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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
1
REPRESENTAÇÕES DO CORPO HUMANO E DA SEXUALIDADE: AS
ILUSTRAÇÕES DA PRÉ-HISTÓRIA AO LIVRO DIDÁTICO
Josiaine Cabeleira Miniello (PDE)
Fabiana Aparecida de Carvalho (Orientadora-Uem)
Resumo O presente trabalho desenvolveu uma intervenção participativa discutindo sexualidade através da problematização de imagens, desenhos, ilustrações e representações de diversos contextos históricos. Pretendeu-se ir além das representações dos livros didáticos, discutindo a necessidade de uma ação educativa e contextualizadora nas leituras e discussões das imagens e das representações e significados sobre o corpo, a genitalidade, a sexualidade, a prevenção, a contracepção e sobre os papéis de gênero. A intervenção didática foi desenvolvida junto a alunos da 3ª série do Ensino Médio, período matutino, do Colégio Estadual Vercindes Gerotto dos Reis, no município de Paiçandu, região noroeste do estado do Paraná, no segundo semestre letivo de 2015. A sequência didática, perante a maioria dos estudantes, se configurou num instrumento que promoveu a discussão em grupo, um maior interesse pela prática da pesquisa e leitura imagética, o desenvolvimento da escrita, da comunicação oral e principalmente, da confiança dos estudantes na discussão da sexualidade e corpo. Palavras-chave: Sexualidade; Ensino de Ciências e Biologia; Ilustrações; Corporalidade.
INTRODUÇÃO
Desde o principio das civilizações humana, as imagens já se faziam presentes
como uma forma de comunicação, de transmissão de conhecimentos, de
representações dos corpos, de representação dos hábitos e de manifestações das
emoções.
Na Era Paleolítica, as pinturas rupestres (desenhos gravados em rochas) além de perseguirem objetivos mágicos, representavam os animais existentes e as ações humanas (corpos disfarçados em animais nos rituais e figuras evidenciando os órgãos genitais e a cópula), com o intuito de não apenas indicar, imitar, simular, mas também de substituir as imagens reais (SOUZA, 1998, p.12).
Portanto, no decorrer da história da humanidade as imagens auxiliaram no
entendimento da realidade, na sobrevivência da espécie e no aprimoramento de
técnicas, contribuindo na constituição de um mundo e para o entendimento da
humanidade. Nesse sentido, Fusari e Ferraz (1988) argumentam que a Arte pode
ser compreendida como produção, trabalho e construção de conhecimentos, como
representação e interpretação do mundo, como expressão de sentimentos e como
movimento na dialética da relação homem-mundo.
2
Gombrich (2008) explica que na atualidade as imagens fazem parte do
cotidiano da maioria das pessoas, especialmente nos centros urbanos onde uma
diversidade de informações é veiculada pelos meios televisivos, jornalístico,
cinematográfico, digital, dentre outros, defendendo que os indivíduos devem ser
preparados para a realização de leitura das informações contidas nessas imagens.
Em se tratando do ambiente de ensino, Santos (2010) explica que as imagens
podem apresentar oito características distintas: motivação (apresentam a
capacidade de chamar a atenção, cortar a monotonia de um texto escrito e despertar
interesse no aluno), vicarial (pode substituir algo que não pode ser representado
dentro do recinto escolar, suprindo muitas vezes a palavra), catalisadora (pode
provocar uma experiência didática, dado o seu poder de reorganização do real),
informativa (ocupar o primeiro no discurso didático, tendo a palavra a função de
transcodificação da mensagem icônica), explicativa (explicar graficamente um
processo, uma relação, uma sequência temporal mediante a manipulação de
diversos códigos sobrepostos numa mesma imagem), facilitadora redundante
(capacidade de ilustrar o conteúdo claramente manifestado no texto), estética
(equilibrar o texto, dar cor à composição, romper a monotonia da página) e
comprovadora (verificar uma idéia, processo ou operação apresentada).
Desse modo, as imagens acabam por desempenhar um importante papel na
visualização daquilo que se pretende explicar. Entretanto, quando se fala de corpo e
sexualidade as ilustrações ficam restritas às visões anatômicas do livro Didático. A
este respeito Jiménez et al. (1997) argumentam que cerca de dois terços das
imagens presentes em livros didáticos são imprescindíveis para explicação de
conceitos científicos. Embora nem todos os conceitos se estabeleçam a partir da sua
própria representação teórica, a compreensão de conceitos e fenômenos pode ser,
em muitos casos, potencializada pelos aspectos atribuídos às imagens e às idéias
que estas podem comunicar.
No entanto, a compreensão das imagens não é imediata, e seu uso no
contexto pedagógico da sala de aula exige que o professor colabore para que o
aluno seja capaz de perceber, entre outros aspectos, os elementos constitutivos da
imagem em questão e as informações explicitas e implícitas na mensagem.
Visto que as imagens são importantes testemunhos históricos dos hábitos e
comportamentos humanos, a presente investigação objetivou construir uma
intervenção onde alunos e alunas pudessem lidar com as representações e
3
significados sobre o corpo, genitalidade, sexualidade, contracepção e DST,
discutindo criticamente ilustrações de diversas épocas e as ilustrações anatômicas
científicas.O objetivo do projeto, portanto, foi discutir com os/as discentes os
diferentes modos de viver a sexualidade e entender os processos sociais e
históricos que influenciaram/influenciam entendimentos sobre os nossos corpos e
nossos modos de ser.
Pressupostos Teóricos
É consenso no meio educacional que o currículo escolar não deve estar
desvinculado da realidade dos alunos, tendo em vista que uma das funções da
escola é a preparação para vida cidadã, conforme preconizado pelos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 2002). No contexto desta discussão,
entende-se que as questões relativas ao corpo, gênero, sexualidade e papéis sociais
devem ser temáticas discutidas também em sala de aula, levando em consideração
uma abordagem plural, transversal e interdisciplinar.
Contudo, sabemos que, frequentemente essa abordagem pode ocorrer num
enfoque meramente biológico, com descrição da anatomia e da fisiologia do próprio
corpo, sem espaço para interações discursivas e levantamento de crenças e mitos
em relação ao corpo e à sexualidade.
Assim, como indicam inúmeras experiências pedagógicas, a abordagem da sexualidade no âmbito da escola precisa ser explícita, para que seja tratada de forma simples e direta; ampla, para não reduzir sua complexidade; flexível, para permitir o atendimento a conteúdos e situações diversas e sistemáticas, para possibilitar uma aprendizagem (BRASIL, 2002, p.87).
Nesse sentido, os PCN aparecem imbuídos da intenção de desenvolver a
cidadania e superar a prática de um conhecimento acadêmico distante da realidade
histórica e social, que não possibilita o nascimento do interesse pelo estudo, num
mundo que possui tantos atrativos e formas de obter informações mais agradáveis e
interessantes do que as utilizadas até então.
Visto que o universo dos adolescentes é repleto de mudanças, isto é, cheio
de descobertas, paixões, curiosidades e dúvidas. É uma fase que merece a
atenção. Nesse sentido, a escola pensada pelos PCN, em tese, seria uma escola
cidadã, que prevê uma prática educativa adequada às necessidades sociais,
4
políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira. Esse compromisso com a
construção da cidadania pede necessariamente uma prática educacional voltada
para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em
relação à vida pessoal e coletiva
A sexualidade envolve pessoas e, conseqüentemente, sentimentos, precisam ser percebidos e respeitados. Envolve também crenças e valores, ocorre em um determinado contexto sociocultural e histórico, que tem papel determinante nos comportamentos. Nada disso pode ser ignorado quando se debate a sexualidade com os jovens. O papel de problematizador e orientador do debate, que cabe ao educador, é essencial para que os adolescentes aprendam a refletir e tomar decisões coerentes com seus valores, no que diz respeito à sua própria sexualidade, ao outro e ao coletivo, conscientes de sua inserção em uma que sociedade que incorpora a diversidade (BRASIL, 1998, p.304)
Silva e Megid Neto (2006) enfatizam que expressões de preconceito,
homofobia, desinformação ou desigualdade nas relações de gênero fazem com que
a experiência da sexualidade possa converter-se em situações de risco à saúde dos
adolescentes, daí a importância de adoção por parte das escolas de um conjunto de
medidas de informação e promoção da saúde, bem como formas de intervenção que
superem a fragmentação da questão e o componente moral do debate. Dentre essas
medidas ressaltamos a relevância da análise criteriosa das informações (textuais e
ilustrativas) existentes no livro didático, em função deste recurso ainda se configurar
numa base conceitual e metodológica para considerável número de professores.
Compreendendo a sexualidade como uma “dimensão ontológica
essencialmente humana, cujas significações e vivências são determinadas pela
natureza, pela subjetividade de cada ser humano e, sobretudo, pela cultura, num
processo histórico e dialético” (FIGUEIRÓ, 2001, p. 39), o gênero como “um
elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre
os sexos” e como “uma forma primária de dar significação às relações de poder”
(SCOTT, 1990, p. 86), o corpo, como uma superfície, um cenário de inscrição
cultural dos acontecimentos (FOUCAULT, 2014), elevando em consideração a
atração dos jovens por ilustrações, fotografias e qualquer forma de representação
não-verbal, a presente investigação se direcionou a problematização, discussão e
reflexão acerca da sexualidade humana junto a estudantes de uma turma de
primeiro ano do Ensino Médio.
5
Silva (2004) argumenta que o uso de imagens se constitui como parte
fundamental das práticas de ensino. Atualmente o livro didático, possui muitas
imagens, que além de ilustra, ajudam na compreensão do conteúdo. Portanto, as
ilustrações que acompanham as páginas de um livro didático, tais como: fotos,
pinturas, desenhos, acabam não sendo utilizadas pelos professores e os alunos não
desenvolvem a leitura dessas imagens, deixando de discutir e re-elaborar os
significados que elas apresentam.
Todavia, pesquisas como as de Cassiano (2002), Silva (2004), Martins
(1997), Amador e Carneiro (1999), entre outras, mostram que o professor encontra
dificuldades perante a realização da leitura de imagens em sala de aula. Um dos
motivos seria a qualidade e a significância imagem-texto desse material. Assim,
perante o entendimento da importância dos meios pelo quais as temáticas
relacionadas à sexualidade são abordadas nos livros didáticos e trabalhadas pelos
professores na escola e tendo em vista a dimensão ideológica que pode estar
implícita nesse recurso pedagógico, a intenção de análise imagens, existentes
inclusive nos livros didáticos, surge ao entender que “a escola se constitui num
espaço ambíguo, presa ao estado e onde também se cristalizam e podem tomar
corpo o saber resistente dos novos padrões e valores” (NUNES, 1987, p. 21).
Nesse contexto, visto que também compete à instituição escolar, a
preparação dos alunos para a compreensão da gramática visual da imagem, propôs-
se um trabalho direcionado a leitura das imagens existentes nesses livros, como,
também, a leitura de imagens históricas, levando em consideração os
entendimentos e as questões referentes ao corpo humano e sexualidade.
Desse modo, a pesquisa visou discutir a sexualidade e os conteúdos sobre
corpo indo além das explicações contidas nos textos didáticos, explorando, nas
discussões, ilustrações e representações biológicas e produzidas na cultura, de
modo a possibilitar o entendimento que a sexualidade envolve nossa história,
cultura, relações pessoais, costume, pois aprendemos desde que nascemos até
morrermos.
Estratégias de ação
O presente estudo configurou-se como uma pesquisa de caráter qualitativo,
caracterizando-se como uma intervenção participante direcionada à construção de
6
uma discussão problematizadora com alunos de biologia do ensino médio sobre
corpo e sobre sexualidade.
Primeiramente, realizou-se revisões bibliográficas e levantamentos que
permitiram uma investigação mais teórica sobre o assunto. Em seguida, foram
levantadas imagens, ilustrações e representações diversas em livros de arte, em
sites de antropologia e ciências sociais, em artigos e publicações que discutem a
temática e trazem discussões sobre a evolução dos entendimentos do corpo da pré-
história até a contemporaneidade.
Dessa forma foi realizado um levantamento de ilustrações de diferentes
épocas encontrados em sites de arte e no Google (imagens de domínio público),
construindo-se relações e explicações sobre como o corpo foi visto em cada
contexto histórico. Dentro de cada período, foram enfatizados os entendimentos
sobre a sexualidade, o corpo, as tecnologias sobre o corpo (contraceptivos e
prevenções), dentre outros, procurando-se levantar os aspectos históricos,
biológicos e ideológicos.
A sequência de ensino foi organizada em cinco módulos, sendo eles: pré
história, antiguidade clássica, idade média, idade moderna no ocidente e idade
contemporânea.
No primeiro módulo (Pré História) os estudantes receberam um texto de apoio
denominado “Pré História (período: + de 5 milhões a.C. – 3200 a.C.)” elaborado pela
professora. O texto caracterizou-se como uma síntese dos hábitos e modo de vida
dos grupos humanos na Pré História, sendo solicitado que os estudantes
realizassem a leitura em grupo, elencando os termos desconhecidos e as
abordagens relevantes a uma discussão com os colegas da turma. Os alunos
questionavam sobre o comportamento instintivo e selvagem sobre o sexo,
alimentação, como sobreviviam, suas moradias. Outro ponto importante de destaque
em suas perguntas era de como o ser humano não consegue viver sozinho é precisa
e necessita da vivencia em grupo retratados no filme e a relação com o corpo. Após
a discussão dos termos desconhecidos e principais ideias do texto, na sala de
vídeos, os estudantes assistiram ao filme “Guerra de fogo1 com reflexão e discussão
direcionada aos grupos, as vivências instintivas da sexualidade, as organizações
sociais, a moradia, o tipo de relação predominante entre os grupos retratados no
1 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6A7okxazNRw&list=PL222E27B978B352DA
7
filme e as condutas humanas com o corpo, realizando em seguida, uma sinopse
sobre o filme e a evolução das regras e comportamentos acerca da sexualidade.
Como atividade final do primeiro módulo foi solicitada a análise e discussão de
imagens que evidenciavam como corpo era representado em imagens, desenhos e
esculturas pré-históricas.
Nesta atividade, a professora incentivou a discussão e busca, via mídia
digital, de outras imagens que representassem manifestações registradas dos
homens e mulheres na Pré-História.
No segundo módulo (Antiguidade Clássica - Egito, Grécia e Roma) a
produção didática esteve direcionada à análise das vivências da sexualidade e do
corpo humano nas civilizações do Egito, Grécia e Roma, com ênfase no contexto
histórico, regras, condutas e dinâmicas do comportamento humano sobre a
sexualidade. Com intuito de promoção da discussão sobre as relações e os
preceitos de corpo e sexualidade entre os humanos e as divindades cultuadas no
Antigo Egito, os estudantes receberam um texto de apoio denominado “Sexualidade
no Egito (período: 3200 a.C. – 1000 a.C.)”.
A mobilização ocorreu via exposição oral e exploratória, através do
conhecimento histórico da civilização do Egito (texto de apoio) e pesquisa (em
ambiente online) sobre a história e a simbologia dos deuses e deusas Egípcios.
Deste modo, foi solicitado que em casa, os alunos pesquisassem a história e
algumas imagens de deuses e deusas egípcios, bem como, práticas a eles e elas
associadas. . Em seguida, solicitou-se a releitura de imagens e desenhos Egípcios,
onde os alunos ressaltavam que nunca ouviram que as imagens dos deuses
egípcios tinha uma correlação com o comportamento humano. Em seguida,
solicitou-se a releitura de imagens e desenhos Egípcios. Para tanto, inicialmente os
estudantes assistiram ao documentário sobre o Papiro Erótico de Turim, produzido
pela Discovery Chanel2, onde são apresentadas algumas práticas sexuais e
corporais exercidas no Egito Antigo.
Após reflexão e discussão os estudantes realizaram a leitura e releitura de
imagens presentes no livro didático e internet (Figura 4 - Anexos), discutindo a
necessidade de representação das funções vitais e sociais dos corpos por meio de
imagens. Para abordagem da História da Sexualidade Grega os estudantes também
2 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=GE7hg2kalr4)
8
receberam um texto de apoio denominado “Sexualidade na Grécia”, direcionado a
apresentação de algumas expressões do comportamento humano relacionada à
sexualidade vivida na Grécia Antiga. Por meio de imagens foram abordados os
aspectos históricos gregos que incidiram sobre a sexualidade, tais como:
hierarquias, regras, preceitos e religião. Os alunos através da leitura das imagens
questionavam sobre as regras para a introdução do jovem na sexualidade. Alguns
deles ficavam intrigados de como eles abordavam este assunto. Em seguida, foi
solicitada uma produção de texto na qual o aluno deveria expor suas ideias e discutir
a concepção grega sobre corpo, sexualidade e sexo. Para tanto, na sala de
informática e em dupla, os alunos foram orientados a pesquisar imagens da
antiguidade grega (esculturas, pinturas, desenhos, jarras, etc) que retratassem o
corpo e a sexualidade neste período.
Com objetivo de discutir o que é um ser humano intersexo foi exibido um
vídeo sobre a escultura Hermafrodita exposta no museu de Louvre3, sendo solicitada
uma pesquisa sobre o termo intersexo e sobre a história do hermafrodita na Grécia.
O debate final direcionou-se ao mito e como os intersexos são vistos na sociedade
hoje. Para finalização do segundo módulo foi abordado o amor, religião e
sexualidade no mundo Romano, via texto de apoio e imagens. Foi realizada uma
mobilização oral e exploratória dos conhecimentos prévios dos alunos acerca do
tema apresentado, realizando-se um comparativo com os aspectos históricos das
heranças herdadas dos gregos. Posteriormente solicitou-se uma produção textual
comparando-se as duas civilizações e as vivências da sexualidade nelas. Com o
objetivo de possibilitar a comparação das diferentes regras sobre a sexualidade
humana no mundo ocidental (em especial Roma, Grécia e Egito) com as regras do
mundo oriental, os estudantes assistiram ao documentário a “História do sexo”4
contendo elementos da vivência da sexualidade no mundo antigo oriental e
ocidental.
Foram apresentados e discutidos trechos referentes às relações de gênero e
sexo na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia e em Roma. Ao final, foi realizado um
debate comparativo com a história antiga desses dois mundos e sobre a vivência da
sexualidade.
3 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cbp7ZJ89JWg
4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5oyI3AXlO70
9
No terceiro módulo (Idade Média) a produção didática esteve direcionada à
discussão e apresentação dos processos sociais e históricos construídos na Idade
Média que criaram discursos e representações sobre o corpo e a sexualidade. A
intervenção se desenvolveu a partir de uma mobilização e exposição oral e
exploratória com o conhecimento prévio dos alunos, ressaltando-se, via texto de
apoio Sexualidade na Idade Medieval - período: séc.V – séc. XV, os principais
conceitos da Idade Média, relatos sobre como funcionava a sexualidade e o corpo
neste período, com ênfase a questão da higiene. Os levantamentos realizados com
os alunos durante este momento foram muito interessantes, pois eles não tinham o
verdadeiro conhecimento de como funcionava o sistema do período, então, os
questionamentos surgiam no decorrer das atividades.
Posteriormente, em grupos de três alunos, os estudantes foram orientados a
escolherem imagens para pesquisa, discussão e apresentação de hábitos com o
corpo e sexualidade no contexto histórico da Idade Média e doenças que surgiram
na Idade Média, ocasionadas pela falta de higiene. Como última atividade do módulo
objetivou-se trabalhar a percepção sobre como eram os costumes, a higiene e as
maneiras de se vestir o corpo no Período Medieval. Para tanto, foi solicitado que os
estudantes utilizassem materiais diversos para a confecção de bonecos como: cola,
tesoura, revistas e cartolina. Os estudantes foram organizados em grupos de quatro
pessoas e cada grupo ficou responsável por confeccionar os bonecos com
vestimentas o mais próximo possível das usadas no Período Medieval. No segundo
momento, quando os bonecos já estavam prontos, os grupos compartilharam as
suas produções e elaboraram uma história, dando vida aos bonecos, a partir do
conhecimento do contexto histórico Medieval. Cada grupo também compartilhou a
história construída, que foi reformulada pelos demais grupos.
No quarto módulo (Idade Moderna no Ocidente), a da produção didática teve
por objetivo conhecer o corpo e a sexualidade como fenômeno complexo na história,
visando comparar obras do Renascimento com outros períodos da história da arte.
Primeiramente, a professora questionou os estudantes em relação aos artistas e
cientistas da época do Renascimento europeu que eles conheciam, sendo
organizada no quadro uma lista dos nomes citados, colocando-os em duas colunas:
artistas e cientistas. Para o bom desenvolvimento da atividade, a professora solicitou
com antecedência uma pesquisa relacionada aos nomes ligados ao Renascimento
europeu e suas contribuições no campo das artes e das ciências e a leitura do texto
10
de apoio “A sexualidade no tempo do renascimento (período: séc.XIV – séc.XVI)”, de
modo a viabilizar a citação dos nomes e a discussão em sala de aula. Em seguida,
realizou-se uma leitura da imagem de Leonardo “Homem Vitruviano”, questionando-
se em relação ao corpo e a importância do conhecimento científico na construção de
valores morais, ético e estético. Como próxima atividade do módulo foi realizada
uma visita virtual a “Capela Sistina”, direcionando-se o olhar às imagens que
retratam relações, hábitos e curiosidades sobre o corpo humano.
Assim, via sala de informática do colégio, a professora apresentou o
endereço eletrônico para a visita5 e orientações para a leitura e registro das
imagens. Na aula seguinte, direcionada a história da sexualidade nos séculos XVI,
XVII e XVIII, os estudantes receberam o texto de apoio intitulado “História da
sexualidade dos séc. XVI, XVII e XVII” e diversas imagens e representações (Figura
10 - Anexos), solicitando-se que, via leitura das imagens, realizassem o
levantamento das características de cada época, procurando descrever os cuidados
para com o corpo e as vivências da sexualidade, contextualizando-se as regras
culturais de cada época e localidade. Para finalização do módulo, na sala de vídeo,
os alunos assistiram a um documentário sobre história de Madame Gourdain6 sobre
o corpo, formas de higiene e a sexualidade no século XVIII, realizando-se uma
análise comparativa com as outras épocas históricas já abordadas.
No último módulo (Idade Contemporânea - século XIX, XX e XXI)a
produção didática esteve direcionada ao estudo do contexto histórico dos últimos
três séculos, com ênfase na autonomia e responsabilidade dos jovens para a
saúde do próprio corpo e de sua sexualidade. Os estudantes tiveram acesso a três
textos de apoio (texto 01: História do corpo e da sexualidade do século XIX; texto
02: Revolução do século XX e primeira década do século XXI; texto 03: Visão do
corpo na sociedade contemporânea). A professora solicitou que os estudantes
criassem uma página social (Facebook) onde pudessem postar informações
obtidas através de pesquisas e imagens. Na página, foram fomentadas discussões
de como foi sendo configurada a sexualidade na sociedade contemporânea
(séculos XIX, XX e XXI).
A partir da utilização de imagens, os alunos também foram instigados a
levantar obras de arte relacionadas à representação do corpo e sexualidade na
5 Disponível em: http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html
6 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wT70-XxmVA
11
contemporaneidade, elencando e discutindo as transformações das regras, hábitos e
condutas em relação ao corpo humano, à sexualidade, aos movimentos de
diversidade sexual, etc. Com base nessas informações foi solicitado que os
estudantes elaborassem textos explicativos, relacionando o período histórico com
dúvidas, inquietações, argumentos e sugestões (sociais e pessoais), buscando-se
assim, uma formação direcionada ao respeito, autonomia, solidariedade e
convivência social, frente a liberdade, escolha sexual e construção social das
representações de padrões de beleza.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Inicialmente, percebeu-se a insegurança por parte de alguns alunos, que
ficaram calados, apenas ouvindo as opiniões e argumentações dos colegas quanto
às imagens expostas e suas percepções e vivências referentes à sexualidade, mas,
longo em seguida, nos desdobramentos da unidade e da sequência didática,
começaram a participar com afinco das discussões, mostrando-se muito
interessados, curiosos e com muitas indagações relacionadas à liberdade de
escolha, legitimidade de práticas e valores sociais consagrados pela tradição e pelo
costume.
Após as análises das ilustrações, as discussões se direcionaram a questionar
às imagens existentes nos livros didáticos, destacando-se a construção de modelos
anatômicos e os padrões impostos sobre o que é ser masculino e/ou feminino. A
intenção foi oportunizar sempre ao aluno uma análise crítica da sociedade e suas
visões sobre o corpo, estimulando a autonomia e responsabilidade dos jovens,
favorecendo o conhecimento e a problematização sobre o tema.
Ao longo do processo, buscou-se possibilitar ao discente a construção de
habilidades, tais como: descrever, analisar, estabelecer relações e interpretar. Dessa
forma, além dos entendimentos, buscou-se favorecer aos alunos a expressarão de
sentimentos, o diálogo com obras, imagens e representações de distintas épocas,
de modo a favorecer o julgamento relacionado a sexualidade e corpo na sociedade.
Dessa forma, a leitura das imagens configurou-se como um recurso que
viabilizou interações discursivas relacionadas à construção de fatos e concepções
pessoais e sociais relacionados a sexualidade humana.
12
Ao realizarem as leituras de imagens de corpos, em diferentes períodos e
momentos históricos, os alunos evidenciaram uma diversidade de concepções e
definições dos corpos enquanto matéria biológica e de aspectos mais abrangentes
(o corpo numa dimensão histórica, emocional, espiritual, sentimental e relacional
com outros corpos, épocas e meios). Muitos estudantes também empregaram em
seus discursos concepções de corpo como máquina, instrumento ou veículo
destinado a locomoção, trabalho e à ação, bem como a preocupação com os
cuidados necessários às “peças dessa máquina” (órgãos e sistemas) para seu bom
funcionamento.
A percepção do corpo como unidade integradora e com outros corpos, com o
meio ambiente e consigo mesmo foi evidenciada com menor ênfase nos discurso
sorais e escritos dos estudantes, porém evidenciando a capacidade e possibilidade
de visualizarem o corpo em dimensões menos visíveis e palpáveis, como, por
exemplo, as emoções, a imposição da cultura midiática (corpo perfeito) e a
construção da noção de que a sexualidade não é algo feio, sujo e pornográfico.
A leitura das imagens ainda possibilitou discutir, via discurso e
questionamentos dos alunos, textos no facebook, a produção de uma peça teatral e
a sinopse do filme, a compreensão de que o corpo humano é um campo de múltiplas
dimensões, as percepções sobre si mesmos, sobre os outros, sobre identidades
socioculturais, valores éticos, preconceitos e igualdade entre as pessoas em seus
aspectos de gênero e sexualidade.
Nesse contexto, a discussão da sexualidade humana em âmbitos como
expectativas, imaginações, anseios, crenças, posturas, valores, atividades práticas,
convivências, história, costumes e relações afetivas possibilitou, por parte dos
estudantes, a articulação em sala de aula das reflexões e indagações sobre
aconstrução histórica dos gêneros, dos corpos, da identidade sexual, da orientação
sexual, do erotismo, do envolvimento emocional, da reprodução e do amor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O planejamento da intervenção didática, relacionada à sexualidade humana e
com o emprego de imagens diferenciadas das presentes nos livros didáticos,
permitiu a discussão de conhecimentos prévios, a promoção da interação entre
13
grupos de alunos, o entendimento de conceitos relacionados ao corpo e ao gênero
como uma construção histórica e social.
As convencionalidades do livro didático, ligadas à divulgação de um corpo
anatômico e meramente biológico, foram problematizadas e desconstruídas com a
apresentação das imagens e das histórias dos períodos da humanidade,
proporcionando uma discussão mais ampla da sexualidade na sala de aula e na
escola.
Participar do Programa de Desenvolvimento Educacional foi uma experiência
inigualável, que favoreceu a autonomia docente e o crescimento profissional com o
questionamento de se perguntar de como ensinar e o que ensinar no processo de
ensino e de aprendizagem na disciplina de biologia, expandindo as explicações
sobre corpo humano.
O cumprimento dessa intervenção indica caminhos e inspirações que poderão
se converter em sequências, material didático e suporte para a aprendizagem a ser
acionado por outros professores e a ajudar na inserção de novos olhares para o
corpo na escola, quer seja: um corpo posicionado historicamente, que ultrapasse as
fronteiras biologicistas da anatomia e da fisiologia humana e que seja mais próximos
dos corpos vividos pelos alunos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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15
ANEXOS
16
IMAGENS UTILIZADAS MÓDULO A MÓDULO
Módulo 1 – Pré História
Figura 1- Vênus de Willendorf
Fonte:http://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Venus_of_Willendorf_frontview_retouched_2.jpg
Figura 2- Pintura rupestre do Paleolítico Superior - Toca do Boqueirão da Pedra Furada no -
Parque da Capivara – PI Fonte:http://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Serra_da_Capivara__Several_Paintings_2b.jpg#mw-
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Figura 3 – Produção da Sinopse do Filme “Guerra do Fogo” por uma aluna
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Módulo 2 (Egito, Grécia e Roma)
Figura 4 - Doutor Egipcio
Fonte:http://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Egyptian_Doctor_healing_laborers_on_papyrus.jpg#mw-jump-to-license
Figura 5 - Gravura de uma cratera grega retratando a masturbação de um sátiro, do século VI a.C.
Fonte: http://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Cr%C3%A1tera_%C3%A1tica_de_columnas_(M.A.N._1999-99-65)_02.jpg#mw-jump-to-license
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Figura 6 - Vênus de Milo
Fonte: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:0033_Louvre_Venus_de_Milo.jpg
Figura 7 - Casa Del Centenario - Pompéia
Fonte: http://commons.m.wikimedia.org/wiki/File:Pompeii_-_Casa_del_Centenario_-_Cubiculum.jpg#mw-jump-to-license
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Módulo 3 – Idade Medieval
Figura 8 Atividade realizada em sala de aula – Pré Montagem dos Bonecos
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Figura 9
Texto produzido após confecção dos bonecos para o Módulo Idade Média
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Módulo 4– Idade Moderna do Ocidente
Figura 10 - Michelangelo: David, 1501-1504. Galleriadell'Accademia, Florença.
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:David_von_Michelangelo.jpg#mw-jump-to-license
Figura 11 - Peter Paul Rubens (1577–1640), TheThreeGraces, circa 1635 - Neoclassicismo
Fonte:http://www.filosofia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=5&evento=4
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Módulo 5- Idade Contemporânea
Figura 12 - Henri Matisse - A dança 1909-1910
Fonte: http://www.arte.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=3&evento=1
Figura 13 - Bulimia – Merlymeleanrossana
Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bulimiav_bvjkfhdnijf.jpg
Figura 14 - Massagista masculino
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Massagista_Masculino.jpg