OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Palavras chaves: Textos paradidáticos, ensino...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ- UEM
A FÍSICA DO COTIDIANO: TEXTOS PARADIDÁTICOS DE CALORIMETRIA E
TERMOMETRIA
Claudio Roberto Lopes Zen1
Prof. Dr. Ricardo Francisco Pereira2
Resumo Com esse trabalho pretende-se apontar a importância da utilização de textos paradidáticos no processo de ensino aprendizagem como recurso que pode contribuir no cotidiano da sala de aula. A abordagem dos conteúdos de Termometria e Calorimetria foram aplicados em sala de aula, de forma a propiciar um ambiente de trabalho onde a pesquisa, a produção e a discussão marcaram o principal ponto para obtermos a análise necessária dos conteúdos e temas que foram propostos. Essa estratégia tem despertado grande interesse entre os pesquisadores, pois é uma metodologia que trata dos conteúdos teóricos num contexto das relações científicas, tecnológicas, sociais e ambientais. Para tanto, o cenário atual das necessidades de ensino e de métodos eficientes que visam superar as dificuldades de aprendizagem nas aulas de Física e com relação à prática pedagógica que permeia a construção do conhecimento e dos conceitos, faz com que se possa observar que a atuação do professor deve ir muito além da simples transmissão de informações sobre os conteúdos que aparecem nos livros didáticos que são apresentados em sala de aula. Por isso, é necessário e fundamental que o ensino da Física seja apresentado de forma contextualizada. Consideramos que a apresentação de textos paradidáticos tem grande potencial de suprir essa necessidade escolar e, ao mesmo tempo, oportunizar ao professor a possibilidade de utilização de uma metodologia diferenciada que visa, além de trabalhar a Física de forma contextualizada, também busca resgatar o interesse dos alunos pelos conteúdos de Física.
Palavras chaves: Textos paradidáticos, ensino de Física, Termometria, Calorimetria.
Abstract
With this work we intend to point out the importance of using textbooks texts in the teaching learning process as a resource that can help in the everyday classroom. The approach of the contents of thermometry and calorimetry were applied in the classroom, in order to provide a working environment where research, production and discussion marked the main point to obtain the necessary analysis of the contents and themes that have been proposed. This strategy has aroused great interest among researchers because it is a methodology that addresses the theoretical concepts in a context of scientific, technological, social and environmental relations. Thus, the current scenario of learning needs and effective methods aimed at overcoming the difficulties of learning in Physical and regarding pedagogical practice that permeates the building of knowledge and concepts, causes can be observed that the performance the teacher should go beyond simply reporting on the contents that appear in textbooks that are presented in class. Therefore, it is necessary and essential that the teaching of physics is presented in context. We believe that the presentation of textbooks texts has great potential to meet this need and school at the same time, create opportunities to the teacher the possibility of using a different methodology that aims, in addition to working physics in context, also attempts to revive the interest of students the content of Physics. Key-words: Textbooks texts, teaching Physics, thermometry, calorimetry..
1 Professor de Física do Colégio Estadual Carlos Gomes, Ensino Fundamental, Médio e profissional e
participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). 2 Professor orientador do Departamento de Física da Universidade Estadual de Maringá.
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INTRODUÇÃO
O cenário atual para o ensino de Física é de muitas dificuldades,
principalmente com relação às dificuldades de aprendizagem nas aulas de Física e a
prática pedagógica do professor. Um fator que pode ajudar em ambas as
dificuldades é a contextualização do conteúdo, aproximando os conceitos físicos
abordados em sala de aula com o cotidiano dos alunos. O professor, ao incorporar
uma prática pedagógica que contemple essa contextualização pode conseguir
resgatar o interesse dos alunos pela Física assim como também ajudar na
aprendizagem deles.
O desafio de ensinar a disciplina de Física requer práticas eficientes do
professor para que o aluno possa compreender suas realidades que envolvem o
cotidiano dentro dos espaços escolares, além de ser uma necessidade para que as
aprendizagens possam servir como referência para o conhecimento escolar. É com
este intuito que este trabalho desenvolvido no âmbito do Programa de
Desenvolvimento (PDE) no estado do Paraná, buscou meios de relacionar
metodologias diferenciadas para as aulas de Física, primando pelas necessidades
de aplicação de atividades que despertam no aluno o interesse pelos conteúdos,
bem como uma condição de aprender e inserir suas realidades dentro do contexto
socializador e escolar.
Tivemos como objetivo trabalhar com textos paradidáticos visando gerar uma
motivação e facilitar a aprendizagem dos alunos com relação aos conteúdos de
Termologia e Calorimetria, relacionando os conceitos com situações da vida
cotidiana. Acreditamos que a utilização de textos paradidáticos no processo de
ensino aprendizagem como recurso de ensino aos professores pode contribuir no
cotidiano da sala de aula. Esse tipo de texto, quando elaborado com um objetivo
bem determinado, pode estabelecer elementos que facilitam a aprendizagem dos
alunos ao relacionar o cotidiano com a Física da sala de aula
Importante salientar que é necessário observar às condições dos educandos
em relação as suas especificidades, a fim de elaborar textos que proporcionam
maior interação com suas realidades.
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1) TEXTOS PARADIDÁTICOS E SEU POTENCIAL NO ENSINO DE FÍSICA
Muitos professores de Física privilegiam os cálculos matemáticos em
detrimento dos conceitos físicos e isso vem gerando um desinteresse dos alunos
que não conseguem enxergar a Física fora da sala de aula. Uma tentativa de
combater esse problema é proporcionar um espaço de diálogo em sala de aula com
o objetivo de propiciar ao aluno um melhor aprendizado.
Uma estratégia que tem despertado grande interesse entre os pesquisadores
é a utilização de textos alternativos em aulas de Física, pois muitos desses textos
tratam dos conteúdos científicos num contexto das relações científicas, tecnológicas,
sociais e ambientais diferentes das apresentadas em livros e textos didáticos.
A utilização de textos paradidáticos tem potencial para contribuir com a
construção de conhecimentos dos alunos estimulando uma participação ativa deles
no processo de ensino-aprendizagem. A utilização da leitura desse tipo de texto
mediante uma abordagem que leve em consideração o caráter dinâmico e
“suscitador de uma metalinguagem favorecedora da compreensão do conteúdo e do
entendimento de formas de expressão do conhecimento científico” (PFEIFFER,
2001, apud PINTO, 2003, 080 CD-ROM) podem favorecer o envolvimento
significativo dos estudantes com o texto, o que pode promover o prazer em ler.
Orlandi (2001, apud PINTO, 2003) afirma que prefere que sejam utilizados, na
escola, textos de divulgação científica a livros didáticos, argumentando que esses
funcionam como um “repositório de termos científicos que, na maioria das vezes,
afasta o público alvo, causando até certa repulsa pela leitura, em razão do
rebuscamento terminológico”(080 CD-ROM), afirmando que os textos de divulgação
científica não dão ênfase ao “terminológico, mas a uma linguagem sobre a
linguagem da ciência (metalinguagem)”(080 CD-ROM). Com isso, há uma maior
probabilidade desses textos viabilizarem a compreensão e satisfação dos
estudantes. Segundo a autora, a metalinguagem científica é mais adequada para a
compreensão do discurso científico, possuindo maior riqueza em “recursos
estilísticos, tais como metáforas, analogias e narrativas” (080 CD-ROM).
Segundo Almeida e Queiroz (1997), os textos de divulgação científica podem
ser uma alternativa para o professor que tem a intenção de “fugir dos textos
carregados de informações formais” (p.64). No entanto, esses autores destacam que
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para que a utilização desses textos leve à compreensão dos conceitos e à satisfação
em ler, é necessário que sejam criadas “condições de leitura que modifiquem as
práticas escolares usuais” (p.65), superando-se as práticas que restrinjam a leitura a
uma interpretação imediata e única. A não superação dessas práticas implica na
criação de barreiras na interação entre o aluno e o texto, levando-o à não
compreensão dos conceitos e sim à memorização dos mesmos.
Para que um texto de divulgação científica atenda ao objetivo de informar e
atrair o leitor, o mesmo deve reunir os seguintes recursos, destacados por Moura
(1998, apud MASSARANI, 2000, p.62): fundamentar-se na história e na tradição;
usar de ironia e humor; vincular Arte e Ciência; usar de analogias e metáforas; ter
vínculo com o cotidiano; fazer referência à cultura popular; apresentar
reconhecimento dos erros humanos; dessacralizar a Ciência; dar lugar à metafísica
e à religião.
Essas características guardam uma relação com aquelas apontadas por
Salém e Kawamura (1996), onde destacam que os referidos textos, na maioria das
vezes, tratam dos conteúdos científicos de forma mais atraente, relacionando-os
com a realidade, conseguindo assim, aproximar o estudante do mundo da Ciência.
Alguns textos, além de possuírem características que mostram a Ciência integrada
ao cotidiano, explicitam o seu caráter cultural ao mostrá-la como atividade intelectual
de criação humana, levando o aluno a percebê-la como elemento integrante de um
contexto social, político, econômico e tecnológico do mundo atual. Essa visão mais
abrangente pode colaborar de forma significativa para o entendimento do ensino
formal dos conteúdos.
Muitos desses textos possuem uma estrutura não linear, diferindo dos textos
tradicionalmente utilizados pelos professores (didáticos), estabelecendo relações
entre vários assuntos, articulando-os de modo a oferecerem condições para que os
mesmos sejam trabalhados de forma desfragmentada, viabilizando ainda a
interdisciplinaridade, o que promove a articulação entre alguns conteúdos de várias
disciplinas. Dessa forma, em virtude dessa abordagem interdisciplinar, a leitura pode
propiciar a articulação entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente, bem como
corroborar para uma visão mais abrangente do mundo, contribuindo assim para a
formação de um aluno em condições de refletir sobre atitudes relacionadas à
cidadania, incorporando uma postura mais dinâmica e comprometida com a sua
realidade.
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Essa atividade pedagógica pode instrumentalizar o estudante para que ele
possa interagir reflexiva e criticamente com o meio em que vive, preparando-o para
participar ativamente das decisões da sociedade, ampliando assim a sua
capacidade de desenvolver e vivenciar o conceito de cidadania. Contudo, se por um
lado o texto alternativo é uma ferramenta didática que pode contribuir para a
formação de valores, bem como para a ampliação conceitual do aluno, o processo
envolvendo o trabalho didático em sala de aula requer uma adequação metodológica
por parte do professor, na medida em que difere consideravelmente das aulas
tradicionais.
O professor, ao utilizar os textos alternativos no cotidiano escolar, deverá
estar atento às interpretações dos alunos, pois os “sentidos são produzidos em
determinadas condições de produção que incluem o texto (ou a imagem), o sujeito, a
situação imediata e o contexto histórico-social mais amplo” (SILVA e ALMEIDA,
2003, 030 CD-ROM). Desse modo, a produção dos sentidos está relacionada a
outros sentidos (interdiscursividade), que corresponde a um processo que possui
uma historicidade.
Ao se utilizar textos alternativos em aulas de Física, é importante considerar o
caráter relativo da leitura, pois a produção de sentidos por parte dos estudantes
pode variar, uma vez que cada um possui “história de leituras, conhecimentos e
expectativas diferenciadas, culminando em diferentes interpretações” (SOUZA,
2003, 027 CD-ROM). Desse modo, mediante uma abordagem que priorize a
produção da leitura levando-se em consideração o contexto em que se dá a
interação entre o aluno e o texto, dá-se lugar a leituras parafrásicas e polissêmicas
(ORLANDI, 2001). Nessa perspectiva, enquanto a primeira corresponde a um
mecanismo que delimita a atribuição de sentidos, a segunda se contrapõe à
primeira, levando ao rompimento desses limites, dando lugar à multiplicidade de
sentidos (BRANDÃO, 2002).
O professor deve tomar o cuidado para não usar de coerção, determinando
ou proibindo as interpretações, induzindo o olhar dos alunos para um determinado
(...) conteúdo geralmente atravessado por uma concepção de ciência como uma verdade absoluta, no qual só existe espaço para um sentido único, silenciando-se, por exemplo, as interpretações equivocadas que encontramos na história da ciência, na busca de explicações sobre os fenômenos (SOUZA, 2003, 027 CD-ROM).
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O controle do professor a fim de garantir o seu espaço de significação pode
silenciar o discurso de seus alunos, o que remete a um “silêncio carregado de
significações” (OLIVEIRA, 2003).
Esse controle de significados pode desestimular o aluno à leitura. Numa
perspectiva em que a leitura é pensada como uma prática cultural (SOUZA e
ALMEIDA, 2001) que dá lugar à multiplicidade de sentidos, o significado esperado
pelo professor não deve ser trabalhado como único constituinte da produção do
texto, mas como um desses constituintes. Assim, é importante que o professor utilize
uma abordagem metodológica que confira ao aluno o lugar de sujeito-leitor com
histórias de leituras diferentes, o que implica “em se considerar a multiplicidade de
modos de leitura e de sentidos como constitutivos, já que numa sala de aula, lendo
um mesmo texto, encontram-se diferentes alunos (sujeitos-leitores), com histórias de
vida e de leituras singulares” (SILVA e ALMEIDA, 1998, p.139). Ricon e Almeida
(1991) afirmam que:
(...) a leitura como processo de interação entre um ser social: o aluno e um texto que em seu discurso carrega invariavelmente também o social possibilita o afloramento de seus conhecimentos anteriores (leituras, conversas, aulas, informações via tevê, etc.) e permite que ele perceba a possibilidade de ampliar, aprofundar e até mesmo analisar criticamente alguns desses conhecimentos. É através da relação que se fará entre conhecimentos anteriores e aqueles presentes no texto que se inicia o próprio entendimento do texto (p. 15).
Nessa perspectiva, Silva (1997) afirma que a leitura corresponde a um
processo de produção/atribuição de significados, o que faz com que a interação
entre aluno e texto seja relativa, dependendo da história de vida e de leitura de cada
um. Com isso, a “leitura atual do sujeito sempre se relaciona com suas leituras
anteriores e aponta para as suas leituras futuras” (p. 22), ou seja, uma “mesma
pessoa pode ler de forma diferente um mesmo texto em diferentes momentos de sua
vida, produzindo compreensões diferentes” (SILVA e ALMEIDA, 1998, p. 139).
Os objetivos principais que devem ser considerados no momento da
elaboração de textos paradidáticos são: viabilizar o acesso dos estudantes ao
universo científico e aos conhecimentos necessários para a vida em sociedade por
meio de leitura contextualizada com o cotidiano dos alunos, prezando também pela
apropriação dos fatos históricos relacionados ao conteúdo e demonstrando a forma
em que foram produzidos os conhecimentos científicos. Se os objetivos forem
cumpridos, hipoteticamente, os textos paradidáticos poderiam possibilitar um maior
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interesse dos alunos pela Física mediante uma conveniente postura diferenciada do
professor. De acordo com Assis (2005), os textos paradidáticos
(...) possuem uma estrutura não linear, diferindo dos textos tradicionalmente usados pelos professores (didáticos), estabelecendo relações entre vários assuntos, articulando-os de modo a oferecerem condições para que os mesmos sejam trabalhados de forma desfragmentada, viabilizando ainda a interdisciplinaridade, o que promove a articulação entre alguns conteúdos de várias disciplinas (...) a leitura pode propiciar a articulação entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente, bem como corroborar para uma visão mais abrangente do mundo, contribuindo assim para a formação de um aluno em condições de refletir sobre atitudes relacionadas à cidadania, incorporando uma postura mais dinâmica e comprometida com a sua realidade (p. 56).
Um cuidado que se deve ter, nesta prática, é evitar a indução de que o texto
paradidático seja interpretado como a solução dos problemas educacionais. Não é
este o foco, já que é uma reflexão sobre a leitura de textos paradidáticos sob a
mediação do professor como uma possível utilização em sala de aula. Para viabilizar
o uso desse recurso, é de fundamental importância a participação dos estudantes de
forma ativa e colaborativa, o que nem sempre pode ocorrer com uma simples
mudança de instrumento de consulta. Ao professor, cabe a manipulação adequada
de estratégias metodológicas, conforme salienta Assis (2005):
(...) é fundamental que o professor, além de conhecer os conteúdos a serem ensinados, utilize estratégias metodológicas que propiciem a participação dos estudantes. Uma estratégia que tem despertado grande interesse entre os pesquisadores é a utilização de textos paradidáticos em aulas de Física, pois que, muitos desses textos tratam dos conteúdos científicos num contexto das relações científicas, tecnológicas, sociais e ambientais. Muitos deles abordam a história da Ciência (p.55).
Sendo assim, acreditamos que seja importante fazer com que os alunos
tenham um compromisso com as interações durante as aulas conduzidas e
mediadas pelo professor durante o processo de leitura e discussão dos textos, pois
só assim é possível que ele expresse a produção dos sentidos que o texto forneceu,
permitindo uma intervenção do professor que favoreça o aprendizado.
Ao discutirmos a Física como Ciência, é necessário pensar também na
compreensão da natureza das Ciências, na contextualização da Física e na
articulação com as outras disciplinas, sua localização histórica e social, na
desmistificação dos cientistas como ídolos, na Ciência como provisória e mutável,
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como uma produção humana, assim como seus desencadeamentos que alteraram a
história da humanidade.
Segundo Matthews (1995), Vannucchi (1996) e Carneiro & Gastal (2005), são
estes enfoques, perante a Ciência, que podem ser modificados para a busca de um
processo de ensino com maior qualidade.
2) PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esta proposta tem como eixo temático a implementação de textos
paradidáticos sobre Calorimetria e Termometria para contextualizar os conceitos
físicos ao cotidiano, para tanto, o projeto elaborado foi implementado com uma
turma de 2º Ano do Ensino Médio do período matutino do Colégio Estadual Carlos
Gomes, na cidade de Ubiratã, Estado do Paraná.
A metodologia utilizada na execução da produção didático-pedagógica foi
variada, envolvendo apresentação de vídeos, projeção de lides e pesquisas. As
atividades foram planejadas em quatro módulos, sendo que no primeiro foi composto
por quatro aulas com o intuito de promover o estudo inicial sobre a Calorimetria e
Termometria, foram contextualizados debates pautados em cima de textos
paradidáticos e a produção de desenhos sobre o que foi debatido.
O segundo módulo teve oito aulas com atividades utilizando o livro didático,
sobre os conceitos de calor e temperatura, medição de temperatura e escalas
termométricas, bem como a transmissão de calor.
No terceiro módulo, foram desenvolvidas doze aulas com o uso de alguns
textos paradidáticos, buscando conceituar calor, temperatura, sensação térmica,
troca de calor, pressão, influência das cores e funcionamento do ar condicionado.
Por último, no quarto módulo trabalhamos dezesseis aulas, as quais os
alunos buscaram produzir textos paradidáticos que tem como serventia a introdução
da Física no cotidiano das pessoas, bem como debater essas experiências vividas
em sala de aula com os colegas.
3) ANÁLISES E DISCUSSÃO
O trabalho que envolveu os alunos teve inicio com a proposta apresentada
para a instituição escolar, bem como para os alunos da turma, sendo especificados
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os pontos relevantes da disciplina de Física e propondo práticas que necessitaram
do empenho dos alunos na reflexão das atividades cotidiana, para relacionar os
pontos específicos da teoria de Física expressas nos textos que elaboramos.
A princípio da exposição deste projeto os alunos se demonstraram
apreensivos, pois o estudo da disciplina de Física para eles é algo muito complexo,
que exige muito esforço para solucionar problemas. Foi necessário argumentar que
a Física é utilizada em nosso cotidiano e a necessidade de se pensar nas
possibilidades de uso é que desenvolve nossas habilidades de ações nas atividades
diárias, sendo importante para novas descobertas. Porém, com as vertentes
apresentadas, os alunos se propuseram a enfrentar o desafio e buscar novas formas
de conhecimento sobre a disciplina.
Após o diálogo com os alunos foi desenvolvido um trabalho dinâmico no
primeiro módulo com pesquisa em revistas de elementos que revertem à calorimetria
a termometria. Nesta atividade, os alunos apresentaram suas dificuldades, sendo
que a maioria deles demonstrou não relacionar a Física em suas atividades
cotidianas, sendo um agravante para a pesquisa que estava sendo realizada. A
partir de orientações necessárias, eles construíram um mural com vários temas
ligados a calorimetria e termometria, onde foi possível identificar imagens e figuras
de pedaços de madeira, pisos, ferro, alumínio, latas e corpos com cores diferentes.
Com isso, os alunos passaram a perceber o envolvimento da Física nas nossas
ações práticas.
Para o ensino da disciplina sistematizada, é compreensível interiorizar o
conteúdo partindo do entendimento e da interação com o meio estudado. Sendo
assim, os alunos apresentaram resultados surpreendentes na confecção do mural,
ao conseguirem perceber a Física nas atividades mais rotineiras das suas vivências,
quando conseguiram assimilar a confecção de muitos objetos que podem ser feitos
de madeira, ferro, alumínio e até mesmo com o envolvimento de mais de um
elemento.
Ao atingir esse resultado, também houve evolução da turma em relação ao
que lhes foi proposto, e assim, buscamos incentivá-los individualmente, a produzir
desenhos de componentes que de certa forma revelam a calorimetria nos aspectos
de corpos com trocas de calor e a termometria nos fenômenos relativos ao calor.
Desta forma, os desenhos apresentados pelos alunos foram cabos de panelas
compondo ferro e madeira, garrafa térmica, colher de metal com cabo de madeira,
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panela de ferro e cabo de madeira, tampa de garrafa com rolha, faca e talheres com
cabo de madeira e plástico.
Assim, foi possível trabalhar esses resultados com a construção de história
em quadrinhos confeccionadas pelos alunos em grupo. Essas histórias propiciaram
aos alunos explorar técnicas relacionadas às suas vivências, as quais demonstraram
muito entusiasmo com os questionamentos e debates sobre o assunto, permitindo a
troca de informação e ideias que podem servir de bases empíricas para a
construção do conhecimento, além de servir como técnicas para amenizar muitos
problemas causados pela população ao meio ambiente.
Sobre a utilização do livro didático no segundo módulo, não houve evolução
como esperado. No livro os textos são resumidos e os alunos não demonstraram
firmeza nas suas correlações entre o texto e suas bases, sendo possível observar a
insegurança na assimilação dos conteúdos com a prática. Na tentativa de
compensar esse “problema” trabalhamos com algumas atividades experimentais
com o objetivo de consolidar a aprendizagem dos conceitos.
Com o uso de experimentos, os alunos experimentaram diversos contextos
complementares aos textos dos livros didáticos. Sendo identificado que muitos
conseguiram compreender a dinâmica da ação e assim, proposto a construção de
uma maquete com materiais reciclados, sobre a termodinâmica, propagação de
calor, mudança de fase da matéria e os condutores e isolantes de calor, onde foram
relacionados muitos utensílios domésticos como micro-ondas na transformação de
energia elétrica em energia térmica; geladeira como isolante térmico e também como
condutor de troca de calor entre o ar externo e o ar interno, bem como a
transformação do ar interno, o transporte da energia térmica para fora e a formação
de partículas de gelo.
Nesta atividade, eles demonstraram muito empenho e participação, atitudes
que contribuíram para resultados satisfatórios, pois além da formação do material de
estudo, demonstraram interesse e conhecimento da Física nas diversas vivências do
cotidiano, sendo notado uma melhora nas formas de compreensão e retomada do
conteúdo, sendo que, apenas o material didático muitas vezes pode ser um
agravante para a desmotivação da aprendizagem da disciplina, por não possibilitar o
relacionamento direto com a experiência.
Para o desenvolvimento do terceiro módulo, as argumentações sobre o tema
e a exploração por meio de experiências e conhecimento empírico mostram a
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necessidade de buscar novas formas de compreender o estudo de Física. Foram
levantados muitos questionamentos com os textos utilizados em sala de aula. Como
resposta, pedi que eles em grupos confeccionassem textos ligados a exploração de
respostas sobre as diferenças entre o piso de azulejo e o piso de madeira, sendo
que aparentemente um se mostra “mais frio” que o outro, apesar de estarem na
mesma temperatura ambiente.
Com os textos produzidos pelos alunos, avaliamos um bom desempenho com
relação a criatividade de explorar os campos da experiência. Neste mesmo módulo,
também foram trabalhados os tons das cores, a expressão dos tons escuros e
claros. Com o uso do mapa mental foi possível articular o conceito das cores entre a
teoria e a prática, com momentos de indagações e representações visuais, que
inferem nos modos de percepção e sentidos que nos levam a considerar que as
teorias de Benjamin Franklin sobre o uso de roupas pretas no verão estão corretas.
Os textos paradidáticos foram importantes para este projeto porque com eles
é possível trabalhar de forma interdisciplinar, proporcionando ao aluno a interação
do aprendizado de outras disciplinas e contextualizar de forma segura seu
conhecimento. Notamos que muitos alunos têm escolhas por disciplinas diversas e
embora a Física não seja seu principal condutor de motivação, o caminho para
conquistar o espaço das aprendizagens nesta disciplina pode ser de modo
interdisciplinar, contextualizando nos textos trabalhados uma série de conceitos que
envolvem não somente as experiências cotidianas dos alunos, mas também suas
preferências de estudos.
No quarto e último módulo, quando os alunos apresentaram os textos que
produziram, destacamos o empenho dos alunos nesta produção onde foi visível o
reflexo das discussões anteriores, mostrando que eles passaram a compreender a
Física de um modo diferente do que podemos chamar de tradicional ao trabalharmos
os conceitos físicos a partir de experiências cotidianas de cada aluno apresentando
resultados satisfatório em relação ao aprendizado e a construção do conhecimento
formado por suas próprias realidades.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos problemas afligem o ensino de Física, mas um dos mais importantes é
a didática do professor em sala de aula, que em muitos casos já não conseguem
mais atrair a atenção dos alunos pelos conteúdos. Há muitas metodologias e
recursos que podem ser usados em sala de aula. Nossa abordagem nesse trabalho
buscou resposta para esse tipo de problemática, sobre como escolher e utilizar
textos paradidáticos para motivar e ajudar os alunos no processo de ensino
aprendizagem.
Os textos paradidáticos utilizados nessa proposta foram elaborados de acordo
com as condições rotineiras, que se fazem necessárias para pensar e refletir as
relações científicas que agregam maior entendimento sobre os conteúdos
abordados. Com a participação efetiva dos alunos realizando observações
detalhadas em suas ações cotidianas e a aplicação prática na escola, observamos
maior interação dos alunos com a disciplina, os quais destacaram questões
importantes de suas vivências cotidianas como forma de compreender o conteúdo
abordado.
Contudo, os alunos apresentaram suas considerações de aprendizagem,
identificando nos textos paradidáticos meios de construir aprendizagens solidas e
eficientes, capaz de despertar o interesse pela disciplina de Física e compreender os
elementos que compõe os espaços sociais, e desta forma, servir de parâmetros para
a construção do conhecimento através das próprias realidades.
A partir dos resultados obtidos, entendemos que esse recurso, da forma como
foi planejado a sua utilização, apresentou resultados muito interessantes porque
gerou grande interesse nos alunos e também constatamos que os alunos
apresentaram melhores resultados de aprendizagem e conhecimento, mesmo que
esse tipo de recurso não seja comum de ser trabalhado em sala de aula por
professores.
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REFERÊNCIAS
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