OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · projeto de intervenção “A leitura a partir...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A LEITURA A PARTIR DOS DIFERENTES GÊNEROS TEXTUAIS
Claudia Helena Maria dos Santos1 Drª. Iara Aquino Henn2
RESUMO: Este trabalho é parte integrante do processo de formação continuada desenvolvido
pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, através do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Esta produção objetivou promover o ensino e a aprendizagem da leitura com os diferentes gêneros textuais, privilegiando os aspectos literários do conto, do romance e da poesia. O projeto de intervenção “A leitura a partir dos diferentes gêneros textuais” foi implementado com os educandos do 3º ano do Ensino Médio. Para que a prática social da leitura aconteça, de fato, na escola, faz-se necessário que os educandos sejam desafiados e convidados a construírem seus conhecimentos, exercitarem a atenção e a imaginação, como também reconhecerem as particularidades (composição, estilo e estrutura) e especificidades de cada gênero apresentado. Observou-se também o caráter dinâmico dos diversos gêneros discursivos e de como eles circulam nos meios sociais, compreendendo as relações que a leitura de textos estabelece com o cotidiano. Este artigo apresenta as inserções e os apontamentos dos professores cursistas do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) sobre a importância da leitura a partir dos gêneros conto, poema e romance para a formação do leitor proficiente.
PALAVRAS-CHAVES: Gêneros Discursivos; Conto; Poema; Romance
1. INTRODUÇÃO
O presente artigo relata a experiência e expõe os resultados obtidos na
Implementação da Proposta Pedagógica no Colégio Estadual Castro Alves –
Ensino Fundamental e Médio, no município de Enéas Marques - PR, uma das
atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) - SEED/PR, sob o
título “A leitura a partir dos diferentes gêneros textuais” e das interações realizadas
no Grupo de Trabalho em Rede (GTR).
O nosso objeto de estudo foi a leitura, porque essa, depois da oralidade, é
imprescindível ao sujeito que deseja aproximar-se e inserir-se no saber
sistematizado e acumulado pela humanidade. Para SILVA (1980, p. 32) “O acesso
1 Professora PDE Núcleo Regional de Francisco Beltrão, atuando no Colégio Estadual Castro Alves – Ensino
Fundamental e Médio de Enéas Marques – P.R. Graduação em Letras: Português e Inglês, Licenciatura pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Palmas FAFI. Especialização em Ensino e Aprendizagem de Língua Estrangeira Moderna. E-mail: [email protected] 2 Professora orientadora. Graduação em Pedagogia. Mestre em Educação nas Ciências pela Universidade
Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande Do Sul. Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Nacional de Misiones – Argentina
aos bens culturais, proporcionado por uma educação democrática, pode muitas
vezes significar o acesso aos veículos onde esses bens se encontram registrados,
entre eles o livro. A leitura, como instrumento de acesso à cultura e aquisição de
experiência.”
Percebe-se então que a leitura oferece mais chances da pessoa crescer
profissional e socialmente, devido à compreensão e absorção de conceitos
abstratos possibilitados pelas leituras dos diversos gêneros do discurso, que
circulam diariamente em nossa sociedade. Porém, a reportagem publicada pela
Revista Nova Escola, de agosto de 2006, destaca dados alarmantes sobre a falta
de leitura no cotidiano da maioria dos brasileiros.
A referida revista aponta que 61% dos brasileiros, com idade entre 15 a 64
anos, têm muito pouco ou nenhum contato com os livros; 47% possuem no máximo
dez livros em casa; 30 % localizam informações simples em uma frase; 37%
localizam informações em texto curto; só 25% estabelecem relações entre textos
longos. Ao verificar a quantidade de livros que os brasileiros leem por ano,
comparado a outros países, o resultado é vergonhoso: enquanto os franceses leem
7 livros por ano; os americanos, 5,1; os italianos, 5; os ingleses 4,9; os brasileiros
leem apenas 1,8 livros por ano.
Diante deste caótico contexto nacional e confrontando-o com a realidade
local, percebeu-se que os estudantes, do Ensino Médio do Colégio Estadual Castro
Alves de Enéas Marques - PR não fogem à realidade brasileira, ou seja, poucos
leem e raramente leem um livro inteiro. Constatou-se, por intermédio de uma
pesquisa, que nós realizamos no mês de março de 2014 que 60% dos educandos
da turma não leem; não construíram a prática social da leitura, nem o gosto e
tampouco a necessidade de ler.
Por isso, pensou-se em atividades viáveis e diferenciadas, enfatizando a
leitura de contos, poemas e romances, a fim de modificar o quadro apresentado,
como também discutir com os professores participantes do Grupo de Trabalho em
Rede (GTR) tais atividades, trocar experiências e buscar novas metodologias para
trabalhar a leitura e a escrita em sala de aula, de forma dinâmica e atraente.
Hoje, mais do que nunca, a valorização social de qualquer pessoa está
intimamente ligada ao seu desempenho de leitura, escrita e fala por isso, a
sociedade espera da família e da escola a formação de indivíduos capazes de
comunicarem-se satisfatoriamente, por meio das múltiplas linguagens.
Dentre todas as linguagens, a verbal é a mais utilizada para a comunicação,
por isso, para Bakhtin (2003) a utilização da língua articula-se na forma de
enunciados orais e escritos, concretos e únicos, oriundos das diferentes esferas
das atividades humanas. O uso da língua com base nos ensinamentos
bakhtinianos não está dissociado de uma situação comunicativa. Ainda segundo o
linguista, cada esfera de utilização da língua elabora seu padrão relativamente
estável, sendo que a esta relativa estabilidade denominamos gêneros do discurso.
Há circulando diariamente, em nossa sociedade, uma infinidade de gêneros
discursivos e cada gênero tem finalidade e intenção própria e, por sua vez, estão
atrelados a uma determinada situação social de interação, dentro de uma esfera
social. A partir do momento que o indivíduo entra no mundo da leitura e da escrita,
terá diante de si uma diversidade de textos denominados gêneros discursivos.
Assim, podemos afirmar que, embora não existam gêneros exclusivos para
serem estudados em sala de aula, é extremamente importante oferecer aos
educandos textos de diferentes naturezas, para que apreendam não só o conceito
de gênero, mas as configurações textuais, as especificidades e funcionalidades da
Língua.
As Diretrizes Curriculares Estaduais (DCEs, 2008) preconizam, além do
conteúdo estruturante - Discurso como prática social - os conteúdos específicos
que são os gêneros discursivos para serem trabalhados nas práticas discursivas,
em sala de aula. Segundo postula o documento,
Os conteúdos específicos contemplam diversos gêneros discursivos, além de elementos linguístico-discursivos, tais como: unidades linguísticas que se configuram como as unidades de linguagem, derivadas da posição que o locutor exerce no enunciado; temáticas que se referem ao objeto ou finalidade discursiva, ou seja, ao que pode tornar-se dizível por meio de um gênero; composicionais, compreendidas como a estrutura específica dos textos pertencentes a um gênero (DCEs, p. 62, 2008).
A variedade de gêneros existentes na sociedade facilita o contato do
educando com os diferentes gêneros, como também permite o seu ingresso no
universo dos gêneros discursivos que circulam socialmente. Diante de toda essa
gama de textos, o professor terá mais facilidade para orientá-lo a produzir,
interpretar e ler autonomamente e, com criticidade, os diversos gêneros,
principalmente, àqueles que respondem às suas necessidades imediatas.
Por isso a importância de um trabalho consistente com gêneros variados, de
maior ou menor complexidade, principalmente com os educandos do 3º ano do
Ensino Médio para que eles percebam o quanto ler pode ser interessante e
produtivo. E para aproximá-los da leitura literária contemplou-se na Unidade
Didática o conto de Dalton Trevisan “Uma vela para Dario” e a “A moça tecelã” de
Marina Colasanti, os poemas “Operário em construção” de Vinicius de Moraes e a
canção “Construção” de Chico Buarque e o romance “A hora da estrela” de Clarice
Lispector.
Portanto, a escolha desses gêneros e dessas obras para o trabalho com a
leitura e a escrita, foi benéfica e significativa, pois trouxe para a sala de aula o
debate, a reflexão, a interação e o diálogo entre os textos. Os textos curtos e
interessantes podem ser fortes aliados na formação de leitores e a leitura é
relevante na formação do ser humano como cidadão, tornando-o capaz de agir e
interagir na sociedade como um ser atuante, crítico e consciente. Mas para que os
educandos tenham uma experiência positiva com a leitura, faz-se necessário
estímulo, encantamento, bons textos e, principalmente, bons exemplos.
Buscou-se em Jean Foucambert, Mikhail Bakhtin, Rildo Cosson, Ângela
Kleiman, Paulo Freire, Antônio de Alcântara Machado, Magda Soares, Regina
Zilberman, Ezequiel Theodoro da Silva, DCEs, entre outros, subsídios teórico-
metodológicos que norteassem a pesquisa. A partir das leituras feitas, criaram-se
condições pedagógicas para que os educandos se aproximassem e se
encantassem pela prática da leitura com o intuito de desafiar a imaginação e a
criatividade de cada um, como também motivá-los pela busca e apropriação dos
conhecimentos, presentes em cada gênero apresentado.
2. O MUNDO DA LEITURA
A leitura de mundo nasce da interação do ser humano com o meio social e
com outros humanos. O homem sempre fez e fará leituras de tudo aquilo que o
envolve, pois as práticas sociais são, na intervenção social e humana, objetos de
interpretação, mediadas pela leitura e, não a realidade “pura” como aspiraram às
ciências positivistas. A leitura que é nosso objeto de estudo é tema recente e está
intrínseca à escrita, porém, nem todos os povos necessitam dela para repassar
seus conhecimentos às gerações futuras. Sobre isso, destaca Zilberman:
A escrita não foi o primeiro dos mecanismos de fixação cultural utilizados pela humanidade, embora se possa afirmar que é dos mais antigos. A transmissão oral da tradição, o uso de rituais e da dança, o apelo às artes visuais precederam em muito o aparecimento daquela, mesmo a mais pictórica ou ideogramática, e até hoje vários povos podem prescindir de seu emprego, sem se sentirem ameaçados de dispersão, nem se arriscarem à dissolução ou esquecimento dos valores herdados dos antepassados. (ZILBERMAN, 2005, p.11)
Antes mesmo de aprender a ler e a escrever o homem já se comunicava
através da fala. Durante muitos e muitos anos todo o saber era transmitido às
futuras gerações pela oralidade. Séculos depois o emprego da escrita surgiu da
necessidade da nobreza em contabilizar os bens e os pagamentos dos tributos
pelos súditos e, a leitura, surgiu como realização do objetivo da escrita, mesmo
sendo ela superficial.
A escrita, ao contrário da leitura, requer conhecimento da Língua, pois
exterioriza pensamentos, sentimentos, desejos e opiniões. A leitura e a escrita,
durante muitos séculos pertenciam aos que detinham o poder econômico, religioso,
entre outros, portanto ler e escrever eram somente para a classe conservadora e
dominante da época, sendo assim importante instrumento de poder. Sobre isso,
Brandão (2014) destaca:
O registro da palavra escrita sempre teve o seu uso polarizado entre o bem e o mal, entre ensinamentos, autoritarismo e doutrinações. Em muitas sociedades antigas tradicionais, seja defendendo poderes ou atacando regimes autoritários, os livros cumpriam suas funções, encerrando poderes mágicos, simbólicos, religiosos e políticos muitas vezes utilizados como poderosos instrumentos de manipulação. [...] O alfabetismo amplo e generalizado sempre foi objeto de grande preocupação das elites conservadoras que temiam que os indivíduos educados adotassem posturas e ideias perigosas. Tornar a leitura e a escrita mais acessíveis poderia levar a desafios ideológicos mais complexos e difíceis de contornar. A classe proprietária apostava na ignorância e na falta de ambições na esfera da promoção social (BRANDÃO, 2014, p.04).
O livro é um dos recursos mais antigos e versáteis que o homem já criou e,
de certa forma se tornou decisivo para a propagação de ideologias, ensinamentos,
doutrinas, registro de tributos e na efetivação da leitura como prática social, tanto
nas sociedades arcaicas como também nas atuais. Por isso foi e sempre será uma
ferramenta de valor inestimável para o aprendizado da escrita e, principalmente, da
leitura. O educando poderá por meio dele aprender a gostar de ler e de escrever
com clareza e competência.
É competência da escola a tarefa de ensinar a leitura e a escrita. E uma está
atrelada a outra. E ambas estão intimamente ligadas. Sobre isso, ZILBERMAN
(2005. P.11) destaca que “Enquanto prática, a leitura associa-se desde seu
aparecimento à difusão da escrita, à fixação do texto na matéria livro (ou numa
forma similar a essa).” E complementa que, “a escola como a conhecemos hoje,
com a função de ensinar a ler e a escrever, só surgirá no século XVII”.
Portanto, é necessário refletir sobre a importância que a leitura e a escrita
ocupam dentro do espaço escolar e fora dele. “Durante muito tempo, o ensino de
Língua Portuguesa foi ministrado por meio de conteúdos legitimados no âmbito de
uma classe social dominante e pela tradição acadêmica/escolar” (DCEs, 2008, p.
62). Nesse sentido, a leitura e a escrita, estavam voltadas para uma perspectiva de
codificação/ decodificação. Somente após 1980 o Ensino da Língua passou por
profundas mudanças e hoje a leitura e a escrita passam a ser concebidas em
perspectivas, linguísticas, dialógicas e interativas.
Faz-se necessário organizar e planejar ações de leitura, interpretação e
produção de diferentes gêneros textuais, com o objetivo de incentivar o educando a
praticar socialmente a leitura e a escrita de forma ativa e autônoma já que, a
maioria deles, conseguem fazer uso da leitura e da escrita para poder interagir em
diferentes contextos sociais onde essas práticas são importantes e necessárias.
As práticas sociais da leitura acontecem de várias maneiras e a partir de
diferentes necessidades, como enfatiza Foucambert:
Ler é antes mesmo de procurar informação, ter escolhido a informação que se procura. Ler, quer se trate de um jornal, de um romance, de uma bula, de um poema, de um relato de experiência, da legenda de um filme, de um mapa, ou de uma peça de teatro, trata-se sempre de uma atividade que encontra sua significação porque está inscrita no interior do projeto. Pode-se discutir o valor do projeto, mas isto posto, a leitura é uma: trata-se sempre de tomar as informações que escolhemos tomar (FOUCAMBERT, 2008, p.63).
Por isso, ler é também escolher a informação que se quer, é procurar
alguma coisa. Saber ler é poder fazer tudo, quando se quiser e quando o texto se
prestar a isso. Foucambert (2008, p. 4) afirma que “a leitura é uma prática social
que preenche uma função de comunicação, mas sua aprendizagem, através da
escola, é uma realidade social que permite uma seleção.”
A escola seria então a responsável pelo ensino e aprendizagem da leitura.
Mas para Foucambert essa relação não funciona exatamente dessa maneira.
Vejamos:
As aprendizagens existem sem ensino, e o ensino existe sem escola, mas a escola seria preciosa se conseguisse ajudar todas as crianças nas suas aprendizagens. Assim, a aprendizagem da leitura é um processo cuja origem é independente do ensino e que prosseguirá quando o ensino tiver cessado (FOUCAMBERT, 2008, p.16).
Certamente a aprendizagem ocorre em todas as fases e momentos da vida,
porém o que a escola oferece é o ensino do saber sistematizado, aquele que seria
difícil o educando aprender sozinho e que cumprindo esse papel, a escola cumpre
uma de suas funções sociais - leitura, interpretação, escrita e produção textual com
base na língua padrão.
É por meio da escola que se tem acesso ao conhecimento historicamente
acumulado pela humanidade defendido por Saviane (2008). Como esse
conhecimento sistematizado está sendo ensinado nas escolas tem sido objeto de
estudo de muitos educadores e pesquisadores.
Já para o educador francês Jean Foucambert o aprendizado da leitura “só
pode se dar por meio da imersão na escrita, com a troca, a comunicação e a
multiplicação das relações entre os escritos sociais e o mundo real”. A decifração,
segundo o mesmo autor “é ensinada num grupo homogêneo de crianças que, aos
olhos do adulto, estão no mesmo estágio, ao passo que a aprendizagem da leitura
exige que se leia num grupo formado por usuários da escrita com diferentes
competências” (FOUCAMBERT, 1994, p.10)
É interessante como o educador francês diferencia leitura e decifração ou
decodificação. Para ele a decifração estaria próxima à alfabetização, enquanto que
a leitura estaria próxima ao letramento, ou decodificar o código apenas é diferente
de decodificar e saber seus usos sociais e culturais. Para Magda Soares (2004)
não podemos dissociar letramento e alfabetização, pois
[…] a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita - a alfabetização - e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita - o letramento. São processos indissociáveis: a alfabetização desenvolve-se no contexto de e por meio de práticas sociais de leitura e de escrita, isto é, através de atividades de letramento, e este por sua vez, só se pode desenvolver no contexto da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é, em dependência da alfabetização (SOARES, 2004, p.14).
Quando a criança se apropria devidamente da prática social de leitura,
poderá usufruir dos benefícios que dela advém e, consequentemente, ampliará os
limites do próprio conhecimento, buscando informações simples e complexas,
descontração, diversão, enfim, lerá também por prazer. A leitura proporciona
dinamicidade à linguagem sendo que para Bakhtin (2003, p. 261) “Todos os
diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem”. As
atividades desenvolvidas pelo ser humano, a sua evolução durante a história, se
deve ao uso e a possibilidade que a linguagem tem de transmitir e retransmitir os
conhecimentos aprendidos e construídos em todos os tempos.
A linguagem é intrínseca às atividades humanas. E como essas atividades
são infinitas, o uso da linguagem faz parte dessa infinitude. O homem utiliza a
língua de modo particular e individual, mas essa língua faz parte de algo mais
complexo que se processa na interação com outro indivíduo. E dessa interação de
enunciados ter-se-á o repertório de gêneros do discurso que se desenvolvem e
tornam-se complexos em cada campo da diversidade humana, como enfatiza
Bakhtin (2003, p. 263).
Os gêneros do discurso envolvem fenômenos orais e escritos que vão desde
o simples diálogo cotidiano, passando por tratados científicos, leis até o romance.
Silva (2005, p.66) fazendo referência ao trabalho com diferentes gêneros declara
que a escola deve se apresentar “como um ambiente rico em textos e suportes de
textos para que o aluno experimente, de forma concreta e ativa as múltiplas
possibilidades de interlocução com os textos.
Dentre os gêneros discursivos, o literário é que está mais presente nas aulas
de Língua Materna e, na maioria das vezes, é disponibilizado para o estudante ler
em horários extraclasses. No ambiente escolar, raramente, há exemplares de
revistas e jornais, à disposição e quando existe há somente um exemplar que
dificilmente chega às mãos de todos os estudantes.
Sabe-se que o leitor atribui significado a tudo o que lê, conforme os
conhecimentos de mundo que possui. A leitura acontece a partir de conhecimentos
anteriores, logo, cabe ao educando atribuir significados a suas leituras e, somente
depois, o professor poderá aprofundar a leitura e ampliar os horizontes de
expectativas dos estudantes.
3. ATIVIDADES DE LEITURA NO AMBIENTE ESCOLAR
Bakhtin (2003) afirma que a língua, nosso objeto de ensino, não é
monológica, mas um fenômeno social que se dá pela interação verbal, realizada
através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui a realidade
fundamental da língua. Assim, ler textos literários não apenas forma ouvintes, mas
leitores e escritores. Por tudo isso, as atividades de leitura e escrita desenvolvidas
e relatadas a seguir, mostram que tudo na língua é interação. Não há espaço para
a abstração, uma vez que a linguagem é um sistema global.
Um dos desafios propostos ao professor de hoje é desenvolver a
competência linguística dos educandos, ou seja, a fala e a escrita, pois, como
sabemos, os seres humanos se comunicam de formas diversas e os textos
literários podem oferecem inúmeras formas de comunicação e interpretação.
O texto literário permite ao leitor uma viagem pelo fantástico, pelo ficcional e
abre espaço para a liberdade da linguagem, sem restrição de norma, pois pode-se
ler para não fazer nada depois, mas também permite que o leitor faça várias
análises referentes ao texto lido. Sobre a leitura e escrita do texto literário afirma
Cosson (2008, p.8).
Na leitura e na escritura do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em
mim sem renúncia da minha própria entidade.
Ler e escrever textos literários é abrir espaço para a reflexão sobre o mundo,
sobre o outro e sobre nós mesmos. Sabe-se que a leitura frequente, no espaço
escolar e fora dele, permite essa reflexão e é primordial para a formação de leitores
proficientes: sendo capazes de interagir com diferentes textos e contextos,
tornando-se críticos, autônomos e cada vez mais competentes. Por isso, as
atividades propostas na Produção Didático-Pedagógica, levará os educandos a
lerem, escreverem, refletirem sobre eles mesmos e sobre a importância da
participação de cada um nas diferentes práticas sociais que utilizam a oralidade, a
leitura e a escrita.
O espaço escolar sempre manteve como tradição a valorização da produção
escrita, por isso a relevância de um trabalho pedagógico alicerçado na leitura de
diversos gêneros, especificamente, dos literários, pois aprender a ler, compreender
e interpretar o texto é um passo imprescindível no processo da escrita e também
na formação do educando como cidadão.
Para conhecer as preferências literárias, o grau de envolvimento de cada um
com a leitura, quantos e quais livros leram ultimamente, qual a importância que ele
(educando) e a família atribuem à leitura e a escrita é que formulamos uma
pesquisa qualitativa de perguntas abertas e eles responderam no início das
atividades de implementação da Proposta Didático-Pedagógica. Tais questões
serviram como ponto de partida para que se iniciasse a conversa sobre os gêneros,
os objetivos, a metodologia e as metas a serem alcançadas com a aplicabilidade
da Proposta.
Iniciou-se os trabalhos pelo gênero conto. Por ser um tipo de texto em que
geralmente há poucos personagens, a narrativa não é tão extensa, tem atraído os
olhares dos leitores que buscam leituras mais rápidas.
O conto tem origens antigas, destaca Cereja (2009) e está ligado ao desejo
do ser humano de ouvir e contar histórias. Nasce nas narrativas orais dos antigos
povos nas noites de luar, passa pelas narrativas dos bardos gregos e romanos,
pelas lendas orientais, pelas parábolas bíblicas, pelas novelas medievais italianas,
pelas fábulas francesas e chega até nós, em livros, como o conhecemos hoje. “Um
conto é significativo quando quebra seus próprios limites com essa explosão de
energia espiritual que ilumina bruscamente algo que vai além da pequena e às
vezes miserável história que conta” (CORTÁZAR, 2006, p. 153).
O estudioso Alcântara Machado (2003) compreende que o conto é uma
narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao assunto. No conto tudo é importante:
cada palavra é uma pista. Em uma descrição as informações são valiosas, tudo
está cheio de significados.
E para o deleite dos educandos do 3º ano, analisou-se o conto “Uma vela
para Dario” do contista paranaense Dalton Trevisan, autor de narrativas
curtíssimas, contundentes, centradas em personagens anônimas com as quais
projeta a náusea do cotidiano.O trabalho foi iniciado com leitura silenciosa e, na
sequência, assistiu-se a dois vídeos sobre o conto para posterior interpretação
escrita.
Prosseguindo as atividades, os estudantes receberam, em material
impresso, o conto “A moça tecelã” de Marina Colasanti, um texto que está mais
para a literatura fantástica. Realizaram–se também atividades de leitura e
interpretação.
A partir dessas leituras, percebeu-se o interesse dos estudantes pelos
contos e mesmo não constando nas atividades relacionadas na Unidade Didática,
os educandos foram motivados a lerem outros contos. Poderiam lê-los em livros
disponibilizados pela biblioteca ou em páginas da Web. Os mais interessantes
poderiam ser contados para os colegas.
Foi uma atividade interessante, pois os estudantes puderam escolher e
mostrar os mais diversos gostos em relação aos tipos de contos. E para finalizar os
trabalhos com os contos, realizou-se uma gincana (modelo torta na cara) com
questões sobre o conto “Uma vela para Dario” e “A moça tecelã”. Foi um momento
divertido, de respeito, de interação e de aprendizagem.
E isso se comprova, conforme se lê no depoimento abaixo:
Nunca gostei muito de ler livros, pois prefiro a internet. Depois da leitura desses contos, passei a me interessar por eles. Li outros muito bons que encontrei na internet. Gostei da leitura do conto “Uma vela para Dario”, porque retrata um episódio triste e que
poderá ocorrer com qualquer um. Achei interessante o vídeo e a gincana. Espero outras aulas assim. (ALUNA A, 2014) Foram muito interessantes as atividades desenvolvidas em sala, uma vez que além da diversão elas nos proporcionaram um curioso contato com obras da nossa literatura. De modo geral, as capacidades de criação, compreensão e interpretação de todos os educandos foram testadas e aprimoradas de uma maneira bem divertida que abrangeu mesmo aqueles que pouco apreciavam a leitura. (ALUNA B, 2014) Espírito de poeta, com certeza durante a produção dos poemas todos os educandos do terceiro ano sentiram possuir dentro de si um. A experiência proporcionada pela professora Claudia foi de extrema importância para mim enquanto estudante, porque me possibilitou redescobrir uma criatividade esquecida há muito tempo, além de permitir que todos os demais educandos percebessem que querer é poder mesmo quando não se tem afinidade com determinado gênero. (ALUNA C, 2014)
Outro gênero que atraiu a atenção e o interesse dos educandos foi o poema.
Segundo Cereja e Magalhães (2009, p. 49) o poema “é um gênero textual que se
constrói não apenas com ideias e sentimentos, mas também por meio do emprego
do verso e de seus recursos musicais - a sonoridade e o ritmo das palavras - e de
palavras com sentido figurado.”
Por ser um texto literário exige a sensibilidade do leitor. É um texto mais
para sentir do que para refletir. O poema mexe com o “espírito”, a imaginação e a
sensibilidade do leitor. O poema pede uma leitura em voz alta, para captar o ritmo
dos versos. Ele também expressa os sentimentos, as emoções do poeta ou sua
versão da realidade para criar atmosferas de mistério e surrealismo.
Discorremos para a turma as particularidades que estruturam o gênero, a
diferença entre poesia e poema e os poetas que seriam trabalhados.
Posteriormente os estudantes receberam o poema “Operário em construção” de
Vinícius de Moraes, recortado em estrofes, para ser organizado de acordo com o
entendimento de cada um.
Na sequência, assistiu-se no projetor de imagens, o poema ”Operário em
construção” declamado pelo cantor Taiguara. Após fez-se a interpretação oral e,
em seguida, distribuiu-se o poema “Construção” de Chico Buarque, para leitura e a
audição da canção na voz do próprio autor. Após fez-se a interpretação escrita e
um paralelo da vida dos operários atuais e da década de 60, e a partir desses
apontamentos, produziu-se um texto dissertativo.
Os estudantes foram motivados a produzirem em duplas um poema sobre
uma determinada profissão que eles escolhessem, também fotografaram as mãos
dos profissionais exercendo suas profissões. Transcrevemos abaixo o poema feito
pelas estudantes Letícia Rosa e Gracieli Pillar.
Cuidadora do Lar
E o dia começa cedo Donas de casa não devem ter medo, Do trabalho que as espera, Contínuo do outono à primavera. A rotina é permanente, Mas todo dia é diferente, Depois de pegar no batente Vai conversar com a vizinha da frente. O engraçado da história, É que esse cargo de dona de casa, É aceito sem reclamação E ausente de remuneração. Pois não trabalha por salário; E também não tem horário. Um trabalho que é sem fim, Mas aos seus olhos necessários. Independente da profissão, Nenhuma escapa da preocupação. Que é cuidar do marido E aos filhos dar educação. E quando da escola chegar Os filhos vão encontrar,
Sobre a mesa da cozinha, Àquela comida quentinha. E se o filho ficar doente, Não deixa de estar presente. Torna-se médica ou enfermeira E acordada passa a noite inteira. Na vida da mulher do lar Deus um toque foi dando, Na consciência dos homens, O preconceito está terminando E finalmente o trabalho doméstico, Estão valorizando. A jornada dupla está para acabar, Pois a vida moderna foi mudando, A rotina de alguns lares. Em que a mulher sai para trabalhar E o homem em casa está ficando! Tendo profissão ou não, Por algum motivo ou sem uma razão. Toda mulher é guerreira, Dona de casa trabalhadeira.
Leticia Rosa e Gracieli Pilar (3º ano)
Essa atividade ficou interessante e as duplas produziram poemas com
sequência narrativa, descritiva e contendo particularidades de muitas profissões.
Exprimem seus pontos de vista em relação ao trabalho e exaltam poeticamente o
trabalhador. Como diz Pedro Bandeira, “A poesia é uma maneira gostosa de tirar o
retrato da nossa alma” (BANDEIRA, 2001, p.63).
Após a leitura dos poemas para os colegas de sala, eles foram ilustrados com
as fotografias tiradas das mãos das diversas profissões e organizados num grande
painel, no saguão da escola, para que outros educandos, de outras turmas e turnos,
lessem e apreciassem a produção.
Iniciou-se o terceiro momento com o gênero romance. O romance de acordo
com Kaufman e Rodríguez (1995, p. 22) é “semelhante ao conto, mas tem mais
personagens, maior número de complicações, passagens mais extensas com
descrições e diálogos”, segundo as autoras as personagens adquirem uma definição
mais acabada, e as ações secundárias podem ter tal importância que terminam por
converter-se em textos ou unidades narrativas independentes.
O romance é uma forma literária do gênero narrativo que apresenta uma
história completa, com temporalidade, ambientação e personagens claramente
definidos. Surgiu na Idade Média, tendo em Dom Quixote, de Cervantes, sua principal
representação. No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa o verbete romance
apresenta a seguinte definição: “Descrição longa das ações e sentimentos de
personagens fictícios, numa transposição da vida para o plano artístico”
Para Araújo (2010) o romance é a narração mais conhecida, além de ser a
preferida entre os leitores. A estrutura da narrativa é complexa, já que não acomoda
apenas um núcleo, mas várias tramas se desencadeiam durante a narração da
história principal.
Apresentou-se o gênero romance, falou-se sobre os romancistas brasileiros, e
então os estudantes receberam o romance “A hora da estrela” da Clarice Lispector.
Como não havia exemplares para todos, algumas cópias foram providenciadas, para
que a leitura fosse iniciada com todos tendo o material em mãos.
A leitura, em sala de aula, iniciou-se de forma oral. Então intercalou-se com
leituras em casa e na escola, combinando os capítulos, para que a leitura fosse mais
ou menos homogênea. Foi muito interessante a turma ter acesso ao mesmo livro, pois
isso é muito raro, visto que, nas bibliotecas, geralmente, encontram-se um ou dois
exemplares de cada título.
Após leitura, debate, discussão sobre a estrutura do romance, apresentação de
opiniões referentes à ação dos personagens e ao enredo, os estudantes organizaram-
se em grupos, para montarem o texto no gênero dramático. É necessário destacar a
organização dos integrantes de cada grupo, pois, ordenadamente, distribuíram os
papéis, ensaiaram e decidiram o cenário. Primeiramente apresentaram a peça para a
própria turma e depois para as demais séries do Ensino Médio.
Todos esses momentos com os educandos foram gratificantes, pois
percebemos o empenho com que realizaram as atividades propostas. Trabalhar com
a leitura dos diversos gêneros textuais proporcionou-nos bons e prazerosos
momentos de encantamento, reflexão, discussão, interação, respeito e acima de tudo
houve troca, ou seja, intercâmbio de conhecimentos.
4. Grupo de Trabalho em Rede
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) teve início na segunda metade do mês
de março de 2014. Professores de Língua Portuguesa e Pedagogos, de várias
regiões do Paraná, participaram dos fóruns e diários, contribuindo de forma efetiva
para a divulgação das atividades propostas tanto no Projeto quanto na Produção
Didático-Pedagógica. Foram apontamentos, sugestões, relatos de experiências e
discussões acerca do tema “leitura” e o que fazer e como fazer para que os
educandos apreciem a leitura e tenham com ela intimidade. Essa troca foi
fundamental para que crescêssemos como professores e leitores.
Os professores cursistas mostraram-se preocupados com o desinteresse dos
educandos pela leitura. Para eles é dever da escola instrumentalizar o educando
para interagir com diferentes tipos e gêneros textuais, participando efetivamente em
atos reais de leitura e escrita. Ressaltaram que quanto maior o contato do aluno com
os diversos tipos de textos, maior será a possibilidade de entender as intenções
implícitas no texto, transformar o mundo e a si mesmo.
Eis alguns dos depoimentos:
Nasci em um lar um tanto diferente dos demais: pai e avó contadores de história e declamadores de poesia. Não deu outra, nasci poeta. Fui alfabetizada através dos gêneros textuais, mas infelizmente; na escola, nunca encontrei um professor ou uma professora que me enlevassem com a literatura. Das poucas vezes que recebi em minhas mãos um poema foi para retirar dele: substantivos, adjetivos, mas em casa havia aprendido que de um poema não se tira nada, mas se enche cada vez mais de beleza e sabedoria. (PARTICIPANTE A, 2014) A pessoa que lê ou escreve está imersa numa história, numa cultura e em diferentes grupos sociais nos quais exercem papéis variáveis. Assim sendo, entendemos que seja qual for a situação, é necessário dar instrumentos para o aluno escrever e ler da melhor forma possível, e os gêneros textuais sem sombra de dúvidas, são instrumentos que torna isto possível (PARTICIPANTE B, 2014).
É necessário fazer com que os educandos saibam a grande importância da leitura, que através dela é possível ampliar conhecimentos e que no final de cada leitura fica-se com mais experiência, mais criatividade e entendimento de mundo. Cabe aos professores tentar oferecer o maior número possível de diferentes tipos e gêneros textuais.[...] Os gêneros textuais podem privilegiar os educandos na formação de bons leitores, em função de sua estrutura e de sua linguagem (PARTICIPANTE C, 2014).
Para que a escola se torne, realmente, um espaço de interação, a leitura,
compreensão, oralidade e escrita devem ser frequentes e presentes em todos os
momentos da vida de nossos educandos, seja na escola ou fora dela. É
imprescindível oferecer-lhes textos que abordem temas sociais, para que leiam,
reflitam, compreendam e produzam textos coesos e coerentes, comparando-os e se
posicionando criticamente diante deles e dos fatos que eles apresentam.
Os professores cursistas foram unânimes em afirmar que o contato com os
diversos gêneros textuais, permite aos educandos estabelecerem elos entre os
textos e suas vidas, ampliando suas concepções e tornando-se mais críticos sobre
si, o outro e a sociedade em que vivem. Pontuam ainda que a diversidade de
gêneros proporcionou uma atmosfera amistosa, de maior liberdade, possibilitando
um aprendizado mais divertido, eficiente e menos enfadonho. Segundo eles as
atividades possibilitaram entretenimento e reflexões, capacitando os discentes a
produzirem seus próprios textos.
[...] o professor, muitas vezes, é o único que pode trazer a leitura como forma de emancipação, de sensibilização, de reflexão aos seus educandos. Todo texto pode ser interessante em sala de aula, desde uma receita de bolo até um artigo científico, basta o toque de mestre, basta primeiro ele gostar de ler (PARTICIPANTE D, 2014).
Para ser considerado um leitor competente, o educando precisa ir além do que a palavra escrita representa, ou seja, ele precisa entender a mensagem, a intenção que há por traz do texto, em outras palavras, é fundamental interpretar, ler as entrelinhas na leitura realizada para compreendê-la e posteriormente julgá-la. [...] Para que a atividade não se torne apenas um cumprimento do planejamento escolar, o professor precisa incorporar essa prática na rotina de sala de aula, propiciando condições para que educandos compreendam o texto que leram, de modo a facilitar o acesso e interesse a leituras mais complexas, favorecendo a intertextualidade.
E sem dúvida, é promovendo a leitura que formaremos leitores... (PARTICIPANTE E, 2014).
A participação dos professores, nesse GTR, deixou-nos a certeza de que a
escola tem importante papel na formação do gosto e da construção da prática social
da leitura, seja ela crítica, informativa, reflexiva, instrucional ou fantástica. Cada
gênero oferecido, em sala de aula, segrega saberes fundamentais, os quais
contribuirão no desenvolvimento da capacidade do aluno concentrar-se, ouvir,
interagir, imaginar, abstrair, apreciar e, principalmente, tornar-se um leitor voraz de
todo o tipo de literatura.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A crise no ensino da leitura tem suscitado calorosas discussões entre os
profissionais da educação. Incansavelmente fala-se e repete-se que a leitura é
fundamental na vida do ser humano, mas poucos a praticam. Sabe-se que a prática
frequente da leitura é condição imprescindível para que o homem se constitua leitor
crítico e assíduo e, a escola, precisa oferecer condições para que os educandos,
paulatinamente, leiam mais, escrevam mais, aumentem seus saberes, desenvolvam
o raciocínio, a compreensão do real e a curiosidade intelectual.
Silva (1986, p. 21) corrobora essa ideia, destacando que “a „crise da leitura‟
com índices baixíssimos de qualidade de leitura não é um problema somente de
nosso século XX e XXI”. Por isso, cabe aqui ressaltar que, desde o início da
civilização, a falta de leitura tem impedido o homem de viver a sua cidadania em
plenitude, pois muitos não sabem ler, nem tampouco escrever e isso tem
comprometido a sua participação de forma ativa na vida social, política e cultural de
seu país, cidade ou de sua comunidade.
Verifica-se que os baixos índices de qualidade de leitura se arrastam por
muitas gerações, devido à falta de estímulo dos pais e professores, de acervo
literário e do desinteresse dos educandos. Por isso, é preciso que a escola tome
para si a tarefa de ensinar o estudante a ler e a gostar de ler. Portanto, na prática
docente, principalmente, dos professores de Língua Materna, devem ter
espaços diários para a leitura e esta prática precisa ser efetivada, com
urgência.
Sabe-se que a prática social da leitura está se tornando cada vez mais rara.
Por isso, faz-se necessário apresentar a essa nova geração de educandos os
autores de nossa literatura. Pensando nisso e tendo como parâmetro pesquisas
referentes aos dados estatísticos alarmantes que envolvem leitura e leitores,
pensou-se e foram desenvolvidas atividades envolvendo três gêneros textuais não
muito apreciados pelos discentes.
Porém, durante a implementação da Proposta Didático-Pedagógica “A leitura
a partir dos diferentes gêneros textuais”, comprovou-se que o conto, o poema e o
romance, gêneros tão distintos entre si, podem sim agradar os educandos do 3º ano
e, evidentemente, torná-los leitores assíduos e proficientes.
No decorrer do desenvolvimento das atividades propostas ficou evidente
para os educandos a importância das práticas de leitura na escola ou fora dela para
a inserção de cada um, na sociedade. Foi possível perceber um interesse muito
maior por novas leituras, haja vista que a leitura e a escrita são instrumentos
essenciais, os quais credenciam os indivíduos ao acesso à informação, a ampliação
vocabular, a criticidade, a sensibilidade e a busca de novos conhecimentos.
Houve, a partir das leituras, do desenvolvimento das atividades da
compreensão dos textos, da produção de poemas e da apresentação da peça
teatral, um acentuado interesse pela leitura destes e de outros gêneros do discurso.
Entendeu-se que a leitura é imprescindível na formação dos estudantes, para que
esses sejam cidadãos conscientes, críticos e atuantes. Espera-se que eles façam do
ato de ler uma condição essencial para viver a sua cidadania.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS