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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

E-MAIL COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA

Daniela Cristina de Liz1

Alessandra Coutinho Fernandes2

Resumo Com o advento da tecnologia, as possibilidades de comunicação foram ampliadas. Dentre as ferramentas comunicativas de que dispomos, o e-mail vem contribuindo muito para o ensino da língua inglesa. O uso pedagógico de e-mails motiva alunos adolescentes, possibilitando que façam uso da língua para fins primordialmente comunicativos. Neste artigo, apresento o projeto que desenvolvi como professora PDE no período de 2013 e 2014, comentando não apenas sobre sua implementação, mas também sobre as discussões desenvolvidas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) que coordenei. A implementação de meu projeto na Escola Estadual Maria Pereira Martins demonstrou que a tecnologia tem um papel importantíssimo na educação, propiciando uma maior flexibilidade na forma de ensinar e criando uma nova relação entre professor e alunos – o que resulta em diferentes formas de ensinar e aprender. Palavras-chave: Ensino de inglês. E-mail. Escola pública.

Abstract With the advent of technology, communication possibilities were expanded. Among the communication tools we have, e-mails have been contributing a lot to the teaching of English. The pedagogical use of e-mails motivates teenage students, allowing recourse to the language primarily for communicative purposes. In this article, I present the project that I developed as a PDE teacher from 2013 to 2014, commenting not only on its implementation, but also on the discussions held in the online forum that I coordinated. The implementation of my project in the State School Maria Pereira Martins has shown that technology plays an important role in the use of education, providing greater flexibility in teaching as well as a new relationship between teacher and students, what results in different ways of teaching and learning. Keywords: English teaching. Email. Public education.

Introdução

O PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional do estado do Paraná –,

em parceria com instituições de ensino superior, oferece aos professores do estado

do Paraná um curso de capacitação que tem a duração de dois anos, durante os

quais os professores PDE são acompanhados por professores orientadores das

referidas instituições. No primeiro ano do programa, agrupados conforme suas áreas

                                                                                                                         1    (Escola  Estadual  Maria  Pereira  Martins,  professora).  2    (Universidade  Federal  do  Paraná,  professora).  

de atuação, os professores PDE ficam afastados da sala de aula para dedicarem-se

exclusivamente ao programa.

Especificamente, no que se refere ao PDE para professores de língua

estrangeira moderna, no primeiro semestre do primeiro ano, os professores

participam de inúmeros cursos específicos de sua área de formação, e de

seminários integradores e temáticos. Ainda no primeiro semestre, com base em

problemas identificados nas escolas em que lecionam, os professores elaboram um

projeto de intervenção pedagógica a ser implementado em suas escolas no início do

segundo ano.

No segundo semestre do primeiro ano, com base em seus projetos de

intervenção, os professores dedicam-se à produção de uma unidade didática, ou de

um material pedagógico a ser utilizado/a durante a implementação do projeto.

Paralelamente à produção desse material, os professores também participam de um

curso de formação tecnológica de tutoria para, posteriormente, interagirem com

outros professores da rede pública que se inscreverem em seus grupos de trabalho

em rede (GTR), que ocorrerão simultaneamente com a implementação dos projetos

nas escolas.

No primeiro semestre do segundo ano do PDE, os professores retornam com

75 por cento de suas cargas horárias, dedicando os 25 por cento restantes para

fazerem a implementação do projeto e para prestarem tutoria ao GTR. O objetivo da

tutoria é socializar o projeto pedagógico e o material elaborado, além de discutir

sobre sua implementação e incentivar o aprofundamento teórico-metodológico em

determinada área de conhecimento, através da troca de ideias e experiências.

Neste artigo, apresento o projeto que desenvolvi como professora PDE no

período de 2013 e 2014, comentando não apenas sobre sua implementação mas

também sobre as discussões desenvolvidas no GTR que coordenei.

Projeto de Intervenção Pedagógica

Lecionando há anos em uma escola estadual, percebi que, em geral, os

alunos apresentam a compreensão dos conteúdos trabalhados em sala de aula, mas

não conseguem utilizá-los para escrever seus textos sem fazer uma cópia do livro

didático e/ou da fala do professor. Apesar de todo o tempo que é disponibilizado em

sala de aula, através de duas aulas por semana desde o sexto ano, percebi que ao

chegar no nono ano a grande maioria dos alunos não consegue fazer seus próprios

textos se valendo dos conteúdos estudados, assim como eles fazem com textos e

assuntos de seus interesses na língua materna.

Incomodada com o quadro acima, resolvi utilizar a tecnologia como uma

alternativa para tornar o aprendizado em sala de aula mais significativo para os

alunos. O mundo dos alunos da era digital está repleto de informações provenientes

da internet e a forma com que esses alunos adquirem conhecimento vai muito além

da sala de aula. Sendo assim, é importante que o professor utilize a tecnologia a seu

favor, a fim de estimular e propiciar aos alunos o conhecimento dentro de suas

esferas sociais, que hoje são fortemente representadas pela tecnologia.

Nas três últimas décadas, temos presenciado grande influência da tecnologia

na forma como as pessoas se comunicam. Os computadores, os smartphones e os

tablets se fazem presentes em vários campos de interação humana – nos lares, no

trabalho e também nas escolas. A popularização da Internet, enquanto efeito da

evolução tecnológica, facilita a interação entre as pessoas, por meio dos seus

inúmeros recursos: sites de relacionamentos e de pesquisa, blogs, Orkut, e-mail,

facebook, twitter, whatsapp, fotolog, flicker, my space, linked in, instagram, entre

outros.

No mundo contemporâneo, os gêneros não se limitam mais à esfera do meio

impresso, também podendo ser encontrados na esfera eletrônica. Erickson (1997, p.

3) define sua noção de gênero no ambiente virtual como “um padrão de

comunicação criado pela combinação de forças individuais, sociais e técnicas

implícitas numa situação comunicativa recorrente. Um gênero estrutura a

comunicação ao criar expectativas partilhadas acerca da forma e do conteúdo da

interação, atenuando assim a pressão da produção e interpretação”.

Marcuschi (2005) identifica e caracteriza os gêneros digitais mais conhecidos

atualmente, o e-mail e o chat. Os e-mails em geral são pessoais e são redigidos por

uma pessoa para uma ou mais pessoas; e quanto ao formato textual, é normal

compará-lo a uma carta, um bilhete ou um recado. Os e-mails têm cabeçalho

padronizado, fixo e posto automaticamente pelo programa, cabendo ao usuário

apenas preenchê-lo. O chat, por sua vez, não se parece com uma carta ou com o

bilhete; também não possui cabeçalho. A comunicação no chat, diferentemente da

comunicação via e-mail é síncrona, e pode ser acompanhada por várias pessoas,

além da pessoa com que se conversa.

Segundo Jonsson (1997, p. 9) e Paiva (2010, p. 101), as mensagens

eletrônicas podem partilhar as propriedades da carta tradicional, do telefonema ou

da comunicação face a face. Os e-mails transgridem os limites entre as noções

tradicionais de comunicação oral e escrita visto que reúnem em um só meio várias

formas de expressão, tais como texto, som e imagem. Conforme Gannon-Leary

(1989, p. 2), o e-mail é um meio de comunicação cada vez mais poderoso e eficiente

e tem o potencial de tornar-se um dos principais meios de comunicação para a

maioria das pessoas. Além disso, o e-mail é pessoal e informal e tem o poder de

transformar alguém de receptor passivo em um participante ativo em discussões

online.

Paiva (2005) aponta as vantagens que caracterizam esse gênero: velocidade

de transmissão, assincronia, baixo custo, arquivamento de anexos, diferentes

maneiras de lidar com uma mensagem – esta pode ser arquivada, impressa,

reencaminhada, copiada, enviada para milhares de pessoas ao mesmo tempo em

segundos. Jonsson (1997, p. 11), apresenta um aspecto interessante e inovador nos

e-mails sob o ponto de vista formal, quando nos lembra da possibilidade de colagens

que se tornou possível e comum na escrita digital, o que dá ao e-mail uma

característica estrutural sistematicamente nova, podendo inclusive ter um sistema de

resposta colando partes do e-mail recebido e dando respostas organizando a

conversa em uma estrutura de turnos. Segundo o autor (1997, p. 15) os e-mails

introduzem traços inteiramente novos para a comunicação, tais como a colagem gerada pelo software, postagem cruzada e encadeamentos. Os e-mails não se conformam aos domínios tradicionais do discurso oral e escrito, mas transgridem constantemente os limites entre os dois. Assim, pode-se dizer que o e-mail cria seu próprio domínio de discurso no território da comunicação.

O surgimento de novos gêneros da internet tais como o e-mail tem exercido

forte influência na vida cotidiana e na educação. Como todo sistema complexo, os

gêneros são sistemas abertos; e novas possibilidades de gerenciamento e de

produção de texto podem surgir. Dessa forma, cabe a nós professores ficarmos

atentos às novas mudanças que poderão acontecer no comportamento discursivo

das pessoas que utilizam esses gêneros.

O e-mail, assim como a conversação espontânea, é marcado pela

informalidade, menor monitoração e cobrança, pela fluidez do meio e rapidez de

tempo. Essas são as características que marcam as interações da chamada

Geração C e, por esse motivo, ele deve estar presente na construção dos

conhecimentos dos alunos.

Depois da familiarização com as gerações X,Y,Z, agora surge a geração C,

que não está ligada a uma fase ou a um período de nascimento, mas sim às atitudes

que seus membros compartilham, no caso, o uso constante das redes sociais. O

termo geração C foi criado por Dan Pankraz, diretor de planejamento e estratégia

para o público jovem da DDB (rede de agências de marketing e propaganda). O

significado da letra C vem de Connected Collective, ou seja, pessoas que não só

nasceram na era virtual, mas que também se apresentam como um grupo que é

usuário ativo de mídias sociais. Essa é uma geração definida pela internet e por

dispositivos móveis.

A consultoria Nielsen se refere à Geração C como uma geração conectada,

com pessoas nascidas entre o advento do videocassete e a comercialização da

internet. Já o site youtube classifica essa geração por 4Cs: da Conexão, aqueles

que estão de alguma forma ligados às mídias, seja através de celulares,

computadores; da Criação, pois são rápidos e ligados nessa nova tecnologia

fazendo uso imediato dos novos conhecimentos digitais; da Comunidade, porque

conhecem o mundo e pessoas através das redes sociais; e da Curadoria, onde os

próprios adolescentes fazem um processo de triagem de interesses a serem

visualizados na rede.

Segundo Jaqueline Rezende, coordenadora de desenvolvimento da

Faculdade IBS/FGV,

Se um dos 'Cs' é de 'conectado', isso vai além de estar sempre na internet. Conexão, nesse caso, envolve a união de várias mídias que se completam. Estamos lidando com uma geração de comunicadores e está na hora de as organizações repensarem como suas estratégias serão lançadas, inclusive para atender essa nova geração em serviços, diferenciais e desenvolvimento do capital intelectual, e gestão do conhecimento nas empresas.

Considerando o perfil de jovens que crescem em um mundo digital, a escola

deve repensar “como se aprende” e “como se ensina”. Portanto, temos de encontrar

novas formas de educar que busquem formas efetivas de lidar com alunos da

geração C, de forma a utilizar seus interesses e conhecimentos de informática para

promover a aprendizagem e a reflexão de diferentes conteúdos. Trazendo o conceito da Geração C para o contexto escolar, Márcia de Borba

Campos (2012, p. 04) afirma que a Geração C é a geração do “conteúdo, da

colaboração, da comunicação, da convergência de mídias, geração esta que cresce

conectada e que possui um vasto repertório de contato com as mídias e

tecnologias”. Essa geração entende muito bem das mídias para a comunicação, mas

ainda não a utiliza para a aprendizagem efetivamente.

Faz-se necessário, portanto, a mudança de pensamento da escola e do

professor em como ensinar e aprender através das novas tecnologias de uma forma

que seja realmente eficaz para a aprendizagem. Isto é importante considerando que

estamos trabalhando com alunos hiperativos, distraídos, impacientes, de atenção

limitada a pequenos intervalos de tempo; alunos acostumados a multitarefas – eles

lêem e ouvem música simultaneamente, ou enviam mensagens de texto enquanto

assistem televisão, por exemplo. Esses alunos têm senso de urgência e aprendem e

lidam muito rápido com as novas tecnologias e as informações.

Os escritores Wim Veen e Bem Vrakking, autores do livro ‘Homo Zapiens:

educando na era digital’ nos proporcionam entender o que eles denominam de

“caos”, ou seja, o estado que se reflete no comportamento dessa Geração C, cujos

membros fazem inúmeras atividades ao mesmo tempo com o apoio da tecnologia,

do computador, do aparelho celular, de tocadores de música e de jogos, enquanto

zapeiam de um canal para outro da televisão. Conforme Veen e Vrakking (2009, p.

12) afirmam,

o Homo Zapiens é um processador ativo de informação, resolve problemas de maneira muito hábil, usando estratégias de jogo, e sabe se comunicar muito bem. (...) Mas o Homo Zapiens quer estar no controle daquilo com que se envolve e não tem paciência para ouvir um professor explicar o mundo de acordo com suas próprias convicções. Na verdade, o Homo Zapiens é digital e a escola analógica.

Paulo Freire (1996, p. 12) afirma que quem ensina aprende ao ensinar e

quem aprende ensina ao aprender. Nesse sentido, é notável que os alunos possam

compartilhar suas experiências digitais com os professores, e que estes usufruam

dos conhecimentos tecnológicos tão próprios dessa Geração C.

Pensando em como a tecnologia está presente no dia a dia dos alunos,

organizei minha pesquisa em torno das seguintes perguntas: como promover

situações em que meus alunos possam trabalhar os conteúdos de sala de aula de

uma forma diferenciada da do quadro e giz, fazendo uso das novas tecnologias?

Como estimular meus alunos a usarem as ferramentas digitais em prol de sua

aprendizagem em língua inglesa?

A ideia de trabalhar em sala de aula com o gênero e-mail contribuiu para que

eu pudesse oportunizar aos meus alunos experiências concretas e motivadoras de

compreensão e produção escrita em língua inglesa. Poucos são os estudantes que

não têm seu próprio e-mail ou que não utilizam essa ferramenta em seu dia a dia.

Sendo assim, acredito que esse gênero digital pode ser de grande valia para o

ensino, por ter forte aplicabilidade na educação e facilitar a interação entre pessoas.

Produção da Unidade Didática A construção do material didático foi pensada para ser aplicada na Escola

Estadual Maria Pereira Martins, no município de Curitiba, no estado do Paraná.

Optei por produzir uma Unidade Didática – uma sequência ordenada de atividades –

com o propósito de atingir alguns objetivos, que foram pensados de acordo com a

idade, série, número de alunos e material necessário. Nessa escola, temos um

laboratório de informática, o qual facilitaria o trabalho com o gênero e-mail.

A ideia era fazer com que os alunos das turmas A, B e C do sexto ano do

ensino fundamental II, do mesmo turno em 2014, com aproximadamente 30 alunos

cada, se comunicassem via e-mail sob mediação do professor da disciplina de

língua inglesa, que orientaria as conversas do dia a dia, as quais poderiam ser

referentes a um assunto da sala de aula bem como a uma situação de comunicação

criada pelas próprias turmas para interagirem entre si.

Como o objetivo do projeto era propiciar aos alunos a aprendizagem da língua

inglesa na esfera social, integrando e promovendo a inclusão digital de uma forma

lúdica através da utilização de e-mails, foram proporcionadas algumas reflexões

sobre esse gênero, no que concerne às ações sociais que ele desempenha assim

como as relações que seus usuários estabelecem entre si.

Na unidade didática que produzi havia 12 atividades que visavam dar

continuidade aos conteúdos trabalhados em sala, com base no livro didático. Todas

as atividades do material didático foram produzidas pensando nos objetivos de cada

atividade, tempo previsto e etapas de execução antes e durante a aula.

Foram elencados temas como cumprimentos, apresentações, locais de

origem, formas afirmativas e interrogativas do verbo to be, números de um a dez e

funções comunicativas, além de exercícios que trabalhariam com o desenvolvimento

das quatro habilidades da língua, possibilitando aos alunos a oportunidade de

expandir seus repertórios de vocabulário através de atividades orais e das

produções trocadas via e-mail com seus colegas.

Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola

Thiolent (2004) define o termo metodologia da pesquisa-ação como um tipo

de pesquisa social com base empírica, concebida e realizada em estreita associação

a uma ação ou à resolução de um problema coletivo, no qual os pesquisadores e

participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo

cooperativo ou participativo. A pesquisa ação é muito utilizada na área educacional,

pois o professor é, ao mesmo tempo, pesquisador e sujeito ativo da pesquisa, que

interfere no fenômeno educativo, não ficando como mero observador dos

acontecimentos.

Essa forma de investigação-ação é definida como aprimoramento da prática.

Sob essa perspectiva, ao implementar meu projeto, eu estava praticando ideias

novas e acreditando que todos os estudos feitos para essa implementação

pudessem proporcionar aos alunos uma nova forma de aprender inglês de acordo

com a realidade e interesse deles.

Os alunos que participaram dessa implementação não tiveram contato

nenhum com a língua inglesa em suas escolas anteriores, pois nos municípios de

Curitiba e Almirante Tamandaré, no Paraná, o ensino fundamental I não agrega em

seu currículo a disciplina de língua inglesa. Além disso, poucos deles haviam feito

uso de informática em sala de aula e nenhum havia trabalhado o e-mail como uma

ferramenta pedagógica.

Durante o período da implementação, a unidade didática que elaborei foi

aplicada, com suas 12 aulas sequenciais como planejado, em três turmas de sextos

anos da Escola Estadual Maria Pereira Martins.

No primeiro encontro com os alunos, questionei-os sobre o uso do e-mail, se

eles já tinham uma conta; se o e-mail utilizado por eles estava em língua inglesa ou

com a página traduzida para o português; se eles acreditavam que o e-mail poderia

contribuir com os estudos da língua, e se eles conheciam as expressões: Compose,

Inbox, To, Subject, New message, Recipients, Send, Attach Files, Forward e Reply.

Na segunda aula, com base no livro Netiqueta: Guia de Boas Maneiras na

Internet (Carina, 2011), apresentei o tema ‘netiqueta’ com o objetivo de discutir com

os alunos algumas regras importantes do convívio virtual de forma a evitar

constrangimentos. Foram trabalhados temas tais como: a necessidade de se

combinar letras maiúsculas com as minúsculas; evitar usar nos e-mails os termos

próprios do “internetês” com abreviações de palavras; a importância de adotar uma

linguagem mais formal respeitando as regras gramaticais; o prestar atenção para

usar sempre o comando de resposta reply ao se responder uma mensagem, e o

comando de encaminhamento forward quando se estiver somente passando adiante

um e-mail.

Na terceira aula, iniciamos com a leitura e o estudo do vocabulário de um e-

mail que eu trouxe para discutirmos em sala. Nessa aula, aproveitei para explicar

que o e-mail é uma das formas de comunicação mais utilizadas atualmente, por ser

prática, rápida e econômica – nosso endereço virtual é mais utilizado que nosso

endereço residencial por todas essas peculiaridades. Ainda nessa mesma aula, foi

feito o sorteio dos endereços virtuais dos alunos com quem cada um iria se

corresponder no decorrer da implementação.

A quarta aula, começou com o objetivo de possibilitar a revisão dos conteúdos

apresentados anteriormente à implementação pedagógica, solicitando aos alunos

informações pessoais, apresentações, cumprimentos, todas as possibilidades

possíveis para se iniciar a escrita de um e-mail, fazendo prática das boas maneiras.

Foram feitas perguntas pessoais, tais como: qual o seu nome, sobrenome, idade, e

onde você mora, tudo em língua inglesa. Também foram trabalhados assuntos como

abertura, corpo e fechamento do e-mail. Nessa aula, ouvimos a música “Hello, Good

Bye” dos Beatles, o que despertou o interesse dos alunos para compreender uma

música em língua inglesa, e também aprender sobre os Beatles. Nesse momento,

achei necessário fazer uma pausa na implementação e acrescentar aos estudos as

curiosidades e histórias que os alunos trouxeram de suas casas sobre os Beatles.

A quinta aula também despertou bastante interesse dos alunos, pois eles

assistiram a um trecho do filme “ParaNorman” em inglês, sem legenda, com o

objetivo de ouvirem a personagem Norman cumprimentar seus colegas em uma

manhã indo para a escola. Os alunos perceberam que podiam compreender trechos

do que os personagens falavam. Eles ficaram encantados com o filme e, como toda

criança, queriam assisti-lo até o fim, o que acabou acontecendo após o término da

implementação. Nessa mesma aula os alunos escreveram o primeiro e-mail de

apresentação para seus colegas, utilizando os conteúdos aprendidos na aula

anterior tais como: organização do e-mail e apresentação individual para seu colega;

além de incluir algumas expressões vistas no filme.

A sexta aula foi muito esperada, pois mais do que escrever seu e-mail, os

alunos estavam interessados em receber um e-mail e descobrir quem seria seu

amigo virtual durante a implementação. Preparei uma ficha de avaliação do e-mail

do colega com os temas: quais as palavras de abertura e fechamento do e-mail?;

havia sido colocado o assunto no campo subject?; apresentou alguma situação de

acordo com as informações mencionadas na aula sobre as netiquetas?; apareceu

algo diferente em seu e-mail que queira apresentar para a turma? Nessa aula,

também fizemos a apresentação dos emoticons, que os alunos já conheciam, mas

que foram bem enfatizados em alguns e-mails, propositalmente, para que os alunos

pudessem perceber a questão do excesso ou falta de compreensão do texto por

causa das imagens.

Na sétima aula, os alunos foram incentivados a fazer convites aos outros

colegas de e-mail, dando informações sobre números, endereços e dias da semana.

Anteriormente à produção, foram passados modelos e explicações sobre como

produzir convites de aniversário, casamento, jogo e passeio – temas sugeridos pelos

próprios alunos. Após correção individual e em grupos, os alunos enviaram os e-

mails a seus pares. A preocupação que o colega compreendesse seu convite

transpareceu na seriedade com que os alunos elaboraram seus e-mails, efetivando

assim momentos reais de comunicação em língua inglesa.

Na oitava aula, os alunos fizeram a discussão dos e-mails convites

recebidos de seus pares e apresentaram aos colegas o convite recebido e se havia

algum problema de estrutura gramatical. Eles se sentiram muito à vontade para

apresentar as questões estruturais pelo fato de os colegas não serem da mesma

turma. Assim, pudemos discutir e reestruturar o e-mail do colega para uma melhor

compreensão.

Na nona aula, expliquei aos alunos a expressão e-pal, que se refere a

amigos que se comunicam por e-mail. Esta palavra surgiu através de um texto que

criei para trabalhar especificamente esse significado. Nessa atividade, também

reforçamos o uso do verbo to be, assim como características de um personagem.

Para que, em um e-mail futuro, eles pudessem apresentar as suas características

para o colega com quem estavam se comunicando. Fizemos brincadeiras para

descobrir quem era um determinado personagem através das características

apresentadas, e quando os alunos ficaram mais seguros no assunto, trabalhamos as

características dos colegas de sala criadas por eles.

Na décima aula, utilizando os conteúdos anteriormente estudados, os alunos

foram instigados a produzir textos falando de algumas personalidades brasileiras,

escolhendo uma para fazerem charadas e enviarem aos seus e-pals, para que

descobrissem qual tinha sido a personalidade escolhida. O nome da brincadeira era

‘Who Am I?’. Os alunos fizeram perguntas semelhantes as que foram utilizadas

como exemplo: “I am a famous person. I am a girl. I am from São Gonçalo. I am a

singer. I am medium height and my hair is blond. I sing Extravasa. Who Am I?” – cuja

resposta seria: Ivete Sangalo.

Na décima primeira e na décima segunda aulas, praticamos como pedir e

fornecer informações sobre pessoas e lugares utilizando o verbo can, números e

meses. O objetivo dessas aulas era consolidar as funções básicas do e-mail: criar,

enviar, ler e responder mensagens, aplicando na sala de aula o desenvolvimento

das competências comunicativas partilhadas; e a competência pragmática, que

consiste em o falante fazer escolhas; a competência tecnológica, que se refere a

saber fazer; e a competência intercultural, que diz respeito a saber interagir.

Segundo Almeida d´Eça (2002), o e-mail relaciona várias funções como

meio educativo, tanto de caráter geral, quanto de caráter mais específico. Dentre as

funções de caráter mais geral Eça destaca: aproximar professores, manter interação

permanente entre os membros da comunidade, estimular a correspondência entre

os jovens do mundo todo, participar de discussões eletrônicas de interesse para a

atividade letiva, e no caso do meu projeto: comunicação entre alunos em língua

estrangeira de uma forma lúdica e mais voltada para a realidade dos alunos da

escola em que trabalho. Já as funções de caráter mais específico são variadas,

dentre elas se destacam: desenvolver a comunicação entre alunos, num plano local,

regional, nacional ou internacional; desenvolver o trabalho uni, inter e

multidisciplinar; fomentar a aprendizagem colaborativa e construtiva, centrada no

aluno e em trabalho de projeto. A implementação de meu projeto permitiu que os

alunos se ajudassem nas construções dos e-mails e também abriu portas para que

outros professores possam utilizar o e-mail em suas disciplinas de atuação.

Contribuições do Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

Concomitantemente à implementação de meu projeto na escola estadual em

que leciono, coordenei um Grupo de Trabalho em Rede (GTR) com professoras da

área de língua inglesa do interior do estado. Das doze participantes, dez já haviam

feito o PDE e duas estavam se preparando para entrar no Programa no próximo

ano. O objetivo do GTR era discutir e apresentar o projeto, que criei no primeiro

semestre do Programa, e o material didático, que elaborei no segundo semestre.

Socializar meu projeto de intervenção pedagógica e incentivar o aprofundamento

teórico-metodológico em minha área de conhecimento foi uma experiência muito

produtiva.

Cada etapa das discussões do GTR integrou os professores através de

fóruns de discussão, com base em questões que eu preparei anteriormente. Além

disso, os professores participantes recebiam atividades individuais que,

posteriormente, deveriam ser encaminhadas a mim, na posição de tutora, para que

eu pudesse avaliá-las. Antes do término de cada etapa, as respostas das atividades

eram postadas. Dessa forma, os professores interagiram no grupo e a discussão

ficou cada vez mais rica.

Entre tantas questões que foram abordadas em relação ao projeto, destaco

uma que foi de grande interesse das participantes, quando questionadas sobre a

importância do meu projeto, e se as mesmas concordavam com as atividades e se

tinham alguma ressalva a fazer. Das doze professoras participantes, dez

comentaram sobre a inviabilidade ou a insegurança de criar uma implementação

nesse porte, por levar em consideração os frequentes problemas ocasionados com a

internet ou com os computadores das escolas em que lecionam. Comentei sobre

estar preparada para essas situações, já levando em consideração as circunstâncias

reais do chão da escola, e que tinha todas as atividades a serem feitas no modo

offline e que também possuía uma internet móvel caso não funcionasse a do estado.

Como tutora da turma, não posso me eximir de deixar assinalado neste artigo

a importância que teve o GTR no amadurecimento do projeto e, na forma como

ocorreu a implementação na escola. As discussões e sugestões foram todas de

muita relevância e trouxeram um enriquecimento ao trabalho que desenvolvi. Os

professores PDE sabem o valor que tem a participação de outros educadores em

seu crescimento profissional e pessoal, pois muitos amigos foram conquistados

através dessa capacitação em rede.

Considerações finais

Há a necessidade de aproximar a realidade escolar à realidade de nossos

alunos, pois estes cada vez mais passam a se apropriar de uma cultura intimamente

ligada à ideia de interatividade, de interconexão, de inter-relação, de informações e

imagens dos mais variados gêneros – o que decorre, sobretudo, da enorme

expansão das tecnologias digitais.

É necessário uma consciência por parte dos educadores sobre o uso do

computador e de todos os seus recursos como ferramentas que podem ser

utilizadas em aulas de língua estrangeira. Nós, educadores, podemos tirar proveito

do que há de interessante e positivo nas teorias de aprendizagem, metodologias e

abordagens de ensino, pois elas podem contribuir para aprimorarmos nossas aulas,

dependendo do contexto e da necessidade de nossos alunos.

Durante a implementação das atividades que desenvolvi, posso destacar

como positivo: uma melhor compreensão dos textos por parte dos alunos; o

desenvolvimento das produções escritas dos alunos; a interação entre os alunos

para o envio e recebimento de seus e-mails; e o maior interesse que as turmas

demonstraram nas aulas de inglês.

A implementação de meu projeto me fez perceber que, considerando que

vivemos em um mundo globalizado onde tudo é muito rápido e com resultados

instantâneos, faz-se necessário destacar que os professores e as instituições de

ensino podem se beneficiar em buscar compreender o momento social dos alunos,

incluindo no ensino da língua inglesa aspectos dos interesses dos mesmos. Tanto a

internet como suas inúmeras ferramentas trazem aos educandos informações e

serviços na ponta dos dedos, em um clique do mouse, facilitando o trabalho com a

língua inglesa e permitindo ao professor o desenvolvimento da língua através do

cotidiano do aluno.

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