OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para instigar o interesse do aluno optou-se em...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
FORMAÇÃO DO LEITOR: GINCANA DA LEITURA
PROFESSORA PDE: Raquel Sosa Pessini1 PROFESSORA ORIENTADORA: Cleiser Schenatto Langaro2
RESUMO: Este artigo resulta do processo de formação continuada da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Apresenta reflexões sobre a formação do leitor e sobre a importância da leitura literária no ambiente escolar. Optou-se em trabalhar com o gênero conto por ser uma narrativa curta e com a temática do primeiro beijo nas obras de Ivan Jaf e Clarice Lispector. Buscou-se também uma abordagem que despertasse no aluno o prazer pela leitura desses contos, bem como suas habilidades de leitura, compreensão e a conscientização acerca da importância da leitura para seu desenvolvimento intelectual. Para instigar o interesse do aluno optou-se em realizar a Gincana da Leitura e com a mediação do professor o leitor estabeleceu um diálogo entre a leitura dos contos e suas próprias experiências vividas.
Palavras-chave: Leitura. Literatura. Gincana da Leitura.
1. INDRODUÇÃO
Este artigo teve como propósito abordar a formação do leitor por meio da
mediação do professor visto que o trabalho que visa desenvolver o prazer pela
leitura é um dos maiores desafios da escola. Buscaram-se novas abordagens
para aprimorar o gosto, bem como o desenvolvimento de habilidades de leitura
e compreensão textual. Além disso, despertar no leitor a reflexão sobre a
necessidade da leitura para seu desenvolvimento intelectual, necessário para a
vida pessoal e profissional.
Entende-se que não existe receita mágica para democratizar a leitura e
que o que deve existir é uma atenção especial ao trabalho voltado para o
aprimoramento de leitores, um questionamento diário acerca da prática
docente, escolar, familiar, social e política, além de imaginação e trabalho
paciente e prazeroso, conforme orientações de Petit (2009).
O professor tem encontrado dificuldades para trabalhar o texto literário
com adolescentes, pois a linguagem artística parece complexa ao educando o
1 Professora de Língua Portuguesa e Literatura, Especialista em Interdisciplinaridade na
Educação Básica, formação PDE – Programa de Desenvolvimento da Educação do Estado do Paraná. 2 Orientadora da Pesquisa. Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Letras, nível de Doutorado – área de concentração em Linguagem e Sociedade da UNIOESTE – Campus de Cascavel. Professora na Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, PR, Brasil.
que lhe causa, muitas vezes, medo do livro ou do texto. Devido a isso, optou-se
pela escolha de contos que apresentam temas de interesse dos alunos e que
refletem os anseios de uma etapa ou fase da vida, a adolescência. Sendo
assim, a temática relacionada ao acontecimento do primeiro beijo foi
contemplada nas obras de Clarice Lispector e Ivan Jaf, bem como em relatos
diversos encontrados em internet.
Darc (apud Martha, 2008, p 148) observa que “[...] a formação do leitor
não é um processo isolado que deva ser atribuído a uma única instituição, mas
deve ser compreendido como uma convergência de mediações que
apresentam como princípio a valorização do leitor”. Para aprimorar o interesse
do educando pela leitura do texto literário optou-se em trabalhar com o gênero
conto, narrativa breve, de poucos personagens, com unidade de ação, de
espaço e tempo, assim como de um só núcleo dramático.
Para Cagliari (1990, p.173) “há um descaso enorme pela leitura de
textos, pela programação dessa atividade na escola, no entanto, a leitura
deveria ser a maior herança legada pela escola aos alunos, pois ela, e não a
escrita, será fonte perene da educação, com ou sem a escola”. Compreende-se
que tal prática contribui para preparar o aluno para leituras mais complexas,
próprias do Ensino Médio e que a leitura não pode ser uma atividade
secundária em sala de aula, ela deve ser priorizada.
2. A IMPORTÂNCIA DA LEITURA
Ressalta-se que a leitura é fundamental para a formação humana, pois é
através dela que o aluno tem acesso aos mais diversos conhecimentos e as
mais diversas concepções de mundo. No entanto, o espaço concedido pela
escola para a leitura é mínimo, o que normalmente ocorre é a priorização da
escrita. Para Cagliari:
a atividade fundamental desenvolvida pela escola para a formação dos alunos é a leitura. É muito mais importante saber ler do que saber escrever. O melhor que a escola pode oferecer aos alunos deve estar voltado para a leitura. Se um aluno ao se sair muito em as outras atividades, mas for um bom leitor, penso que a escola cumpriu em grande parte sua tarefa. Se, porém, outro aluno tiver notas excelentes em tudo, mas não se tornar um bom leitor, sua formação será profundamente defeituosa e ele terá menos chance no futuro
do que aquele que, apesar das reprovações, se tornou um bom leitor (1990, p.148).
A leitura proporciona descobertas que levam a interpretar o mundo e
suas ideologias. Petit (2009, p. 38) destaca que a leitura permite a reavaliação
das experiências do leitor, decifrá-las, “[...] é o texto que “lê” o leitor, de certo
modo e ele que o revela; é o texto que sabe muito sobre o leitor, de regiões
dele que ele mesmo não saberia nomear. As palavras do texto constituem o
leitor, lhe dão um lugar”.
Um bom leitor é aquele que aceita os desafios propostos
constantemente pela escola para desenvolver suas potencialidades cognitivas.
Além disso, a formação de leitores competentes leva sem dúvida a formação
de bons escritores. Cagliari (1970) ressalta que a escola não pode esquecer
que leitura e escrita são práticas relacionadas e é no texto que o aluno
desenvolve a linguagem, aprimora o vocabulário e atribui sentido àquilo que
diz. Sendo assim, não haverá bons escritores se estes não forem bons leitores.
As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná em Língua Portuguesa
estabelecem que a leitura é:
como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o individuo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, e sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. A leitura se efetiva no ato da recepção, configurando o ato individual que ela possui” (...) depende de fatores linguísticos e não-linguísticos: o texto é uma potencialidade significativa, mas necessita da mobilização do universo de conhecimento do outro - do leitor – para ser atualizado (PERFEITO, 2005, p.54-55) ( DCEs, 2008, p. 56-57).
Nesse sentido, entende-se que a escola deve priorizar a leitura, todos os
professores de todas as disciplinas, considerando que é a leitura o caminho
para o aluno desenvolver seu conhecimento acadêmico e de mundo.
3. OBJETIVOS DA LEITURA NA ESCOLA
Cada vez mais percebe-se alunos que não demonstram prazer pela
leitura e que raramente comentam o que leem. Cabe, portanto, à escola fazer
com que a leitura tenha maior significado e que o leitor aprenda, descubra e
utilize as potencialidades da linguagem para melhor compreensão daquilo que
está lendo, assim como do mundo em vive.
Como estabelecem as Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) a escola
e a prática docente são de real importância para formar um bom leitor.
Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná em Língua
Portuguesa:
é tarefa da escola possibilitar que seus alunos participem de diferentes práticas sociais que utilizem a leitura, a escrita e a oralidade, com a finalidade de inseri-los nas diversas esferas de interação. Se a escola desconsiderar esse papel, o sujeito ficará à margem dos novos letramentos, não conseguindo se constituir no âmbito de uma sociedade letrada (DCEs, 2008, p.48).
Dessa forma entende-se que o educando precisa aprender o prazer da
leitura. Para tornar-se um leitor competente é preciso sentir necessidade de
decifrar o meio em que vive, relacionando-o e ressignificando-o com mundo
dos livros. Azevedo (apud SOUZA, 2004, p.38) explica que “[...] a leitura, como
muitas coisas boas da vida, exige esforço e que o chamado prazer da leitura é
uma construção que pressupõe treino, capacitação e acumulação [...]”. É
importante salientar que aprimorar o prazer e as habilidades de leitura e
interpretação contribui para formar um leitor competente para a vida toda.
4. ESTUDO DA LEITURA NA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO
A Estética da Recepção, de acordo com Zilberman (2004), apresenta
uma nova proposta metodológica para entender a leitura. Nessa concepção,
passa-se da ênfase no texto para a ênfase no leitor para que este seja sujeito
de sua história.
Segundo Jauss (1979) essa concepção consiste no estudo do efeito
estético do texto sobre o leitor:
[...] A experiência estética não se inicia pela compreensão e interpretação do significado de uma obra; menos ainda, pela reconstrução da intenção se seu autor. A experiência primaria de uma obra de arte realiza-se na sintonia com (Einstellung auf) seu efeito estético, i.e., na compreensão fruidora e na fruição compreensiva [...] (1979, p.46).
A abordagem dessa estética propicia uma teoria instigante para o
trabalho com a leitura em sala de aula, onde passa do processo de análise do
texto para uma análise de elementos fora do texto, que direciona para uma
compreensão prazerosa pelo educando. “A aplicação, portanto, deve ter por
finalidade comparar o efeito atual de uma obra de arte com o desenvolvimento
histórico de sua experiência (...)”. (JAUSS, 1979, p.46).
Nesse sentido a leitura se faz por meio da participação do leitor na
construção de sentido dependendo da sua vivencia. É o leitor o elemento
fundamental no processo de leitura e sua experiência de vida é o que vai dar
sentido ao texto que lê.
5. FORMAÇÃO DO LEITOR
Formar leitores que leiam para estudar, obter informações, para
aprimorar sua capacidade intelectual ou por puro prazer é formar a base para
uma prática que dure a vida toda. De acordo com Solé (1998) ler e interpretar
textos escritos contribui de forma decisiva para a autonomia das pessoas, na
medida em que a leitura é um instrumento necessário para existir em uma
sociedade letrada.
Segundo Lajolo (1993, p.68) “ninguém nasce sabendo ler: aprende-se a
ler à medida em que se vive.” A escola, portanto, é um lugar de compartilhar
conhecimento, onde o educando é colocado diante de tarefas pré-
determinadas, onde o professor é encarregado de mediar a pratica de leitura.
Para Aguiar:
do ponto de vista da formação do leitor, deve-se estar atento para a distancia existente entre o conhecedor e o consumidor de literatura. Na verdade, a escola preocupa-se em transmitir ensinamentos sobre a literatura e não em ensinar a ler (apud Martha, 2008, p.16).
Portanto, para despertar no educando o gosto pela leitura e torná-lo um
leitor competente é necessário despertar nele a sensibilidade, a capacidade de
se situar frente ao texto com uma compreensão critica do ato de ler.
Nesse sentido a leitura é antes de tudo uma libertação. Petit observa
que:
ler é, portanto a oportunidade de encontrar um tempo para si mesmo, de forma clandestina ou discreta, tempo de imaginar outras possibilidades e reforçar o espírito crítico. De obter uma certa distancia, um certo “jogo” em relação aos modos de pensar e viver de seus próximos. Poder conjugar suas relações de inclusão quando se encontrar entre duas culturas, em vez de travar uma batalha em seu coração (2009, p.56-57).
Poder ler é compreender e interpretar textos de diversos tipos, de
diversas intenções e objetivos e dessa maneira contribuir para a constituição
de identidade e autonomia.
6. ESTRATÉGIAS DE LEITURA
O professor enquanto leitor assíduo e competente deve oportunizar ao
educando suas experiências de leitura, mas também ouvindo as interpretações
do aluno leitor. Essa pode ser uma estratégia de leitura válida. Solé (1998,
p.71) observa que “[...] estas estratégias são as responsáveis pela construção
de uma interpretação para o texto e, pelo fato de o leitor ser consciente do que
entende e do que não entende, para poder resolver o problema com o qual se
depara”. Dessa forma o educando amplia sua capacidade de interpretação, de
interação com o texto, bem como sua visão de mundo.
Há de se propiciar momentos para que o educando vivencie situações
de troca de experiências antes e depois da leitura. Solé (1998, p.89) salienta
que “[...] muitas das estratégias são passiveis de trocas, e outras estarão
presentes antes, durante e depois da leitura [...]”. Acrescenta ainda que as
estratégias de leitura devem estar presentes ao longo de todas as atividades
desenvolvidas na escola, pois são elas que fazem da leitura um ato prazeroso,
significativo e envolvente.
Para Solé:
formar leitores autônomos também significa formar leitores capazes de aprender a partir dos textos. Para isso, quem lê deve ser capaz de interrogar-se sobre sua própria compreensão, estabelecer relações entre o que lê e o que faz parte do seu acervo pessoal, questionar seu conhecimento e modificá-lo, estabelecer generalizações que permitam transferir o que foi aprendido para outros contextos diferentes (SOLÉ, 1998, p.72).
A partir de práticas intencionais, com objetivos pré-estabelecidos, o
professor mediará esse processo, ou seja, dará condições para que, na escola,
o educando participe e desenvolva sua autonomia diante da leitura. As
estratégias de leitura devem permitir ao educando a condição de planejar as
tarefas que viabilizam o processo de leitura e de compreensão da mesma. Com
isso ele utilizará conhecimentos prévios que lhe permitem interagir com o texto.
7. GÊNERO CONTO
O conto é um tipo de narrativa que se opõe, pela extensão, à novela e
ao romance. É uma narrativa pouco extensa e a sua brevidade tem implicações
estruturais: reduzido número de personagens, concentração do espaço e do
tempo, ação simples e decorrendo de forma mais ou menos linear.
Em Alexius, Langaro e Alves:
o gênero conto ao contrário do romance, tem uma gênese modesta: nasce do povo. (...), a origem popular desse gênero, de extensão breve, entendido como entretenimento inicial dos longos serões das clãs primitivas em torno da fogueira familiar, tem sido, ultimamente, considerado com o devido interesse.(...), o conto, como arte literária, é relativamente recente. No seu processo evolutivo, partiu dos mitos, tradições e lendas, para assumir a forma de arte literária propriamente dita, cuja grande realização, no Brasil, deu-se em 1882, com a publicação de Papéis avulsos, de Machado de Assis (2006, p.02).
Sendo assim, nota-se que o gênero conto sofreu algumas
transformações, pois o público que antes era o ouvinte passou a ser o leitor.
O conto assim como toda obra literária apresenta mais de uma história,
uma aparente, a que está aos olhos de todos e a outra que está nas
entrelinhas e que pode ser chamada de subtexto. Este último requer uma
considerável bagagem literária para ser entendido e, portanto, habilidades de
um leitor ativo, que dialogue e questione o mesmo. Conforme Cortázar (1974) é
o que causa o estranhamento e que intriga o leitor logo após a leitura, fazendo
com que leia novamente o texto para desvendar a outra historia e que continue
dialogando com ele mesmo depois de findada a leitura.
Gotlib (2002) observa que devido à brevidade do conto, devido à
presença do mistério, do diálogo estabelecido com leitor e da sua relação com
a realidade, o mesmo provoca no leitor um impacto imediato e, dessa forma, e
por essas razões, o gênero conto cativa e encanta muitas gerações de leitores,
pois é um gênero textual de muita vitalidade.
8. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO
Este projeto de implementação realizado junto ao PDE – Programa de
Desenvolvimento da Educação, do governo do Estado do Paraná, com a
finalidade de promover a formação continuada dos professores, teve como
tema a formação do leitor a partir do conto e como título Gincana da Leitura.
Objetivou-se ampliar o interesse e a habilidade para a leitura literária a
partir do conto, bem como desenvolver a sua capacidade de interpretação. O
projeto foi implementado junto ao Colégio Estadual Belo Horizonte, da cidade
de Medianeira nas turmas dos 9º anos vespertinos.
O projeto tem como justificativa atender um dos grandes desafios do
trabalho do professor em sala de aula, ou seja, diminuir a reconhecida
indiferença dos alunos em relação a leitura, tendo como objetivos propor
algumas ações para essa finalidade, tais como: aprofundar conhecimentos
teóricos metodológicos acerca de práticas direcionadas ao trabalho com a
formação do leitor; estimular o prazer pela leitura nos alunos do 9º ano,
destacando a temática que envolve o acontecimento do primeiro beijo, a ponto
de provocar reflexões críticas sobre esse momento de vida; possibilitar o
entendimento e o desenvolvimento das competências de leitura nos educandos
e interpretar os contos relacionando-os com experiências de vida.
A proposta de intervenção pautou-se em pensar a leitura com a seguinte
indagação: Como desenvolver no educando o gosto pela leitura literária, de
modo que a mesma contribua no processo de ensino e aprendizagem?
9. AÇÕES DESENVOLVIDAS NA IMPLEMENTAÇÃO E A
METODOLOGIA UTILIZADA
Apresentam-se aqui algumas considerações de como o trabalho foi
proposto e desenvolvido em sala de aula, de maneira a formar um leitor
consciente do papel da leitura na interação humana, particularmente no conto
como expressão artística da linguagem. Nessa direção, tratou-se da leitura de
contos explorando o dia a dia dos adolescentes e também da relação do conto
com a poesia, com a música e com a fotografia.
A implementação do projeto de intervenção na escola iniciou-se com a
socialização, no mês de fevereiro, quando se realizou a divulgação do projeto
para a direção, professores e equipe pedagógica, durante a semana
pedagógica. Logo após foi realizada a apresentação do projeto para os alunos.
Iniciou-se a implementação da proposta didático-pedagógica em sala de
aula, sendo que a sistematização do trabalho deu-se por meio de uma
sequência didática, composta por várias unidades contendo textos de
fundamentação teórica, contos, poesias, fotografias e atividades pensadas para
possibilitar o contato do aluno com a linguagem literária, em suas diferentes
manifestações e suportes.
Num primeiro momento, foi feito o reconhecimento do gênero conto, bem
como foi estudado suas características. Iniciou-se pelo questionamento sobre o
que o aluno conhece acerca desse gênero textual, realizando uma sondagem
oral.
A seguir os alunos foram levados a biblioteca para o contato com livros
de contos contemporâneos, abordando-se o contexto de produção (autor, data
de publicação, local, editora, etc.).
Figura 1: Biblioteca
Fonte: arquivo pessoal
Na sequência trabalhou-se com a temática do primeiro beijo,
selecionaram-se contos de Clarice Lispector, da obra intitulada Primeiro Beijo,
na qual o conto com título homônimo e a biografia da autora subsidiaram
atividades de interpretação textual, reconhecimento do gênero, revisão sobre
os elementos da narrativa.
As relações de intertextualidade contribuíram para aguçar o interesse
pela busca de informações acerca de outros textos com a mesma temática,
permitindo novas interações, relações e sentidos para interagir com o tema.
Apresentou-se o capítulo XXXIII, O Penteado, da obra Dom Casmurro de
Machado de Assis, a cena da minissérie Capitu, produzida pela Rede Globo de
Televisão, cena que apresenta o primeiro beijo entre os personagens Bentinho
e Capitu.
Propôs-se a análise pessoal da temática do primeiro beijo em uma roda
de conversa, onde os alunos de forma descontraída responderam a
questionamentos de ordem pessoal acerca da temática do primeiro beijo.
O texto de Curiosidades sobre o beijo, na sequência, ampliou as
questões da intertextualidade e interdisciplinaridade. Contextualizou-se sobre o
primeiro beijo após a segunda guerra mundial.
Figura 2: O Beijo Da Times Square
http://fotonahistoria.blogspot.com.br/2012/04/o-beijo-da-times-square.html, Pesquisado em 25
de outubro de 2013.
O anúncio sobre o final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, teve
como comemoração um fato que surpreendeu e comoveu o mundo: o beijo do
de um soldado a uma enfermeira, supostamente desconhecida, em plena rua.
A foto de Alfred Eisenstaedt foi publicada na revista Life. Além de pesquisas
houve também um debate sobre esse episódio.
Novas relações de intertextualidade ocorreram com a análise da música
de Rita Lee Flagra, dentre outras questões.
O trabalho com a Gincana da Leitura teve como objetivo tornar a leitura
um ato de prazer e descobertas de novas possibilidades de interpretação, de
inter-relação com os textos literários. Além disso, permitiu investigar os meios
em que surge a temática relacionada com a fase de desenvolvimento da
adolescência. Sendo assim, o trabalho consistiu em colocar os educandos em
contato com a leitura dos contos “Beijo na Boca” de Ivan Jaf, que abordam o
acontecimento do primeiro beijo. Dessa maneira, em grupos, por meio de
atividades variadas, o leitor refletiu sobre tal período em sua vida. Com a
mediação da professora, o educando estabeleceu um diálogo com suas
experiências de vida e com os contos estudados.
A Gincana da Leitura contou com tarefas diversas, onde os alunos em
grupos leram os contos e desenvolveram as atividades. Tais como: desfile
caracterizando as personagens, física e psicologicamente; elaboração de
campanha publicitária do conto lido, divulgando e incentivando a leitura do
mesmo; reconto através de paródia; teatralizando a história; ilustração do
conto; recontar forma de HQ; simulação de entrevista com as personagens
principais do conto; elaboração de painel com as caricaturas e características
principais dos personagens dos contos; envio de cartas ao autor do livro “Beijo
na Boca”, Ivan Jaf, questionando-o sobre as personagens, sendo que as cartas
foram respondidas pelo autor; pesquisas sobre relatos acerca do primeiro beijo,
apresentadas em sala de aula; a última tarefa propôs a escrita de um conto
relatando o primeiro beijo ou como ele (aluno) gostaria que fosse seu primeiro
beijo.
Figura 3: Painel das caricaturas
Fonte: arquivo pessoal
Figura 4: Produções de textos dos alunos:
Fonte: arquivo pessoal
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como objetivo ampliar o interesse e a habilidade para a
leitura literária a partir do conto, bem como desenvolver a capacidade de
interpretação e aprofundar conhecimentos teóricos metodológicos acerca de
práticas direcionadas ao trabalho com a formação do leitor.
Constatou-se nesse estudo que os objetivos propostos no projeto de
implementação pedagógica foram atingidos. Acredita-se que para desenvolver
o gosto pela leitura são necessárias mais ações e essas com uma continuidade
no decorrer da vida acadêmica. Nesse sentido, é preciso criar uma cultura de
leitores, com ações que provocam uma mudança do olhar do leitor para que se
efetive uma nova postura diante da leitura.
Os educandos demonstraram satisfação em participar das atividades,
muitas vezes o prazer pela leitura pode ser constatado como expressão das
emoções, da descoberta do novo ou até do que já faz parte do repertório
literário dos adolescentes. A participação ativa, a criação e recriação de textos,
as discussões acerca do tema foram riquíssimas para a concepção da
linguagem como interação humana. Acredita-se que o conceito de conto
passou de algo fictício para algo real, como um gênero vivo. Aproximando
assim as leituras da escola com a vida.
Dentre os alunos observou-se inicialmente haver maior número de não
leitores, embora boa parte deles envolveu-se no universo das narrativas, o que
se atribui ao tema proposto, dando suas contribuições e participando com
comprometimento e prazer.
Portanto, considera-se que ações como as que foram propostas pela
implementação pedagógica e analisadas neste artigo são possibilidade de
formar leitores proficientes desde que ocorram de forma gradual e continuada.
Assim, diante do exposto, considera-se esta implementação como uma
experiência válida, carregada de significação para todos os estudantes, já que
todas as ações envolveram o prazer e a alegria na realização das atividades,
fator esse que contribuiu para o sucesso desse projeto.
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