OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS...

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OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA REVERSA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NA ÁREA RURAL DO SERTÃO BAIANO Cynthia Marise dos Santos Mattosinho (FASETE ) [email protected] Fabiana Pereira Martins (FASETE ) [email protected] Este artigo analisou a cadeia reversa de pós-consumo dos resíduos sólidos domiciliares na área rural do município de Paulo Afonso-BA, buscando apresentá-la como uma alternativa que possa minimizar a incidência de impactos sociais e ambientaais, pois essas localidades também demandam pelo tratamento e gerenciamento dos resíduos sólidos, uma vez que se encontram submetidas a deficientes condições de saneamento básico e, na maioria das vezes, não dispõe dos meios adequados para efetuar o descarte, ficando totalmente vulneráveis aos riscos oferecidos pela exposição e contato com esses materiais. Os métodos de pesquisa utilizados foram o bibliográfico e a pesquisa de campo, possuindo uma abordagem descritiva. A coleta dos dados foi efetuada contemplando uma amostra de 891 domicílios situados em povoados diversos, estabelecidos através de uma estratificação, aos quais foi aplicado um formulário junto aos moradores. Os resultados adquiridos por meio desta pesquisa apontaram que a destinação final adotada na área estudada se dá de maneira incorreta. Porém, em virtude do perfil encontrado, ou seja, jovens com níveis de escolaridade e renda baixas, identifica-se a oportunidade de investir em ações educativas com vistas a sensibilizar essa população para adoção da logística reversa, cabendo também incentivar a presença de uma maior quantidade de atravessadores que possam garantir uma periodicidade regular para o recolhimento e comercialização dos materiais, haja vista que é explorada em pequena escala e de forma desestruturada, atingindo um público pequeno, se comparado ao potencial existente. Palavras-chaves: Resíduos domiciliares, Logística reversa, Rural. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA

REVERSA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

DOMICILIARES NA ÁREA RURAL DO

SERTÃO BAIANO

Cynthia Marise dos Santos Mattosinho (FASETE )

[email protected]

Fabiana Pereira Martins (FASETE )

[email protected]

Este artigo analisou a cadeia reversa de pós-consumo dos resíduos

sólidos domiciliares na área rural do município de Paulo Afonso-BA,

buscando apresentá-la como uma alternativa que possa minimizar a

incidência de impactos sociais e ambientaais, pois essas localidades

também demandam pelo tratamento e gerenciamento dos resíduos

sólidos, uma vez que se encontram submetidas a deficientes condições

de saneamento básico e, na maioria das vezes, não dispõe dos meios

adequados para efetuar o descarte, ficando totalmente vulneráveis aos

riscos oferecidos pela exposição e contato com esses materiais. Os

métodos de pesquisa utilizados foram o bibliográfico e a pesquisa de

campo, possuindo uma abordagem descritiva. A coleta dos dados foi

efetuada contemplando uma amostra de 891 domicílios situados em

povoados diversos, estabelecidos através de uma estratificação, aos

quais foi aplicado um formulário junto aos moradores. Os resultados

adquiridos por meio desta pesquisa apontaram que a destinação final

adotada na área estudada se dá de maneira incorreta. Porém, em

virtude do perfil encontrado, ou seja, jovens com níveis de

escolaridade e renda baixas, identifica-se a oportunidade de investir

em ações educativas com vistas a sensibilizar essa população para

adoção da logística reversa, cabendo também incentivar a presença de

uma maior quantidade de atravessadores que possam garantir uma

periodicidade regular para o recolhimento e comercialização dos

materiais, haja vista que é explorada em pequena escala e de forma

desestruturada, atingindo um público pequeno, se comparado ao

potencial existente.

Palavras-chaves: Resíduos domiciliares, Logística reversa, Rural.

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

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1. Introdução

É importante ressaltar que, apesar de ser um assunto bastante debatido, não há muitas

informações sobre os resíduos sólidos domiciliares rurais, já que são estes o foco do estudo,

antes são vistos somente aqueles provenientes das atividades agropecuárias. Deste modo, se

faz necessário enfatizar, que os aspectos, mencionados acima, são inerentes a sociedade em

sua totalidade, se estendendo da cidade até do campo, uma vez que os hábitos de consumo da

população se assemelham e, portanto os problemas provenientes dessas práticas acometem

tanto o meio urbano como o rural, pois de acordo com Barbosa (citado por FRATA et. al,

2010, p.2), o meio rural não é mais um espaço onde são desenvolvidas atividades

exclusivamente agrícolas. Esse meio tem passado por intensas mudanças, que induzem a

pluralidade, fazendo com que o espaço seja tido como uma continuação da zona urbana.

Entretanto, segundo prerrogativa estabelecida na Constituição Federal, fica a cargo do poder

público municipal, através de seus órgãos de atuação, realizar as ações necessárias para

proporcionar a coleta e destinação adequada dos resíduos gerados dentro de seu território,

portanto a cobertura desses serviços deve se estender também para essas áreas, é o que afirma

o IBGE (citado por SANTOS, 2008) ao declarar que a responsabilidade pela proteção do meio

ambiente, pelo combate à poluição e pela oferta de saneamento básico a todos os cidadãos

brasileiros está prevista na Constituição Federal, que deixa ainda, a cargo dos municípios,

legislar sobre assuntos de interesse local e de organização dos serviços públicos. Por isto, e

por tradição, a gestão da limpeza urbana e dos resíduos sólidos gerados em seu território é de

responsabilidade dos municípios.

Em resposta a necessidade de remediar os problemas originados a partir dos resíduos sólidos,

de modo geral, empreende-se esforços no sentido de desenvolver mecanismos com tal

finalidade, sendo que uma das formas é fazer vigorar as sanções legais, que surgem para

regulamentar à utilização dos recursos naturais, é o caso da aprovação da Política Nacional de

Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece o controle sobre esses materiais, isto é, regulamenta

sua geração e posterior destinação, a fim de minimizar os impactos negativos advindos dessas

ações. Andrade (2008, p.6) reforça que “a legislação ambiental está cada vez mais rígida,

obrigando uma maior preocupação ambiental.”

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Inserida neste cenário tem-se o município de Paulo Afonso, local onde foi desenvolvida a

pesquisa, possuindo uma população total de 108.396 pessoas, destas 93.404 são da zona

urbana e 14. 992 são da rural (13,8% - IBGE, 2011). Esta última, por sua vez, distribuí-se em

4.120 domicílios que produzem resíduos todos os dias, porém em apenas 3 desses o destino

do lixo é feito em caçamba de serviço de limpeza e em 374 é realizado diretamente por

serviço de limpeza na propriedade de residência e no entorno (SEI, 2010), sendo que o

restante, 3.743, recebem outro tipo de descarte, ou seja, a maioria absoluta não recebe a

destinação apropriada, representando assim uma demanda que necessita ser atendida.

Seguindo esse foco, este artigo tem como propósito principal, apresentar a logística reversa

como um mecanismo de promoção, por meio de suas atividades, da preservação ambiental e

da qualidade de vida das pessoas, voltando-se para a causa dos resíduos sólidos domiciliares

produzidos na zona rural do município de Paulo Afonso/BA.

Em termos gerais, esta pesquisa mostra uma análise da situação atual dos resíduos sólidos

domiciliares rurais, onde identificou a destinação que é dada aos mesmos, seguindo por

avaliar a percepção da população residente nos povoados acerca das questões ambientais, e

mais diretamente dos problemas alavancados em decorrência da geração de resíduos nas

propriedades, bem como verifica as medidas que estão sendo tomadas pelo órgão público

municipal para sanar os danos incorridos, já que é de sua incumbência tal responsabilidade.

Tendo, por fim, buscado evidenciar a necessidade da prática da logística reversa de pós-

consumo ser estruturada nessas áreas, tantas vezes, negligenciadas e desassistidas.

Tendo em vista o contexto apresentado, esta pesquisa procurará responder ao seguinte

questionamento: como a logística reversa pode influenciar no processo de descarte correto dos

resíduos domiciliares rurais do município de Paulo Afonso de maneira que minimize os

impactos socioambientais?

2. Referencial Teórico

2.1 A logística reversa

Mediante as novas necessidades e mudanças que estão ocorrendo em nível mundial, nota-se

que o foco da logística está sofrendo modificações. Considerando esse contexto, percebe-se a

relevância que a preservação ambiental ganhou, principalmente frente às catástrofes

enfrentadas nos últimos anos em toda parte. Em virtude desses aspectos e levando em conta

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seu escopo de atuação, a logística tem dado ênfase ao gerenciamento dos fluxos reversos, é o

que afirma Dornier et. al. (2000), no início o investimento em logística focou-se

principalmente nos fluxos das empresas para os mercados. Preocupações crescentes para

proteger o ambiente e conservar recursos criaram a necessidade de gerenciar fluxos reversos –

dos mercados de volta à empresa. A ênfase aqui é na reutilização, reembalagem, renovação ou

disponibilização de artigos usados.

Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) a logística reversa já começou a ganhar contornos

melhor delineados, destacando as atividades que a compõe, além de revelar a finalidade da

prática de forma mais ampliada, então, foi assim conceituada, processo de planejamento,

implementação e controle da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matérias-primas,

estoques de processo, produtos acabados e as respectivas informações, desde o ponto de

consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar valor ou adequar o seu destino.

Os canais reversos lidam diretamente com o retorno do produto do ponto final de consumo

para o ponto de origem. Os materiais ao fazerem esse percurso devem ganhar a destinação

mais apropriada, podendo seguir caminhos diferentes, a depender de suas condições e

propriedades, que vai desde a reciclagem, remanufatura ou o descarte final.

De forma sucinta, pode-se dizer que a principal diferença entre ambas se encontra nas

condições de uso dos materiais: no começo ou no final de seu ciclo de vida útil, pós-venda e

pós-consumo, respectivamente. Considerando essa característica, é adotado o processo para

revalorização desse material que, de acordo com a área, possui etapas distintas.

2.2 A logística reversa e o gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares na área rural

Uma definição mais restrita do que vem a ser resíduo rural é citada por Mattosinho et.

al.(2011) como sendo todos os tipos de resíduos gerados pelas atividades produtivas nas zonas

rurais, distinguindo-se três categorias: os resíduos agrícolas que são aqueles produzidos no

campo, provenientes do processo de colheita dos produtos agrícolas, os quais na maioria das

vezes acabam sendo incorporados no solo usado para o cultivo; os florestais que se

caracterizam por ser aqueles gerados e deixados na floresta, resultantes da extração de

madeira; e os pecuários, sendo aqueles formados por esterco e outros produtos advindos da

atividade biológica dos animais (bovino, suíno, caprino e outros)

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Os tipos de resíduos, citados acima, são aqueles que comumente eram encontrados em maior

quantidade na área rural, e não representam alto grau de risco para as pessoas ou para o meio

ambiente, pois podem ser aproveitados e absorvidos pela própria natureza, seja em forma de

adubo, produção de fertilizantes naturais ou outras finalidades, promovendo sua

sustentabilidade. Porém percebe-se que em decorrência das modificações nos modos de

produção, com a chegada da modernização no campo, vê-se a composição do lixo ser

alterada, enquadrando-se nos novos padrões de consumo, espelhados nos hábitos urbanos,

assim:

Pode-se dizer que o meio rural brasileiro se urbanizou nas duas últimas décadas, como

resultado do processo de industrialização da agricultura, de um lado, e, de outro, do

transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente era definido como

rural. (SILVA, 1997).

Além de todos os tipos de lixo normal, que incluem a matéria orgânica do dia-a-dia, restos de

alimentos, o material reciclável (vidros, latas, papel e plásticos), entre outros mais comuns,

alguns tipos não despertam cuidados e podem causar sérios danos ao ambiente da

propriedade, por conter elementos químicos na forma iônica que são absorvidos e acumulados

pelo organismo. São elementos presentes nas pilhas e baterias, que lança níquel e cádmio no

ambiente; nas lâmpadas que possuem mercúrio, um metal pesado e tóxico que pode

contaminar solos e a água; nas pastilhas e lonas de freios, que contêm amianto e se acumula

nos pulmões; nos adubos químicos, que são ricos em fósforo; nas embalagens de agrotóxicos

e produtos veterinários, além de dejetos de animais com especial atenção para suínos e aves.

(DAROLT, 2008).

No entanto, de acordo com dados revelados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) em pesquisa realizada em 2010, tem-se que no Brasil, a despeito das condições do

serviço de coleta do lixo, nos domicílios das áreas urbanas está acima de 90%, variando de

93,6% no Norte a 99,3% no Sul, um cenário bem diferente do encontrado na zona rural,

apesar da ampliação em comparação com 2000, passando de 13,3% para 26,0%, em média.

Esse fato pode ser justificado em razão da “questão do gerenciamento dos resíduos sólidos

rurais é pouco estudada e consideravelmente menos abordada que a gestão dos resíduos

urbanos” (OLIVEIRA E FEICHAS, 2007)

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Na ausência da disponibilidade desse mecanismo de disposição são adotadas outras formas de

destino, haja vista a dificuldade e o alto custo da coleta dos resíduos rurais, que tornam a

opção de queimá-lo a mais adotada pelos moradores dessas regiões. Essa alternativa cresceu

em torno de 10%, passando de 48,2% em 2000 para 58,1% em 2010. No tocante a solução de

jogar o lixo em terreno baldio, que em 2000 era adotada por moradores de 20,8% dos

domicílios rurais, reduziu para 9,1% em 2010. (IBGE, 2010).

Para tanto é necessário disseminar as informações pertinentes a cada um dos elos da cadeia

reversa dos resíduos sólidos domiciliares rurais, levando-se em conta as especificidades

desses locais, com a finalidade de assegurar o seu efetivo funcionamento, pois somente por

meio da participação de cada um dos integrantes, principalmente da população, já que esta é a

detentora do material a ser direcionado para o ciclo produtivo, é possível gerar os resultados

pretendidos, uma vez que as atividades da LR estão atreladas a três dimensões: [...]

reutilização dos produtos, recuperação de produtos e reciclagem de materiais – que podem

significar a redução de recursos em um sistema e representar um caminho para retorno e reuso

de resíduos gerados. Essa é uma importante ferramenta no gerenciamento integrado dos

resíduos sólidos permitindo a reintrodução dos materiais na cadeia de produção. (MATOS,

2011, p. 33).

Diante do exposto, enfatizando a ineficiência dos sistemas de coleta e de disposição final,

ambos com a configuração atual se constituem em modelos falidos de gerenciamento dos

resíduos sólidos, de modo geral, reforçam o quanto é oportuno lançar mão das ações ofertadas

por meio da logística reversa para suprir as lacunas existentes.

3. Metodologia

Foi feito o delineamento dos aspectos referentes ao descarte dos resíduos sólidos nos

domicílios da área rural de Paulo Afonso, evidenciando suas características, porém sem

intervir nesse cenário.

Os critérios para estabelecer a população e a amostragem a serem estudados começou por

selecionar um dos elos da cadeia reversa para ser analisado profundamente, sendo que essa

escolha foi feita tanto no intuito de dar representatividade a presente pesquisa quanto em

virtude da extensão da área geográfica e pela quantidade de comunidades diferentes, além de

considerar que não há dados científicos que comprovem a existência de um canal reverso de

pós-consumo nessa área, assim optou-se pelo consumidor final, que nesse caso são os

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moradores da zona rural do município. São eles os que podem afirmar de maneira segura a

respeito da comercialização de resíduos sólidos, e também possuem papel decisivo enquanto

agentes participantes da logística reversa, já que são os que fazem uso dos bens e efetuam a

destinação final, então da conscientização desses depende o funcionamento efetivo do canal

reverso.

Foram considerados os dados dispostos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) coletados no censo demográfico 2010, tendo, portanto, um universo formado por

4.120 domicílios particulares permanentes ocupados, que estão situados nos vários povoados

e aglomerados rurais, que juntos, por sua vez, constituem os 33 setores rurais.

Em virtude da elevada quantidade de domicílios que formam o universo se fez necessário

estabelecer uma amostra, que segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 163), “é uma parcela

convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo.” O

tamanho da amostra foi apontado conforme o quadro 01, que determina a amplitude e as

margens percentuais de erro.

Quadro 01 - Quadro pra determinar a amplitude de uma amostra tirada de uma população

finita com margens de erro de 1%, 2%, 3%, 4%, 5% e 10% na hipótese de p= 0,5. Coeficiente

de confiança de 95,5%.

Fonte: Tagliacarne (citado por GIL, 2002, p.124).

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Assim, baseado na população de 4.120 domicílios permanentes ocupados na zona rural foram

aplicados um total de 891 formulários, possuindo uma margem de erro de 3% e grau de

confiabilidade de 97%, contemplando 17 setores rurais, sendo representados por 14 povoados

definidos a seguir.

Desta forma foram escolhidos alguns desses locais, primeiramente, segundo o critério de

localização, ou seja, se buscou atingir pontos em cada extremidade da extensão territorial que

abrange toda a zona rural, em função de obter uma amostra representativa. Após essa etapa

optou-se por aquele povoado, contido no setor, com maior número de domicílios. Por

conseguinte, as comunidades onde foram aplicados os formulários estão dispostas na tabela

01.

Tabela 01 - Povoados com aplicação de formulários.

Povoado Número de

domicílios

Porcentagem de

representatividade

Número de

questionários a ser

aplicado

Caiçara I 277 8,57% 93

Arrastapé 249 7,72% 87

Baixa Funda 206 6,39% 56

Campos Novos 102 3,05% 42

Juá 885 27,40% 142

Malhada Grande 204 6,31% 74

Riacho 710 21,99% 120

Rio do Sal 72 2,22% 27

Salgadinho 53 1,65% 23

São José 74 2,29% 31

Serrote 85 2,63% 38

Sítio do Lúcio 215 6,65% 72

Sítio do Tará 48 1,48% 20

Várzea 152 4,70% 66

Total: 14 3331 100,00% 891

Fonte: Baseado em dados do IBGE (2010).

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Para efeitos dessa pesquisa foi feita a aplicação formulário, o qual segundo Andrade (1999),

por também ser “constituído por uma série de perguntas, mas não dispensa a presença do

pesquisador”, sendo estes direcionados para os domicílios. Ressalta-se que esse instrumento

foi escolhido em virtude de vislumbrar a necessidade de esclarecimento das questões junto

aos respondentes. A aplicação se deu no período compreendido entre 01 julho a 10 de

setembro de 2012, composto por 23 questões, destas 22 fechadas e 1 aberta.

4. Apresentação e Análise dos Resultados

4.1 Análise dos resultados da pesquisa com os produtores rurais

O município de Paulo Afonso ocupa uma área territorial de 1.700,40 quilômetros quadrados.

Nessa área distribui-se a cidade, a zona rural e áreas não povoadas (REIS, 2004). A

localidade, procurada como pouso de boiadas, começou a exigir desenvolvimento comercial

que atendesse à solicitação de gêneros, por parte, não só dos viajantes, como da população

local. O lugarejo já era expressivo núcleo demográfico do município de Glória, quando o

Governo Federal, em 15 de março de 1948, criou a Companhia Hidrelétrica do São Francisco,

com a finalidade de aproveitar a energia da Cachoeira de Paulo Afonso. Em torno das

instalações da usina cresceu a cidade. Porém, foi somente em 28 de julho de 1958, que a Lei

Estadual n.° 1.012 deu ao Distrito de Paulo Afonso autonomia política tornando-o município,

já que antes pertencia a Glória. (IBGE, 2012).

4.2 Análise dos resultados com os moradores dos povoadosados

4.2.1 Tipos de materiais e modo de descarte

Nesse tópico do formulário as perguntas foram elaboradas a fim de traçar o panorama atual da

geração de resíduos sólidos, buscando avaliar em que situação se encontra o descarte e as

formas pelas quais é realizado, principalmente, em casos de não dispor de mecanismos

apropriados para a destinação final.

Dentro desse contexto, quando se perguntou qual a destinação, mais comumente, dada aos

resíduos produzidos no domicílio, a resposta foi condicionada às alternativas que a população

dessas localidades possuem, ou seja, apenas dois dos povoados pesquisados dispõem de

coleta, os mais populosos, sendo o Juá e o Riacho, por isso o alcance do percentual de 24%,

considerado alto se comparado aos demais. Porém, a prática mais comum, indicada por 65%

dos respondentes, é a queima dos resíduos, na própria propriedade. Ainda foram citadas as

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destinações em que os resíduos são enterrados (na própria propriedade), somando 5%, e a que

são jogados em terreno baldio ou logradouro, correspondendo a 6%, conforme disposto no

gráfico 01. Situação também constatada pelo IBGE (2010), a nível nacional, segundo o qual

“a dificuldade e o alto custo da coleta do lixo rural tornam a opção de queimá-lo a mais

adotada pelos moradores dessas regiões.”

Gráfico 01 - Destinação final dos resíduos sólidos domiciliares rurais.

Fonte: Pesquisa de campo realizada

Outra problemática envolvida nessa atividade é a disposição, que também se efetiva de forma

incorreta, haja vista que os resíduos são colocados em contato direto com o solo, próximo às

matas nativas e das terras cultiváveis e usadas para a criação de animais. Além disso, há a

incidência de outros fatores, isto é, como ficam acumulados até atingir certo montante, sofrem

a ação do vento que leva os materiais, como sacolas plásticas e papéis, para as propriedades

próximas, existindo animais nessas áreas que podem vir a ingerir esses itens causando

acidentes e a perda desses, trazendo prejuízos. Outro fator climático que também influi é a

chuva, pois quando molhados, esses resíduos não podem ser queimados, permanecendo por

mais tempo a céu aberto, que causa o aumento da proliferação de insetos e o risco da

transmissão de doenças por meio de vetores que aí se propaguem, onde as pessoas podem vir

a serem acometidas.

Na sequência tem-se a destinação final, que também não é considerada a mais adequada, que

trata-se da queima a céu aberto, pois de acordo com a PNRS (Brasil, 2010), essa alternativa

somente é indicada em casos extremos.

Percebe-se que diante da inexistência de mecanismo de descarte apropriado busca-se

alternativas diversas, conforme evidencia a figura 01, que pelo alto grau de indicação,

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sinaliza que a presença dos resíduos sólidos representa um incômodo, uma vez que a maioria

dos respondentes procura adotar a forma que mais se aproxima da destruição total desses

materiais (queima).

Outra informação relevante reside no fato que mesmo naqueles povoados que indicaram a

existência de coleta, um bom número da população ainda persiste em queimar o lixo na sua

propriedade, e muito mais que isso, ainda jogam em terrenos baldios ou logradouros, isso

reafirma, mais uma vez, a necessidade de ações educativas que promovam a informação

dessas pessoas para alertá-las que comportamento devem adotar, tendo em vista que a PNRS

institui a responsabilidade compartilhada e isso inclui a participação efetiva desses agentes no

processo de descarte e da logística reversa dos resíduos sólidos.

Figura 01 – A, B - Tipos de destinação final dos resíduos sólidos domiciliares rurais nos

povoados: Sítio do Lúcio (A) - enterrado; Serrote (B) - jogado a céu aberto.

A B

Fonte: Pesquisa de campo.

Dando sequência a avaliação dos meios de descarte adotados na zona rural, questionou- se

sobre a utilização de algum recipiente para acondicionamento dos resíduos, a fim de

minimizar o contato desses com o ambiente, principalmente com o solo, as pessoas e os

animais.

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Conforme mostra o gráfico 02, denota-se que metade da população amostral (50%) afirmou

que acondiciona os materiais a serem descartados em sacolas plásticas ou em outros

recipientes, como caixas de papelão, sacos de nylon, etc., geralmente, reaproveitados. O

intuito é não deixar que o lixo se espalhe pela propriedade e manter o domicílio e o entorno

limpos, além de facilitar o manuseio no momento de queimar ou enterrar, porém não quer

dizer, propriamente, que receba esse destino. Já nas demais residências, 26% declarou jogar

os resíduos diretamente no solo, e isso significa que ele pode estar ficando a céu aberto, sem

receber nenhuma destinação final, ou fica sendo acumulado para então ser queimado e/ou

enterrado. O restante, que corresponde a 24% das pessoas, é o valor diretamente relacionado

aos povoados Juá e Riacho, pois, apenas esses possuem coleta, logo somente eles poderiam

acondicionar os resíduos em recipientes para serem coletados.

Gráfico 02 - Acondicionamento dos resíduos sólidos para serem descartados.

Fonte: Pesquisa de campo

Além dessas contribuições, percebe-se que o grande número de pessoas que se preocupam em

acondicionar os resíduos sólidos, enquanto são acumulados para receberem a destinação final,

pode representar uma oportunidade quando se trata da coleta seletiva ou até mesmo da

logística reversa, pois demonstram disponibilidade, possivelmente, desses agentes realizarem

a separação desses materiais e de direcioná-los e conduzi-los para os locais adequados de

recolhimento e descarte.

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Outro ponto que merece destaque é que, uma vez identificado o descarte de pilhas, baterias,

lâmpadas e produtos eletrônicos, percebe-se a necessidade de estruturar medidas que

viabilizem a destinação correta desses materiais pela população rural, pois para estes itens,

entre outros, o processo de logística reversa é obrigatório, conforme disposto no Art. 33 da

PNRS, [...] são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante

retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público

de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,

distribuidores e comerciantes.[...] (BRASIL, 2010).

A revenda de resíduos sólidos pode ser um fator que impulsione o retorno desses materiais ao

ciclo produtivo, por isso foi verificado a existência dessa alternativa na zona rural, além de

obter os subsídios iniciais para começar a delinear a estrutura da cadeia de logística reversa

que pode estar operando nessas comunidades. Para isso, investigou-se, a princípio, a

ocorrência desse comércio, em tempo presente ou passado, e assim se tornou conhecido que

88% das pessoas nunca venderam materiais no fim de sua vida útil, ou seja, o que caracteriza

os canais reversos de pós-consumo. No entanto, os 12% restante são adeptos dessa prática.

Salienta-se que apesar de ser um número, relativamente, baixo, é totalmente condizente com a

situação encontrada a nível nacional, haja vista que uma pequena quantidade dos resíduos

sólidos gerados no Brasil são reaproveitados, se comparado ao que é produzido, havendo

muito no que avançar, em termos de disseminação e efetiva prática da logística reversa e das

demais diretrizes estabelecidas na PNRS. Basta considerar os números conseguidos através

das iniciativas de reciclagem, que de acordo com a CEMPRE (Compromisso Empresarial para

Reciclagem, 2010) é um mercado que movimenta cerca de R$ 12 bilhões por ano, mas o

Brasil ainda perde outros R$ 8 bilhões por não reaproveitar os resíduos que são destinados aos

lixões ou aterros controlados. Cerca de 70% das cidades brasileiras descartam o lixo dessa

forma.

Em uma visão geral, tem-se a tabela 02, que sintetiza e expõe a representatividade de cada

tipo de resíduo comercializado com relação à amostragem, dessa forma, aproximadamente

3%, de todas as possibilidades potenciais de revenda, se concretiza, havendo, portanto um

vasto campo para se propagar. Nesse cenário, o item que se destaca como mais vendido está o

alumínio, seguido por “ferro-velho”, as garrafas pet, o vidro, e por último, o papelão.

Tabela 02 - Tipos de resíduos comercializados na área rural.

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COMERCIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS

TIPO DE

MATERIAL

N º DE PESSOAS QUE

COMERCIALIZAM

Nº TOTAL DE

PESSOAS PORCENTAGEM

Alumínio 93 891 10,44%

Vidro 4 891 0,45%

Papelão 2 891 0,22%

Pet 10 891 1,12%

Ferro-velho 13 891 1,46%

TOTAL 122 4455 2,74%

Fonte: Pesquisa de campo

Em relação ao alumínio é o item vendido no maior número de povoados, 12 deles, exceto na

Várzea e na Baixa Funda. Esse dado retrata o cenário nacional, pois segundo o IBGE (2010),

“é o campeão de reciclagem no país, com índice de 90%”, destaque para as latinhas que

“aproximadamente 98% da produção nacional de latas consumidas foi reciclada em 2010.”

(CEMPRE, 2011).

A comercialização desse item, na zona rural do município, se dá ao preço médio de R$ 1,25,

cuja periodicidade mais freqüente é a anual e os principais compradores são aqueles que vêm

de outras localidades, normalmente, da área urbana, sendo eles mesmos que se dirigem até os

povoados para comprarem os resíduos, seguido pelo transporte destes para outros locais.

Destaca-se o Rio do Sal com o maior percentual de pessoas que participam desse processo, e

o Arrastapé é o menos envolvido, com 2% de representatividade, embora, neste último, o

preço de revenda do alumínio seja praticado a um preço superior, R$ 2,00, quando comparado

aos demais, que mesmo assim possuem um percentual de participação mais elevado.

O vidro é comercializado em apenas 2 dos povoados, a um preço médio de R$ 0,45/kg,

semestralmente e para atravessadores de outras localidades. Seu potencial, atual de

comercialização, é explorado somente em 2%. No Brasil 47% das embalagens de vidro foram

recicladas em 2010, somando 470 mil ton/ano. (CEMPRE, 2011).

O papelão é vendido somente no Riacho, atingindo apenas 2% de sua população potencial, ao

preço de R$ 0,15/kg, mensalmente, e para atravessadores do próprio povoado. Diferentemente

da média do país, em que 70% do volume total de papel ondulado (papelão) consumido no

Brasil em 2010 foi reciclado. (CEMPRE, 2011). Pode se explicar em virtude do preço de

comercialização desse material ser baixo.

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As garrafas pet, por sua vez, são vendidas em 3 dos 14 povoados, a um preço médio de R$

0,25/kg, com periodicidade mensal e, em sua maioria, para atravessadores de outras

localidades. Conforme a CEMPRE (2011), 56% das embalagens pós-consumo foram

efetivamente recicladas em 2010, totalizando 282 mil toneladas. As garrafas são recuperadas

principalmente através de catadores e cooperativas, além de fábricas e da coleta seletiva

operada por municípios.

Já os materiais que são denominados, popularmente, como ferro-velho, trata-se do ferro e

derivados presente em inúmeros itens, é revendido em 5 povoados, ao preço médio de R$

0,40/kg, em alguns locais mensalmente em outros semestralmente, para clientes de outras

localidades. Atinge 4% de seu potencial de comercialização.

Percebe-se, de modo geral, e em conformidade com o resultado total encontrado e discutido

na tabela 03, que é baixo o percentual dos domicílios potenciais atingidos, para todos os

materiais, além da periodicidade de comercialização se dá de forma irregular, apontando para

a necessidade de promoção de campanhas para sensibilização e informação da comunidade e

também de uma estruturação do canal reverso de pós-consumo, adequado as particularidades

da região, de maneira que assegure sua funcionalidade e alcance os resultados pretendidos, em

termos de benefícios para a sociedade e para o meio ambiente.

Essa iniciativa demonstra uma oportunidade interessante, servindo de modelo a ser

implantado nos demais povoados, pois ao suscitar um responsável, residente na comunidade,

funcionará como ponto de referência e concentração de todo o material arrecadado ou

comprado, direcionado pelos próprios moradores, de maneira que irá facilitar a execução de

todo o processo de recolhimento, acondicionamento e transporte dos resíduos para o local

onde possa receber a destinação mais adequada, promovendo efetivamente a responsabilidade

compartilhada, tão defendida na PNRS.

Logo abaixo, na figura 02, segue uma esquematização, para melhor visualização e

entendimento, do processo de comercialização de resíduos que é executado na zona rural do

município, com base nos dados explanados anteriormente.

Figura 02 - Processo de comercialização de resíduos na área rural.

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APJ

AOL

APP

DOMICÍLIO

*AOL= Atravessador de outras localidades; *APP= Atravessador do próprio povoado; *APJ=

Atravessador do povoado Juá.

Fonte: Pesquisa de campo

Com a totalidade das informações obtidas, até então, a respeito do descarte dos resíduos

sólidos domiciliares rurais, e considerando o escopo e o objetivo da presente pesquisa, pode-

se dar início ao delineamento de sua cadeia reversa de pós-consumo, assim apresenta-se o

fluxograma, na figura 03, que demonstra as alternativas adotadas, atualmente, para os

referidos materiais no final de sua vida útil.

Figura 03 - Fluxograma da cadeia reversa de pós-consumo dos resíduos sólidos domiciliares

rurais.

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DOMICÍLIO

Existe a coleta?

Coleta

SIM

Transporte

Local de

deposiçaõ

Estar nas

condições ideais?

Acumular

NÃO

NÂO

INÍCIO

Queimar FIM

Acondicionar

Acumular

Acumular

NÂO

COMERCIALIZAÇÃO

Comercializar

com AOL?

NÂO

SIM

Jogar a céu

aberto?

Queimar?

NÃO

Enterrar

Comercializar

com APP?

NÂO

Revender para

AOL?

Revender para

AOL?SIM

SIM

SIM

SIM

NÂO

SIM

SIM

SIM

NÃO

SIM

NÃO

Comercializar

com APJ

*AOL= Atravessador de outras localidades; *APP= Atravessador do próprio povoado; *APJ=

Atravessador do povoado Juá.

Fonte: Pesquisa de campo

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4. Considerações finais

No tocante ao processo de descarte efetuado nos domicílios rurais foi evidenciada a aplicação

de algumas práticas, sendo que todas essas possuem algum agravante que resulta em danos e

prejuízos, seja para a população ou para o meio ambiente. Até mesmo naquelas localidades

em que existe a coleta há a incidência de malefícios, pois não são usados os meios adequados

para realizá-la e a destinação final recebida é a queima, a céu aberto, do montante de materiais

recolhidos e acumulados, em área situada no próprio povoado, lançando gases tóxicos no ar,

além de não ser aplicável para todo e qualquer item, pois há aqueles que não são destruídos

completamente (alumínio, vidro, etc.) e após esse processo ainda permanecem resíduos que

continuam dispostos no solo.

Mediante a execução da pesquisa foi possível identificar os impactos sociais e ambientais

decorridos da geração dos resíduos e que estão incidindo sobre a área estudada, uma vez que,

por meio desta, conheceu-se o quadro de ocorrência de enfermidades e de acidentes com

animais e crianças, bem como o grau de risco e exposição ao qual estão submetidos. Também

foram relatadas as condições de uso do solo cultivável e da água de consumo, que apesar das

melhorias na forma de abastecimento do recurso hídrico e da redução da utilização das terras

para a produção agrícola, houve o registro de casos em todas essas variáveis investigadas,

sinalizando para a contaminação desses fatores e o comprometimento da saúde pública em

virtude do contato direto e indireto com os resíduos sólidos.

No que concerne a prática da logística reversa na zona rural do município de Paulo Afonso,

foi comprovada sua existência, todavia em números não muito expressivos e de forma

desestruturada. Contudo, revela a possibilidade de ser ampliada por meio da mobilização da

população acerca dos benefícios advindos, pois, dificilmente, percebem outras contribuições,

em termos ambientais e sociais, sendo mais evidente o lado financeiro do processo. Em razão

do pouco conhecimento demonstrado, já que descartam todo tipo de material junto do lixo

comum, também, é preciso alertá-las sobre aqueles materiais que tem canal reverso

obrigatório e instituído em lei, uma vez que o estabelecimento de marcos regulatórios, como a

PNRS, dão outra dimensão de debate para o assunto, ganhando mais ênfase. Mas para que as

pessoas cumpram com esse papel, considerando a responsabilidade compartilhada, precisa-se,

além da informação, disporem de postos de coleta mais acessíveis a essas localidades.

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