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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

A MATEMÁTICA NA CULTURA DA MANDIOCA Associação entre teoria e prática

Irailde Antonia Moretti Beltrame1 Valter Soares de Camargo2

RESUMO

Este trabalho apresenta considerações sobre a prática da Unidade Didática produzida durante o programa de Desenvolvimento Educacional – PDE do Governo do Estado do Paraná. A necessidade de intervir positivamente no processo ensino aprendizagem, oportunizando a associação dos conteúdos didáticos com a vivencia dos alunos do 8º e 9º ano da Escola Estadual do Campo de Mandiocaba – EF – Paranavaí –PR. Palavras-chave: Etnomatemática; Modelagem matemática; Mandioca.

1. INTRODUÇÃO

Após diagnóstico situacional sob olhar dos diferentes atores envolvidos

(docente, alunos e responsáveis) constatou-se desinteresse e/ou dificuldades no

aprendizado de matemática. Nesta perspectiva propôs-se um trabalho orientado

à luz da Etnomatemática e Modelagem Matemática, associando o cotidiano

destes adolescentes ao plano de ensino no intuito de motivar os alunos a

identificar as relações entre a matemática e suas atividades diárias, ou seja, a

aplicação prática desta matéria no cultivo da mandioca.

O trabalho foi dividido em tarefas para a sua aplicabilidade, apresentando

atividades sobre o conteúdo razão e proporção, regra de três, medidas,

estatística, juro simples, conteúdos que podem ser associados à realidade dos

alunos. Os resultados obtidos durante o trabalho, apesar de algumas limitações

e dificuldades, foram satisfatórios, confirmando que, ao se trabalhar os

1 Professora Licenciada em Ciências com Habilitação em Matemática. Professora da Rede

Estadual de Educação, Núcleo Regional de Paranavaí.

2 Doutor em Matemática Aplicada pela UNICAMP

conteúdos relacionando-os com as atividades cotidianas, desperta o interesse

da maioria, facilitando a aprendizagem matemática.

2. JUSTIFICATIVA

A vivencia em sala de aula ministrando a disciplina de matemática à

alunos do 8º e 9º ano de numa escola estadual do interior do Paraná, gerou

inquietações ao analisar os resultados obtidos. Implicações essas que impõe a

qualquer docente a necessidade de ressignificar a metodologia de ensino

aprendizagem. Algumas reflexões se fizeram necessárias: Quais eram as

expectativas destes jovens e seus familiares? Como inserir a matemática no rol

de seus interesses?

Por conseguinte, considerando que o cenário deste estudo diz respeito a

pessoas inseridas em atividades agrícolas, relacionadas ao cultivo e exploração

da mandioca, principal fonte de renda do Distrito de Mandiocaba, Paranavaí/PR.

E arrolando essa realidade com o grau de dispersão de alguns alunos, durante

as aulas, juntamente com os interesses divergentes destes mesmos alunos, para

com a matemática e o método tradicional de ensino.

Assim, fazem-se necessárias soluções alternativas à escolarização

destes alunos, como forma de resgatá-los para a sala de aula. Ao relacionar a

teoria matemática com a cultura da mandioca, acreditamos ser uma dessas

formas. Foi, portanto, planejado minuciosamente possibilidades de inclusão dos

diferentes conteúdos matemáticos ao contexto socioeconômico local.

A Etnomatemática e a Modelagem matemática, em seu conceito, vêm

como um mecanismo de auxílio na aprendizagem da disciplina, uma vez que

sugerem formas de aproximar teoria e prática favorecendo assim a associação

com a realidade em que o aluno está inserido, e a aplicabilidade do conteúdo.

3. OBJETIVO

Essa pesquisa teve como objetivo principal motivar os alunos da Escola

Estadual de Campo de Mandiocaba – PR a identificar as relações entre a

matemática aprendida em sala de aula e suas atividades diárias no cultivo da

mandioca. Para isso, foram desenvolvidos os seguintes itens:

- Identificar no cultivo da mandioca, fatores que se relacionam com a

matemática;

- Possibilitar o pensamento crítico-reflexivo dos alunos em relação à

importância da matemática na sua vida cotidiana;

- Potencializar o processo ensino-aprendizagem da matemática,

diminuindo as dificuldades e aumentando as possibilidades.

- Identificar e caracterizar o perfil dos alunos da escola Estadual do Campo

de Mandiocaba, município de Paranavaí/PR.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) trazem a preocupação em

relacionar a matemática com o cotidiano e aplicá-la em atividades pessoais para

que, nessa área, ele possa melhorar seu conhecimento e interferir na sociedade

com responsabilidade.

Mas, é papel da escola desenvolver uma educação que não

dissocie escola e sociedade, conhecimento e trabalho e que coloque

o aluno ante desafios que lhe permitam desenvolver atitudes de

responsabilidade, compromisso, crítica, satisfação e

reconhecimento de seus direitos e deveres. (BRASIL/MEC, 1998)

A aprendizagem desta disciplina está relacionada à compreensão. Em

seu ensino destacam-se dois aspectos básicos que consistem em aplicá-la

relacionando o mundo real com representações (esquemas, tabelas, figuras)

e/ou relacionar essas representações com princípios e conceitos matemáticos.

Por isso, a comunicação com alunos tem muita importância, e deve ser

estimulada para que se consiga estabelecer uma conexão com o cotidiano e

estender para as demais disciplinas.

A atividade matemática escolar não é “olhar para as coisas prontas e

definidas”, mas a construção e a apropriação de um conhecimento, pelo

aluno, do qual se servirá para compreender e transformar sua realidade.

(BRASIL/MEC,1998)

A seleção e organização de conteúdos não deve ter como critério

único a lógica interna da Matemática. Deve-se levar em conta sua

relevância social e a contribuição para o desenvolvimento intelectual do

aluno. Trata-se de um processo permanente de construção.

O conhecimento matemático deve ser apresentado aos

alunos como historicamente construído e em permanente evolução. O

contexto histórico possibilita ver a Matemática em sua prática filosófica,

científica e social e contribui para a compreensão do lugar que ela tem

no mundo. (BRASIL/MEC, 1998)

Segundo Brandão (1985, p.10) a educação pode existir livre e entre todos.

Pode ser uma das maneiras que as pessoas encontram para tornar comum,

como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem,

como trabalho ou como vida.

D’Ambrósio (1996, p. 86-90) afirma que o domínio de um conteúdo

relacionado com o mundo atual é fundamental na preparação da cidadania. E

diz ainda que, a função do professor é a de um associado aos alunos, na

consecução da tarefa e na busca de novos conhecimentos, devendo ambos

crescer social e intelectualmente no processo.

A articulação de uma pedagogia com os interesses

populares agregará valores à escola. A população não será indiferente à escola.

Estará empenhada para que ela funcione bem, já que estará formando cidadãos

interessados no estudo, e aprendendo com exemplos que vivenciam

diariamente. Saviani (1993, p.79-87) ressalva que estes métodos estimularão a

iniciativa e a atividade dos alunos sem abrir mão da iniciativa do professor,

favorecendo o diálogo. Sempre levando em conta os interesses dos alunos, sem

perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos.

Ao pensar no conhecimento como um todo, deve-se levar em conta que

a matemática deve ter relevância social e contribuir para o desenvolvimento

intelectual do aluno. Por isso, a lógica interna da Matemática não deve ser o

único critério para selecionar e organizar os conteúdos. (BRASIL/MEC, 1998). É

na escola que o aluno deve criar a consciência de que a educação é um processo

conjunto, que abrange os conhecimentos culturais e os adquiridos em sala de

aula.

Para tanto, os PCN’s dizem também que o conhecimento matemático não

é feito e utilizado apenas por cientistas ou matemáticos, mas por todos os grupos

socioculturais que desenvolvem e utilizam aspectos matemáticos em função

de seus interesses e necessidades (BRASIL/MEC, 1998).

Vale ressaltar que nem todas as aplicações matemáticas são fáceis de

serem notadas no cotidiano, e também nem tão fáceis de serem aplicadas ao

meio cultural em que os alunos estão inseridos. Isso só reforça a ideia de que

esse conhecimento deve desenvolver a crítica e a criatividade para descobrir e

compreender o “mundo” em seus aspectos sócio, político e cultural. As diretrizes

para a educação básica definem a identidade da escola do campo como uma

associação com a realidade em que se inserem os atores, como mostra em seu

parágrafo único:

A identidade da escola do campo é definida pela sua vinculação

às questões inerentes à sua realidade, ancorando-se na temporalidade

e saberes próprios dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza

futuros, na rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos

movimentos sociais em defesa de projetos que associem as soluções

exigidas por essas questões à qualidade social da vida coletiva no

país. (Resolução CNE/CEB n°1, de 3 de abril de 2002)

4.1. Contextualização

O distrito de Mandiocaba se localiza na cidade de Paranavaí – PR, e

atualmente possui cerca de 1200 habitantes. Os primeiros colonizadores

ali chegaram por volta do ano de 1952. Derrubaram a mata, plantaram café que

foi devastado pela geada que ocorreu no ano de 1955. Iniciou-se a partir de

então o cultivo da mandioca. Os pioneiros do distrito vieram de Santa Catarina

e conheciam a cultura da mandioca e a industrialização da farinha. (AGENDA 21

ESCOLAR)

A região de Paranavaí está situada no noroeste do Estado do Paraná, que

é rica em solos arenosos contendo elementos propícios para o cultivo da

mandioca, além de ter condições climáticas favoráveis para o

desenvolvimento dessa raiz. . (AGENDA 21 ESCOLAR)

O parque industrial de mandioca cresceu em todo o município nos últimos

50 anos. Muitas empresas atuantes nesse segmento produzem farinha

(farinheiras), amido nativo e modificado (fecularias) e maquinários agrícolas.

O plantio, a capina e o arranque de mandioca é executado por homens e

mulheres, no distrito de Mandiocaba, onde existem 11 farinheiras. Paranavaí é

a maior produtora nacional de mandioca. Mandiocaba é responsável por grande

parte do plantio, abastecendo suas 11 farinheiras e vendendo o excedente para

grandes fecularias das proximidades e também para as do Mato Grosso do

Sul. . (AGENDA 21 ESCOLAR)

A maioria dos estudantes deste distrito é filho de trabalhadores rurais que

se dedicam ao cultivo da mandioca. Dos que plantam ou retiram as raízes aos

que cuidam de fecularias ou de fazendas produtoras todos são envolvidos com

essa atividade. Tendo em vista essa problemática e os conceitos de que a

matemática deve ser aplicada também de forma cultural, há de se pensar em

trabalhar com os alunos da Escola Estadual de Campo de Mandiocaba de forma

a despertar o interesse dos mesmos pela matemática. O meio sócio cultural em

que estão inseridos abrange todos os aspectos relacionados ao cultivo da

planta, incluindo a renda familiar. Muitas vezes chegam atrasados e

desinteressados para a aula, demonstram sinais de cansaço por terem

trabalhado o dia todo.

4.2. Etnomatemática e Modelagem Matemática

A Etnomatemática e a Modelagem Matemática são métodos que

oportunizam ao aluno representar sua realidade cotidiana aplicando-a

à matemática, explicando, assim, as suas práticas matemáticas culturais. O

aluno consegue aprender matemática ao mesmo tempo em que realiza pesquisa

para entender melhor o conteúdo aplicado.

Para D’Ambrósio (2007, p.44-46) a proposta da Etnomatemática é fazer

da matemática algo vivo, lidando com situações reais no tempo e no espaço. O

essencial é incorporar a matemática do momento cultural, contextualizada, na

educação matemática. Para isso, a escola precisa se adequar, trabalhando seus

conteúdos metodológicos adaptando-os aos conhecimentos reais do aluno, de

seu convívio na família, no trabalho e no lazer.

Indivíduos e povos têm, ao longo de suas existências e ao longo

da história, criado e desenvolvido instrumentos de reflexão, de

observação, instrumentos materiais e intelectuais [que chamo ticas]

para explicar, entender, conhecer, aprender para saber e fazer [que

chamo matema] como resposta a necessidades de sobrevivência e de

transcendência em diferentes ambientes naturais, sociais e culturais

[que chamo etnos]. (2007, p.60)

Em Biembengut (2012) encontra-se que a Etnomatemática

pesquisa compreender como determinados grupos culturais entendem e usam

conceitos matemáticos, mesmo não tendo um conceito matemático formal.

Nas DCE, a tendência Etnomatemática sugere que o conhecimento

matemático se dê pela valorização e respeito pela vida dos estudantes e que os

conteúdos estejam relacionados com a forma de vida deles, no cotidiano.

Já a modelagem matemática, de acordo com Biembengut (2012), é a área

da pesquisa voltada à elaboração ou criação de um modelo matemático não

apenas para uma solução particular, mas como suporte para outras aplicações

e teorias. Basta ver em Biembengut e Hein (2000. p. 18 e 19), onde dizem que a

Modelagem Matemática tem como principais objetivos:

Aproximar uma outra área do conhecimento da Matemática;

Enfatizar a importância da Matemática para a formação do aluno;

Despertar o interesse pela matemática ante a aplicabilidade;

Melhorar a apreensão dos conceitos matemáticos;

Desenvolver a habilidade para resolver problemas;

Estimular a criatividade;

Ainda segundo esse autor, no ensino da matemática, um modelo pode ser

representado por um conjunto de símbolos e relações matemáticas que

traduzem, de alguma forma, um fenômeno em questão.

Nas DCEs as diretrizes voltadas a Modelagem Matemática pressupõe que

o ensino e a aprendizagem da matemática podem acontecer ao se

problematizarem situações do cotidiano.

Sadovsky (2010, p. 28-30) enfatiza que a modelagem integra

conhecimentos de diferentes naturezas e que para abordar o problema precisa-

se escolher uma relação pertinente e encontrar meios para representá-las.

Afirma ainda, que o fato de expressar uma realidade usando uma teoria coloca

o estudante numa perspectiva de maior generalidade, o que lhe permite estimar

o valor e o potencial do conhecimento.

Tanto a Etnomatemática como a Modelagem Matemática são

consideradas métodos de ensinos que proporcionam ao aluno aprender a

modelar o que aprendem em sala e a explicar a matemática nas práticas sociais

e culturais. O professor utiliza a matemática formal para formular uma proposta

metodológica de ensino que inclua a atividade cultural do grupo, tornando o

aprendizado mais interessante e mostrando que a matéria ensinada em sala de

aula é muito útil para a sua formação como cidadão. Esse modo de dar aula,

remetendo-se a realidade, torna mais fácil o entendimento

do conteúdo ministrado.

Para estimular o interesse e melhor entendimento dos alunos da escola

em questão pela matemática, deve-se desenvolver um conteúdo metodológico

utilizando esses dois modelos (Modelagem Matemática e

Etnomatemática) associando a disciplina convencional às atividades cotidianas

dos alunos e tentando fazer com que eles estabeleçam também um elo entre o

conteúdo abordado em sala de aula, com sua rotina.

Pensando que grande parte de sua rotina tem a ver com o cultivo e

industrialização da mandioca e derivados pode-se estruturar alguns conteúdos

matemáticos com base no trabalho da mandioca. Estudando todo o processo de

trabalho da mandioca desde o plantio até a comercialização. Estudar-se-á

a forma ideal para plantar, espaçamentos da plantação, a área

plantada, os custos de cultivo, os lucros da produção, o encaminhamento

às farinheiras, a distância entre área de plantio e as farinheiras e a distribuição

da produção.

Dentro desse contexto, o aluno estará melhor inserido e o professor

poderá aprender os saberes culturais dos alunos e depois repassar o conteúdo

matemático com base nesses dados. Associar o que os alunos conhecem e o

que o conteúdo tem a acrescentar para melhorar o seu entendimento é a

proposta.

Nesse sentido, a ênfase dos conteúdos a serem trabalhados com os

alunos será com noções básicas de estatística e noções básicas de matemática

financeira, com o cálculo de porcentagens através da regra de três simples.

Sobre esses conteúdos, as DCE trazem que:

[…] as medidas se tornaram a linguagem fundamental à

realização dos negócios no mundo do comércio. Elas podem ser

consideradas um dos principais fatores que sustentaram e fortaleceram

as sociedades pelas relações estabelecidas por meio das compras e das

vendas, […] e manejar o sistema monetário é inteirar-se das situações

que mensuram o valor das mercadorias, possibilidade para discutir o

valor do trabalho e meio para entender decisões de ordem econômicas

do país.

[…] propõe-se que o trabalho com estatística se faça por meio

de um processo investigativo, pelo qual o estudante manuseie dados

desde sua coleta até os cálculos finais. […]. Os conceitos estatísticos

devem servir de aporte aos conceitos de outros conteúdos, com os quais

sejam estabelecidos vínculos para quantificar, qualificar, selecionar,

analisar e contextualizar informações, de maneira que sejam

incorporadas às experiências do cotidiano. (DCE, 2008, p. 53-61)

Sendo assim, todas essas considerações justificam a escolha do assunto

e os conteúdos a serem desenvolvidos com os alunos pela pesquisadora.

4.3. Implementação do Projeto

A aplicação desse trabalho foi orientada sob um olhar da Modelagem

Matemática e da Etnomatemática, observando situações do dia a dia, no

ambiente de trabalho, em que existe uma "matemática popular".

O interesse e compressão da matemática, pelo aluno, podem ser

conseguidos através do emprego de atividades que despertem sua importância

perante a aplicabilidade, estimulando a criatividade para solucionar os

problemas de sua realidade. As atividades tiveram como conteúdo estruturante:

Grandezas e Medidas, Números e Álgebra e Tratamento da Informação.

Detalhes podem ser vistos nos anexos por meio das atividades desenvolvidas

ao longo do projeto.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO

O uso crescente de tecnologias, o fácil acesso às informações e a busca

incansável de fontes de rendimento financeiro, vem distanciando cada vez mais

o aluno dos princípios da educação tradicional, situação esta que não é diferente

em uma escola rural, em que grande parte dos discentes vivem uma dupla

jornada entre trabalho e escola, fazendo com que priorizem o primeiro.

A aplicação neste estudo dos princípios da Etnomatemática e da

Modelagem Matemática veio como forma de aproximar esses dois itens de

interesse (trabalho e estudos), mostrando de que forma um complementa e

potencializa o outro. A Etnomatemática, assim como é idealizada em si, e a

Modelagem Matemática foi introduzida aos poucos nas atividades repassadas

aos alunos, e de forma crescente foi conseguindo prender a atenção destes,

obtendo resultados muito satisfatórios em relação à interesse, associação de

conteúdo e aprendizagem.

O trabalho com relatos de um produtor de mandioca, relação de custos de

produção e lucros obtiveram os resultados esperados pelo estudo, atendendo às

expectativas de forma satisfatória, consolidando mais ainda a hipótese em que

a didática deve se adequar à realidade daqueles em que se aplica, sob pena de

não ser eficaz se não realizada desta maneira.

Sendo assim, observou-se que conteúdos trabalhados abordando

situações vivenciadas, possibilitou ao aluno o envolvimento no processo do

conhecimento com questionamentos, sugestões, para posteriormente, aplicação

no contexto onde está inserido. As atividades propostas através dos princípios

da Etnomatemática e da Modelagem Matemática propiciaram um ambiente de

promoção e produção de conhecimento.

REFERÊNCIAS

BIEMBENGUT, Maria Salett. Perspectivas Metodológicas em educação

matemática: Um caminho pela modelagem e etnomatemática. Caderno

pedagógico. Lajeado, v. 9, n. 1, p. 27-38, 2012. Disponível em:

<http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/deb_nre/modelagem_e

_etnomatematica.pdf>. Acesso em: 06 de maio de 2014.

BIEMBENGUT, Maria Salett; HEIN, Nelson. Modelagem Matemática no

ensino. 1. ed. São Paulo: Contexto, 2000.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares

Nacionais: Matemática. Brasília: MEC/ SEF, 1998. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/matematica.pdf>. Acesso em: 03 de

Junho de 2014.

CENTURIÓN, Marília; JAKUBOVIC, José. Matemática: Teoria e Contexto.

1.ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Educação Matemática: Da teoria à prática. 1. ed.

Campinas: Papírus,1996.

D’AMBRÓSIO, Ubitaran. Etnomatemática: Elo entre as tradições e a

modernidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

ESCOLA ESTADUAL DE MANDIOCABA. Agenda 21 Escolar. Mandiocaba,

2005.

JÚNIOR, José Ruy Giovanni. A conquista da matemática. 1 ed. São Paulo:

FTD, 2009.

PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Departamento de Educação

Básica. Diretrizes Curriculares da Educação Básica: Matemática. Curitiba:

SEED/ DEB, 2008.

SADOVSKY, Patrícia. O ensino de matemática hoje: Enfoques, sentidos e

desafios. 1. ed. São Paulo: Ática, 2010.

6. ANEXOS

6.2. Atividades desenvolvidas

Os conteúdos trabalhados foram associados à cultura da mandioca, por

intermédio de textos científicos, aula demonstrativa e expositiva com um

produtor de mandioca.

A forma de convite deste facilitador foi por meio de carta convite, e os

alunos por meio de convite e autorização dos pais. Os alunos fizeram registros

das informações adquiridas durante a visita.

Nas aulas seguintes foram desenvolvidas atividades dos referidos

conteúdos, associando-os com a cultura da mandioca.

TAREFA 1

CONVERSA EM SALA DE AULA (1o momento):

Com a intenção e objetivo de verificar os conhecimentos prévios dos

alunos sobre a cultura da mandioca e os conteúdos matemáticos implícitos, foi

distribuído um questionário previamente elaborado e discutido as questões.

CONVERSA EM SALA DE AULA (2o momento)

Vídeo-aula: Matemática no sítio

(http://www.youtube.com/watch?v=PwUeSQrDim4 , acesso em 03/10/2014 as

6h40min). Vídeo que trata da matemática e seu uso na agricultura. Os alunos

anotaram as impressões observadas e posteriormente fizeram reflexão e

discussão dos conteúdos abordados; o professor seguiu a discussão com maior

ênfase sobre sistema e unidades de medidas agrárias.

TAREFA 2

MEDIDAS AGRÁRIAS

Com alunos reunidos em grupos, objetivando uma melhor compreensão

do uso das diferentes unidades de medidas agrárias nos diferentes locais do

Brasil e a conversão dessas unidades para uma unidade padrão, foi repassado

um vídeo explicativo sobre a unidade de medida “alqueire”, que é a unidade

usada pelos produtores da região, (https://www.youtube.com/watch?v=9Z--

t85C8R4 , acesso em 06/10/2014 as 11h45min).

Após discussão, foi proposto atividades sobre transformação de unidades

agrárias.

TAREFA 3

“O QUE É QUE A MANDIOCA TEM”

Em grupos foi realizado leitura e análise de um recorte de texto sobre a

mandioca. (http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/saude/o-que-a-

mandioca-tem-saude-onu-751853.shtml?func=2), acesso em 06/10/2014 as

15h52min

Demonstrado quadros com valor nutricional da mandioca e derivados

(http://www.informacaonutricional.blog.br), acesso em 21/10/2012 12h15min.

Sugeriu-se atividades relacionadas ao valor nutricional desses produtos, usando

o conteúdo básico Razão. O resultado esperado desta atividade foi de que o

aluno pudesse fazer uma análise reflexiva sobre os diferentes resultados obtidos

para um mesmo nutriente, nos vários produtos, sugerindo e justificando uma

hipótese.

TAREFA 4

CONSUMO DE DERIVADOS DA MANDIOCA

Foi proposto uma pesquisa com a família sobre o consumo de produtos

derivados da mandioca (5 a 6 produtos), para trabalhar conceitos básicos de

Estatística como coleta de dados, contagem, organização de dados (quadros,

tabelas, gráfico). Neste momento, levantou-se questões com o intuito de

perceber o conhecimento dos alunos sobre a utilização da Estatística nos

diversos ramos de atividades das pessoas. Com pesquisa em mãos, discutiu-se

sobre a melhor maneira de organizar os dados coletados. Os resultados foram

comparados com a discussão orientada, de forma que se concluiu com um

quadro com colunas para produto, preferência e percentual. Por fim, expôs-se a

ideia de Regra de três Simples, como sugestão para encontrar os valores

percentual. Atividade teve como objetivo explorar o conteúdo Grandeza,

Proporção e Propriedade Fundamental das Proporções.

Para fazer o gráfico de setores, foi explorado questões de geometria

como: Circunferência e Ângulo Central, lembrando aos alunos que o ângulo

central formado pelo arco de uma volta completa tem 3600 e que corresponde a

100%, revendo também os elementos da circunferência como raio, corda,

diâmetro; uso do compasso e transferidor.

TAREFA 5

ENTREVISTA COM O PRODUTOR DE MANDIOCA

O produtor abordou sobre todas as etapas do cultivo, desde a escolha da

espécie de acordo com a finalidade, preparo do solo, métodos de plantio,

cuidados, espaçamento entre mudas e entre ruas, tempo do plantio até a

colheita, custo de produção, entre outras.

Em sala, verificou-se as etapas da cultura da mandioca mecanizada, que

é a praticada pelo produtor convidado, através de um vídeo sobre plantio e

cultivo da mandioca em (http://www.youtube.com/watch?v=rwb2g7OZnF4),

acesso em 06/10/2014 as 16h40min.

TAREFA 6

ORGANIZANDO DADOS

Após a entrevista com o produtor, em sala de aula, os alunos organizaram

os dados em um quadro, para melhor visualização. Além do conteúdo Estatística,

o professor explorou as diferentes unidades de medidas usadas na produção; os

múltiplos e submúltiplos da unidade de medida massa, e, como curiosidade,

discutiu-se a “arroba” (unidade de massa usada principalmente na produção de

bovinos e suínos). Na questão 4, explorou-se conteúdo Regra de Três Simples,

para preencher a coluna “percentual”. Na questão 5, utilizou-se de conceitos de

ângulo central da circunferência para encontrar a taxa percentual de cada

classificação das etapas da produção da mandioca. Foi abordado itens de

matemática comercial como lucro e prejuízo, como surgiu, e onde é aplicada no

cotidiano; como resolver cálculos envolvendo lucro e prejuízo usando

conhecimentos de aritmética e porcentagem. O resultado esperado desta tarefa

era de que os alunos conseguissem analisar, discutir e argumentar, através da

comparação, causas e consequências do aumento ou não do custo da produção.

TAREFAS 7 e 8

“CUSTOS DO TRANSPORTE” “LUCROS OU PREJUÍZO?”

Para a tarefa 7 “CUSTOS DO TRANSPORTE” e a tarefa 8 “LUCROS OU

PREJUÍZO? ” as orientações são para se trabalhar com lucro e prejuízo e que

os alunos possam, ao final das tarefas, analisar, discutir e argumentar as causas

e consequências dos resultados obtidos, seja de lucro ou prejuízo.

6.3. Resultados obtidos

Após a aplicação das atividades notou-se um significativo resultado na

compreensão dos alunos pela temática, apresentando poucas dificuldades no

cumprimento dos objetivos.

Nas tarefas de número um a quatro, obteve-se um bom envolvimento dos

alunos com o conteúdo. Porém, verificou-se que um aluno do nono ano e dois do

oitavo ano encontraram dificuldades em algumas tarefas, necessitando de ajuda

para ler, interpretar a questão, desenvolver as atividades e interpretar os

resultados; três alunos tiveram dificuldade no manuseio do transferidor e da

régua para desenvolvimento do gráfico de setores.

Já nas tarefas de número cinco e seis, apesar de estarem com a entrevista

em mãos, alguns alunos não conseguiram fazer anotações. Outros, organizaram

os dados em um quadro de informações e encontraram o custo total da produção

e fizeram um gráfico de setores com as várias etapas do cultivo, percebendo que

o maior custo é para a colheita da mandioca; perceberam ainda que na produção

2013/2014 o custo de produção foi maior que na safra 2014/2015.

Por fim, nas tarefas de número sete e oito em que foi abordado os custos

do transporte e lucros/prejuízos, todos concluíram que seria mais rentável a

venda em Mandiocaba/Graciosa e, alguns conseguiram completar que se

considerar distância (km) e valor da tonelada (R$), Ivinhema –MS seria o melhor

lugar para venda. A maioria dos alunos conseguiram entender que apesar de

na safra de 2014/2015 o custo ser menor, o produtor teve prejuízo. Ao final das

tarefas, os alunos conseguiram analisar, discutir e argumentar, através da

comparação, causas e consequências do aumento ou não do custo da produção.