OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Para isso existe o estudo da Cartografia,...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
LETRAMENTO CARTOGRÁFICO:
UMA PERSPECTIVA PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DA
LINGUAGEM GRÁFICA NO 3º CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Autor (a): Andréia Aparecida Martins1
Orientador (a): Adriana Salviato Uller2
Resumo:
Este projeto vem ao encontro da necessidade de se trabalhar na construção do
conhecimento cartográfico voltada para a preparação dos alunos para a leitura
de mapas. Tentando contribuir para a própria prática pedagógica, pensou-se na
proposta metodológica de codificação e decodificação de símbolos gráficos nas
aulas de geografia do 7º Ano do Ensino Fundamental. O objetivo geral foi
analisar o aproveitamento dos alunos na aprendizagem de leitura de mapas a
partir de proposta metodológica construtivista, partindo de atividades mais
concretas e participativas. Para isso foi necessário investigar quais atividades
poderiam ser desenvolvidas com caráter construtivo, criar uma sequencias de
exercícios de codificação e decodificação de sinais, empregados no processo
de alfabetização gráfica, aplicar as atividades com os alunos utilizando
materiais concretos e atrativos para desenvolver principalmente o interesse
pelo estudo e por fim avaliar o resultado obtido no aspecto de aprendizagem e
a satisfação por esse tipo de metodologia de ensino. Como resposta foi
percebido que tantos os alunos corresponderam ao esperado, no sentido de
conseguir compreender os elementos importantes da leitura cartográfica, como
também os professores que tiveram contato a partir do Grupo de Trabalho em
Rede - GTR consideraram bastante pertinente a proposta e acrescentaram
novas sugestões enriquecendo ainda mais a perspectiva de ensino e
aprendizagem significativos. Através dessa experiência desenvolvida junto ao
Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, foi possível oportunizar
uma maior reflexão sobre a prática docente pessoal, no intuito de propiciar aos
alunos um trabalho com maior aproveitamento efetivo no campo da Geografia e
Cartografia.
Palavras-chave: Cartografia Escolar. Ensino de Geografia. Construção do
Conhecimento.
1 Docente da Rede Pública atuando com a Educação Básica nos níveis de Ensino Fundamental e Médio.
Também atua como tutora do curso a distância da UNOPAR, campus de Wenceslau Braz.
[email protected] 2 Docente do Ensino Superior da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Mestre em Educação e Doutora
em Geografia. [email protected]
1. INTRODUÇÃO
Este projeto foi desenvolvido durante período em que se participou do
Projeto de Desenvolvimento Educacional - PDE, como proposta de capacitação
profissional. O mesmo veio ao encontro de uma inquietação pessoal enquanto
docente no sentido de que se percebia uma grande dificuldade no ensino da
Geografia com os alunos de Ensino Fundamental e Médio, principalmente no
que tange a compreensão da leitura de mapas.
Percebeu-se que muitos alunos sequer tinham o interesse em observar
um mapa e até mesmo colegas profissionais da área muitas vezes deixavam
de lado este aspecto pela dificuldade de compreensão dos alunos.
Tentando contribuir para a própria prática pedagógica, e também para
alguns outros colegas de profissão sonhadores com um ensino de maior
qualidade pensou-se na seguinte problemática norteadora: “Como uma
proposta metodológica de codificação e decodificação de símbolos
gráficos nas aulas de geografia podem contribuir para o processo de
leiturização de mapas pelos alunos do 7º Ano do Ensino Fundamental?”.
Acredita-se que com um trabalho diferenciado, pautado nas abordagens
construtivistas de um ensino partindo de atividades mais concretas e
participativas, os alunos poderão não só aprender com maior facilidade, mas
também até se interessar mais pelas atividades que envolvem conceitos
cartográficos, uma vez que irão perceber-se capazes de construir seus próprios
mapas, entendendo a grande importância desse instrumento para a localização
das pessoas e também para aquisição de informações que muitas vezes são
transmitidas por meio deles.
Nesse sentido traçou-se como objetivo geral e principal "analisar qual o
aproveitamento dos alunos na aprendizagem de leitura de mapas a partir de
uma proposta metodológica de trabalho construtivista, com os propósitos de
codificação e decodificação de símbolos". Para que este pudesse ser atingido,
os objetivos específicos foram definidos em: "Investigar quais atividades de
caráter construtivo e prático podem ser desenvolvidas no trabalho com leitura e
produção de mapas; Criar uma sequência de exercícios de codificação e
decodificação de sinais, empregados no processo de alfabetização gráfica;
Aplicar as atividades propostas com os alunos utilizando materiais concretos e
atrativos para desenvolver principalmente o interesse com este estudo; Avaliar
o resultado obtido no aspecto de aprendizagem e até mesmo a satisfação por
esse tipo de metodologia de ensino.
Para o desenvolvimento desse projeto faz-se necessários adotar como
procedimentos metodológicos alguns passos indispensáveis, como: pesquisa
bibliográfica nas áreas de ensino da Geografia e da Cartografia, bem como da
psicologia da aprendizagem de modo a subsidiar a construção da proposta de
atividades a serem aplicadas, a apresentação da proposta para os alunos com
direcionamentos para as atividades de cada momento, a seleção de temáticas
a serem abordadas em mapas tendo como enfoque o Brasil (tema de estudo
da Geografia no 7º Ano do Ensino Fundamental), a definição sobre a
construção de símbolos (codificação) a serem empregados na produção dos
mapas temáticos definidos que serão construídos junto aos alunos, uma
avaliação da leitura (decodificação) de outros mapas já prontos que aparecem
nos livros didáticos através de ficha semi-estruturada e por fim uma visita ao
Parque Newton Freire Maia, ampliando tudo aquilo que os alunos foram
aprendendo, através da experienciação prática.
Todo o trabalho foi desenvolvido no ano de 2014, no Colégio Estadual
Ary Barroso – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de
Wenceslau Braz, Paraná.
No desenvolvimento deste artigo será inicialmente realizada uma
reflexão teórica sobre a questão da cartografia escolar, e na sequência
apresentado o trabalho prático desenvolvido, enquanto unidade didática e
aplicação (intervenção).
Nas considerações finais será apresentada uma espécie de avaliação
reflexiva (Feedback) sobre tudo o que fora desenvolvido, no sentido de estudo
e atividades desenvolvidas, fazendo uma análise sobre o aproveitamento por
parte dos alunos e para a própria qualificação profissional, oportunizada por
esse programa de formação continuada.
2. DESENVOLVIMENTO
Para um melhor entendimento da problemática e proposta a ser
apresentada faz-se necessário retomar alguns preceitos teóricos que darão
sustentação ao projeto e atividades a serem desenvolvidas. Nesse sentido o
desenvolvimento desse artigo será subdividido em temáticas de abordagem.
2.1.Contextualização teórica
No decorrer dos tempos o homem vem buscando formas de aprimorar
seus conhecimentos sobre diferentes aspectos. Na antiguidade clássica como
exposto pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2008, p. 38) o
homem teve a necessidade de avançar seus conhecimentos quanto aos
saberes geográficos, os quais serviram para a organização política e
econômica dos impérios.
Mas o que isto tem a ver com a nossa realidade? A Secretaria de Estado
da Educação do Paraná (2008, p. 38) denota que a partir deste princípio:
[...] desenvolveram-se os conhecimentos, como os relativos à elaboração de mapas, discussões a respeito da forma e do tamanho da Terra, da distribuição de terras e águas, bem como a defesa da tese da esfericidade da Terra, o cálculo do diâmetro do planeta, cálculos sobre a latitude e definições climáticas, entre outros.
Adquirir conhecimento é um mecanismo de fomento para a
transformação. A educação é um precioso instrumento para que este processo
ocorra. Assim A Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2008, p. 53)
enfatiza:
Entende-se que, para a formação de um aluno consciente das relações socioespaciais de seu tempo, o ensino de Geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas dessa disciplina, que propõem a análise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço.
Para tal a constituição das Diretrizes Curriculares segundo a Secretaria
de Estado da Educação do Paraná (2008, p. 69) deve se precedida dos
seguintes conteúdos estruturantes:
Dimensão econômica do espaço geográfico;
Dimensão política do espaço geográfico;
Dimensão socioambiental do espaço geográfico;
Dimensão cultural e demográfica do espaço geográfico.
Neste sentido é imprescindível complementar de acordo com o exposto
pelo autor acima que: “Por meio desta abordagem, pretende-se que o aluno
compreenda os conceitos geográficos e o objeto de estudo da Geografia em
suas amplas e complexas relações.”.
Ainda a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2008, p. 76)
determina que:
Nestas diretrizes, os conteúdos devem ser tratados pedagogicamente a partir das categorias de análise – relações espaço temporal, relações sociedade natureza – e do quadro conceitual de referência da Geografia. Serão abordados, com a mesma ênfase, nas dimensões geográficas da realidade – econômica, política, socioambiental e cultural-demográfica – aqui denominadas de conteúdos estruturantes.
Deste modo com base no que diz o autor acima, enfatiza que a
educação deve ocorrer: “[...] ao longo do Ensino Fundamental e Médio, com
complexidade crescente, considerando as diferentes escalas geográficas e a
linguagem cartográfica”.
Para tal a Secretaria de Estado da Educação do Paraná (2008, p. 78)
cita:
[...] o aluno deve desenvolver a capacidade de analisar os fenômenos geográficos e relaciona-los, quando possível, entre si.
[...] O uso da linguagem cartográfica, como recurso metodológico, é importante para compreender como os fenômenos se distribuem e se relacionam no espaço geográfico. Entretanto, a linguagem cartográfica deve ser trabalhada ao longo da Educação Básica, como instrumento efetivo de leitura e análise de espaços próximos e distantes, conhecidos e desconhecidos. Desse modo, a cartografia não pode ser reduzida a um conteúdo pontual abordado tão somente num dos anos/séries do Ensino Fundamental ou Médio.
A formação do conhecimento na Geografia deve estar atrelada ao
processo de formação da criança ainda nos primeiros anos, todavia, esta
formação deve ocorrer de forma contínua.
Para se caracterizar este aprendizado e o processo de
ensino/aprendizagem é primordial que haja uma correlação socioambiental,
onde a criança adquira noções do ambiente e do espaço no qual ele vive.
Assim o estudo dos mapas e ou outros instrumentos de orientação
espacial deve ser focado. Para isso existe o estudo da Cartografia, ciência que
estuda e aprimora a leitura dos instrumentos de localização e direcionamento
como pode ser visto no próximo capítulo.
2.1.1. A cartografia e sua linguagem
“A linguagem cartográfica resulta de uma construção teórico-prática que
vem desde os anos iniciais e segue até o final da Educação Básica.”
(SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ 2008, p. 83).
A partir desta posição, é possível buscar a compreensão acerca da
cartografia em um sentido de tornar o aprendizado por meio da disciplina de
Geografia, buscando utilizar os mapas como fator de expansão do
conhecimento.
Compreender ou entender mapas não é uma tarefa fácil. É preciso um
estudo e uma ciência que demonstre e fundamente o estudo de tal instrumento
de localização.
Para tal existe o estudo da cartografia, ciência esta definida por Queiroz
(2000, p. 121) como: “[...] ciência denominada “Semiótica”, que tem por objeto
de investigação todas as linguagens, em especial a dos signos.”
Ainda Abreu e Castrogiovanni (2010, p. 544) conceituam Cartografia
como sendo:
O conjunto de estudos e operações científicas, artísticas e técnicas que, tendo por base os resultados das observações obtidas pelos métodos e processos diretos, indiretos ou
subsidiários de levantamento ou exploração de documentos existentes, destinam-se à elaboração e à preparação de mapas e outras formas de expressão, assim como a sua utilização.
Complementando: “A Cartografia é um misto de arte, ciência e
tecnologia, responsável pela elaboração dos mapas”. (ABREU E
CASTRGIOVANNI, p. 544).
No entanto, a abordagem aqui proposta busca compreender a aplicação
da Cartografia dentro de uma concepção educacional como se pode observar
nos próximos capítulos.
2.1.2. Princípios para a educação cartográfica
O trabalho educacional não se constrói apenas com conteúdos de
interesse dos alunos ou do educador, mas sim àqueles úteis para a formação e
educação em um sentido de preparo a continuidade do processo educativo.
Na educação de geografia este trabalho não é diferente, no entanto, o
que se observa é o déficit na educação cartográfica nos anos iniciais ainda
mais que o referido conteúdo é recente nas salas de aula.
Archela e Uller (2005, p. 67) ressalta: “Educação cartográfica no ensino
fundamental é um assunto recente na escola formal e diz respeito ao preparo
do aluno para ler e interpretar as diferentes representações cartográficas.”.
Segundo as autoras este trabalho educacional busca valorizar esta nova
temática no intuito de inserir a educação cartográfica de forma mais eficiente
dentro do contexto educacional.
Archela e Uller (2005, p. 68) complementam:
A evolução da Cartografia, bem como as mudanças de paradigmas da Geografia, de Tradicional para Crítica, passaram a ser enfoque de preocupações em pesquisas em ensino [...] de modo a desenvolver uma análise da adequação da linguagem cartográfica, e o mapa pudesse servir como um recurso didático.
Ao se aplicar métodos de estudo considerando a Cartografia é possível
verificar que em meio a mudanças mesmo dentro da disciplina de geografia o
intuito não é explorar a educação por meio dos mapas e sim dos próprios
mapas, os considerando instrumentos do processo de ensino/aprendizagem.
A utilização dos mapas está atrelada ao processo de quebra de
paradigmas quanto ao conceito de educação, não o utilizando como
complemento para um aprendizado, mas, sim como um próprio instrumento
para se aprender considerando suas funções, características entre outros
fatores importantes como Archela e Uller (2005, p. 69) complementam: “[...]e
então trabalha a partir do “ensino do mapa” e não com o “ensino pelo mapa”.”
Segundo Castellar (2010, p. 23) “[...] Para iniciar as discussões que se
seguem, tomaremos a concepção letramento geográfico em substituição a
alfabetização geográfica, por ter uma dimensão maior”.
Por este ponto de vista foca-se na formação a partir do estudo
geográfico como mecanismo de exploração do aprendizado e não mais como
uma educação enrijecida seguindo padrões clássicos.
Castellar (2010, p. 23) vai além:
Ensinar a ler o mundo é um processo que se inicia quando a criança reconhece os lugares e os símbolos dos mapas, conseguindo identificar as paisagens e os fenômenos cartografados e atribuir sentido ao que está escrito.
Sua colocação faz buscar compreensão segundo o ponto de vista de
que o aprendizado deve estar composto da concepção de que não se basta
apenas expor o conteúdo à criança, mas, sim fazer com que ela compreenda
de modo prático o aprendizado.
De acordo com Archela e Uller (2005, p. 69) “[...] não adianta termos
excelentes atlas, mapas e outros materiais didáticos para serem utilizados em
sala de aula, se o problema está em sua metodologia de uso e leitura pelo
professor e aluno.”.
De pouco adianta materiais de primeira qualidade se não houver uma
compreensão prática do modo de uso dos mesmos, tornando em vão toda a
qualidade material existente.
Sendo assim, tal estudo produzido busca expor a importância de se dar
ênfase ao processo de ensino/aprendizagem quanto à disciplina de geografia
no que se diz respeito ao ensino da cartografia, buscando enaltecer a
qualidade do aprendizado tanto para o aluno quanto para o educador.
A cartografia não só está atrelada à educação, como também ao
princípio básico do próprio desenho. Santos (2006, p. 195) comenta sobre a
“[...] importância do desenho como construtor de conceitos no ensino
fundamental”. O mesmo ainda enfatiza que: “Trabalhar com os desenhos é
trabalhar com novas formas de ver, compreender as “coisas” e verificar-
comprovar as próprias idéias. O indivíduo, quando desenha, expressa uma
visão e um raciocínio.”.
Para a educação da cartografia na disciplina de geografia a utilização do
desenho é primordial para atrelar a prática à teoria, pois, é conhecendo os
mecanismos que dão forma para o desenho do mapa e para a própria
construção do mapa é que o aluno irá se impor no sentido de aprendizado
prático.
Segundo o que o autor acima coloca é que por meio do desenho que o
próprio aluno pode explorar mais a sua capacidade de aprendizado, elevando o
seu nível de visão e de raciocínio o auxiliando em seu processo de leitura para
com a cartografia.
Para Archela e Uller (2005, p. 71), “Essas representações, por sua vez,
devem ser apresentadas em sala de aula de maneira gradativa, de modo que a
criança possa assimilar todo o processo que envolve a prática de representar.”.
Assim Santos (2006, p. 196) enfatiza a idéia:
Quando lidamos com desenhos, estamos lidando com o aspecto visual do pensamento e da memória. Os estudos de comunicação têm-se concentrado, principalmente, sobre os vocabulários, esquecendo o mundo visual. O desenho colabora com o potencial informacional do mundo, trazendo uma comunicação diferente da escrita: a comunicação visual.
Ao propor ao aluno a prática do desenho como mecanismo de
aprendizado o aluno não só terá uma visão mais estimulativa do próprio
aprendizado como também poderá ver de forma mais objetiva o processo por
meio da prática.
Santos (2006, p. 197) explana:
Para a construção das categorias de análise dos desenhos dos alunos, percorremos um longo caminho [...] Esse caminho tem, na paisagem cultural e nos elementos representados graficamente, sua espinha dorsal.
Da mesma forma Castellar (2010, p. 24) relata:
O letramento geográfico é, portanto, o ponto de partida para estimular o raciocínio espacial do aluno, articulando a realidade com os objetos e os fenômenos que querem representar, na medida em que se estrutura a partir das noções cartográficas.
Complementando Archela e Uller (2005, p. 73) ainda frisam:
Na perspectiva da construção do saber, o ensino passa a ser encarado como um processo facilitador da compreensão do aluno e não como um entrave, semelhante à prática tradicional da decoreba e da prática mecanicista.
Ao contrapor as citações dos autores acima, chega-se a compreensão
que o aprendizado parte de um princípio da prática do aluno quanto à utilização
do desenho, assim buscando embasar o aprendizado de geografia seguindo
princípios do letramento, sendo que as autoras expostas por último deixam
claro que o aprendizado não se embasa em processos tradicionais, mas, sim
em um mecanismo que promova a inovação do aprendizado de forma lenta,
porém, eficiente.
Neste sentido, concluindo o pensar Archela e Uller (2005, p. 73)
resumem:
Pedagogicamente falando, não basta que a criança aprenda, é preciso que ela compreenda, e isso requer, é claro, um planejar o ensino, tendo sempre em mente o objetivo de facilitar o processo de desenvolvimento, dinamizando o aprendizado e conhecendo as possibilidades intelectuais de cada faixa etária.
Ainda é possível colocar segundo Almeida (2009, p. 118) que:
[...]o aluno deve aprender a utilizar a linguagem cartográfica para interpretar e representar informações, observando a necessidade de indicações de direção, distância, orientação e proporção para garantir a legibilidade da informação.
A educação deve estar adequada de acordo com a faixa etária a ser
aplicada, buscando sempre utilizar de modo correto o melhor planejamento
educacional para que o resultado seja positivo. Assim o aprendizado do aluno
deve ser visto de um modo que haja compreensão por parte do mesmo e não
mais uma memorização.
A educação da cartografia deve ser aplicada respeitando o tempo e a
limitação de cada aluno, sendo de responsabilidade do educador mediar este
trabalho educacional.
2.1.3. Aprendizado e a cartografia
Para entender o processo de ensino/aprendizagem é necessário olhar o
assunto seguindo os conceitos expostos por Archela e Uller (2005, p. 73-74)
onde as mesmas fazem referência quanto à pesquisa desenvolvida por Piaget
(1978) em que o mesmo coloca que as “habilidades intelectuais do ser
humano” se dividem em três fases sendo elas: “estágio objetivo-simbólico;
estágio operacional-concreto, e; estágio das operações formais.”
No entanto, a abordagem aqui desenvolvida irá enfatizar a compreensão
da segunda fase, na qual busca compreender o “estágio operacional-concreto”
compreendido entre a idade dos “7 ao 12 anos”. Esta fase é a qual a criança
começa a ter uma compreensão que lhe permita “[...] realizar as operações
lógico-matemáticas, que incluem semelhança e diferença, bem como a reunião
destas em conjunto.”.
Assim Archela e Uller (2005,p. 74) enfatizam:
È portanto, nesta fase que a criança é capaz de perceber a conservação de superfície e distância em espaços diferentes, o que dá a possibilidade de se trabalhar com as primeiras noções de escala, utilizando desenhos simples, como figuras geométricas e cálculos de proporções.
Voltando ao princípio do capítulo anterior ao utilizar o desenho a criança
inicia seu processo de compreensão de espaço, de escalas iniciando seu
aprendizado.
As referidas autoras frisam:
“[...] entendemos que a criança só atingirá uma abstração dos conceitos cartográficos, podendo interpretar um mapa, se antes em sua fase de alfabetização escolar, aprender também a simbologia e conceitos de representação gráfica de uma maneira concreta.”
Desta maneira Archela e Uller (2005, p. 75) enfatizam:
[...] Nada que ambos os professores possam articular um bom trabalho em conjunto, e seria até muito bom, porém caso não seja possível, que seja revisto de forma detalhada pelo professor de geografia, no seu encaminhamento para as questões cartográficas.
Tal citação serve de amparo para reforçar a importância do professor de
geografia, onde as autoras dizem anteriormente que a educação deve ser
ministrada de forma concreta e para que tal ocorra, esse trabalho é preciso ser
desenvolvido por todos os professores mesmo que de outras disciplinas,
porém, é o de geografia quem deve enfatizar o trabalho, pois, a partir da
cartografia o aluno passa a ter a concepção de espaço levando em
consideração a contribuição de outras disciplinas como, por exemplo, a
matemática.
Enfim Archela e Uller (2005, p. 77) respaldam:
A linguagem gráfica é uma linguagem do sistema de signos, utilizada na elaboração de um mapa. A cartografia portanto, utiliza-se dessa linguagem por meio de símbolos (letra, número, forma, cor, etc), para comunicar uma informação de maneira visual. A representação do espaço mediante mapas, permite ao aluno, adquirir uma maior compreensão da concepção de espaço geográfico.
Assim ao introduzir no aluno o interesse pelo aprendizado da cartografia,
não só o estará preparando teoricamente, como também o preparará para
compreender o próprio espaço geográfico.
Castellar (2010, p. 25) comenta: “Na geografia escolar, o estudo dos
fenômenos pode ser mais interessante para o aluno alfabetizado ou letrado a
partir da linguagem cartográfica.”. Isso por que o aprendizado prático se torna
mais agradável.
A referida autora ainda complementa: “A apropriação conceitual se dá no
momento em que o aluno não só identifica o fenômeno no mapa, mas
consegue interpretá-lo e utiliza-lo no cotidiano.”. A partir desta concepção é que
o aprendizado realmente passa a decorrer de forma objetiva.
Abreu e Castrogiovanni (2010, p. 545) segundo Souza e Katuta (2001, p.
76) colocam que:
Para que isso ocorra no ambiente escolar, é necessário que discentes e docentes entendam a linguagem dos mapas, pelo desenvolvimento de habilidades e conceitos importantes nesse processo.
[...] A decodificação, isto é, a leitura do mapa, é o principal processo da alfabetização cartográfica. Preparar o aluno para ler mapas deve incluir a sua ação como elaborador de mapas. Além disso, o objeto a ser mapeado deve ser o espaço conhecido do aluno, isto é, o espaço cotidiano, cujos elementos lhe são mais familiares;
A aplicação do ensino de cartografia não deve ser realizada apenas
como uma forma de preencher espaços e ou ainda preencher lacunas, mas
sim, ser enfatizado como conteúdo de interesse tanto do aluno como
principalmente do educador, pois, é de suma importância para o
desenvolvimento de um aprendizado conjunto.
Enfatizando a importância do ensino de cartografia é de suma
importância que o educador tome conhecimento de que a análise gráfica deve
partir de locais onde estes alunos estão inseridos, facilitando sua compreensão
e aprendizado.
Assim para findar, Abreu e Castrogiovanni (2010, p. 548) concluem:
Verifica-se, portanto, a importância que tem o professor de Geografia, na construção do conhecimento cartográfico. O professor de Geografia por sua vez, na graduação, deve construir conhecimentos e práticas destes conteúdos.
O professor assim sendo deve ser o disseminador do conhecimento,
cabendo então a ele dominar o conteúdo e saber direcionar o aprendizado,
para que aos seus alunos seja inserido o aprendizado acerca da cartografia de
forma prazerosa e interessante antes de tudo segundo os preceitos do ensino
de geografia.
2.2. Proposta de Unidade Didática
Com todo este respaldo teórico, foi possível formular um referencial de
atividades, que compôs a chamada Unidade Didática - elemento exigido
durante período de formação continuada junto ao PDE.
O material elaborado, denominado de Unidade Didática constou de vinte
e cinco páginas de textos conceituais, ilustrações, mapas e exercícios. O
mesmo foi reproduzido para os alunos poderem trabalhar no período de
implementação na escola, lembrando que esta fora desenvolvida com os
alunos do 7o ano que tem como conteúdo curricular da Geografia o contexto de
Brasil.
A Unidade Didática iniciava com uma conversa impessoal da professora
explicando a importância de se saber ler um mapa, não só na escola como
também no dia-a-dia das pessoas.
Como conteúdos foram tratados os seguintes temas: a importância do
mapa, a Cartografia (com um breve histórico sobre o desenvolvimento dos
mapas em diferentes civilizações e épocas), projeções cartográficas,
instrumentos para a produção de mapas (inclusive os aparelhos modernos
digitais), elementos do mapa e forma de interpretação das informações
representadas.
Os conteúdos seguiram uma forma sequencial e eram preenchidos de
imagens ilustrativas e exercícios a cada momento. Tais exercícios também
apresentavam uma sequência, no intuito de ir-se construindo o aprendizado do
aluno sobre o mapa. Logo, os alunos puderam representar desde o simples
desenho de suas casas, percursos da residência até a escola, como as
informações mais complexas convencionais dentro do contexto dos elementos
fundamentais de orientação, escala e legenda.
2.2.2. A implementação na escola
O momento de aplicar a proposta gerou bastante ansiedade por parte da
professora, como por parte dos alunos, que viram de imediato um momento
diferente de aula do que eles tinham no cotidiano, que rotineiramente eram
preenchidos de aulas monótonas, totalmente conteúdistas, e baseadas na
metodologia de copiar do quadro, ouvir e resolver atividade dos livros didáticos
e cadernos.
A "apostila" (modo como era chamada a Unidade Didática impressa), era
bastante convidativa, pois trazia novas formas de abordar o conteúdo, com
possibilidades de observações do espaço fora da sala de aula, representações
dos espaços usando materais diferentes como bússolas e sucatas,
possibilitando ainda utilizar os espaços como o pátio e quadra para representar
a orientação.
Também gostaram do processo de receber os exercícios já prontos na
"apostila", pois assim não precisavam ficar copiando tudo e ganhavam tempo,
só preenchendo, o que permitiu ainda construção de cartazes dos
mapeamentos sugeridos.
Tais atividades desenvolveram bastante o manuseio com símbolos e
cores, que fazem parte do contexto das variáveis visuais presentes nos mapas,
para que pudessem representar os diferentes elementos da paisagem: casa,
escola, igreja, ruas, calçadas, etc.
Em uma última etapa, foi trabalhado com os mapas do Brasil, fazendo a
correlação dos assuntos trabalhados com suas representações cartográficas.
Os alunos ainda para fechar o momento de implementação, puderam participar
de uma visita técnica realizada em Curitiba, no Parque da Ciência e
Tecnologia, onde vivenciaram muitas outras oportunidades de se verificar as
coisas que se aprende em sala de aula a partir de situações práticas.
O trabalho desenvolvido foi posteriormente socializado do Grupo de
Trabalho em Rede, assim como as demais etapas: projeto e unidade didática, e
a socialização permitiu concluir as análises reflexivas sobre a temática
abordada. Tais considerações estão na sequências comentadas, fechando esta
etapa final do programa de formação continuada, PDE, realizado junto na
Universidade Estadual de Ponta Grossa, em parceria com o Núcleo de
Educação de Wenceslau Braz.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O professor é um profissional em constante formação, tanto no sentido
de atualizar suas bases conceituais, referentes ao conteúdo/disciplina
trabalhado, como no aspecto metodológico, onde a modernidade exige cada
vez mais um olhar sobre as formas de se ensinar, diante da realidade em que
se vive.
A cartografia escolar, assim como os demais conteúdos, demandam por
essa atualização. Os instrumentais hoje disponíveis no mercado e os meios
digitais permitem que o professor leve para a sala de aula, formas de
abordagem mais seguras e enriquecedoras, para garantir ao aluno um
aprendizado significativo.
Os professores que buscam o Programa de Desenvolvimento
Educacional, em sua maioria comungam dessa ideia. Muito mais do que
avançar na carreira, o que é de interesse de todos, ainda é a busca por novas
formas de ensinar e facilitar o aprendizado dos alunos.
Nesta experiência foi possível socializar conhecimentos e práticas junto
aos professores de curso e no GTR, onde algumas participações foram
bastante relevantes:
"A solução que encontro para fazer da cartografia um ensinamento que
marca, é utilizar de técnicas lúdicas. As brincadeiras tem nos auxiliado na
concretização da Alfabetização Cartográfica. Sugiro trabalhar com jogos, com
trabalhos de campo, com representações práticas. Desta forma nossos alunos
paulatinamente passarão a ter gosto pela Geografia". (Relato do Professor A,
do GTR)
Este professor destaca o quanto é importante sair dos modelos
tradicionais de ensino, pois não cabe mais trabalhar em sala de aula na velha
retórica baseada na decoreba. Hoje os alunos vivem outro mundo, mesmo em
situações carentes eles comungam do que vem sendo desenvolvido a partir da
TV e dos meios eletrônicos como o computador e o celular, que se tem acesso,
ainda que de outros colegas. Na Geografia, tem-se um campo riquíssimo de se
trabalhar por meios concretos que é o próprio espaço de vivência onde o aluno
pode observar, analisar e representar.
Um relato interessante destacou:
"Concordo que de um ano para outro os nossos alunos esquecem o que
aprenderam no ano anterior, mas para te confortar, não se frustre porque não é
só em Geografia, se perguntar para eles fatos ocorridos na Segunda Guerra
Mundial, ou fatos históricos relacionados a chegada dos colonizadores
europeus na América, é bem provável que eles também tenham se esquecido".
(Professor C, do GTR)
Tal relato confirma que o modelo de decoreba é ultrapassado e não
surte efeito. É preciso pensar num aprendizado significativo para a vivência dos
alunos, isso ficará fixado em suas memória mesmo com o passar do tempo.
Daí a importância do lúdico, pois quanto mais se envolve os alunos, mais eles
aprenderão e gravarão aquele momento.
Para isso, entende-se que a paixão docente é indispensável. Ainda que
seja claro e evidente que este profissional precisa e muito ser reconhecido e
valorizado pela sociedade não se pode fazer deste descaso o motivo para não
se empenhar num trabalho mais efetivo. Isso é bastante ilustrado em um dos
relatos obtidos no GTR:
"Eu também não tive nenhum conhecimento quando estive na escola, meus
professores nunca apresentaram um mapa na aula, fui pra faculdade sem
saber o que é um mapa. O amor que tenho pela minha disciplina é enorme, e
quero que meus alunos aprendam e tenham as chances que eu não
tive. (Professor F, do GTR)
Com certeza, a partir da tomada de gosto e responsabilidade pela
profissão é possível buscar meios para se fazer um ensino com mais
qualidade. Na cartografia é indispensável que o professor resgate do aluno a
sua percepção sobre o espaço de vivência para na sequência poder
representar ou ler um mapa. Isso não só desenvolverá o gosto pela geografia,
como o capacitará para a vida comum.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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