OS DESAFIOS DO PROCESSO DE SISTEMATIZAÇÃO DE … · trabalho desenvolvido com uma turma de 5º...

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0 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” OS DESAFIOS DO PROCESSO DE SISTEMATIZAÇÃO DE CONTEÚDO: uma experiência com uma turma do 5º ano do Ensino Fundamental I MARIA DO SOCORRO BARROS FEITOSA CINTRA Prof Orientadora: Dayana Trindade São Luís - MA 2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

OS DESAFIOS DO PROCESSO DE SISTEMATIZAÇÃO DE

CONTEÚDO: uma experiência com uma turma do 5º ano do

Ensino Fundamental I

MARIA DO SOCORRO BARROS FEITOSA CINTRA

Prof Orientadora: Dayana Trindade

São Luís - MA

2014

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OS DESAFIOS DO

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

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Ensino Fundamental I

IA DO SOCORRO BARROS FEITOSA CINTRA

Monografia apresentada ao Instituto A Vez do

requisito parcial para a obtenção do título de es

Supervisão Escolar.

Prof. Orientadora: Dayana Trindade

São Luís - MA

2014

1

ATIZAÇÃO DE

do 5º ano do

TRA

ez do Mestre como

de especialista em

2

“Como professor devo saber que sem a curiosidade que me move,

que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo nem

ensino. Exercer a minha curiosidade correta é um direito que tenho

como gente e a que corresponde o dever de lutar por ele, o direito

à curiosidade”

(Paulo Freire)

3

RESUMO

O presente trabalho monográfico apresenta uma reflexão acerca dos desafios que envolvem a sistematização de conteúdos numa turma de 35 alunos, do 5º Ano do Ensino Fundamental I de uma escola da rede pública de São Luís - MA, cujo nome fictício é Monte Castelo (forma de assegurar a privacidade da escola que serviu como campo de pesquisa e análise). O trabalho apresenta situações que motivaram o grupo a aprender e buscar mais conhecimento, facilitando a sistematização, concluindo o quanto o ensinar e aprender envolve um universo de complexidade e por isso necessita de uma gestão compartilhada e um contínuo acompanhamento/parceria entre todos, especialmente: supervisor e professor, pois são os que lidam mais diretamente com os alunos. Teoria e prática na perspectiva Interacionista da aprendizagem exige constante exercício de ação-reflexão- ação, e um trabalho de parceria entre todos que fazem a escola, para obtenção de resultados melhores (desde o planejamento pensado ao concretizado); E o Supervisor tem um papel fundamental nessa construção de parceria. Sabe-se que a eficácia do plano escrito, só se legitima na concretização da aula. E tudo isso vai paulatinamente ganhando visibilidade nos resultados obtidos em cada ano letivo, conforme aconteceu com essa turma de 5º Ano da escola Monte Castelo.

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METODOLOGIA

O presente trabalho relaciona-se ao universo de uma turma do 5º Ano

da rede pública, da escola Monte Castelo (nome fictício) do EF I da cidade de São

Luís -MA.

A metodologia dar-se-a por meio de pesquisa bibliográfica,

planejamento e execução de aulas na referida turma, análise tanto desses

instrumentos ensino aprendizagem quanto do acompanhamento do Supervisor

Escolar no trabalho relacionado à essa turma do 5º Ano do Ensino Fundamental I.

A referência de teóricos da educação na temática de cada capítulo, tais

como Vigotsky e Libâneo, contribui sobremaneira à compreensão do

estudo/análise desse importante trabalho acadêmico.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................... 6

CAPÍTULO I - BREVE ESBOÇO SOBRE A SISTEMATIZAÇÃO DO

PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM.......................................................

7

1.1 Contribuições da Visão Interacionista de Vigotsky................................. 8

CAPÍTULO II - A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO PARA A

SISTEMATIZAÇÃO DO ENSINO........................................................................

11

2.1 As etapas do planejamento........................................................................ 13

2. 2 O papel do Supervisor Pedagógico ......................................................... 14

CAPÍTULO III - A DINÂMICA DA SISTEMATIZAÇÃO DE CONTEÚDOS DE

ENSINO...............................................................................................................

17

3.1 Análise das aulas: teoria e prática............................................................ 18

CONCLUSÃO...................................................................................................... 22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................... 23

6

INTRODUÇÃO

O ato de ensinar exige constante devir tamanha é a complexidade. Na

trajetória dos aprendizes – seja educador ou educando - por diversas vezes,

observa-se tentativas e acertos, erros, equívocos e lacunas remediáveis ou não.

O presente trabalho tem como objetivo maior compreender os desafios

para atingir com eficácia a sistematização dos conteúdos escolares com uma

turma de 5º Ano do EF I numa perspectiva sócio interacionista.da aprendizagem.

O primeiro capítulo desse trabalho inicia abordando sobre o desafio da

escola em consolidar os conteúdos que são de sua responsabilidade de forma a

garantir que eles ultrapassem o universo escolar e tenha sentido para além dos

muros escolares. A sistematização desses conteúdos é refletida numa perspectiva

sócio interacionista da aprendizagem, quando o outro e a cultura exercem papel

primordial.

O segundo capítulo faz considerações acerca do planejamento como

uma ferramenta fundamental colabora para a organização, sistematização efetiva

e como instrumento que exige uma atitude dialética por parte de todos os seus

colaboradores. Aborda a importância da parceria do supervisor pedagógico com o

professor, e suas contribuições. Encerra apresentando as etapas que ele exige, a

quem estão submetidas. E a interdependência entre todas as etapas.

O terceiro capítulo trata do planejamento idealizado pelo professor

(escrito) e aquilo que foi possível executar (real) fazendo uma análise de como

funcionou o planejamento na sala de aula do 5º Ano da escola Monte Castelo e o

que colaborou para o êxito do trabalho desenvolvido pela orientanda com os

alunos dessa turma.

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CAPITULO I - BREVE ESBOÇO SOBRE A

SISTEMATIZAÇÃO DO PROCESSO ENSINO E

APRENDIZAGEM

A escola foi escolhida pelas sociedades como espaço para transmissão

do legado de conhecimento sócio-histórico-cultural deixado pela humanidade. E

dentre as funções mais complexas está a de transformar esses conhecimentos em

capacidades e habilidades que colaborem para a resolução de problemas da vida

prática, favorecendo o exercício da cidadania para a efetiva inserção no mundo do

trabalho.

Dessa forma, o grande desafio está posto na sistematização,

consolidação do ensino dos conteúdos que cabem à escola transmitir, a fim de

que sirvam para a vida do alunado para além dos muros escolares.

Segundo Souza (1997), “a sistematização é um instrumento, uma

forma metodológica de elaboração do conhecimento (...) é mais que organização

de dados, é um conjunto de práticas que propiciam a reflexão, práticas

conscientes e a reelaboração do pensamento” (...).

Portanto, espera-se que haja uma mudança de postura, um (re)

construção um novo modo de sentir da experiência cotidiana, uma interpretação

mais clara um agir mais consciente,

Cada vez mais, acreditamos que a sistematização é um construir constante, que nos despe de nossas certezas, nos transforma, momento a momento em busca de assumir uma atitude mais reflexiva diante da vida.

(Elza Falkenbach, 1995; p 23)

Vê-se que essa visão estabelece entre sujeito e objeto do conhecimento

uma dinâmica permanente de construção e desconstrução onde a prática uma vez

desconstruída, possibilita o compromisso com a tomada de um rumo em que os

sujeitos já não serão os mesmos.

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Esse instrumento tão essencial utilizado na escola carrega uma

intenção por trás da linha norteadora de pensamento que o segue. Daí porque é

essencial que haja clareza na sua escolha.

1.1 Contribuições da visão Interacionista de Vigotsky

Sabendo da importância da responsabilidade quanto à escolha de uma

linha pedagógica que possa nortear a atividade de sistematização dos conteúdos,

é que o presente trabalho pauta toda sua análise na linha sócio-interacionista

(sem com isso desconsiderar a relevância das demais), pelo êxito obtido no

trabalho desenvolvido com uma turma de 5º Ano do EF I da escola pública

municipal Monte Castelo da cidade de São Luís MA (nome fictício, em

preservação à privacidade da escola).

VIGOTSKY (1988), defensor da linha sócio-interacionista da

aprendizagem, afirma que todas funções no desenvolvimento da criança

aparecem duas vezes no ciclo do desenvolvimento humano: primeiro, no nível

social, ou seja, entre pessoas (interpsicológica) e, depois, no nível individual, ou

seja, no interior da criança (intrapsicológica). Da mesma forma ocorre com a

atenção voluntária, a memória lógica e a formação de conceitos. Todas as funções

superiores originam-se, segundo ele, das relações reais entre indivíduos

humanos.

Para VIGOTSKY (1998) existem dois níveis de conhecimento: o real e o

potencial. No primeiro o indivíduo é capaz de realizar tarefas com independência,

e caracteriza-se pelo desenvolvimento já consolidado. No segundo, o indivíduo só

é capaz de realizar tarefas com a ajuda do outro, o que denota desenvolvimento,

porque não é em qualquer etapa da vida que um indivíduo pode resolver

problemas com a ajuda de outras pessoas.

A mudança de comportamento individual passa pela interação com o

outro. Para ele a aprendizagem desencadeia vários processos internos de

desenvolvimento mental, que vêm concretizar-se na interação com o objeto do

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conhecimento e sujeito em cooperação. Uma vez internalizados, esses processos

tornam-se parte das aquisições do desenvolvimento. Essa é a gênese de sua

teoria.

Para esse teórico, a origem do mecanismo de mudança individual

reside na sociedade e na cultura. Aquilo que o sujeito não sabe resolver sozinho,

pode aprender na relação com o outro. Assim, pode o sujeito sair de uma zona de

conhecimento proximal (aquilo que já sabe) para uma zona de conhecimento real

(aquilo que pode aprender). E nesse intervalo, há o que ele denomina de zona

proximal (onde o mediador – que pode ser um colega mais experiente ou o

professor- atua para colaborar para que o sujeito aprendente construa o

conhecimento).

Essa concepção da ideia de que o sujeito está em aprendizagem

permanente na parceria com o outro. Uma vez atingido um potencial de

conhecimento atingido, este servirá de base para novas construções intelectuais.

O papel do professor é ser mediador domais experiente, aquele que planeja as

situações didáticas de forma que tire o aluno da zona de conforto- aquilo que já

sabe- para desafiá-lo sempre com consignas possíveis de resolver provocando

novas estratégias do aluno para a resolução de problemas. O ambiente deve

apresentar-se sempre favorável à aprendizagem. Aluno e professor são parceiros

e a disciplina, confiança mútua é mola propulsora dessa aprendizagem.

A sala de aula enquanto um laboratório onde aluno e professor

aprendem permanentemente deve ter objetos que sejam estimuladores para que o

aluno possa sentir-se desafiado a buscar e reconstruir o que já sabe ou buscar

conhecer aquilo que ainda não domina (revistas, cartazes enfim, objetos

exploratórios) aquilo que o professor considera significativo para a aprendizagem

do aluno, para que os questionamentos provocados pela assimilação do material

sejam respondidos, e na medida do possível, por ele próprio, o que será ponto de

partida para o professor ao planejar. Nessa tendência, diz Fernando Becker

(2001), “todos aprendem e ensinam: o professor ensina e aprende com o aluno e

o aluno; além de aprender, passa a colaborar, ensinando os parceiros menos

experientes”.

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As tendências pedagógicas, linhas norteadoras do trabalho escolar,

incorporadas pelos educadores, assumem um compromisso de mudança ou

permanência de valores na escola de fora implícita ou explícita, segundo a autora.

E a linha sócio interacionista, norteadora do presente trabalho monográfico

colabora na análise do trabalho de sistematização do ensino/aprendizagem com a

turma de 5º Ano, da escola Monte Castelo.

Convém ressaltar que as atividades cotidianas da referida escola adota

uma política de gestão democrática. Mensalmente são realizadas reuniões e

outras estratégias como visita à comunidade em que os alunos vivem para

desenvolver trabalhos sócio-culturais e atender às necessidades reais dessa

instituição que é estabelecer um elo de afeto, parceria e compromisso entre escola

e a família.

A partir das discussões e conclusão obtidas nessa parceria, a escola

estabelece metas e avança em suas ações. Os alunos vivenciam princípios de

gestão democrática, opinando, apontando falhas, soluções nesses encontros e os

professores, desenvolvendo metodologias que estimulem o aprender com o outro

e a valorização da cultura que trazem para o espaço escolar. Daí porque a linha

pedagógica defendida nesse trabalho é a sócio- interacionista que prima pela

interação social como ponto de partida para o aprendizado. A teoria Vigotskyana

evidenciam ênfase no processo ensino aprendizagem e não no resultado apenas,

promovendo uma aprendizagem mais eficaz, bem como proporciona a aquisição

de habilidades e atitudes científicas, conforme esse trabalho apresenta.

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CAPITULO II - A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO

PARA A SISTEMATIZAÇÃO DO ENSINO

Desde os tempos mais remotos o ato de planejar tem sido uma

necessidade básica e necessária ao trabalho dos indivíduos. Em relação à escola,

ele ganha uma importância maior ainda, pois, sem planejamento, não há

organização, sistematização do ensino. Só é possível pensar o fazer, planejando a

ação e buscando em seguida reflexão do trabalho desenvolvido com os alunos,

numa ação permanentemente dialética.

Para Libâneo (1998) a escola tem o complexo desafio de preparar os

cidadãos a adquirirem atitudes, ações e conhecimentos que os ajudem a resolver

problemas e desafios da vida prática.

A construção dessas atitudes e conhecimentos pressupõe que os

educadores realizem ações sistemáticas em sala de aula com a finalidade de

atingir a qualidade esperada no ensino. Há de se avaliar os caminhos que o

educador toma para que os alunos de fato aprendam os conteúdos trabalhados.

Inicia-se assim, a reflexão de um dos mais importantes objetos de

estudo da Didática,o planejamento de aula pelo fato de que,

O ato de planejar é processo de reflexão, de tomada de decisão sobre a ação; processo de previsão de necessidades e racionalização de emprego de meios (materiais) e recursos (humanos) disponíveis, visando à concretização de objetivos, em prazos determinados e etapas definidas, a partir dos resultados das avaliações (PADILHA, 2001, p. 30).

De fato, a operacionalização da aula exige organização, por isso a

previsão é fundamental, mesmo considerando que imprevistos, existam já que a

escola é um organismo vivo. Cabe no presente material monográfico a

apresentação de alguns dos planos de aula trabalhados na escola Monte Castelo

(nome fictício) produzido e executado pela orientanda desse trabalho para relação

da teoria defendida no corpo deste trabalho a fim de demonstrar o que contribuiu

para os avanços na sistematização do ensino de uma turma tão desafiadora,

12

como são as de 5º Ano, por serem a etapa final do EF I e base fundamental para a

etapa seguinte.

A autonomia da escola não é suficientemente grande ao ponto de

determinar todos os conteúdos de ensino, eliminando os que não são de sua

vontade,. há conteúdos que não podem fugir do currículo. Pois, os componentes

curriculares são determinadas/orientados por um órgão maior, MEC ( Ministério da

Educação e Cultura) através das Secretarias Municipais de Educação, com um

documento constituído por uma Base Comum e outra diversificada, de acordo com

a legislação nacional brasileira (LDBEN, 1996) e os PCNS (Parâmetro Nacional

Curricular, 1989). Isso não significa que não deva considerar as necessidades dos

educandos, pelo contrário, eles não podem deixar de ensinar o mínimo da base

comum, pois, há de se ter um parâmetro dentro de cada série do que é esperado

que aqueles alunos saibam minimamente.

A escola recebe ainda orientação quanto à prática pedagógica, porém,

o tem a liberdade de criar estratégias que considera mais favoráveis à

aprendizagem dos alunos de acordo com a realidade deles.

Segundo Libâneo (1998) um dos grandes desafios dos professores é

preparar os cidadãos para se apropriarem dos conteúdos correspondentes às

disciplinas do currículo, de modo a adquirirem atitudes, ações e conhecimentos

que os ajudem a resolver problemas e desafios da vida prática. É o desafio da

sistematização do ensino.

Para esse autor, o planejamento deve servir não como documento

puramente burocrático a ser seguido sempre ao pé da letra, mas como um

parâmetro, um guia orientador do professor. O que vai exigir objetividade,

avaliação permanente do processo e propostas de atividades planejadas de

acordo com o contexto situacional da escola. Para ele é imprescindível a

verificação cuidadosa das etapas apresentadas a seguir.

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2.1 As etapas do planejamento

O planejamento é um documento que necessita de descrição das

etapas a serem vivenciadas em classe, num período específico, sendo

fundamental que nele estejam expressos:

• Os objetivos específicos que o professor pretende que os alunos atinjam

quanto ao conteúdo trabalhado

• Os conteúdos de acordo com os componentes curriculares, estes devem seguir

uma linha cronológica do processo de aprendizagem;

• A metodologia/estratégias de ensino utilizadas, sendo que essas devem ser

específicas a cada conteúdo. Esses procedimentos referem-se às fases de

aprendizagem utilizadas para atingir aos objetivos propostos;.

Os recursos próprios a cada estratégia utilizada para atingir aos objetivos;

• Avaliação, aspecto tão fundamental quanto o planejamento, na verdade são

indissociáveis. Deve realizar-se como uma ação permanente e dialética:

planejada- refletida, planejada com base nos avanços e retrocessos do percurso

de aprendizagem do aluno;

A cada etapa elaborada faz-se necessário um encadeamento de ações

e pensamento dando a ideia de continuidade do processo de aprendizagem dos

alunos, de forma que o planejamento tenha:

• adequação dos estímulos: deve-se manter coerência entre materiais

empregados e nível de abstração do pensamento do aluno;

• especificação operacional: o que será necessário acionar (espaço/tempo),

materiais que deverão ser disponibilizados, entre outros;

• estrutura flexível e ordenação: um plano não pode ser inflexível,

considerando que a escola é um organismo vivo,sujeita a mudanças. Porém deve

ter uma sequência lógica das ações, mesmo quando modificadas.

Todos os quatro passos citados têm uma relação de interdependência,

portanto não têm sentido trabalhados ou vistos individualmente.

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2.2 O papel do supervisor escolar

A escola hoje se constitui como espaço dialógico, embora muitos

resquícios de ranços da ditadura de idéias ainda permeiem esse espaço, na

postura de alguns educadores que consideram que abrir espaço para discussão

seja perder a autoridade e colocar todos em par de igualdade, o que para elas

representa uma ameaça. Isso fica expresso nas atitudes e falas dos alunos, caso

da escola Monte Castelo, que se mostram no dia a dia, com autonomia para

protagonistas do processo ou simplesmente no papel de receptores, o que não é o

caso da escola em questão. A escola precisa abrir-se para o diálogo. Porém, essa

é uma mudança que se dá paulatinamente e com uma gestão democrática, pois

“A escola é o espaço de encontro de múltiplas redes relacionais e de conhecimentos. Cada sujeito (...) vai mudando de acordo com os contextos em que vive seus múltiplos cotidianos e, com sua própria história em confronto com outras histórias coletivas e singulares, vai participando de um grande movimento do qual é parte, influindo e sendo influenciados.”

(ALVES e GARCIA, 2007, p.133-134)

Os professores da escola Monte Castelo, têm consciência de que seu

trabalho não é solitário e que a relação de afeto e parceria deve ser alimentada

constantemente.

Nos momentos em que antecede o planejamento de aula, na referida

escola, os professores vivenciam trabalhos grupais sob o comando do supervisor

que, motiva-os a manter uma relação harmônica, de troca de experiências e

avaliação contínua. O resultado é satisfatório, pois todos os professores

manifestam ansiedade pelo momento da socialização.

O planejamento ocorre quinzenalmente com o acompanhamento

sistemático do Supervisor Pedagógico que orienta para que esse seja flexível e

contextualizado com a realidade dos alunos.

No trabalho de acompanhamento, o Supervisor organiza grupos de

professores por etapa de ensino, momento em que faz orientações sobre as ações

mais importantes propostas verbalmente pelos professores; ele faz considerações

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de viabilidade ou não e ainda apresenta devolutiva escrita do planejamento do

professor, quando enfatiza a importância da clareza das ações escritas e de que

estabeleçam relação entre cada etapa a ser desenvolvida.

Direção e Supervisão socializam o plano de ação que será

desenvolvido por elas, para sanar e/ou minimizar problemas colocados pelos

alunos (para os professores na sala de aula) e colocado pelos professores nos

(planejamentos anteriores). E a partir daí, analisa-se conjuntamente mudanças

e/ou ajustes que colaborem para o êxito do trabalho escolar.

A supervisora segue os trabalhos no dia do planejamento fazendo

uma leitura de um texto nem sempre com a finalidade de analisar sua temática ou

conteúdo, mas para garantir a permanência do hábito de leitura em diferentes

situações do cotidiano escolar. Em seguida faz orientações gerais das demandas

da quinzena de forma breve e orienta que as professoras formem grupos por

segmentos de ensino. Assim, o grupo de professoras da mesma série planeja

refletindo com a supervisora, o que deu certo ou não em cada sala de aula e o que

precisa ser revisto. As professoras após socializarem experiências traçam o que

denominam como “esqueleto” do plano, pois este será concluído na íntegra, em

casa, porém todo o esboço e decisão são discutidos naquele espaço. A entrega

do plano na íntegra ocorre na segunda feira, cedo, de modo que a supervisora

possa dar uma devolutiva ainda em tempo de ajustes, mudanças e/ou

permanências no planejamento.

Para Medina (1997), o trabalho do supervisor, centrado na ação do

professor não pode ser confundido como assessoria ou consultoria, por ser um

trabalho que requer envolvimento e comprometimento. Segundo a autora o

supervisor escolar tem como objeto de trabalho a produção do professor – o

aprender do aluno – e preocupa-se de modo especial com a qualidade dessa

produção. Portanto, o objeto de trabalho do supervisor é a aprendizagem do

aluno.

Na escola Monte Castelo o Supervisor tem a função de trabalhar a

formação continuada dos alunos; analisar e colaborar nos planejamentos

realizados pelos professores; montar um plano de ação com o professor para

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alunos com dificuldade de aprendizagem; assistir aulas para posterior devolutiva

aos professores quanto ao que percebeu de positivo, entre o real e o planejado

pelo professor; acompanhamento em atividades externas; acompanhamento dos

projetos pedagógicos; ser a ponte entre as salas de aula, promovendo

socialização daquilo que deu certo, em forma de reunião com professores,

direção, alunos e demais setores da escola. Ou seja, ele atua na articulação do

trabalho coletivo, integrando a todos.

A formação dos professores é um processo que se estende ao longo da

vida visando agregar competências e habilidades relacionadas a conteúdos

curriculares, estratégias de ensino, levando-o a auto aprendizagem e à

aprendizagem colaborativa. Nóvoa (1992), afirma que,

A formação não se constrói por acumulação de cursos, conhecimentos ou técnicas, mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re) construção permanente de uma identidade pessoal. Por isso é tão importante investir na pessoa e dar um estatuto de saber a experiência (1992, p. 25)

São vários os fatores que interferem na formação do professor e que

devem ser considerados, pois muitas vezes afeta seu trabalho positivamente ou

negativamente, conforme aponta PIMENTA (2001), “As mudanças históricas da

profissão, o exercício profissional em diferentes escolas, a não valorização social

e financeira, as dificuldades de estar diante de turmas com dificuldade de

comportamento e em escolas precárias”. Conclui-se que uma identidade

profissional se faz a partir de uma significação social da profissão.

Assim, a formação profissional do professor deve considerar tanto a

sua experiência pessoal quanto a do aluno, na perspectiva de sua prática social.

Diante do exposto, percebe-se a importância de levar em consideração

a realidade que o professor enfrenta na luta diária quanto à importância de

colaborar com um trabalho de intervenção e transformação do espaço escolar.

17

CAPITULO III - A SISTEMATIZAÇÃO NO PLANEJAMENTO

DE AULA: O IDEALIZADO E O POSSÍVEL

Para planejar e executar as aulas da turma do 5º Ano, turma destacada

nesse trabalho monográfico, foi necessário conhecimento da realidade da

comunidade em que os sujeitos, envolvidos nessa pesquisa, estavam inseridos.

Nem sempre aquilo que se planeja acontece na íntegra porque as demandas e

desafios pelos quais a escola passa, são imprevisíveis, muitas vezes, o que não

significa dizer que o plano é um instrumento que pode ser invalidado. Ele precisa

de flexibilidade para que possa acontecer com menos dificuldade de

operacionalização.

Monte Castelo, pseudônimo da escola escolhida fica num bairro de

classe média, porém atende às crianças e adolescentes de uma vila próxima, com

muitas carências de infraestrutura e problemas de ordem familiar (pais separados,

desempregados, mal remunerados ou que trabalham o dia inteiro, dificultando um

acompanhamento mais sistemático com aos filhos). Porém, aos poucos essa

realidade vai se modificando com os projetos da escola Monte Castelo

favorecendo a parceria família escola. Com ações sócias, educativas que os

levam cada vez mais a participar das atividades escolares do filho.

A turma analisada apresenta uma faixa etária de 8/9 anos, tendo como

professora a orientanda desse trabalho de pesquisa.

A escola é constituída por: 8 salas de aula, uma secretaria, uma

diretoria, um pátio, um refeitório, uma biblioteca e uma sala de Informática.

A escola oferece turmas de Ensino Fundamental I ( de 1º ao 5º Ano nos

turnos) no matutino e Fundamental II ( 6º ao 9 º Ano), no turno vespertino. No

noturno oferece cursos de Informática para os alunos que estudam na escola,

gratuitamente, como forma de incentivá-los nos estudos e a inserção posterior no

mundo do trabalho.

Do levantamento feito pela referida professora sobre a realidade da

comunidade em que a turma do 5º Ano está inserida a maior dificuldade

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encontrada é a falta de infra estrutura, (saneamento básico, limpeza, moradias

inadequadas, palafitas, na sua maioria) e letramento (boa parte dos moradores,

responsáveis pelo alunado não sabem ler). E essa realidade precisa ser

considerada no planejamento. As pesquisas precisam acontecer o máximo

possível dentro da escola e as atividades de casa devem ter um enunciado mais

simples possível, para que os alunos dêem conta de resolver com autonomia, pois

muitos não têm ajuda dos familiares. Em período de chuvas intensas os alunos

faltam com maior freqüência, pois há dificuldade de travessia devido a problemas

de infraestrutura, portanto a escola optou por facilitar e não dificultar a situação

dos alunos, buscando resolver o máximo possível os problemas que vivenciam.

O desafio posto para a orientanda é o de organizar os conteúdos dentro

de sequências de atividades pedagógicas pautadas numa linha de pensamento

que leve em consideração a realidade dessa comunidade e trazer possibilidades

de aprendizagens dos voltados para questões cotidianas, fazendo com que

percebam-se como sujeitos capazes de transformar essa realidade.

As propostas de atividades precisariam ser desafiadoras, mas possíveis

ao mesmo tempo de serem resolvidas com uma visão política transformadora. E

foi nesse contexto que as atividades/estudos foram planejados quinzenalmente.

Os planos de aula priorizaram na sua dinâmica, momentos em que os

alunos puderam desenvolver atividades em grupo e individualmente.

A seguir apresentam-se planos de aula analisados à luz da linha sócio

interacionista.

3.1 Análise das aulas: teoria e prática

Prática e teoria colaboram entre si, ao ponto que não é possível

dissociá-las. Nos planejamento abaixo, uma análise dos principais planos de aula

que colaboraram para o êxito dos alunos do 5º Ano e legitimação de que a teoria

de Vigotsky é uma grande parceira do processo ensino aprendizagem,

colaborando para o crescimento intelectual e de valores para a vida, pois legitima

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o homem como ser social que é da dependência que se tem do outro, nessa

sociedade tão carente de valorização do outro.

ÁREA DO CONHECIMENTO: ARTE E CULTURA RELIGIOSA

Turma: 5º Ano

Objetivos: Sensibilizar a produzir uma imagem positiva de si mesmo ( Cultura

Religiosa);

Conhecer o estilo de pintura de Frida Calo através dos autorretratos que produzia

(Arte).

Conteúdo: vida e obra de Frida Calo (Artes) Valores (Cultura Religiosa)

Recursos didáticos: espelho, caixa, imagens de Frida Calo, papel A4, lápis de

cera, vídeo sobre Frida Calo.

Tempo estimado: 150 minutos ( em três aulas)

Estratégia de aprendizagem:

• A professora passará numa roda uma caixa contendo um espelho e cada aluno

abrirá para comentar o que acha daquilo que viu (ele próprio) sem contar para os

colegas do que se trata; se já viram alguma arte que explore, mostre um elemento

como aquele que viram na caixa (imagem de si) em parede, ou qualquer outro

lugar... se tem como fazer arte com esse elemento e como chamariam a essa arte.

• Entrega de papel A 4 para representação daquilo que viu na caixa ressaltando o

que havia de melhor: ponto mais marcante para si);

• Socialização dos trabalhos em roda e das expectativas vivenciadas;

• Questionar o que imaginam sobre Frida Calo a partir de imagens apresentadas

em slides. Discutir em grupo (formação de 5 grupos de 7 alunos) o que as

imagens refletem sobre Frida Calo. Um aluno representando o grupo socializa o

que concluíram

• Assistir vídeo (50’m) sobre a vida e obra de Frida.

Avaliação: exposição dos conhecimentos expressos nas discussões realizadas

sobre a temática e estudo.

Análise: a professora valorizando conhecimentos anteriores dos alunos questiona

um conceito que tenham adquirido na vida cotidiana, reforçando a ideia de

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Vigotsky de reconhecimento da bagagem cultural que pode trazer para a sala de

aula e que muitas vezes não é reconhecida no espaço escolar.

O papel do professor é ouvir, acolher e mediar o que os alunos

explanam sobre o conteúdo para, a partir daí ampliar, reconstruir o conhecimento

apresentado. Cabe ressaltar que a aula inicia priorizando os conhecimentos

prévios dos alunos, instrumento de aprendizagem que recebe ênfase na

perspectiva sócio interacionista. Num momento posterior, os alunos são

incentivados a, além de construir uma imagem positiva de si mesmo, produzirem

com autonomia pintura de autorretrato. A criatividade dos alunos é estimulada,

bem como a socialização de idéias favorecendo uma (re) elaboração do

pensamento quando discutem sobre Frida Calo. Os slides colaboram nesse

trabalho de (re)construção do conhecimento científico e de (re)organização das

informações de modo que o conteúdo seja sistematizado numa ação dialética,

defendida por Vigotsky (1998), na trilogia, ação – reflexão - ação.

AREA DO CONHECIMENTO: LÍNGUA PORTUGUESA

Turma: 5º Ano

Objetivos: Construir conceito de adjetivo; Descrever com riqueza de detalhes o

objeto pretendido;

Empregar corretamente a classe gramatical em estudo;

Apresentar qualidades de seres diversos em textos descritivos.

Conteúdo: Adjetivo: saber a função do adjetivo /tipologia textual: texto descritivo;

Recursos didáticos: Gramática; livro didático; atividade xerocopiada

Tempo previsto: 1’50’’

Recursos didáticos: livro Contos Inocentes, de Arlete Nogueira; livro didático;

lousa; pincel para quadro branco; apagador; atividade xerocopiada.

Estratégia de aprendizagem:

I momento:

• Realizar leitura em voz alta do conto “Coração de Avinhano”- Arlete Nogueira

21

• Lembrando a proximidade do dia das mães, conversar sobre o conto lido

pedindo que ressaltem características da personagem - mãe - associando às

que assemelham-se às de sua mãe, justificando.

• Estabelecer um paralelo entre as ações/ características da mãe do conto. Ex;

é tolerante, pois está sempre pronta a perdoar os erros dos filhos.

• Explica que essas características, a forma como percebemos algo, são

chamadas de características psicológicas.

• Incentivar a verbalização das características do personagem - filho a partir da

descrição feita pela autora e socializar as respostas.

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CONCLUSÃO

É fato que a escola não pode tudo, mas pode mais. Pode acolher as

diferenças, desenvolver um trabalho dentro de uma gestão democrática e saberes

que ultrapassam os seus muros, porque devem ser para a vida. Acreditamos

como Abramowicz (1997), que

“É possível fazer uma pedagogia que não tenha medo da estranheza, do diferente, do outro. A aprendizagem é destoante e heterogênea. Aprendemos coisas diferentes daquelas que nos ensinam, em tempos distintos, (...) mas a aprendizagem ocorre, sempre. Precisamos de uma pedagogia que seja uma nova forma de se relacionar com o conhecimento, com os alunos, com seus pais, com a comunidade, com os fracassos (com o fim deles), e que produza outros tipos humanos, mais dóceis e disciplinados”. (p. 78)

A autora sintetiza de forma sublime a essência desse trabalho realizado

com sucesso nessa turma de 5º Ano do qual tiramos como aprendizado maior que

o outro – e isso quem ensina é Vigotsky - é aquele que pode tirar-nos do estado

de dormência para o estado de movimento; se acreditamos que aquilo que hoje

não conseguimos sozinhos, com o outro há, possibilidade de aprendermos mais.

Aprender com as diferenças é o que o trabalho em parceria nos traz de

melhor e essa é mais uma lição que tiramos desse trabalho monográfico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PIMENTA, Selma Garrido. Trabalho e formação de professores: saberes e identidade. IN: Educação caminhos em um novo milênio. Valfredo de Souza Ferreira (org.). João Pessoa: autor associado, 2001.

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VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.