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Os desafios do mercado da energia
XI Conferência da RELOP,Brasília, 21 de maio de 2018
Alexandre Santos
• Portugal é caracterizado por não ter jazidas de gás natural, ou seja, não há produção de gás natural em território nacional. O aprovisionamento de gás natural para o mercado português é efectuado através de contratos "take-or-pay" de longo prazo em que os principais países fornecedores de gás natural são a Argélia e a Nigéria.
A organização do Sistema Nacional de Gás Natural (SNGN) assenta fundamentalmente na exploração da rede pública de gás natural, constituída pela Rede Nacional de Transporte, Instalações de Armazenamento e Terminais de GNL e pela Rede Nacional de Distribuição de Gás Natural.
A disponibilização do gás natural, por se tratar do acesso a um bem essencial, está sujeita a obrigações de serviço público, da responsabilidade de todos os intervenientes do setor, e de entre as quais se destacam: (i) a segurança, a regularidade e a qualidade do abastecimento; (ii) a garantia da universalidade de prestação do serviço; (iii) a garantia da ligação de todos os clientes às redes; (iv) a proteção dos consumidores designadamente quanto a tarifas e preços; (v) a promoção da eficiência energética e a proteção do ambiente.
Aos agentes que intervêm no setor são assegurados os seguintes direitos: (i) liberdade de acesso ao exercício das atividades; (ii) não discriminação; (iii) igualdade de tratamento e de oportunidades; (iv) imparcialidade nas decisões; (v) transparência e objetividade das regras e decisões; (vi) acesso à informação e salvaguarda da confidencialidade da informação comercial considerada sensível e (vii) liberdade de escolha do comercializador de gás natural.
Neste contexto, a atividade de regulação, exercida pela ERSE, tem por finalidade contribuir para assegurar a eficiência e a racionalidade das atividades em termos objetivos, transparentes, não discriminatórios e concorrenciais, através da sua contínua supervisão e acompanhamento, integrada nos objetivos de realização do mercado interno e da liberalização do setor.
Estão sujeitas a regulação as atividades de receção, armazenamento e regaseificação de GNL, de armazenamento subterrâneo, de transporte, de distribuição e de comercialização de último recurso de gás natural, bem como a de operação logística de mudança de comercializador.
A intervenção da ERSE no exercício das suas atribuições relativamente ao setor do gás natural, desenvolve-se, de entre outras, nas seguintes áreas: (i) Liberalização do setor do gás natural; (ii) Criação do Mercado Ibérico de Gás Natural (MIBGAS); (iii) Monitorização das atividades e dos agentes do setor; (iv) Definição de tarifas e preços para as atividades reguladas; (v) Promoção de níveis adequados de qualidade de serviço; (vi) Elaboração de regulamentos; (vii) Disponibilização de um suporte gráfico e numérico através de factos e números, e (viii) Realização de inspeções e auditorias.
• A criação e desenvolvimento do mercado ibérico do gás natural assume particular relevância para os consumidores e comercializadores. Tendo em conta a importância da capacidade de recepção de gás natural liquefeito (GNL) da Península Ibérica nos contextos europeu e mundial é possível perspectivar a afirmação do Mercado Ibérico de Gás Natural (MIBGAS) como mercado de referência a nível internacional. Com efeito, segundo dados de 2006, este mercado é constituído por cerca de 7,3 milhões de consumidores (6,4 milhões em Espanha e 0,9 milhões em Portugal) envolvendo vendas anuais de cerca de 446000 GWh, o que o situa como o quarto mercado em termos de vendas na União Europeia. O Gás Natural Liquefeito (GNL) importado pelo mercado ibérico corresponde a mais de metade do volume total de GNL importado pela Europa.
• Considera-se assim que a integração dos sistemas do sector do gás natural de Espanha e de Portugal é benéfica para os consumidores de ambos os países.
• O acesso a todos os agentes em condições de igualdade de tratamento, de transparência e de objectividade deverá ser assegurada no MIBGAS. O quadro jurídico para o seu desenvolvimento deve ser estável, e estar em consonância com a legislação e regulamentação europeia aplicável. A criação do MIBGAS tem os seguintes objectivos:
• Aumentar a segurança de fornecimento através da integração dos mercados e da coordenação de ambos os sistemas do sector do gás natural e reforço das interligações.
• Aumentar o nível de concorrência, reflectindo a maior dimensão do mercado e o aumento do número de participantes. • Simplificar e harmonizar o quadro regulatório de ambos os países. • Incentivar a eficiência das actividades reguladas e liberalizadas, bem como a transparência do mercado. • O processo de harmonização e construção do MIBGAS tem sido desenvolvido de forma gradual e de mútuo acordo entre Espanha e Portugal,
estando subjacente uma contribuição activa de ambos os países na concretização de um mercado europeu de gás natural.• Com o objectivo de coordenar os trabalhos de harmonização regulatória, necessários ao desenvolvimento do Mercado Ibérico de Gás Natural, foi
proposta a criação de um Comité de Coordenação do MIBGAS, constituído pelas entidades reguladoras de Espanha e de Portugal (CNE e ERSE), podendo ser convocados, a fim de serem ouvidos mas sem direito de voto, os operadores dos sistemas de gás natural (ENAGAS e REN), assim como os representantes dos sujeitos que actuam no mercado ibérico de gás natural. As atribuições deste Comité visam a elaboração de propostas de regulação e de recomendações necessárias ao desenvolvimento do MIBGAS.
No desenvolvimento do MIBGAS deverão ser utilizadas as melhores práticas de transparência, procurando-se o envolvimento de todos os interessados, através da utilização sistemática de processos de consulta pública.
• Em julho de 2014 a ERSE e a CNMC realizaram de forma coordenada uma nova consulta pública sobre modelos de integração dos mercados de gás natural de Portugal e de Espanha adequados à criação de um mercado organizado de forma a garantir a liquidez e competitividade necessária à região ibérica. Resultou da consulta pública que o modelo inicial a implementar seria o de alocação implícita de capacidade. Na consulta foram apresentados 3 modelos:
• Área de Mercado - Este modelo consiste na criação de uma única área de mercado, através da integração das redes de transporte num único sistema de entrada e saída, com uma única zona de balanço. Neste modelo, existe um ponto virtual, que é o ponto de compra e venda grossista de gás natural, independentemente da sua localização física ou da sua proveniência.
• Mercado regional - Neste modelo também as redes de transporte de gás natural são integradas num único sistema de entrada e saída, mas tem por principal diferença com o modelo anterior a coexistência de duas áreas de balanço.
• Mercado integrado com alocação implícita de capacidade - Este modelo está focado no desenvolvimento de uma bolsa comum, permitindo em simultâneo a alocação de capacidade nas interligações e a venda de gás natural, entre duas áreas de balanço. Desta forma, a alocação de capacidade e a compra e venda de gás seguirão os sinais de mercado.
• Nesta página disponibiliza-se igualmente o documento de Auto-avaliação do estado do Mercado de gás natural em Portugal, que resultou de um compromisso assumido pelos reguladores no âmbito dos trabalhos do documento "Bridge to 2025" da ACER, bem como do Gas Target Model 2.0 (GTM), de apresentar pública e periodicamente os resultados da monitorização do bom desenvolvimento do mercado grossista de gás natural. Neste documento são apresentados os principais marcos do MIBGAS e a caracterização do estado atual do mercado visando a concretização do modelo de alocação implíta de capacidade.
Para a sociedade – grandes tendênciasPara o setor da energiaPara a regulação da energia
o setor do gás natural em Portugal
Os desafios do mercado da energia
Desafios para a sociedade – grandes tendências
Recentração no indivíduo, no social, na partilha, acompanhadas de mudanças demográficas e sociais
Crescentes preocupações com pobreza e desigualdade, com as alterações climáticas, degradação do ambiente e escassez de recursos
Num contexto de enorme e rápida inovação tecnológica e globalização, de urbanização acelerada introduzindo mudanças no equilíbrio de poder mundial
Objetivos da ONU - Agenda para o Desenvolvimento sustentável 2030 incluiGarantir acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis e modernas para todosConstruir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovaçãoTornar as cidades e comunidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveisGarantir padrões de consumo e de produção sustentáveisAdotar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactosProteger, restaurar e promover o uso sustentável de ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, travar e reverter a degradação dos solos e travar a perda de biodiversidade
Os desafios para o setor da energia – 6 forças transformadoras
Inovação tecnológica
Descarbonização e alterações climáticas
Atomização dos atores
Globalização e atenção sobre o
preço
Segurança abastecimento,
fiabilidade e qualidade
Alteração da cadeia de valor
Contadores e redes inteligentes Produção fotovoltaica
Redução da intensidade energética do PIB
Crises económicas e volatilidade dos preços dos combustíveis
Energias renováveisEficiência energética dos aparelhos
Hábitos de consumo
Novos canais e formas de comunicar com o cliente
Maior participação nas escolhas comuns
Concorrência global da indústria intensiva em energia
Eletrificação da vida quotidiana e mais exigência sobre a qualidade de serviço
Virtualização dos mercados
Interligação das redes e integração dos
mercados
Produção para consumo próprio
Serviços inovadores ao cliente Redução das economias de escala na produção
Veículo elétrico
Biogás
Veículos a GN
Backup às centrais renováveis intermitentes
Edifícios inteligentes
Mecanismos de contratação em grupo
Qualidade e custoReforço qualidade serviço num contexto demaior incerteza e complexidade resultantesde novos serviços e a inovação tecnológicaque incrementam a sensibilidade dosconsumidoresDefesa da competitividade dos custos etransparência dos preçosMaior diversidade e flexibilidade doserviço, adaptando a oferta àsnecessidades de cada consumidorNovas estruturas tarifárias, proteção deconsumidores vulneráveis - eficiênciaenergética e concorrência entre formas deenergia podem reduzir a utilização dasredes, aumentando o custo médio unitáriodo serviço e realocando os custos das redesentre grupos de consumidores.
Os desafios para a regulação – 4 grandes vetores
ConsumidorNum setor mais complexo, é crucial melhorar a informação dos consumidores sobre as condições de mercado: preços, serviços, direitos.
Consultas públicas e análises de custo e benefício no longo prazo para o sistema, monitorização dos resultados obtidos
A definição de políticas públicas deve assentar em boa informação e modelos de previsão
Investimento na literacia energética dos consumidores, na sua informação e na sua capacitação para fazer escolhas
A energia não é um fim mas um meio e a disponibilidade e atenção do consumidor são
limitadas
Mercado interno europeu
• Equilíbrio entre regras europeias e especificidades nacionais (Integração europeia nas competências nacionais –assinalar a mudança paradigma decisório: “Shift from national to regional approach” / ACER –estabelece regras do mercado e de operação do sistema )
• Relações regulatórias multilaterais (MIBEL, MIBGAS)
• Reforço das interligações e dos mecanismos de mercado
Os desafios para a regulação Novos agentes no mercado ...Exigem
– mecanismos eficazes de supervisão -liberalização deve beneficiar consumidores com ganhos de eficiência e de inovação.
– Adaptação dos modelos de mercado às características de produção em pequena escala, dispersa, intermitente, stand-alone – trazemnovos desafios aos mecanismos de mercado e aos incentivos económicos que eles transmitem.
– Promoção da concorrência entre recursosdispersos na rede também exige novos modelosde mercado: produção centralizada, produçãodistribuída, participação da procura, sistemas de armazenamento.
– Integração dos mercados de energia, o acesso às fontes de fornecimento externas e promoção da garantia de abastecimento europeia devem ser articulados.
Temas críticos para a sustentabilidade do sistema em PT
• O GN não tem universalidade, é fungível, substituível por outras fontes de energia – num
contexto de transição energética, em que o autoconsumo e a produção descentralizada de
energia elétrica desincentiva a utilização do GN
• A importância do GN para o mix energético – bem demonstrada num ano como o atual, de
seca – não é justificação suficiente para a sustentabilidade a longo prazo do setor
• Portugal é um país com consumos unitários reduzidos comparativamente com os restantes
países da Europa, uma vez que não existe uma grande penetração do gás natural para
aquecimento (os clientes domésticos representam apenas cerca de 7% do consumo de GN)
• Diminuição do consumo GN pode contribuir para o agravamento das tarifas de
acesso às redes
Variações das tarifas de acesso às redes de gás natural
Os custos de rede (v.g. em BP e MP) tiveram crescimento significativo emresultado
• da quebra de consumo associada à produção de energia elétrica;
• estagnação do consumo industrial;
• crescimento do custo de capital das redes de distribuição por via da crisefinanceira e da taxa de juro das OT
Estes efeitos, hoje estão ultrapassados e regista-se:
• redução da taxa de remuneração do custo de capital das redes dedistribuição;
• fim da recuperação dos desvios tarifários das redes de distribuição;
• crescimento do consumo nacional de gás natural.
Evolução diferença entre preços médios finais em Portugal e média UE28 de 2010 a 2016
Cf. Eurostat o preço médio final sem IVA, em todas as bandas de consumo, regista o seu máximo no 2º semestre 2014. Desde então tem uma redução significativa
A banda de consumo I1 tem maior diferença, que continuará a ser aperfeiçoada nos próximos exercícios tarifários
Evolução diferença entre preços médios finais em Portugal e Espanha, de 2010 a 2016
A banda de consumo I1 é a mais representativa a nível de número de clientes (94%) e a menos representativa em termos de consumo de energia (2%).
Terminal de Sines
A ERSE tem procurado medidas de incentivo à utilização da infraestrutura por novos entrantes e comercializadores de carteira de consumo reduzida.
A análise histórica revelou que o mercado não aderiu e encontrou alternativas ao Mecanismo de Incentivo à Existência de Trocas Reguladas que tinha como objetivo fomentar as trocas reguladas de GNL entre o comercializador do Sistema Nacional de Gás Natural (SNGN) e os agentes de mercado que pretendessem atuar no mercado de gás natural
Espera obter melhores resultados com o mecanismo de continuidade -baseado no princípio da gestão integrada de navios e utilização repartida dos volumes de GNL descarregados, maximizando a eficiência de utilização do espaço dos tanques e reduzir os custos de armazenamento para todos os agentes de mercado - e a definição de uma nova tarifa de uso do Terminal de Sines no ano gás 2018/19
MIBGAS
Espanha criou, em 2015, a plataforma de mercado organizado de gás natural (MIBGAS) e Portugal designa o MIBGAS como a plataforma de mercado aplicável a Portugal
O desenvolvimento do mercado ibérico do gás natural carece ainda de impulso político que esclareça do modelo de governação entre os 2 países.
A nível instrumental, na vertente regulatória, todas as ações possíveis e ao alcance da ERSE foram tomadas visando a integração do mercado ibérico de gás natural e a liquidez do mercado grossista no SNGN - harmonização de regras – incluindo a utilização da capacidade de interligação.
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Gás Natural: Mercado livre
Número de consumidores no mercado liberalizado
ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
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1145 mil consumidores
3562 mil consumidores
Switching de 66 mil
consumidores num ano
(> 5mil / mês)1160 mil consumidores em abril de 2018
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Gás Natural: Mercado livre
Volume (of supplied gas) in market tariff
ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
90%
Cerca de 97% do consume de gásnatural está em mercado livre;
evolução constanteao longo do ano
Todos os grandes consumidores e cerca de 95% dos consumidores
industriais estão num comercializadorem mercado livre. Os consumidores
domésticos e as PME apresentam um crescimento consistente durante
2017.
100%
95%
73%
82%
Peso do ML por segmento (consumo)
Grandes consumidores Industriais
PME Residencial
59,1%
8,4%
8,7%
11,8%
7,3%
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Dez.2017
55,1%
13,3%
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9,2%
6,9%
4,2%
0,4%
Dec.2016
Gás Natural: Mercado livre
Quotas de mercado - consumo
ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
Others
97,0%
Consumo
Mercado Livre
Mercado Regulado
23,9%
57,4%
4,0%
13,8%0,9%
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Dez.2017
Gás Natural: Mercado livre
Quotas de mercado – n.º de Consumidores
ERSE - Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos
Others
25,7%
55,3%
2,1%
16,8%
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Dec.2016
78,6%
N.º Consumidores
Mercado Livre
Mercado Regulado
Palavras a reter
• Moderação nos investimentos
• Ponderação na expansão da rede
Desfasamento entre o nível de investimento e a procura
que deve ser devidamente considerados nos PDIR
• Eficiência na gestão e custos
• Competitividade enquanto fonte de energia
OBRIGADA!
EDIFÍCIO RESTELORua Dom Cristóvão da Gama, 1, 3º
1400-113 LisboaPortugal Phone: +(351) 21 303 32 00
Fax: +(351) 21 303 32 01 e-mail: [email protected]: http://www.erse.pt