Os doze trabalhos de Hércules

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Resenha BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro. Os doze trabalhos de Hércules do oral para o escrito. São Paulo: Parábola, 2013. Jeannie Fontes Teixeira 1 Stella Maris Bortoni-Ricardo e Veruska Ribeiro Machado são organizadoras do livro Os doze trabalhos de Hércules : do oral para o escrito, uma coletânea de 12 artigos que tratam das principais dúvidas que (des)norteiam a prática do professor moderno: Que gramática ensinar na escola?, O que é bimodalidade e qual sua importância?, Como promover uma refacção significativa dos trabalhos escolares?, Como utilizar produtivamente o tempo em sala de aula?, dentre outras. A primeira organizadora, pós-doutora em Sociolinguística e Etnografia em sala de aula, lidera uma linha de pesquisa “ Letramento e Formação de Professores na UnB e desde 1998 trabalha com formação de professores. Em sua página pessoal, a docente informa que foi uma decisão conciente e intencional que a fez mediar a transição da teoria sociolinguística para a área aplicada de formação de professores. A segunda organizadora, Veruska Ribeiro Machado, é doutora em Educação e exerceu a função de técnica em assuntos educacionais na Secretaria de Educação Superior do MEC. As compiladoras propõem uma analogia da prática docente no ensino fundamental com os doze trabalhos de Hércules, herói da Mitologia Grega, que, de temperamento impulsivo, num arroubo matou seu mestre, e para expurgar sua culpa foi ao oráculo de Apolo buscar orientação divina – de algum modo percebia uma crise que o conduziria uma mudança de atitude e planos. Do resultado da sua submissão à orientação do oráculo, o cumprimento dos doze trabalhos, que o elevariam à condição divina ao final de sua jornada. 1 Resenha da discente Jeannie Fontes Teixeira apresentada à Profa. Dra. Izabel Magalhães como requisito parcial para aprovação na disciplina Alfabetização e Letramento do Mestrado Profissional da Universidade Federal do Ceará.

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BORTONI-RICARDO, Stella Maris; MACHADO, Veruska Ribeiro. Os doze trabalhos de Hrcules do oral para o escrito. So Paulo: Parbola, 2013.Jeannie Fontes Teixeira1

Stella Maris Bortoni-Ricardo e Veruska Ribeiro Machado so organizadoras do livro Os doze trabalhos de Hrcules : do oral para o escrito, uma coletnea de 12 artigos que tratam das principais dvidas que (des)norteiam a prtica do professor moderno: Que gramtica ensinar na escola?, O que bimodalidade e qual sua importncia?, Como promover uma refaco significativa dos trabalhos escolares?, Como utilizar produtivamente o tempo em sala de aula?, dentre outras. A primeira organizadora, ps-doutora em Sociolingustica e Etnografia em sala de aula, lidera uma linha de pesquisa Letramento e Formao de Professores na UnB e desde 1998 trabalha com formao de professores. Em sua pgina pessoal, a docente informa que foi uma deciso conciente e intencional que a fez mediar a transio da teoria sociolingustica para a rea aplicada de formao de professores. A segunda organizadora, Veruska Ribeiro Machado, doutora em Educao e exerceu a funo de tcnica em assuntos educacionais na Secretaria de Educao Superior do MEC. As compiladoras propem uma analogia da prtica docente no ensino fundamental com os doze trabalhos de Hrcules, heri da Mitologia Grega, que, de temperamento impulsivo, num arroubo matou seu mestre, e para expurgar sua culpa foi ao orculo de Apolo buscar orientao divina de algum modo percebia uma crise que o conduziria uma mudana de atitude e planos. Do resultado da sua submisso orientao do orculo, o cumprimento dos doze trabalhos, que o elevariam condio divina ao final de sua jornada.A partir da metfora sugerida, inferimos como se traduzem os desafios do profissional do ensino fundamental; em cada artigo h a meno a uma problemtica do ensino, ao que se espera das incumbncias docentes apesar das dificuldades hercleas advindas da realidade escolar, desde as condies de trabalho at a mnima formao dos professores e o apontamento da mudana de planos e a anlise da prtica diria: dignos da comparao com os trabalhos de Hrcules. E ainda, apontam para uma sada: a mudana de atitude docente, de abordagem didtica (dentre outros), que longe da divindade, so necessrias para alcanar a mnima eficincia profissional.O que os artigos demonstram em sua maioria especialmente nas observaes das metodologias utilizadas em sala de aula conflito terico vivido pelo docente da educao bsica, ou ( mais grave) o alheamento total das propostas tericas da sua rea, presos na concepo de lngua de sua formao ou adquirida na faculdade, aquela que privilegiava da lngua a sua estrutura interna e o significado dos seus signos, os recursos sintticos e morfolgicos de formao de palavras e de frases, ficando de fora a dimeno integral da lngua ( Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.18). Deste modo, praticando o exerccio da docncia de forma intuitiva e reproduzindo equvocos por falta de conhecimento cientfico . Concepes de ensino de Lngua e ensino de Gramtica so os pontos mais preocupantes apontados pelo livro, pois se no h uma profunda compreenso da dimenso da concepo na qual se atua ou se deve atuar do que uma lngua e como ela funciona, sua composio, suas implicaes histricas e sociais , como traar caminhos para p-la em prtica?Retratado no livro, vemos o docente que apegado a uma lngua limpa, sem vestgios da oralidade, do popular, das variedades ( Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.13), promove um ensino centrado ainda nas nomenclaturas, que, de algum modo, despe as palavras de seus significados culturais. Em consequncia um ensino descontextualizado e no-significativo, problema retomado ao longo do livro, que preconiza uma prtica(...) pautada na sensibilidade e na receptividade por parte do professor; na compreenso das necessidades dos alunos; na prtica do afeto positivo, interaes verbais e sociais frequentes; no reforo das discusses e expresses do aluno; no estmulo a autonomia pessoa; e no incentivo ao desenvolvimento da linguagem, principalmente dos alunos que falam pouco em sala de aula ( Ruiz de Miguel, 2002 apud Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.151).Nesta orientao, a coletnea aponta caminhos: ao final da maioria dos artigos aponta uma opo metodolgica calcada nas teorias que concebem a linguagem como instrumento de interao, tal como percebida pelos PCNs (1997), de modo a promover a compreenso e uso da linguagem, tanto pelo aluno quanto pelo professor, com finalidade tal, socialmente construda e desenvolvida, seja por meio de atividades em grupo, individuais, orais ou escritas.O captulo 9, por exemplo, investiga o compromisso dos professores alfabetizadores com o desenvolvimento da competncia oral em sala de aula. J se sabe que a escola deve prover o aluno de habilidades para se utilizar da linguagem oral nas diversas demandas comunicativas, como detalha o artigo. Uma de suas boas contribuies, entretanto, est na adverso de que a lngua dos alunos o nico meio pelo qual eles podem desenvolver sua prpria voz, sua identidade, e ela, nunca deve ser sacrificada pois assim os alunos experimentam e do sentido prpria experincia no mundo (Freire e Macedo, 1990 apud Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.167). Outrossim, advoga para que um dos focos do ensino, seja a bimodalidade, que significa que o aluno deve ter domnio tanto da lngua falada quanto da lngua escrita e ainda, como outra das premissas, a adoo da concepo de lngua como interao social, abarcando todos os seus contextos e todas as suas variedades.Verificamos no captulo 2 que desde a alfabetizao tende-se a privilegiar a variedade historicamente prestigiada da lngua, uma vez que seus mtodos reduzem-na mera aquisio de habilidades de codificao e decodificao. Neles vemos menosprezadas as estratgias de desenvolvimento da conscincia fonolgica, a qual traz diversos benficios para a aquisio do princpio alfabtico de escrita. Ainda aponta que o desenvolvimento deste aspecto, a conscincia fonolgica, pode recuperar atrasos de leitura e escrita em crianas de baixo nvel scioeconmico, geralmente as com menor aproveitamento frente ao mtodo global de albabetizao em comparao com o sinttico. Conclui com a indicao do trabalho da conscincia fonolgica em qualquer ambiente alfabetizador, independente do mtodo alfabetizador adotado, com a comprovao que esta mal desenvolvida o principal fator de dificuldade de leitura e escrita. A compilao caminha ainda por outros pontos crticos: planejamento, discusso curricular , formao continuada, atendimento ao aluno com dificuldades especiais etc, entretanto, sua abordagem no traz consigo um tom acusador, tampouco conciliador, mas um chamamento responsabilidade profissional presumida do seu leitor: o professor de ensino fundamental. Este o relembra das orientaes dos PCNs, que devem nortear a sua prtica docente, traz exemplos de anlises de aula, que poderia muito bem ser a dele prpria, e aponta caminhos possveis, sem muitos aparatos ou dedicao terica demasiada. Mas o mnimo, sim ele necessrio e pode ser observado em algumas das ideias dos captulos, alm dos j citados: Para desenvolver atividades significativas, eficientes, o professor deve ter tempo de ensino e tempo de aprendizagem ( cap. 12); O professore deve assumir uma concepo de lngua como interao; de leitura e escrita como prtica social. Ter consolidada a ideia de que na construo do discurso em sala de aula ocorre a apropriao e a consolidao da lngua, em todas as suas modalidades. (cap. 04 e 12); O abandono da prtica na qual o professor o centro absoluto, o aluno deve experimentar, interagir (cap. 8); Trabalhos em grupo so proveitosos, especialmente os no mecnicos, desde que sejam bem direcionados e orientados pelo docente, que os executar conforme planejamento cuidadoso. O conceito de andaimagem um importante norteador (Bortoni-Ricardo e Sousa, 2006c apud Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.127). (cap.6 e 7); O ensino de gramtica por meio de situaes de uso real da lngua, com o texto como centro, analisado em seu gnero, funo, estratgias de composio, na sua distribuio de informaes, no seu grau de informatividade, nas suas remisses intertextuais, nos seus recurss de coeso, no estabelecimento de sua coerncia ( Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.19) (cap. 1 e 7).Embora Hrcules seja apenas um heri, numericamente falando, convm lembrarmos que os esforos para cumprir esses trabalhos no so apenas do professor, embora caiba a ele uma grande parcela de responsabilidade. Nas palavras de Antunes (2007), muitos dos equvocos apontados neste livro so perpetuados por todos: Pais, professores, autoridades, povo ( Bortoni-Ricardo; Machado, 2013, p.18). Estes so conformistas com o que recebem da escola, para uns, por desconhecimento dos direitos que lhe assistem; para outros, por manter ferramentas que servem a interesses poltico-governamentais. O livro Os doze trabalhos de Hrcules : do oral para o escrito trata-se de leitura oportuna para os professores da Educao Bsica, pois desnuda problemas graves que tornam a prtica pedaggica incua apontando caminhos possveis para promover a mudana pedaggica que ocasionar a mudana social.Referncias:BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Perfil Stella Maris Bortoni-Ricardo. Disponvel em: , acessado em 12/04/2015 s 13:00h.

1 Resenha da discente Jeannie Fontes Teixeira apresentada Profa. Dra. Izabel Magalhes como requisito parcial para aprovao na disciplina Alfabetizao e Letramento do Mestrado Profissional da Universidade Federal do Cear.