia Educação

Sobre Vinicius podemos dizer que foi um dos maiores compositores do

cenário musical brasileiro. Entre outras, é autor de Garota de Ipanema juntamente

com Tom Jobim, música que entre as brasileiras é uma das mais executadas e

conhecidas no exterior.

Flávio Pinheiro, no ensaio “Vinicius@paixão” publicado na seção Outros

Olhares do site oficial do poeta diz: ―Vinicius de Moraes foi muitos. Tivesse sido

um só e seria, como disse Sergio Porto (o Stanislaw Ponte Preta), apenas

Vinicius de Moral. Foi poeta, diplomata, letrista e pedra filosofal da Bossa Nova,

crítico de cinema bissexto, dramaturgo eventual, cidadão do mundo. E trágico,

transcendental, materialista, cínico, divertidíssimo, boêmio e apaixonado por

2 Para obter mais informações sobre o poeta acesse seu site oficial

Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br> Acesso em: 30 jul . 2013.

17

multidões de mulheres, inclusive as feiinhas, para quem pedia afeto e piedade. De

manhã escurecia, de noite ardia.‖ 3

Mas foi, também, funcionário público exercendo diversas funções. No

entanto, segundo Marcelo Dantas, em ensaio publicado na mesma seção, “em

meados de 1968, durante a onda de protestos que sacudiu o regime, o Marechal

Costa e Silva teria redigido de próprio punho bilhete para o então Chanceler

Magalhães Pinto ordenando: "Assunto: Vinicius de Moraes. Demita-se esse

vagabundo". Fato ou lenda, o incidente ilustra a irritação do regime com o poeta,

causada não por sua escassa assiduidade ao trabalho, mas por notórias

amizades à esquerda e uma discreta politização de suas letras. Tal irritação levou

à abertura de processo administrativo contra Vinicius que acabou sendo

exonerado, em meio às cassações que se seguiram ao Ato Institucional nº 5.‖4

Lembrando que “A década 60 foi de intensa agitação política. Nos

primeiros anos, operários, estudantes, sindicalistas, manifestaram suas posições,

até que, em 1964, os militares, apoiados pelo governo norte-americano, tomaram

o poder e depuseram o presidente da república João Goulart, suspeito de

simpatizar com o comunismo. Em 1968, o governo do general Costa e Silva

decretou o Ato Institucional nº 5, fechou o Congresso, instituiu o estado de sítio,

suspendeu as garantias constitucionais e instalou a censura às manifestações

políticas e às produções artísticas.” 5

De professor para professor:

Professor, conforme se fizer necessário, contextualize mais ou menos o período histórico -

sócio-político.

3Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/rubrique.php3?id_rubrique=16)> Acesso em:

05 set. 2013. 4 Disponível em:

<http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=1265> Acesso em: 05 set. 2013. 5 Disponível em:

<http://www.itaucultural.org.br/brasil_brasis/migrante/saibamais_engajamentopolitico.htm> Acesso em: 05 set. 2013.

18

Indo além6

O poema Operário em construção foi lido, nos anos setenta, pelo próprio poeta/autor em manifestações dos metalúrgicos de São Paulo, conforme retrata a imagem abaixo.

Imagem 2 - Vinicius de Moraes e Luiz Inácio “Lula” da Silva7

Fonte: Blog do Planalto

8

Em 2010 o então Presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu, postumamente, através de ato público, o poeta ao cargo de Ministro de Primeira Classe (embaixador), segundo ele, num “processo de reparação obrigatória”, tendo em vista a exoneração de Vinicius pelo AI5 em 1968.9

6 A seção “INDO ALÉM” é somente uma sugestão. O professor a util izará somente se achar que irá, de

alguma forma, enriquecer sua prática pedagógica. 7 Esta imagem está postada no Blog do Planalto e está l icenciada sob a CC-by-as-2.5 que está Disponível em:

<http://creativecommons.org/licenses/by-sa/2.5/br/> Acesso em: 31 out. 2013. 8 Disponível em:

<http://blog.planalto.gov.br/homenagem-e-promocao-ao-poeta-e-diplomata-vinicius-de-moraes/>

Acesso em: 02 set. 2013. 9 Disponível em:

<http://blog.planalto.gov.br/com-homenagem-e-promocao-governo-repara-aberracao-da-cassacao-de-vinicius-de-moraes/> Acesso em: 02 set. 2013.

19

ESTRUTURA COMPOSICIONAL

O poema O operário em construção de Vinícius de Moraes é composto

de 17 estrofes, totalizando 201 versos, assim distribuídos:

1ª estrofe – 14 versos;

2ª estrofe – 17 versos, iniciando no verso 15;

3ª estrofe – 23 versos, iniciando no verso 32;

4ª estrofe – 16 versos, iniciando no verso 55;

5ª estrofe – 13 versos, iniciando no verso 71;

6ª estrofe – 4 versos, iniciando no verso 84;

7ª estrofe – 7 versos, iniciando no verso 88;

8ª estrofe – 14 versos, iniciando no verso 94;

9ª estrofe – 3 versos, iniciando no verso 108;

10ª estrofe – 9 versos, iniciando no verso 111;

11ª estrofe – 10 versos, iniciando no verso 120;

12ª estrofe – 10 versos, iniciando no verso 130;

13ª estrofe – 20 versos, iniciando no verso 140;

14ª estrofe – 14 versos, iniciando no verso 160;

15ª estrofe – 4 versos, iniciando no verso 174;

16ª estrofe – 8 versos, iniciando no verso 178;

17ª estrofe – 16 versos, iniciando no verso 186.

Antes do início do poema há uma citação bíblica do Evangelho de São

Lucas, Cap. IV, Versículos 5 a 8, que tem total ligação com o mesmo. Observe:

20

Apresentando o texto

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO10

– VINÍCIUS DE MORAIS E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos

os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: — Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu. E Jesus, respondendo, disse-lhe: — Vai-te, Satanás;

porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás. (Lucas, Cap. IV, Versículo 5-8).

Estrofe 1 1. Era ele que erguia casas 2. Onde antes só havia chão. 3. Como um pássaro sem asas 4. Ele subia com as asas 5. Que lhe brotavam da mão. 6. Mas tudo desconhecia 7. De sua grande missão: 8. Não sabia, por exemplo 9. Que a casa de um homem é um templo 10. Um templo sem religião 11. Como tampouco sabia 12. Que a casa que ele fazia 13. Sendo a sua liberdade 14. Era a sua escravidão. [...]

Estrofe 17 186. Um silêncio de torturas 187. E gritos de maldição 188. Um silêncio de fraturas 189. A se arrastarem no chão. 190. E o operário ouviu a voz 191. De todos os seus irmãos 192. Os seus irmãos que morreram 193. Por outros que viverão. 194. Uma esperança sincera 195. Cresceu no seu coração 196. E dentro da tarde mansa 197. Agigantou-se a razão 198. De um homem pobre e esquecido

10 Em função dos Direitos Autorais o poema não poder ser apresentado na íntegra.

Para visualizar o texto completo acesse o site oficial do poeta. Disponível em: <http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/article.php3?id_article=206>. Acesso em: 02 out. 2013. Ou ainda o site da Revista Espaço Acadêmico. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/024/24poesia_vm.htm> Acesso em: 02 out. 2013.

21

199. Razão porém que fizera 200. Em operário construído 201. O operário em construção.

Imagem 3 - Construção

Fonte: Portal Dia a Dia Educação

Atividade 1

HORA DA ORALIDADE

Contextualizando: aluno – obra – autor (possíveis questionamentos à turma):

1 – Você sabe o que é um poema? E uma poesia?

2 - Como estava o Brasil no momento histórico de produção desta obra?

3 – Já tinham lido textos deste autor? Sabem alguma coisa sobre ele?

4 – Já conheciam esta obra? De onde?

Atividade 2

HORA DE APROFUNDAR

Análise e compreensão livre (possíveis questionamentos):

1- Individualmente, leiam e reflitam sobre o poema.

2- Em grupos, na sequência, discutiam a compreensão que tiveram.

3- Agora vamos ler o poema em voz alta.

4 – Você gostou do poema? Por quê?

22

Atividade 3

HORA DE REGISTRAR

Análise e compreensão dirigida (possíveis questionamentos):

1- Após a leitura e análise do poema explique o título do mesmo.

2- Elenque e explique as condições de vida do operário.

3- Destaque os versos em que a alienação do operário fica clara. Como esta

alienação pode ser compreendida e/ou justificada?

4- Em que momento, exatamente, o operário toma consciência de sua condição?

5- Explique o sentido do verso “o operário faz a coisa/ e a coisa faz o operário”

(versos 34 e 35).

6- Em um momento do texto parece que o operário se vê esteticamente.

Percebe-se belo, apesar de rude. Aponte o verso e explique em que sentido se

dá a beleza.

7- E a tomada de consciência social, de classe, de grupo, por parte do operário,

quando aparece?

8- Comente o verso 112, “As bocas da delação‖.

9- “E o operário disse: Não!” (verso 108). Esta ação acaba gerando duas

consequências. Quais são elas?

10- Explique os versos 176 e 177: “Mentira! – disse o operário/Não podes dar-me

o que é meu.”

11- Descreva o espaço e o tempo em que se passa a narrativa poética.

12- Em literatura alguns textos são considerados atemporais, ou seja, estão

atuais em qualquer época. Você considera que esta obra, embora publicada nos

anos de 1950, possa ser lida e aplicada à realidade brasileira hoje? Justifique.

13 – Qual o possível propósito do escritor ao registrar o fragmento bíblico no

início do poema?

14- Retome agora a questão 1, desta atividade 3. Você mantem sua resposta?

Justifique.

23

QUARTA Unidade

Professor (a):

Nesta unidade o objetivo é fazer com que os alunos questionem seu

horizonte de expectativas. Como instrumento será utilizada a canção

Construção, de Chico Buarque de Hollanda.

De professor para professor:

Neste momento faz-se necessário retomar com a turma alguns conceitos antes de

dar prosseguimento às atividades. Na sequência há algumas sugestões, no

entanto cada turma é única e, portanto as necessidades podem diferir fazendo

com que mais ou menos conceitos sejam apresentados ou retomados.

CONCEITUANDO

Intertextualidade: Podemos entender intertextualidade como a participação, a

interferência de um texto em outro. Perceber este recurso nem sempre é simples,

pois exigem leituras prévias, conhecimentos adquiridos. Mas é fundamental no

processo de compreensão e aquisição de sentido.

Entretanto, a intertextualidade nem sempre é clara como a percebida entre a

Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, escrito em 1843, e o Hino Nacional

Brasileiro, com letra/poema de Joaquim Osório Duque Estrada, composto em

1909. Na verdade, muitas vezes, é implícita e até não intencional.

A intertextualidade pode referir-se à forma, ao estilo e ao tema.

“A intertextualidade temática é encontrada, por exemplo, [...] entre textos literários

de gêneros e estilos diferentes, temas que se retomam ao longo do tempo”

(KOCH; BENTES; CAVALCANTI, 2012, p. 18).

24

É a intertextualidade temática que encontraremos nas obras abordadas neste

Caderno Pedagógico: todas, Operário em Construção, Construção e Morte e vida

severina, poema, música e filme, remetem à injustiça e desigualdade social.

Fazem parte, portanto, do que chamamos de Literatura de Crítica e/ou Denúncia

Social.

Literatura:

A Literatura é a arte da palavra, assim como a língua que ela utiliza, é um

instrumento de comunicação e de interação social, ela cumpre o papel de

transmitir os conhecimentos e a cultura de uma comunidade.

A literatura está vinculada à sociedade em que se origina, assim como todo tipo

de arte, pois o artista não consegue ser indiferente à realidade.

A obra literária é resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e

sociedade, porque através de suas obras o artista transmite seus sentimentos e

ideias do mundo, levando seu leitor à reflexão e até mesmo à mudança de

posição perante a realidade, assim a literatura auxilia no processo de

transformação social. (Texto adaptado de Marina Cabral, Especialista em Língua Portuguesa e

Literatura, Equipe Brasil Escola.11

)

Literatura como crítica e denúncia social: A literatura também pode assumir

formas de crítica à realidade circundante e de denúncia social, transformando-se

em uma literatura engajada, servindo a uma causa político-ideológica.

A poesia sempre foi palco para a literatura crítica e engajada, temos o exemplo da

obra O navio Negreiro, escrita por Castro Alves em 1868.

É esta abordagem que faremos da literatura neste Caderno Pedagógico, da

literatura com função social e humanizadora conforme tão bem nos explicita

Antonio Cândido no artigo A Literatura e a Formação do Homem de 1972.

11 O artigo completo pode ser encontrado no site Brasil Escola. Disponível em:

<http://www.brasilescola.com/literatura/para-que-serve-a-literatura.htm> Acesso em: 30 ago. 2013.

25

CONTEXTUALIZADO AUTOR E OBRA

Francisco Buarque de Hollanda, o Chico Buarque, nasceu em 1944 no

Rio de Janeiro, é filho do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda e da

pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim. Em 1964 começa sua história nos

palcos da Música Popular Brasileira (MPB). Em 1965 lança seu primeiro disco.

Neste ano, também Conhece Caetano Veloso e Gilberto Gil, parceiros de uma

vida.

Na década de 60, ainda, tem inicio seus constantes problemas com a

censura, sendo que na década de 70 chega a adotar um pseudônimo: Julinho de

Adelaide.

Julinho da Adelaide nasceu quando Chico Buarque passou a ser muito

conhecido entre os censores do regime militar. Suas músicas eram proibidas

somente porque levavam sua assinatura. A saída para burlar a censura foi a

criação de Julinho. E deu certo. A censura deixou passar várias músicas de Chico

assinadas por Adelaide.

Em 1969 se auto exila na Itália.

Construção é o álbum lançado em 1971, depois do retorno ao Brasil.12

O início dos anos 70 é o período do chamado "milagre econômico"

brasileiro. Com muitos investimentos do estrangeiro e contraindo empréstimos

absurdos, a economia entra num período de crescimento surpreendente, criação

de empregos em massa. No entanto esta é também uma fase negra da história

brasileira, é o ápice da intolerância, com censura à imprensa e atos violentos

contra a oposição e os artistas engajados.

12 Estas e outras informações sobre Chico Buarque podem ser encontradas no site oficial do

poeta/compositor/cantor. Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br> Acesso em: 30 ago. 2013.

26

Indo além 13

Trecho de entrevista de Chico, sobre a composição de Construção, a Judith Patarra em 1973: "CHICO: Não passava de experiência formal, jogo de tijolos. Não tinha nada a ver com o problema dos operários - evidente, aliás, sempre que você abre a janela. STATUS: Portanto, não havia nenhuma intenção na música. CHICO: Exatamente. Na hora em que componho não há intenção - só emoção. Em Construção, a emoção estava no jogo de palavras (todas proparoxítonas). Agora, se você coloca um ser humano dentro de um jogo de palavras, como se fosse... um tijolo - acaba mexendo com a emoção das pessoas. STATUS: Então não se liga com intenção? CHICO: Tudo é ligado. Mas há diferença entre fazer a coisa com intenção ou - no meu caso - fazer sem a preocupação do significado. Se eu vivesse numa torre de marfim, isolado, talvez saísse um jogo de palavras com algo etéreo no meio, a Patagônia, talvez, que não tem nada a ver com nada. Em resumo, eu não colocaria na letra um ser humano. Mas eu não vivo isolado. Gosto de entrar no botequim, jogar sinuca, ouvir conversa de rua, ir a futebol. Tudo entra na cabeça em tumulto e sai em silêncio. Porém, resultado de uma vivência não solitária, que contrabalança o jogo mental e garante o pé no chão. A vivência dá a carga oposta à solidão, e vem da solidariedade - é o conteúdo social. Mas trata-se de uma coisa intuitiva, não intencional: faz parte da minha formação que compreende - igual aos outros de minha geração - jogar bola e brigar na rua, ler histórias em quadrinhos, colar, aos seis anos, cartazes a favor do Brigadeiro, por causa dos meus pais, contrários ao Estado Novo".14

Curiosidade: Referindo-se a qualidade, na edição de outubro de 2009, a revista “Rolling Stones Brasil” elaborou uma lista com as 100 maiores músicas brasileiras de todos os tempos. Em primeiríssimo lugar, ficou a música “Construção”, que ainda é referência para entender um período espinhoso da sociedade brasileira.

15

13 A seção “INDO ALÉM” é somente uma sugestão. O professor a util izará somente se achar que irá, de

alguma forma, enriquecer sua prática pedagógica. 14

Para ler a entrevista completa acesse o site oficial de Chico Buarque. Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/texto/mestre.asp?pg=entrevistas/entre_1989.htm> Acesso em: 01 set.

2013. 15

Disponível em: <http://minilua.com/curiosidades-mundo-musica-brasil/> Acesso em: 01 set. 2013, ou, para saber mais,

acesse o site da Revista Rolling Stone: Disponível em: <http://rollingstone.uol.com.br/listas/100-maiores-musicas-brasileiras/construcao/> Acesso em: 01 set. 2013

27

ESTRUTURA COMPOSICIONAL

A música Construção de Chico Buarque tem 3 estrofes e 41 versos, assim

distribuídos: 1ª estrofe – 17 versos; 2ª estrofe – 17 versos, iniciando no verso 18;

3ª estrofe – 07 versos, iniciando no verso 35.

Interessante observar:

Todos os versos da canção são Alexandrinos ou dodecassílabos (12

sílabas poéticas) Dáctilos (terminam com palavras proparoxítonas). Todo este

empenho e cuidado remetem a outro autor a ser estudado na sequência: João

Cabral de melo Neto, conhecido como engenheiro das palavras, pela exatidão

estética com que montou alguns de seus textos. Essas palavras se alternam no

decorrer do texto criando uma construção poética e musical de forte impacto. É

importante salientar o grande cuidado do autor com a forma, transformando a

música quase em um poema concreto, onde cada bloco de versos (estrofe)

representa um novo, mas repetido, tijolo nesta construção.

Embora haja três estrofes é perceptível uma subdivisão dentro das duas

primeiras. É possível afirmar que cada uma tem quatro quartetos (quatro divisões

de quatro versos), sendo finalizadas por um verso de fecho.

28

Apresentando o texto

CONSTRUÇÃO – Chico Buarque16

1 .Amou daquela vez como se fosse a última

2. Beijou sua mulher como se fosse a última

[...]

17. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

18. Amou daquela vez como se fosse o último

19. Beijou sua mulher como se fosse a única

[...]

34. Morreu na contramão atrapalhando o público

35. Amou daquela vez como se fosse máquina

36. Beijou sua mulher como se fosse lógico

[...]

41. Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Imagem 4 – Carrinho de mão com tijolos

Fonte: Porta l Dia a Dia Educação

16 Tendo em vista a Lei de Direitos Autorais a música não pode ser disponibilizada na íntegra. Para obtê-la

acesse o site oficial de Chico Buarque: Disponível em: <http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=construc_71.htm> Acesso em: 10 ago.

2013.

29

De professor para professor:

Antes de iniciar o trabalho com a canção sugere-se o vídeo apresentado

no 3º Prêmio Ceará de Cinema e Vídeo, da VIACG Produção Digital, Vida

Maria17. Este curta tem menos de 9 minutos e retrata a reprodução da miséria,

fazendo uma crítica social ao sistema posto, que não permite, na maioria das

vezes, a mudança de vida, vida maria, vida severina, que se repete

incessantemente como o dia a dia do operário apresentado por Chico Buarque.

Precedendo a primeira audição da canção de Chico talvez seja

necessária uma conversa com a turma no sentido de despertar a sensibilidade

para este tipo de música já que a maioria dos estudantes desta faixa etária não

está acostumada a ouvir MPB. Para tanto pode ser utilizado o documentário com

duração de 20 minutos, do Diretor Marco Fialho, sobre o surgimento da música de

contestação, crítica e denúncia social no Brasil. O documentário Enquanto a

tristeza não vem é um depoimento do compositor Sérgio Ricardo, produzido em

2003, estando disponível no site Porta Curtas18. Sérgio Ricardo diz: “Aquele

momento, então, retratava a angustia da sociedade ao descobrir o quanto estava

avançada a miséria no Brasil. Esse era o espírito que de repente começou a ser

revelado pela arte, assimilado pelo povo, que tomou consciência de sua própria

realidade histórica.”

Talvez este seja o momento de apresentar ou retomar algumas

curiosidades sobre a canção, como o fato de todas as últimas palavras de cada

verso serem trissílabas, proparoxítonas e rimarem entre si, de a música ter sido

escolhida pela Rolling Stone Brasil (revista ícone da música mundial), como a

melhor música nacional em 2009, ficando a frente de músicas mais atuais como

Ideologia (Cazuza), Anna Júlia (Los Hermanos) e muitas outras que eram hits na

época.

17 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=zHQqpI_522M > Acesso em: 20 ago. 2013.

18 Disponível em: <http://portacurtas.org.br/fi lme/?name=enquanto_a_tristeza_nao_vem> Acesso em: 20

ago. 2013.

30

A proposta é que, primeiramente se faça a audição música, na sequência

cada aluno deve receber uma cópia da letra para acompanhar. Sugere-se ainda

o vídeo19 de Chico Buarque executando Construção ao vivo.

Somente depois é que as atividades devem ser propostas.

Ao final das atividades, caso algum aluno saiba tocar um instrumento seria

interessante propor que traga para acompanhar a turma na música.

Atividade 1

HORA DA ORALIDADE

Contextualizando: aluno – obra – autor (possíveis questionamentos à turma):

1 – Você acabou de ouvir uma música. Você gosta de música? De que tipo?

Gostou desta? Por quê?

2 - O que você acha mais importante numa canção: letra ou música?

3 – É possível gostar do ritmo e não da letra e vice versa?

4 – Este canção foi lançada no início dos anos de 1970. Como estava o Brasil

neste momento histórico?

5 – Conhece alguma outra música de Chico Buarque? Sabe alguma coisa sobre

ele?

6 – Já conhecia esta obra? De onde?

7 – Através da leitura do texto, o que você consegue dizer sobre o personagem:

a) Quem é este sujeito?

b) Como é física e psicologicamente?

c) Onde vive?

d) Com quem mora?

e) O que faz para viver?

f) Será que ele tem algum hobbie? Ou algum vício? Justifique sua resposta.

19 Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=P7mHf-UCZp0 > Acesso em: 01 set 2013.

31

Atividade 2

HORA DE REGISTRAR E APROFUNDAR

Análise e compreensão dirigida (possíveis questionamentos):

1 - O verbo “fosse” aparece na maioria dos versos. Que impressão o verbo SER

conjugado nesse tempo (passado) e modo (subjuntivo), transmite a você?

2 – No decorrer da canção, a mesma sequência de ações é descrita em três

versões distintas. O que diferencia as três partes?

3 – O texto tem 41 versos. Em momento algum o operário recebe um nome.

a) Qual terá sido a razão de o poeta não ter dado um nome ao personagem?

b) Que efeito a falta do nome causa na música?

c) No decorrer da canção acontece o processo de “coisificação”, ou seja, o

ser humano lentamente se torna uma espécie de objeto, coisa, máquina.

Em que versos este processo pode ser percebido?

4 – Explique os sentidos dos versos: 9 e 10 (Sentou pra descansar como se

fosse sábado/Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe) da 1ª estrofe,

26 e 27 (Sentou pra descansar como se fosse um príncipe/Comeu feijão com

arroz como se fosse o máximo), da 2ª estrofe e o verso 38 (Sentou pra

descansar como se fosse um pássaro) da última estrofe.

5 – São duas pessoas em um personagem. Explique esta afirmativa.

6 – Identifique e comente a ironia constante na última estrofe.

7 – Este texto foi escrito no início dos anos de 1970. Ele pode, ainda, ser

considerado atual?

8 – Você conhece e aprecia algum cantor, ou banda, da atualidade, que, por

meio da sua música/canção/poema também proteste contra injustiças sociais?

Cite fragmentos dessa canção.

32

Atividade 3

HORA DE INTERTEXTUALIDADE E REGISTRO

(possíveis questionamentos à turma):

1 - Podemos afirmar que há intertextualidade entre o poema O operário em

construção e a canção Construção? Justifique sua resposta.

2 – Qual é a temática abordada em Construção de Chico Buarque de Hollanda e

de O operário em construção de Vinícius De Morais”?

3 - Que elementos ou fatos são apresentados nos textos para que seja possível

afirmar a intertextualidade entre eles?

Caso o professor tenha passado o vídeo Vida Maria, sugere-se ainda,

as seguintes questões:

4 – A vida das primeiras Marias do curta Vida Maria, sob algum aspecto, pode se

identificar com a do operário descrito em Construção?

5 – O operário do poema de Chico Buarque morre fisicamente. E no curta Vida

Maria, que tipo de morte podemos perceber?

33

QUINTA Unidade

Professor (a):

Nesta unidade o objetivo é a ampliação dos horizontes de

expectativas. Para provocar esta ampliação o texto apresentado

primeiramente será o Auto de Natal Pernambucano, Morte e vida severina, de

João Cabral de Melo Neto, escrito entre 1954-55.

CONTEXTUALIZADO AUTOR E OBRA

Segundo a Biografia postada no site da Academia Brasileira de Letras,

João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife em 1920 e faleceu em 1999, no Rio

de Janeiro, aos 79 anos.

Em 1945, inscreveu-se no concurso para a carreira de diplomata. Daí por

diante, já enquadrado no Itamarati, iniciou uma larga peregrinação por diversos

países. Em 1987 voltou a residir no Rio de Janeiro. Aposentou-se em 1990.

A atividade literária acompanhou-o durante todos esses anos, tanto no

exterior, quanto no Brasil, o que lhe valeu ser contemplado com numerosos

prêmios.

O link da TV Cultura informa que: “Em 1930, ano da revolução, terminava

a Primeira República. Começava a Era Vargas e, por complicações políticas com

o presidente Getúlio Vargas, seu pai, Luís Antônio Cabral de Melo, foi obrigado a

abandonar o engenho. No Recife, um novo mundo menos acolhedor e tranquilo

se apresentava ao poeta e, apesar das brincadeiras nos trilhos de trem e dos

alegres acompanhamentos no corso em época de carnaval, a vida já não era tão

feliz.[...] No Recife, a visão dos retirantes fugitivos da seca, dos miseráveis

habitantes dos manguezais, o contraste entre os casarões e os mocambos

34

construídos dentro da lama, também afetariam o poeta. Uma realidade que mais

tarde se transformaria num outro elemento importante de sua poesia

participante.‖20

O contexto de produção de sua mais conhecida e elogiada obra, Morte e

vida severina, já foi abordado nas unidades anteriores. No entanto é interessante

salientar que o mesmo não foi produzido por acaso:

―Um dia, João Cabral de Melo Neto encontrou-se com Maria Clara

Machado. Ele tinha sido afastado do serviço diplomático por ter sido denunciado

como militante comunista; ela dirigia o teatro Tablado no Rio de Janeiro. Do

encontro surgiu a encomenda de uma peça a ser encenada naquele ano de

1955: auto de natal. O poeta atendeu ao pedido, aliando sua preocupação com os

retirantes nordestinos à comemoração do nascimento de Cristo. O resultado

foi Morte e vida severina: Auto de Natal Pernambucano.

Maria Clara Machado leu o texto e devolveu-o: não servia. [...] Mas, a partir

de 1956, fez estrondo entre os intelectuais, pois foi publicada no livro Duas

Águas. Fez sucesso, mas ainda continuava texto, longe dos palcos a que fora

destinada. Em 1958, finalmente, um grupo paraense preparou uma encenação

apresentada no Festival Nacional de Teatro de Estudantes, no Recife. Nesse

Festival, João Cabral de Melo Neto foi premiado como melhor autor teatral. Ainda

não era a consagração definitiva que viria em 1966, durante o festival do Teatro

da Universidade Católica de São Paulo (TUCA), com a representação feita pelo

grupo teatral daquela universidade, com músicas do então jovem compositor

Chico Buarque de Holanda. Sucesso total, a ponto de o próprio poeta dizer que

não conseguia mais separar seus versos da música feita pelo compositor.‖21

Entretanto João Cabral atestava a quem quisesse ouvir que não gostava

de música, a qual, afirmava, é somente barulho.

20 Disponível em: <http://tvcultura.cmais.com.br/aloescola/literatura/joaocabral/index.htm> Acesso em: 01

set. 2013. 21

Disponível em: <http://www.itaucultural.org.br/brasil_brasis/migrante/sessao02.htm Acesso em: 01 set.

2013.

35

Indo além 22 Morte e vida severina - Resumo

O retirante Severino deixa o sertão pernambucano em busca do litoral, na

esperança de uma vida melhor. No início da saga ele se apresenta ao leitor e diz a que vai. A primeira decepção acontece com o encontro que tem com dois

homens (irmãos das almas) que carregam um defunto numa rede. Severino conversa com ambos e acontece uma denúncia contra os poderosos, mandantes de crimes e sua impunidade. O rio-guia está seco e com medo de se extraviar,

sem saber para que lado corria o rio, ele vai em direção de uma cantoria e dá com um velório, outra decepção. As vozes cantam excelências ao defunto.

Cansado da viagem, Severino pensa, por instantes, em interrompê-la e procurar trabalho. Ele se dirige a uma mulher na janela e se oferece para trabalhar, diz o que sabe fazer. A mulher, porém é uma rezadeira dos mortos e o Severino se

desespera por só encontrar a morte em seu caminho. O retirante chega então à Zona da Mata e pensa novamente em interromper a viagem ao presenciar o

enterro de um trabalhador e ouvir os amigos do morto dele falarem. Por todo o trajeto e em Recife, ele só encontra morte e compreende estar enganado com o sonho da viagem: a busca de uma vida melhor, menos sofrida. Ele resolve se

suicidar, adiantando, assim, sua iminente morte, nas águas do Capibaribe. Enquanto se prepara para o desenlace, conversa com seu José. Durante a

conversa mestre José recebe a notícia do nascimento de seu filho. Severino, então, assiste ao que pode ser entendida como a encenação celebrativa do nascimento, como se fora um auto de Natal. A peça, homônima, é apresentada

com músicas de Chico Buarque de Hollanda.23

Para saber mais sobre João Cabral de Melo Neto assista ao “Documentário

produzido pela editora Alfaguara para comemorar o relançamento da obra do poeta João Cabral de Melo Neto, com depoimentos de Luis Fernando Verissimo, Chico Buarque, Lázaro Ramos, Ferreira Gullar, Adriana Calcanhotto, Carlos

Heitor Cony, Adélia Prado e outros. O poeta João Cabral inaugurou um novo modo de fazer poesia na literatura brasileira. Guiado pela lógica, pelo raciocínio,

seus poemas evitam análise e exposição do eu e voltam-se para o universo dos objetos, das paisagens, dos fatos sociais, jamais apelando para o sentimentalismo.”

Parte I – 8 min 04 s. –

Disponível em: < http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?vídeo=8646>

Acesso em: 17 out. 2013.

Parte II – 7 min 20 s. –

Disponível em: <http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?vídeo =8645>

Acesso em: 17 out. 2013.

22 A seção “INDO ALÉM” é somente uma sugestão. O professor a util izará somente se achar que irá, de

alguma forma, enriquecer sua prática pedagógica. 23

Disponível em: <http://www.sitedoescritor.com.br/sitedoescritor_escritores_jcabralmn_texto011.html >

Acesso em: 01 set. 2013.

36

De professor para professor: Morte e vida severina é um texto longo, complexo, de vocabulário não tão

acessível. Sendo assim, para dar início a sua apresentação, será utilizado o

desenho animado (56 minutos), homônimo, disponibilizado pela TV Escola24,

como fator motivador e para que tenham noção da cadência poética, do local de

circulação, da pronúncia peculiar da região nordeste, e outras informações

implícitas que facilitem a leitura e a compreensão do texto. No entanto, para não

adiantar o trabalho será apresentada somente a primeira parte do poema,

exatamente 3 minutos e 45 segundos de vídeo. Caso haja necessidade, tempo ou

vontade a animação pode ser retomada após o trabalho com o texto.

Intertextualidade possível:

Sobre o intertexto entre Chico Buarque de Hollanda e João Cabral de Melo Neto,

Cavalcanti25 (2008, s/p) observa que: “também percebemos a forte influência da

poesia de João Cabral em ―Construção‖ e ―Baioque‖, canções que utilizam a

sensibilidade arquitetônica do poeta pernambucano”.

Cavalcanti (2008, s/p) analisa a comunicação de Chico, especificamente em

Construção, com a obra cabralina: “canção construída por quarenta e um versos

de doze sílabas, os quais terminam sempre com uma proparoxítona, canção

comparada à poesia de João Cabral”.

Já Menezes demonstra o forte elo existente entre João Cabral de Melo Neto e

Vinícius de Moraes em ensaio no qual inclui, também, João Guimarães Rosa:

Pela obra de Cabral, Rosa e Vinícius, transita uma multidão que circula pelo sertão, sempre cuidando de posses alheias, ou dele foge para chegar à cidade. Antes de se estabelecer, porém, já está partindo, habitando sempre espaços incertos. Mesmo no sertão, seus corpos, suas subjetividades e mediações sociais já começam a ser alterados pela nova ―máquina mercante‖, para lembrar Gregório de Matos, incrementada com as modernidades tardias. Ao tratar da população das metrópoles, dado constante em Vinícius, verifica-se a presença de ambientes de trabalho temporários ou considerados menos nobres. Os espaços ligados à idéia de precariedade, de trânsito, de passagem, de instabilidade tornam-se marcantes nas criações desses autores. (MENEZES, 2008, p. 54)

24 Disponível em: <http://tvescola.mec.gov.br/index.php?item_id=5944&option=com_zoo&view=item >

Acesso em: 10 set. 2013. 25

Doutor em Teoria e História Literária /UNICAMP

37

ESTRUTURA COMPOSICIONAL

O poema Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, é um

texto dramático, escrito para o teatro. É possível perceber que não é narrado e

sim contado em quadros, em cenas que vão se encaixando, com personagens

que vão falando diretamente com o leitor, recursos da linguagem teatral.

Mas afinal, é poema ou é texto teatral? Ambos. É teatro pelos recursos

acima citados e pela finalidade explícita com que foi escrito. Mas é poema por ser

escrito em versos.

Estruralmente está dividido em 18 partes, a serem descritas na seção

Apresentando o Texto, totalizando 1216 versos.

Mas é possível perceber, também, outro tipo de divisão, a temática:

As partes de 1 a 9, compreendem a auto apresentação de Severino e sua

aventura do sertão ao Recife, seguindo o curso do rio Capibaribe, ou o "fio

da vida", ou ainda a estrela guia, até a chegada às periferias da capital

pernambucana. As partes de 10 a 18, demonstram a chegada do retirante ao Recife sua

felicidade com o sucesso da empreitada e a tristeza (até desespero) ao

perceber que sua esperança de vida melhor, menos sofrida, menos

severina, não existe, ou seja, não há saída, a não ser aquela que

presenciou no percurso de sua vida: a morte. Mas no final a vida, como

sempre, surpreende, apesar de severina.

Professor (a):

Talvez não seja interessante passar aos alunos estas informações antes

do estudo do texto, já que, chegar a estas conclusões é um dos objetivos

da análise da obra.

38

Apresentando o texto

Morte e vida severina (Auto de Natal Pernambucano) 26 João Cabral de Melo Neto

1) O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI 1. — O meu nome é Severino,

2) ENCONTRA DOIS HOMENS CARREGANDO UM DEFUNTO NUMA REDE, AOS GRITOS DE "Ó IRMÃOS DAS ALMAS! IRMÃOS DAS ALMAS! NÃO FUI EU QUE MATEI NÃO!"

65. — A quem estais carregando, 3)O RETIRANTE TEM MEDO DE SE EXTRAVIAR PORQUE SEU GUIA, O RIO CAPIBARIBE, CORTOU COM O

VERÃO 189. — Antes de sair de casa 4)NA CASA A QUE O RETIRANTE CHEGA ESTÃO CANTANDO EXCELÊNCIAS PARA UM DEFUNTO,

ENQUANTO UM HOMEM, DO LADO DE FORA, VAI PARODIANDO AS PALAVRAS DOS CANTADORES 241. — Finado Severino, quando passares em Jordão e só demônios te atalharem perguntando o que é

que levas...

5)CANSADO DA VIAGEM O RETIRANTE PENSA INTERROMPÊ-LA POR UNS INSTANTES E PROCURAR TRABALHO ALI ONDE SE ENCONTRA. 253. — Desde que estou retirando

6)DIRIGE-SE À MULHER NA JANELA QUE DEPOIS DESCOBRE TRATAR-SE DE QUEM SE SABERÁ 299. — Muito bom dia, senhora,

7)O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ PENSAR, OUTRA VEZ, EM INTERROMPER A VIAGEM 431. — Bem me diziam que a terra 8)ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS

QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO 487. — Essa cova em que estás,

9)O RETIRANTE RESOLVE APRESSAR OS PASSOS PARA CHEGAR LOGO AO RECIFE 597. — Nunca esperei muita coisa, 10)CHEGANDO AO RECIFE, O RETIRANTE SENTA-SE PARA DESCANSAR AO PÉ DE UM MURO ALTO E

CAIADO E OUVE, SEM SER NOTADO, A CONVERSA DE DOIS COVEIROS 641. — O dia de hoje está difícil;

11)O RETIRANTE APROXIMA-SE DE UM DOS CAIS DO CAPIBARIBE

26 O texto na íntegra está disponível no livro Poesias Completas (ver referências Bibliográficas) e em

diversos sites da internet. O site util izado neste trabalho foi o Releituras:

Disponível em: <http://www.releituras.com/joaocabral_morte.asp> Acesso em: 01 set. 2013.

39

821. — Nunca esperei muita coisa,

12)APROXIMA-SE DO RETIRANTE O MORADOR DE UM DOS MOCAMBOS QUE EXISTEM ENTRE O CAIS E A ÁGUA DO RIO

863. — Seu José, mestre carpina, 13)UMA MULHER, DA PORTA DE ONDE SAIU O HOMEM, ANUNCIA-LHE O QUE SE VERÁ 859. — Compadre José, compadre,

14)APARECEM E SE APROXIMAM DA CASA DO HOMEM VIZINHOS, AMIGOS, DUAS CIGANAS ETC. 971. — Todo o céu e a terra

15)COMEÇAM A CHEGAR PESSOAS TRAZENDO PRESENTES PARA O RECÉM-NASCIDO 1003. Minha pobreza tal é

16)FALAM AS DUAS CIGANAS QUE HAVIAM APARECIDO COM OS VIZINHOS 1059. — Atenção, peço, senhores, 17)FALAM OS VIZINHOS, AMIGOS, PESSOAS QUE VIERAM COM PRESENTES ETC.

1123. — De sua formosura 18)O CARPINA FALA COM O RETIRANTE QUE ESTEVE DE FORA, SEM TOMAR PARTE EM NADA 1187. — Severino retirante,

1188. deixe agora que lhe diga: 1189. eu não sei bem a resposta 1190. da pergunta que fazia,

1191. se não vale mais saltar 1192. fora da ponte e da vida; 1193. nem conheço essa resposta, 1194. se quer mesmo que lhe diga;

1195. é difícil defender, 1196. só com palavras, a vida, 1197. ainda mais quando ela é

1198. esta que vê, severina; 1199. mas se responder não pude 1200. à pergunta que fazia, 1201. ela, a vida, a respondeu

1202. com sua presença viva. 1203. E não há melhor resposta 1204. que o espetáculo da vida: 1205. vê-la desfiar seu fio,

1206. que também se chama vida, 1207. ver a fábrica que ela mesma, 1208. teimosamente, se fabrica,

1209. vê-la brotar como há pouco 1210. em nova vida explodida; 1211. mesmo quando é assim pequena 1212. a explosão, como a ocorrida;

1213. mesmo quando é uma explosão 1214. como a de há pouco, franzina; 1215. mesmo quando é a explosão 1216. de uma vida severina.

40

Atividade 1

HORA DE LEITURA E ORALIDADE (sugestões de atividades possíveis)

1 – Primeiramente, leia o texto completo, individualmente, e anote dúvidas de

vocabulário e de interpretação.

2 – O subtítulo do poema é “Auto de natal pernambucano”. Você já tinha ouvido

a expressão AUTO antes? Onde? Sabe o que significa? Se não sabe que tal

procurar no dicionário?

3 – Sabendo agora o que é um Auto, explique o subtítulo “Auto de Natal

Pernambucano”.

4 – SEMINÁRIO: Reflexão, compreensão e dúvidas, suas e de seus colegas,

trocando ideias e esclarecendo interpretações possíveis.

Atividade 2

HORA DE ANÁLISE, COMPREENSÃO E REGISTRO (atividades possíveis)

1 – Na primeira das dezoito partes o protagonista se apresenta. Descreva com

suas palavras quem é o Severino?

2 – Esta história é a história somente DESTE Severino? Justifique.

3 – Os substantivos próprios se referem a seres, pessoas, entidades

determinados. São escritos sempre com inicial maiúscula. No título da obra,

“severina” aparece com inicial minúscula. Explique como podemos

compreender o uso da letra minúscula nesse caso.

4 – Leia, analise e comente os seguintes versos:

31. Somos muitos Severinos

32. iguais em tudo na vida:

33. na mesma cabeça grande

34. que a custo é que se equilibra,

35. no mesmo ventre crescido

36. sobre as mesmas pernas finas,

37. e iguais também porque o sangue

38. que usamos tem pouca tinta.

41

5 – Entre os versos 39 (E se somos Severinos) e 50 (e até gente não nascida) Severino

expõe outro fator que o torna igual a tantos outros Severinos. O que seria?

Explique.

6 – A que se referem as expressões ave-bala, verso 108 (essa ave-bala?) e

pássara, verso 116 (contra a tal pássara?)?

7 – Entre os versos 1049 (fabricava em Gravatá) e 1058 (da Avenida Sul e da

Avenida Norte), o poeta cita vários topônimos (nomes de lugar): Gravatá,

Goiana, cais da Aurora, Jaqueira, Tamarineira, Cajueiro, Mangabeira,

Passarinho, Peixinhos, rua Imperial, Espinheiro , Aflitos, Avenida Sul e Avenida

Norte. Estes topônimos contrapostos aos presentes que destes lugares foram

trazidos: pitu, abacaxi, ostras, tamarindos, jaca, mangabas, cajus, peixe, carne

de boi, siris, mangas, e goiamuns, provocam um efeito muito interessante.

Comente.

8 – Por que a vida do retirante é severina e não joana ou isabela?

9 – Morte e Vida são dois substantivos opostos, antagônicos, mas no texto

andam lado a lado. Por quê?

10 – Durante sua viagem, Severino encontra a morte em cinco ocasiões.

Aponte-as transcrevendo os versos do poema.

11 – Em qual parte do poema Severino mais revela sobre si?

12 – Encontre e marque em seu texto as seguintes indicações:

a) o subtítulo “Auto de natal pernambucano”;

b) o rio Capibaribe que Severino segue como guia para chegar ao que

pensa ser um lugar abençoado;

c) o Carpinteiro com quem encontra (Mestre José), que veio de Nazaré da

Mata;

d) a mulher que sai de uma casa anunciando a “Compadre José” uma boa

notícia;

e) as duas ciganas que aparecem e veem no nascimento a causa para boas

coisas que tem acontecido;

42

f) os vizinhos que chegam trazendo presentes;

g) as ciganas que fazem a previsão da vida futura do recém nascido: será

pescador, conseguirá pescar camarões usando como isca apenas os dedos.

Todas as indicações que você marcou na questão anterior são alegorias,

metáforas que tentam expressar outro acontecimento, este, histórico. Que

acontecimento seria este? Você já o tinha identificado ou foi necessária a

retomada do texto através das indicações acima para percebê-lo? Comente.

13 – Releia agora a última parte do poema. Será que o poeta define o destino

de Severino, ou deixa aos leitores a decisão: salta ou não da ponte e da vida?

Atividade 3

HORA DO JOGRAL

1 – Agora, após a análise do texto, vamos, juntos, selecionar as partes mais

importantes, aquelas sem as quais o texto perderia o sentido.

2 – Feita a seleção vamos montar um Jogral27. Mas primeiramente responda:

a) Você sabe o que é um jogral?

b) Já participou de algum?

3 – Vamos, agora, distribuir as falas de forma que a leitura faça sentido e que

todos possam participar.

27 Este jogral, com as partes selecionadas pela turma com o seu auxílio, será o texto para a peça de teatro a

ser realizada para finalizar esta Produção Didático Pedagógica.

43

De Professor para Professor (a):

Neste momento a intertextualidade será retomada com enxertos das

duas primeiras obras trabalhadas (O operário em construção e Construção) na

tentativa de fazer o contraponto, a ligação, entre o teor dos textos, que mesmo

tendo sido compostos em épocas e com estilos diferentes, trazem na essência

a mesma tentativa de denúncia social.

Durante a atividade intertextual será apresentada, também a canção

interpretada por Chico Buarque de Hollanda, Morte e vida severina.

Apresentando o texto

Morte e vida severina – Chico Buarque de Hollanda

Esta cova em que estás, com palmos medida É a conta menor que tiraste em vida

É de bom tamanho, nem largo, nem fundo

É a parte que te cabe deste latifúndio [...]

Estarás mais ancho que estavas no mundo

Mas à terra dada não se abre a boca

[...]28

28 O texto pode ser encontrado na íntegra no site letrasmus . Disponível em: <http://letras.mus.br/chico-

buarque/90799/> Acesso em: 15 out. 2013. O vídeo com a interpretação de Chico Buarque ao vivo está no You tube. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=zHQqpI_522M> Acesso em: 15 out. 2013.

44

De professor para professor: Retomando a intertextualidade

A diversidade de análise e de metodologia de interpretação das obras

Construção, Operário em construção e Morte e vida severina, pretende

despertar questionamentos que ampliem o horizonte de expectativas dos

educandos, de forma crítica, além de estabelecer o diálogo intertextual entre

as obras trabalhadas: [...] a produção silenciosa do capitalismo: a multidão de

seres sem lugar, desalojados, desempregados, vagabundos, saltimbancos,

prostitutas, seres desqualificados e desclassificados socialmente, em seus

trabalhos temporários, em sua busca por condições de existência mais dignas

ou mesmo em sua fuga do sistema repressor. (MENEZES, 2008, p. 24)

É importante que os educandos percebam também questões

atemporais no Brasil, como a desigualdade social e cultural, a má distribuição

da renda e da terra, a constante luta dos menos favorecidos em busca de uma

vida um pouco menos severina.

Há, nos textos, o desfile interminável das vidas inseguras que

parecem exercer, nesses territórios da incerteza, sua única chance de levar

adiante a existência. Transitam por intermináveis estradas; habitam os

grotões, os casebres ao lado da casa grande, os barracos de palafitas à beira

do mangue, as favelas; equilibram-se como podem nos andaimes das

construções e na prostituição das esquinas. (MENEZES, 2008, p. 59)

Outro enfoque a ser analisado diz respeito à beleza e a forma dos

textos destes autores, sendo que apresentam uma forte veia crítica,

contestadora, denunciante, sem, no entanto deixar de lado a estética bem

construída e agradável de ler. Como atesta Menezes (2008, p. 25) “um

pensamento crítico pautado pela razão estética”.

Nesse sentido, o leitor deverá perceber que a leitura literária pode

contribuir com sua capacidade de interpretar o que não foi dito, mas que ficou

sugerido, subentendido nas entrelinhas do texto e que essa capacidade

ampliará sua visão de mundo, tornando-o mais crítico e reflexivo.

45

Atividade 1

HORA DA INTERTEXTUALIDADE - REGISTRANDO

(O operário em construção, Construção e Morte e vida severina)

1 – O operário em construção foi escrito entre 1949 e 1956, Morte e vida

severina entre 1954 e 1955 e Construção entre 1970 e 1971. Apesar da

distância temporal, a realidade destacada em cada obra, pode ser percebida

atualmente? Justifique.

2 – O operário em construção e Construção apresentam personagens

urbanos. O que mais há em comum entre ambos? Justifique sua resposta.

3 – De onde você imagina que vieram os dois operários? Será que sempre

moraram em grandes cidades?

4 – E o Severino de Morte e vida severina, o que tem em comum com os

outros dois personagens?

5 – Caso Severino não tenha pulado fora da ponte e da vida qual terá sido seu

destino em Recife? Em que pode ter trabalhado?

6 - Após todo o trabalho com os três textos vocês perceberam que todos têm

como temática a miséria (financeira e moral), a desigualdade entre as classes,

as injustiças sociais.

Cada um dos textos traz um final diferente:

Em O operário em construção o cidadão se rebela contra o sistema,

percebe que não é o único nas mesmas aviltantes condições de

trabalho, tomando então a consciência de classe, de coletividade.

Em Construção o operário parece que aceita e adentra ao sistema

posto, repetindo mecanicamente todas as ações de seus dias,

tornando-se alcoólatra, se “coisificado” e morrendo como um “ninguém”

atrapalhando o fim de semana dos “alguéns”.

Em Morte e vida severina o personagem, não suportando mais a

vida severina que leva, resolve procurar por outra melhor. No entanto

tudo o que encontra no caminho é a morte, o que vai então o deixando

46

desesperançado e pensando também na morte, na sua morte até

presenciar o nascimento do filho de Mestre José, numa explosão de

vida, de esperança, mesmo sendo “a explosão de uma vida severina”, e

propõe a Severino a possibilidade de um renascimento.

Tendo em vista as cinco unidades estudadas e o acima relatado, elabore o

quadro intertextual e comparativo das obras.

QUADRO INTERTEXTUAL E COMPARATIVO ENTRE AS OBRAS

(sempre que possível as respostas devem ser dadas com fragmentos das obras, assim

quem fala é o próprio texto)

OBRA Morte e vida

severina

Construção O operário em

construção

Intertextualidade

Tema

Personagem protagonista –

descrição física

Personagem protagonista –

descrição psicológica

Período histórico

Ambientação da obra

Percurso do protagonista

(geográfico, se houver, e

psicológico)

47

Coisificação do ser humano

Pulsão de vida (o que leva a

querer viver, mudar,

melhorar)

Pulsão de morte (o que leva ao

estado inanimado, à repetição

do ciclo)

Diferenças entre as obras (no

sentido estético e temático)

Desfecho (fazer uma síntese)

De Professor para Professor (a):

Para finalizar esta etapa a sugestão é que se relembre o vídeo Vida maria,

trabalhado na quarta unidade para então apresentar esta nova versão do diretor

Márcio Ramos, realizado a partir de reflexão sobre animação original, produzido

pelos alunos de uma 6ª série da Escola de Ensino Fundamental Otávio Pereira

Lopes, do Estado de São Paulo. O título é “Vida maria – o recomeço”29 .

O trabalho realizado pelos alunos desta 6ª série é muito interessante, pois

toda a animação foi montada durante as aulas utilizando como recursos uma

filmadora doméstica, os computadores do Laboratório de Informática da escola,

massinha de modelar, imagens e fotografias, as vezes recortadas e sobrepostas,

sendo que a narração também foi feita pelos próprios alunos.

Após assistirem ao curta é interessante provocar um debate sobre as

possibilidades de mudarmos nosso destino.

29 O vídeo está no Youtube. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Zt4iKSdOhNY> Acesso em:

10 out. 2013.

48

Atividade 3

HORA DA PRODUÇÃO

1 - Escreva uma narrativa, na qual os três protagonistas (os operários de

Vinicius de Moraes e Chico Buarque e o retirante de João Cabral de Melo Neto)

se encontram. Relate este encontro, informe se o mesmo se deu para trabalhar,

para conversar, ou se foi por acaso, durante o percurso da vida.

Não esqueça de mencionar o teor do encontro, do que se tratou.

A história deve ser ambientada nos dias atuais.

Se possível, produza em forma de poema ou letra de música.

49

SEXTA Unidade

Professor (a):

Estamos finalizando esta Produção Didático Pedagógica – Caderno

Pedagógico.

A proposta agora é fazer show. Vamos produzir uma peça teatral

utilizando a seleção de texto feita para o jogral da unidade cinco.

A montagem desta peça não deve ter nenhuma aspiração artística, mas

nem por isso deve ser “severina”, a única questão a lembrar é que não somos

diretores de teatro e nossos alunos não são atores, técnicos de som ou

especialistas em cenário, figurino e iluminação. Mas estes elementos serão

necessários na montagem, para isso é necessária a participação de todos.

É importante, e possível, respeitar as limitações de cada um. Alguns,

com certeza não irão querer aparecer no palco. Não tem problema, pois serão

necessários em outras funções já citadas.

Para facilitar a entonação vocal, o sotaque, a percepção do cenário, qual

o figurino mais adequado, etc. é interessante assistir ao filme produzido em

1977, com roteiro e direção de Zelito Viana.30

Boa sorte, bom trabalho e quebre a perna.

30 Disponível em:

<http://tvescola.mec.gov.br/index.php?item_id=5944&option=com_zoo&view=item >

Acesso em: 01 set. 2013.

50

Indo além31

QUESTÕES O operário em construção –

Vinicius de Moraes

Construção – Chico Buarque

Morte e vida severina – J. C. de

M. Neto

Quando foram publicadas essas

obras?

Contexto brasileiro na época de produção

Qual o conteúdo temático de cada uma

delas?

Narrativo, descritivo ou argumentativo?

Quem seria o público alvo de cada uma?

Tem narrador?

O narrador participa da história ou apenas

conta os fatos?

Quantos e quais são

os personagens?

A que classe social, aparentemente, os

personagens pertencem?

Qual o grau de escolaridade provável de cada personagem?

Onde se passa a história?

Tem final feliz?

Assinale qual das obras mais gostou e

justifique.

Você acha que é atual

em qualquer tempo?

Por que motivo, em sua opinião, esta obra

foi escrita?

31 A seção “INDO ALÉM” é somente uma sugestão. O professor a util izará somente se achar que irá, de

alguma forma, enriquecer sua prática pedagógica.

51

De Professor para Professor (a):

Conforme puderam observar não foi abordada, neste Caderno Pedagógico,

a questão da análise linguística. Tal supressão deu-se em função da restrita carga

horária que temos para a aplicação da Proposta Didático Pedagógica.

Lembramos que as atividades propostas, os conceitos oferecidos, são

apenas sugestões. Cada professor, com cada turma, pode fazer as adaptações

que achar necessárias.

52

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIVROS: BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BARBIERI, Ivo. Geometria da composição: morte e vida severina. São Paulo: Sette

Letras, 1997. 143 p. BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura. A formação do leitor:

alternativas metodológicas. 2. ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993. BRAGATTO FILHO, Paulo. Pela leitura literária na escola de 1° grau. São Paulo: Ática, 1995. CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. 6. ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre

Azul, 2010. 136 p. DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita:

elementos para reflexões sobre uma experiência suíça (francófona). In: ROJO, R. & CORDEIRO, G.S. Gêneros Orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B.;NOVERRAZ, M. Seqüências didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: ROJO, R. & CORDEIRO, G. S.

Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. JAUSS, Hans Robert. A história da literatura como provocação à teoria literária. Tradução de Sérgio Tellaroli. São Paulo: Ática, 1994. JAUSS, Hans Robert. Et al. A literatura e o leitor: textos de estética da recepção.

Tradução e Organização de Luiz Costa Lima. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz E Terra S.A., 2002. JOUVE, Vincent. Por que estudar literatura? Tradução de Marcos Bagno e Marcos Marcionilo. São Paulo: Parábola, 2012. KOCH, Ingedore Villaça; BENTES, Anna Cristina; CAVALCANTI, Mônica Magalhães. Intertextualidade: diálogos possíveis. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2012. 166 p. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto.

1. ed. São Paulo: Contexto, 2006. 136 p. MACHADO, Ana Maria. Bom de ouvido. In: VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para

se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 1991. p. 9-15. MARTHA, Alice Áurea Penteado. Leitor, leitura e literatura: teoria, pesquisa e prática:

conexões. Maringá: Eduem, 2008.

53

MORAES, Vinícius de. O operário em construção: e outros poemas. 5. ed. Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1979. NETO, João Cabral de Melo. Poesias completas. 5. ed. Rio de Janeiro: José Olympio

S.A., 1979. TATIT, L. Semiótica da canção. Melodia e letra. 3. ed. São Paulo: Escuta, 2007 ZILBERMAN, Regina. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Editora

Ática, 1989.

DIRETRIZES: SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação básica: língua portuguesa. Curitiba: Jam3 Comunicação, 2008. 101 p.

ARTIGOS DE PERIÓDICOS: CANDIDO, Antonio. A literatura e a formação do leitor. In: REUNIÃO ANUAL DA

SBPC, 24, 1971, São Paulo. Ciência e Cultura. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1971. p. 803 - 809.

ARTIGOS, ENSAIOS E TESES ON LINE: CAVALCANTI, Luciano Marcos Dias. Música popular brasileira, poesia menor?.

Travessias: educação cultura, linguagem e artes. Cascavel, v. 2, n. 2, 11 nov. 2008. Disponível em: <http://www.unioeste.br/prppg/mestrados/letras/revistas/travessias/ed_003/arteecomunicacao/MPB%20POESIA%20MENOR.pdf> Acesso em: 01 maio 2013. COSTA, Márcia Hávila Mocci da Silva. Estética da recepção e teoria do efeito,

atualizado em 26/3/2012. Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/LinguaPortuguesa/artigos/EST_RECEP_TEORIA_EFEITO.pdf> Acesso em: 23 maio 2013. MENEZES, Roniere Silva. O traço, a letra e a bossa: arte e diplomacia em Cabral,

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