OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · também inalados, ou suas folhas mastigadas...

15
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Transcript of OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · também inalados, ou suas folhas mastigadas...

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

DROGAS: A PREVENÇÃO PARTICIPATIVA DA COMUNIDADE ESCOLAR DO COLÉGIO ESTADUAL ALBERTO SANTOS DUMONT E. F. M. P. DE CAMPINA DA LAGOA – ESTADO DO PARANÁ

Hernandes Alberto Crespo1 Maria Júlia Corazza2

Resumo Este artigo trata de um relato de experiência sobre o processo de formação continuada de professores e pedagogos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont EFMP do município de Campina da Lagoa/PR, e das ações coletivas, desenvolvidas por meio de um projeto interdisciplinar junto aos estudantes do 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, voltadas para a prevenção ao uso de drogas. A intervenção pedagógica teve o objetivo de promover a formação continuada dos professores e pedagogos, propiciando fundamentos teórico-metodológicos necessários à capacitação dos mesmos na produção de estratégias e materiais didático-pedagógicos para atuarem de forma consciente, participativa e coletiva na prevenção ao uso indevido de drogas no ambiente escolar e na comunidade. Esta problemática é relevante, uma vez que o consumo de drogas, além de afetar a saúde, a conduta psíquica e social dos estudantes, interfere no processo de ensino e aprendizagem, levando à repetência e evasão escolar. A proposta foi fundamentada em três momentos pedagógicos, Problematização Inicial, Organização do Conhecimento e Aplicação do Conhecimento. No primeiro momento foi feito o levantamento e discussão da problemática das drogas no Colégio, no segundo momento ocorreu o estudo da temática por meio de textos, apostilas, cartilhas, documentários, filmes e depoimentos de familiares de usuários, no terceiro momento foram elaboradas estratégias e produção didático-pedagógicos pelos professores e pedagogos para serem aplicados junto aos alunos do 7º, 8º e 9º anos do Ensino Fundamental. Os resultados mostraram a importância da prevenção participativa e constante em todas as escolas e em todas as disciplinas. Palavras-chave: Drogas. Prevenção. Momentos Pedagógicos. Comunidade Escolar.

I. Introdução

Este artigo trata de um relato de experiência sobre o processo de formação

continuada de professores e pedagogos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont

EFMP do município de Campina da Lagoa/PR, e das ações coletivas, desenvolvidas

por meio de um projeto interdisciplinar junto aos estudantes do 7º, 8º e 9º anos do

Ensino Fundamental, voltadas para a prevenção ao uso de drogas.

Muitos alunos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont fazem uso

indevido de drogas lícitas e ilícitas, dentro e fora do ambiente escolar. Entre as

1 Formado em Licenciatura Plena em Ciências pela Universidade Estadual de Filosofia, Ciências e

Letras de Cornélio Procópio/PR. Formado em Licenciatura Plena em Química pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Cornélio Procópio/PR. Graduado pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campo Mourão/PR. 2 Professora Doutora, Associada do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de

Maringá/PR (UEM). Professora Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da UEM.

drogas mais consumidas por estes estudantes, destaca-se o álcool, seguido do

tabaco e drogas ilícitas, como a maconha e o crack. Outro fato conhecido e

preocupante refere-se à precoce faixa etária da adolescência, na qual um número

significativo dos estudantes inicia no consumo da droga.

As informações obtidas nesse estabelecimento de ensino coincidem com os

dados apresentados em estudos que apontam o álcool e o tabaco como as drogas

mais consumidas por estudantes. Esses estudos também revelam que o início do

consumo às drogas pelos adolescentes ocorre, geralmente, entre 10 e 12 anos de

idade (SANCHEZ; OLIVEIRA; NAPPO, 2005; ROEHRS; LENARDT; MAFTUM,

2008).

A adolescência é caracterizada como um período de vida de intensas

transformações biológicas, sociais e psicológicas. Tornam-se comum neste estágio

de desenvolvimento os conflitos familiares, a busca pela independência e autoestima

e a necessidade de interação social com grupos de jovens da mesma faixa etária,

que, dependendo do grupo, pode influenciar e exercer pressão ao uso de drogas.

Entre os fatores de risco ao consumo de drogas pelos adolescentes, Sanchez,

Oliveira e Nappo (2005, p.600) destacam: o uso de drogas pelos pais, a falta de

integração às atividades escolares, desestrutura familiar, violência doméstica e

pressão de grupo. Um dos maiores e mais importantes fatores de risco ao uso de

drogas é a baixa condição socioeconômica da população, Muitos jovens brasileiros

habitam em favelas nas quais o tráfico gera condições favoráveis ao consumo de

drogas e á delinquência.

Essa problemática é de grande relevância, uma vez que o consumo abusivo

de drogas, além de afetar a saúde e a conduta psíquica e social dos estudantes,

interfere no processo de ensino e aprendizagem, levando á repetência e à evasão

escolar, à perda de emprego, rupturas familiares, à violência, crimes, acidentes e

encarceramentos (BERNARDY; OLIVEIRA, 2010, p. 12).

O consumo de drogas constitui-se em uma prática cultural universal e

bastante antiga. Desde a antiguidade, várias substâncias, capazes de produzir

alucinações, estados de êxtase e outras alterações mentais, têm sido utilizadas em

rituais místicos ou religiosos e para fins terapêuticos (DUARTE, 2010). Como

descrito por Roehrs; Lenardt e Maftum (2008), o consumo do ópio era comum na

Grécia Antiga para aliviar as dores provenientes de enfermidades e, também, em

vários países do oriente para ludibriar a fome em épocas de crises econômicas

ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. Os autores citam ainda que a maconha

passou a ser utilizada como analgésico a partir dos anos de 1730 pelos chineses e

por outros povos asiáticos e africanos. Esta substância e outros alucinógenos eram

também inalados, ou suas folhas mastigadas pelos maias, incas e outros povos

andinos. Além dessas drogas, o álcool ainda é utilizado em cerimoniais religiosos

dos judeus, de cristãos e em rituais de candomblé (ROEHRS; LENARDT E

MAFTUM, 2008).

O uso dessas drogas raramente foi concebido como uma ameaça à ordem

social constituída, exceto durante o período da caça aos heréticos e às bruxas. O

consumo de drogas começou a ser considerado um problema para a sociedade em

geral somente no final do século XIX e no início do século XX, passando seu

controle da esfera religiosa para a da biomedicina e biossegurança. Uma das

consequências deste fato foi que o enfoque sobre a questão, que antes priorizava

aspectos de ordem religiosa e moral, passou a se concentrar nos aspectos

farmacológicos e de risco à Segurança Pública.

A partir dos anos de 1960, presenciou-se um aumento mundial no consumo

de drogas em decorrência do movimento hippie, iniciado nos Estados Unidos e

Europa em prol á liberação sexual e a um estilo de vida contrário aos rígidos

padrões sociais e familiares da época (ROEHRS; LENARDT E MAFTUM, 2008). No

Brasil, estudos realizados em 1997 registraram uma tendência ao aumento do

consumo de inalantes, maconha, cocaína e crack em muitas capitais do país, mas o

álcool e o tabaco continuavam a ocupar os primeiros lugares das drogas mais

utilizadas pela população (MARQUES; CRUZ, 2000).

O consumo de drogas, principalmente do álcool, está relacionado à

convivência familiar e à vida em sociedade. É comum as pessoas beberem em

comemorações familiares e em diversas circunstâncias sociais, nas quais crianças e

adolescentes também se encontram presentes. A mídia também exerce grande

influência sobre as pessoas de um modo geral, por meio de propagandas que

estimulam o consumo de drogas lícitas, como é o caso do álcool. Pechansky, Szobot

e Scivoletto (2004, p. 14) argumentam que “existe um movimento na direção do

consumo responsável de álcool, como indica, por exemplo, o website da Campanha

Brasileira de bebidas – AMBEV, com campanhas na mídia associando o consumo

de álcool com moderação ou com prevenção de acidentes”.

Além da dependência e efeitos sociais, o álcool pode causar intoxicação,

transtornos mentais, delírios, cardiopatia, cirrose, gastrite, hepatite alcoólica, danos

cerebrais, entre outras consequências, tornando-se importante a prevenção desta e

outras drogas lícitas e ilícitas.

Em se tratando da prevenção, muitos autores destacam como fatores de

proteção dos adolescentes ao uso de drogas as relações familiares desde o

nascimento da criança, as orientações da família e escola para uma conduta social

adequada, o monitoramento das atividades e amizades dos adolescentes, o

envolvimento com as atividades escolares e a disponibilidade de informações

preventivas ao consumo de drogas (SANCHES; OLIVEIRA; NAPPO, 2004;

SCHENKER; MINAYO, 2005).

Nesse contexto, a escola constitui-se em um espaço fundamental para a

sensibilização e realização de ações preventivas, a partir de capacitações e

desenvolvimento de projetos interdisciplinares que atendam as especificidades dos

professores e interesses dos alunos. Nessas ações preventivas os professores

exercem um papel de suma importância na formação integral dos alunos,

possibilitando a construção de conhecimentos científicos acerca das drogas e o

desenvolvimento de atitudes saudáveis. Nas palavras de Dalbosco ...

A prevenção deve ser pensada a partir da formação do educador, da mudança de paradigma e de suas representações estereotipadas sobre o adolescente. É preciso construir conhecimento a partir da experiência concreta, da prática, formulando uma proposta de prevenção mais realista. Parece que é necessário mais preparo que conteúdo, e uma resposta, acima de tudo, “humana” (DALBOSCO, 2013, p.22).

Nesta perspectiva, a intervenção pedagógica que conduziu este estudo teve

como objetivo promover a formação continuada dos professores e pedagogos do

Colégio Estadual Alberto Santos Dumont EFMP, propiciando fundamentos teórico-

metodológicos necessários à capacitação dos mesmos na produção de estratégias e

materiais didático-pedagógicos para atuarem de forma consciente, participativa e

coletiva na prevenção ao uso indevido de drogas no ambiente escolar e na

comunidade.

II. Desenvolvimento

A intervenção pedagógica foi realizada por meio de um curso de 40 h/a

oferecido aos professores e pedagogos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont

EFMP, com o intuito de constituir e capacitar um grupo unido, ativo e participativo

para atuarem na prevenção ao uso indevido de drogas dentro e fora do ambiente

escolar. Após a intervenção pedagógica os professores e pedagogos foram

orientados para o desenvolvimento de atividades junto aos alunos do 7º, 8º e 9º

anos do Ensino Fundamental desse Colégio. Todas as etapas do processo de

intervenção foram fundamentadas nos Três Momentos Pedagógicos descritos por

Angotti, Delizoicov e Pernambuco (2012).

Esta abordagem didática pedagógica, fundamentada na Teoria Libertadora de

Paulo Freire, passou a ser disseminada a partir do final da década de 1980,

tornando-se conhecida como Três Momentos Pedagógicos (Delizoicov, Angotti e

Pernambuco, 2009). A perspectiva metodológica, inicialmente descrita por

Delizoicov (1982) e, posteriormente, veiculada na obra Metodologia do Ensino de

Ciências de Delizoicov e Angotti (1994), estrutura o ensino em três etapas distintas:

Problematização Inicial, Organização do Conhecimento e Aplicação do

Conhecimento.

Na Problematização Inicial os alunos são estimulados, por meio de situações

problemas, extraídas da realidade cotidiana e relacionadas com o conteúdo que será

estudado, a exporem suas ideias e conhecimentos prévios sobre o assunto. Este

momento se caracteriza pelas interações dialógicas entre professor/alunos e

alunos/alunos, estabelecidas com a finalidade de possibilitar um confronto critico

entre as concepções primeiras e o conhecimento científico que será trabalhado. No

segundo momento pedagógico, Organização do Conhecimento, são propostos

estudos sobre os conhecimentos necessários para a compreensão do conteúdo e

das situações problematizadoras apresentadas e discutidas no momento inicial. O

terceiro momento pedagógico proposto por Delizoicov e Angotti (1994) refere-se à

Aplicação dos Conhecimentos adquiridos durante os primeiros momentos e, de

acordo com os autores:

Destina-se, sobretudo, a abordar sistematicamente o conhecimento que vem sendo incorporado pelo aluno, para analisar e interpretar tanto as situações iniciais que determinaram o seu estudo, como outras situações que não estejam diretamente ligadas ao motivo inicial, mas que são explicadas pelo mesmo conhecimento. Deste modo pretende-se que, dinâmica e evolutivamente, se vá percebendo que o conhecimento, além de

ser uma construção historicamente determinada, está disponível para que qualquer cidadão faça uso dele e para isso, deve ser apreendido. Com isso, pode-se evitar uma excessiva dicotomização entre processo e produto, ciência de “quadro-negro” e ciência para vida, cientista e não cientista. (Delizoicov e Angotti. 1994. p. 55).

2.1 Intervenção Pedagógica – A problematização

Ao iniciar a intervenção pedagógica pela Problematização, foi solicitado para

que os professores e pedagogos (total de 34 participantes) lessem uma reportagem

da revista Veja, publicada no dia 19/09/2013, intitulada “Drogas: um problema que

aflige a sociedade contemporânea. Após a leitura os participantes do curso de

intervenção responderam por escrito questões foram questionados sobre os

seguintes aspectos: a) Fatores relacionados ao uso de drogas pelos adolescentes

do Colégio; b) conhecimento sobre as drogas consumidas pelos adolescentes do

Colégio; c) efeitos das drogas para o educando, família e sociedade; d) Como cada

professor pode intervir em suas aulas na prevenção ao uso de drogas; e) Como o

curso poderia ajudá-los em suas práticas educativas.

Ao refletirem sobre os fatores de risco ao uso de drogas pelos adolescentes

do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont EFMP, os professores e pedagogos

consideraram: a falta de estrutura familiar (citado por 12 educadores); problemas

financeiros (09); influência do grupo de amizade (05); falta de perspectiva de vida

futura (08); acesso fácil às drogas (05); prostituição (04); falta de políticas públicas

(05); falta de conhecimento e incentivo a não usar drogas (03); não cumprimento das

leis por parte das autoridades (01); baixa escolaridade (04); carência afetiva (02);

discriminação social (01).

A maioria destes resultados também é citada por muitos autores que

descrevem sobre os riscos ao uso de drogas, Sanchez; Oliveira; Nappo, (2004).

Os professores e pedagogos revelaram que têm conhecimento de que alunos

do Colégio consomem diversos tipos de drogas, sendo que as mais citadas foram:

bebidas alcoólicas (22 citações); cigarro (21); maconha (14); crack (11); cola de

sapateiro (04); remédios (03); e cocaína (03).

Sobre os efeitos das drogas para o educando, família e sociedades, os

educadores apontaram: a repetência (16 respostas), baixo rendimento escolar (14);

evasão escolar (11); falta de controle emocional (09); dificuldades financeiras (07);

violência doméstica (06); prática de assaltos e furtos (06); perda de respeito às

pessoas (06); conflitos constantes (05); transtornos mentais (03); debilidade física

(02); indefinição do certo e do errado (02).

Os professores consideraram que podem intervir em suas aulas de modo

preventivo ao uso de drogas por meio de debates, palestras, vídeo de filmes ou

documentários, leitura e discussões de textos sobre o assunto, prevenindo sobre os

riscos das drogas. Outros professores responderam que procurariam comentar

sobre exemplo de atletas que prejudicaram suas carreiras devido ao uso de

anabolizantes e outras drogas, usariam também depoimentos de ex – usuários,

valorizariam aluno, ou a religiosidade.

Ao comentar o papel da escola e dos educadores na prevenção às drogas,

Albertani (2013) destaca que os alunos podem tomar decisões livres e responsáveis

sobre o uso de drogas quando possuem dados suficientes para compreenderem as

consequências de suas ações. A autora complementa que “são necessárias

habilidades e informações específicas sobre as drogas, seus efeitos e riscos,

fundamentados em conhecimentos científicos, atualizados e sem preconceitos”

(ALBERTANI, 2013, p. 15).

Tal como considerado por alguns dos professores e/ou pedagogos que

valoraram a religiosidade como medida preventiva, autores como Sachez, Oliveira e

Nappo (2004) concluíram que a religião pode ser um fator protetor relevante,

atuando como apoio na estruturação familiar e como fonte de informação e

orientação.

A maioria dos participantes respondeu que o curso poderia auxiliá-los,

proporcionando conhecimentos científicos e estratégias metodológicas para

trabalharem com o assunto em sala de aula.

Como demonstrado, fundamentados em Delizoicov e Angotti (1994),

realizamos o primeiro momento pedagógico com uma reflexão sobre a problemática

das drogas, seguida da investigação dos conhecimentos que os professores e

pedagogos tinham da realidade vivenciada pelos alunos, oportunizando o

planejamento de materiais e das ações que foram conduzidas no segundo momento

pedagógico. Como explicam os autores, no momento da problematização ...

São apresentadas questões e/ou situações para discussão com os alunos. Sua função, mais do que simples motivação para se introduzir um conteúdo específico, é fazer a ligação desse conteúdo com situações reais que os alunos conhecem e presenciam para as quais provavelmente eles não dispõem de conhecimentos suficientes para interpretar total ou corretamente... Neste primeiro momento, caracterizado pela compreensão e apreensão da posição dos alunos frente ao assunto, é desejável que a postura do professor seja mais de questionar e lançar dúvidas do que de responder e fornecer explicações. (DELIZOICOV E ANGOTTI. 1994. pp. 54-55).

2.2 Intervenção Pedagógica – Organização do Conhecimento

O segundo momento pedagógico, Organização do Conhecimento, teve início

com uma discussão coletiva da problemática droga na escola e na comunidade

escolar, com base nas respostas dos professores do questionário aplicado na

problematização, emitidas pelos participantes.

Em seguida promoveu-se uma discussão sobre o que são Drogas, sua

classificação e características dos usuários. Os professores e participantes foram

subdivididos em quatro grupos para a realização de estudos e organização da

apresentação sobre os principais tipos de drogas lícitas e ilícitas, bem como seus

efeitos e consequências. Cada grupo recebeu um material específico, composto por

textos, apostilas e cartilhas, tratando de um dos tipos das seguintes drogas: álcool,

tabaco, maconha e crack.

Em outro momento do curso, os grupos realizaram apresentações por meio

de slides, cartazes ou dramatizações em forma de peça teatral, após estudos e

produções escritas sobre cada tipo de droga.

No quarto encontro do curso foram discutidos outros tipos de drogas ilícitas

e os motivos que levam ao uso das drogas e, também, suas consequências. Estas

discussões foram mediadas pela apresentação do filme: – Eu, Christiane F., 13

anos, drogada e prostituta, produzido em 1981, sob a direção de Uli Edel. Neste

mesmo dia foi realizada uma palestra com uma profissional de enfermagem do posto

de saúde de Campina da Lagoa sobre as consequências das drogas para o

organismo.

A primeira parte do quinto encontro, realizada no período da manhã, esteve

voltada para discussão em plenária sobre o consumo de drogas no contexto

mundial, brasileiro e na comunidade escolar, seguida de depoimento da mãe de uma

usuária de drogas, com a finalidade de promover a sensibilização dos participantes

acerca dos problemas que as drogas ocasionam para as famílias.

Na segunda parte do quinto encontro, cada grupo de participantes

elaboraram propostas de atividades para serem desenvolvidas em cada disciplina do

7º, 8º, e 9º ano do Ensino Fundamental, bem como reflexões sobre a inserção das

propostas no Projeto Político Pedagógico do Colégio. Solicitou-se para que as

propostas de trabalho contemplassem atividades que pudessem articular a temática

“Droga” aos conteúdos das disciplinas.

2.3 Intervenção Pedagógica – Aplicação do Conhecimento

No sexto encontro da implementação pedagógica, discutimos sobre o papel

que cada professor ou pedagogo desempenha dentro do ambiente escolar e na sala

de aula. A formação concede aos mesmos ser mediador entre o conhecimento

científico e o conhecimento cotidiano do educando, bem como a função de

organizador dos conteúdos programáticos que serão estudados por meio de

contextos da realidade. O professor precisa dispor de conhecimentos e habilidades

pedagógicas, que podem ser adquiridas e aperfeiçoadas mediante diferentes

recursos e metodologias. Tais conhecimentos e habilidades podem ser acentuados

como requisitos técnicos, em que o professor seja capaz de instituir relações entre o

que ocorre em sala de aula com processos e mecanismos mais amplos. Além disso,

a eficiência na ação docente requer planejamento, por meio do qual o docente seja

capaz de prever as ações necessárias para que o ensino a ser ministrado atinja os

seus objetivos, o que exige preparação para articular teria e prática. Nessas

perspectivas, acredita-se que é possível democratizar os conhecimentos e

desenvolver novas ferramentas para que os profissionais da educação sejam

capacitados para o atual contexto. Para alcançar êxito na educação torna-se

fundamental entender que “a teoria e a prática são duas faces que se

complementam”, como ressalta Toniazzo (2014, p.73). .

Os professores e pedagogos deram início a um diálogo entre os

conhecimentos adquiridos em relação às drogas, os conteúdos específicos de sua

área e da proposta pedagógica da escola, para que durante a trajetória de sua

intervenção pedagógica, oportunizassem uma atividade contemplando a

problemática do “uso de drogas”.

Com este intuito, os professores da disciplina de Português organizaram o

ensino por meio de leituras e interpretações de textos, produção de redações;

contemplando o tema “Drogas”. A realização de cálculos e dados estatísticos sobre

a porcentagem de usuários e gastos financeiros de cada usuário com drogas, como

por exemplo com o consumo de cigarros, foram as atividades propostas pelos

professores de Matemática. Na disciplina de História foi planejado pelos professores

trabalhar com o enfoque na própria história das drogas, na história de pessoas

famosas que esteve envolvida com drogas, como músicos, jogadores de futebol,

nadadores, etc.. A professora da disciplina de Artes relatou que poderia aproveitar o

componente cultural em relação à temática, trabalhando com imagens que

identificam os usuários de drogas. Já o professor de Geografia planejou realizar

atividades sobre as regiões que cultivam as drogas e países que liberam certos tipos

de drogas. Na disciplina de Ciências foi proposto pelas professoras um trabalho

interdisciplinar, coletando dados sobre os tipos de drogas, efeitos no organismo, na

sociedade e na família. Os professores de Educação Física planejaram a realização

de atividades lúdicas e competitivas, com o tema “Diga não às drogas e sim aos

esportes”, com o objetivo de despertar o interesse dos alunos pelo esporte.

Ao contextualizar o conteúdo de suas disciplinas com o uso indevido de

drogas, possibilitando a construção de conhecimentos científicos sobre o tema, o

professor pode tornar-se um modelo de referência para os alunos, adquirindo

respeito e confiança de todos ao demonstrar profissionalismo, cidadania,

preocupação em orientar os escolares para que possam discernir sobre o certo e o

errado.

A equipe pedagógica do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont EFMP, que

também participou do curso, organizou o desenvolvimento de atividades extraclasse

para a prevenção às drogas por meio da elaboração e divulgação de diferentes

materiais preventivos.

Diante do exposto, Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2009, p.34) alertam

para o fato de que o trabalho docente precisa ser direcionado para a apropriação

crítica pelos alunos, “de modo que efetivamente se incorpore no universo das

representações sociais e se constitua como cultura”.

Seguindo a abordagem acima citada por Delizoicov, Angotti e Pernambuco

(2009) os professores e equipe pedagógica foram convidados a atuarem na

prevenção e abuso de drogas no âmbito escolar e, com isso, tornar os alunos

críticos e reflexivos mediante suas ações, considerando seu contexto social e

cultural. Nessa perspectiva, as atividades organizadas pelos professores e equipe

pedagógica, durante o curso, para a prevenção às drogas foram desenvolvidas

durante todo o ano de 2014, além de serem incorporadas no projeto político

pedagógico da escola, como um projeto interdisciplinar.

Para Freire (2005), o professor que considera que já possui conhecimento

suficiente para desenvolver sua prática docente, é um profissional parado no tempo,

é ingênuo em pensar que a formação não trará novos conhecimentos.

A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea, “desarma”, indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber de experiência feito, a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito (FREIRE, 2005, p.38).

Este discurso de Freire em relação à formação do professor, exige uma

reflexão sobre a importância da formação continuada, proporcionando

conhecimentos e metodologias atuais e diferenciadas, uma vez que “ensinar exige

reflexão crítica sobre a prática” (FREIRE, 2005, p. 38).

III. Considerações Finais

Na proposta de uma prevenção participativa, efetiva e responsável do uso de

drogas pelos alunos do Colégio Estadual Alberto Santos Dumont, bem como a

redução de riscos e danos dos mesmos, foi proposto um trabalho coletivo

interdisciplinar, que envolveu a participação de professores de todas as áreas e da

equipe pedagógica desse estabelecimento de ensino. Os professores e equipe

pedagógica observaram que, mesmo em ambientes destinados à educação e à

promoção do homem enquanto cidadão livre, mas responsável pela sua saúde física

e mental, encontra-se adolescentes usuários de drogas, influenciados por uma

cultura tradicionalmente voltada para o mundo das drogas. Na intenção de reduzir os

riscos e danos enfrentados por esses alunos, os professores e equipe pedagógica

propuseram um trabalho de prevenção ao uso de drogas no ambiente escolar e

comunidade. Na organização das atividades, os professores e pedagogos buscaram

não direcionar ações autoritárias nos comportamentos dos alunos, mas auxiliá-los

no desenvolvimento de capacidades de decisão para que possam fazer escolhas

que favoreçam o exercício da liberdade com responsabilidade, assim. Albertani

(2013, p.10) argumenta que “a questão das drogas é multidisciplinar e envolve

ações de prevenção, tratamento, inserção social, redução de danos, estudos

científicos, pesquisas, repressão ao tráfico”, sendo que o papel da educação diz

respeito à prevenção ao uso indevido (ALBERTANI, 2013, p.11). É nessa

perspectiva de prevenção que foram desenvolvidas as ações durante o ano de 2014,

de modo a possibilitar uma redução na vulnerabilidade de cada aluno ao uso

indevido de drogas

Considerando as abordagens teóricas e práticas na trajetória deste trabalho,

nosso papel como mediador do processo consistiu em envolver e dar voz a todos os

professores do Ensino Fundamental e Equipe Pedagógica do Colégio Estadual

Alberto Santos Dumont E. F. M. P. de Campina da Lagoa – Estado do Paraná como

protagonistas das ações relacionadas à temática “Drogas” com finalidade à

prevenção participativa da comunidade escolar.

Consciente de nosso papel na articulação desta temática foi possível

promover e facilitar conceitos e conhecimentos para serem integrados aos

conteúdos específicos de cada disciplina do Ensino Fundamental, num processo de

orientação pelo princípio da responsabilidade compartilhada. Assim, foi possível

adotar estratégias como a cooperação mútua e a articulação de esforços entre

professores, alunos e equipe pedagógica, no sentido de possibilitar a formação da

consciência para evitar e/ou amenizar o uso de drogas, reduzindo os riscos à saúde,

os problemas familiares e sociais.

Nesse contexto, descentralizar e democratizar os estudos, discussões e

reflexões acerca do tema abordado foram as metas principais desse processo, no

qual, muito mais que a participação dos professores e equipe pedagógica do

Colégio, a participação dos alunos foi fator determinante para o sucesso das ações

aplicadas. Com isso, é possível esclarecer que os resultados foram satisfatórios e de

grande êxito no processo pedagógico e educativo, configurando-se, porém, em uma

iniciativa que necessita ser prosseguida para garantir o diálogo entre o ideal e a

realidade sobre o mundo das “drogas”. Torna-se necessária a participação de toda a

comunidade escolar para eliminar e/ou abolir preconceitos e rótulos discriminatórios

e avançar na promoção da saúde, do respeito aos direitos humanos e da inclusão

sócial.

.

IV. REFERÊNCIAS:

ALBERTANI, H.M.B. O professor e a prevenção do uso de drogas: Em busca de caminhos. In MENDONÇA, R.H Prevenção ao uso de Drogas: a escola na rede de cuidado. Salto para o Futuro, Boletem 23, Novembro de 2013. AULER, D.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científico-tecnológica para quê? Ensaio-Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n. 1, jun./2001. BARRETO, M. O. Teoria e prática de uma educação integral. 1. ed. Salvador: Sathyarte, 2006. BARROS, J. de. Filmes e educação. Disponível em: <http://educador.brasilescola.com/orientacoes/filmes-educacao.htm> Acesso em 12 nov. 2014. BERNARDY, C.C.F.; OLIVEIRA, M.L.F. O papel das relações familiares na iniciação ao uso de drogas de abuso por jovens institucionalizados. In: Revista Esc Enferm USP, 44(1): 11-7. www.ee.usp.br/reeusp/ BRASIL. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Drogas: cartilha para educadores. Conteúdo e texto original de Beatriz H. Carlini. 2. ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. ______. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas. Secretaria de Educação Básica. Prevenção do Uso de Drogas. 5. ed. Brasília: SENAD/SEB, 2012. CARLINI, E. A. et al. Drogas psicotrópicas: o que são e como agem. In: Revista IMESC, n. 3, v. 1, p.09-35. São Paulo: 2001. DALBOSCO, C. As situações-problema relacionadas ao uso de álcool e outras drogas presentes na escola. In MENDONÇA, R.H Prevenção ao uso de Drogas: a escola na rede de cuidado. Salto para o Futuro, Boletem 23, Novembro de 2013. DELIZOICOV, D. Concepção problematizadora do ensino de ciências na educação formal. Dissertação de mestrado. São Paulo: IFUSP/FEUSP, 1982. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. Metodologia do ensino de ciências. São Paulo: Cortez, 1994. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2009. DIMARCH, B. F. A linguagem do documentário na sala de aula: caminhos para conhecer, ver e produzir na escola. (2012). Disponível em: <http://cmais.com.br/educacao/educacao-em-foco/aprenda-com-cmais/a-linguagem-do-documentario-na-sala-de-aula> Acesso em 12 nov. 2014.

DUARTE, P. C. A. V. Política Nacional Sobre Drogas. Brasília, 2010. 132 p.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 50ª ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2005.

LEGISLAÇÃO e Políticas Públicas sobre Drogas. Brasília: Presidência da República, Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2008. MARQUES, A. C. P. R.; CRUZ, M. S. O adolescente e o uso de drogas. In: Revista Brasileira de Psiquiatria, n. 22, p.32-36. São Paulo: UDED, Unifesp, 2000. MESSAS, G. Álcool e drogas: uma visão fenômeno-estrutural. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006. PARANÁ. Diretrizes curriculares da educação básica: ciências. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Paraná: 2008. PECHANSKY, F. SZOBOT, C. M.; SCIVOLETTO, S. Uso de álcool entre adolescentes: conceitos, características epidemiológicas e fatores etiopatogênicos. Revista Brasileira de Psiquiatria, n. 26, supl. I pp. 14-17, 2004. PINSKY, L; BESSA, M. A. Adolescência e drogas. São Paulo: Contexto, 2004. ROEHRS, H.; LENARDT, M.H.; MAFTUM, M.A. Práticas culturais familiares e o uso de drogas psicoativas pelos adolescentes: Reflexão teórica. Esc Anna Ver Enferm, junho 2008, v 12, n 2, pp. 353-357, 2008. SANCHEZ, Z.V.M.; OLIVEIRA, L.G.; NAPPO, S.A. Fatores protetores de adolescentes contra o uso de drogas com ênfase na religiosidade. Ciências e Saúde Coletiva, nº 9, v1, pp. 43-55, 2004. SCHENKER, M.; MINAYO, M.C.S. Fatores de risco e de proteção para o uso de drogas na adolescência. Ciência & Saúde Coletiva, n. 10, v. 03, pp. 707-717, 2005. TONIAZZO, N. de A. Didática: a teoria e a prática na educação, 2014. Disponível em: <http://www.famper.com.br/download/pdf/neoremi_06.pdf> Acesso em 12 nov. 2014. VIECHENESKI, J. P.; LORENZETTI, L.; CARLETTO, M. R. Desafios e práticas para o ensino de ciências e alfabetização científica nos anos iniciais do ensino fundamental. Atos de Pesquisa em Educação. PPGE/ME. v. 7, n. 3, p.853-876, set./dez. 2012.